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Caderno de Resumos
Laboratório de
História, Poder
e Linguagens
Organizadores
Caderno de Resumos
Laboratório de
História, Poder
e Linguagens
Laboratório de História, Poder e Linguagens
Programa de Pós-Graduação em História Social das Relações Políticas
Centro de Ciências Humanas e Naturais
Universidade Federal do Espírito Santo
Organizadores
Adriana Pereira Campos Encontro Internacional de História UFES - PARIS-EST
Kátia Sausen da Mota
Karulliny Silverol Siqueira Vianna
Rafaela Domingos Lago
Memórias, Traumas e Rupturas
Comitê Científico
Adriana Pereira Campos
Maud Chirio
Pedro Fagundes
Julio Bentivoglio Caderno de Resumos
Geraldo Antonio Soares
Monitores
Joana D’ark Pim Leite
Júlio Cesar Silva
Karolina Fernandes Rocha
Meyre Ellen Aparecida Pereira Teixeira
Pollyanna Soares Rangel
Rogério da Silva Ferreira
12 de novembro
10h Mesa 1: Revoluções Atlânticas e Liberdade
Local: Auditório IC-II
Coordenador: Prof. Dr. Rogério Arthmar (PPGHIS/UFES)
13 de novembro
10h Mesa 2: A Memória e o Trauma
Local: Auditório IC-II
Coordenador: Prof. Dr. Alexandre Avelar (UFU)
4
14 de novembro
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Minicurso I
11 de novembro
12 de novembro
18h30 - 20h30
18h30 - 20h30
13 de novembro 18h30 - 20h30
Minicurso II
O Esquecimento do Pathos? Uma releitura sobre memória e
sofrimento na obra Casa-Grande e Senzala (1933)
Professores: Dra. Márcia Barros Ferreira Rodrigues (UFES)
Ms. Claudio Marcio Coelho (UFES)
Minicurso III
Gođkynningr: o rei escandinavo como ponte entre deuses e homens
Professor: Ms. Munir Lutfe Ayoub (PUC-SP)
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12 de novembro 14h às 16h
COORDENADAS
COMUNICAÇÕES Sessão I
Local: Anfiteatro 1 (Anexo CCHN)
Sessão II
Local: Anfiteatro 2 (Anexo CCHN)
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A campanha eleitoral do comunista Antônio Granja a vereador Max Mauro e o Trabalhismo no Espírito Santo: da implosão do
em 1947 em Cariacica PMDB à ascensão do PDT (1987-1990)
Vinicius Oliveira Machado (UFES) Amarildo Mendes Lemos (UFES/IFES)
Integralismo e Imprensa: o caso da Revista Vida Capichaba A opinião pública e a corrupção no Espírito Santo
Diego Stanger (UFES) Rafael Claudio Simões (UFES)
Modernização e ruptura na Belle Époque capixaba: revisitando O capitalismo e subdesenvolvimento no Espírito Santo
Diones Augusto Ribeiro (Monteiro Lobato Cems/PMV)
o Novo Arrabalde
Coordenador: Leandro do Carmo Quintão (IFES)
A construção do passado inglório na representação da trajetória As cidades das histórias: Constituição simbólica das cidades de
da AIB em Cachoeiro de Itapemirim Vitória e da Serra por meio das narrativas de imigrantes
Flávio dos Santos Oliveira (UFES) Leonardo Teixeira de Freitas Ribeiro Vilhagra (UFES)
Cachoeiro de Itapemirim – ES: Para além do bairrismo Ciganos nas terras do Espírito Santo: representações
Joana D’Arck Caetano (UFES)
Sílvia de Souza Dias (UFES) sócio-políticas (1885-1936)
Daniela Simiqueli Durante (UFES)
Estudos sobre os casos de defloramento na Comarca de Itapemi-
rim de 1930 à 1939
Marcos da Silva Azevedo (CUSC) Sessão VI
Luiz Carlos Ferreira Neto (CUSC) Local: NPIH (IC-III)
2013 - Das jornadas de junho à Rosa dos ventos: para onde so- A conversão na Escandinávia medieval, a sidaskipti como uma
pram as linhas do horizonte? forma de estigmatização
Valter Pires Pereira (UFES) André Araújo de Oliveira (UFMA)
Regime Civil-militar de 64 e as elites capixabas: rupturas e Entre a magia e o poder: A simbologia do bastão da völva
Sara Carvalho Divino (UFMA)
continuidades
Ueber José de Oliveira (UFES)
A atuação da Guarda Nacional na província do Espírito Santo Debate de Tortosa e o processo de representação e estigma ju-
(1831 a 1862) daicos
Kamyla Nunes de Deus Oliveira (UFES) Jordânia Lopes de Freitas (UFES)
“A República bate-nos à porta”: a imprensa da província do Es- A Questão da tirania em Isidoro de Sevilha: contradições de um
pírito Santo na crise do Império brasileiro, 1880-1889 discurso
Coordenador: Karulliny Silverol Siqueira Vianna (UFES) Luís Eduardo Formentini (UFES)
Gênero, Papel Social e o Poder Masculino: Contribuições Con- Desumanizando o judeu medieval: sangue e pecado
Coordenador: Sérgio Alberto Feldman (UFES)
ceituais para a História Social das Relações de Gênero
Coordenador: Helvécio de Jesus Júnior (UFES)
O Antijudaísmo Medieval em perspectiva: a violência dos po-
Definindo um Aliado: A Reumanização do Povo Japonês nas groms da Primeira Cruzada e sua influência sociocultural e
Páginas da Revista Life (1945-1964) religiosa para as comunidades ashkenazim da Germânia no
Edelson Geraldo Gonçalves (UFES)
século XI
Karla Constancio de Souza (UFES)
Os obstáculos do progresso: o mito do atraso colonial e a repre-
sentação dos indígenas na obra de José Teixeira A fronteira entre ortodoxia e heresia na cristandade tardo antiga
Rafael Cerqueira do Nascimento (UFES)
sob a perspectiva da controvérsia pelagiana
Raphael Leite Reis (UFES)
Os desafios da memória como fonte histórica: esquecimentos,
silêncios, mutações e realidades A problemática da efetividade das imposições clericais: o con-
Dinoráh Lopes Rubim Almeida (UFES)
trole da carnalidade, do feminino e do laicato no baixo-medievo
Revistas historiográficas inglesas - da reconstrução a descons- cristão
Anny Barcelos Mazioli (UFES)
trução
Thiago Vieira de Brito (UFES)
ENCONTRO INTERNACIONAL DE HISTÓRIA UFES - PARIS-EST
13 MEMÓRIAS, TRAUMAS E RUPTURAS 14
Entre Paris e Barcelona: os debates Judaico-Cristãos no século
XIII
Regilene Amaral dos Santos (UFES)
Sessão XI
Local: Anfiteatro 2 (Anexo CCHN)
Sessão XII
Local: NPIH (IC-III)
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da oligarquia estadual, seus candidatos vão vencer os pleitos uma tos-leis (53/1996 e 252/1967) que orientaram a reestruturação das
vez que controlam a máquina eleitoral. Além disso, os candidatos universidades federais brasileiras, que a Ufes foi de fato um labora-
lançados pelo PRES serão os de conciliação para evitar confrontos e tório para a reforma. Não por acaso, a estrutura prevista no projeto
dissensões no partido. é até hoje, 45 anos depois de sua promulgação, a coluna vertebral da
Universidade. Os depoimentos e documentos que conseguimos reu-
Palavras-chave: Luiz Lindenberg; eleições municipais; oligarquia nir parecem confirmar nossa hipótese de que as lideranças estudan-
Monteiro. tis, mesmo as mais à esquerda, não tiveram a dimensão de que Ufes
era um laboratório da reforma universitária da ditadura. O Plano de
Reestruturação, que acabou sendo aprovado com certa facilidade,
Ufes e a Reforma Universitária da ditadura: foi mesmo uma estrutura elaborada nas bases dos odiados acordos
dos acordos MEC-USAID à reação do estudantes MEC-USAID. Isso não quer dizer que pretendemos fazer um julga-
Alexandre Caetano - UFES
mento das lideranças estudantis daquele período, até porque en-
tendemos que eles cumpriram um importante papel na resistência
contra o regime militar e na luta pela redemocratização do país. O
Este trabalho procura analisar a reação do Movimento Estu-
que pretendemos é lançar as bases do debate sobre a capacidade da
dantil (ME) diante da reestruturação acadêmico-científica da Uni-
Esquerda de fazer uma análise específica sobre a realidade local fora
versidade Federal do Espírito Santo (Ufes), elaborada entre os anos
do contexto nacional, especialmente em Estados periféricos como o
de 1966 e 1968. Naquele período, o ME em todo o país se mobiliza-
Espírito Santo. Por sinal, os desdobramentos dos acontecimentos no
va e protestava contra os acordos celebrados entre o regime mili-
país, demonstrariam que a própria leitura da conjuntura nacional
tar e agência norte-americana United States Agency International
era equivocada.
Developmet (USAID), para a efetivação da Reforma Universitária
no Brasil. Pretendemos demonstrar que a Ufes foi um dos labora- Palavras-chave: Movimento Estudantil; ditadura militar; reforma
tórios dessa reforma e, ao mesmo tempo, estabelecer até que ponto universitária.
essas questões não passaram ao largo do ME local em função de
sua ligação com a prática e as bandeiras defendidas pelo movimen-
to nacional. Nossa perspectiva de estudo, baseada na visão de João
Roberto Martins Filho e Marialice Foracchi, procura despir-se de Max Mauro e o Trabalhismo no Espírito Santo:
qualquer tentação de dar ao ME o caráter épico que costuma receber da implosão do PMDB à ascensão do PDT (1987-1990)
em representações construídas por seus atores e mesmo em muitos Amarildo Mendes Lemos (UFES/IFES)
dos estudos e pesquisas dedicados ao movimento do período que
analisamos. A nova estrutura proposta pelo Plano de Reestrutura- O presente trabalho tem como objetivo identificar aspectos do
ção Acadêmico-Científica da Ufes seria referendada pelo presiden- trabalhismo e das relações de poder no Espírito Santo que estiveram
te-marechal Costa e Silva, através do decreto nº 63.577, de 08 de presentes no fortalecimento do PDT, para onde muitos políticos ca-
novembro de 1968, 20 dias antes da promulgação da Lei 5.540/1968, pixabas migraram durante a fragmentação do PMDB. A ascensão
que impôs a Reforma Universitária da ditadura. A Universidade ca- do PDT no cenário político capixaba esteve, além de outros fatores,
pixaba já estava sintonizada com ela. A partir da promulgação do intimamente ligada à decisão pessoal do governador Max Mauro,
decreto, a Ufes ganhou uma estrutura, semelhante a que tem hoje, membro da ala progressista, de migrar para esse partido. A crise
com nove centros. O Plano de Reestruturação da Ufes foi elaborado dentro do PMDB tinha proporções nacionais, porém, a disputa pela
por um técnico do USAID e possui o espírito da Reforma Universi- hegemonia em âmbito estadual intensificou a procura por outras
tária promovida pela ditadura. Mais do que isso, podemos afirmar legendas ao longo da segunda metade da década de 1980. Até que
que, como foi elaborado antes mesmo da promulgação dos decre- ponto Max Mauro e os chamados maxistas participaram desse pro-
ENCONTRO INTERNACIONAL DE HISTÓRIA UFES - PARIS-EST
19 MEMÓRIAS, TRAUMAS E RUPTURAS 20
cesso? Essa questão se defronta com o que o cientista político Fer- A conversão na Escandinávia medieval,
nando Abrúcio explica acerca do poder que o chefe do executivo a sidaskipti como uma forma de estigmatização
estadual em relação ao poder legislativo. Para ele os governado-
André Araújo de Oliveira - PPGHIS-UFMA
res possuíam um controle milimétrico sobre as bases locais (2002,
p.173). Tanto no PMDB quanto no PDT pode ser identificada a po-
O cristianismo na Idade Média não se tornou consenso desde
larização entre o governador e o senador Gérson Camata. A par-
seu princípio, se expandindo gradativamente se aliando, ocasional-
tir da cobertura jornalística e de outras fontes refletimos sobre essa
mente, com o poder político para sedimentar com mais firmeza em
opção e seus desdobramentos no cenário político capixaba visando
terras onde não se tinha firmado. Foi o caso da Escandinávia que
detalhar esse processo para entender seus nuances. Não houve um
mesmo no século X ainda possuía lideranças locais seguidores dos
crescimento dentro do PDT que ocasionasse uma grande expressão
velhos costumes, pagãos. A conversão foi um processo lento que
no legislativo estadual obtida por meio da cooptação do governa-
deixou marcas na população local, contudo uma questão a se le-
dor (PEREIRA & LEMOS, 2002). Apesar disso, as informações ob-
vantar foi como se deu esse processo de estigmatização. Na região
tidas apontam para um grande crescimento no âmbito municipal.
que hoje seria a Noruega o processo de cristianização se iniciou,
Foi possível perceber no crescimento do PDT não só os recursos do
segundo os documentos históricos como as sagas, Heimskringla, en-
governo do estadual sustentaram alianças, Camata a partir compo-
tre outros, com o Hákongóði, filho de HaraldrHálfdanarson o primeiro
sição na base de sustentação do governo federal também conseguia
unificador da Noruega. Haroldo enviou seu filho para o rei Athelstan
influenciar na transferência de recursos para prefeituras e na indica-
da Inglaterra, um reino cristão, e com a sua morte Hákon é o próximo
ção de cargos nas estatais. Assim, apesar das vitórias obtidas tanto
da linha de sucessão. Ao se tornar governante Hákontenta introduzir
no PMDB quanto no PDT, Max não obteve a hegemonia nos par-
o cristianismo contudo sem resultados positivos, levando a morte
tidos. As alianças realizadas durante os debates sobre a sucessão
de padres e Igrejas queimadas. Os velhos costumes estavam ainda
afastou aliados e fortaleceu antigos adversários. Nesse processo a
muito vinculados a esse povo, em que a conversão não era vista
ligação de Albuíno com prefeitos e deputados estaduais o conectou
como um ato religioso mas uma mudança de costumes, sidaskipti.
com a direita camatista, que atuou diretamente na ruptura entre ele
As tentativas de conversão foram se repetindo com o passar dos
e Max. Assim, o fortalecimento do partido no Espírito Santo não
anos com os reis seguintes tendo retornos aos velhos costumes oca-
seguiu a orientação dos fundadores do partido em âmbito nacional,
sionais. Haraldrgráfeldr, sucessor e meio-irmão de Hákon, foi menos
entre os quais se destaca Leonel Brizola. Muitos ligados a Camata
brando destruindo templos e causando inimizade, levando ao seu
ou aos partidos de direita participaram desse crescimento do PDT
assassinato e sucessão por HákonSigurðarson, que liderou um “re-
no Espírito Santo, enquanto Max apesar de algumas alianças com o
nascimento pagão” onde templos foram reconstruídos. OlafTryggva-
PT se manteve alheio ao crescimento que esse partido obteve entre
son neto de HaraldrHálfdanarson, acabou sucedendo o trono retiran-
os eleitores de esquerda. Ao mesmo tempo que isso ocorria o PMDB
do Hákon do poder, e com sua ascensão em 995 a Noruega entrou
perdeu membros progressistas e tornou-se mais destro tanto aqui no
em um processo violento e acelerado de conversão ao cristianismo.
Espírito Santo como no resto do país.
