Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
METODOLOGIA DO
ENSINO DE
HISTÓRIA
Caroline Silveira
Bauer
Diversidade cultural e os
patrimônios históricos
da humanidade
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
Introdução
Quando se estuda a formação histórica do Brasil e, por consequência, a
diversidade cultural que marca a sociedade brasileira, é muito comum se
ouvir sobre as "três raças" que a compuseram — os indígenas, os brancos
(europeus) e os negros (africanos) —, assim como sobre a miscigenação.
Entretanto, uma série de trabalhos vem questionando o chamado mito
da "democracia racial", ou seja, a ideia de que haveria uma coexistência
harmoniosa e pacífica na composição étnica brasileira. Da mesma forma,
outros trabalhos têm problematizado se os processos de musealização,
patrimonialização e preservação correspondem à diversidade cultural
brasileira, ou se somente uma "cultura maior" está sendo alvo do ímpeto
de conservação do passado.
Neste capítulo, você vai estudar a diversidade cultural brasileira, veri-
ficando a sua relevância e a riqueza de suas manifestações. Vai aprender,
também, o que é patrimônio histórico e qual é a sua contribuição para a
formação da identidade, especificamente no caso brasileiro. Por fim, você
vai ver como trabalhar, a partir do ensino de história, com a diversidade
cultural e os patrimônios históricos da humanidade.
2 Diversidade cultural e os patrimônios históricos da humanidade
Isso me levou a concluir que nossa escola não resolveu a questão da trans-
missão do conhecimento para as camadas populares. É uma escola de classe
média, tentando impor conceitos e valores da classe média. Não consegue
fazer a síntese entre a cultura elaborada e a “cultura popular” (Paulo Freire), a
“cultura primeira” (Georges Snyders). Apesar de muitas pesquisas e estudos,
os nossos currículos não conseguiram equacionar adequadamente a relação
entre a identidade cultural e o itinerário educativo dos alunos provenientes
das camadas populares. Os nossos currículos ainda apresentam aos alunos um
pacote de conhecimentos que eles devem aprender, tenham ou não significado
para eles. Eles são avaliados — aprovados ou reprovados — em função da
assimilação ou não desse pacote de conhecimentos.
https://goo.gl/GPgFff
Em meados dos anos 1970, outra fenda manifesta-se nesse presente. Ele começa
a se mostrar preocupado com a conservação (de monumentos, de objetos, de
modos de vida, de paisagens, de espécies animais) e ansioso em defender o
meio ambiente. Os modos de vida local e a ecologia, de temas exclusivamente
contestatórios passaram a ser temas mobilizadores e promissores. Gradati-
vamente, a conservação e a renovação substituíram, nas políticas urbanas,
o mero imperativo de modernização, cuja brilhante e brutal evidência não
tinha sido questionada até então. Como se se quisesse preservar, na verdade,
reconstruir um passado já extinto ou prestes a desaparecer para sempre. Já
inquieto, o presente descobre-se igualmente em busca de raízes e de identidade,
preocupado com memória e genealogias.
Sendo esse um processo muito recente, não espanta que os primeiros bens
considerados patrimônios da humanidade no Brasil tenham sido reconhecidos
nos anos 1980. Porém, antes de você aprender sobre a política do patrimônio
no Brasil e sobre como esse debate contribui para a formação da identidade
brasileira, é importante que conheça a definição de “patrimônio histórico”.
Mais genericamente, Chagas (2002, p. 36) afirma que patrimônio é “[...]
um conjunto determinado de bens tangíveis, intangíveis e naturais, envolvendo
saberes e práticas sociais, a que se atribui determinados valores e desejos
de partilha (perspectiva sincrônica) entre contemporâneos e de transmissão
(perspectiva diacrônica) de uma geração para outra geração [...]”.
De maneira mais específica, Canclini (1994, p. 99) apresenta uma definição
possível de patrimônio cultural:
Acesse o link a seguir para conhecer uma iniciativa do IPHAN intitulada “Qual é a nossa
história?”, que relaciona ensino de história, patrimônio e jogos.
https://goo.gl/BCgMNC
12 Diversidade cultural e os patrimônios históricos da humanidade
Leituras recomendadas
CARDOSO, L. O branco ante a rebeldia do desejo: um estudo sobre a branquitude no
Brasil. 2014. 290 f. Tese (Doutorado em Ciências Sociais) – Programa de Pós-Graduação
em Ciências Sociais, Faculdade de Ciências e Letras, Universidade Estadual Paulista
Júlio de Mesquita Filho, Araraquara, 2014.
GIL, C. Z. V.; POSSAMAI, Z. Educação Patrimonial: percursos, concepções e apropriações.
MOUSEION, Canoas, n. 19, p. 13-26, dez. 2014.
MARTINS, M. C.; ROCHA, H. H. P. Lugares de memória: sedução, armadilhas, esqueci-
mentos e incômodos. Horizontes, v. 23, n. 2, p. 91-99, jul./dez. 2005.
MIGUEZ, P.; BARROS, J. M.; KAUARK, G. (Org.). Dimensões e desafios políticos para a diver-
sidade. Salvador: EDUFBA, 2014.
MIRANDA, S.; PAGÈS, J. Cidade, memória e educação: conceitos para provocar sentidos
no vivido. In: MIRANDA, S.; SIMAN, L. (Org.). Cidade, memória e educação. Juiz de Fora:
UFJF, 2013. p. 59-92.
RIBEIRO, R.; TORRE, M. Educação patrimonial e o ensino de história em instituições
arquivistas: ações educativas no Arquivo Público da cidade de Belo Horizonte. Acervo,
Rio de Janeiro, v. 25, n. 1, p. 67-88, jan./jun. 2012. Disponível em: <http://www.revista-
acervo.an.gov.br/seer/index.php/info/article/view/525/439>. Acesso em: 6 dez. 2015.
SANT’ANNA, M. A face imaterial do patrimônio cultural: os novos instrumentos de
reconhecimento e valorização. In: ABREU, R.; CHAGAS, M. Memória e patrimônio: ensaios
contemporâneos. Rio de Janeiro: DP&A, 2003. p. 46-56.
VEIGA-NETO, A. Cultura, culturas e educação. Revista Brasileira de Educação, São Paulo, n.
23, p. 5-15, maio/jun./jul./ago. 2003. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rbedu/
n23/n23a01>. Acesso em: 6 dez. 2018.
VIÑAO FRAGO, A. La historia material e inmaterial de la escuela: memoria, patrimonio
y educación. Educação, Porto Alegre, v. 35, n. 1, p. 7-17, jan./abr. 2012. Disponível em:
<http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/faced/article/view/10351>. Acesso
em: 6 dez. 2018.
Conteúdo: