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Profissional Documentos
Cultura Documentos
Reitor
Gleisson A. Pereira de Brito
Vice-Reitor
Luis Evelio Acevedo
.2.
COMISSÃO ORGANIZADORA
Tereza Spyer - UNILA
Angela Meirelles - UNIOESTE
Cristiane Checchia - UNILA
Priscila Dorella - UFV
Maria Antonia Martins - FSA
Romilda Motta - UFABC
Maria Camila Ortiz - UNILA
Juliana Balestra - UNILA
Ana Rita Uhle - UNILA
Suellen Oliveira - UNILA
Gerson Ledezma - UNILA
Cintia Lima - UNIOESTE
Micael Alvino - UNILA
Yonissa Wadi - UNIOESTE
Paulo Koling - UNIOESTE
Gilberto Calil - UNIOESTE
Aníbal Orué Pozzo - UNILA
Carla Cristina Nacke Conradi -UNIOESTE
Pablo Felix Friggeri -UNILA
Patrícia Sposito Mechi - UNILA
Andrea Ciacchi - UNILA
Carine Dalmás - UEMA
Fábio da Silva Sousa - UFMS
Kátia Cilene do Couto - UFAM
Mary Anne Junqueira - USP
COMISSÃO CIENTÍFICA
Adriane Vidal Costa - UFMG
Barbara Weinstein - NYU/EUA
Edméia Aparecida Ribeiro - UEL
José Alves de Freitas Neto - UNICAMP
José Luis Bendicho Beired - UNESP
Maria Elisa Noronha de Sá - PUC-Rio
Maria Helena Rolim Capelato - USP
Maria Lígia Prado - USP
Regina Aída Crespo - UNAM
Tania da Costa Garcia - UNESP
.3.
ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES E PROFESSORES DE HISTÓRIA DAS AMÉRICAS
Presidenta
Tereza Maria Spyer Dulci - UNILA
Vice-presidente
Angela Meirelles - UNIOESTE
1ª Secretaria
Cristiane Checchia - UNILA
2ª Secretaria
Priscila Dorella - UFV
1ª Tesouraria
Maria Antonia Dias Martins - CUFSA
2ª Tesouraria
Romilda Motta - UFABC
Secretaria
Maria Camila Ortiz - UNILA
Secretaria Assistente
Alana Quadros - UNIOESTE
HOMEPAGE DA ANPHLAC
http://www.anphlac.org
.4.
Programação Geral
XV Encontro Internacional da Anphlac 2022
9h – 18h Credenciamento
Debatedores
Conferencista
Claudia Estela Zapata Silva – UCHILE
Debatedores
19h30min Mesa-Redonda
Trajetórias da Pesquisa em História das Américas no Brasil
Conferencistas
Antonio Carlos Amador Gil – UFES
.5.
Carlos Alberto Sampaio Barbosa – UNESP
Gabriela Pellegrino Soares – USP
José Alves de Freitas Neto – UNICAMP
José Luis Bendicho Beired – UNESP
Kátia Gerab Baggio – UFMG
Maria Elisa Noronha de Sá – PUCRio
Mary Anne Junqueira – USP
Debatedores
Elizabeth Jelin
Doctora en Sociología, Investigadora Superior del CONICET /AR
.6.
MODALIDADE
PRESENCIAL
PROGRAMAÇÃO DETALHADA MINICURSOS E MESAS-REDONDAS
MODALIDADE PRESENCIAL
CURSOS Ministrantes
Ana Carolina Gutierrez Pompeu - USP
27, 28 e 29/07 Camila Bueno Grejo - UFES
8h - 9h30 Sala C103
Ministrante
Eduardo Scheidt - UERJ
Sala C104
Ministrante
Fernanda Palo Prado - USP
Sala C107
Ministrante
Emilio Gonzalez - UTFPR
Sala C307
Ministrante
Adrián Celentano - UNLP
Sala C308
.8.
O acervo Moema Viezzer: memória e conservação de uma educadora
popular ecofeminista
Yarú Mills Siqueira (UNILA) - Expositora
.9.
PÓS-GRADUANDAS(OS), PESQUISADORAS(ES) E
PROFESSORAS(ES) / MODALIDADE PRESENCIAL
.10.
27/07 MESA 7 - Representação do feminino e do feminismo em perspectiva
transnacional
10h - 12h Sala C307
.11.
27/07 MESA 10 - Mulheres latino-americanas: arte, política e configurações de
gênero
14h - 16h
Sala C104
.12.
TERCEIRA MESA 13 - Povos originários na América Latina: entre o colonial e o
decolonial
SESSÃO
Sala C103
.13.
28/07 MESA 16 - História intelectual na América Latina
10h - 12h Sala C307
.14.
28/07 MESA 19 - Integração e conflitos políticos na América Latina no século
XX
14h - 16h Sala C104
.15.
QUINTA MESA 22 - Cultura letrada na América Latina do XIX
SESSÃO Sala C103
O ouro do Novo Mundo: suas origens e suas funções nos textos do século XVI
Luiz Estevam de Oliveira Fernandes (UNICAMP) - Expositor
.16.
29/07 MESA 25 - Circulação de gentes, ideias e práticas nas Américas no
contexto da Monarquia Hispânica
10h - 12h
Sala C308
.17.
29/07 MESA 28 - Quadrinhos e humor gráfico na história das Américas: temas,
objetos, abordagens
14h - 16h
Sala C107
.18.
MODALIDADE
REMOTA
PROGRAMAÇÃO DETALHADA MINICURSOS E MESAS-REDONDAS
MODALIDADE REMOTA
Ministrante
27, 28 e 29/07
Cíntia Fiorotti Lima - Unioeste
8h - 9h30
Sala Virtual (O link será encaminhado para inscritas(os) próximo ao dia do
minicurso.)
Ministrantes
Alessandra Gonzalez de Carvalho Seixlack - UERJ
Fernando Luiz Vale Castro - UERJ
Sala Virtual (O link será encaminhado para inscritas(os) próximo ao dia do
minicurso.)
.20.
Migração latino-americana no território estadunidense mediante o
cinema: o caso de Frontera (2014) e a construção dos estereótipos
Gustavo Santos da Silva (UFPR) - Expositor
.21.
26/07 MESA 35 - Reflexões sobre contextos autoritários nas Américas
Sala Virtual (O link será encaminhado para inscritas(os) próximo ao dia da mesa-rendonda.)
14h - 15h30min
Coordenador: Rodolpho Gauthier Cardoso dos Santos - IFMG
PÓS-GRADUANDAS(OS), PESQUISADORAS(ES) E
PROFESSORAS(ES) / MODALIDADE REMOTA
.22.
27/07 MESA 38 - Cinema latino-americano em debate
Sala Virtual (O link será encaminhado para inscritas(os) próximo ao dia da mesa-rendonda.)
10h - 12h
História das Américas nos livros didáticos dos anos 1950: uma abordagem
das independências
Hevelly Ferreira Acruche (UFJF) - Coordenadora
.23.
27/07 MESA 41 - Existência e resistência no Chile (1970-1990)
Sala Virtual (O link será encaminhado para inscritas(os) próximo ao dia da mesa-rendonda.)
14h - 16h
.24.
27/07 MESA 44 - Nas teias da diplomacia: viagens, negociações e
sociabilidades na segunda metade do século XIX
14h - 16h Sala Virtual (O link será encaminhado para inscritas(os) próximo ao dia da mesa-rendonda.)
.25.
Historiadoras negras da diáspora: o trabalho intelectual de Beatriz
Nascimento (Brasil) e Daisy Rubiera (Cuba)
Giselle dos Anjos Santos (USP) - Expositora
.26.
Entre a técnica e a empatia: um estudo sobre o filme Araucanos de Ruca
Chorroy, de Jorge Prelorán (1969)
Ana Caroline Matias Alencar (PUC-Rio) - Expositora
.27.
História e historiografia da Revolução Bolivariana
Rafael Pinheiro de Araujo (UERJ) - Coordenador
.28.
D’Arcy Mcnickle e a Termination Era na revista América Indígena (1953-
1958)
Guilherme Gomes dos Santos (UEM) - Expositor
.29.
Mulheres negras, reprodução e representação no Brasil e em Cuba
(séculos XVIII e XIX)
Caroline Passarini Sousa (USP) - Expositora
.30.
Fronteras de selva y desierto: el paisaje en sus resistências
Marcela Landazábal Mora (UNAM) - Coordenadora
.31.
RESUMOS
MODALIDADE
PRESENCIAL
Estudantes de Graduação
MESA 1 - Sala C103 26/07/2022
Histórias e memórias de mulheres nas Américas
Coordenadoras: Carine Dalmás (UEMA) / Júlia Glaciela da Silva Oliveira (IFPR) 14h às 15h30min
Em 2017, o projeto As Mina na História, através da #minhaavónahistória fez com que milhares
de pessoas contassem a história de suas avós e bisavós. No twitter e no facebook, os usuários
compartilharam fotografias e até documentos familiares junto a história de diversas mulheres.
De parteira até a primeira senadora negra do Brasil, diversas narrativas foram escritas e divulga-
das. Com o aporte da história digital e da história pública, deseja-se analisar as narrativas sobre
a história das mulheres com a #minhaavónahistória. Pensando a história digital como a relação
entre as tecnologias de rede e a disciplina de história (NOIRET, 2015, p. 34) e a história públi-
ca com as mais diversas formas de divulgação do conhecimento, as redes sociais se tornaram
grandes difusoras do conhecimento histórico. Somado com a criação dos “virais” com hashtags
que demandam uma participação em massa nas mídias, o objetivo é pensar como esse movi-
mento influencia na perspectiva do reconhecimento das mulheres na história.
.33.
saberes e práticas dos grupos com os quais trabalhou ao longo de quase cinquenta anos em
toda América Latina. O Acervo Moema Viezzer possui coleções de documentos textuais, icono-
gráficos, sonoros, audiovisuais e bibliográficos de obras impressas, incluindo livros e periódicos.
Com o objetivo de disponibilizá-lo para consulta local e internacional foram executadas ações
de conservação e higienização. Mais do que guardar e atender aos educadores e educadoras
ambientais, que constituiu o tema da maior parte dos objetos, o acervo Moema Viezzer tam-
bém promove o resgate histórico da memória coletiva, contribuindo para a promoção do Di-
reito à Memória na região trinacional, um território que carece de museus, arquivos e espaços
culturais.
A pesquisa busca analisar os debates produzidos na imprensa argentina do período entre 2013
a 2021, acerca do monumento a Juana Azurduy (1780-1862) em Buenos Aires, que substituiu no
local o que antes era um outro monumento em homenagem a Cristóvão Colombo (1451- 1506).
Juana Azurduy participou das guerras de independência na região do Vice-reinado do Rio da
Prata e do Alto Peru. O ocorrido representa as disputas de narrativas no campo da memória, en-
volvendo processos de hegemonias e silenciamentos. O objetivo geral da pesquisa é compreen-
der esses processos, como foram construídos os discursos pela grande imprensa e pelas mídias
alternativas e como isso repercutiu no imaginário social da população argentina. O trabalho é
construído numa perspectiva de memória pública e análise de gênero.
Fadel Gutierrez
Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA)
.34.
Identidades visuais na imprensa ilustrada paraguaia Pós-Guerra Guasú: “El Látigo
Inmortal” (1889-1892)
A imprensa no Paraguai permaneceu sob o controle do Estado até o final da Guerra Guasú
(1864-1870), em um cenário de ausência de oposição tensionando a opinião pública no país. Nos
anos posteriores começa a se organizar no país uma imprensa mais plural, mesmo com alguns
limites e episódios de perseguição, na qual se insere o semanário ilustrado satírico El Látigo
Imortal, publicado de abril de 1889 a agosto de 1892. A publicação é uma continuidade do El Lá-
tigo, publicado de 1885 a 1889. O periódico retrata o embate entre as duas principais forças polí-
ticas do período, o Partido Colorado e o Partido Liberal, sendo que o periódico analisado repre-
senta os interesses do Partido Liberal, realizando forte oposição ao governo, através de críticas
e caricaturas dos políticos e generais da época. Trata-se de uma pesquisa em desenvolvimento,
onde as ilustrações parcialmente vão apontando aspectos sociais e políticos relevantes desse
período de reconstrução do país, discutindo a realidade de tensão política, a miséria, a liberdade
de imprensa, as violências, o autoritarismo, a militarização do Estado, os conflitos de posse de
terra, entre outros temas.
A presente comunicação pretende expor, a partir da análise material das edições dos anos
1959 e 1960 da revista Bohemia, como o periódico, claramente anticomunista, apoiou de for-
ma ferrenha a Revolução Cubana, contribuindo para a construção de uma memória a seu
respeito. Em suas páginas era defendida uma narrativa que atribuía ao Movimento 26 de
Julho, e principalmente à Fidel, toda a responsabilidade pela derrubada da ditadura, crian-
do uma memória sobre o processo de luta revolucionária. A revista tinha claramente uma
posição anticomunista, com fortes críticas, especialmente à União Soviética, que viria a ser
essencial para a sobrevivência da revolução. Além disso, a Bohemia, até o ano de 1960, mes-
mo que denunciando a política internacional do vizinho do Norte, tinha uma relação de ad-
miração aos Estados Unidos da América, possuindo vários colaboradores provindos do país.
Dessa forma, cabe a essa comunicação apresentar como ocorreu a mudança na escrita do pe-
riódico, uma vez que a revista possuía um grande impacto na opinião pública nacional, sen-
do até considerada um importante pilar para a ascensão dos guerrilheiros ao poder em 1959.
Ruptura institucional da Bolívia à luz dos discursos editoriais dos jornais El Deber e
Opinión
A renúncia de Evo Morales em novembro de 2019 foi um evento marcado por movimentos
.35.
sociais nas ruas, debates sobre fraude ou golpe de Estado e uma polarização intensificada. Des-
de o Referendo de 21 de fevereiro de 2016 e a não aceitação do resultado por parte de Evo
Morales e seu partido, movimentos de grupos da oposição se fortaleceram e tomaram parte da
narrativa política. Esta disputa se apresenta em muitos locais na sociedade, mas é na mídia que
é possível notar a construção de visões sobre a renúncia e se foi democrático (oposição) ou que
foi um Golpe de Estado ao governo (governo). Os meios de comunicação e a política se entre-
laçam na vida contemporânea, sendo assim a mídia pode ser analisada como um outro poder
na sociedade. Isto é, os meios de comunicação são parte do sistema total e se tornam meio de
dominação social a partir da condução de valores e questões pertinentes ao desenvolvimento
social, porém a confiança no jornal e em seu discurso, coloca a imprensa como um outro poder.
A partir disto, esse trabalho pretende analisar comparativamente os editoriais dos jornais El
Deber e Opinión de dezembro de 2018 e de setembro a novembro de 2019 dos dois periódicos
para compreender e comparar os discursos sobre o processo de ruptura institucional na Bolívia.
O trabalho analisa a obra de José Inácio de Abreu e Lima, militar e político pernambucano do
século XIX que participou ativamente das disputas travadas nos processos de independência
e formação dos Estados Nacionais na América Latina, tendo sido general na Grã-Colômbia e
colaborador intelectual de Simon Bolívar, participante da agitação que desembocou na Revo-
lução Praieira em 1848, redator e editor de diversos periódicos políticos no Brasil e na América
Hispânica e autor do primeiro livro sobre socialismo da América Latina – O Socialismo (1855).
A pesquisa tem o objetivo de identificar as redes transnacionais de sociabilidade intelectual
e cultural através das quais se concretizaram as apropriações de conceitos que cumpriram um
papel na formação do pensamento de Abreu e Lima (concentrando-se aqui em seu pensa-
mento de cunho político), levando em consideração também sua localização geográfica, social,
intelectual e de classe em seu contexto histórico determinado.
Barrageiro: uma análise dos sentidos e usos do termo no Informativo UNICON (1978-
1980)
Barrageiro é um termo utilizado para referir-se aos trabalhadores de diferentes cargos que
operam em barragens. Ao longo do século XX a construção de hidrelétricas mobilizou su-
jeitos de diferentes partes do Brasil motivados pela oportunidade de trabalho nesses proje-
.36.
tos. Em Foz do Iguaçu, uma cidade fronteiriça, impactada pela construção de Itaipu, o termo
tornou-se referência para a história da cidade, que recebeu uma grande quantidade de mi-
grantes, empregados na usina, além dos trabalhadores paraguaios, por tratar-se de uma em-
presa binacional. A questão deste trabalho está centrada na análise dos sentidos e usos do
termo barrageiro na forma como foi empregado por Itaipu na construção de uma narrativa
harmoniosa das relações entre os trabalhadores, de diferentes línguas, sotaques e origens,
durante a construção da usina. Utilizamos como fonte o Informativo UNICON, um periódi-
co publicado em português e espanhol, que circulou no canteiro de obras entre 1978-1988
e empregou um discurso institucional no diálogo com os trabalhadores brasileiros e para-
guaios. Nesse discurso a figura do barrageiro aparece como um trabalhador idealizado, um
peão anônimo, cristão, patriota, cuja força de trabalho e suor eram suas maiores qualidades.
O projeto “De mãos dadas por amplos caminhos” tem como objetivo elaborar materiais didáticos
e propostas de dinâmicas pedagógicas que colaborem com a promoção dos direitos humanos,
valores e cidadania entre estudantes da Educação Básica, principalmente da Fronteira Trinacio-
nal entre Brasil-Paraguai-Argentina. A ideia é disponibilizar os materiais de maneira digital, com
acesso livre, para que qualquer(a) educador(a) possa utilizá-los. Elaborados em português e espan-
hol proporcionam atividades não apenas para a construção de valores e atitudes éticas, mas tam-
bém para o desenvolvimento de habilidades cognitivas. Entre os valores e atitudes encontramos:
o respeito, o diálogo, a democracia, a solidariedade, a empatia, o trabalho em equipe e a resolução
conjunta de problemas. Entre as habilidades intelectuais destacamos a interpretação de textos
e de materiais audiovisuais, a produção oral e escrita, além da argumentação e reflexão crítica.
O objetivo desta pesquisa consiste na análise dos discursos políticos de Hugo Chávez que
estão disponibilizados no site do Partido Socialista Unidos da Venezuela (PSUV), no ano de
2009. Com isso, a proposta é aferir as ideias políticas e as formulações teóricas acerca das
ideias de democracia participativa expressas pelo ex-presidente venezuelano. Pretende-se
ainda, trabalhar as concepções teóricas metodológicas de análise do discurso político, para
que seja assim possível compreender melhor a construção da relação de Chávez com a po-
pulação venezuelana, objetiva-se ainda, construir as formulações teóricas sobre o conceito de
democracia participativa de forma a comparar os discursos com as ações praticadas ao lon-
go de seu governo. Por fim, utilizar estes mecanismos, apresentando os discursos de Hugo
Chávez como fonte, buscando, também, compreender suas concepções a respeito do processo da
Revolução Bolivariana, elucidando os pontos principais, pois é possível afirmar que, para Chá-
vez é fundamental entender que para se conseguir a democracia é apenas com a organi-
.37.
zação e participação do povo, e só através do processo revolucionário. Desta forma, preten-
de-se concluir apontando as principais conclusões obtidas, fomentando o debate conceitual.
O presente trabalho versa sobre os fatos e processos da recente política estadunidense que abri-
ram caminho para que um candidato da direita, Donald Trump, um outsider do establishment
do Partido Republicano, pudesse concorrer às eleições e alcançar o cargo de presidente dos Es-
tados Unidos, em 2016. Como marco temporal de análise, partimos da crise financeira de 2008,
a chamada crise do subprime, e seus impactos de ordem cultural, econômica e social na popu-
lação estadunidense, tais como uma considerável frustração política. A partir de então, perce-
be-se algumas tendências em parte da população e eleitorado, com o surgimento de movimen-
tos anti-globalistas, contrários às imigrações, a abertura comercial e mais apegados a valores
conservadores e tradicionais. Durante a crise e ressentindo sua existência, os governos Obama
(2009-2017) apresentaram dificuldades, caracterizadas pelo intenso uso de instrumentos políti-
cos, como decretos presidenciais (executive orders) pela obstrução de projetos e propostas pro-
cedentes da Casa Branca, governada por um democrata, o primeiro presidente negro a ser eleito
no país, cabe lembrar que a oposição era no Congresso Nacional. A crise política pôde ter sido mel-
hor observada na campanha eleitoral, ao fim dos mandatos Obama, quando podemos destacar
o papel do discurso identitário por parte do então candidato que buscava se contrapor ao atual
presidente e, principalmente, sua principal adversária, a ex-secretária de Estado, Hillary Clinton.
Este trabalho apresenta alguns resultados obtidos na pesquisa Memória e História nos Mundos
do Trabalho no sul da América Latina – migrações e fronteiras ao longo do século XX, desen-
volvida com bolsa de Iniciação Científica da Fundação Araucária, cujo intuito inicial era des-
envolver uma investigação sobre as origens, migrações, cotidiano e moradia dos trabalhado-
res da construção da barragem da Usina Hidrelétrica de Itaipu na região de Foz do Iguaçu no
período entre 1975 e 1987. Para tanto, realizamos uma coleta de dados tentando identificar
as origens das pessoas que foram trabalhar na construção da Hidrelétrica: regiões do país da
qual saíram, ou de quais países; faixas etárias; acompanhados ou não pela família. Tais dados
foram obtidos através dos chamados “Pedidos de Busca” disponibilizados no Sistema de In-
formações do Arquivo Nacional, documentos que verifica-se terem sido feitos com certa fre-
quência no aparato de controle e repressão durante a ditadura, para obter informações dos
trabalhadores contratados diretamente pela Itaipu, ou por alguma das empresas dos consór-
cios da construção, junto aos Sistemas de Informação mobilizados pela ditadura militar bra-
sileira. O levantamento e análise desses dados possibilita novas interpretações do mundo do
trabalho ali presente, assim como das formas de controle e repressão sobre os trabalhadores.
.38.
Pós-graduandas(os)
Pesquisadoras(es)
Professoras(es)
MESA 4 - Sala C103 27/07/2022
História, natureza e fronteiras na América Latina
Coordenador: Alexandre Camera Varella (UNILA) 10h às 12h
Tiago Bonato
Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA)
As primeiras representações da bacia platina nos mapas europeus, assim como a própria geo-
grafia do início do período moderno, foram construídas a partir de três fatores comuns: os re-
latos de expedições exploradoras; os mitos, antigos ou modernos; e os resquícios do que já se
sabia. Essas três forças atuaram em todos os mapas do período, com intensidades e desdobra-
mentos próprios, criando um conjunto bastante heterogêneo de documentos cartográficos. Os
rearranjos desses fatores no caso da região platina tiveram particularidades próprias de uma
região desconhecida e que, desde as primeiras explorações, foi povoada por lendas e mitos que
influenciaram definitivamente seus contornos. No percurso do primeiro século de invasão e
ocupação da região, a cartografia continuou a ser produzida e muitos mapas foram baseados
em outros mapas. Utilizando um amplo conjunto cartográfico do período, a partir dos pressu-
postos teóricos e metodológicos da cartografia histórica, esse trabalho busca agrupar esse ma-
terial de modo a visualizar padrões e propor modelos dessa cartografia. O intuito é compreen-
der o processo de mapeamento dessa região de fronteiras mais ou menos definidas entre os
impérios ibéricos na América.
A noção europeia de pestilência foi bastante utilizada para explicar as epidemias na época co-
.39.
lonial. Havia diversas articulações e escolhas políticas em torno de causas sobrenaturais e na-
turais das enfermidades. As visões de contágio representavam apenas uma fração dos motivos
que explicavam as mortandades. No final do século XVI, a grande crise populacional do México
Central ampliou o motivo do contágio interpessoal. Ele foi relacionado ao programa das nuevas
congregaciones civiles de populações nativas capitaneado por alguns vice-reis apoiados pela
Igreja episcopal. Líderes dos missionários mendicantes, em disputa com o arcebispado no con-
trole das comunidades indígenas, buscaram o argumento do contágio para defender seus inte-
resses. Eles eram contrários ao plano dos novos aldeamentos. Os monges também utilizaram o
argumento das enfermidades pegajosas, que viriam dos “repartimientos de indios” nas minas,
para condenar esse regime de trabalho forçado. Mas tiveram que lidar com o problema epidê-
mico nos pueblos que mantinham seus monastérios. Por último, pretendo trazer a abordagem
de um líder sacerdotal da extirpación de idolatrías a respeito do fracasso daquelas reducciones
mexicanas. O teólogo identifica o contágio com o motivo da embriaguez, entre outros detalhes.
Em suma, a apresentação procura observar certos discursos que suscitam algumas reflexões a
respeito do uso político das epidemias na história, e no tema específico das mortandades dos
indígenas das Américas.
.40.
audiência um pai fundador digno de louvor, capaz de simbolizar um país racialmente diverso
e que vivia os últimos anos da era Obama, aproximando-o de algumas pautas progressistas da
última década, entre elas: o antirracismo, o direito dos imigrantes e a discussão de temas liga-
dos ao gênero. Porém, nos bastidores da história e longe dos holofotes dos palcos, as polêmicas
que marcam a trajetória do político americano do século 18 colocam sombras e outras nuances
a essa imagem construída pelo musical. Para expormos nosso ponto sobre a questão, trabalha-
remos três elementos ligados ao personagem fictício e que não encontram respaldo na análise
da biografia do personagem histórico: a escravidão, a imigração e a democracia.
Lorenzo De Martinis
Universidade Estadual Paulista (UNESP)
.41.
zação dos Federalistas proposto na Constituição. Apesar do esquecimento dos Antifederalistas
em detrimento do pensamento Federalista, é de suma importância resgatar a presença dos
“Outros Fundadores” na elaboração da Constituição. Deste modo, busca-se retomar o pensa-
mento dos que foram outrora destacados como inimigos da nação e reduzidos à negação aos
“vencedores” e a nova Constituição. As fontes estão sendo analisadas a partir do contextualismo
linguístico de Skinner para enfim resgatar os “lances linguísticos” deste debate, em especial das
fontes Antifederalistas, como os Antifederalist papers, junto da Constituição Americana e da Bill
of Rights. Espera-se, desta apresentação, introduzir os resultados já obtidos acerca do debate da
Constituição Americana, com enfoque na corrente Antifederalista para enfim possibilitar novas
interpretações sobre o período.
Nessa comunicação abordamos algumas reportagens do cinejornal estatal cubano acerca dos
vírus que haviam sido supostamente disseminados pela CIA no país, no começo dos anos 1980.
Analisamos a associação que é feita, por meio de imagens e discursos, entre o combate às epi-
demias causadas pela alegada guerra bacteriológica empreendida pelos Estados Unidos, du-
rante a Guerra Fria, e a necessidade da mobilização popular para o combate a essa ameaça e
a outros males internos, como os cidadãos descontentes com a Revolução, a exemplo dos que
haviam deixado o país pelo porto de Mariel, em 1980. A partir desse estudo de caso, abordamos
os traços da propaganda política presente no cinejornal, com destaque aos temas e metáforas
visuais relacionados à saúde pública. Em nossa análise, nos valemos de historiografia produzida
sobre esse veículo e metodologias de análise fílmica compartilhadas no projeto Recherche co-
llective sur le Noticiero ICAIC Latinoamericano (Sorbonne/INA/ICAIC) do qual participamos em
2020 e 2021, com apoio da Fapesp, e que mapeou abordagens, transformações e opções esté-
ticas presentes no volumoso acervo audiovisual que esse cinejornal constituiu, uma vez que foi
produzido semanalmente por três décadas, entre 1960 e 1990.
La actividad cultural constituye un mecanismo donde los sentidos, las mediaciones y las ex-
.42.
periencias se transforman según las épocas y los contextos sociales, y no posee una esencia
invariable. El presente artículo propone una aproximación teórica sobre cómo las series audio-
visuales han dejado de ser un simple producto de entretenimiento, para convertirse en una
experiencia cultural capaz de construir narrativas sobre las identidades nacionales en Latinoa-
mérica. De esta manera, con el fin de comprender cómo se manifiesta esta relación, tomamos
como fuente de estudio la serie chilena Los Archivos del Cardenal (2011), donde abordamos de
manera seccionada algunos de sus capítulos a lo largo de la primera temporada. Lo que permi-
te conducir la reflexión desde dos momentos notables: la configuración histórica de las series
como vehículo de representación simbólica y visual, así como su diseminación por las socieda-
des latinoamericanas; y en la secuencia, las características técnicas y narrativas que posibilitan
expresar los relatos identitarios nacionales.
O filme The Revenant, do diretor mexicano Alejandro Gonzalez Iñarritu, lançado em 2016, que
narra a trajetória do explorador Hugh Glass, abandonado após o ataque de um urso, no território
onde hoje se localiza a Dakota do Sul, é construído a partir de vários dos signos tradicionais do
filme de faroeste. Esta comunicação, valendo-se da discussão sobre os elementos da narrativa
da nação – particularmente o mito do Oeste – dos Estados Unidos e como foi enquadrado na
perspectiva do gênero Western pelo diretor, busca compreender se existe algum esforço fei-
to para subverter as características deste gênero tão tradicional do cinema norte americano.
Propõe-se partir de uma análise crítica do filme para perceber a presença de elementos da
contemporaneidade, isto é, como o momento de realização do filme influencia sua forma e na-
rrativa, ainda que esta se passe no ano de 1823.
.43.
do regime, pois a mesma teria o dever de educar os filhos segundo os preceitos dos militares.
Entretanto, como demonstra a série estudada, essa atuação governamental é incoerente à evo-
lução feminina e aos fatos posteriores à crise de 1982. Ana Herrera é, inicialmente, dona de casa.
Contudo, em 1982, com a recessão econômica, seu marido é demitido e ela começa a trabalhar
para completar a renda do lar. Essa é a realidade de muitas mulheres, que encaram inúmeros
desafios ao entrar no mercado de trabalho, como a oposição de seus maridos, a dupla jornada
de trabalho e o machismo do meio. Esta pesquisa, portanto, busca entender a entrada feminina
no mercado de trabalho a partir do cotidiano dos Herrera, em um contexto de repressão, censu-
ra e mudanças econômicas, utilizando a obra audiovisual como principal fonte histórica.
Thatiane Mandelli
Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA)
Este trabalho tem como proposta analisar a transnacionalização do coletivo feminista argentino
Ni Una Menos, grupo formado por mulheres ativistas, que tem atuado fortemente junto à socie-
dade argentina, reivindicando a promoção de políticas públicas (leis, projetos, destino de verbas
públicas) que promovam uma maior igualdade de gênero e de preservação do bem-estar das
mulheres argentinas. O grupo está engajado em pautas como a legalização do aborto e a im-
plementação da Lei 26.485 - que previa proteção integral para prevenir, sancionar e erradicar
a violência contra as mulheres em todos os âmbitos nos quais existam relações interpessoais.