As influências da Olafse expandiram além de suas terras levando a
Palavras-chave: Max Mauro; PDT; PMDB. conversão de outras regiões próximas por meio da pressão como a
Islândia. A Islândia foi colonizada em 874 por uma aristocracia rural
noruegueses, fugida da pressão do novo rei HaraldrHálfdanarson. O
documento que narra essa migração e os primeiros anos é chama-
da de Landnámabók. A Islândiavivia um sistema de político, no qual
todas as decisões ou disputas eram resolvidas e decididas por meio
de uma Assembléia onde todos os senhores poderiam participar,
chamada de Thing, ocorrendo assembleias gerais da ilha, Allthing,
ENCONTRO INTERNACIONAL DE HISTÓRIA UFES - PARIS-EST
21 MEMÓRIAS, TRAUMAS E RUPTURAS 22
para as decisões que envolveria a todos. Em 999 na Allthingrealiza- dicionais, radicadas no campo, e com os valores sociais herdados
da na planície de Thingvellir foi decidido que devido a pressão de de períodos anteriores. Desta forma, na área de atuação da empre-
Olaf, seria necessário a “conversão” de todos para o cristianismo. sa, deu-se um conflito de leituras acerca da realidade. Os atores en-
Como apresentado até aqui o processo de conversão da Escandiná- volvidos no choque de representações foram: 1) as elites dirigentes,
via medieval não foi um processo uniforme de evolução continua e divididas entre conservadores e liberais, com espaço privilegiado
harmônica. Essa apresentação tem como objetivo apresentar o pro- na imprensa local; b) os dirigentes da CVRD, comprometidos com
cesso de formação de identidade cristã por meio da análise das Sa- o projeto de modernização; c) os agentes do aparelho de repressão,
gas Islandesas se utilizando da metodologia backtiniana de análise em particular das Delegacias de Ordem Política e Social; d) os agen-
de fontes textuais. Concluindo-se que na Noruega e Islândia, para tes da regulação estatal do trabalho, em particular o Delegado Re-
se formar uma identidade cristã correta se necessitou estigmatizar o gional do Trabalho do Espírito Santo; e) os trabalhadores, represen-
paganismo e os pagãos. tados pela Comissão de Salários, que conduziu a greve. Aqui, são
considerados os discursos elaborados por tais atores e as imagens
Palavras-chave: Escandinávia medieval, Conversão, Cristianismo. por eles produzidas. As elites procuraram qualificar a greve e as
condições de trabalho numa leitura que vitimizava os empregados
e culpava a Justiça do Trabalho, retirando-lhes, portanto, a legiti-
Conflito de discursos na greve de 1948 na midade para a ação política. A empresa, os órgãos de repressão e a
Companhia Vale do Rio Doce DRT se uniram para qualificar o movimento como radical e elabo-
André Ricardo Valle Vasco Pereira - UFES
raram imagens fantasiosas sobre o perigo que supostamente repre-
sentava. Já os dirigentes da greve enfrentaram a enorme dificuldade
de defenderem o direito à ação autônoma da classe trabalhadora. A
Esta comunicação trata do conflito discursivo que se deu du-
repressão que sofreram teve como resultado a desqualificação desta
rante da greve ocorrida na Companhia Vale do Rio Doce (CVRD),
via interpretativa.
em 1948, nos estados do Espírito Santo e de Minas Gerais. Ela foi
conduzida por militantes do Partido Comunista do Brasil (PCB).
Teve como resultado um aumento salarial, a demissão de vários
funcionários e a intensificação dos mecanismos de controle sobre os A problemática da efetividade das imposições clericais:
trabalhadores. Devido ao peso desta empresa na realidade local, o o controle da carnalidade, do feminino e do
sucesso da repressão teve resultados posteriores, já que a Vale foi o laicato no baixo-medievo cristão
principal ator da modernização capitalista nas regiões de sua influ- Anny Barcelos Mazioli – UFES
ência. O fracasso da ação autônoma que a greve de 1948 representa
fez com que parcela importante da classe trabalhadora fosse sub- Durante a Idade Média, muitos escritores cristãos se pautaram
metida a um processo de disciplinarização que continua até hoje, nas produções filosóficas antigas para elaborar os valores cristãos
com graves consequências para o funcionamento da democracia no que pretendiam regular a sociedade medieval. Formou-se uma teo-
país. Um dos pontos fundamentais para o bom desempenho da de- logia embasada na repressão do desejo e que sugeria o uso do sexo
mocracia é a liberdade de expressão e, como resultado, o reconheci- apenas para reprodução, e que alocava à mulher um papel secun-
mento da legitimidade das ações e discursos de todos os atores que dário visto ser essa percepção misógina. Esta concepção teológica
se apresentam na arena pública como representantes de interesses glorificava o espírito e propunha a mortificação crescente da carne.
radicados na Sociedade. No momento histórico abordado por este Houve, portanto, uma tentativa eclesiástica de definir os parâme-
trabalho, o projeto de Nação dominante era o de industrialização tros comportamentais cristãos que regulariam a sexualidade na so-
via estatal, no qual a CVRD teve importância fundamental. Ele foi ciedade cristã do baixo medievo. O objetivo deste trabalho é ques-
implantado sem rompimento aberto com as elites dominantes tra- tionar se a teologia produzida no período realmente formou uma
ENCONTRO INTERNACIONAL DE HISTÓRIA UFES - PARIS-EST
23 MEMÓRIAS, TRAUMAS E RUPTURAS 24
sociedade na qual a sexualidade era restrita à reprodução. Procura- Repensando a ruptura entre República e Principado:
mos responder a essa questão por meio das construções reguladoras uma discussão teórica
acerca da mulher, do corpo e da sexualidade e das elaborações teó-
Camilla Ferreira Paulino da Silva - UFES
ricas de autores que pensaram a Europa Medieval, como Jacques Le
Goff, Georges Duby e James Avery Brundage, explicitando as ideias
A História de Roma é tradicionalmente dividida entre Monar-
clericais e socialmente idealizadas acerca desses temas. Em contra-
quia, República e Império, o que estabelece a falsa impressão de que
partida, trazemos algumas ideias contidas em fonte de época que
ocorreram grandes rupturas nos supostos momentos de transição e
problematizam a efetividade do controle da Igreja sobre a sexuali-
poucas continuidades. Além disso, tal divisão também desenvolve
dade dos laicos. Além disso, incluímos também algumas produções
o efeito de uniformidade entre os períodos históricos assim apresen-
bibliográficas acerca da ocorrência da prostituição no medievo, que
tados, como se poucas mudanças tivessem ocorrido durante séculos
retratam como as vivências eram diferenciadas do que se prescrevia
de História. Nessa apresentação pretendemos levantar uma série
nos escritos eclesiásticos. A metodologia a ser empregada neste ar-
de discussões acerca da passagem da República para o Principado,
tigo abarcará a leitura de uma bibliografia (em parte acima citada)
apresentando um debate sobre a importância do pensamento crítico
que contemple a história do Cristianismo e das construções acerca
à periodização da História romana.
da sexualidade ao longo da Idade Média Ocidental, em particular
no período do baixo medievo nos países da cristandade europeia. Palavras-chave: República romana; Principado; Ruptura; Crise.
Objetivamos através dessa leitura, poder questionar a resposta da
sociedade leiga em geral às obrigações e mandamentos impostos
pelos religiosos, além de explorar os dogmas da Igreja sobre o corpo
e o sexo, analisando o caráter anti-sexual e misógino assumido por Ciganos nas terras do Espírito Santo:
ela ao longo do medievo. O arcabouço teórico e metodológico que representações sócio-políticas (1885-1936)
fundamentou esse estudo foi a Análise do Discurso (BRANDÃO, Daniela Simiqueli Durante PGHIS/UFES
2002), que nos permitiu discutir o caráter “ideológico” e moralizador
dos discursos vigentes no período, além dos conceitos de História O presente trabalho é resultado das pesquisas que estão sendo
Cultural e representação (CHARTIER, 1990) a fim de compreender, desenvolvidas no mestrado em História/UFES. O estudo versa so-
os dogmas anti-sexuais da Igreja e sua significância e efetividade bre as populações ciganas no Brasil e tem como objetivo realizar um
enquanto mecanismo de controle e ordem social. A problemática, estudo de cunho historiográfico, utilizando um recorte espácio-tem-
portanto, se insere em como o laicato recebia formulações teológi- poral específico entre os anos de 1885 a 1936 no Estado do Espírito
cas sobre sua sexualidade e como convivia com elas. É necessário Santo. Em território brasileiro, até o presente momento, pouco se
então analisar até que ponto as normas advindas da Igreja ditavam sabe sobre o modo de vida das comunidades ciganas espalhadas
as práticas sexuais, além disso, problematizar a efetividade das im- no país. Há cerca de 450 anos que os ciganos encontram-se em nos-
posições feitas ao social pelo clerical, como no papel da mulher, no so território, contudo a sua participação na construção do processo
lugar do casamento, do corpo e do sexo na sociedade. histórico é negligenciado de modo ostensivo até os dias atuais. Ori-
ginários da Índia, os ciganos possuem um passado histórico pouco
Palavras-chave: carnalidade, feminino, Igreja. conhecido e, muitas vezes, contado de maneira folclorizada pelos
não-ciganos, que em seu imaginário, representam os Roma (etnô-
nimo dos povos ciganos) de diversas maneiras, utilizando imagens
contraditórias que oscilam entre sentimentos de liberdade e alegria
como de repulsa, indolência e marginalidade. O período histórico
proposto em nosso projeto de pesquisa (1885 - 1936) foi marcado-
Esta comunicação tratará do processo de reumanização do A presente comunicação tem como propósito refletir acerca da
povo japonês durante as primeiras décadas do período pós Segun- gestão da rede municipal de educação de Cariacica, no Estado do Es-
da-Guerra Mundial, mais especificamente entre os anos de 1945 (ano pírito Santo, desenvolvida entre os anos de 2005/2008 e 2009/2012,
da rendição do Japão) e 1964 (marcado pela realização das Olimpí- com o foco na execução de algumas ações voltadas para a institucio-
adas de Tóquio), tendo como guia os processos de desumanização nalização de novas formas de sociabilidade no contexto escolar, por
do povo japonês, apresentado por John W. Dower em seu livro War meio da implantação da gestão democrática. Basicamente, a reflexão
Without Mercy, e de reumanização deste mesmo povo apresentado busca vetores explicativos para o seguinte questionamento: por que,
por Shibusawa Naoko, em seu livro America’s Geisha Ally. No perí- a despeito de ser algo consensual entre os segmentos que compõem a co-
odo aqui estudado o antigo inimigo aliado do eixo foi plenamente munidade escolar, é tão difícil instaurar uma gestão democrática, de fato,
convertido em um aliado estratégico no contexto da Guerra-Fria, e nas escolas municipais de Cariacica? Visando encontrar elementos que
um povo que durante a Segunda-Guerra foi definido como bárba- possam responder à indagação, o trabalho se inclina para a análise
ro e fanático pela mídia norte-americana passa a ser definido como da longa tradição oligárquica do município, cuja principal conse-
amável e plenamente humano, buscando assim varrer da memória qüência foi transferir para o ambiente da escola uma lógica de poder
norte-americana (e ocidental como um todo) a lembrança do pas- na qual não se nota uma distinção clara entre o público e o privado.
