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No tema anterior discutimos a constituição do povo brasileiro representada muito tempo pela
democracia racial, que visava elaborar uma identidade nacional, como o mestiço, o híbrido, e
propunha um tratamento igualitário para todos.
No entanto, o tempo, "senhor da razão", acabou por destruir esta imagem. A desfeita diante
da miséria, o racismo e os preconceitos de toda ordem: de origem e lugar, contra o
homossexual, analfabetos e deficientes.
Ademais, foram os movimentos sociais dos anos de 1980 e 1990 que anunciaram
possibilidades e conquistas, desmascarando o mito da democracia racial, além de favorecer
uma nova consciência das diferenças culturais presentes em nossa sociedade.
Apesar de todas as tentativas anteriores de criar-se uma sociedade homogênea por meio de
discursos teóricos, hoje, através dos meios de comunicação de massa, formam-se movimentos
sociais nascidos de um processo de globalização e os aspectos particulares continuam
fortemente presentes em nossa sociedade.
Para entendermos melhor esta questão, recorramos a Boaventura de Sousa Santos, quando
define multiculturalismo como solidariedade. Para o autor, só é possível pensarmos em uma
sociedade multicultural via o "reconhecimento do outro", ou seja, o outro é visto como capaz
de produzir conhecimento, e esta capacidade de produção é que emancipa. (Santos, 2000:30).
No caso do Brasil, por muito tempo o que se viu foi o silenciamento das culturas aqui
existentes, por conta da destruição das formas de saber desses povos. Dessa forma, algumas
culturas foram silenciadas no seu modo de ver e conhecer o mundo, como a cultura indígena,
que foi silenciada com o extermínio de milhares de indígenas.
Diante de uma nação que segregou e exterminou o diferente, como podemos fazer com que
culturas há muito tempo silenciadas e/ou ignoradas falem? Se tivermos a compreensão que só
existe "conhecimento e solidariedade na diferença". Como nos afirma Boaventura Santos
(2000: 30), emancipar esses conhecimentos e/ou culturas há muito aprisionados e isolados por
modelos culturais "impostos pela razão de uma raça de um sexo ou classe social."
Como fazer falar, do modo mais livre e autônomo possível, o silêncio? Como, ao mesmo
tempo, favorecer a inteligibilidade entre as diferenças? Como construir uma teoria
da tradução que torne compreensível para uma dada cultura as necessidades, os valores, os
costumes, os símbolos e as práticas de outra cultura? A resposta a essas questões é fornecida
pelo próprio autor:
Dessa forma, as respostas a essas e outras questões estão na educação, ou melhor, na escola
que recebe coditianamente alunos pertencentes a culturas há muito silenciadas e ignoradas.
Para tanto, tal compreensão exige uma reestruturação do próprio sistema educativo e, mais
ainda, uma reestruturação do processo formativo de docentes em todos os níveis.
Referências
______. "A produção social da identidade e da diferença". In: SILVA, T. T. (org.). Identidade e
diferença. Petrópolis: Vozes, 2000, p. 73-102.
SOUSA SANTOS, B. A crítica da razão indolente: contra o desperdício da experiência. São Paulo:
Cortez, 2000.