Com a sua forma de atuação coletiva e horizontal, sua potência e massividade, e na luta conjun-
ta com outros coletivos e organizações de direitos humanos, o Ni Una Menos vem transforman-
do a realidade social da Argentina, ultrapassando as fronteiras do país, inspirando a luta pela
vida das mulheres em outros países da América Latina, região conhecidamente letal para as
mulheres, e provocando uma nova onda feminista. O coletivo vem fortalecendo e expandindo a
articulação em uma escala global, no marco Sul-Sul, em especial com os países da América La-
tina. Este movimento autogestionado, participativo e horizontal vem realizando ações de forma
colaborativa e solidária com outros movimentos feministas através de assembleias e convoca-
tórias abertas, ampliando a força desse movimento feminista transnacional.
Entre as décadas de 1980 e 1990, Argentina e Chile retomaram à via democrática, ao mesmo
tempo em que adotaram ou fortaleceram projetos neoliberais. Esse novo contexto político e
econômico, presente em grande parte da América Latina, foi acompanhado pela expansão das
atividades das Organizações Não Governamentais (ONGs) e pela entrada de alguns pontos da
agenda feminista nos programas políticos governamentais. A junção desses fatores gerou dú-
vidas e apreensões sobre a capacidade de autonomia do movimento feminista, levando à in-
dagação se estes novos signos poderiam provocar uma alteração do papel de militantes para
.44.
o de “profissionais” em assuntos de gênero. Assim, essa comunicação visa discutir os possíveis
impactos deste cenário na imprensa feminista da Argentina e do Chile, entre os anos de 1981 e
1996. A partir de uma análise comparada, pergunta-se sobre as possíveis transformações, nego-
ciações ou resistências frente à díade “autonomia/institucionalização” e pelas particularidades
presentes nos movimentos destes países.
A temática da escravidão se constitui como uma das mais relevantes no estudo da História das
Américas no século XIX. Nesse período, de maneira ambivalente, as principais regiões escravis-
tas do continente encontravam uma forte oposição interna e externa ao cativeiro, ao mesmo
tempo em que vivenciavam um recrudescimento dessa instituição em razão do crescimento
das exportações de produtos primários alavancados pela expansão do capitalismo industrial.
Entre as décadas de 1830 e 1860, o debate em torno dessa questão se intensificou dos dois lados
.45.
do Atlântico. Em particular, os anos que vão do Abolition Act (1833), que pôs fim à escravidão nas
colônias britânicas, até a Guerra de Secessão norte-americana (1861-1865) se constituem como
cruciais para os destinos do trabalho escravo nas Américas. Na França, o debate se colocava,
na primeira metade do século XIX, em grande medida, dada a presença do cativeiro nas colô-
nias francesas das Antilhas. Esta apresentação tem por objetivo compreender aspectos dessa
discussão por meio de relatos de viagem franceses, particularmente sobre os Estados Unidos
e sobre Cuba. Nesses textos, foram frequentemente construídos modelos que distinguiam as
formas de escravidão existentes na república anglo-saxônica e na colônia espanhola como for-
ma de interpretar e propor soluções para essa questão nas possessões francesas nas Antilhas
em meados do século XIX.
Palavras que libertam. A busca pela emancipação das mulheres e dos escravizados
em autobiografias e romances em Cuba do século XIX
Na primeira metade do século XIX, uma série de revoltas da população escravizada se consu-
mou pari passu às opressões raciais advindas da sacarocracia cubana, bem como das autorida-
des metropolitanas. Nas décadas de 1830 e 1840, a presença dos afrodescendentes e as críticas
à escravidão se fizeram presentes em textos de diferentes naturezas, como romances e autobio-
grafias. São exemplos a autobiografia de Juan Francisco Manzano (1836), único caso conhecido
de uma narrativa sobre a escravidão escrita por um escravizado no mundo ibero-americano, e
o romance Sab, de Gertrudis Gómez de Avellaneda (1841). Esta última autora, além de escrever
um romance antiescravista, associou a figura do escravizado à da mulher, ambos aproximados
em razão privação da liberdade. Seu romance e a citada autobiografia, de Juan Manzano, têm,
aliás, muitos pontos em comum. Estes textos ficcionais e autobiográficos, sobre os quais nos
debruçaremos nesta comunicação, foram um mecanismo de resistência desses grupos – es-
cravizados e mulheres – que ousaram sonhar com um mundo livre das opressões vigentes no
período em que viveram.
Entre 1876 e 1879, o militar argentino Miguel Malarin trocou correspondências com Julio A. Roca
desde os Estados Unidos. Durante esse período, Roca esteve envolvido com a organização de
ofensivas contra os indígenas na fronteira de Córdoba e, a partir de 1878, assumiu o ministério
da Guerra e Marinha, ficando à frente da “Campanha do Deserto”, cujo objetivo era eliminar a
fronteira interna que colocaria fim à supremacia indígena na região do Pampa argentino. Nas
correspondências analisadas nesse trabalho, Malarin descreveu ações ofensivas contra as socie-
dades indígenas nos Estados Unidos, estabelecendo uma relação entre a situação descrita ali e
na Argentina. Os relatos de viagem de Miguel Malarin serão utilizados para analisar o paralelo
.46.
construído entre os projetos de opressão nos dois países, por meio das dimensões transnacio-
nais que conectaram esses eventos. Em sua visão, o fim da autonomia indígena seria dado pela
transculturação realizada por meio da inserção social dos índios em cidades e povoados argen-
tinos, conforme observado no contexto norte-americano. Dessa forma, modificar a percepção
sobre a Campanha do Deserto ao situá-la em um contexto político e internacional mais amplo
e relacioná-la com outro projeto de submissão étnico-racial, será um dos objetivos dessa comu-
nicação.
Esta investigación tiene por objetivo analizar la evolución del pensamiento cepalino en la Revis-
ta de la CEPAL. La Comisión Económica para América Latina y el Caribe (CEPAL) fue fundada el
año 1948 y se ha desempeñado como una escuela de pensamiento especializada en el examen
de las tendencias económicas y sociales de mediano y largo plazo en los países de América La-
tina y el Caribe, por lo que es una referencia obligada para los/as investigadores/as de la historia
de nuestra región, en particular, de la historia económica. La revista homónima de la Comisión
.47.
inició sus publicaciones semestrales/cuatrimestrales desde el año 1976 donde es posible eviden-
ciar las fases teóricas que ha atravesado el pensamiento económico latinoamericano. Durante
sus siete décadas de existencia, la CEPAL distingue dos grandes etapas, que tienen en común una
metodología de investigación y producción de conocimiento con enfoque histórico-estructural. Los
primeros cuarenta años son considerados como la etapa estructuralista (1948-1990), cuyas prin-
cipales áreas de investigación y producción de textos se basaron en: la necesidad de implemen-
tar reformas, profundizar la industrialización y reducir las desigualdades, reorientando también
los “estilos” de desarrollo. Desde la década de 1990, hasta los días de hoy, la CEPAL ha actuali-
zado su pensamiento y lo ha adaptado a la nueva realidad latinoamericana. Esta evolución hace
que temas como la apertura comercial, la movilidad internacional del capital, la privatización, la
desregulación y la integración regional destaquen, dando lugar a la etapa neo-estructuralista (1990
-). Para desarrollar esta investigación serán analizados 472 artículos de la Revista de la CEPAL que
abarcan específicamente propuestas teóricas de la Comisión. Desde el punto de vista metodo-
lógico, utilizaremos los preceptos del Análisis del Discurso (AC) con la intención de interpretar
los cambios y evoluciones del pensamiento cepalino a través del tiempo y cómo éstos se han
enmarcado en su principal línea de publicación, la Revista de la Cepal.
Esta pesquisa tem como objetivo analisar o pensamento da Comissão Econômica para a Amé-
rica Latina e o Caribe (CEPAL) na Revista de la CEPAL, destacando algumas ausências impor-
tantes desta publicação. A CEPAL foi fundada em 1948 e tem sido uma escola de pensamento
especializada no exame das tendências econômicas e sociais de médio e longo prazo nos países
da América Latina e do Caribe, tornando-se uma referência obrigatória para os/as pesquisado-
res/as da história de nossa região, particularmente da história econômica. A revista da Comissão
começou a ser publicada em 1976 e segue de forma ininterrupta. Na Revista de la CEPAL é
possível perceber as fases teóricas pelas quais passou o pensamento econômico da nossa re-
gião. Entretanto, ao longo dos anos, percebemos algumas ausências importantes, como por
exemplo, os escassos trabalhos sobre América Central e o Caribe, a parca menção as ditaduras
latino-americanas e a pouca participação de pesquisadoras mulheres. A fim de desenvolver
esta pesquisa, serão analisados artigos da Revista de la CEPAL entre 1976 e 2020. Por fim, impor-
ta destacar que do ponto de vista metodológico usaremos os preceitos da Análise do Discurso
(AC) para estudar os artigos da Revista de la CEPAL.
Essa comunicação tem como objetivo refletir sobre as trajetórias de duas artistas visuais
.48.
latino-americanas: a argentina Marta Minujín e a brasileira Regina Vater. Atuantes em seus paí-
ses de origem e no exterior desde a década de 1960, essas figuras fizeram do trânsito uma
constante. Se, por um lado, as viagens poderiam servir como possibilidades de integração a
um circuito internacional de artes, por outro, escancarava as contradições e hierarquias que
restringiam suas experiências. O fato de serem mulheres e de origem latino-americana criava
obstáculos para que, de fato, conseguissem desfrutar de suas estadias no exterior da mesma
forma que seus colegas homens. A despeito das dificuldades, essas artistas pareceram des-
frutar de reconhecimento artístico quando regressavam aos seus países de origem. A partir
dessas hipóteses, iremos refletir a respeito do processo de consagração dessas artistas enquan-
to profissionais e investigar como os escritos autobiográficos produzidos por elas endossam e
retificam o “sucesso” no exterior ou escancaram e exploram as contradições presentes nesse
sistema artístico. Ainda, busca-se refletir como nessas “arquiteturas de si”, as artistas dialogam
com certos paradigmas do campo da História da Arte, como a noção de genialidade do artista
e excepcionalidade, que, em certa medida, corroboram para que elaborem narrativas a respeito
de si próprias ao reconhecerem que possuem esses “dons”. A análise crítica dessas fontes nos
demonstra, entretanto, que os critérios de apreciação artística são historicamente construídos
e geograf icamente situados. E, sendo assim, deve-se refletir sobre a consagração dessas
mulheres e os escritos produzidos por elas devem ser problematizados para considerar as cliva-
gens de gênero, classe e nacionalidade.
Brasil, Argentina e México foram países que tiveram importantes movimentos de vanguarda
entre os anos 1920 e 1940. Em uma perspectiva comparada, este estudo investiga a presença, o
percurso e as obras de três mulheres fotógrafas europeias que se exilaram na América Latina na
primeira metade do século XX, aqui produzindo um vasto repertório iconográfico, são elas: Alice
Brill, Grete Stern e Tina Modotti. Relacionando história social da fotografia e estudos feministas,
o objetivo é discutir os vínculos entre trajetórias pessoais, arte e os percursos das práticas foto-
gráficas no período das vanguardas no Continente, visando elucidar os contextos socioculturais
e os entrelaçamentos entre biografia e obra.
A Revolução Mexicana favoreceu espaços para a participação de mulheres nos eventos políti-
cos. Com isso despertou expectativas em grupos que reivindicavam o voto feminino. Ao mesmo
tempo, apareceram as resistências e argumentos acerca de quem deveria acessar ou não tal
direito político. No decorrer dos acontecimentos ficou evidenciada uma diversidade de postu-
ras conservadoras, por parte dos dois gêneros, que defendiam a limitação do voto ao sexo mas-
culino. Apesar das lutas de grupos sufragistas e da concretização do direito em alguns estados,
.49.
ainda na década de 1920, foi em 1953 que o sufrágio foi estendido a todas as mulheres no terri-
tório mexicano. A proposta apresenta resultados de uma pesquisa inicial na qual a análise está
concentrada nas abordagens da historiografia mexicana sobre o tema: quais discursos relacio-
nados a gênero aparecem nas análises sobre a temática? Quais aspectos das lutas de mulheres
pelo voto foram privilegiados? reproduz-se a visão da “conquista tardia”?
El presente trabajo caracteriza las relaciones existentes entre las políticas educativas, el currícu-
lo y el concepto de integración regional en instituciones de formación de los docentes del nivel
primario o elemental en la región de la Triple Frontera. Esas relaciones son analizadas, y, a su vez,
comparadas desde la praxis docente de las siguientes instituciones: Instituto Superior de For-
mación Docente No 8 de Puerto Iguazú; Centro Regional de Formación Docente de Ciudad del
Este y Unioeste de Foz de Iguazú. Las políticas educativas, el currículo y la formación docente
son las sub-áreas del campo de la Educación con las cuales dialoga este artículo, centrándose
principalmente en las materias del diseño curricular vinculadas a la enseñanza de la Historia
de las Políticas Educativas del país o la región. Los objetivos principales de la investigación son
comprender las características de la enseñanza de los contenidos vinculados a las Políticas Edu-
cativas, como así también, los fundamentos pedagógicos, políticos e historiográficos subyacen-
.50.
tes en las praxis de los docentes y las instituciones a las que pertenecen. Conjuntamente, se pre-
tende comparar las prácticas curriculares/institucionales con respecto a la temática planteada
y su relación con la realidad Latinoamericana en general; y de la Triple Frontera en particular. La
pesquisa tendrá una perspectiva cualitativa ya que se pretende comprender la realidad educa-
tiva desde la mirada y sentidos que le otorgan los propios actores; utiliza para ello, las técnicas
de entrevistas y de análisis documental.
Este trabalho propõe algumas reflexões acerca da tradição sobre os estudos do Haiti e do Caribe
Insular, região ao qual o Haiti pertence, como objeto de investigação nos cursos de Pós-gra-
duação Stricto Sensu em História no Brasil entre 2010 e 2020. Nos interessamos em analisar
se nessa década houve um aumento ou uma maior consistência dos estudos sobre o Haiti e
o Caribe Insular nas Universidades Públicas Brasileiras, considerando o maior fluxo migratório
de haitianos no Brasil a partir dos anos de 2010. Assim, o seguinte trabalho propõe realizar um
levantamento da produção acadêmica brasileira sobre esses temas para, portanto, a partir da
análise documental, problematizar os discursos difundidos nesses espaços da Pós-graduação
acerca do Haiti e do Caribe Insular. Partimos do pressuposto de que, tanto o Caribe Insular como
o Haiti não têm recebido muita atenção nas análises historiográficas no Brasil e quando estu-
dados são bastante estereotipados e os temas são ainda os mais tradicionais. Desta forma os
estudos decoloniais são centrais nesta pesquisa para apontarmos possíveis caminhos para se
(re)pensar os discursos acerca do Caribe Insular e do Haiti nos estudos históricos no Brasil.
Para a existência de uma obra escultórica fundida em bronze, além do escultor responsável por
modelar a peça, é fundamental a intervenção de outros sujeitos no processo de trabalho, os
fundidores, encarregados de dar à obra sua materialidade final. As fronteiras de atuação profis-
sional que separam esses personagens, no entanto, nem sempre estiveram tão bem definidas,
a despeito de toda a carga simbólica que a categoria “artista” confere aos primeiros, aos quais se
atribui a “autoria” artística das obras, distinguindo-os daqueles considerados como “operários”
ou “artífices”. Nesta comunicação, analisamos o papel desempenhando por escultores e fun-
didores nas oficinas de fundição artística existentes no Brasil e na Argentina na passagem dos
séculos XIX ao XX, buscando apontar para a porosidade das fronteiras laborais e para o trânsito
que existiu entre a atuação como escultor e como fundidor nesses estabelecimentos. Para tan-
.51.
to, retomamos a trajetória de escultores que abriram oficinas de fundição, a fim de viabilizar
o vazamento em bronze de suas próprias obras e assegurar um maior controle sobre todo o
processo produtivo das mesmas. Por outro lado, abordamos também personagens que perco-
rreram o caminho inverso, atuando primeiro como fundidores e, depois, notabilizando-se como
escultores. Compõe nosso conjunto de fontes os escritos autobiográficos deixados por esses
sujeitos. Essa pesquisa é financiada pela FAPESP (processo número 2020/05096-0, Fundação
de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo). As opiniões, hipóteses e conclusões ou reco-
mendações expressas neste material são de responsabilidade do autor e não necessariamente
refletem a visão da FAPESP.
Emilio Gonzalez
Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR)
O presente trabalho busca discutir alguns elementos presentes na música popular paraguaia
(folklore) trazida na bagagem de músicos que chegaram à tríplice fronteira (Brasil, Paraguai
e Argentina) a partir dos anos 1960. Mais do que meras canções de entretenimento exaltando
belezas e costumes do povo paraguaio, parte daquilo que passou a se consolidar (em escala glo-
bal, inclusive) como “música paraguaia” (música típica), foi produzido nas primeiras décadas do
século XX, tendo como pano de fundo debates nacionalistas e identitários que ocorriam no país,
a busca por definir ritmos e estilos populares próprios do Paraguai, além de conflitos sociais
e políticos que ocorriam no país, e que inclusive retomavam aspectos da Guerra do Paraguai
(ainda fresca na memória da população naquele momento) e a recém travada guerra do Chaco
(1932-1935). Nossa hipótese sugere que, com a emergência da ditadura de Alfredo Stroessner
(1954-1989), boa parte da produção musical paraguaia, produzida no período anterior a 1954,
passaria a ser “exportada” porém esvaziada de suas questões e conflitos iniciais. Dito de outra
maneira, com a emergência do stronismo, a música popular paraguaia “parou no tempo”, con-
trastando com o que ocorreu em outros países - como Argentina, Chile e Uruguai, onde o folklo-
re foi permanentemente reatualizado e ressignificado em face aos regimes autoritários que
emergiram no mesmo período. Assim, interessa discutir o rico e dinâmico movimento cultural
e artístico vivido no Paraguai a partir dos anos 1920, e que lançou bases estéticas e discursivas
para a “música paraguaia”; e também, os efeitos castradores e engessadores trazidos pela di-
tadura stronista sobre essa produção artística, em favor de uma música paraguaia “for export”
esvaziada de significados e conflitos.
As relações e trocas culturais entre Brasil e Estados Unidos no contexto da Segunda Guerra Mun-
dial já foram amplamente estudadas. Os estudos sobre a Política de Boa Vizinhança sugerem
que estas trocas se realizaram a partir da “exportação cultural” da brasilidade moderna operada
conscientemente pelas elites político-culturais brasileiras e pelo interesse exótico da cultura de
massa norte-americana nos “trópicos”, filtrada por interesses geopolíticos do mundo em gue-
.52.
rra. Entretanto, a visão de uma cultura brasileira oficial “pronta e acabada” que foi “exportada”
para os Estados Unidos vem dando lugar a uma visão mais fluida e matizada deste processo,
destacando que o próprio conceito de “brasilidade” não estava plenamente consolidado. Nesta
comunicação, vamos analisar o papel dos intelectuais e artistas modernistas brasileiros no pro-
cesso de trocas culturais que ajudou a consolidar uma certa visão de “brasilidade modernista”
para o Brasil e para o mundo, calcada na busca de harmonização dos conflitos sociais e raciais
que acabou servindo como um dos modelos para a reorganização cultural e geopolítica do
mundo no pós-Guerra.
A questão da construção do estado nacional argentino foi um tema muito discutido pela histo-
riografia desde seu surgimento, em 1880, até os dias atuais. Diferentemente do que se passou
no final do século XIX, quando se excluiu o indígena da nação que estava em processo de cons-
trução; atualmente há a necessidade de um novo projeto político para o país, que carrega consi-
go o desafio de escutar as diversas vozes presentes na sociedade, para além de um exercício re-
tórico-democrático. Esta comunicação apresenta as contribuições iniciais de uma pesquisa que
busca investigar a história dos indígenas na Argentina partindo de uma abordagem que consi-
dera a importância da história do tempo presente em uma perspectiva transnacional a fim de
analisar esse fenômeno de forma local e global. O objetivo é compreender o papel atribuído aos
povos originários bem como seu lugar no atual Estado argentino, especialmente ao considerar
o consenso anti-indígena que vem sendo afirmado no debate político estabelecido no país. Não
menos importante, será discutir a questão dos direitos humanos enquanto um “consenso” for-
.53.
jado na sociedade argentina após a ditadura militar, mas que não é estendida, com o mesmo
entendimento, aos povos indígenas. Nesse sentido, me proponho a repensar historicamente a
dívida da sociedade argentina de hoje para com essas comunidades, ora marginalizadas, ora
negadas, mas efetivamente presentes por meio de seus rastros e marcas na cultura nacional e
como pontos chave da crise política instaurada no país.
Este trabalho tem como objetivo analisar as relações entre alguns textos de História Natural es-
critos por letrados atuantes na monarquia hispânica no final do século XVIII e a criação de uma
moral e classificação social particular, enraizada em formas, representações e preceitos distin-
tos aos que, até algumas décadas atrás, eram vigentes nas reflexões desse tipo de personagens.
Se sublinha, em especial, a vinculação entre uma ideia de natureza voltada para sua hierarqui-
zação e transformação e o estabelecimento de uma série de julgamentos sobre o corpo e o
comportamento das pessoas.
Esta apresentação tem como objetivo discutir alguns dos resultados preliminares da minha
atual pesquisa e tese de doutorado. Nesse intuito é que nossa arguição estará direcionada à
.54.
análise de um conceito nodal nas cosmologias e organização do espaço-tempo andino, o Pa-
chacuti. Dito conceito será abordado a partir dos usos, apropriações e reinterpretações das con-
cepções espaço-temporais andinas que fazem alguns documentos e crônicas dos séculos XVI e
XVII do vice-reino do Peru. Isto através de dois eixos temáticos, o primeiro deles discorre sobre os
usos políticos do tempo andino, divido em várias eras, idades ou lidos também como pachacu-
tis, conseguindo identificar três deles em particular ; 1) De Adão a Manco Capác de Eva a Mama
Ocllo/Huaco 2) O Pachacuti incaico 3) O encontro de Cajamarca: um Pachacuti que ainda não
terminou. Através destes eventos queremos observar de que forma foi mobilizado o tempo an-
dino, sua categorização e organização através de várias rupturas ou cataclismos, que de acordo
ao contexto sociopolítico de cada autor e obra, vão variar em sua narrativa e representação. O
outro eixo proposto é que baseados na primeira análise dos usos políticos do espaço-tempo,
pretendemos entender sobre quais condições e que agentes participam em ditas transições
espaço-temporais feitas pelos documentos, quer dizer, nos questionamos qual o papel e par-
ticipação dos deuses, do material, do espaço e do meio natural naquela forma de descrever e
narrar o passado. Finalmente, e a modo de conclusão, tentaremos justificar como a partir dessa
análise do tempo andino na época colonial, poderíamos nos perguntar pela emergência, o uso
e reinterpretação de um conceito como Pachacuti no mundo contemporâneo.
A comunicação discute uma série de vinte artigos do historiador Luiz Felipe de Alencastro, sob
o pseudônimo de Julia Juruna, publicados no Le Monde Diplomatique, entre 1976 e 1986, perío-
do em que o historiador estava no exílio na França. Os artigos são de ciência política, produção
menos conhecida do autor, e são inéditos em português e trataram de diferentes temas da
ditadura militar e do período de transição para a democracia. O livro volta a colocar luz sobre o
processo incompleto de transição democrática conduzido pelos militares que se evidencia com
a ascensão à presidência de um capitão que, em 1986, aparecia pela primeira vez na grande im-
prensa brasileira, como o autor de um plano terrorista típico das facções mais radicais do cam-
po militar, que resistia à ideia de abertura e constituía, simultaneamente, frentes paramilitares
de extorsão, corrupção e extermínio. Os artigos de Luiz Felipe de Alencastro analisam, ainda, a
problemática da ditadura brasileira em perspectiva global, ampliando a reflexão para a região
latino-americana e inserindo-a no contexto da Guerra Fria, destacando as mudanças e contra-
dições da sucessão norte-americana Nixon/Ford para Jimmy Carter e seus impactos na Amé-
rica Latina. Os artigos serão publicados em formato de livro com o título Despotismo tropical:
escritos do exílio francês (1976-1986), organizados por mim e publicados pela editora da UNILA,
a Edunila.
.55.
Moema e Marcelo: uma história de exílio, casamento intelectual e formação de redes
de solidariedades durante as ditaduras latino-americanas
O trabalho apresenta uma investigação sobre a trajetória intelectual do casal Moema Viezzer
e Marcelo Grondin durante período de exílio (1973-1980), utiliza como metodologia a história
oral, tendo por objetivos compreender as relações entre a conjuntura histórica do exílio lati-
no-americano e a formação das redes de solidariedade entre intelectuais, educadores popula-
res, movimentos campesinos e feminismos comunitários. A educadora popular ecofeminista
brasileira era freira e foi identificada pelos censores brasileiros como informante internacional
de Paulo Freire, foi obrigada a deixar o país em 1973. Na sua rota de fuga pelo Chile encontrou-se
com Marcelo Grondin, ex-frade dominicano canadense naturalizado boliviano, também exilado.
Marcelo cursava doutorado sobre as relações de trabalho no Peru na Universidade de Manches-
ter e contratou Moema para ser sua assistente de pesquisa no seu trabalho de campo, após o
casamento eles passaram a se dedicar juntos a educação popular dos campesinos e campesi-
nas nos países pelos quais passaram: Peru, México, República Dominicana e Haiti. Nesse perío-
do eles executaram consultorias e diagnósticos socioeconômicos sobre a condição de vida dos
trabalhadores do campo, indígenas e mineiros. Marcelo era o responsável pela pesquisa quanti-
tativa e Moema dedicada à educação popular Feminista. Por hipótese, entende-se que o casa-
mento intelectual é uma categoria importante para compreender suas trajetórias intelectuais e
a formação das redes com as lideranças dos movimentos sociais latino-americanos durante as
ditaduras civis-militares.
Em toda a América Latina, a segunda metade do Século XX foi marcada pela ocorrência de gol-
pes que possibilitaram a instauração de Ditaduras Civis-Militares. Esta guisa de administração
dos Estados-nação latino-americanos, em contrariedade às prerrogativas dos modelos demo-
cráticos de governança, lançou mão de dispositivos específicos para a implementação de po-
líticas autoritárias. A manifestação de contrariedade aos regimes militares gerou assassinatos,
desaparecimentos e prisões arbitrárias de cidadãos, abonando um legado de terror e silencia-
mento para as sociedades nas décadas subsequentes. Com a implementação de medidas que
possibilitaram reaberturas políticas e processos de transição, os graves crimes cometidos contra
as populações passaram a ser detectados. A instauração de Comissões da Verdade e Justiça em
países latino-americanos fez parte deste bojo e possibilitou acesso aos arquivos secretos. Neste
cenário, as políticas de memória – menção às vítimas em nomes de praças e ruas; sinalização de
lugares onde foram cometidas graves violações aos Direitos Humanos; e, principalmente, con-
solidação de espaços museais – surgem como perspectiva para a visibilização do terror gerado
nas populações ao longo dos regimes ditatoriais pela via da reconstrução da memória histórica.
Diante disto, neste trabalho, é proposto o mapeamento das contribuições de Estados nacionais,
.56.
movimentos de Direitos Humanos e outras organizações civis que acolitaram a “institucionali-
zação das memórias” por meio da instalação de museus da memória como medidas de resis-
tência ao apagamento.
En los últimos años, el modelo económico capitalista ha invadido varias regiones de América
Latina. El siguiente trabajo expone el caso de las comunidades afrodescendientes en el norte de
Esmeraldas. Los pueblos afrodescendientes están amenazados continuamente con la violencia,
conflictos de racismo, desplazamiento de pueblos originarios y extracción de recursos natura-
les, lo que está provocando pérdida de biodiversidad y el empobrecimiento de las comunidades.
Hasta el momento, se ha talado el 60% del bosque a causa de actividades extractivistas. Este
modelo económico se basa principalmente en la violencia hacia la naturaleza. En Esmeraldas,
por ejemplo, ha avanzado el cultivo de la palma africana y actividades mineras, lo que ha pro-
vocado la contaminación del agua de los ríos y los esteros con metales pesados como aluminio,
zinc, cadmio, hierro, cobre y plomo. Estos conflictos atentan contra la cosmovisión ancestral. Los
pueblos afrodescendientes que se asentaron en Esmeraldas son conocidos porque lucharon
por su libertad por medio de la resistencia, la misma contribuyó para preservar su territorio, re-
cursos naturales y cultura. Como resultado de la desconexión con la naturaleza, la humanidad
se enfrenta a una emergencia climática, que modificará por completo las condiciones de vida
de las comunidades. Los objetivos para el Desarrollo 2030, establecen acciones para la pobla-
ción más vulnerable a eventos climáticos extremos.
O pensamento e obra de Nicanor Parra podem ser lidos como uma incisiva expressão do pen-
samento crítico latino-americano: crítica da eficácia dos grandes projetos e narrativas da mo-
dernidade. Representam também uma tentativa de vitalizar e subverter os meios e modos do
debate público sobre a política, a história, a arte e a vida através da expressão poética, mesmo
que esta tenha de se tornar antipoética. Utilizando vários suportes documentais (produção lite-
rária, discursos, entrevistas e testemunhos), esta apresentação pretende explorar os caminhos
e papéis assumidos pela antipoesia nas arenas culturais (chilenas e latino-americanas) e rela-
cionar a obra de Nicanor Parra com certos meios catalisadores de demandas políticas e sociais
.57.
(dadaísmo, anarquismo, taoísmo, ecologia e luta indígena).
A pesquisa de mestrado ao qual este trabalho faz referência, ainda em fase inicial, denomina-se
“Circulando entre as veias: reflexos e reflexões do debate intelectual latino-americano em Ga-
leano (1960-1971)”. Tal pesquisa tem como objeto os ecos/reflexos da circulação do debate sobre
o latino-americanismo no livro As veias abertas da América Latina (1971), do escritor uruguaio
Eduardo Galeano. O objetivo é identificar as influências de Galeano em relação ao referido de-
bate para a escrita da obra, a fim de compreender o próprio lugar da produção da obra nas
redes de circulação intelectual. Para isso, pretende-se caracterizar e contextualizar historica-
mente a circulação intelectual do latino-americanismo nos anos 60, identificando os principais
.58.
temas, atores e veículos de informação, bem como localizar e dimensionar o papel que Galeano
desempenhou nesse meio enquanto jornalista e escritor engajado. Ainda, investigar, na obra,
como o autor expressa os elementos desse debate. O referencial teórico-metodológico está vol-
tado à circulação das ideias e história intelectual latino-americana, discutidas por autores como
Carlos Altamirano, Adriane Vidal e Claudio Maíz, Maria Elisa Noronha de Sá, Alejandro Paredes,
Aldo Marchesi e Beatriz Sarlo. A abordagem da análise se dará pela perspectiva das histórias
transnacionais e interconectadas, de forma a evidenciar as redes de circulação intelectual no
âmbito da América Latina entre os anos 60 e 71 do século XX.