sado recente militarista e agressor da nação japonesa. Na aborda- Analisa-se, também, a sua histórica instabilidade institucional, con-
gem aqui proposta nos limitaremos à averiguação deste processo substanciada na grande rotatividade de mandatários, constatada ao
nas páginas da revista semanal Life no período de setembro de 1945 longo dos seus mais de 120 anos de município emancipado, e de
a setembro de 1964, usando como fonte as reportagens referentes
ENCONTRO INTERNACIONAL DE HISTÓRIA UFES - PARIS-EST
33 MEMÓRIAS, TRAUMAS E RUPTURAS 34
que modo isso pode ser reproduzido e/ou impactado no ambiente familiares mais velhos. As relações entre cultura e vida coletiva são
escolar. bastante complexas nesse caso. Esta separação de memória dentro
do espaço coletivo se apresenta como uma fronteira entre os jovens
Palavras-chave: Políticas educacionais; Gestão Democrática; Caria- e os anciãos de uma sociedade, desse modo podemos diagnosticar a
cica. presença de duas culturas, uma voltada ao passado que não carece
de mudanças e uma totalmente cambiada, por assim dizer jovem.
Desta maneira observamos uma fronteira cultural dentro da pers-
A imprensa capixaba no Oitocentos: pectiva de ser jovem em uma cidade do interior onde o contato com
redatores, leitores e leituras a Itália se estabelece por meio da homenagem aos nonos e nonas.
Fabíola Martins Bastos - PPGHIS/UFES -IFES
Passado e presente se confundem tal como uma fronteira, uma vez
que esta é cultural. O trabalho e todos os elementos culturais que o
envolvem demarcam o território de permanência como italianos e
Nesta comunicação discutimos a formação de uma imprensa
como brasileiros, mesmo que estes sejam brasileiros natos apenas
orgânica em Vitória, capital da Província do Espírito Santo, no in-
com descendência italiana, demarcando assim um lugar de memó-
tervalo de 1849 a 1889, destacando os processos de produção e de
ria que os torna diferentes dentro do quadro populacional do estado
recepção dos impressos. Objetiva-se identificar os produtores da
do Espírito Santo. Assim sendo, o lugar onde dois conceitos de cul-
imprensa, personalizados na figura dos redatores, e os leitores com
tura se apresentam torna-se um lugar que não há prevalência nem
suas práticas de leitura. Partimos da premissa de que os jornais ca-
relativização de uma cultura única. O lugar é produto de uma soma
pixabas, desde a sua criação, mantiveram vínculos estreitos com a
de conceitos e ideias sobre o que vem a ser a cultura, considerando
política provincial, seja por meio dos contratos das tipografias com
que todos são sujeitos históricos, portanto produtores de cultura.
a presidência da Província para a impressão dos atos oficiais, seja
Anderson (2010) nos apresenta o conceito de imaginário que sus-
pelo envolvimento de homens públicos nas atividades tipográficas.
tenta o pensamento de fronteira como ideal simbólico de ruptura
A pesquisa pautou-se em dois procedimentos: na primeira fase pro-
entre as gerações evidenciando o ponto de transição do pensamento
cedeu-se ao levantamento quantitativo dos jornais publicados em
tradicional da cultura. Conforma avalia Silva (2000) a fronteira pode
Vitória no período assinalado, cotejando as publicações que inte-
ser pensada como a ideia de dimensionamento da característica de
ressavam ao objeto de estudo; num segundo momento realizou-se
uma sociedade especifica como os descendentes de italianos. Fir-
a leitura qualitativa desses registros. Após a análise conjugada dos
ma-se o ideal de uma cultura coletiva italiana que é estabelecida
aspectos quantitativos e qualitativos da investigação verificou-se a
além da fronteira física do país bem como pensando no presente se
procedência de nossa questão norteadora, porque os redatores e lei-
distancia da cultura existente naquela nação. Portanto, a marca da
tores identificados confirmaram a existência de laços estreitos entre
ruptura não é um processo fronteiriço de estabelecimento desta por
a política local e a imprensa capixaba.
meio de uma guerra ou independência é na verdade a montagem de
Palavras-chave: Imprensa periódica; Redatores; Leitores; Política. uma cultura própria de um lugar que é longe da base original mas
que se denomina dessa maneira, como por exemplo uma cultura ita-
liana fora da península. Portanto, uma festa que se propõe resgatar
o passado de uma determinada cultura aparece como um lugar de
A Fronteira como espaço de Memória fronteira de idade e pensamento, juventude e vivência. Neste senti-
Filipo Carpi Girão – UFES do quando há o conflito o que se verifica é de fato a fronteira entre
o jovem e os seus anseios do presente de fronte a recordação de um
Os jovens trazem uma leitura de cultura italiana para a festa ancião dentro de uma festa folclórica.
bastante peculiar, própria que se diferencia dos mais velhos, mes-
mo que estes tenham tomado contato com a festa por meio de seus
ENCONTRO INTERNACIONAL DE HISTÓRIA UFES - PARIS-EST
35 MEMÓRIAS, TRAUMAS E RUPTURAS 36
A construção do passado inglório na representação da tórico de inestimável valor sócio-cultural realizado pelo jornalista
trajetória da AIB em Cachoeiro de Itapemirim Luzimar Nogueira Dias.
Flávio dos Santos Oliveira - UFES
Palavras chaves: Integralismo; Memória coletiva; Ideologia.
