Você está na página 1de 2

Pluralismo e diversidade cultural no Brasil

Compreender os conceitos de pluralismo e diversidade cultural e as implicações destes


conceitos para compreensão da sociedade brasileira. Entender que a sociedade brasileira
reflete, por sua própria formação histórica, o pluralismo. Somos nacionalmente, hoje, uma
síntese intercultural, não apenas um mosaico de culturas.

No tema anterior discutimos a constituição do povo brasileiro representada muito tempo pela
democracia racial, que visava elaborar uma identidade nacional, como o mestiço, o híbrido, e
propunha um tratamento igualitário para todos.

No entanto, o tempo, "senhor da razão", acabou por destruir esta imagem. A desfeita diante
da miséria, o racismo e os preconceitos de toda ordem: de origem e lugar, contra o
homossexual, analfabetos e deficientes.

Ademais, foram os movimentos sociais dos anos de 1980 e 1990 que anunciaram
possibilidades e conquistas, desmascarando o mito da democracia racial, além de favorecer
uma nova consciência das diferenças culturais presentes em nossa sociedade.

Esses movimentos estabeleceram a necessidade de reconhecimento e valorização das diversas


identidades culturais e, acima de tudo, suas particularidades e contribuições específicas para a
construção do país, ou seja, o reconhecimento da diferença cultural.

Apesar de todas as tentativas anteriores de criar-se uma sociedade homogênea por meio de
discursos teóricos, hoje, através dos meios de comunicação de massa, formam-se movimentos
sociais nascidos de um processo de globalização e os aspectos particulares continuam
fortemente presentes em nossa sociedade.

Os colonizadores europeus, a população indígena e os escravos africanos foram os primeiros


responsáveis pela disseminação cultural no Brasil e, em seguida, os imigrantes italianos,
japoneses, alemães, árabes, entre outros, e ainda hoje, várias comunidades mantêm seus
costumes e tradições, que são as características de uma sociedade urbana que busca ser
ouvida para ampliar o significado de uma sociedade multicultural.

Para entendermos melhor esta questão, recorramos a Boaventura de Sousa Santos, quando
define multiculturalismo como solidariedade. Para o autor, só é possível pensarmos em uma
sociedade multicultural via o "reconhecimento do outro", ou seja, o outro é visto como capaz
de produzir conhecimento, e esta capacidade de produção é que emancipa. (Santos, 2000:30).

No caso do Brasil, por muito tempo o que se viu foi o silenciamento das culturas aqui
existentes, por conta da destruição das formas de saber desses povos. Dessa forma, algumas
culturas foram silenciadas no seu modo de ver e conhecer o mundo, como a cultura indígena,
que foi silenciada com o extermínio de milhares de indígenas.

Diante de uma nação que segregou e exterminou o diferente, como podemos fazer com que
culturas há muito tempo silenciadas e/ou ignoradas falem? Se tivermos a compreensão que só
existe "conhecimento e solidariedade na diferença". Como nos afirma Boaventura Santos
(2000: 30), emancipar esses conhecimentos e/ou culturas há muito aprisionados e isolados por
modelos culturais "impostos pela razão de uma raça de um sexo ou classe social."

Como fazer falar, do modo mais livre e autônomo possível, o silêncio? Como, ao mesmo
tempo, favorecer a inteligibilidade entre as diferenças? Como construir uma teoria
da tradução que torne compreensível para uma dada cultura as necessidades, os valores, os
costumes, os símbolos e as práticas de outra cultura? A resposta a essas questões é fornecida
pelo próprio autor:

Os silêncios, as necessidades e as aspirações impronunciáveis só são captáveis por


uma sociologia das ausências que proceda pela comparação entre os discursos disponíveis,
hegemônicos e contra-hegemônicos, e pela análise das hierarquias entre os vazios que tais
hierarquias produzem. O silêncio é, pois, uma construção que se afirma como sintoma de um
bloqueio, de uma potencialidade que não pode ser desenvolvida.

((SANTOS, 2000: 30))

Dessa forma, as respostas a essas e outras questões estão na educação, ou melhor, na escola
que recebe coditianamente alunos pertencentes a culturas há muito silenciadas e ignoradas.
Para tanto, tal compreensão exige uma reestruturação do próprio sistema educativo e, mais
ainda, uma reestruturação do processo formativo de docentes em todos os níveis.

Reestruturação que se coloca para além de um processo de conscientização, para uma


formação integral e crítica que busca no reconhecimento das distintas expressões culturais um
dos princípios básicos para essa atuação intercultural, seguida pelas relações marcadas por
uma postura entre as tradições/matrizes/matizes culturais trabalhando pela convivência
solidária entre os grupos culturais.

A mudança do enfoque da escola para uma atuação que considere a multiculturalidade


presente em nossos espaços sociais obriga que se repense também todos os outros
componentes da atuação educativa na perspectiva intercultural.

Referências

SILVA, T. T. Documentos de identidade: Uma introdução às teorias de currículo. Belo Horizonte:


Autêntica, 1999.

______. "A produção social da identidade e da diferença". In: SILVA, T. T. (org.). Identidade e
diferença. Petrópolis: Vozes, 2000, p. 73-102.

SOUSA SANTOS, B. A crítica da razão indolente: contra o desperdício da experiência. São Paulo:
Cortez, 2000.

Você também pode gostar