Carine Dalmás
Universidade Estadual do Maranhão (UEMA)
A seguinte comunicação tem como objetivo demonstrar os resultados que estão sendo obtidos
na pesquisa de doutoramento intitulada Rede intelectual e Pan-americanismo: relações entre
a política e a escrita da história no Cone Sul (1909-1949). A pesquisa tem lançado mão de mé-
todos oriundos das humanidades digitais para mapear a atuação de uma rede de intelectuais
americanistas que durantes as primeiras décadas do século XX trabalhou na organização de
congressos, livros e revistas, bem como a reestruturação de instituições de pesquisa, universi-
dades e políticas públicas com foco em pautas da História da América. A Revista Americana do
Itamaraty e a Revista do IHGB tiveram papeis fundamentais em uma movimentação política e
intelectual nas Américas, provocando o que nós chamamos de virada americanista na historio-
gráfica brasileira. Essa rede americanista participou das deliberações junto à União Pan-ame-
ricana e alicerçou trocas entre Brasil e Argentina, através do I e do II Congresso Internacional
de História da América (1922-1937) e políticas de traduções mútuas. Entre as trocas estão usos
semânticos de conceitos e temas de pesquisa, mas também caminharam em direção à política
exterior, com a pavimentação de acordos bilaterais entre os dois países.
.59.
MESA 17 - Sala C308 28/07/2022
Urbanismo, centenários e imaginários sociais latino-americanos
Coordenadora: Nilce Aravecchia Botas (USP) 10h às 12h
O jovem grupo de intelectuais do Ateneo de la Juventud, assim como seus discípulos da Ge-
ração de 1915, foram personagens centrais daquilo que nos acostumamos a chamar de “polí-
tica cultural da Revolução Mexicana”. A partir de uma seleção de obras destes autores, argu-
mento nessa apresentação que, mais do que importantes intérpretes do passado nacional e
do processo revolucionário, personagens como José Vasconcelos foram hábeis narradores de
suas próprias contribuições para a criação de um novo México, costurando os destinos daquela
juventude aos da nação. Assim, enquanto os generais revolucionários anunciavam o fim do Por-
firiato, os antigos ateneístas e seus discípulos, como Manuel Gomes Morín e Vicente Lombardo
Toledano, criavam a ideia de uma geração autodidata, capaz de romper corajosamente com um
passado do qual (contraditoriamente) jamais pertenceram, sepultando simbolicamente a casta
de intelectuais positivistas que acompanhava Díaz.
Ciudad Kennedy e Ciudad Bolívar são distritos de Bogotá, localizados em sua porção sudoeste.
A formação desses territórios será lida desde uma aproximação metafórica de suas toponímias
à luz dos imaginários políticos, e do sentimento anti-imperialista que caracterizou a esquerda
latino-americana no contexto da Guerra Fria. Ciudad Kennedy teve origem no conjunto habi-
tacional de mesmo nome construído entre 1961 e 1963, que contou com recursos do programa
Aliança para o Progresso promovido pelos EUA, conformando-se por bairros populares bem ser-
vidos de infraestrutura. Ciudad Bolívar com ocupações desordenadas e descontinuadas desde
a década de 1940, só mais tarde recebeu ações públicas de urbanização, tendo sido habitada
principalmente por segmentos sociais empobrecidos e marginalizadas. Essas temporalidades
se sobrepõem à chamada Frente Nacional (1958-1974), o pacto entre os partidos liberais e con-
servadores para alternância de poder que, sob a justificativa de se pôr fim aos violentos conflitos
no campo, na prática significou o impedimento da participação de organizações populares na
política institucional. A violência tendeu a acompanhar o êxodo rural manifestando-se nas cida-
des e do ponto de vista econômico, como foi comum nas grandes cidades latino-americanas,
a expansão urbana foi maior e em muito desproporcional à oferta de trabalho. Assim, desde a
cultura urbana dessas bordas bogotanas, cruzando suas linhas físicas e seus imaginários, pro-
põe-se debater os limites da urbanização como forma de integração social e lançar um olhar
.60.
para a totalidade da história social latino-americana do período.
A construção de uma ideia positiva da Revolução mexicana foi uma estratégia importante para
a consolidação do regime revolucionário ao longo das décadas de 1920 e 1930. Essa construção
se deu tanto internamente como fora do México, por meio de intercâmbios políticos e culturais.
No entanto, se internamente as reformas promovidas pelos revolucionários enfrentaram gran-
de resistência dos católicos de diferentes partes do México, também externamente grupos se
articularam para criticar o governo mexicano e suas políticas – em especial, obviamente o anti-
clericalismo. O presente trabalho tem como objetivo estudar a difusão de texto produzidos por
católicos brasileiros sobre o México e a Revolução mexicana durante as décadas de 1920 e 1930.
Assim, pretendemos refletir sobre as maneiras como os católicos brasileiros construíram uma a
imagem da Revolução mexicana no Brasil, ao mesmo tempo que elaboravam uma identidade
católica latino-americana a partir dos combates aos regimes laicos e/ou revolucionários.
Entre setembro de 1922 e julho de 1923 o Rio de Janeiro sediou a Exposição Internacional do
Centenário da Independência. O evento acontecia pouco mais de uma década depois da Expo-
sición Internacional del Centenário, realizada entre maio e novembro de 1910, em Buenos Aires;
e das Fiestas del Primer Centenario de la Independencia de Mexico – que não contaram com a
exposição universal inicialmente pensada, mas fecharam as cortinas do Porfiriato com grande
pompa. Calcadas na realização de amplas intervenções urbanas nas capitais de cada país – bem
como na produção de extenso material de divulgação sobre as renovadas e modernas cidades
– tais eventos pretendiam comemorar as datas históricas de independência ressaltando as-
pectos de nacionalidade e, ao mesmo tempo, lançando imagens de estados modernos frente
ao concerto internacional das nações. Configura-se assim um contraditório jogo de definição
e afirmação dessas nações e de suas identidades nacionais tanto internamente quanto inter-
nacionalmente. O presente trabalho busca lançar luzes às interessantes e ricas possibilidades
de comparação entre esses eventos, entendendo-os como parte de uma rede maior de come-
moração dos centenários latino-americanos ocorridos nas primeiras décadas do século XX e
que indicam ser possível dizer que – guardadas as particularidades de cada um dos cenários
nacionais, das disputas em curso e das táticas adotadas – tais eventos operaram tanto como
estratégias simbólicas e discursivas para o enfrentamento de crises internas, quanto para o es-
tabelecimento de pautas específicas junto à política externa desses anos.
.61.
MESA 18 - Sala C103 28/07/2022
Ditaduras, violências e lutas por direitos humanos
Coordenador: Daniel Inclán Solís (UNAM) 14h às 16h
Como parte de las discusiones sobre la historicidad y el tiempo presente es necesario poner
atención a violencia como uno de los problemas más urgentes de nuestro tiempo. Las múltiples
formas en las que se realiza, su letalidad, lo inconmensurable de sus prácticas y la dificultad de
reconocer a sus ejecutores, son de los retos más difíciles del pensamiento sobre la historia del
tiempo presente. La acelerada generalización de la violencia impide reconocer que es selectiva
y que no afecta a todos por igual. A esto se suma la necesidad de pensar más allá de la inme-
diatez, para reconocer su dimensión diacrónica. La violencia no es un simple acto de fuerza, es
un complejo proceso histórico. ¿Cómo se constituye la historicidad en situaciones de genera-
lización de la violencia?, ¿qué actualidad puede tener la historia en un contexto de violencia
generalizada?, ¿qué procedimientos pueden hacer actual el pasado, cuando un presentismo de
violencia es la norma de la vida colectiva? Preguntas urgentes para nuestro tiempo. Para inten-
tar responderlas se intentará problematizar la relación entre historia y violencia, y las posibles
derivas de esta relación, con el fin de esbozar entramados para hacer posible una historia de la
violencia. Para ello se expondrán tres ejes: 1) caracterización formal de la violencia; 2) reflexión
sobre el presente y su historicidad; 3) las posibilidades analíticas para una historia de la violencia.
.62.
Uma história por direito: a trajetória política da Comissão Interamericana de Direitos
Humanos (1959 – 1982)
Alexandre Queiroz
Universidade de São Paulo (USP)
A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) da OEA, foi constituída em 1959 e tor-
nou-se um marco na proteção e promoção dos Direitos Humanos. Na presente pesquisa temos
como objetivo analisar a trajetória da instituição em meio ao processo de internacionalização
dos Direitos Humanos após a Segunda Guerra Mundial, tendo como baliza temporal o período
desde sua formação até o começo do desenlace do processo de Redemocratização no Cone
Sul, em 1982. Progressivamente a CIDH foi adquirindo projeção e maior embasamento jurídico,
focando inicialmente Estados violadores dos Direitos Humanos no Caribe na década de 1960 e
a partir da virada da década de 1970, as Ditaduras de Doutrina de Segurança Nacional do Cone
Sul. A Convenção Americana (1969) e a formação da Corte (1979) formaram o Sistema Interame-
ricano de Direitos Humanos, que segue vigente. Todavia, a trajetória política da Comissão envol-
ve os impasses e contradições de uma afirmação predominantemente liberal dos Direitos Hu-
manos, as diferentes posições dos comissionados que integraram o órgão e a negociação com
os Estados no âmbito da OEA. Dessa forma, buscamos demarcar não apenas como a Comissão
interveio no continente, mas como também houve uma relação negociada, intensa e historica-
mente delimitada sobre os Direitos Humanos entre 1959 e 1982. As fontes primárias da pesquisa
são integradas pelas publicações da CIDH (Informes anuais e de país, atas de reunião, estudos
e compilação) e documentos dos principais Estados que se relacionaram com a Comissão, em
grande medida encontrados nos arquivos dos Ministérios de Relações Exteriores da Argentina,
Brasil, Chile, Uruguai e Estado Unidos.
En 1970 fue el milagro económico brasileño, que generó los problemas del déficit energético
y una creciente importación de materias primas, que dieron los primeros acercamientos con
Bolivia en el campo energético. Em gobierno del General Hugo Banzer Suarez, Bolivia planeaba
vender gas natural, financiado por los brasileños y también exigía la garantía de sus mercados.
Es así que, en 1973, a raíz de la euforia y autoconfianza brasilera, el Canciller de ese país, Mario
Gibson, y una nutrida delegación, visitaron Bolivia, con la propuesta de adquirir y financiar con
una garantía de mercado, productos siderúrgicos, producido en Bolivia. Más específicamente,
Brasil compraría de Bolivia materias primas básicas para la industria petroquímica y fertilizan-
tes, además de un contrato de gas natural con la construcción de un gasoducto. Producto de los
primeros acercamientos, en 1974 fue firmado un acuerdo en el Palacio Patiño-Cochabamba con
la visita oficial del presidente Ernesto Geisel. El acuerdo fue realizado por la cierta estabilidad
política interna en la época, que dio el dictador Hugo Banzer Suarez, quién controlaba el ejército
.63.
y el orden dentro el su país. Banzer era muy próximo a Brasil y por la importancia que significa-
ba para ello un eventual acuerdo, en los últimos días de su vida dijo “siempre fue la opción de mi
vida esa alianza con el Brasil”. Ninguno de los acuerdos, salvo el gasoducto fueron concretados,
inclusive la construcción de una ciudad industrial en territorio boliviano con inversión brasileña.
Ao perceber a dimensão cultural como uma prática fundamental para o reconhecimento das
diversas culturas e sociedades que estão presentes no território latino-americano, assim como
a essencialidade dela no processo de integração, este trabalho se propõe a trazer a importância
da criação e aplicação de políticas culturais dentro dos organismos regionais. Essas políticas
culturais em âmbito regional, se fazem necessárias para que ocorra uma integração pautada
na diversidade, na cooperação e na solidariedade regional, visando promover um maior
desenvolvimento e uma melhor condição de existência para os povos da região. Desta forma,
este trabalho tem como objetivo abordar a importância da cultura no processo de integração
regional, bem como analisar a dimensão desta dentro do Mercosul, por considerar este organis-
mo de integração um dos mais notáveis da América Latina e, portanto, acreditar na importante
responsabilidade que ele possui para com os povos deste território.
Endrica Geraldo
Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA)
O Informativo Unicon foi uma publicação criada em 1978 pela União de Construtoras Ltda (UNI-
CON), o consórcio brasileiro responsável pelas obras de construção civil da Usina Hidrelétrica
Binacional de Itaipu. A construção da então maior usina hidrelétrica do planeta na fronteira
entre o Brasil e o Paraguai foi iniciada em 1975 e envolveu a contratação de consórcios de em-
presas brasileiras e paraguaias para a realização das obras. Boa parte das obras ocorreu enquan-
to o Paraguai e o Brasil viviam sob ditaduras militares. A UNICON contratou trabalhadores de
diferentes nacionalidades e produziu, entre 1978 e 1988, o Informativo Unicon. Durante a maior
parte desse período, as edições foram publicadas em português e espanhol e distribuídas entre
os trabalhadores da empresa. O objetivo desta apresentação é discutir as informações sobre as
vilas habitacionais de Itaipu presentes no Informativo Unicon, como forma de contribuir para o
aprofundamento das pesquisas que abordam as condições de vida e de trabalho no processo
de construção da usina.
Entre 1967 e 1987, cientistas, tecnocratas e militares debateram sobre a tecnologia nuclear e os
projetos nacionais em um momento de expansão dessa indústria. Esse período ficou conhecido
.64.
como a “era de ouro” da energia nuclear, quando grande número de usinas foi construída por
todo o mundo. Os cientistas, principalmente os físicos nucleares, utilizaram sua autoridade cien-
tífica e política para intervir no debate público. Publicaram livros, artigos em revistas científicas
e na imprensa, concordaram ou não com governos e com militares, ajudaram na formulação de
políticas de segurança e de tecnologia e intervieram politicamente através de entidades cien-
tíficas. Pretendemos pesquisar os argumentos dos cientistas no debate público sobre energia
nuclear e proliferação de armas atômicas a partir da trajetória de três físicos entre os anos de
1967 e 1986. No Brasil, José Goldemberg (1928), na Argentina, Jorge A. Sábato (1924-1983) e nos
Estados Unidos, Herbert F. York (1921-2009). Os três se posicionaram publicamente nesse perío-
do como representantes dos cientistas, em entidades científicas como a Sociedade Brasileira
para o Progresso da Ciência (SBPC) e a Federation of American Scientists (FAS), na publicação
de livros, em debates parlamentares, em publicações científicas e na imprensa.
A disputa pela memória sobre a luta camponesa nos movimentos sociais do campo
na América Latina
As frequentes disputas que ocorrem no campo em toda América-Latina são fruto de um siste-
ma fundiário desigual que marca a paisagem rural de todo o continente. Essa desigualdade foi
gestada no sistema de exploração colonial desenvolvido na América Latina a partir do século XV
e mantida por estados oligárquico, cujo poder se constitui e se articula na posse da terra. Desse
cenário emergiram inúmeros movimentos sociais que objetivam revolucionar a estrutura fun-
diária, dentre esses, destaca-se o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), sendo
um dos maiores movimentos sociais de toda América-Latina. No entanto, apesar dos processos
históricos no campo se aproximarem em todo o território latino-americano, algumas relações
de subalternização se apresentam de maneira diferente nos diferentes territórios latinos, im-
pactando na construção da identidade desses movimentos. Assim, esta pesquisa objetiva com-
parar a produção da memória sobre as lutas campesinas na América Latina produzidas pelo
MST com a memória produzida pelos demais movimentos campesinos da região, com ênfase
a La Via Campesina do Paraguai, a fim de compreender os diferentes processos de construção
identitária dos movimentos campesinos, seus pontos de aproximação e distanciamento. Para
isso, será realizada uma pesquisa bibliográfica e documental, sobretudo, através dos documen-
tos oficiais produzidos por esses movimentos. Espera-se com essa pesquisa estabelecer um
quadro comparativo entre as memórias dos diferentes movimentos campesinos e evidenciar as
relações de subalternização presentes no campo latino-americano.
A historiografia argentina gira em torno de um consenso sobre a baixa intensidade dos conflitos
.65.
sociais no país durante a década de 1920. Segundo essa narrativa, o refluxo destes conflitos foi o
resultado da combinação de três fenômenos: o aumento dos salários pagos aos trabalhadores,
as disputas fratricidas entre as direções políticas do movimento sindical e o surgimento de no-
vas formas de sociabilidade que culminaram na emergência de uma identidade popular confor-
mista. Em contraposição a este consenso, outros trabalhos avançaram para uma compreensão
mais complexa do período, principalmente considerando que a diminuição do número de gre-
ves não deve ser entendida como correspondente imediato da diminuição dos problemas e
conflitos, mas, principalmente, da militância política e sindical no interior das fábricas, oficinas
e empresas. Neste trabalho, pretendemos matizar ainda mais esse cenário, apresentando uma
série de informações sobre as greves ocorridas em Buenos Aires e alguns de seus subúrbios en-
tre 1924 e 1930. Estas informações foram o resultado da revisão das crônicas semestrais relativas
às greves publicadas pelo DNT e dos principais jornais operários do período. A partir desse le-
vantamento, pudemos encontrar conflitos que foram ignorados pelas estatísticas oficiais, assim
como incorporar novas informações que tampouco foram registradas pelo órgão. Para além do
levantamento quantitativo das greves ocorridas, avançamos também para sua análise qualita-
tiva, propondo uma caracterização alternativa sobre o período.
A América Latina, após o período de globalização neoliberal ocorrido desde o final dos anos
de 1980 e durante os anos de 1990, assistiu a uma reação com a eleição de diversos governos
progressistas a partir de 1999, com a posse de Hugo Chávez na presidência da Venezuela. Logo
a seguir surgiram os governos de Néstor Kirchner na Argentina (2002), Lula no Brasil (2002),
Tabaré Vázquez no Uruguai (2005), Evo Morales na Bolívia (2005), Rafael Correa no Equador
(2006) e Fernando Lugo no Paraguai (2008). Estes governos foram uma reação ao período an-
terior em que predominaram as políticas de ajuste neoliberal, austeridade fiscal, privatizações e
abertura econômica. Pretendemos discutir neste trabalho porque os governos eleitos optaram
pelo fortalecimento do aparelho estatal como forma de impulsionar as mudanças que eram
necessárias. Alguns intelectuais mais críticos têm questionado este caminho pois colocam que
as “mudanças que necessitam e desejam boa parte dos setores populares não podem
processar-se através do sistema eleitoral nem do aparelho estatal”. Pretendemos analisar os
motivos pelos quais os governos progressistas não foram capazes de promover mudanças es-
truturais nas economias de seus países e formas de auto-organização popular, preferindo a
integração ao mercado.
O presente trabalho tem como objetivo investigar as publicações de Mundo Peronista, revista
.66.
publicada entre 1951 e 1955, acerca do papel dos intelectuais e do sentido da cultura. Como ór-
gão de difusão da Escola Superior Peronista, o periódico corroborava com a “missão” de inculcar
a doutrina às massas, isto é, de peronizar a sociedade argentina. Para isso, a publicação fazia uso
de uma linguagem simples e direta e de outros recursos, como fotografias, ilustrações e esque-
mas, que visavam facilitar a compreensão das informações publicadas. Durante o peronismo, o
campo cultural foi um espaço de profundas discussões não apenas entre peronistas e antipe-
ronistas, mas entre os próprios apoiadores de Juan Perón. Os opositores acusavam o governo
de esvaziar o campo cultural argentino ao censurar e perseguir intelectuais contrários, além de
julgar os intelectuais simpáticos aos ideais justicialistas como meros propagandistas políticos
do governo. Entre os peronistas, temas como a tradição liberal e o papel dos setores populares,
geravam desentendimentos e dificultavam a definição de projetos e noções culturais para a
época. O que se pretende, portanto, é analisar como que Mundo Peronista se posicionou frente
às discussões levantadas acima e de que forma esses conteúdos foram difundidos ao público
leitor.
Tendo conquistado o poder com Eduardo Frei em 1964, o PDC chileno atuou até 1970 num
cenário político-institucional ainda estável, embora cada vez mais polarizado, o que permitiu
à legenda dedicar-se quase exclusivamente ao jogo eleitoral. No Uruguai, por outro lado, o Par-
tido Democrata Cristão era uma força minoritária e oposicionista, que a partir de 1967, em face
da luta armada dos Tupamaros e do crescente autoritarismo do governo, engajou-se no cha-
mado jogo de regime, empenhando-se na defesa da democracia e colocando em segundo
plano objetivos eleitorais mais imediatos. Por meio do exame da documentação e da imprensa
democrata-cristã nos dois países, espera-se demonstrar que, diferente do ocorrido no Chile, os
pedecistas uruguaios se comprometeram simultaneamente com os jogos eleitoral e de regi-
me, buscando ampliar seu apoio nas urnas e, ao mesmo tempo, garantir a manutenção das
instituições democráticas então ameaçadas. Baseando-se no conceito de duplo jogo de Scott
Mainwaring (2010), será indagado como a Democracia Cristã se posicionou ante um fenômeno
que atravessava as sociedades chilena e uruguaia, a saber a radicalização político-ideológica e o
crescimento de tendências autoritárias e disruptivas ao longo dos anos 1960. Para tanto, a abor-
dagem proposta ultrapassa os marcos nacionais e articula um duplo campo de observação,
questionando supostos particularismos e revelando eventuais padrões e frequências que de
outro modo não viriam à tona.
“O que é uma época?”, pergunta Claudia Gilman num texto – Entre la pluma y el fusil – em que
.67.
busca definir as características dos anos 1960 na América Latina. Gilman descreve os “longos
anos sessenta”, que se iniciam com a Revolução Cubana em 1959 e só se encerram após a im-
plantação das ditaduras no Cone Sul, já na década de 1970, como um período dominado pela
ideia de que o mundo está às portas de “mudança iminente”, de transformações totais e irresis-
tíveis. Essa noção se espalha pelas artes, a sexualidade e os costumes, e deixa marcas também
na ação política. Revolução é a palavra que domina o cenário, carregando com ela – lembra a
autora argentina - certo “messianismo”: como se houvesse uma missão inexorável a ser cumpri-
da, com a refundação da sociedade. Neste trabalho, propomos uma reflexão sobre organizações
de esquerda que retomam o conceito de anti-imperialismo, com longa trajetória na tradição so-
cialista, mas o fazem para construir uma revolução nacional e autóctone. Essa é a característica
de grupos armados com forte presença na região do Prata, como Tupamaros no Uruguai e PRT/
ERP na Argentina. São exemplos de uma esquerda que busca o futuro na revolução armada,
mas lança o olhar para o passado, disputando símbolos nacionais como Artigas e San Martín.
Com a análise de documentos, discursos e ações, pretendemos mostrar como essa esquerda
armada, que parte em busca da nação, ajuda a compor o “sentimento de época” que define os
anos 1960 às margens do Prata.
La Revista de Problemas del Tercer Mundo y los debates sobre la Guerra Fría cultural
y la emergencia del Tercer Mundo en 1968
Adrián Celentano
Universidad Nacional de La Plata (UNLP)
.68.
MESA 22 - Sala C103 29/07/2022
Cultura Letrada na América Latina do XIX
Coordenador: Cleverson Rodrigues da Silva (UFMS) 10h às 12h
Bolívar e Sucre compartilharam entre os anos 1819 e 1930 seus pensamentos políticos e lutas
pela Independência da América, sendo o ano de 1824 um marco para a América de Bolívar e Su-
cre, com a queda do último bastião do poder espanhol no Peru. Homens admiráveis, a liberdade
do continente dependia muito de suas ações, assim como suas obras e ações o destino militar e
político das futuras Repúblicas. Escrever sobre a vida e analisar os escritos de dois personagens
que ocuparam a cena política e militar num dos momentos mais importantes da História da
América, exige como nos alerta Fabiana Fredrigo um exame profundo, uma vez que, “Escrever
pode ser o meio usado para compreender a si mesmo, (...) aquele que escreve patrocina um
autoexame e, nesse sentido, qualquer escrita tem como primeiro avalista o seu próprio autor”.
Desse modo, o presente estudo tem como objetivo trazer a cena histórica as campanhas desses
dois atores através de seus escritos e de suas memórias políticas e militares, buscando através
dessas mensagens, a compreensão das campanhas de Independência. Trata-se de um estudo
documental, sendo as cartas e/ou documentos, trocadas entre esses atores a fonte.
.69.
Regular o globo: a atuação política e jurídica dos diplomatas Elihu Root, Joaquín
Martinez, Luis Maria Drago e Rui Barbosa (1898-1914)
Renato Martins
Universidade de São Paulo (USP)
Frei Bernardino de Sahagún, missionário franciscano espanhol, atuou na evangelização dos na-
tivos da Nova Espanha durante o século XVI. Desembarcou no México em 1529, onde desenvol-
veu uma série de atividades e se dedicou a produção intelectual, tendo elaborado vários manus-
critos, tanto em espanhol quanto em náuatle. A partir da década de 50 do século XVI, quando
começaram a surgir os primeiros embargos às obras em língua autóctone, os manuscritos do
frade foram paulatinamente combatidos e perseguidos. Os remanescentes que sobreviveram,
mantiveram-se esquecidos nas bibliotecas conventuais mexicanas. No século XIX, intelectuais
do período buscaram informações sobre os indígenas pré-hispânicos nas fontes coloniais a fim
de criarem um passado glorioso mexicano, e encontraram em Sahagún ricas descrições sobre a
cultura autóctone. Entretanto, a recuperação das obras do frade ocorreu de maneira mitigada,
pois somente os escritos “etnográficos” suscitaram interesse. Dessa forma, forjou-se uma ima-
gem de Sahagún, posteriormente chamado de antropólogo do Novo Mundo, alijada da realida-
.70.
de, pois foi concebida intencionalmente a partir de recortes específicos de seus escritos e silen-
ciamento de partes que não se encaixavam na narrativa proposta. A forma como a construção
desse personagem foi operada, a partir dos textos produzidos no século XIX, é nosso tema a ser
desenvolvido no presente trabalho.
A promulgação das Leis Novas (1542/1543) teve impacto imediato nas Américas. As notícias so-
bre a nova norma circulavam na Nova Espanha e no Peru antes mesmo de Carlos V assiná-la,
dando conta de que a coroa espanhola acolhera as críticas de Bartolomé de Las Casas às enco-
mendas. Conquistadores, frades e funcionários reais se puseram a debater e a escrever sobre
aquela legislação e sobre a importância da mão de obra indígena, pressionando os represen-
tantes do rei. Nesta apresentação, pretendo analisar de perto esses debates durante os anos
1540 na Nova Espanha, a fim de examinar as formas de classificação social mobilizadas por
diferentes sujeitos. A proposta é observar como as notícias e a promulgação das Leis Novas des-
encadearam um processo de categorização dos indígenas que resultou, de um lado, no reforço
de uma identidade dos conquistadores, unidos pelo sangue derramado em nome do rei; e de
outro lado na classificação dos ameríndios como vagabundos, inimigos do trabalho e soberbos.
O ouro do Novo Mundo: suas origens e suas funções nos textos do século XVI
Nesta apresentação, queremos responder a duas questões pontuais. A primeira é sobre a ori-
.71.
gem do ouro das “Índias”, do “Novo Mundo” nos textos espanhóis. Em outras palavras, dada a
certeza dos ibéricos que encontrariam ouro neste lado do planeta, ao longo do século XVI, como
este ouro havia surgido e se multiplicado aos montes por aqui? Ao responder a esta primeira
questão, passaremos pelo imaginário sobre o ouro no século XV e XVI na Europa e como isso
foi migrado à América. A segunda indagação refere-se ao uso que o metal deveria ter uma vez
que fosse encontrado. Veremos, a partir da leitura de José de Acosta e Oviedo, por exemplo, que,
embora a óbvia resposta fosse para enriquecer quem quer que o possuísse, a lógica passava por
uma leitura moral, ora providencialista, ora de projeções imperiais.
A imprensa periódica foi uma das grandes armas das independências. Ela foi usada pelos dois
lados envolvidos nos conflitos: realistas e emancipacionistas. O jornal Gaceta de Caracas defen-
deu o poder da coroa espanhola, ao passo que o Correo del Orinoco, localizado em Angostura e
fundado por Simón Bolívar, foi favorável à emancipação. Cada um a seu modo, os dois periódi-
cos, embora com interesses distintos, recorreram às narrativas do período colonial. A Conquista
do século XVI, os escritos do capitão espanhol Hernán Cortés e, sobretudo, a tradição lascasiana,
foram imagens recorrentes no século XIX, tanto na elaboração dos discursos que justificavam
uma Nova Conquista, em nome da Espanha, quanto nos textos que passaram a construir a
imagem heroica de Bolívar. Entre ataques e elogios, em uma disputa pela memória e pelos
usos do passado colonial, o conceito do “Libertador” foi sendo erguido e, aos poucos, ocupando
um importante espaço nas lutas discursivas e simbólicas a respeito das independências hispa-
no-americanas.
A fundação da Venezuela enquanto Estado independente em 1830, foi marcada por uma pro-
funda rejeição a figura de Simón Bolívar (1783-1830), em especial por sua postura na defesa da
unidade grã-colombiana sob um executivo centralizador. Ao longo de toda a década de 1830,
mesmo depois da morte do Libertador, sua imagem pública sofreu com antagonismos e inter-
dições, culminando na negação, pelo Congresso Nacional, de um jazigo em solo pátrio por duas
ocasiões. O argumento “não há lugar para Bolívar na pátria que fundou” resume a lógica que
.72.
dominou o debate público venezuelano, pelo menos até a fundação do Partido Liberal em 1840.
Nesta apresentação discutirei como, a partir de um novo arranjo político, foi possível burlar as
interdições ao prócer e empregá-lo para legitimar aspirações partidárias. Para tanto, abordarei o
papel de Antonio Leocadio Guzmán – principal liderança dos Liberais e redator do El Venezola-
no, periódico panfletário da agremiação – com foco em suas articulações semânticas em torno
da reabilitação da figura do Libertador, que tentavam adequar a história à sua agenda política,
ao estabelecer uma continuidade entre projetos contraditórios: as ações de Bolívar e a vida po-
lítica da Venezuela independente.