Nas últimas décadas, o depoimento oral visando à análise his-
tórica vem adquirindo cada vez mais prestígio nos meios acadêmi-
cos, pois a fonte oral não apenas contribui para a preservação de de- Enlaces e desenlaces:a estabilidade das famílias
terminados fatos e acontecimentos de valor inestimável à sociedade, escravas no Espírito Santo (1790-1871)
mas também permite obter, desenvolver e fundamentar novos co- Geisa Lourenço Ribeiro - UFES
nhecimentos com base na criação de fontes inéditas. Além de sua
importância epistemológica por meio do confronto entre os novos Às vésperas da Abolição, em 1888, o Espírito Santo permane-
conhecimentos produzidos e as versões oficiais veiculadas pela his- cia intimamente ligado à escravidão, ainda que abrigasse regiões
toriografia tradicional, o uso das fontes orais exercem uma significa- bastante diferentes em seu território. No século XIX, é possível dis-
tiva importância social, sobretudo, no que diz respeito à revisão da tinguir três divisões administrativas na Província espiritossantense,
memória oficial construída acerca de determinados eventos como sendo que duas delas receberão enfoque neste trabalho. A primeira,
o violento conflito envolvendo integralistas, aliancistas e antiinte- de colonização mais antiga, é a Central, nos arredores de Vitória;
gralistas na Estação Ferroviária Leopoldina, quando da trajetória esta se caracterizava pela produção de alimentos em pequenas pro-
política da Ação Integralista Brasileira em Cachoeiro de Itapemirim. priedades e por uma população escrava basicamente crioula. En-
Refletindo sobre essa questão Giovanni Contini estabelece uma dis- quanto isso, o Sul foi marcado por uma colonização tardia e por
tinção entre o que denominou memória oficial (aquela construída e grandes propriedades agroexportadoras. As diferenças intraprovin-
reconstruída pelas instituições) e memória dividida (aquela preser- ciais foram exacerbadas após meados do Oitocentos com a expansão
vada pelos sobreviventes, viúvas e órfãos de um evento traumáti- da cultura cafeeira na província. Para o Sul, ricos fazendeiros do
co). Atualmente, já que existe uma parca documentação sobre o in- Rio de Janeiro e de Minas Gerais migraram junto de suas famílias
tegralismo em Cachoeiro de Itapemirim, a memória coletiva que se e de seus escravos, onde montaram imensas fazendas cafeeiras —
construiu por meio de instituições como a família, escola, igreja, Es- para os padrões do Espírito Santo —, contribuindo para afirmar a
tado, partido etc., amiúde ignora e negligencia os ressentimentos da região como o reduto da grande lavoura provincial. Tais caracterís-
dor, do luto e do escândalo, impressos no espírito dos protagonistas ticas transformam as terras espírito-santenses em locus privilegiado
que vivenciaram aquele evento. Com efeito, a importância dessa para a pesquisa referente à escravidão. Aproveitando esse cenário
pesquisa consiste em contribuir, de alguma maneira, para ampliar dinâmico, estabeleceu-se como objetivo investigar a estabilidade da
os estudos da AIB no Espírito Santo e, em especial, Cachoeiro de família escrava — cuja existência não é mais assunto a ser debatido,
Itapemirim. Nosso objetivo aqui é propor novos questionamentos posto que amplamente confirmado — nas Regiões Central e Sul da
acerca da trajetória da AIB em Cachoeiro de Itapemirim e investigar Província capixaba, procurando perceber as diferenças e semelhan-
por que uma parcela considerável dos cachoeirenses da década de ças entre os cenários de pequenas propriedades e aquele dominado
1930 aderiu ao movimento. A metodologia utilizada neste trabalho pelas grandes fazendas cafeeiras, desde o final da Colônia (1790)
combinará a pesquisa bibliográfica cujo objetivo é situar o problema até a libertação do ventre das mulheres cativas (1871). Importa per-
dentro de uma perspectiva teórica mais abrangente, com a pesqui- ceber se a Lei Eusébio de Queirós, que pôs fim ao tráfico Atlântico,
sa documental, onde foram analisados, entre outras fontes, o jornal interferiu na instituição escravista, nas relações entre senhores e es-
Vida Capixaba, trechos de entrevistas concedidas por ex-militantes cravos, especialmente no quesito “família”. Por uma questão meto-
da AIB e da ANL e, principalmente, o importante documento his- dológica, o período estudando será subdividido em dois: o primeiro
refere-se aos últimos anos da Colônia, iniciando-se em 1790 e esten-
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37 MEMÓRIAS, TRAUMAS E RUPTURAS 38
dido até 1821; o segundo começa no ano da citada Lei que pôs fim do Rio Doce. Nosso objeto de pesquisa é uma comunidade pome-
à importação de escravos africanos (ainda que tenha levado alguns rana localizada no Município de Pancas ao norte do Espírito Santo,
anos pra isso), isto é, em 1850, e termina com a promulgação da Lei mais especificamente no distrito de Laginha. Por meio da História
Rio Branco, responsável por eliminar a possibilidade de reiteração Oral e à luz de uma bibliografia já existente, pretende-se entender a
da escravidão por meio dos nascimentos. Seguindo o exemplo dos dinâmica de deslocamento transmigratório dos pomeranos dentro
pesquisadores da família escrava, utilizamos como fonte básica de do Espírito Santo e analisar os aspectos socioculturais, econômicos e
pesquisa inventários post-mortem, testamentos, livros de casamento, políticos que caracterizam esse deslocamento. Além de fontes orais,
relatórios do Censo e de presidentes de província. Tal documenta- que ainda serão colhidas, nos utilizamos, também, de outras fontes
ção, como se percebe, privilegia análises quantitativas, para as quais disponíveis como registros religiosos, documentos oficiais e mate-
utilizamos como instrumento de análise o programa SPSS. Contudo, rial iconográfico para obter maior coleta de informações possíveis e
ainda que cada fonte se assemelhe a um “retrato”, revelando apenas promover melhor discussão e análise da problemática em questão.
um breve instante da vida daquelas pessoas, ela permitiu estabe- Os imigrantes pomeranos apresentam estreita ligação com a terra
lecer os perfis das famílias escravas em cada região estudada, bem e com o seu cultivo. Isso decorre devido ao assentamento dos imi-
como perceber o reconhecimento de sua importância — inclusive grantes em pequenos lotes de terra — minifúndios — aspecto que
pela sociedade escravista — tanto na área de pequenas proprieda- caracteriza o Espírito Santo até os dias atuais. Na comunidade po-
des quanto no reduto da grande lavoura. merana de Laginha predomina a produção do café como principal
fonte de renda. Há de se observar que as comunidades pomeranas
Palavras-chave: Escravidão; Famílias; Espírito Santo. localizadas nos municípios serranos do estado destacam-se pelos
hortifrutigranjeiros. Discutimos, nesta pesquisa, questões que per-
meiam o conceito de território no cotidiano campesino das relações
Imigração pomerana no Espírito Santo: sociais estabelecidas, considerando que território não se restringe
território e identidades somente ao material, à terra, por exemplo. Território é o lugar onde
Helmar Spamer - UFES
o homem manifesta a sua existência e todas as suas relações, o exer-
cício da vida. Muitos traços culturais ainda permanecem firmes e
são expressos nas tradições pomeranas. No entanto, muitos cos-
Esta pesquisa está vinculada ao Laboratório de Estudos do Mo-
tumes se perderam no decorrer do tempo. Além disso, elementos
vimento Migratório (LEMM) da Universidade Federal do Espírito
culturais foram transformados e reelaborados. Assim, trabalhamos,
Santo, e o que se propõe nesta comunicação é apresentar sua fun-
também, com o conceito de identidades, no intuito de discutir essas
damentação teórico-metodológica. A imigração europeia marcou a
transformações culturais e como elas se estabelecem e são identifica-
história do Espírito Santo. Desde meados do século XIX o Estado
das no cotidiano pomerano com vistas a compreender as caracterís-
passou a receber grandes levas de imigrantes, dentre os quais se
ticas utilizadas para identificar o povo pomerano como grupo social
encontravam os pomeranos, tema de estudo deste trabalho. Eram
étnico no Espírito Santo.
oriundos da antiga região da Pomerânia, uma província da Prús-
sia, próxima ao Mar Báltico, subdividida em Pomerânia Anterior Palavras-chave: Pomeranos; Território; Identidades.