Perguntar-se sobre o(s) lugar(es) do herói implica, evidentemente, realizar uma busca arqueo-
lógica em torno de sua inscrição. Para o caso de Simón Bolívar, os tempos, os contextos e as
palavras produzem uma oscilação perene entre autoridade e legitimação. Embora autoridade e
legitimação possam parecer formar um par sem conflito, o pesquisador dos oitocentos, ao lidar
com a documentação que envolve a liderança caraquenha, sabe que não é sempre que tais “pa-
lavras políticas fundadoras” aparecem juntas. Há um vocábulo republicano que as utiliza com
insistência e, por isso mesmo, torna o sentido de cada qual múltiplo – assim como múltiplas se
mostram as relações vocabulares. Diante disso, essa comunicação pretende revisitar, à luz da
correspondência bolivariana – especialmente a produzida entre os anos de 1820 e 1830, quando
“governar era preciso” –, o(s) lugar(es) de inscrição do herói, atentando para seus recursos de
autoridade e legitimação em um contexto de combate pela “honra e glória públicas”. Também
me interessa, na medida do possível, tratar das modalidades de inscrição posteriores, trazendo
a literatura e a historiografia para o debate. Nesse sentido, a construção da figura heroica, cer-
tamente, servirá para problematizar a também “heroica gesta independentista”.
.73.
MESA 25 - Sala C308 29/07/2022
Circulação de gentes, ideias e práticas nas Américas no contexto
da Monarquia Hispânica 10h às 12h
Coordenador: José Carlos Vilardaga (UNIFESP)
Andréa Doré
Universidade Federal do Paraná (UFPR)
No âmbito da história do conhecimento, um dos aspectos que tem merecido grande atenção é
a circulação, fenômeno multifacetado que permite várias interpretações. A primeira seria a di-
mensão geográfica, quando se enfatiza o conhecimento que viaja e percorre várias distâncias; a
segunda seria uma interpretação social, que recusa um modelo unidirecional por meio do qual
o conhecimento se disseminaria para consumidores passivos. E uma terceira interpretação é
a abordagem material da circulação, que se debruça sobre o movimento de objetos que sus-
tentam e transfiguram o conhecimento. A partir dessas três abordagens proponho apresentar
uma experiência de análise envolvendo a fama da montanha de Potosi, explorada pelos
espanhóis a partir de 1545 no vice-reino do Peru.
Entre 1598 y 1621 se produjeron, a ambos lados de la Línea de Demarcación de Tordesillas, im-
portantes cambios en los territorios español y portugués en América. Medidas de refuerzo fiscal,
mejoras en la producción minera, proyectos de búsqueda de metales preciosos, importantes
.74.
inversiones en las estructuras defensivas, cambios en la división administrativa, fueron algunas
de las vías emprendidas por los burócratas en Madrid y Lisboa que deberían ser implementadas
por los agentes locales. Aún no está claro si estas medidas fueron parte de un plan global para
toda América, que supondrían, en el caso de la América portuguesa una “castellanización” del
territorio, o una respuesta improvisada a los problemas puntuales que iban surgiendo a medida
que crecía la producción y se asentaban las estructuras recientemente impuestas. En esta po-
nencia se hará una comparación entre lo que se llevó a cabo en los dos territorios, que aunque
preservaron su separación territorial, eran gobernados por el mismo rey.
La conexión de África a partir del siglo XVI con Europa y América no se puede entender sin el
tráfico de esclavos a través del Atlántico. Fue el eje que vertebro las amplias relaciones e inte-
reses que se produjeron. El papel que jugaron los misioneros fue cada vez más destacado en la
articulación de las redes de influencia y de presión, al margen de su labor pastoral. Conquista,
religión y comercio eran parte fundamental de la presencia europea en el Atlántico. Pero ade-
más de esos tres elementos los capuchinos se involucraron en las redes políticas que crearon a
través de embajadores y tratados que conectaban definitivamente a diferentes pueblos y rei-
nos en época moderna. Las diferentes misiones al reino del Congo, Benín y Senegal se comple-
mentarán con las enviadas a Panamá y Venezuela. Una política articulada desde la Monarquía
Hispánica en colaboración con la Santa Sede, en donde los capuchinos formaron, junto con los
jesuitas, la vanguardia de la expansión del cristianismo en África Central y Tierra Firme en Amé-
rica. La hostilidad portuguesa a la presencia de misioneros españoles constituyó una continua
fuente de problemas y conflictos. Estas desavenencias finalizarán tras la derrota del reino del
Congo en 1665 que cerrará el paso a la entrada de más capuchinos españoles en África Central
Occidental y, a partir de entonces, la ida de muchos de ellos a América española.
Entre 1995 e o início de 1996 o debate sobre direitos humanos foi reacendido na Argentina. O
aparecimento do testemunho do repressor Adolfo Scilingo, a entrada da segunda geração de
vítimas nas manifestações e as comemorações do 20° aniversário do golpe de Estado abriam
.75.
possibilidades de reconfigurar as memórias construídas nos primeiros anos da democracia.
Esse debate também alcançou os países que, na década de 1970, receberam exilados. Na Es-
panha, o aumento da presença pública dos desterrados foi sentido amplamente a partir de
1995, e acabou culminando na abertura de um processo judicial contra os repressores argenti-
nos. Nesse breve artigo, buscamos analisar como os debates sobre direitos humanos, ditadura
e reparação apareceram nos dois principais veículos da imprensa espanhola da década de 1990,
El País e La Vanguardia, no ano que antecedeu a abertura da causa madrilenha. Para isso, além
da bibliografia pertinente ao debate sobre imprensa, analisamos como os assuntos referentes
à Argentina foram abordados pela imprensa, além de atentar-nos aos interlocutores presentes
nesse diálogo.
Durante o ano de 1988 o Chile experenciou o terceiro dos quatro plebiscitos convocados pelo
governo ditatorial presidido por Augusto Pinochet. Nessa ocasião, postulava-se duas opções: o
Sí, que propunha a manutenção do governo militar por mais oito anos e o No, que almejava a
convocação de eleições diretas em 1989. Partindo do cenário que se desenhou durante o ano
do pleito, o presente artigo se propõe a analisar as publicações de humor gráfico da revista
opositora APSI, especialmente a sessão Resumidero, que não era assinada, e as obras do cartu-
nista Guillermo Bastías - Guillo, que encerravam cada edição. Com esse propósito objetivamos
destacar a articulação da oposição ao governo ditatorial nas páginas da revista que, ao publicar,
reconfigurava as possibilidades de seu próprio campo de atuação frente aos diversos mecanis-
mos de censura operantes.
“Solo algunos pueden hablar con libertad”: censura e repressão à imprensa chilena
através de Solidaridad (1976-1990)
A derrocada do governo da Unidade Popular e a tomada do poder pelos militares no Chile (1973)
desmantelou diversas organizações políticas ao mesmo tempo que possibilitou o surgimento
de novos movimentos sociais, sobretudo organizações pró direitos humanos vinculadas a Igreja
Católica. Dentre elas, a Vicaría de la Soldiaridad, criada pelo arcebispado de Santiago, se tornou
uma das mais importantes instituições em defesa dos direitos humanos do país. Dentre suas
principais atividades, a organização criou mecanismos para amparar a população e denunciar
as mazelas causadas pela ditadura militar. Com intuito de divulgar suas ações sociais e difun-
dir notícias sobre os principais acontecimentos no país, a instituição criou a revista Solidaridad
(1976-1990), um importante meio de comunicação que circulou dentro e fora e do Chile. Apesar
da censura imposta pelos militares e fiscalizada pela División de Comunicación Social (DINA-
COS), Soldiaridad se blindava pelo seu vínculo com a Igreja e por ser distribuída gratuitamente,
o que permitiu que pudesse divulgar denúncias contra os militares, por durante 14 anos de
existência. Como um meio de comunicação que não sofreu censura, Solidaridad denunciou a
perseguição a periodistas, o fechamento de meios de comunicação e fez coro a busca pela li-
.76.
berdade de imprensa no país. Com esse trabalho pretendemos, por meio desse periódico e da
bibliografia sobre o tema, avaliar e analisar as restrições à liberdade de imprensa no Chile.
Mariana Adami
Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)
O trabalho a ser apresentado é um projeto de mestrado que almeja analisar o conceito de “de-
mocracia” presente em discussões políticas mexicanas entre 1968 e 1988. A extensão e natureza
do processo de democratização mexicano são elementos de disputa na literatura sobre o tema
– se há argumentos de que pressões eleitorais deveriam ser o principal sinal demarcatório da
“verdadeira democratização”, existem indícios de que o processo pode ser entendido de forma
mais ampla, estendendo-se de 1968 até a derrota eleitoral do candidato a presidente do Parti-
do Revolucionario Institucional (PRI) em 2000. Partindo desta visão abrangente do processo, é
possível entrever duas fases distintas: de 1968 a 1988, em que foi “informal”, e de 1988 a 2000,
momento em que as pressões eleitorais se tornaram grandes o suficiente para que a questão
da abertura deixasse de ser um “se” para se tornar um “quando”. A análise enfatizará o primeiro
período, e será feita a partir de duas frentes: o discurso oficial do Partido Revolucionario Insti-
tucional, observado principalmente a partir de informes de gobierno proclamados/publicados
pelo presidente nos períodos Díaz Ordaz (1964-1970) a De la Madrid (1982-1988) (inclusive), e a
discussão pública quanto ao processo de democratização, a partir de revistas de conteúdo po-
.77.
lítico (Plural e Cuadernos Políticos). A análise tem como pano de fundo reformas democráticas
colocadas em prática no período, como a de 1977.
Indícios históricos e textuais de uma outra história: a narração do tempo nos contos
de Jorge Luis Borges
Renan Rozada
Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)
A vida e a obra do escritor argentino Jorge Luis Borges são frequentemente estudadas, tanto
pela sua revolucionária literatura, quanto pelas contradições de sua vida política. Nesta apresen-
tação discutirei o tempo conceitual em seus contos, focando no porquê de certas concepções
temporais se sobressaírem e serem mais frequentes do que outras. Tendo como fontes os livros
Ficções, O Aleph e O Livro de Areia, e usando Beatriz Sarlo para analisar o conceito de tempo nos
contos compilados nessas obras, através de sua formulação sobre situação filosófico-narrativa.
Tratarei de como o tempo se desenvolve para Borges e de como a experiência humana é parti-
cularizada em seus contos, observando a influência do contexto em que viveu e de sua origem
familiar. Analisando contos diversos de três coletâneas, publicadas em diferentes períodos de
sua vida, acreditamos que seja possível obter uma visão ampliada sobre sua concepção tempo-
ral e, por conseguinte, abarcar a sociedade argentina durante os meados do século XX, sua elite
intelectual e um de seus maiores escritores.
Priscila Pereira
Instituto Federal do Sul de Minas Gerais (IFSULDEMINAS)
Hortensia (1971 – 1989) foi uma publicação de humor gráfico da cidade de Córdoba que marcou
a história da imprensa humorística argentina. O título da revista foi escolhido em homenagem
a uma mulher que teria vivido em Córdoba Capital entre os anos 1920 e 1960. O nome da Hor-
tensia da vida real era María Herminia Rodríguez de la Fuente, famigerada vendedora de botões
de hortênsia que perambulava pelas ruas da capital mediterrânea. Essa mulher era particular-
mente conhecida pelos impropérios que gritava e pelos gestos que fazia enquanto vendia suas
flores, o que teria escandalizado a sociedade da época. Não obstante sua má fama e condição
de pária social, Alberto Cognigni - diretor da publicação - decidiu recuperar tal figura para no-
mear a sua revista, convertendo a mulher anônima e desprezada em “mulher anedota”. Criou-
se, assim, o pastiche, a caricatura, o “personagem”, cujo único modo de existência possível seria
através de sua inscrição no terreno da humorística. A partir dos estudos de gênero, sobretudo
das contribuições da perspectiva da interseccionalidade, analiso o processo de invenção de Hor-
tensia, la Papa e a maneira como este personagem se tornou simpático aos olhos do público.
.78.
O objetivo é desmistificar o relato que converteu a Hortensia real em personagem do folclore
local, lançando luz sobre as tensões sociais existentes em Córdoba durante o seu processo de
“modernização provinciana”.
Renata Dell’Arriva
Secretaria Estadual de Educação do Estado de São Paulo (SEDUC-SP)
No campo da criação cultural dos anos 1960 e 1970 na América Latina, o diálogo entre diferentes
expressões artísticas é resultado da modernização cultural que avança nestas décadas, colo-
cando em questão uma série de convenções estéticas bem estabelecidas. No caso da literatura,
é possível constatar o impacto que procedimentos caros à linguagem gráfica e à comunicação
visual imprimiram sobre a produção do período – em especial, por meio da adoção de recur-
sos gráficos, estilísticos e temáticos associados ao universo das histórias em quadrinhos (HQs).
Sem pretender esgotar a discussão, a análise preliminar aqui proposta parte de um conjunto de
obras literárias que se apropriou de recursos estilísticos associados às HQs para responder aos
desafios da modernização cultural e para afirmar projetos estéticos bastante singulares. A dis-
cussão está centrada em três obras: Batman en Chile, de Enrique Lihn, publicada no Chile em
1973; Agá, de Hermilo Borba Filho, publicada no Brasil em 1974; e Fantomas contra los Vampiros
Multinacionales, do argentino Julio Cortázar, publicada no México em 1975. Como hipótese ini-
cial, defendo que a adoção de procedimentos caros às HQs foi uma opção estética consciente
que visava enfrentar o desafio relativo às formas do romance na América Latina. Desdobram-se
.79.
daí projetos literários de caráter político, pois apontam para as possibilidades de articulação de
uma expressão própria que dê conta das transformações presentes nas sociedades latino-ame-
ricanas daqueles anos. Não por acaso, a atmosfera política turbulenta daqueles anos servirá de
base para o desenvolvimento das obras analisadas.
O argentino Manuel Baldomero Ugarte (1875-1951) foi um dos mais ativos defensores da inte-
gração latino-americana na primeira metade do século XX, por meio de intensa atividade pú-
blica. Escreveu poemas, crônicas, contos, romances, narrativas de viagens e, especialmente, en-
saios literários, políticos e sociológicos, em que se destaca a reflexão sobre as articulações entre
imperialismo e cultura. Foi, acima de tudo, um intelectual público. Viveu em Buenos Aires, Paris,
Madri, Nice — cidade francesa onde morreu —, além de ter viajado intensamente, por países
da Europa, pelos Estados Unidos, além de um longo giro por praticamente todas as capitais
latino-americanas. Ao longo de sua trajetória, Ugarte ministrou inúmeras conferências, foi mili-
tante do Partido Socialista da Argentina, defendeu a Revolução Mexicana, a independência de
Porto Rico e a luta de Sandino na Nicarágua, entre outras causas de caráter latino-americanista
e anti-imperialista. Publicou dezenas de livros, entre os quais, El porvenir de la América Españo-
la (1910) — reeditado com o título El porvenir de la América Latina (1911); Mi campaña hispano-
americana (1922); El destino de un continente (1923) e La Patria Grande (1924). Apesar de uma
trajetória intelectual e política tão rica e intensa, é pouco conhecido no Brasil. O objetivo desta
apresentação é refletir sobre o projeto latino-americanista de Manuel Ugarte, a partir de seus
ensaios políticos e relatos de viagens pelas Américas, publicados nas décadas de 1910 e 1920.
.80.
O CEBRAP e suas conexões com a América Latina
Com o aniquilamento de organismos como a inovadora UNASUL, decorrente do avanço dos go-
vernos de direita na América do Sul, ainda é possível pensar em integração latino-americana? E,
principalmente, ainda é viável cogitar sobre um papel protagonista para o Brasil no continente,
depois do golpe parlamentar de 2016, da vitória de Bolsonaro em 2018 e da descaracterização
de nossa política externa, agora atrelada à estadunidense, com o abandono de qualquer proje-
to autonomista? Para responder a essas perguntas, iniciarei esta comunicação com uma breve
análise da UNASUL, pensada como uma nova proposta de integração, criada pelos governos de
esquerda e centro-esquerda na América do Sul. Em seguida, comentarei alguns aspectos da
política exterior do governo Lula, o lugar da América do Sul em seu projeto e o papel desem-
penhado pelo Brasil nas políticas de integração da região. Finalmente, comentarei sobre o fim
do chamado ciclo dos governos progressistas na América do Sul do início do século XXI e sobre
o futuro das políticas de integração no continente.
O objeto dessa fala é discutir a representação de Francisco Villa em dois filmes estadunidenses
sobre a Revolução Mexicana, Viva Villa! de 1934 e Villa Rides de 1968. Além de pensarmos a ma-
neira que o Centauro no Norte foi retratado nesses filmes, buscamos, também, discutir como
.81.
essas obras inserem a figura de estadunidenses como papeis centrais nas tramas e no próprio
desfecho do movimento armado mexicano. De uma maneira mais ampla, nos interessa discutir
as formas que os EUA representaram a figura latino-americana nesses filmes, utilizando a Re-
volução como pano de fundo para evocar estereótipos e preconceitos a respeito de seu vizinho
do Sul.
Mario Sabato más allá de la pantalla: a trajetória do diretor durante a ditadura militar
Argentina (1976-1983)
A proposta de comunicação tem por objetivo central pensar a trajetória de Mario Sabato, dire-
tor de cinema argentino. Temos por objetivo problematizar a sua atuação durante os anos da
Ditadura Militar Argentina, que ocorreu durante os anos de 1976 a 1983, quando Mario Sabato
dirigiu diversos filmes, tais como da série policial Los Superagentes. Portanto, pensaremos a sua
trajetória aliada à sua atuação cinematográfica, para verificarmos se houve ou não um alinha-
mento ideológico com a ditadura Militar que ocorreu durante esse período. Devemos salientar
que essa comunicação faz parte de uma investigação em andamento sobre Mario Sabato e a
Ditadura Militar Argentina.
O governo de Porfirio Díaz foi marcado por transformações profundas na sociedade mexicana.
No aspecto político, o porfiriato representou o maior período de estabilidade política desde a
independência do país ao estabelecer um pacto entre as elites conhecido como Pax Porfiriana.
No campo econômico observou-se uma intensificação da exploração de recursos naturais, o
desenvolvimento industrialização e a expansão da malha de transporte. Esta onda de cresci-
mento econômico foi impulsionada pelo capital externo, apoiado e incentivado pelo governo,
que adentraram no México e atuaram nos mais diversos setores da economia. A ferrovia foi par-
ticularmente especial, primeiro por servir de infraestrutura para o crescimento econômico, e
por ter se desenvolvido a partir de capitais externos, principalmente o estadunidense. E com as
empresas também se dirigiram ao México fotógrafos para documentar a expansão da ferrovia
no país, dentre eles Winfield Scott, Charles B. Waite e William Henry Jackson. Esta apresentação
tem por objetivo expor algumas reflexões sobre a pesquisa em curso.
.82.
México entre os anos de 1982 e 1987. Esta apresentação faz parte de uma pesquisa maior que se
encontra em desenvolvimento e busca entender como os fotógrafos brasileiros representaram
a América Latina durante o regime militar. Visa entender como estes profissionais produzem e
divulgam uma imagem de nosso continente num período de censura e perseguição política.
Procuro responder algumas perguntas: quais temas foram registrados, onde e como publica-
ram, quais foram as estratégias de atuação e veículos de imprensa? A hipótese da pesquisa é
que os fotógrafos tiveram um papel protagônico neste processo, já que não se limitaram a re-
gistrar, senão que se transformaram em atores poderosos, convertendo as suas fotografias em
“veículos de memória”, pelo fato de considerar que o uso das imagens fotográficas ultrapassou
seu papel tradicional de registro para se transmudar em parte do processo político de resistên-
cia política, social e cultural.
.83.
contro entre diferentes personagens em suas distintas temporalidades, mas também podem
ser configuradas como um lugar de conflitos ao representarem a intenção de promover limites
de interação ou de ocupação, especialmente quando se encontram em projetos de dominação.
Neste minicurso, discutiremos esforços de diferentes campos da pesquisa histórica que abor-
dam a dimensão permeável das fronteiras nas Américas nos séculos XIX e XX, considerando-a
tanto em perspectiva local como global. Nos pautamos em uma bibliografia que parte de pes-
quisas empíricas e demonstram preocupação em compreender a formação dos Estados Nacio-
nais americanos e as disputas suscitadas, tanto interna quanto externamente, que destacam
situações de contato interétnico, de mestiçagem e de transculturação e questionam a visão da
fronteira como um limite intransponível; assim como trabalhos que pensam o papel das fron-
teiras em uma perspectiva transnacional.
Embora cada vez mais presente nas atividades de ensino e pesquisa em história, a música é, no
entanto, utilizada ainda de forma bastante limitada entre professores, alunos e pesquisadores
da área, já que na maioria das vezes, a música é tratada como mera “ilustração” ou comple-
mento de um tema principal, ou mesmo complemento de outras fontes – depoimentos orais,
documentos escritos, fontes jornalísticas, filmes e documentários, etc. Entendemos que essa
.84.
forma de utilização da música acaba empobrecendo um vasto universo possibilidades por ela
proporcionados, já que deixa de lado todo um conjunto de outros elementos que vão desde
seus aspectos técnicos e discursivos mais evidentes (letra, ritmo), mas abarcando ainda ques-
tões relacionadas a sua historicidade, contexto e apropriações (época histórica das gravações e
regravações, os arranjos feitos sobre ela, quem gravou e em qual momento etc.). Deste modo,
este minicurso irá tratar de algumas dessas possibilidades de diálogo entre música popular e
história, tomando como ponto de partida algumas produções musicais feitas por artistas lati-
no-americanos entre os anos 1970, 80 e 90, e que tiveram como mote a releitura do processo
de conquista e ocupação da América Latina pelos europeus, a partir de 1492, dialogando com
movimentos identitários, indígenas, nacionalistas e ambientalistas, entre outros.
En las últimas décadas, diversos interrogantes y abordajes metodológicos han impulsado una
significativa renovación de la historia del pensamiento argentino y latinoamericano. La produc-
ción académica reciente, sobre todo aquella que recoge la perspectiva de la “historia intelectual”,
viene insistiendo en el estudio de la relación de las ideas con sus canales de circulación, especial-
mente de las revistas culturales (TARCUS, 2020). Recogiendo esa renovación historiográfica, el
presente minicurso se concentra en las intervenciones de las revistas sobre dos problemáticas
centrales de las décadas del sesenta y setenta: la identificación de una “guerra fría cultural” en
América Latina y la emergencia del “tercermundismo” (PETTINA, 2018). Problemáticas debati-
das en numerosas publicaciones, desde la mexicana Cuadernos Americanos hasta la uruguaya
Marcha, pasando por la argentina Antropología 3er. Mundo y la brasileña Cadernos do Terceiro
Mundo, y por las ediciones de Siglo XXI editores y del Centro Editor de América Latina. Desde la
segunda mitad del siglo XX, los agrupamientos intelectuales latinoamericanos pusieron a circu-
lar ideas y debates sobre la “Guerra Fría” y la posición que debía asumir nuestro continente ante
el bloque capitalista, liderado por los Estados Unidos, y el bloque socialista, encabezado por la
Unión de Repúblicas Socialistas Soviéticas. Este escenario se complejizó no sólo con el triunfo,
en 1959, de la Revolución Cubana, sino también con los procesos de descolonización en Asia y
África y con la ruptura de la China comunista con el bloque soviético. Para mediados de los se-
senta, las revistas culturales de la nueva izquierda intelectual ya habían popularizado una nueva
categoría para señalar al sujeto popular de la política emancipatoria: el “Tercer Mundo” sería el
protagonista de los cambios revolucionarios hasta la irrupción de las dictaduras militares en la
mayoría de los países latinoamericanos.
.85.
RESUMOS
MODALIDADE
REMOTA
Estudantes de Graduação
MESA 31 26/07/2022
Gênero, histórias, memórias e linguagens artísticas nas
Américas (sessão 1) 14h às 16h
Coordenadora: Ana Beatriz Mauá Nunes (USP)
.87.
Caminhos de Ana Mendieta
Em 1961, a artista Ana Mendieta chegava exilada aos Estados Unidos da América. Década de
reviravoltas políticas em diversos territórios latino-americanos, incluindo Cuba – país de origem
da artista –, também foi um período de efervescência ativista. Atravessado pelas manifestações
protagonizadas pelo movimento hippie contra a Guerra do Vietnã e por uma crescente segun-
da onda do feminismo nos EUA, também contou com mudanças graduais no modo de en-
tender e fazer arte, que se intensificará nos anos 1970. Nesse contexto, o foco dessa geração de
artistas se apresenta e coloca em perspectiva o corpo, a sexualidade, o ser ou não ser artista e
a ocupação de espaços além do institucionalizado, aproximando o público numa interação di-
reta com as obras. A experimentação se tornava fundamental nas práticas daquela época para
que se alcançasse territórios, até então, relegados. Dessa forma, o valor das obras não estava
condensado em um objeto mercantilizável ou em uma persona artística, mas sim, em todo o
processo e pensamento que as envolviam. A riqueza estava na ação, na experiência. Não é à
toa que o período é conhecido por uma “estética do desaparecimento”, como algo que é des-
prezado e condicionado às margens do circuito oficial ao mesmo tempo em que lhes escapam
em subversiva ausência. É nesse cenário que Ana Mendieta trabalhou com a performance, o
vídeo e a fotografia, além da própria terra como elemento de troca, produzindo então sua série
mais extensa, Siluetas (1973 – 1980), produções que analisaremos nesta comunicação, em que a
paisagem e o corpo dialogavam no que podemos entender como um processo-ritual, que ela
chamou de earth-body-works.
.88.
Sexualidade feminina e liberdade na América Latina: a arte erótica de Teresinha Soares e
Marta Minujín
O trabalho pretende discutir acerca da produção da artista brasileira Teresinha Soares produzi-
da entre as décadas de 1960 e 1970, buscando traçar conexões com a obra da artista argentina,
Marta Minujín. Nessas décadas, os dois países latino-americanos viviam períodos de ditadura ci-
vil-miliar, e as obras das artistas revolucionaram trazendo o tema da arte erótica para uma pers-
pectiva feminina e feminista, ainda que ambas não se identificassem com o termo. Para essa
discussão trarei algumas pinturas de Soares, sua caixa-objeto “Caixa de fazer amor” e algumas
de suas instalações, como Corpo a corpo em cor-pus meus, também trarei algumas pinturas e
a instalação ¡Revuélquese y viva! de Minujín para esse debate, buscando abordar a partir desse
encontro, a questão do corpo e da liberdade sexual feminina na época da repressão.
MESA 32 26/07/2022
Gênero, histórias, memórias e linguagens artísticas nas Américas
(sessão 2) 14h às 16h
Coordenadora: Priscila Miraz de Freitas Grecco (UFRB)
Este trabalho tem por objetivo analisar a novela gráfica Vírus Tropical, da artista visual equato-
riana-colombiana powerpaola, a partir do conceito de autocomic, conforme proposto pela pes-
quisadora Claudia Andrade Ecchio. Podemos definir autocomic resumidamente como sendo a
criação autobiográfica a partir das estratégias da novela gráfica. Assim, exploramos as poten-
cialidades da escrita de si nas relações entre íntimo e político através de uma voz narrativa em
constante dialogismo entre o eu e o nós que configuram os processos de subjetivação. A partir
desse eixo de análise, abordamos as questões referentes à produção da novela gráfica em sua
relação intrínseca entre desenho e palavra; a expressividade desse formato na América Latina
contemporânea; a preponderância dessa linguagem artística na produção de mulheres. Nossa
hipótese é de que a criação da imagem da mulher e de sua trajetória de vida, abordadas a par-
tir das estratégias da novela gráfica, nos possibilita acessar essas autoras/artistas/personagens
como criadoras de novas formas de combate aos discursos hegemônicos sobre os lugares de
gênero na sociedade patriarcal latino-americana.
Entre assembleias de rua e pañuelos verdes: políticas de aliança nos estallidos femi-
nistas e seus potenciais de tensionamento da Onda Rosa argentina (1996-2015)
Rafaela Zimkovicz
Universidade Federal do Paraná (UFPR)
Entre 2003 e 2015, a Argentina vivenciou a chamada “Onda Rosa”, expressão que designa o
.89.
período recente de gestão de governos de esquerda na América Latina. Tal processo foi marca-
do pelos mandatos de Néstor e Cristina Kirchner, que teriam instituído uma maior seguridade
social, em ruptura com o legado neoliberal menemista. Contudo, registra-se, no âmbito dos
feminismos locais, a acentuação de reivindicações e de estruturas organizativas autonomistas,
com ênfase para a formação da Campaña Nacional por el Derecho al Aborto, órgão coligador de
cerca de 300 diferentes agremiações, como sindicatos, veículos de mídia e coletivos LGBTQIA+.
À vista desse cenário conflagrado, objetiva-se analisar as retóricas, práticas emancipatórias e
articulações intersetoriais aventadas por grupos feministas associados à CNDA, tendo por bases
investigativas: 1) a perspectiva de agenciamento por políticas de aliança queer e performáticas
em sentido de oposição às sistemáticas de heteropatriarcado reprodutor racista; e 2) a histori-
cização das demandas por cidadania e autodeterminação corporificadas, buscando identificar
continuidades e intensificações das infraestruturas feministas de contestação do Estado e de
seus entes de violência desenvolvidas nos contextos de 1996-1999 e de estallido social em 2001.
Como fontes, utilizam-se o boletim Nuevos Aportes (Comisión por el Derecho al Aborto); mani-
festos e publicações virtuais dos coletivos La Revuelta, Las Histérikas, Nosotras em Red e Ni Una
Menos; além da revista lesbo-feminista Baruyera. Enuncia-se, assim, um tensionamento dos
significados históricos da Onda Rosa e uma complexificação das chaves de leitura das disputas
do presente na região.
Esse trabalho se configura em um recorte de uma pesquisa de iniciação cientifica, nele pre-
.90.
tendemos compreender como a concepção de “Autohistória”, da escritora Glória Anzaldúa, en-
quanto representativo para a história de vida da escritora, ultrapassando os limites da biografia,
tornando-se a história de seu próprio povo pode ser uma ponte de diálogo com as obras da
artista brasileira Rosana Paulino. Como o falar sobre histórias pessoais e sobre sua produção
como lugar de tensão - porque é um lugar de relação entre o sujeito e as dinâmicas sociais – po-
dem estar sendo mobilizados no campo da arte contemporânea latino-americana. A partir de
pontes e caminhos encontrados entre as artistas, observamos como ambas se apropriam das
linguagens, para pensar práticas que revisitem o passado tendendo a reinterpretá-los possibi-
litando a construção de imagens e narrativas a partir e não sobre a margem e como buscam
reestruturar, repensar saberes dicotômicos, hegemônicos construindo e buscando por outras
epstemologias.
MESA 33 26/07/2022
Histórias coloniais nas Américas
Coordenador: José Carlos Vilardaga (UNIFESP) 14h às 16h30min
Entre as diversas instituições que compunham o contexto colonial da Bacia Platina, a Com-
.91.
panhia de Jesus teve uma forte atuação, sobretudo por conta de suas missões entre os indíge-
nas guaranis, bem como seus colégios nos principais núcleos urbanos do período. Por conta de
sua influência e também por um sistema de posses que estavam para além da missão religio-
sa, por vezes ocorreram conflitos em uma dinâmica que envolvia missionários, governadores,
bispos e administrações locais. A exemplo disso, ocorreram as Revoluções Comuneras, revol-
tas envolvendo as elites da governação de Asunción e os jesuítas, indo de contestações jurídi-
cas até lutas armadas entre 1717 e 1735. Este trabalho, resultante de uma pesquisa de Iniciação
Científica, busca analisar a relação e os impactos causados nas reduções jesuítico-guaranis em
decorrência do conflito. Para isso, foram analisadas as diferentes perspectivas da Historiografia
sobre o assunto, além de fontes documentais como as Cartas Ânuas de la Provincia Jesuítica del
Paraguay.
Esse trabalho analisa as estratégias de catequização desenvolvidas pela Igreja Católica entre os
indígenas no Vice Reino de Nova Espanha (México) durante o século XVI. Esse período é conhe-
cido na historiografia como a época da “conquista espiritual”, que teve como objetivo de ensinar
aos indígenas não só a religiosidade cristã, mas também o modo de vida europeu. Na perspec-
tiva dos missionários evangelizadores, era necessário alcançar a superação das “idolatrias” nati-
vas e a imposição da cultura ocidental entre os indígenas. (RICARD, 2014; GRUZINSKI, 2006). Um
dos mais importantes missionários envolvidos no projeto de conquista espiritual do México foi o
frei franciscano Bernardino de Sahagún. Realizamos uma análise comparativa entre duas obras
produzidas por ele, os livros Colóquios y Doctrina Cristiana, de 1524, pouco depois da conquista
militar da capital asteca (que ocorreu de 1519 a 1521), e Historia General de las Cosas de Nueva
España, que foi finalizada em 1577. O cerne do trabalho é identificar as mudanças de estratégias
de catequização presentes nessas obras, o que possivelmente tinha relação com as resistências
culturais indígenas ao processo de ocidentalização imposto a eles. A linha teórico-metodológica
que seguimos é a da história cultural. Nos baseamos nos autores Carlo Ginzburg (2006; 1989) e
Héctor Bruit (1995), que nos ajudam a pensar sobre as relações entre diferentes culturas, princi-
palmente quando se trata de identificar ações de sujeitos pertencentes a uma cultura a partir
de fontes produzidas por outra. (HARTOG, 1999).
Nesta pesquisa, analiso a obra Diário de un Misionero en Maynas, do padre Manuel J. Uriarte,
atentando para a inserção das epidemias e das práticas de cura no cotidiano das missões jesuí-
ticas na fronteira amazônica da Audiência de Quito. Partindo dos escritos de Uriarte, pode-se
.92.
perceber a recorrência das epidemias e seus efeitos entre as populações indígenas nas missões
da província de Maynas. O relato de Uriarte permite também discutir as práticas de cura reali-
zadas pelos jesuítas, e sua importância para a manutenção das missões e relações com os indí-
genas. Nesse contexto, ressalto os conhecimentos e saberes de curas indígenas, tendo em vista
as plantas medicinais que eram encontradas no Alto Amazonas. Partindo desse viés, se torna
possível entender até que ponto essas epidemias afetaram o desenvolvimento das missões e
como as práticas indígenas de cura foram importantes para a manutenção das mesmas.
A apresentação trata dos resultados de dois anos de pesquisa em Iniciação Científica realiza-
dos com bolsa PIBIC pela UNIFESP. Ao longo do trabalho foi possível compreender algumas
questões acerca da figura de Lope de Aguirre, integrante da expedição comandada por Pedro
de Ursúa em 1561 em busca do mítico El Dorado, que partiu de Lima até a Amazônia, e de seus
atos, que resultaram num levante contra a Coroa Espanhola. Diante deste cenário, buscou-se
situar Aguirre num período de transição entre o pensamento medieval e o moderno. Nesse
sentido, Lope de Aguirre foi interpretado como um sujeito que através da experiência do além-
mar se deparou com a realidade nas Américas, e com isso se viu atravessado por questões de
enriquecimento fácil, pela distância do controle político da coroa espanhola, e pelos poderes
locais. Ademais, confrontou-se com a realidade amazônica: a de fome, miséria e perdas; e diante
disso, tentou agir de forma própria, mobilizando-se e construindo suas ações – e até mesmo sua
própria narrativa – de rebeldia, dentro desse contexto apresentado. É dessas formulações que se
parte para entender Aguirre, utilizando-se tanto das concepções do mundo ibérico que ainda
se ligavam de forma pertinente à Idade Média, e também às ideias de Modernidade que foram
sendo construídas a partir do choque entre o Velho e o Novo Mundo.
MESA 34 26/07/2022
Debates e projetos políticos, econômicos e educacionais nas
Américas 14h às 16h30min
Coordenadora: Ivia Minelli (UNICAMP)
Essa pesquisa visa analisar o tema do desenvolvimento na Revista da CEPAL, criada em 1976.
Desde sua fundação, em 1948, a CEPAL passou por cinco fases. A primeira começou nas suas
origens e durou toda década de 1950, conhecida como industrialização pela substituição de
importações; a segunda etapa foi durante os anos 60 e é caracterizada pelas reformas para
desobstruir a industrialização; nos anos 70 a comissão passou pela reorientação dos “estilos”
.93.
de desenvolvimento para a homogeneização social e a diversificação pró-exportadora; os anos
80 ficou conhecido pela superação do problema do endividamento externo mediante o ajuste
com crescimento; e dos anos 90 até hoje, a CEPAL está na chamada etapa transformação pro-
dutiva com equidade. Para executar essa pesquisa, serão analisados artigos que levam em seus
títulos a palavra desenvolvimento, desde seu primeiro número em 1976 até o ano de 2021, con-
tando com 84 artigos. Do ponto de vista metodológico, utilizaremos os pressupostos da Análise
do Discurso. A análise quantitativa relacionará as principais pautas da Revista relativas ao tema
do desenvolvimento. E, em questões qualitativas, através da análise do discurso, a intenção é
interpretar a relação das pautas com cada etapa da Comissão.
“All they ask for is an equal chance in life”: o papel da educação na identificação
nacional a partir de Joseph H. Rainey
Este trabalho tem como objetivo analisar a importância da educação na construção e legiti-
mação da cidadania da comunidade afro-americana dos Estados Unidos no período conhecido
como Reconstrução (1865-1877). O período, logo após a Guerra Civil, foi marcado pela ascensão
política e social dos negros no cenário público norte-americano, tanto no Norte, apontado como
majoritariamente abolicionista, quanto no Sul, agrário e escravista. Tal análise partiu das defesas
da educação igualitária para negros e brancos do deputado Joseph H. Rainey feitas em seu dis-
curso na Câmara dos Representantes em fevereiro de 1872. Rainey, o primeiro afro-americano a
ser eleito à câmara baixa dos Estados Unidos da América, foi defensor da educação formal para a
comunidade afro-americana e das escolas integradas. Para isso, leva-se em conta a construção
da cultura letrada afro-americana a partir dos estudos de Alfred Raboteau e os levantamentos
sobre identidade e pertencimento por Stuart Hall. O resultado obtido concerne à identificação
de Rainey como parte da nação, ainda que ressalte a diferença de status público das comunida-
des afro-americanas em comparação com as comunidades caucasianas. Ademais, sua defesa
da educação formal para negros em todo território dos EUA apela não só para os valores cívicos,
mas também para os valores morais que a princípio norteavam tanto a ideia de pertencimento
à nação quanto a ideia de funcionamento das instituições do Estado.
.94.
a política cubana nos anos 1960, principalmente no que tange a campanha de alfabetização e
a perseguição da homossexualidade. Por fim, buscamos relacioná-lo com a fase da campanha
insurrecional e a moral do homem guerrilheiro, de modo a pensar como ambos se entrelaçam,
podendo ser o Homem Novo uma forma civil de um conceito forjado na luta armada.
Esta investigación tiene por objetivo analizar los proyectos de integración regional, en particular
su mirada a la región centroamericana y su integración a partir de 1968 en la revista mexicana
“Foro Internacional”, del Colegio de México. La Revista Foro Internacional, fundada en 1960, es
una de las más antiguas publicaciones especializadas en relaciones internacionales todavía en
circulación en nuestra región. Analizar las publicaciones de la Revista es un vehículo para com-
prender la interpretación de la coyuntura de la integración centroamericana a lo largo de las
décadas, entendiéndola como un reflejo de la atmósfera cultural tanto mexicana como latinoa-
mericana, en el que toma un interés especial la postura de la política externa mexicana frente a
Centroamérica como región doblemente periférica. Para alcanzar dicho objetivo, se filtraron por
el título los artículos sobre Centroamérica como región o por país entre los años de 1960 y 2021,
lo que representa un recorte total de 54 artículos publicados. Metodológicamente, el abordaje
cuantitativo identifica los indicadores y tendencias de las posturas observables en el recorte. En
lo cualitativo, la investigación asume un carácter tanto descriptivo como explicativo procuran-
do explicar los factores que contribuyen a la comprensión del contexto estudiado. En vista de
profundizar sobre el problema en cuestión, se utiliza el Análisis del Discurso para comprender la
producción de ideas a partir de la periferización de Centroamérica en la revista estudiada.
Caroline Januario
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ)
O conceito de justiça ambiental nasceu a partir da luta de diversos movimentos sociais e am-
bientais com o intuito de se contrapor ao termo de injustiça ambiental, este que tem por obje-
tivo indicar a imposição desigual dos riscos ambientais entre os países de renda média e baixa
e os países desenvolvidos. À vista disso, o objetivo deste trabalho consiste em analisar a agenda
ambiental do Banco Mundial – esta que é datada a partir da década de 1990 com as pressões po-
pulares e a elaboração da Conferência Internacional Rio-92 – fazendo luz à conceituação de jus-
tiça ambiental; e identificando a partir dos Relatórios sobre o Desenvolvimento Mundial (RDM)
de 1992 e 2010 a contribuição da instituição para a legitimação do livre-mercado como melhor
instrumento para solucionar a questão ambiental e promover o esperado “desenvolvimento
sustentável”. Além disso, analisaremos como as políticas do Banco Mundial agravaram os pro-
blemas socioambientais nos países de renda média e baixa com base no tecnicismo econômi-
co que propusera a conciliação entre o crescimento econômico e a resolução dos problemas
ambientais a partir de uma política de neoliberalização da economia, que, consequentemente,
.95.
resultou na financeirização da natureza.
MESA 35 26/07/2022
Reflexões sobre contextos autoritários nas Américas
Coordenador: Rodolpho Gauthier Cardoso dos Santos (IFMG) 14h às 15h30min
Durante os anos de 1968 e 1973 o Brasil vivia o chamado “milagre econômico” e a ditadura inves-
tia em inúmeras obras de infraestrutura nacional, algumas em escala faraônica. Dentro desse
processo os investimentos no setor de telecomunicações, resultaram na criação da EMBRATEL
e do Ministério das Comunicações. Em 1970, durante a Copa do Mundo, o Brasil era presidido
pelo General Médici, grande apaixonado por futebol e que não mediu esforços para que o país
pudesse assistir às partidas ao vivo. Oito anos mais tarde, a Argentina sediaria a Copa do Mundo
e uma das exigências da FIFA para a realização do torneio era a existência de um centro tecno-
lógico de qualidade para as transmissões do torneio. Diante disso, os militares do Proceso não
mediram esforços na construção do ATC, complexo televisivo nacional. Em ambos os casos, o
objetivo era usar os investimentos para vender uma imagem positiva do regime, internamente
para o Brasil e externamente para a Argentina. A presente investigação, se propõe a expor atra-
vés de uma pesquisa bibliográfica, como a relação futebol-Estado foi primordial para a expansão
tecnológica nas redes de Telecomunicações. Pretendemos formular novas perspectivas que se
inserem em campos já consolidados da historiografia, tais como os estudos sobre as relações
entre os Regimes militares de Brasil e Argentina e o futebol e a importância da propaganda na
manutenção de Regimes autoritários. Em síntese, debateremos como a transmissão televisiva
das Copas do Mundo na década de 1970 foram primordiais para a busca de um consenso em
torno dos militares de suas ditaduras.
.96.
Brasil (1908). Para atingir os objetivos desta pesquisa, analisaremos a relação entre o surgimento
da Shindo Renmei para com as políticas de censura e repressão da Era Vargas, bem como as
correlações com a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). No trabalho questionamos acerca da
aproximação estadunidense com a América Latina e suas relações de interesse com o Brasil,
assim como os meios estadunidenses para influenciar a entrada brasileira na guerra ao lado dos
Aliados. Com o intuito de fundamentar este trabalho, investigaremos como a repressão à comu-
nidade japonesa pelos decretos-leis do Estado Novo (1937) contribuíram para que os imigrantes
não acreditassem na derrota do Japão na Segunda Guerra Mundial. Dentro dessa mesma aná-
lise, também buscamos investigar como a guerra da informação estimulou os conflitos entre os
patrícios japoneses no Brasil.
Nas duas grandes décadas que se instaurou a ditadura militar no Chile (1973-1990), a imprensa
e os meios de comunicação de massa foram importantes atores de destaque na vida política
do país e na difusão da informação. Caberia às mídias, na condição de intermediária entre o
governo e a sociedade, informar a opinião pública e ser transparente com tudo o que ocorria.
Contudo, até que ponto a imprensa desse período se mostrava translúcida na veiculação das
notícias ou das supostas denúncias contra o regime? O fato ocorrido no dia 24 de julho de 1975,
quando membros do MIR (Movimento Revolucionário de Esquerda) se deslocaram em protes-
tos do meio rural para a cidade e foram presos e mortos na Operação Colombo, foi noticiado
tanto por diários que desmentiram o acontecido e posteriormente por revistas de oposição ao
regime que tentavam desvelar tais informações omissas. Diante dessas situações, a problemáti-
ca em torno das múltiplas interpretações sobre os fatos noticiados pelos diários e revistas assim
como os alinhamento ideológicos de cada periódico, expressos implícita ou explicitamente na
sua linha editorial, permanece em pauta. Nesse sentido, o objetivo desta comunicação é ana-
lisar mais detidamente alguns movimentos de protestos, greves e lutas populares que foram
transformados em notícias entre os anos da ditatura por diários e revistas de referência como El
Mercúrio e a revista de oposição Análisis, confrontando o tratamento dado ao mesmo episódio
pelas referidos periódicos a fim de assinalar a maneira como cada veículo conduz a narrativa
alinhando-se ao governo, omitindo informações, ou ao contrário, em oposição ao regime.
.97.
turas, exatamente no dia do massacre. Além do período histórico relacionado, recepção que foi
concebida essa obra desde seu roteiro até a pós-estreia, oportunizou questionamentos sobre
o Massacre e, principalmente, sobre a Memória do evento, que foi apresentado pelos olhares
e diálogos das personagens da produção fílmica. A partir dessa apresentação, a comunicação
tem como objetivo realizar um debate interdisciplinar, associando a História, a Memória e o Ci-
nema, com esse tema importante da História Mexicana. O filme Rojo Amanecer será analisado
como fonte e objeto, no qual será explorado o fato histórico temático, o contexto, o processo de
produção da obra, a representação das personagens e o impacto de sua estreia na sociedade
mexicana.
.98.
Pós-graduandas(os)
Pesquisadoras(es)
Professoras(es)
MESA 36 27/07/2022
História da América Colonial
Coordenadora: Tamara Lins (UFOP) 10h às 12h
O presente trabalho tem como questões centrais investigar e analisar como a atuação política
e os papéis exercidos pela líder feminina Bartolina Sisa, ao largo das rebeliões indígenas que
marcaram o fim do século XVIII, na região do Alto Peru, foram revisitados, articulados e interpre-
tados no âmbito da memória pública, a partir do contexto da virada do século XXI, que culminou
no Proceso de cambio e o Estado Plurinacional da Bolívia. Para tanto, está amparado pelos de-
bates em torno das questões de gênero e étnico-raciais, bem como História indígena e História
das mulheres, a partir de um olhar interseccional sobre tais fatores. Esta investigação propõe-se
como continuidade e aprofundamento das questões levantadas a partir do trabalho principia-
do junto ao Laboratório de Pesquisa em História das Américas (LAPHA-UNIFESP) – liderado
pelos professores da Unifesp, Mariana Martins Villaça e José Carlos Vilardaga - com pesquisa de
iniciação científica e monografia, durante a graduação.
.99.
amazônicas, como as províncias de Quijos, Macas, Maynas e Jaén. As informações sobre o con-
trabando do tabaco indicam a participação de autoridades políticas, militares e de religiosos,
bem como de indígenas nessa atividade, que não ficava circunscrita ao espaço das províncias
mencionadas, atingindo outros pontos da Audiência e territórios vizinhos. Com base principal-
mente na documentação da Série Estanco, do Arquivo Nacional do Equador, além de fontes
administrativas variadas sobre a região, essa apresentação abordará as práticas de contrabando
do tabaco nas décadas finais do século XVIII, indicando as rotas dessa atividade e os agentes en-
volvidos nesse ilícito negócio nas zonas amazônicas. A situação fronteiriça desse espaço com a
América lusa (principalmente com relação à Província de Maynas) deu margem também para o
contrabando do “tabaco português” para o território hispano-americano, o que será igualmente
abordado.
Em Vila Rica do Espírito Santo, uma das principais cidades da região que ficou conhecida como
Guairá, na província do Paraguai e Rio da Prata, ocorreu em setembro de 1607 uma visita para
averiguar informações acerca da situação de alguns indios del rey. Havia a suspeita de que um
grupo de indígenas pertencentes a uma das encomiendas da Coroa estaria sob a indevida
posse de alguns “oficiais reais”, gerando prejuízo para os caixas da região. O documento aqui
analisado apresenta a averiguação do caso em questão, que conta com um interrogatório feito
pelo juiz visitador aos indígenas encomendados. A partir dessa fonte, e especialmente das res-
postas dos trabalhadores indígenas, o objetivo da presente comunicação é abordar as especifi-
cidades das encomiendas da Coroa enquanto uma categoria de trabalho indígena específica,
buscando analisar as diferenças em relação às demais modalidades de trabalho aplicadas na
região entre fins do século XVI e as três primeiras décadas do século XVII.
Um hábito comum aos fiéis católicos da Península Ibérica e das Américas foi a fundação das
Capellanías de Missas. A origem de dito costume religioso remonta ao século IX, com a prática
da sociedade medieval de se receber orações em troca de doações piedosas. Para o século XVI
temos uma estrutura similar: as Capellanías eram um contrato feito pelo fundador da mesma
que se comprometia a deixar parte de seus bens para que, em troca, durante sua vida e, sobre-
tudo, após sua morte, fossem rezadas certo número de missas, com a finalidade de alcançar a
salvação eterna. Dita prática foi amplamente difundida na Modernidade, uma vez que temos
nelas a intercessão de interesses religiosos, econômicos e sociais. Nosso objetivo neste trabalho
é analisar os trabalhos que foram desenvolvidos tendo a Capellanía como temática principal.
Para alcançar tal objetivo, revisaremos quatro diferentes momentos da produção historiográfi-
ca sobre o tema proposto: as investigações publicadas entre as décadas de cinquenta e início
.100.
dos anos noventa; as pesquisas feitas por pesquisadores mexicanos a partir de meados dos
anos noventa, cujo enfoque se centra na relação da Capellanía com a economia colonial; um
terceiro grupo de pesquisadores mexicanos cuja ênfase se expande para a relação das Capella-
nías com as temáticas religiosa e social e não se apoia no enfoque econômico; e por fim deba-
teremos com algumas investigações sobre as Capellanías produzidas sobre as demais regiões
do Império Espanhol.
MESA 37 27/07/2022
História política e cultural dos Estados Unidos
Coordenador: Igor Lemos (UDESC) 10h às 12h
Notas sobre a performance política de Gloria Estefan nos Estados Unidos (década de
1990)
Ao longo da década de 1990, Gloria Estefan iniciou sua carreira como artista solo e projetou-se
globalmente como uma das principais vozes da comunidade exilada cubana nos Estados Uni-
dos. Nesse contexto, lançou álbuns como Mi Tierra (1993) e Abriendo Puertas (1995) e iniciou seu
novo engajamento na construção de espaços de visibilidade latina no mercado fonográfico
global. No entanto, se a dimensão artística de Gloria Estefan é um dos principais elementos
pelos quais ela é reconhecida, seu engajamento político e social tem recebido poucas análises.
O objetivo desta apresentação é analisar a atuação política de Gloria Estefan em espaços onde
agiu como agente política dos interesses americanos, a exemplo de convites para representar
os EUA na 47ª sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas (1992) e nas suas menções em
.101.
memorandos presentes na biblioteca presidencial Bill Clinton, ou da comunidade cubana exila-
da, enfocando as formas de “presença” política, como no envolvimento como mediadora entre
exilados e governo no caso Elián González. Com base nas teorias da História do Tempo Presente
e dos Estudos da Performance, analisarei como a “performance política” de Gloria Estefan tran-
sita entre sua trajetória artística, a compreensão dos setores governamentais sobre sua identi-
ficação e a construção como cantora cubana exilada. Neste sentido, demonstrarei que houve
um processo relacional no qual Gloria Estefan foi entendida como uma “figura de interesse” do
governo americano para representar politicamente a comunidade cubana exilada e como ela
utilizou essa abordagem para negociar os interesses de grupos cubanos e latino-americanos no
país.
Este trabalho tem por objetivo construir uma análise sobre como o termo fascismo é emprega-
do e representado na história O Cavaleiro das Trevas, publicada no ano de 1986 pela editora DC
Comics. Escrita por Frank Miller, a história é um marco na cronologia do Batman, um dos heróis
mais renomados da editora, trazendo um Batman já aposentado, que se vê forçado a retomar
suas atividades como vigilante 10 anos após ter sido forçado a parar, por ordens do governo dos
EUA. Nesse retorno, é promovido um debate dentro da sociedade discutindo não só a legitimi-
dade do vigilantismo, mas como as atitudes do herói se sobrepõem à lei, colocando o mesmo
em rota de colisão com a polícia e com o governo dos EUA. Nesse debate, o termo fascista é
empregado para caracterizar certar atitudes do herói. Frank Miller afirma que uma de suas prin-
cipais inspirações para construir a Gotham City, cidade fictícia onde se passam suas histórias, é
a Nova York dos anos de 1980, tomada pelo crime, pelo aumento do consumo de drogas e pela
violência. Nesse sentido, a ideia aqui é contextualizar a produção, e perceber através das análi-
ses como e por que o termo fascismo é utilizado como um recurso literário dentro da obra, no
período em questão.
MESA 38 27/07/2022
Cinema latino-americano em debate
Coordenador: Samuel Torres Bueno (UFMG) 10h às 12h
O presente trabalho busca ampliar e dar visibilidade as batalhas pela memória na América La-
tina, por meio da análise dos filmes “Eles não usam black tie” (Brasil, 1981) e “Democracia em
vertigem” (Brasil, 2019). A partir de uma perspectiva decolonial, pretende-se desconstruir o con-
.102.
ceito de verdade em relação à história e memória oficiais e possibilitar a preservação das me-
mórias, por um processo de resistência e luta pela emancipação das histórias reais e memórias
subterrâneas. Diante disso, é necessário batalhar pela descolonização dos espaços, das insti-
tuições, dos corpos e das mentes, além de preservar a memória e a História de modo que não se
permita a reprodutibilidade das barbáries, catástrofes e desumanizações ocorridas no passado.
Neste contexto, pretende-se explorar, também, o movimento das marés rosa e azul e como as
ondas conservadoras se fortaleceram na América Latina contemporânea, onde as democracias
estão ameaçadas, fragmentadas e em vertigem.
Esta comunicação se dedica a analisar o papel que os festivais de cinema da França tiveram na
difusão do cinema de exílio e de denúncias sobre a repressão no Chile no contexto após o golpe
de Estado (1973-1977). Para isso, trabalhamos com um caso paradigmático, que foi a exibição
das duas primeiras partes da trilogia A batalha do Chile (1975-1976), dirigida pelo cineasta chile-
no Patricio Guzmán, nos festivais franceses na época de seu lançamento. Os episódios iniciais
desse documentário, que denunciaram as razões que levaram à queda de Salvador Allende,
foram mostrados, particularmente, no Festival Internacional do Filme de Cannes e no Festival
Internacional do Filme de Curta-metragem e do Filme Documental de Grenoble. A pesquisa
utilizou como fontes principais os artigos que foram veiculados na imprensa francesa da época,
bem como os catálogos da Quinzena dos Realizadores (instância na qual os filmes de Guzmán
foram mostrados em Cannes). Com isso, procuramos compreender os circuitos de exibição que
legitimaram o documentário como um produto cultural importante para a memória coletiva
sobre a Unidade Popular e o golpe de Estado. A comunicação também tem como objetivo
estudar os festivais em suas múltiplas dimensões, como um lugar de projeção, elaboração de
discursos políticos e encontro de diferentes instâncias do meio cinematográfico (realizadores,
técnicos, crítica etc.), analisando seu papel para a articulação de redes transnacionais de solida-
riedade ao Chile nos anos 1970.
.103.
nas questões nacionais, em finais da década de 1960 os dois artistas expandiram seu espaço de
interesses e ultrapassaram as fronteiras do seu país de origem, buscando aprofundar e ampliar
sua reflexão para uma experiência que seria, mais do que brasileira, latino-americana. O objetivo
deste trabalho é analisar como esses dois sujeitos fundamentais política e culturalmente para
o Brasil e a América Latina leram a realidade do subcontinente em quatro realizações, duas de
cada um: os filmes Terra em transe (1967) e Cabezas cortadas (1970), de Glauber Rocha, e as
peças Dura lex sed lex no cabelo só gumex (1967) e Papa Highirte (1968), de Oduvaldo Vianna
Filho.
MESA 39 27/07/2022
Arte e cultura na América Latina
Coordenadora: Priscila Miraz (UFRB) 10h às 12h
.104.
ticas históricas tem promovido e valorizado tanto jogos eletrônicos quanto de tabuleiro como
uma das principais formas de manifestação da história feita pelo público. Deste modo, jogos
carregam consigo diversas representações sobre acontecimentos históricos através de suas na-
rrativas textuais, imagens, mecânicas e dinâmicas que podem ser analisadas através de um
estudo minucioso e interdisciplinar. Em particular, os jogos analógicos distribuídos de forma
comercial são os objetos desta pesquisa inicial por terem uma relação estreita com temáticas
históricas, serem capazes de materializar e emular processos históricos através das regras e
seus componentes e, por fim, o crescente interesse por jogos de tabuleiro como ferramenta
potencializadora do ensino-aprendizagem. O principal objetivo deste trabalho é analisar como
os jogos de tabuleiro representam a América Latina nos séculos XV e XVI por meio dos seus
componentes físicos (ilustrativos e narrativos) e forma (mecânicas e dinâmicas) em 6 jogos: Age
of Empires, Navegador, Pindorama, Conquistador: The Age of Exploration, França Antártica e
The Quest for Eldorado. A metodologia aplicada será a Análise de Discurso, procurando deixar
em evidência o dito e o não dito pelas regras dos jogos e seus componentes na construção e
ressignificação de identidades e sua interpretação próprio passado. Além disso, será levado em
consideração o contexto de produção desses jogos com uma atenção maior para seus autores,
local de produção e estilo de jogo escolhido (Eurogame ou Wargame).
A série de dramédia Jane The Virgin (2014), é uma adaptação estadunidense da telenovela ve-
nezuelana Juana La Virgen (2002). O enredo se centra na vida de 3 gerações de mulheres – Jane,
Xiomara e Alba - da família Villanueva, de origem venezuelana, que vivem em Miami, Flórida.
Neste texto proponho problematizar o elemento da telenovela, como fator para a constituição
de uma identidade pan-latina para as personagens, ou seja, uma mitificação da identidade
latina como unificada, única, nacional, senão global, sem vinculação à uma país específico da
América Latina para os imigrantes latino-americanos e seus descendentes nos EUA. Este é um
fator importante, pois é um condutor narrativo. As Villanueva de reúnem para assistir novelas,
ocupando um importante papel na vida cotidiana familiar. Também influenciando o roteiro, a
série é repleta de plot twists, melodrama, vilões caricatos. Da mesma forma são relevantes nas
escolhas estéticas que dão visualidade à trama. Para tal análise parto da abordagem metodo-
lógica proposta por Marcos Napolitano (2005) para o estudo de fontes audiovisuais em duas
decodificações: 1) primeira a compreensão da natureza técnico-estética da obra e 2) natureza
representacional da obra.
.105.
1985 integrou o Colectivo Acciones de Arte, grupo responsável pela realização de intervenções
artísticas, principalmente em Santiago, sempre trazendo contundentes denúncias ao contexto
político vigente. Concomitantemente, Zurita desenvolveu uma vasta produção literária, tam-
bém marcada pela análise crítica sobre o pinochetismo, bem como por suas contribuições com
o desenvolvimento de uma produção cultural de neovanguarda no país. Purgatorio foi a sua
primeira publicação literária, em que o artista uniu poesia e arte visual, criando uma produção
inovadora esteticamente, além de comprometida em denunciar a violência do Estado chileno
à época. Nesse sentido, a apresentação será dividida em duas partes: primeiramente debate-
remos sobre aspectos gerais da trajetória do poeta, objetivando apresentar a sua participação
em coletivos artísticos, grupos de estudos e publicações em livros e revistas. Em seguida, anali-
saremos o modo como Zurita construiu e divulgou o livro Purgatorio e quais foram as possíveis
contribuições, por meio de tal obra, na luta anti-ditatorial no Chile. Por conseguinte, a análise
será feita, sobretudo, sob o amparo teórico-metodológico da História Intelectual e da História
dos Intelectuais, e das discussões sobre as relações entre História e Literatura.
MESA 40 27/07/2022
Independências, ensino e imaginários populares
Coordenadora: Hevelly Ferreira (UFJF) 14h às 16h
.106.
tes Getúlio Vargas e Juan Domingo Perón receberam milhares de cartas de “pessoas comuns”,
nacionais e estrangeiros, de todas as partes do Brasil e da Argentina. As missivas foram lidas,
encaminhadas a outros Ministérios pelos funcionários estatais para emitirem pareceres e res-
pondidas pela Secretaria da Presidência da República, no caso brasileiro, e pela Secretaria de
Assuntos Técnicos, posteriormente transformada em Ministério de Assuntos Técnicos, no caso
argentino. Elas também foram amplamente utilizadas pela propaganda política, para produzir
ou endossar as imagens de coesão e legitimidade aos governos, e pela censura, para mapear e
reprimir os que foram identificados como ameaças e inimigos da pátria. Nosso objetivo é anali-
sar e comparar a construção dos imaginários populares sobre a família e a pátria durante estes
regimes utilizando como fontes principais estas cartas que foram enviadas aos governantes. O
estudo destas missivas permite considerarmos que os governantes e as pessoas comuns cons-
truíram uma relação direta e pessoal, ainda que assimétrica e imperfeita, que foi sustentada e
legitimada por ambas as partes. Apesar deste aspecto comum, os imaginários sociais sobre a fa-
mília e a pátria foram interpretados, mobilizados e utilizados de maneiras distintas por homens
e mulheres, nacionais e estrangeiros, para apresentarem suas percepções, aflições, aspirações,
além de fazerem as suas reivindicações, o que revela as particularidades e as complexidades
destas relações.