(a oeste) e Pomerânia Posterior (a leste). A maioria dos pomeranos
que migraram para o Espírito Santo é originária da Pomerânia Pos-
terior, região que foi anexada ao território polonês após a Segunda
Guerra Mundial. Os pomeranos foram grandes desbravadores das
terras capixabas, estabelecendo-se inicialmente na região das mon-
tanhas e, posteriormente, no final do século XIX e início do século
XX, migraram também para o Norte do estado, em direção ao Vale
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39 MEMÓRIAS, TRAUMAS E RUPTURAS 40
Gênero, Papel Social e o Poder Masculino: de comportamento para homens e mulheres e moldam as identida-
Contribuições Conceituais para a História Social des de gênero conforme os interesses políticos, sociais e econômi-
das Relações de Gênero cos. A imposição de um papel social masculino voltado ao poder de
controlar as mulheres, ao ser macho, a virilidade e a agressividade,
Helvécio de Jesus Júnior - UVV - UFES
sugerem que os homens são igualmente objetos dessas imposições
culturais e acabam agindo dentro das expectativas de uma cultu-
O gênero, enquanto campo específico de estudo, tem sido ali- ra de gênero patriarcal que consolida um ambiente hostil para as
jado de muitas áreas de conhecimento das ciências sociais nos seus mulheres. Para compreender a estrutura das relações de gênero de
chamados mainstreams teóricos. Em outras palavras as característi- um determinado período é preciso recorrer a história da construção
cas e funções relativas ao papel feminino, em muitos casos, são colo- desses conceitos. As transformações no âmbito dos papeis sociais
cadas em subcategorias às margens das perspectivas filosóficas e so- esperados entre homens e mulheres são lentas, pois não seguem a
ciológicas. Seja por sua condição inferior nas sociedades tradicionais uma lógica jurídica ou institucional, mas sim cultural, representada
pós-coloniais onde essas modalidades de conflitos abundam, seja nos valores sociais mais internalizados na identidade dos indivídu-
por seus papeis sociais submissos nessas sociedades, as mulheres os.
acabam sendo as maiores penalizadas com os efeitos colaterais das
guerras. As mulheres que precisam buscar alimento e água ficam
limitadas ou mesmo paralisadas em razão da guerra, além disso, são
absurdamente elevados os números de abusos sexuais verificados O Impacto da consciência negra na visão, no
nesses conflitos e noticiados por organizações não-governamentais comportamento e na atitude social dos alunos
(ONG) de direitos humanos e pela Organização das Nações Unidas sobre a questão da igualdade étnico-racial
(ONU). O objetivo desse artigo é apresentar os debates conceituais Jayza Monteiro Almeida – Faculdade Saberes
e teóricos sobre conceitos como gênero, família, papel social e po-
der masculino no âmbito da História Social, Sociologia e Teoria das A abordagem deste estudo diz respeito respeito à Consciência
Relações Internacionais. Em um primeiro momento destacarei os Negra e o comportamento dos alunos sobre a questão da igualdade
temas das relações de gênero, papel social e controle social. Em um étnico-racial. Assim, entende-se que o Brasil tem traçado o rumo
segundo momento descreverei a análise sobre o papel social mascu- da conscientização étnica desde o final da ditadura militar, quando
lino, ou seja, a construção social de uma identidade dos homens e os com a volta da liberdade de expressão, diversos movimentos sociais
padrões de poder e violência incutidos nesses processos. Outrossim, foram fundados para manifestar o direito das minorias étnico-ra-
buscarei apresentar o debate incipiente sobre o papel do gênero na ciais e lutarem pelo seu reconhecimento histórico-social. As etnias
História Social, suas principais origens e suas agendas. Tratarei das indígenas e os auto-denominados afro-descendentes começaram a
repercussões teóricas desse novo movimento para a História Social se organizar para conquistar seu espaço na sociedade a partir da
e dos fenômenos políticos relacionados às mulheres que deman- educação e das leis. Assim, diante do cenário ora apresentado, de-
dam mais atenção analítica no mundo contemporâneo. A história finiu-se como objetivo geral analisar o impacto da comemoração
das relações de gênero é um campo primordial para a compreensão do Dia da Consciência Negra nas representações, atitudes e com-
da construção social das relações de gênero. Os estudos dentro da portamentos dos alunos sobre a igualdade étnico-racial. Entre os
historiografia sobre o papel social desempenhado por mulheres e objetivos específicos, destacam-se: conhecer as representações dos
homens demonstram que a concepção do conceito de gênero não se- alunos sobre a igualdade étnico-racial; caracterizar o que vem a ser
gue apenas significados biológicos. Compreende-se, à luz da histó- consciência negra; apresentar conceitos sobre racismo, preconceito
ria social das relações de gênero, que a hierarquização da sociedade e igualdade étnico racial. A justificativa do estudo está no fato de
e os preconceitos advindos desse modelo são processos históricos poder demonstrar que a etnia afro-descendente avançou em relação
informados por contextos culturais específicos que ditam modelos às suas reivindicações, conquistando a promulgação de Lei Especí-
ENCONTRO INTERNACIONAL DE HISTÓRIA UFES - PARIS-EST
41 MEMÓRIAS, TRAUMAS E RUPTURAS 42
fica que obriga o estudo da História da África. Interessante é que a dos do século XX a presença de uma oligarquia que atuou no âmbito
referida lei é anterior aos PCNs, que não a incluíram; assim, apesar estadual. Paralelo a questão econômica, uma intensa atividade cul-
de lei obrigatória em relação ao estudo das raízes africanas do povo tural se destacou no cenário nacional, expressadas na literatura, tea-
brasileiro, o próprio Estado a cargo da Educação não conseguiu fa- tro, cinema, música e política que se perpetuou até os anos sessenta.
zer com que a lei seja aplicada. O que se conseguiu foi a instituição, Cachoeiro de Itapemirim foi palco de muitas atividades culturais
em 2003, de lei que obriga o Dia Nacional da Consciência Negra e a vida social se enchia de encantos e viveu uma época de glória
a ser comemorado nas escolas, ocasião em que a conscientização não só no campo econômico, mas também no político e cultural. A
em relação às diferenças a partir dos afro-descendentes, é pratica- música também se fez presente através da Escola de Música de Ca-
do. A relevânica do estudo, está ainda, no fato de mostrar que os choeiro de Itapemirim, que oferecia aulas de solfejo, violino, piano,
problemas de discriminação e preonceitos vivenciados pela etnias violoncelo, cornetim trombone, flauta, saxofone e canto e no que se
estimularam esta pesquisa. A metodologia foi elaborada com base refere às bandas de música, ainda é mais longínquo os registro, pois
na pesquisa bibliográfica como levantamento dos fundamentos teó- datam de 1880, 1900, 1917, 1922 e 1931, sendo que duas delas ainda
ricos sobre a temática. A investigação teórica (revisão bibliográfica) existem na atualidade, a banda Lira de Ouro (1922) e a banda 26 de
aborda livros, periódicos, revistas especializadas, etc, em forma im- julho (1931). São de Cachoeiro personalidades artísticas conhecidas
pressa ou eletrônica). As conclusões finais do estudo demonstraram nacionalmente e algumas obras que também expressam o sentimen-
que a implementação dos objetivos legais em torno da valorização to pela cidade. Talvez este grupo, que possui esse sentimento de
da etnia afro-brasileira parece não ter encontrado aceitação por par- bairrismo, vê a cidade com os olhos do passado e revela uma sauda-
te das próprias escolas, que anos depois de lei específica obrigando de dos tempos de glória que muitos não conheceram. A história tem
o ensino da cultura afro-brasileira nas escolas, ainda discute a sua buscado se relacionar com diversas áreas do conhecimento, sendo
implementação global a partir de experiências-piloto em algumas o estudo do sentimento, entendido como importante para a com-
escolas. Um plano nacional para implementação da lei, cinco anos preensão da dinâmica social. Debater esse tema — o bairrismo em
depois de sua promulgação pelo governo federal é propalado pelo Cachoeiro de Itapemirim — é bastante oportuno, uma vez que não
MEC como conquista da sociedade brasileira. há outro trabalho em termos acadêmicos que tenha se debruçado
sobre o assunto. É salutar o “amor” à terra, a sua defesa frente a ati-
Palavras-chave: Racial. Consciência. Comportamento. tudes que tentam reduzir, desclassificar ou macular a sua imagem.
É a defesa do ninho e de seu ambiente. Mas a extremada condição
do bairrismo pode ser também um comportamento alienante, in-
Cachoeiro de Itapemirim - ES: Para além do bairrismo capaz de ver o que existe de bom além do muro imposto por esse
Joana D’Arck Caetano - UFES sentimento. A questão é: até onde o sentimento de bairrismo é salu-
Sílvia de Souza Dias - UFES tar para a cidade e até onde é prejudicial em relação à imagem que
podemos passar? OBJETIVO: Refletir se o bairrismo pertence a toda
O presente trabalho propõe a reflexãono que tange ao senti- população cachoeirense e se está relacionado ao período econômico
mento conhecido como bairrismo, expresso no discurso e atitudes e cultural citado. METODOLOGIA: A pesquisa foi feita através de
de um grupo da sociedade na cidade de Cachoeiro de Itapemirim - entrevista matérias de jornais, literatura diversificada e revisão bi-
ES. O discurso é caracterizado pela defesa da cidade, privilegiando bliográfica.
a “terra natal”, e encontra presente nos espaços tradicionais na cida-
de, nas rodas de conversa e pontos de encontros. Conhecido como Palavras-chave: Cachoeiro de Itapemirim; bairrismo; sentimento.
epicentro econômico em meados do século XIX, sendo responsável
pela dinâmica econômica da província de todo o Espírito Santo, no
contexto da produção cafeeira, o sul do Espírito Santo, teve até mea-
O processo de Independência do Brasil deixou como legado Existe uma identidade capixaba?
um conjunto de documentos impressos que revelam as diferentes Dilemas de um Historiador
formas com que indivíduos e grupos imaginavam uma nação bra- José Candido Rifan Sueth - UFES
sileira ideal. Para além da possibilidade de ruptura ou de estreita-
mento dos laços entre Brasil e Portugal, os escritos políticos deste Neste estudo pretende-se analisar a importância, para a histo-
complexo processo histórico são capazes de nos revelar uma gama riografia, das pesquisas relacionadas com a problemática da identi-
de divergências políticas, apresentadas por meio de um amplo e dade, especificamente de uma identidade regional, como a capixaba.
rico vocabulário político no qual a historiografia da Independên- É historicamente conhecido que, na vida política capixaba, existem
cia ainda precisa destinar mais atenção. A proposta de comunicação alguns traços que permanecem há mais de um século, talvez permi-
sustenta a existência de dois diferentes projetos políticos de nação tindo, por isso, afirmar que se tratam de características que fazem
no âmbito da elite intelectual defensora do ideal de soberania do parte de uma longa duração, conforme o conceito de Braudel. Po-
povo durante o processo de independência do Brasil, ou seja, um de-se citar como exemplo a atuação política de Muniz Freire que,
projeto centralizador e monárquico, além de outro, radical, fede- ao longo de sua intensa vida pública, tomou várias atitudes, pro-
ralista e republicano. Em suma, é sobre esse segundo projeto que nunciou inúmeros discursos e escreveu muitos artigos em que se
estruturamos nosso estudo. Assim, a comunicação visa apresentar lamenta do desprezo e do esquecimento em que é colocado o estado
uma investigação das principais características do liberalismo polí- do Espírito Santo no cenário político nacional. Este artigo cita al-
ENCONTRO INTERNACIONAL DE HISTÓRIA UFES - PARIS-EST
47 MEMÓRIAS, TRAUMAS E RUPTURAS 48
guns trechos de suas Cartas ao Imperador, escritas em 1885, em que O cotidiano na Antiguidade Tardia:
ele coloca muito claramente essa problemática. Em muitos de seus considerações em torno da África romana
escritos, Muniz Freire deixa essa ideia muito clara: o Espírito Santo é nos tempos de Agostinho de Hipona (354-430)
um estado “satélite” na Federação. Ora, essa característica do estado
José Mário Gonçalves - UFES
do Espírito Santo permanece ao longo do século XX e chega ao sécu-
lo XXI. O artigo faz referência, por exemplo, ao fato de que em todo
o período da Primeira República (1889-1930), o estado do Espírito De acordo com Agnes Heller, a vida cotidiana é a vida de todo
Santo foi tão ausente da política nacional, que sequer um político ser humano, vivida por inteiro. Dele participam todos os aspectos
capixaba esteve presente em qualquer dos diversos ministérios que de nossa individualidade, todos os nossos sentidos, capacidades,
compunham os governos de então. Ora, para quem acompanha a habilidades, sentimentos, paixões, ideias e ideologias. É a vida do
política brasileira na atualidade, vê-se que se trata de uma perma- indivíduo, mas sempre em relação com uma comunidade, na qual
nência histórica, em que a exclusão do estado do Espírito Santo - e constrói tanto sua consciência individual, quanto coletiva. O coti-
a mágoa daí decorrente, marcando muitas declarações de políticos, diano é lugar de permanências e de rotinas, mas também de ruptu-
como também de representantes da intelectualidade capixaba. Po- ras e de transgressões. Nele, o indivíduo possui uma margem, ainda
de-se, assim, afirmar que se trata claramente da continuidade de que limitada, de movimento e invenção, que o permite se apropriar
um mesmo processo no qual a autonomia do Espírito Santo acha-se da realidade a seu favor e imprimir nela a sua própria marca. A
ausente pelo menos há mais de um século. Isto tudo fará parte de presente comunicação tem como objetivo tratar do cotidiano como
uma identidade política capixaba? Existe essa identidade política? É locus apropriado para se investigar a história, com atenção especial à
historicamente admissível estudar identidades políticas regionais? África Romana entre fins do século IV e início do século V, palco de
Tem importância histórica estudar identidades regionais em plena controvérsias que envolveram o bispo Agostinho de Hipona contra
era da globalização? São perguntas que as reflexões até aqui feitas os donatistas e outros grupos religiosos que coexistiam no mesmo
certamente suscitam e cujas respostas este artigo procura encontrar. espaço geográfico. O trabalho está estruturado em três partes: na
O artigo, então, procura se aprofundar, primeiramente, no conceito primeira, faremos um breve balanço historiográfico a respeito do
de identidade. O que se deve entender por identidade? Trata-se de tema do cotidiano, apontando as principais contribuições teóricas
uma problemática do semelhante e do diferente, ou seja, da identi- dadas à sua compreensão — com destaque para os trabalhos de Ag-
dade, e que já preocupava os pensadores, desde a Antiguidade. For- nes Heller, Erving Goffman e Michel de Certeau. Na segunda par-
mulado o conceito, o artigo parte para o estudo de autores como te, discutiremos a pertinência e a possibilidade de fazer uso dessa
Zygmunt Bauman, Peter Burke, Stuart Hall e René Rémond, a fim perspectiva para estudar o período tardo antigo, procurando definir
de indagar sobre o que eles entendem por identidade e a importân- o que caracteriza o cotidiano naquele contexto histórico. Aqui, pro-
cia de seu estudo para a historiografia atual. Bauman, por exemplo, curamos destacar o lugar que a religião ocupava no cotidiano e sua
afirma que atualmente a identidade é o papo do momento, um as- relação com outras áreas da vida. Na parte final, a nossa atenção
sunto de extrema importância e em evidência. Tratam-se de autores se volta para a questão dos métodos e fontes de pesquisa. Quan-
que desenvolvem conceitos e sugerem metodologias que permitam to às fontes, elegemos em nossa pesquisa de doutorado as cartas
ao pesquisador aprofundar-se no estudo dessa problemática e, as- que Agostinho, ao longo do seu ministério episcopal, trocou com
sim, analisar casos concretos, como o do estado do Espírito Santo. inúmeros interlocutores. Em virtude de sua natureza mais pesso-
al e circunstancial, bem como da diversidade de temas, pessoas e
Palavras- chave: política; identidade; estado do Espírito Santo. situações tratadas, entendemos que a correspondência do bispo de
Hipona nos permite olhar mais de perto o cotidiano do período em
questão. No tocante ao método, acreditamos ser adequado o uso do
paradigma indiciário, que, conforme Carlo Ginzburg, nos ajuda a
prestar atenção aos detalhes, aos casos particulares, aos indivídu-
ENCONTRO INTERNACIONAL DE HISTÓRIA UFES - PARIS-EST
49 MEMÓRIAS, TRAUMAS E RUPTURAS 50
os, enfim, a tudo que pode ser revelador das relações cotidianas. A bilidades, que eram poucas, com a instituição. O provimento de ar-
intenção é ler as cartas agostinianas lançando sobre elas um olhar mas e instrução segundo a Lei do Orçamento eram despesas gerais,
oblíquo, percebendo os indícios dos conflitos, das negociações, das portanto, cabia ao Governo Central fornecê-los. Porém, ele não cum-
táticas de resistência e de sobrevivência num cotidiano permeado pria com suas funções, ficando a Guarda Nacional dependente dos
pela presença significativa das questões religiosas. recursos dos milicianos de alta patente. O crescimento de algumas
vilas da província do Espírito Santo, no século XIX, alertavam para
Palavras-chave: cotidiano; Agostinho; religião. a necessidade da organização efetiva da milícia. A Guarda Nacional
no Espírito foi um exemplo de instituição em busca da organização
para seu funcionamento previsto na lei que a criara, a Lei de 18 de
A atuação da Guarda Nacional na agosto de 1831. A ausência mínima do Estado, somada à falta de
província do Espírito Santo (1831 a 1862) estrutura que a província já enfrentava, impediu que se formasse
Kamyla Nunes de Deus Oliveira - UFES
um verdadeiro aparato que contribuísse na manutenção da ordem
nesta província. Da mesma forma, observamos que embora fossem
muitas as carências no Espírito Santo o fracasso da milícia como
Nesta comunicação, analisamos a atuação da Guarda Nacional
instrumento de Força pública não foi um privilégio desta província.