História das Américas nos livros didáticos dos anos 1950: uma abordagem das
independências
Este trabalho tem como objetivo refletir sobre como a História da América era colocada em
livros didático-escolares produzidos por autores brasileiros nos anos 1950. A partir da Reforma
Curricular de 1951, a disciplina de História das Américas passava a ser componente obrigatório
para os alunos da segunda série ginasial das escolas do país. Pretendemos comparar os livros
produzidos por Alcindo Muniz de Souza, José A. Batalha e Antônio José Borges Hermida e como
estes autores conduziram suas interpretações a respeito das lutas de independência na Améri-
ca hispânica. Por fim, pretendemos refletir sobre como o processo de independência de Cuba
foi retratado enquanto um apêndice da história estadunidense num contexto de bipolarização
mundial e da aproximação Brasil-Estados Unidos a partir da Política da Boa Vizinhança. Nessa
direção, procuramos mostrar que, mesmo com as mudanças em torno do livro didático, ainda
produzimos silêncios nas abordagens a respeito da História das Américas que podem contribuir
para a disseminação de estereótipos negativos e de uma imagem derrotista de nosso continen-
te.
Ivia Minelli
Ilum Escola de Ciência (CNPEM) / Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)
O objetivo desta comunicação é explorar a construção da imagem indígena nas revistas criollas
argentinas do começo do século XX, bem como o diálogo que tais publicações estabelecem
.107.
com a institucionalização da cultura popular do período. As revistas criollas são materiais de cir-
culação efêmera, produzidos por pequenas casas editoriais nos principais centros urbanos do
país, com o objetivo de assumir por meio da voz criolla a narrativa identitária da nação. A partir
de seus programas editoriais, publicações como La Pampa Argentina. Revista Criolla de Cos-
tumbres Nacionales (1907) e Santos Vega. Revista Semanal de Actualidades (1914) nos oferecem
uma perspectiva crítica do programa governamental empreendido por homens como Ricardo
Rojas, que alocavam a cultura criollista como um passado argentino em superação. Nesse ínte-
rim, a temática indígena tangencia constantemente o debate, ora evocada para consolidar uma
narrativa histórica e cultural da Argentina, ora para desmarcar o ritmo progressista do discurso
empreendido nos festejos do Centenário de independência. Sob as premissas da História In-
telectual, propõe-se uma análise da imprensa popular criollista e seus programas intelectuais,
que desafiavam a centralização da tradição por parte do Estado.
MESA 41 27/07/2022
Existência e resistência no Chile (1970-1990)
Coordenadora: Elisa de Campos Borges (UFF) 14h às 16h
A via chilena do socialismo, proposta através da Unidad Popular, não estava escrita nos manuais
do marxismo (MOULIAN, 2005). Com essa afirmativa, Tomás Moulian analisa as estratégias e
discursos da UP durante o processo anterior e durante o governo de Salvador Allende. Ao con-
trário do que propunha o itinerário marxista, a exemplo das revoluções bolcheviques, a UP não
pautou seu projeto revolucionário nos moldes leninistas. Para o autor, a UP não fez necessa-
riamente a revolução bolchevique em seu sentido de tomada de poder, consciência de classe
e derrubada do Estado burguês. Mas sim, a fez, a partir do poder do próprio Estado, sem uma
revolução política, a UP buscava realizar uma transformação profunda dentro da própria esfera
do Estado. Marcada por contradições internas e pela problemática de sua própria historicidade
e temporalidade, a vitória da Unidad Popular transformou o cenário no Cone Sul, afinal, era uma
via não capitalista abertamente defendida por um programa político (UP) e por um presidente,
Salvador Allende. Tal fenômeno não pode ser ignorado, se ele é produto da própria polarização
ou resultado do amadurecimento das forças políticas de esquerda, o fato é que, a proposta da
via ao socialismo através da democracia, foi recebida pelos sujeitos históricos da direita como
uma grande ameaça para o país, concepção que não ficou restrita apenas a direita chilena. As
questões ideológicas do momento pautavam a experiência chilena (programa da UP e vitória
de Allende) como um assunto além das fronteiras do país. Nesta comunicação, buscaremos
analisar como documentos produzidos por órgãos de Estado, produzidos pela comunidade de
informações no Brasil, trataram o programa político da UP e a vitória das esquerdas no país
Chile.
.108.
Existência e resistência: uma análise dos boletins do exterior do Partido Socialista
do Chile nos anos de 1973 a 1975
O Partido Socialista do Chile (P.S), após o golpe militar de 1973, vivenciou debates internos que
resultaram em grandes divergências e na divisão partidária até os anos 90, quando ocorreu o
Congreso de Unidad. Esse momento protagonizado pelo partido, que culminou em sua reno-
vação ideológica, questionava a essência do chamado socialismo real e foi inspirado em pro-
cessos engendrados pelos socialistas da Espanha, Itália e França. A partir de 1974, o P.S atuou
na prática sob, pelo menos, uma dupla atuação partidária: no país e no exterior, representados
por uma direção dentro do Chile, inicialmente liderada por Carlos Lorca e Ezequiel Ponce e
uma secretaria no exterior sob o comando do então exilado e presidente do partido, Carlos
Altamirano. As tensões entre estes dois grandes grupos se transformaram em ações internas
desconectadas e no surgimento de rupturas graves no interior do partido. O objetivo desta
apresentação é analisar os Boletins do Exterior do P.S escritos durante os anos de 1973 – 1975
para observar as tendências e polêmicas que levariam a uma profunda ruptura interna do parti-
do. Tais documentos trazem não só a sua estratégia de atuação, as denúncias contra a ditadura,
mas debates importantes sobre as divergências internas que estão relacionadas, inicialmente,
com os motivos da derrota do governo da UP e com as estratégias de atuação contra a ditadura.
Recuperaremos, portanto, as discussões iniciais dessa divisão do partido, para problematizar as
principais questões que culminaram inclusive no questionamento da sua própria atuação e da
sua concepção ideológica.
Com a proposta, buscamos analisar a trajetória da revista Chile-América nos aspectos funda-
mentais que sustentaram seu projeto político-editorial: a atuação no campo dos direitos huma-
nos e das proposições político-partidárias, dois caminhos percorridos como alternativas para
resistir à ditadura militar e democratizar a sociedade chilena. Chile-América foi uma revista do
exílio chileno publicada em Roma, na Itália, entre 1974 e 1983, durante a ditadura pinochetista
(1973-1990). Foi criada, editada e dirigida por Julio Silva Solar, José Antonio Viera-Gallo, Bernardo
Leighton e Esteban Tomic. Todos estiveram exilados e tiveram como marca comum a atuação
na política chilena, o pertencimento a partidos políticos que se transformaram em resistência à
ditadura de Augusto Pinochet, com destaque para a IC, o MAPU e a DC. O projeto de criação da
revista foi justamente o de aproximar setores da UP e da ala mais crítica e progressista da DC,
com o objetivo de projetar uma unidade programática de oposição e resistência à ditadura que
esboçasse os caminhos para uma transição à democracia. Chile-América se dedicou a divulgar
e interferir no debate político e acabou por se colocar como vetor importante da renovação so-
cialista chilena desde o exílio. Atuando em redes transnacionais de direitos humanos, impulsio-
nou a circulação das denúncias que se produziram contra os crimes da ditadura. Abordaremos
.109.
de forma geral esses aspectos, destacando os elementos mais representativos da ação política
de Chile-América.
MESA 42 27/07/2022
Religiosidades, identidades e representações políticas
Coordenadora: Mariana Lopes Trindade (UFMG) 14h às 16h
O presente trabalho levanta de que maneira os referenciais religiosos estão presentes nos Nun-
ca Más argentino e uruguaio. Publicados na década de 1980, os Informes se tornaram obras
canônicas que denunciavam os crimes e violações dos direitos humanos durante as ditaduras
militares seguidoras da Doutrina de Segurança Nacional na Argentina e no Uruguai entre 1970
e 1980. As publicações detalhavam como os regimes militares elaboraram um eficaz e terrível
aparato repressivo, no intuito de perseguir, aprisionar e eliminar seus opositores, enquadrados
como “subversivos” e “terroristas”. Esse discurso apregoado pelos militares, de estarem com-
batendo uma ameaça a “sociedade cristã ocidental”, era sua justificativa para legitimar a re-
pressão e o Terrorismo de Estado. Os Nunca Más quebram com essa visão, frisando a condição
de vítima daqueles atingidos pelo acionar repressivo, e de que modo estes sujeitos sofreram por
terríveis privações. Uma destas chaves para ressaltar o quanto estas vítimas sofreram foram o
uso de analogias e metáforas religiosas, sobretudo as cristãs. Neste sentido, este estudo anali-
sará de que modo a iconografia e referências religiosas fazem parte da construção da narrativa
dos Informes, e de que modo ela é utilizada para despertar o sentimento de empatia do público
para com as vítimas das violações dos direitos humanos.
.110.
geração, nascida durante a Guerra Fria e que cresceu tendo acesso a produtos da indústria cul-
tural, como rádio e televisão. Importante delimitar que o ensaio se propõe a fazer um estudo de
caso da juventude entre 17 e 21 anos, estudantes da UNAM e de classe média. Por fim, a autora
ainda trata do princípio da insurgência estudantil contra o regime de Díaz Ordaz, retratando o
movimento estudantil entre 26/07/68 e 19/08/68.
Emmanuel Samuel
Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA)
Este artigo se insere na análise crítica do Vodu como pensamento afro-latino-americano, sua
luta política e sua enorme contribuição no pensamento latino-americano. Neste sentido, o pre-
sente trabalho apresenta o Vodu nos seus aspectos religioso, político e seus valores epistêmicos.
Além de ser uma religião, é uma filosofia de vida voltada a liberdade, a ruptura epistemológica
do paradigma dominante. O que faz com que o Vodu problematiza a matriz epistêmica ociden-
tal e a legitimidade do deus europeu. É parte fundante da identidade do povo haitiano, porém
por ser um sistema de religião afro-latino-americana, a literatura eurocêntrica tenta invisibi-
lizá-lo e o caracteriza como bárbaro. Estabelece-se uma ética de como deve ser uma religião
com base nas características do cristianismo. Na tentativa do resgate do Vodu no pensamento
latino-americano, nosso trabalho faz uma crítica as teorias ocidentais em que tiram o Vodu do
seu espaço cultural, epistêmico e político. Devido a isso, nossa proposta constitui uma quebra
de paradigma e visa a contribuir para o pensamento latino-americano. Faz-se necessário o des-
confinamento da ideia fixa da noção de religião na matriz ocidental. Neste cenário, é preciso
analisar e revalorizar o Vodu não apenas como espaço de espiritualidade, mais também como
um pensamento pluriversal e com aporte no pensamento social latino-americano.
MESA 43 27/07/2022
Estado Nacional, identidade e genêro na América Latina do XIX
Coordenador: Ricardo Gazetta da Silva (UNESP) 14h às 16h
Propõe-se discutir acerca de como a linguagem política produzida no Senado do Império nos
primeiros anos da Guerra da Tríplice Aliança (1864-1866) refletiram uma série de representações
sobre a Política Externa do Brasil em relação ao Prata pautada na ideia de distanciamento, di-
ferenciação e desconfiança. Lança-se a hipótese segundo a qual esse ideário reitera a noção
de que as repúblicas do Prata, diferentemente da Monarquia brasileira, seriam desordeiras e
instáveis, podendo isso estar ligado a uma concepção que surgiu ainda no processo de ruptura
do regime colonial no Brasil. Discute-se, desta forma, se tal processo, baseando-se na ideia de
.111.
Revolução Conservadora (PIMENTA, 2009), pôde delinear um hiato entre o Brasil e o Prata que
vai se acentuar no irromper do conflito da Tríplice Aliança, ajudando, ainda, a impregnar a lin-
guagem política das relações exteriores do Império com a ideia de civilização. Utilizam-se, como
fontes primárias, os discursos presentes nos Anais do Senado.
Controlar los mitos. Nación, historiografía e intelectuales en el Perú del siglo XIX
Juana Paula Manso, historiadora: a escrita de biografias por uma mulher na Buenos
Aires oitocentista
Em março de 1864, Juana Paula Manso iniciava a publicação de uma série de textos biográfi-
.112.
cos intitulada Mujeres ilustres de la América del Sur. A notícia deste lançamento aconteceu no
segundo número do jornal La Flor de Aire, um dos vários projetos de letras dos quais Manso
participou ativamente entre as décadas 1850 e 1870 em Buenos Aires. Foi neste jornal e no se-
manário La Siempre-Viva, também de 1864, que a intelectual publicou narrativas que escreveu
sobre as trajetórias de duas mulheres sul-americanas: Encarnación Sanguinet de Varela e Luisa
Díaz Vélez de La Madrid. Antes e depois desta iniciativa, no entanto, Juana Manso produziu ou-
tras biografias femininas, como a de Camila O’Gorman e a de Antonia Maza de Alsina. Esta co-
municação se propõe a analisar estes escritos sobre o passado de Manso refletindo sobre a sua
atuação como uma “mediadora intelectual” (CASTRO; HANSEN, 2016) e, mesmo, como uma his-
toriadora amadora, em uma perspectiva que relaciona os estudos de história da historiografia e
os de gênero (SMITH, 2003; PALETCHEK, 2009; EPPLE, 2013; OLIVEIRA, 2018). Busca-se verificar a
sua perspectiva, como mulher e feminista, sobre acontecimentos, personagens e processos do
passado e sobre o papel da história para a sociedade e para as mulheres argentinas. Além disso,
intenciona-se compreender a forma de narrativa empregada e os recursos metodológicos utili-
zados por Juana Paula Manso em sua escrita da história, especialmente refletindo sobre como
as mulheres tematizavam o passado e quais eram as formas de circulação e apresentação de
sua produção historiográfica no oitocentos.
MESA 44 27/07/2022
Nas teias da diplomacia: viagens, negociações e sociabilidades na
segunda metade do século XIX 14h às 16h
Coordenador: Gabriel Passetti (UERJ)
Gabriel Passetti
Universidade Federal Fluminense (UFF)
Esta apresentação analisa os ofícios enviados por Luiz Augusto de Pádua Fleury, Encarregado
de Negócios do Império Brasileiro em Buenos Aires entre 1874 e 1876. A partir do caso daquele
diplomata em ascensão na carreira, oriundo de uma típica família da elite imperial de província
periférica, são apresentadas suas conexões sociais naquela capital e como suas origens monar-
quistas marcaram um olhar imperial sobre o sistema político argentino. Naqueles anos, oco-
rreram uma série de revoluções armadas (Revolução Mitrista e Rebelião Jordanista) que foram
observadas e descritas como exemplares da incapacidade administrativa do sistema republica-
no. O foco na análise, portanto, não está sobre as negociações internacionais, mas como o lugar
de origem do diplomata estabelece parâmetros e limitações às suas análises, marcadas pelo
estranhamento e pelos desafios de viver em terras estrangeiras.
Neste trabalho, analisamos as trajetórias e ideias de três importantes agentes políticos e diplo-
máticos de meados do século XIX: o argentino Bartolomé Mitre, o uruguaio Andrés Lamas e o
.113.
brasileiro José Maria da Silva Paranhos. Pensando-os de forma conectada, ganham destaque
suas redes de sociabilidade e as experiências que os aproximaram, como a vivência em Monte-
vidéu, as missões diplomáticas, a guerra e os estudos históricos no Rio da Prata. A partir de um
processo de intercâmbio e de circulação de ideias, estes atores são entendidos como parte da
formação do pensamento uns dos outros e importantes na construção de diálogos entre seus
países em um momento ainda de indefinição das nacionalidades, de conflitos e de disputas de
fronteiras. Para isto, percorremos episódios marcantes de suas trajetórias individualmente ou
em conjunto. O vínculo com o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, instituição a qual os
três pertenciam, também é entendido como importante ponto de conexão que os relaciona.
Neste sentido, ganha destaque a notável aproximação entre escrita da história e diplomacia
em meio ao processo de formação dos Estados Nacionais na região. Como fontes são utilizadas
correspondências trocadas entre eles, periódicos e alguns de seus textos, como livros e artigos.
O presente artigo analisa o processo de construção do crédito peruano nos mercados interna-
cionais entre 1849 e 1876. O artigo parte da formação do mercado global do guano e localiza as
estratégias do Peru, derivadas da venda e concessão do fertilizante natural. A pergunta central
que o artigo busca responder é como um país com instituições desacreditadas tornou-se o
maior mutuário da América Latina entre 1849 e 1850, acumulando uma dívida de £33 milhões.
Parte da resposta situa-se em três estratégias desenvolvidas pelos agentes peruanos em torno
das exportações de guano: 1) o arranjo das garantias dos empréstimos com casas comerciais
reputáveis; 2) intensa negociação com bancos europeus em disputa por esses empréstimos
garantidos e 3) manipulação de relatórios dos depósitos do fertilizante. O artigo defende que
instituições estáveis não são necessariamente condições essenciais para construção de uma
boa reputação creditícia para economias periféricas, como a experiência peruana analisada de-
monstra.
Rotas em colisão: a disputa pela fronteira entre Brasil e Argentina na Foz do Iguaçu
por meio da ótica dos agentes do Estado (1882-1905)
O presente trabalho consiste numa proposta de análise de relatos realizados por agentes esta-
tais brasileiros e argentinos que se dirigiram à fronteira Brasil-Argentina entre 1882 e 1905, mais
precisamente, na região da desembocadura do rio Iguaçu no rio Paraná. Não se tratava de um
território consolidado, mas de um espaço indefinido e projetado pelas duas nações como parte
de seus respectivos territórios. Estes homens a serviço de seus respectivos governos manifesta-
ram entreolhares que, para além de serem consideradas manifestações de alteridade para com
o outro estrangeiro, refletem muito sobre a política externa de cada país em relação à ocupação
deste espaço litigioso que viria a ser demarcado a partir da assinatura do Tratado de Palmas em
1895.
.114.
MESA 45 28/07/2022
História das mulheres na América Latina
Coordenadora: Ingrid Thibes (UNESP) 10h às 12h
Gabriela Theodoro
Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)
Dentre os manuscritos de medicina escritos na América platina e que circularam entre os agen-
tes encarregados das artes de curar no século XVIII está o Libro de Cirugía. Trasladado de autores
graves y doctos para alívio de los enfermos. Escrito en estas Doctrinas de la Compañía de Jesús,
año de 1725. Em um dos nove capítulos que compõem a obra, o autor-compilador detém-se nas
enfermidades que acometiam exclusivamente as mulheres, discorrendo sobre os denomina-
dos “males de madre”, relacionados com a gestação e o parto, e apresenta receitas indicadas
para o tratamento tanto das doenças que afetavam o útero feminino, quanto de hemorragias
excessivas após o parto ou em consequência de abortos. Nosso propósito nesta comunicação é
discutir as percepções do corpo feminino – saudável e enfermo – presentes no Libro, as evidên-
cias de apropriação de obras de autores clássicos e contemporâneos que se debruçaram sobre
enfermidades femininas, bem como os indícios da circulação de saberes e práticas medicinais
presentes no manuscrito anônimo de botica e cirurgia, resultante do contato dos encarregados
das artes de curar com as populações nativas americanas.
Objetiva-se neste evento a apresentação da pesquisa sobre os papéis políticos e sociais exerci-
.115.
dos pelas guerrilheiras do Movimento 26 de Julho (M-26-7) após o triunfo da Revolução Cubana,
em 1959. O periódico cubano Revolución (1959-1961), foi um órgão midiático criado pelo M-26-7,
e circulou de maneira clandestina no período de luta insurrecional, contra a ditadura de Fulgên-
cio Batista. Logo após a vitória revolucionário o periódico passou a ser o porta-voz do M-26-7 e
um grande apoiador do governo vigente. A partir da ótica do periódico Revolución, o intuito da
pesquisa será investigar as funções exercidas pelas guerrilheiras na liderança política e social da
ilha, entre elas, Vilma Espín, Célia Sanchez e Haydée Santamaría, partindo de uma reflexão so-
bre os papéis sociais estabelecidos no contexto histórico cubano deste período. As investigações
serão realizadas a partir da Nova História Política, com foco no campo da História das Mulheres,
nas discussões de gênero, cultura política e o poder. A discussão metodológica será realizada a
partir da História por meio da Imprensa e por meio dos conceitos de presença e ausência.
Apresentamos por meio desse trabalho os relatos de viagem escritos pela jornalista e intelec-
tual espanhola Carmen de Burgos Seguí (1867-1932) a países hispano-americanos. Valendo-nos
dos aportes teórico-metodológicos da História Intelectual e da História das Relações de Gênero,
buscamos compreender como a autora compreende os papeis destinados as mulheres de sua
época e as comparações realizadas entre os países visitantes. Enfocamos sobretudo na viagem
empreendida à Argentina em 1913, em que foi financiada pela Junta de Ampliación de Estudios
Española para realizar conferências de diversas temáticas no país. Analisamos sua narrativa por
meio do discurso lido no Salón de Actos del Círculo Mercantil e Industrial de Almería, intitulado
Impresiones de la Argentina, já em seu regresso à Espanha. Ademais, nos utilizamos das publi-
cações dos principais jornais argentinos da época para reconstruir seu percurso e as redes de
sociabilidade por ela estabelecida. As publicações realizadas pela mesma nos jornais espanhóis
também são de suma importância para o entendimento da perspectiva de Burgos sobre o país.
MESA 46 28/07/2022
História Intelectual e exílios na segunda metade do século XX
Coordenadora: Silvia Miskulin (USP) 10h às 12h
Leonardo Padura, em seu romance Como poeira ao vento, retratou como diferentes gerações
lidaram com a enorme crise vivida em Cuba a partir dos anos 1990. Com o fim da União Sovié-
tica, o país enfrentou grandes carências e dificuldades econômicas, “período especial” em que
inúmeros cubanos se exilaram. No romance, os amigos que constituíam o Clã viveram este di-
.116.
lema em relação à diáspora, e suas trajetórias, dentro e fora de Cuba representaram diferentes
maneiras de lidar com as transformações mais recentes ocorridas no século XXI na ilha.
“Ficção privada”: arquivos pessoais entre privado e público, entre ficção e história
Andrés Di Tella, em filme intitulado “Ficção particular” (2019), recobra do arquivo pessoal e fa-
miliar as cartas trocadas durante décadas entre seu pai, Torcuato e sua mãe Kamala, ele um
jovem rico, ela, uma jovem das altas castas indianas, ambos imbuídos de utopias e ideiais pro-
gressistas. Estudantes, conheceram-se em Londres onde estudavam nos anos 1950 quando se
desenvolve uma paixão que os unirá por mais de duas décadas. Em contexto histórico diverso
e distante da tentativa de tentar resgatar ou reconstituir o contexto original daquela paixão,
Di Tella, em 2019, propõe a dois jovens a leitura das cartas, deslocando-as para a atualidade. O
problema é o mesmo que atravessa os estudos historiográficos atuais: que podem nos dizer os
documentos, mais propriamente as fotografias e as missivas? O que lhes acontece quando, ex-
tirpadas da esfera privada do amor, da família e do casamento, são integrados à esfera pública,
lugar próprio dos filmes documentários? Di Tella ensaia uma forma de abordar as intersecções
entre o público e o privado, entre a história do casal e a história argentina. De maneira análo-
ga, os mesmos questionamentos aparecem no romance “Respiração Artificial”, (bem como em
outros dos seus escritos) do ensaísta argentino Ricardo Piglia. As missivas recuperadas de um
defunto interrogam a história e o espaço público onde as narrativas sobre a história argentina
se desenvolvem. Sobressai no filme e no romance a difícil desafio - exercício ético – de lidar com
as afasias características dos países uma vez colonizados e depois submetidos à dolorosas dita-
duras, comuns na América Latina do Século XX.
.117.
Historiadoras negras da diáspora: o trabalho intelectual de Beatriz Nascimento
(Brasil) e Daisy Rubiera (Cuba)
MESA 47 28/07/2022
Ditadura e justiça na América Latina
Coordenadora: Larissa Jacheta (UFRN) 10h às 12h
Em outubro de 2021, o presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, publicou o decreto
de criação da Comisión para el Acceso a la Verdad, el Esclarecimiento Histórico y el Impulso a la
Justicia. A iniciativa é o resultado das reivindicações defendidas por organizações de direitos hu-
manos e por familiares de pessoas mortas e desaparecidas durante a chamada “Guerra Suja”. O
termo faz referência ao período que vai de 1965 a 1990 e no qual houve o emprego sistemático de
práticas de contrainsurgência para a perseguição e aniquilação de movimentos armados e so-
ciais, tanto na área urbana quanto rural do país. Tais práticas resultaram em graves violações aos
direitos humanos, além do desaparecimento forçado de centenas de pessoas. A investigação e
a punição dos crimes, porém, além da reparação das vítimas e o direito à memória e à verdade
sobre o período, ainda são tarefas pendentes no país. A Comissão da Verdade criada por AMLO
não é o primeiro instrumento de justiça de transição instituído para investigar a Guerra Suja. Em
2001, Vicente Fox, presidente que marcou o fim de 71 anos de governos ininterruptos do Partido
Revolucionário Institucional, criou a Fiscalía Especial para Movimientos Sociales y Políticos del
Pasado (Femospp). No entanto, o organismo não conseguiu concluir com êxito as investigações
jurídicas e punir os perpetradores de violações aos direitos humanos. Este trabalho tem como
objetivo, portanto, analisar a criação da atual Comissão da Verdade à luz das discussões sobre a
justiça de transição mexicana e fazendo um paralelo com a experiência anterior, representada
.118.
pela Femospp. Além disso, busca entender as atribuições do novo organismo, sua composição,
mandato e a forma como os pesquisadores, os organismos de direitos humanos e familiares,
além da opinião pública, dialogam com a nova iniciativa.
Esta comunicação aborda as reflexões iniciais da minha dissertação de mestrado que investiga
de forma comparada a literatura infantil durante a ditadura militar no Brasil (1964-1985) e Ar-
gentina (1963-1983). Entre as obras estão: “A droga da obediência”, escrita por Pedro Bandeira
em 1984, “Uma história meio ao contrário” de Ana Maria Machado (1977) e “Um elefante ocupa
muito espaço” de Elsa Bornemann (1977). Partimos do entendimento de que a literatura infantil
também serviu como um espaço de denúncias e resistência frente ao regime ditatorial. As tra-
mas dos livros, característicos do “faz de conta”, são construídas para envolver o público infantil,
porém evidenciam traços sociais, culturais e políticos da realidade histórica do período em que
foram produzidos, entre as décadas de 1970 e 1980. Por esse motivo, a literatura infantil possui
elementos com um grande sentido histórico ao mesmo tempo em que corrobora no entendi-
mento do meio social em que se insere, expondo os crescentes conflitos entre ditadura e movi-
mentos de resistência que se formavam através desse processo.
O Paraguai, o Brasil e a Argentina foram palco, ao longo do século XX, de golpes militares que
desencadearam violentos regimes de segurança nacional, cujas especificidades nacionais pau-
taram distinções também nas transições vivenciadas por cada um desses países, relacionadas,
principalmente, à justiça, às políticas de memória e à busca pela verdade. Sobre esse último
aspecto, a análise comparada entre os relatórios finais das Comissões da Verdade instaladas,
respectivamente, em 2003, 2012 e 1983 permite o mapeamento de diferentes leituras acerca de
temas como a padronização do aparato repressivo, a participação da sociedade civil no regime,
os intercâmbios estabelecidos entre as ditaduras do Cone Sul, violência contra minorias e a
atuação da resistência ao longo de cada período autoritário. O objetivo desse trabalho é iden-
tificar e analisar de forma comparada as distintas representações presentes nos três relatórios
finais das comissões acerca da luta armada, a partir de quatro principais eixos: a relação estabe-
lecida entre as ações das guerrilhas e a crescente da repressão do Estado autoritário; o histórico
de militância dos seus membros, a aproximação das guerrilhas com o movimento campesino e
o processo de desmantelamento da luta armada em cada um dos contextos nacionais.
Neste trabalho analisamos o testemunho como parte imprescindível para compreender a expe-
.119.
riência do Terror de Estado materializado em práticas de tortura. Para tal, utilizamos a obra chi-
lena Tejas Verdes (1978), de Hernán Valdés que, após ser confundido com o líder do Movimiento
de Izquierda Revolucionaria (MIR), vivenciou a tortura e as incertezas sobre si em sua estadia no
campo de concentração que dá nome ao seu relato autoficcional. Chamamos de relato auto-
ficcional a escrita que narra acontecimentos vivenciados e reconstruídos a partir das experiên-
cias, inclusive as posteriores a determinado evento, tal como nos ensina Paul Ricoeur (2010), ao
afirmar que a realidade será reconstruída conforme a experiência humana no tempo. Do ponto
de vista teórico-metodológico nosso trabalho explora a relação entre história e literatura, suas
contribuições para a abordagem das memórias da ditadura chilena em sala de aula por meio
de seu tema mais controverso, no caso, o uso indiscriminado e sistemático da violência física,
psicológica e da censura pelo Estado contra a sociedade civil através da diversidade de estraté-
gias e formas de estruturação sistemática do terror enquanto violência política. Utiliza-se como
referencial teórico SEVCENKO (1999), SCHÜRMANN (2004), PADRÓS (2008), SELIGMANN-SILVA
(2008), RICOEUR (2010), FAEDRICH (2014).
MESA 48 28/07/2022
História e política na América Latina contemporânea
Coordenador: Horacio Gutierrez (USP) 10h às 2h
A América Latina terá em 2022 duas importantes eleições ocorrendo: a primeira na Colômbia,
onde o preferido das pesquisas é Gustavo Petro, candidato também em 2018 e; no Brasil, as
pesquisas mostram uma vantagem para o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, inicialmen-
te candidato às eleições de 2018. Nos dois países, as pesquisas eleitorais mostram a ascensão
da esquerda como preferidas para a presidência. O Estado brasileiro tem a chance de eleger
um ex-presidente de esquerda e no caso da Colômbia, um presidente de esquerda pela pri-
meira vez nos últimos 20 anos, segundo as pesquisas eleitorais até o momento. Caso eleitos,
esses candidatos podem mudar o atual cenário da política externa sul-americana. O objetivo
é identificar as propostas de ambos os candidatos para a política externa na América Latina,
apresentadas nos programas de seus governos para as eleições de 2022 em comparação com
os divulgados em 2018. Para isso será feita a análise dos planos de governos Petro e Lula, de
2018 e de 2022, ressaltando as convergências e divergências entre os planos de governo de
ambos e identificando possíveis caminhos em comum: Houve drástica alteração nos planos
de governo após pandemia em relação à política externa? Em qual medida os planos de po-
lítica externa de ambos os candidatos convergem e divergem? Como esses planos podem
fazer uma aproximação da política externa brasileira e colombiana? Estes serão os principais
pontos a serem analisados nessa comunicação.
.120.
Estallido chileno e disputas pela memória
Horacio Gutiérrez
Universidade de São Paulo (USP)
A rebelião chilena que irrompeu nas ruas em outubro de 2019 significou um giro na transição
democrática iniciada com o fim da ditadura de Pinochet em 1990. A revolta expressou uma con-
testação contundente ao modelo econômico neoliberal implantado pela ditadura e mantido
pelos governos progressistas que lhe sucederam, assim como impulsionou a formação de uma
Convenção Constitucional para redigir uma nova Carta Fundamental para o país. Ao mesmo
tempo viu também emergir novos imaginários políticos no mundo da esquerda. O objetivo da
presente comunicação é depreender esses ideários a partir dos grafites que aos milhares a re-
volta estampou em muros e postes de Santiago.
Durante o turbulento processo constituinte boliviano (2006-2008) a atuação dos grupos indí-
genas para a conquista de seus direitos foi intensa. Quanto à oposição aos direitos indígenas na
Assembleia, se destacou o grupo identificado como “Meia Lua boliviana” com seus defensores
agindo por meio de boatos para trazer pânico à população, chegando à tortura e assassina-
do de grupos indígenas. Neste período, o direito ao pluralismo jurídico, que traria a proteção
.121.
constitucional das normas e tribunais tradicionais indígenas, foi explorado pelos políticos da
“Meia Lua” e pela mídia como “Direito Comunitário”, “império da barbárie”, levando o país à bei-
ra de uma guerra civil, tendo como resultado a vitória do direito ao pluralismo jurídico no texto
constitucional. Neste contexto, o objetivo desta comunicação estará em apresentar o panorama
pós-constitucional de efetivação do direito ao pluralismo jurídico indígena na Bolívia, quando
se fez necessária a elaboração de normas infraconstitucionais para regular este direito, além da
criação de um Tribunal Plurinacional que fosse capaz de realizar a “tradução étnica” das diferen-
tes situações envolvendo grupos indígenas e não-indígenas, trazendo novas tensões e interes-
ses contrapostos à cena boliviana.
MESA 49 28/07/2022
História Intelectual latino-americana: temas, itinerários e perspectivas
de pesquisa 10h às 12h
Coordenadora: Maria Elisa Noronha de Sá (PUC-Rio)
Na última década (2010-2020), um ativismo digital feminista ganhou força nas redes sociais,
trazendo um número maior de mulheres para uma discussão pública e ampliando o debate
de uma série de temas relacionados a questão de gênero. Hashtags utilizadas em plataformas
como Twitter provocaram grandes mobilizações. Em campanhas como #unvioladorensuca-
mino (no Chile), #niunamenos (na Argentina) e #nãoénão (no Brasil) bastava um depoimento
publicado para que inúmeros outros surgissem. Nos relatos, milhares de casos de abuso, de
sexismo e clamores contra a desigualdade entre homens e mulheres. Todos esses registros são
textos e discursos que mostram como a violência contra a mulher é uma realidade e uma pau-
ta recorrente. Só que toda essa mobilização não ficou restrita ao Hemisfério Norte, na América
Latina, ela se potencializa e adquire uma forte personalidade. Neste contexto, uma pergunta
se apresenta para os estudos historiográficos: quais são as características históricas que nos
ajudam a analisar e refletir sobre uma violência tão sintomática contra as mulheres na região?
A apresentação tem como proposta pensar a questão da raça e da mestiçagem a partir da aná-
lise de discursos de alguns intelectuais latino-americanos, nas décadas finais do século XIX, em
.122.
especial Domingo Faustino Sarmiento em seu livro Conflicto y armonía de las razas en América.
Estes discursos raciais configuraram-se como diagnósticos sobre o continente e as nações ame-
ricanas, naquele final de século, quando o conceito de raça ganhou terreno com o cientificismo
oitocentista e as novas teorias raciais que combinavam antropologia, fisiologia, evolucionismo e
métodos antropométricos. Este é um momento no qual as Américas ganham destaque como
um grande laboratório, lugar privilegiado de interação biológica, social e cultural entre os diver-
sos grupos que compunham aquelas sociedades, conformando um radical processo de raciali-
zação. Nesses diagnósticos a diversidade racial era geralmente avaliada como um grande obs-
táculo a ser superado por uma intelectualidade desejosa de alcançar a civilização e o progresso;
mas também havia os que questionavam e denunciavam os argumentos racistas, notadamen-
te no que dizia respeito à condenação da mestiçagem. A apresentação também pretende in-
vestigar a temporalização do conceito de raça, a partir de suas diversas experiências temporais
(progresso, atraso, assimetria etc.), relacionadas a uma concepção linear e histórica do tempo.
O Império do Brasil pelo olhar político de Juan Manuel de Rosas: conceitos históricos
e narrativas políticas (1835-1852)
O presente trabalho tem como objetivo refletir sobre alguns aspectos do discurso empregado
.123.
nos diversos meios de comunicação oficiais sobre o Império do Brasil durante o segundo go-
verno de Juan Manuel de Rosas a partir do estudo sobre determinados conceitos chaves do
contexto, como “Império” e “discurso”. Entende-se, em um primeiro momento, que o estudo do
conceito de “Império” pode ser um pano de fundo para as posturas políticas do governo rosista
para com o Brasil, tendo em vista as Repúblicas que faziam fronteira com o país no século XIX.
Juntamente a isso, apontar expressões e a organização do sentido do discurso empregado so-
bre o Império são importantes para identificar uma espécie de linguagem política do governo
de Rosas que, difundidas entre as províncias, aprofundou medos históricos e posicionamentos
tradicionais da Confederação para com o Brasil. A partir desses caminhos, pretende-se contri-
buir com a historiografia argentina sobre o período rosista da perspectiva das relações exterio-
res com o Brasil, bem como ampliar os estudos nesta área na historiografia brasileira.
MESA 50 28/07/2022
Agencias estatales, políticas de fomento y formación de redes de
conocimiento en América 14h às 16h
Coordenadora: Carolina da Cunha Rocha (ENAP)
Este trabajo analiza cuál fue el papel de los ingenieros y los economistas en los proyectos de po-
lítica energética del Estado posrevolucionario en México, cuyo corte nacionalista desafió el con-
trol de los recursos por parte de las compañías extranjeras. Observaré cómo estos nuevos cua-
dros técnicos concibieron el rol energía en la industrialización, en qué discusiones nacionales e
internacionales se vieron inmersos, y cuál fue su acercamiento a los problemas energéticos del
país. En un primer momento, me centraré en la Comisión Nacional de Fuerza Motriz (CNFM) y
en el desarrollo de la energía hidroeléctrica; posteriormente, analizaré el caso del Departamen-
to del Petróleo (DP) y el impulso de ese mineral; y finalmente, me centraré en el caso de la Ofici-
na de Investigaciones Industriales (OII) del Banco de México, que abordó el problema desde una
perspectiva más integral. Mi objetivo es mostrar cómo estas tecnocracias no sólo respondieron
a las transformaciones del escenario político y económico mexicano, sino que se mantuvieron
en estrecho contacto con organismos extranjeros característicos del internacionalismo de la
posguerra, como la World Power Conference, la International Petroleum Exposition and Con-
gress, y la World Economic Conference. El trabajo advierte también un cambio en la concepción
de la energía, que pasó de la idea de “fuerza motriz” o de “combustibles”, que predominó en el
periodo de entreguerras, al concepto más amplio de la “energía”, que permitía un ejercicio de
planeación económica más amplio y totalizador.
Este trabajo investiga el esfuerzo del Departamento de Agricultura de Estados Unidos (USDA)
.124.
por obtener la “independencia” azucarera de su país. Centra su atención en la investigación,
experimentación y difusión del cultivo de betabel azucarero a lo largo del siglo XIX. A través de
una política que involucró a agentes gubernamentales y privados, el USDA logró llevar hacia
Estados Unidos este cultivo e intentó reducir las importaciones de azúcar desde el Caribe. El
artículo sostiene que el USDA alcanzó éxito parcialmente pues, aunque aumentó la produc-
ción doméstica de endulzantes quedó rebasado por tres factores importantes: el crecimiento
demográfico estadounidense, los intereses de los importadores de azúcar de la costa este y la
excesiva demanda de mano de obra para la producción de este bien agrícola.
O trabalho tem como objetivo analisar a formação de uma burocracia com perfil técnico na
construção de um novo tipo de agricultura voltada para a superação de conceitos e métodos
considerados tradicionais na produção rural no Brasil, no período entre 1930 e 1955. Esta pesqui-
sa teve como foco analisar a natureza da formação profissional do pessoal técnico do Ministério
da Agricultura (MA) e ao compreender como o Estado investiu no desenvolvimento educacio-
nal de seus próprios agrônomos, veterinários e técnicos agrícolas, agentes cujo trabalho visava
a superação da pobreza, e ao mesmo tempo garantir a modernização do campo e a prospe-
ridade nacional. Através da análise do acervo da Fundação Rockefeller referente aos registros
profissionais de pelo menos 21 especialistas agrários, foi possível conhecer a participação de
alguns técnicos, suas trajetórias profissionais e os projetos de promoção agrária que, promovi-
dos pelo MA e/ou seus institutos regionais em parceria com aquela fundação privada, algo que
contribuiu para a formação de redes de conhecimento técnico em nível global, em contextos
históricos para os quais convergiam a complexidade das práticas tecnocientíficas no campo, a
diversificação das empresas agrícolas em nível nacional, a criação de mercados internacionais
de commodities e o combate à fome no cenário internacional, material que incentiva novos te-
mas de estudo sobre a Revolução Verde à brasileira.
MESA 51 28/07/2022
Imaginário sobre as mulheres indígenas: inquisição, iconografia e
cultura material 14h às 16h
Coordenador: Pedro Henrique do Vale Brasil (UFF)
O espaço platino, durante o século XVI, conjecturou-se como uma zona de fronteiras entre os
domínios ibéricos meridionais. Desde antes à década de 1550, quando se formaram os núcleos
coloniais de Assunção e São Paulo, a atuação conjunta de agentes europeus e mestiços em
.125.
busca de minerais, cativos e cativas, definiu o padrão pelo qual seguiram as expedições de
comércio e comunicação entre os espaços coloniais na América hispânica e portuguesa. Os
europeus se apropriaram da lógica tupi-guarani sobre a poliginia, casando-se com mulheres
nativas, e assim, estimularam as disputas por mulheres locais. Valora-se a interpretação das
relações de gênero entre os rios Paraná, Paraguai, Tietê e Iguaçu, destacando o protagonismo
indígena presente às negociações, às práticas culturais e ao cotidiano que envolvia escravidão,
trocas e mulheres. Através do estudo sobre a cultura material das populações tupis-guaranis,
elucida-se à circulação de mercadorias tradicionalmente manufaturadas por elas, assim como
discute-se o trabalho feminino imbuído à produção de manufaturas de origem animal, como as
mercadorias de penas de aves, e vegetal, como os panos de algodão. Por fim, pretende-se atin-
gir a mentalidade acerca das mulheres indígenas em relação à escrita dos agentes coloniais, e
pensando em longa duração, o imaginário de intelectuais contemporâneos que reapropriaram
sua imagem.
Este trabalho tem o objetivo de chamar atenção às práticas de indígenas nos sertões da Capi-
tania do Norte, registradas em denúncias inquisitoriais anotadas nos Cadernos do Promotor
durante o século XVIII na Capitania do Ceará, reconhecidas pela Inquisição como heresia. A
partir dessas fontes, temos a intenção de apresentar como o Santo Ofício atuou diante de casos
de sua alçada, como a bigamia e a feitiçaria, e de como as vivências, as relações coloniais e os
contatos da população indígena foram interpretados a partir da perspectiva ortodoxa do cato-
licismo. O exercício missionário e a atuação da igreja no processo de evangelização dos indíge-
nas são destacados, bem como compreender os limites da ação dos agentes eclesiásticos são
pontos importantes para entender os padrões morais esperados nos espaços coloniais, a partir
da leitura das experiências dos próprios povos originários. Partimos de reflexões metodológicas
baseadas no paradigma indiciário de Carlo Ginzburg para a análise dos documentos inquisito-
riais, guardados no Arquivo Nacional da Torre do Tombo (ANTT) disponibilizados em formato
digital no site da referida instituição.
O livro de Hans Staden (Marburgo, 1557) tem uma longa e prolífica história editorial. As Cenas da
Antropofagia do Brasil cunhadas na obra ganharam notoriedade na Europa da Época Moderna
com a reedição de Theodore de Bry (Frankfurt, 1592). No Brasil Contemporâneo, tais imagens
popularizam-se por meio das adaptações literárias de Monteiro Lobato e das releituras artísti-
cas do modernismo e pós-modernismo. A comunicação enfoca, na longa duração temporal,
as transformações das representações do protagonismo indígena feminino, que são latentes
.126.
no texto-imagem do livro. A partir do mapeamento de diferentes edições, foram identificadas
rupturas e continuidades no corpus de informações textuais e iconográficas sobre as mulheres
indígenas. Ao longo da história do livro, o espetáculo da nudez feminina e antropofágica suplan-
tou uma série de atividades indígenas importantes, desde a (re)produção comunitária até as
relações étnicas e de gênero. Na comparação das traduções do livro em alemão, latim, francês
e português, sentidos múltiplos emergem sobre a identidade de gênero e etnia das mulheres
representadas. Tal multiplicidade revela ainda como diferentes comunidades de interpretação
denominaram as protagonistas, de “mulheres” para “índias”. Na pesquisa, tais representações,
bem como suas interpretações e traduções feitas da Época Moderna ao tempo presente rece-
beram um novo olhar historiográfico.
MESA 52 28/07/2022
A América do Sul no tempo presente: crises, revoluções e lutas
sociais 14h às 16h
Coordenador: Rafael Pinheiro de Araujo (UERJ)
Eduardo Scheidt
Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ)
Em janeiro de 2021, morreu o malku Felipe Quispe, liderança histórica do movimento katarista
na Bolívia que se destacava como favorito para as eleições departamentais de La Paz naque-
le ano. Quispe contava com uma base expressiva de apoio em El Alto, cidade que foi palco
.127.
de várias insurreições indígena-populares e que ocupa um papel estratégico na correlação de
forças políticas na Bolívia. Nas ditas eleições, El Alto garantiu uma votação expressiva no filho
do malku, Santos Quispe, que assumiu a tarefa de dar continuidade às lutas representadas pelo
pai e elegeu também para a prefeitura da cidade a ex-masista Eva Copa, ambos por uma nova
agremiação política, o partido Jallalla. Este último constituiu-se em meio a algumas polêmicas,
mas dentro de uma perspectiva de oferecer uma alternativa ao Governo MAS a partir de uma
base indígena mais radical que bebe de tradições oriundas do movimento katarista e das for-
mulações de Fausto Reinaga sobre a Revolução Índia. Neste trabalho, proponho um recorte
intertemporal que vai do resgate do pensamento de Fausto Reinaga e seu conteúdo indianista,
passa por sua influência no movimento katarista e culmina nas releituras que foram feitas no
contexto das lutas indígena-populares no Tempo Presente, tendo como enfoque a cidade de El
Alto.
Esta comunicação busca refletir sobre as migrações venezuelanas contemporâneas para o Bra-
sil, enfocando a dinâmica na fronteira entre os dois países, especialmente entre os Estados de
Bolívar (Venezuela) e Roraima (Brasil), bem como as políticas de interiorização do fluxo migrató-
rio. , especialmente para as regiões Sudeste e Sul do Brasil. A migração venezuelana representa
o fluxo de pessoas mais significativo da região e um dos maiores do mundo, envolvendo mais
de 5 milhões de pessoas, segundo as Nações Unidas. Os processos migratórios estão intima-
mente relacionados ao aprofundamento da crise venezuelana, que levou ao esgarçamento de
seu tecido produtivo e de sua capacidade de sustentar sua população. O Brasil é um destino
que vem ganhando importância, principalmente após as restrições impostas nos países que
.128.
mais receberam refugiados. A fronteira norte do Brasil concentrou a chegada de migrantes ve-
nezuelanos, abrindo um conjunto de tensões na região, dos dois lados da fronteira. Analisamos
a busca por governar a migração por parte das autoridades brasileiras, com foco nas políticas
de interiorização e sua relação com a demanda por mão de obra em outras regiões, enfatizando
a demanda de trabalhadores para as grandes plantas agroindustriais da região Sul, com alta
rotatividade e demanda de mão de obra.
MESA 53 28/07/2022
Diálogos tricontinentais na produção cultural latino-americana
Coordenadora: Natália Ayo Schmiedecke (UHH) 14h às 16h
.129.
e pela Direção de Orientação Revolucionária (DOR) do Partido Comunista de Cuba durante os
anos 1970 e 1980. Examinarei as formas como estas imagens dialogam entre si e com os textos
que as acompanham, em especial no que se refere à reiteração de determinadas mensagens.
Também demonstrarei que a ênfase em símbolos que remetem à resistência armada, ao na-
zi-fascismo e à violação de direitos humanos variou durante o período analisado, segundo as fa-
ses da campanha internacional de solidariedade com o Chile, o foco da política externa cubana
e o perfil da instituição produtora de cada material.
Esta comunicação tratará das representações da China Popular elaboradas por latino-ameri-
canos que visitaram o país entre 1949 e 1976 e dos exercícios de alteridade presentes em seus
relatos de viagem. Entre esses anos, milhares de militantes e intelectuais simpatizantes ao pro-
cesso chinês viajaram ao país convidados por um governo que desejava propagandear as con-
quistas da revolução, romper o isolamento diplomático existente desde 1949 e estreitar laços
com nações que julgava importantes para a sua causa. A partir dessa experiência é possível
perceber a ampliação do horizonte político e cultural nos textos e materiais produzidos por in-
divíduos que, de distintas formas, buscavam compreender o que ocorria no país asiático e esta-
belecer possíveis conexões com as suas realidades. Busco demonstrar como a viagem à China
constituiu uma experiência coletiva de parte da intelectualidade latino-americana e como os
viajantes construíram interpretações sobre o processo chinês de maneira a aproximá-lo ou dis-
tanciá-lo de seus contextos nacionais ou regionais. Por fim, analisarei as estratégias discursivas
utilizadas para situar a América Latina e a China em um espaço comum no mundo.
.130.
materiais oferecem “imagens do tempo” bastante originais, e demonstram a multiplicidade de
formas de se relacionar com a história e a memória que emergiram no contexto de mobilização
política anticolonial e anti-imperialista na segunda metade do século XX. Nesse sentido, essas
imagens são contrapontos à compreensão predominante na literatura, que analisa as relações
temporais no contexto das revoluções modernas sobretudo sob o olhar da ruptura. O viés ana-
lítico adotado dialoga com o trabalho do historiador da arte Georges Didi-Huberman em suas
reflexões sobre a temporalidade heterocrônica das imagens, marcada por sobrevivências - em
emoções, em gestos e em fórmulas de pathos.
MESA 54 29/07/2022
Trajetos do neoliberalismo no Cone Sul: paralelismos e singularidades
Coordenador: Hernán Ramírez (UNISINOS) 10h às 12h
Hernán Ramírez
Universidade do Vale do Rio Sinos (UNISINOS)
O enraizamento e a consolidação do Neoliberalismo no Cone Sul são uma obra de longo prazo,
que passou longe de uma mera implantação de um corpo único. Assim como a própria teoria
Neoliberal de modo general, no Cone Sul admitiu uma variedade de correntes que aqui recala-
.131.
ram, primeiramente de modo difuso, para se enraizar de modo mais sistemático como resposta
à hegemonia exercida pelas teorias heterodoxas, processo que pertence ao universo eidético
mas que está imbricado profundamente ao devir econômico, social e político da região, pois,
como ideologia de uma dada etapa capitalista, vai fazer parte dos seus embates históricos, nos
quais se transfigura de acordo com suas peculiaridades e necessidades. Assim, o Neoliberalis-
mo terá que realizar adaptações sincréticas para se firmar, em especial para angariar aliados,
dentro do espectro empresarial, tecnocrático e militar, e, só numa etapa posterior, cristaliza sua
roupagem clássica, quando se converte em hegemônico. Processo que foi antecedido por uma
profunda disciplinarização, seja a exercida pelas ditaduras quanto pelas políticas de choque à
que submeteram as renascentes democracias. Trajetos que a comunicação procura desvendar,
em particular mostrando suas diferentes nuanças, que correspondem e se tornarão marcas na-
cionais, que diferenciam os países.
MESA 55 29/07/2022
Intelectuais indígenas, revistas e instituições indigenistas nas
Américas (1917-1977) 10h às 12h
Coordenador: Igor Luis Andreo (Rede Salesiana-INSA)
A questão indígena sempre persistiu na história e nos debates intelectuais mexicanos. Até o
início do século XX, tais problemáticas mantiveram-se bastante circunscritas no âmbito dis-
.132.
cursivo, sem representarem, de fato, uma política institucionalizada. Contudo, ao longo da pri-
meira metade daquele século, Estado, cientistas e intelectuais, superaram o caráter retórico do
indigenismo, atribuindo-lhe uma dimensão de práxis de transformação social, consolidando-o
como política oficial. Nesse sentido, essa apresentação procura analisar o estabelecimento de
um novo aparato institucional ligado ao indigenismo a partir do processo revolucionário mexi-
cano, por meio da criação da Dirección de Antropología, em 1917. Idealizado e dirigido pelo an-
tropólogo e arqueólogo Manuel Gamio, o órgão estatal foi concebido com o objetivo de desen-
volver pesquisas científicas sobre o território e a população do México, dando ênfase aos povos
indígenas, a fim de embasar políticas públicas que promoveriam a incorporação destes grupos
e a integração da nação. Logo, buscamos compreender em que medida a fundação da Direc-
ción de Antropología simbolizou uma mudança de paradigma na política oficial direcionada
aos indígenas, com o deslocamento desta questão para uma esfera institucional. Para tanto,
aliamos a análise da constituição de uma nova organização administrativa estatal à atuação de
um dos principais ideólogos do indigenismo, examinando a relevância dessa instituição que
desempenhou um papel fundamental no processo de reorganização política e social do México,
cristalizando ideias acerca da nação e difundindo o discurso indigenista no país.
Apresentamos uma proposta de investigação que emprega, como fonte e objeto, a publicação
oficial do Instituto Indígena Interamericano, a revista América Indígena. Seu primeiro número
foi publicado em 1941 e a partir de 1942 sua linha editorial foi pautada pelas posições do in-
fluente antropólogo mexicano Manuel Gamio. Como se sabe, sua proposta era a de assimilação
dos indígenas à cultura ocidental, por meio da miscigenação. No entanto, a revista América
Indígena também se caracterizou como um espaço aberto ao debate entre diferentes visões e
posições. O projeto de assimilação indígena, com transformações e avanços teóricos, foi o pri-
vilegiado pelo I.I.I. sob a direção dos mexicanos Manuel Gamio (1942-1960), Miguel León-Portilla
(1961-1966) e Gonzalo Aguirre Beltrán (1967-1971). A partir da década de 1970, as posições da “an-
tropologia crítica” começaram a ganhar força sobre o modelo indigenista hegemônico, e o pri-
meiro diretor não mexicano assumiu a revista América Indígena, o equatoriano Gonzalo Rubio
Orbe (1971-1977). Assim, nos interessa investigar as possíveis transformações e/ou continuidades
na linha editorial da revista América Indígena e seus debates internos a partir da ascensão dos
três novos diretores após a morte de Gamio.
D’Arcy McNickle foi uma importante voz na defesa das causas dos grupos autóctones dos EUA,
sendo considerado um dos mais importantes intelectuais indígenas do país. Entre 1936 e 1945,
McNickle trabalhou no Bureau of Indian Affairs (BIA) que, sob a gestão do indigenista John Co-
.133.
llier, implantou uma série de reformas administrativas que mudaram a tônica assimilacionista
que direcionava as políticas que envolviam a questão indígena nos EUA, fomentando o respeito
à diversidade cultural. Contudo, os avanços observados no tratamento da questão indígena nas
décadas de 30 e 40 foram abruptamente revertidos a partir da década de 1950, período que foi
denominado de Termination Era, caracterizado pelo retorno do ímpeto assimilacionista. Nesse
contexto, D’Arcy McNickle engajou sua atuação na denúncia dessas políticas, que pretendiam
dar fim à diversidade cultural e assimilar definitivamente os indígenas à cultura ocidental. Um
dos veículos privilegiados por ele foi a revista América Indígena: órgano trimestral del Instituo
Indigenista Interamericano. O presente trabalho analisa as intervenções de McNickle na revista
nesse período, através dos referencias teóricos e metodológicos da História Intelectual.
Apresentaremos uma pesquisa de pós-doutorado em estágio inicial que analisa os debates in-
digenistas peruanos desenvolvidos durante as décadas de 1940 e 1950 por meio das revistas
América Indígena e Perú Indígena, órgãos oficiais do Instituto Indigenista Interamericano (I.I.I.)
e do Instituto Indigenista Peruano (I.I.P.), respectivamente. O marco temporal busca cobrir um
momento chave para a compreensão das transformações que fizeram com que as propostas
mais progressistas e até mesmo revolucionárias – que foram hegemônicas no indigenismo pe-
ruano das primeiras décadas do século XX – perdessem espaço no país, dando lugar a um in-
digenismo de matriz higienista e caráter autoritário, que se tornou o oficial durante a ditadura
do gen. Manuel Odría (1948-1956). Nesse período, as perspectivas mais conservadoras tenderam
a se concentrar na revista do I.I.P. e uma das hipóteses da pesquisa é que os intelectuais iden-
tificados com um indigenismo mais crítico e progressista tenderam a publicar seus artigos na
revista do I.I.I., que tinha um perfil de maior abertura a diferentes perspectivas indigenistas.
Portanto, a proposta central da pesquisa é recuperar e analisar o debate travado por intelec-
tuais peruanos sobre a questão indígena a partir das duas publicações. O trabalho se desen-
volve com base nos pressupostos teórico-metodológicos da história intelectual e a partir de
uma abordagem transnacional. Essa abordagem nos permite analisar o debate peruano não
apenas no nível nacional, mas também em sua conexão com o indigenismo continental, já que
a participação de intelectuais peruanos na revista América Indígena também foi um elemento
marcante no período abordado.
MESA 56 29/07/2022
Nas teias da diplomacia: percursos, trajetória e visões dos
representantes do Brasil no século XIX 10h às 12h
Coordenador: Luan Mendes de Medeiros Siqueira (UFRJ)
Fernando Comiran
Universidade Federal do Rio Grande (FURG)
.134.
Palmela, como negociador dos interesses portugueses durante o Congresso de Viena (1814-
1815). Nomeado como plenipotenciário português neste Congresso, esteve ao lado de Joaquim
Lobo da Silveira e Antônio Saldanha da Gama na defesa das instruções do gabinete português,
então sediado no Rio de Janeiro, em Viena. Liderando a missão diplomática, Palmela precisou
articular as três principais demandas da Corte - a posse das Guianas, a manutenção do tráfi-
co de escravos e a restituição de Olivença - com as demandas centrais do Congresso. Diante
da fragilidade política e diplomática do estado lusitano, o plenipotenciário português precisou
constituir uma diversificada teia de negociações entre diferentes atores e temas para ter as de-
mandas de sua corte consideradas pelas principais potências daquele contexto internacional.
A partir da análise da correspondência diplomática entre o gabinete português, seu plenipo-
tenciário no Congresso de Viena e, deste, para outros atores diplomáticos, pode-se perceber o
papel central do diplomata português nas tomadas de decisão portuguesas no Congresso. É
possível afirmar que Pedro de Souza Holstein, com elevado grau de autonomia e diante de um
quadro desfavorável para a diplomacia portuguesa, foi decisivo na conquista de uma das de-
mandas do gabinete lusitano: o reconhecimento daquele Congresso à restituição dos territórios
ibéricos de Olivença.
A política externa do Império do Brasil foi marcada por uma ação e identidade externa cam-
biante, divididas entre uma inserção internacional centrada na América e na Europa. A manu-
tenção de uma lógica monárquica e dinástica afastava a recém-criada nação de seus vizinhos,
todavia, os laços geográficos, os fluxos e influxos regionais resultaram em determinantes que
não poderiam ser ignorados. Essa dinâmica foi especialmente importante para a percepção de
segurança de parte dos políticos do Império, preocupados que as disputas e dimensões confli-
tivas nas repúblicas vizinhas poderiam ameaçar a ordem interna. A apresentação vai explorar
como os laços europeus foram acionados para dar conta dessa dimensão, analisando a atuação
internacional de Miguel Calmon du Pin e Almeida, visconde e marquês de Abrantes, na busca
de apoio junto às grandes potências europeias.
Paulino José Soares de Souza (visconde do Uruguai a partir de 1855) teve uma forte atuação na
política imperial tanto em âmbito externo quanto interno. Ocupando por duas vezes a pasta
dos Negócios Estrangeiros, teve uma das mais longevas gestões na referida repartição. Ali, li-
dou diretamente com questões externas cujos desdobramentos deram a tônica das relações
internacionais do Império nos anos seguintes. Saído do ministério manteve intensa articulação
política nos bastidores da política imperial, principalmente no plano externo. Como conselheiro
de Estado era constantemente procurado pelos gabinetes a prestar seu concurso, sendo utili-
zado também esse espaço para fazer oposição. Quando na década de 1860 passou a ser prete-
.135.
rido e sofrer derrotas políticas cunhou uma narrativa de que se retirara da política em 1853, que
atravessou grande parte do século XX com pouca contestação historiográfica. A contradição
entre a política de defesa da liberdade de navegação no Prata e de fechamento do Amazonas
foi explorada por seus contemporâneos. Contudo, é necessário levar em consideração que o
visconde era um agente político, sendo necessário analisar a aparente contradição sob a ótica
do pragmatismo político.