na província do Espírito no período de 1831 a 1862. Para tanto utili-
zamos como fontes: o Registro da Correspondência do Governo re- Palavras-chave: Espírito Santo; Guarda Nacional; Força pública.
lativo à Guarda Nacional (1846-1871), o Registro da Correspondên-
cia do Governo com diversas autoridades civis e militares da capital
(1831-1837) e os Relatórios dos Presidentes de Província de 1831 a
1862. A Guarda Nacional foi criada nos primeiros anos da Regência, O Antijudaísmo Medieval em perspectiva:
sendo uma das medidas de descentralização que aquele fértil pe- a violência dos pogroms da Primeira Cruzada
ríodo promoveu. A também denominada milícia cidadã procurou e sua influência sociocultural e religiosa para as
denotar a presença do Estado por toda extensão do Império, uma comunidades ashkenazim da Germânia no século XI
vez que ela estava presente em todas as províncias brasileiras. Os Karla Constancio de Souza - UFES
guardas nacionais executavam serviços ordinários dentro do muni-
cípio, serviços ordinários de destacamento fora do município (estes O presente estudo irá alocar sua discussão entre os séculos X-XI,
eram remunerados) e serviços de auxílio ao Exército de Linha. Além início de um longo período de violência e perseguição contra judeus
disso, o serviço dos milicianos era solicitado para capturar crimi- da Europa. Especialmente na região germânica do Vale do Reno, o
nosos, segundo requisição feita pelos juízes locais e delegados de contexto foi marcado pelos maiores pogroms da Idade Média, a de-
polícia; para patrulhamento e policiamento das cidades, assim como nominada Cruzada Germânica. A conjuntura foi palco da incitação
das guarnições de cidades e prisões; para destruir quilombos, repri- dos fiéis cristãos pelos sermões de clérigos itinerantes em favor do
mir o tráfico de escravos, dentre outros serviços. Ao mesmo tempo, extermínio de judeus e hereges, assim como a consagração do ódio
a milícia cidadã constituiu-se num espaço de expressão do domínio antijudaico. Foi também momento de fortalecimento da influência
das elites locais que ocupavam os principais postos de comando. No do Cristianismo e da Igreja no campo dos valores e ideias do homem
Espírito Santo é possível observar em sucessivos relatórios dos pre- medieval. A tolerância aos judeus entra em questão quando surgem
sidentes de província a necessidade de se organizar a milícia para acusações de deicídio, conspiração, usura, e uma série de outras ca-
reprimir, sobretudo, os grupos de escravos fugidos. Tais relatórios racterísticas difamatórias que vinham sendo radicadas no imaginá-
atestam o que autores como Jeanne Castro (1977) apontam: a demo- rio popular por séculos e agora serão intensificadas. Dentre nossos
ra para se organizar plenamente a Guarda Nacional ocorreu devido, objetivos buscaremos identificar a posição do alto e baixo clero em
sobretudo, à ausência do Estado no cumprimento de suas responsa- relação à presença judaica e sua funcionalidade na sociedade cristã.
ENCONTRO INTERNACIONAL DE HISTÓRIA UFES - PARIS-EST
51 MEMÓRIAS, TRAUMAS E RUPTURAS 52
Assim poderemos observar a influência do conflito discursivo cle- Escritoras do Oitocentos e o movimento abolicionista:
rical para a efetivação da violência contra as judiarias do Vale do emancipando escravos e mulheres
Reno na Primeira Cruzada, aliada aos agravantes da estigmatização
Karolina Fernandes Rocha - UFES
dessas comunidades judaicas. Em paralelo a todo esse contexto his-
tórico que se desenvolve e culminará nos pogroms, ou seja, os mas-
As décadas finais do século XIX se destacaram pela grande
sacres perpetrados contra comunidades judias ashkenazim do Sacro
efervescência política e cultural, e, sobretudo, pelo desenvolvimen-
Império Romano Germânico, iremos delinear algumas percepções
to da imprensa de opinião, que serviu de veículo para a difusão
iniciais sobre uma problemática em que procuramos verificar o im-
das grandes discussões sobre a crise do Império brasileiro. Entre os
pacto que tais acontecimentos causaram ao judaísmo como religião
principais debates, constava a defesa do abolicionismo que ganhou
e cultura a médio prazo. Definimos como “médio prazo”, pois nos-
as páginas dos periódicos e das principais obras do período, de-
sa fonte foi, segundo especialistas, escrita cerca de um século após
monstrando suas múltiplas expressões e significados. Considerado
os eventos, como uma maneira de fortalecer a identidade judaica
o primeiro grande movimento social brasileiro (ALONSO, 2002) e
que estava se deteriorando. Segundo Avraham Grossman e Jeremy
de autêntica participação popular (CARVALHO, 2003), o abolicio-
Cohen (1994) a apostasia representava uma séria ameaça para as ju-
nismo foi responsável por trazer a lume setores da sociedade tradi-
diarias germânicas no período em que foram compostas as crônicas,
cionalmente alijados da política, como, por exemplo, as mulheres e
e se a deterioração social e religiosa fosse uma questão de apostasia,
os escravos. Neste sentido, o discurso feminino em prol da liberda-
enfatizar o repúdio da conversão em 1096 e a apologia ao sacrifício
de ganhou destaque na sociedade oitocentista. Algumas mulheres
do mártir eram linhas lógicas a se seguir. Outra problemática que
aproveitaram os seus dotes artísticos, como Chiquinha Gonzaga —
também traremos à luz deste trabalho diz respeito à questão deter-
o Rouxinol Abolicionista — e Josephina Senespleda, e promoveram
minante que foi a divergência dos discursos entre alto e baixo clero
através de seus espetáculos, a arrecadação de donativos para a ma-
para o desenvolvimento desses eventos. Problematizaremos a atri-
numissão dos escravos; outras se organizaram em sociedades eman-
buição dos pogroms como consequência de um discurso derivado do
cipacionistas ou tomaram parte nas associações masculinas e assim
baixo clero da Igreja, o que valida tal discurso como uma das vozes
contribuíram na organização dos meetings, proferiram discursos,
da instituição, mesmo que não oficial. Para isso utilizaremos uma
arrecadaram dinheiro, dentre as demais atividades das quais os ho-
ótica que abarcará conceitos como identidade e alteridade, desta-
mens tomavam parte. Dentre essas mulheres escritoras, destacamos
cando os estudos acerca dos marginalizados e excluídos do mundo
Maria Firmina dos Reis, autora do romance Úrsula e do conto A Es-
medieval. Nossa metodologia utiliza o conceito das representações
crava; Júlia Lopes Almeida e sua obra A Família Medeiros; e Francisca
d’ A História Cultural de Roger Chartier para analisar a construção
Senhorinha da Mota Diniz, proprietária do jornal O Sexo Feminino.
da representação criada no imaginário de uma comunidade em re-
Por se tratar de tema ainda pouco explorado pela literatura acerca
lação à outra — entre cristãos e judeus e vice-versa — que se revela
do movimento abolicionista, o objetivo de nossa pesquisar é ana-
como um produto criado para o benefício da concepção da própria
lisar o discurso feminino a respeito da emancipação escravista e a
comunidade criadora. A análise de fontes se fundamenta na Análise
utilização do conceito de liberdade na produção literária e jornalís-
do Discurso, e para isso nos baseamos em duas obras principais: Eni
tica e buscamos identificar os elementos que contribuíram para que
Orlandi (2006) e Helena Brandão (2002).
estas mulheres defendessem a abolição da escravidão no Brasil e
Palavras-chave: Antijudaísmo; Idade Média; Cruzadas narrar a maneira pelas quais elas o fizeram.