O presente trabalho tem como objetivo central realizar uma breve abordagem da missão diplo-
mática de José Agostinho Barbosa Júnior nas Províncias Unidas do Rio da Prata, entre os anos
de 1829 e 1831. Este sujeito atuou nos cargos de cônsul e encarregado dos Negócios estrangeiros
do Império do Brasil em Buenos Aires. Barbosa atuou em um período posterior ao fim da guerra
da Cisplatina (1825-1828). Na época, as Províncias Unidas do Rio da Prata atravessavam um pro-
cesso de fortes turbulências e disputas políticas em torno da organização do Estado. Tratou-se
de uma missão diplomática fundamental já que, em meio a esse instável cenário, coube ao
diplomata brasileiro retomar os contatos diplomáticos com o governo de Buenos Aires. Desde
o início do conflito cisplatino até o ano de sua nomeação, a legação diplomática imperial em
Buenos Aires encontrava-se vaga. Com isso, uma das outras tarefas primordiais de José Agos-
tinho Barbosa Júnior, pautava-se também no entendimento da situação política interna das
Províncias Unidas do Rio da Prata. Para isso, procurou dialogar com os distintos grupos políticos
lá existentes bem como defender os interesses do Império do Brasil na região do Rio da Prata,
dentre eles, a defesa da livre navegação nos rios platinos e a realização de um tratado definitivo
de limites territoriais no Estado Oriental. Essas pautas não tiveram grandes avanços, haja vistas
as dificuldades de negociação com a diplomacia portenha. Não há muitas informações biográ-
ficas sobre José Agostinho Barbosa Júnior. Entretanto, a partir do estudo de sua missão, este
sujeito contribuiu para a o desenvolvimento de uma política externa brasileira no Prata.
MESA 57 29/07/2022
Indígenas e indigenismo nas Américas
Coordenadora: Alessandra Gonzalez de Carvalho Seixlack (UERJ) 10h às 12h
O objetivo desta apresentação é analisar a questão indígena no Canadá nas últimas décadas
do século XIX e primeiras do XX, tendo como referencial a criação das Escolas Residenciais Indí-
genas que buscavam estabelecer um processo de “embranquecimento”, da população autóc-
tone canadense. É importante salientar que esse modelo educacional materializava propostas
presentes nos denominados “Tratados Numerados” elaborados entre os anos de 1871 e 1921, os
quais serviram de base para a implantação da política assimilacionista colocada em prática no
.136.
período pelo Departamento de Assuntos Indígenas. Um dos projetos mais relevantes dessa po-
lítica determinava que todo nativo entre 7 e 15 anos, fosse internado nas Escolas supracitadas.
De acordo com o relatório da Comissão da Verdade e de Reconciliação, publicado em 2015, a
proposta pedagógica básica dos Internatos consistia em separar as crianças aborígenes das
suas famílias biológicas, impondo uma espécie de doutrinação, tendo como base o modelo cul-
tural europeu-canadense, com o objetivo central de eliminar a cultura das chamadas Primeiras
Nações.
O combate ao colonialismo interno consiste atualmente em uma das principais pautas da resis-
tência indígena. Ao lançar luz sobre a permanência das estruturas coloniais de dominação, os
setores indígenas das sociedades americanas relativizam os verdadeiros alcances obtidos pelas
independências e pelo processo de formação dos Estados nacionais no continente. Nesse con-
texto, torna-se central a atuação do intelectual indígena. Criando espaços para que possam falar
e ser ouvidos, os intelectuais indígenas deixam de atuar como oprimidos e buscam a libertação
política e cultural. Portanto, o que está em jogo é a superação da subalternização via conscienti-
zação. Ao criticarem a perpetuação do colonialismo interno e das estruturas de dominação nos
Estados nacionais americanos, os intelectuais indígenas promovem a descolonização do pen-
samento e a ressignificação das estruturas sociais e culturais, almejando a desalienação. Essa
comunicação busca pensar as contribuições historiográficas dos intelectuais indígenas, a partir
da experiência da Comunidad de Historia Mapuche, para a descolonização do pensamento e a
superação da subalternização.
As primeiras décadas do século XX foram marcadas por grandes reformas na educação pública
boliviana que envolviam, entre outras questões, o debate sobre o lugar das comunidades indí-
genas dentro de um projeto de nação. À parte as ideias colocadas pelos letrados indigenistas,
o acesso à educação também era uma bandeira dos grupos indígenas que viam no processo
educacional uma estratégia de sobrevivência na luta para deter as expropriações de terras co-
munais e restituir as comunidades – e o sentido do ayllu andino - usurpadas desde o início da
república. Neste sentido, observaram-se experiências de educação com grande mobilização
das comunidades e até mesmo organizadas por elas localmente, com ou sem apoio do Estado
boliviano, assinalando uma ação política das mesmas na busca por uma cidadania indígena
marcada pela diferença colonial. Logo, este trabalho busca analisar de que forma as organi-
zações indígenas do altiplano boliviano mobilizaram o papel da educação para alcançar seus
objetivos históricos, observando também em que medida, a atuação das comunidades indíge-
.137.
nas teria atravessado o pensamento sobre educação e as políticas educativas que se colocavam
naquele momento.
MESA 58 29/07/2022
Gênero, escravidão e liberdade nas Américas e no Caribe
Coordenadora: Letícia Gregório Canelas (USP) 10h às 12h
Magdalena Candioti
Consejo Nacional de Investigaciones Científicas y Técnicas (CONICET) / Instituto Ravignani
En 1873 la primera pintora santafesina, Josefa Díaz y Clucellas, realizó un retrato de una mujer
negra con un pequeño niño blanco en brazos que se conoce con el nombre de “La negra y el
niño”. La obra se conserva en el Museo Histórico Provincial en la ciudad de Santa Fe y llegó a esta
institución por la donación realizada por un familiar del “niño”: doña Telma Picazo de Crespo. Si
bien la identidad del niño se recordó de generación en generación, la de su cuidadora perma-
neció en el anonimato. A través de fuentes censales, notariales y parroquiales, y en el cruce con
obras literarias de la época, esta ponencia intenta reconstruir la identidad posible y la trayectoria
de “la negra”. Al hacerlo, se reflexiona sobre el trabajo doméstico de las mujeres negras tras la
abolición (producida en 1853) y el rol de los relatos visuales y literarios que crearon narrativas de
“integración” subordinada y exaltación de la “benignidad” blanca. Finalmente, se problematiza
la construcción de una nueva identidad provincial blanqueada (“la pampa gringa”) ligada a la
inmigración europea y la transformación retórica de la presencia negra en “reliquia” del pasado.
Entre o final do século XVIII e ao longo do século XIX, práticas e propostas pró-natalistas foram
incorporadas às legislações coloniais dos impérios britânico, francês e espanhol com o intuito de
incentivar a reprodução da população escravizada em suas possessões no Caribe, e como res-
posta às críticas ao tráfico transatlântico de africanos escravizados. Em contrapartida, no Brasil
e nos Estados Unidos, notadamente no século XIX, não se observa a atuação dos governos nesse
sentido, mas há indícios de práticas isoladas de proprietários de escravos e o desenvolvimento
de uma cultura de incentivo à maternidade escrava. O objetivo desta comunicação é apresentar
uma abordagem transnacional da história da escravidão no Mundo Atlântico sob uma pers-
pectiva de gênero, buscando analisar comparativamente questões e experiências relacionadas
à maternidade e às políticas pró-natalistas nas colônias francesas e britânicas do Caribe, em
Cuba, nos Estados Unidos e no Brasil. Dentro dos recortes temático, temporal e espacial men-
cionados, propõe-se examinar a circulação de ideias e propostas, as similitudes e diferenças en-
.138.
tre as políticas colocadas em prática por senhores de escravos e governos, as especificidades de
suas motivações ou, ainda, da ausência de políticas pró-natalistas. Ademais, procuro demons-
trar indícios acerca das consequências daquelas políticas nas vidas das mulheres escravizadas
e suas famílias e, assim, suas formas de adaptação e resistência às práticas pró-natalistas, em
diferentes sociedades escravocratas das Américas e do Caribe, visando contribuir com os deba-
tes sobre gênero, raça e classe nos estudos sobre a escravidão.
Depois da independência, em 1804, o Haiti – antiga colônia francesa de São Domingos – teve
de lidar com o desafio da construção de um estado nacional negro em um mundo branco e
escravista. Dentre as ações do novo país, se inscrevia a necessidade de definir formas de regu-
lação do trabalho rural livre no país. Essa comunicação pretende apresentar alguns aspectos
das consequências da Revolução Haitiana, mais especificamente em torno da organização do
trabalho rural livre a partir do Código Rural de 1826. Assim, pretende-se apresentar como o pre-
sidente Jean Pierre Boyer (1818 – 1843) utilizou um discurso patriótico aliado à força militar na
tentativa da manutenção da plantation açucareira na primeira metade do século XIX. Além dis-
so, pretende-se demonstrar como, a partir da ideia de “nação marron” de Jhonhenry Gonzalez, a
experiência da marronage, adquirida ainda durante o período colonial, repercutiu nas respostas
dos trabalhadores à implementação do Código Rural.
.139.
MESA 59 29/07/2022
Representaciones de la Guerra Guasu (Guerra del Paraguay) – Construcción
de imaginarios y representaciones en medios impresos ilustrados de países 14h às 16h
aliados
Coordenador: Aníbal Orué Pozzo (UNILA)
Desde el comienzo de la Guerra de la Triple Alianza (1864-1870), tal como había ocurrido en el
conflicto armado norteamericano entre Norte y Sur, el uso de la fotografía formato carte de vi-
site se hizo popular entre los militares que partían desde Buenos Aires, Corrientes, Montevideo,
Recife, Río de Janeiro y otras ciudades, pueblos y villas de los países aliados, rumbo a la campa-
ña que se abría contra la República del Paraguay. En menor medida, Asunción también contó
con algunos estudios que también realizaron un aporte superlativo por el valor documental
que revisten esas imágenes. Hoy – estas últimas - de una rareza excepcional por la magnitud
de la tragedia que asoló especialmente a esta nación cuyo acervo iconográfico sufrió una pér-
dida de dimensiones incalculable. En su testimonio vertido al historiador argentino Estanislao
Zeballos, el general Bernardino Caballero concluyó que se habían perdido “las colecciones de
retratos que las familias guardaban como joyas”. Tanto las fotografías en este formato como en
.140.
otros mayores, le dieron un impulso extraordinario al registro gráfico que se plasmaba a través
de litografías en la prensa ilustrada de las naciones en guerra. La historiografía que aborda este
aspecto del papel protagónico de la fotografía durante el conflicto, si bien muestra algunos
avances significativos como los realizados por André Toral, Miguel Ángel Cuarterolo y Ricardo
Salles, no ha llegado aún a resolver muchas interrogantes en torno al quehacer de los fotógrafos
que las realizaron; tanto en la actividad de los estudios donde estas se realizaban, antes de par-
tir al frente de operaciones o la actividad itinerante de los que acompañaron a los ejércitos con
sus pesados aparatos y laboratorios fotográficos. Hoy son un elemento de valor incuestionable
para entender mejor aquella guerra en especial cuando uno puede estudiar a través de las foto-
grafías tomadas durante el conflicto a los distintos protagonistas de aquella trágica contienda
bélica.
Generalmente, los únicos protagonistas de los conflictos bélicos eran los hombres represen-
tados por cronistas e historiadores como los héroes victoriosos de grandes batallas o como los
hábiles políticos en las negociaciones diplomáticas o también, personificados a manera pusi-
lánime como fracasados en las lides guerreras o de agentes intermediadores. Mientras que las
.141.
mujeres casi nunca eran mencionadas. La Guerra del Paraguay como se la calificó en los países
aliados (Brasil, Argentina y Uruguay) propició la circulación de la prensa escrita y gráfica en los
cuatro países beligerantes. En ese contexto, de saber que el diseño gráfico devela el sentido de
su propio tiempo a través de la imaginación de cada caricaturista y así como en el Paraguay
este tipo de periodismo sirvió para alentar a los soldados y oficiales en los campos de batallas,
sin embargo, en los países aliados su divulgación se limitó casi exclusivamente a la sociedad de
las principales ciudades en donde se emitían dichos rotativos. Si bien, gran parte del conteni-
do de imágenes de cada periódico se refiere a temas relativos a la conflagración en donde, los
personajes políticos y militares son caricaturados de manera peyorativa, las mujeres también
ocuparon un espacio importante en las páginas ilustradas, hecho que en otros medios escritos
pasaron desapercibidas o sencillamente fueron ignoradas, como si los sucesos de cada proce-
so histórico estuvieren protagonizados solo por hombres. El presente trabajo de investigación
se desarrolla en torno a la prensa gráfica-ilustrada y satírica aparecida en el Brasil, Argentina y
Uruguay en donde se analizan las representaciones de mujeres paraguayas y extranjeras que
tuvieron un rol protagónico durante el citado conflicto y de cómo y de qué manera los medios
investigados construyeron un perfil sobre estas mujeres sus más diversos aspectos. La reflexión
del tema estimula la apertura de una discusión entre los diferentes estamentos de la comuni-
dad académica y propone debatir sobre esta cuestión considerada subalterna en algunos ám-
bitos, pero que en la actualidad la participación femenina se considera axiomáticamente valo-
rada para comprender de manera profusa e íntegra aquella guerra de nefastas consecuencias
para los países involucrados.
MESA 60 29/07/2022
Política de integração latino-americana
Coordenadora: Eça Pereira (UFT) 14h às 16h
A região amazônica abarca cerca de 40% do território peruano, no entanto até meados do sé-
culo XX era considerada ainda um território a ser “conquistado” pelo Estado. Neste trabalho
analisaremos os discursos acerca da integração da região ao Estado Nacional em dois projetos:
a Conquista del Perú por los Peruanos de Belaúnde Terry, publicado em 1959, e o estudo de fac-
tibilidade técnica do trecho entre Villa Rica e Puerto Pachitea da Carretera Marginal de La Selva
(1966). O objetivo é analisar como a região amazônica foi abordada nas duas obras e salientar
mudanças e continuidades em relação ao que consta nos eixos Andino e Amazônico dos planos
do IIRSA/ COSIPLAN (2000-2021) que perpassam a Amazônia peruana, mas visando integrá-la
ao circuito global de circulação de mercadorias. Pretende-se analisar como estes projetos ol-
ham para a região amazônica e qual o significado das integrações propostas em cada um dos
projetos.
.142.
A teoria da dependência e o cronótopo neoliberal: males do desenvolvimento na
América Latina
Pedro Demenech
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)
Nesta comunicação são discutidos conceitos que organizam o espaço e o tempo na América
Latina. Revisita-se a como a teoria da dependência, dentro do regime de historicidade neoli-
beral, poderia oferecer formas de articular e de pensar a história latino-americana que com o
passar do tempo foram abandonadas, mas que no passado criaram lampejos de identidade e
saídas para impasses continentais como a desigualdade e o atraso tecnológico em relação aos
grandes centros. Mais precisamente, serão estudadas as formas mobilizadas pela teoria da de-
pendência para criar um cronótotpo latino-americano que, posteriormente, foi esvaziado pela
chegada do neoliberalismo que impôs ao continente uma crise ética e moral que, até hoje, pa-
rece ser infinita e irresolvível. Cabe, então, ressaltar que o neoliberalismo mobiliza linguagens e
conceitos positivos (empreendedorismo, individualismo, Estado mínimo, cidadão máximo) que,
na verdade, servem para esvaziar o futuro em função de um presente saturado e exaurido de
sentido, dado que trata-se uma linguagem que manifesta sua violência pelo excesso de positi-
vidade e que torna a liberdade paradoxal ao produzir um excesso de autoexploração.
Wisly Joseph
Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA)
Pós-Segunda Guerra, foi criada a Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (Cepal),
em 1948, com objetivo de entender os problemas da região e buscar soluções. Os intelectuais
como Raul Prebisch, Celso Furtado e Gunder Frank, entre outros, mais importantes deste órgão,
criticavam a relação desigual centro-periferia com base na ‘vantagem comparativa’ do pensa-
mento hegemônico. Em seguida, o último será também atacado por várias correntes da região
por ser ‘racista’, ‘sexista’, ‘androcêntrico’ e, ‘antropocêntrico’, principalmente pelo “paradigma
biocêntrico”, uma das propostas do Novo Constitucionalismo Latino-Americano, reconhecida
na Nova Constituição do Equador, em 2008. Refletindo nesses cenários, o presente trabalho
pretende destacar as contribuições de cada um desses pensamentos às Ciências Sociais e Hu-
manas da América Latina e Caribe e mostrar os desafios para as condições convergentes entre
ambos.
Para uma leitura do processo de formação institucional do Mercado Comum do Sul (Mercosul),
a partir das fontes dos marcos legais (seus porta-vozes oficiais) e das fontes que tratam das
formas de organização e mobilização popular por uma Outra Integração, faz-se necessário ana-
.143.
lisar o contexto histórico da década de 1980 no âmbito do Cone Sul, mas também da América
Latina e de demais cenários internacionais. Com relação ao cenário no Cone Sul, entre os anos
de 1970 e 1980, inicialmente, foram firmados novos acordos bilaterais, ainda no arco da ALALC/
ALADI, e novas reaproximações, a exemplo da “Declaração de Iguaçu” (1985), assinada por José
Sarney e Raúl Alfonsín, que incluía aspectos da democracia representativa e da urgência da
integração regional como medida de modernização econômica para uma inserção regional na
globalização. A partir da “Ata de Buenos Aires” (6/7/1990), assinadas por Collor de Mello e Carlos
Menem, foram abandonados os princípios de gradualidade, equilíbrio, flexibilidade e simetria, e
redefinidas as diretrizes do desgravamento tarifário (reduções gerais, lineares e automáticas) e
este rumo neoliberal foi mantido no Tratado de Assunção (1991) e no Protocolo de Outro Preto
(1994). A contrapelo deste caminho comercialista, os movimentos populares e sindicais dos paí-
ses signatários do Mercosul, representativos de trabalhadores urbanos e rurais, passaram a or-
ganizar ações para construírem uma Outra Integração e “Fazer Nossa Integração”. O “Encontro
Fronteiriço de Organizações Rurais”, realizado em Santo Cristo-RS/BR (22-24/03/1991), demarcou
esta crítica ao caráter excludente e mercadológico do projeto oficial.
MESA 61 29/07/2022
Genealogías, poéticas, corporalidades y territorios: contrapuntos
en resistencia en América Latina 14h às 16h
Coordenadora: Marcela Landazábal Mora (UNAM)
En este trabajo me propongo abordar las intersecciones entre los procesos de racialización,
las corporalidades y territorio durante el siglo XIX en México, en particular bajo el segundo im-
perio francés (1862-1867). El objetivo es plantear un estudio crítico que nos posibilite, por una
parte, historizar la impronta colonial en la configuración de ciertos campos del saber, como la
antropología decimonónica, y por otra, rastrear esa huella en las capas de nuestro palimpses-
to cultural. Para la segunda mitad del siglo XIX, el locus por excelencia de lo racial fueron las
colecciones craneológicas, asociadas al estudio antropológico de los pueblos, sobre todo de
aquellos no-europeos. En ese sentido, la red académica que abordaremos aquí se constituyó
como un dispositivo más del saber-poder, que decidía la política de gestión e incorporación a lo
nacional de lo que fue definido como la alteridad. Busco indagar y problematizar la historicidad
del pensamiento sobre las “razas” en su intersección con el género, entender sus complejas y
contradictorias lógicas, así como la manifestación de ellas en prácticas científicas concretas, en
particular en el manejo de cráneos y cuerpos femeninos. El cuerpo de las mujeres indígenas se
equiparó con el territorio, se operó una mímesis y fueron tratados bajo una misma lógica, la de
la conquista y el deseo de posesión. Considero que ello nos permitiría replantearnos las formas
de producción del conocimiento antropológico y político actual.
.144.
Fronteras de selva y desierto: el paisaje en sus resistências
América Latina es una región fagocitada por sus fronteras. Las fronteras no se atienen sólo a
determinados puntos geográficos del límite, su mayor efecto consiste en la manera en que la
división fronteriza se internaliza separando dos mundos –el Norte y el Sur globales– con sus
subsecuentes compartimentos internos, actualizando una y otra vez la traza colonial. Se trata
de una sofisticada administración de toda la dimensión sensible que se concentra tanto en
los territorios geográficos del norte México y la Guayana Francesa, dos zonas en contrapunto y
poco relacionadas. Sin embargo, están íntimamente conectadas, en las nervaduras del propio
sistema colonial que estructuró el actual Sistema Mundo. Por lo tanto, hablamos de un proyecto
regulador de la Imaginación regional que no solo es geopolítico, sino y por sobre todo estético
–porque infiere en todas las dimensiones de la vida. Un proyecto reaccionario a estas lógicas
implica la descolonización de los imaginarios y a la vez la puesta em relación de la imaginación
política –donde se denuncian tanto los atropellos inmediatos, como las cargas persistentes del
pasado colonial. Situar la dimensión del paisaje desde los específicos ejes de selva y desierto
permite, por una parte, reapropiar al paisaje en su dimensión experiencial, apartado de la do-
minante perspectiva de la historia del arte –mismo linaje de la historia colonial. Por otra parte,
permite una reconstrucción metodológica que desmantela el aparato patriarcal sobre el que
se ha estructurado históricamente la administración de estos territorios –desestabilizando la
interdependencia de lo vivo, y a su vez, imponiendo formas de control bio y necropolíticas que
determinan cuáles vidas importan y cuáles son susceptibles de desecho. Por último, la apuesta
más importante en este estudio ha consistido en revocar las miradas desde arriba, y situar a ras
de suelo las prácticas vernáculas sobre las que se alza el proyecto cultural de resistencia, que es
finalmente el substrato relacional de estos lindes.
A través de los siglos la población negra ha sido objeto o modelo exótico de muchos pintores eu-
ropeos de los cuales se conoce su nombre y su trayectoria, pero sus “modelos vivientes” fueron
condenados al anonimato. Muchas de las obras donde se aprecia un personaje de origen afri-
cano, fueron nombrados simplemente bajo la característica del color de la piel, a pesar de que
diferentes artistas denunciaban la trata esclavista y plasmaron em sus obras, personajes veni-
dos de diferentes partes del mundo que compartían un pasado colonial. En mayo del 2019 en el
marco de las conmemoraciones de la abolición de la esclavitud y de la trata negrera se presentó
una exposición sobre estos modelos racializados en el Museo D’Orsay, famoso por su acervo de
pintura impresionista en París. Por lo que la presente ponencia se enfocará en hacer un análisis
crítico y breve de la misma, inspirada en el pensamiento de Édouard Glissant. La representación
de modelos negros en las pinturas, esculturas y fotografías expuestas en diferentes museos for-
maron cada una, parte del rompecabezas donde la curaduría trató de entablar un diálogo entre
el artista y los modelos, devolviendo a estos su nombre, su humanidad.
.145.
Preludio al contrapunteo y la transculturación: la revista Ultra (1936-1947) de Fernando Ortiz
La ponencia que propongo, misma que forma parte de una investigación más amplia, tiene
como objetivo examinar una de las primeras publicaciones periódicas que el antropólogo Fer-
nando Ortiz fundó en el marco del funcionamiento de la llamada Institución Hispano Cubana
de Cultura. Se trata de la revista Ultra. Mensuario de Cultura Contemporánea, que se publicó
desde la ciudad de La Habana desde 1936 hasta 1947. Tal como la presentó el propio Ortiz, esta
publicación funcionó como una “revista de revistas”: un mosaico de fragmentos de revistas ex-
tranjeras que debía servir para dar a conocer, entre el público cubano y caribeño, las novedades
científicas de la época. Lo que me interesa examinar es el carácter formativo de esta publica-
ción, el modo en que Ortiz la convirtió en un circuito editorial de fecundas lecturas preliminares
con base en las cuales va a proponer dos planteamientos fundamentales dentro de su produc-
ción historiográfica y antropológica de los años ’40: la crítica a la noción de raza y su necesaria
sustitución por el concepto cultura, mismo que más adelante va a devenir en el concepto de
transculturación. Así, pues, se trata de examinar el estrecho vínculo entre revistas, lecturas y es-
crituras que permea la obra de Ortiz dando paso a nuevos derroteros teóricos, metodológicos y
hermenéuticos para la reescritura de la historia cubana y, en general, latinoamericana.
MESA 62 29/07/2022
Arte, visualidade e gênero: representações e construções de
mulheres e do feminismo no século XX 14h às 16h
Coordenadora: Eustáquio Ornelas Cota Jr (USP)
.146.
As fotografias de Lola Álvarez Bravo: as representações da mulher e do México
pós-revolucionário (1930-1950)
Neste trabalho, busca-se analisar os sentidos da representação da mulher mexicana nas foto-
grafias e fotomontagens de Lola Álvarez Bravo presentes no acervo do Center for Creative Pho-
tography. Essa produção será analisada historicamente, tendo em vista os debates que ocorriam
no meio cultural como as questões relacionadas à mestiçagem e ao indigenismo, contidas em
políticas públicas, em discursos sobre a identidade nacional e em imaginários do México entre
os anos 1930 e 1950. Buscamos também compreender a trajetória profissional dessa fotógrafa,
tendo em vista os debates de gênero e a interseccionalidade desta análise, no âmbito da rede
de sociabilidade da qual participou, seus engajamentos e os diálogos estéticos com a cultura
visual mexicana deste período.
Olhares de Aracy Amaral e Marta Traba sobre arte moderna na América Latina
(1960s-1970s)
As artes visuais modernas da América Latina foram amplamente discutidas por especialistas
latino-americanos/as entre as décadas de 1960 e 1970, em um contexto marcado por regimes
autoritários, pela Guerra Fria e pela difusão da cultura norte-americana na região. Duas inte-
lectuais sul-americanas participaram ativamente desse debate, a argentina/colombiana Marta
Traba e a brasileira Aracy Amaral. Nesta apresentação, objetiva-se discutir algumas das reflexões
trabalhadas por elas a partir dos seus ensaios publicados no período. No caso de Marta Traba,
destacam-se La pintura nueva en Latinoamérica, de 1961, e Dos décadas vulnerables en las artes
plásticas latinoamericanas, 1950/1970, de 1973. Já Aracy Amaral, escreveu sobre o modernismo
brasileiro no livro intitulado “Arte y arquitectura del modernismo brasileño (1917-1930)”, publi-
cado em espanhol pela Biblioteca Ayacucho, em 1978, além de alguns textos que abordam a
região na sua coletânea Arte e meio artístico (1961-1981): entre a feijoada e o x-burguer. Por fim,
supõe-se que as duas intelectuais latino-americanas durantes esses anos produziram reflexões
importantes sobre as artes modernas da América Latina, e ainda, que diante da forte difusão
cultural do “Norte” (EUA e Europa), ambas reforçaram a importância de uma aproximação entre
os países da região e da afirmação crítica de um eixo “Sul” (latino-americano).
MESA 63 29/07/2022
Literatura, história e memória na Argentina do século XX
Coordenadora: Fernanda Palo Prado 14h às 16h
Esse trabalho visa apresentar um olhar sobre o exílio argentino no México por meio da expe-
.147.
riência de Pedro Orgambide, escritor que chegou à capital mexicana na segunda metade de
1974 e retornou a Buenos Aires em 1983. Como foi o exílio mexicano? Com quem conviveu? O
que escreveu a partir do distanciamento e desterro? Essas são as perguntas que mobilizam
essa reflexão que articula história, política e literatura, na esteira de perceber como o presente
da escrita (re)constrói o passado ante a experiência do exílio, uma “fratura incurável” motivada
por um tempo de incremento da violência que marcou os anos de 1970 na Argentina. A partir
de um conjunto de romances de Orgambide discutiremos como foram redefinidas sua relação
com seu país e seu cotidiano por meio de uma releitura dessa nação proporcionada pela expe-
riência e pela crítica mobilizadas pelo distanciamento relacionando, desta maneira, diferentes
temporalidades em um processo de construção de sentido frente a um horizonte de violência,
fracasso e derrota, e como um discurso oposto ao do autoritarismo.
Liliana Heker, autora cuja trajetória se destaca tanto pela participação em relevantes grupos da
intelectualidade argentina desde os anos 1960 quanto pela atuação como formadora de escrito-
res e de escritoras, publicou, em 1996, El fin de la historia, romance que articula, ficcionalmente,
memórias acerca da atuação das esquerdas e do peronismo revolucionário. A investigação em
curso a respeito do romance estrutura-se a partir de três hipóteses: a de que Heker maneja, no
texto, diferentes usos do passado, mais especificamente relativos aos anos 1960 e 1970; a de que
os usos do passado, sobretudo dos anos 1970, conectam-se à trajetória e à perspectiva da auto-
ra naquele momento, quando atuava em revistas e compunha grupos intelectuais; e a de que
as especificidades dos usos do passado configurados no romance vinculam-se, outrossim, à
possibilidade de distanciamento temporal e às reinterpretações sobre as décadas de 1960-1970
elaboradas durante e após a transição para a democracia, iniciada em 1983. Portanto, o objetivo
é indicar, nesta apresentação, algumas das articulações, às vozes narrativas construídas no ro-
mance, de memórias em disputa e de usos do passado, vozes narrativas que se inscrevem, por
sua vez, em disputas sociais e políticas.
Uma colagem de emoções contraditórias: Los diarios de Emilio Renzi como álbum
de Ricardo Piglia
Durante décadas, Ricardo Piglia anotou o cotidiano em cadernos: leituras, projetos de textos e
textos, reflexões políticas e sociais, entreveros intelectuais, miudezas do dia a dia. Nos últimos
anos de sua vida, transpôs parte dos cadernos para os três volumes de Los diarios de Emilio
Renzi, publicados entre 2015 e 2017. Mais do que uma transposição, compôs uma colagem: revi-
sitou as memórias, selecionou trechos das anotações precedentes, alterou-as, incorporou novos
textos. Desmontou e remontou os cadernos, destacou suas contradições pessoais e públicas,
reinventou a vida antes vivida. Produziu, assim, um álbum de si mesmo e de sua persona lite-
rária, marcado pela pluralidade de enunciadores, por continuidades e interrupções, organicida-
de e fragmentação, completude e vazios.
.148.
MINICURSO 1 28 e 29/07
Intelectuais indígenas e produção historiográfica: contribuições 8h às 9h30
teórico-metodológicas à descolonização do pensamento
Ministrantes:
Alessandra Gonzalez de Carvalho Seixlack (UERJ)
Fernando Luiz Vale Castro (UERJ)
Ao lançar luz sobre a permanência das estruturas coloniais de dominação, os intelectuais indíge-
nas atuam no sentido de questionar os discursos de poder legitimadores da dialética “coloniza-
dor-colonizado” e de superar a subalternização. Pretendemos pensar, portanto, de que maneira
as discursividades indígenas, que se distanciam do caráter objetivo e universal reivindicado pela
história ocidental, podem nos auxiliar a construir novos caminhos para a descolonização do
pensamento e para o combate ao colonialismo interno no próprio meio historiográfico.
Nesse minicurso serão apresentadas e discutidas possibilidades de trabalho com fontes de pes-
quisas diversas, entre elas, fontes orais, jornais e auto criminais para pesquisas sobre a história
das fronteiras. De modo geral, serão organizados encontros para refletir teórica e metodologi-
camente as especificidades dos usos de cada uma dessas fontes para pesquisas. Ao longo dos
encontros serão abordados alguns referencias teóricos produzidos sobre as metodologias de
pesquisa em história, abordando as especificidades do trabalho com cada uma dessas fontes.
Juntamente, ocorrerão atividades práticas de análises de fontes, a partir de fontes históricas
que sirvam de exemplo para o nosso objetivo.
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