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Introdução
Em tempos temerosos de forte retomada do pensamento e ação política
conservadora, com discursos fascistas, perseguição de professores e ataque a
concepções progressistas (“Movimento Escola Sem Partido”), repúdio ao bem
público e exaltação exacerbada do mercado como espaço de realização das liberdades
humanas, é mister o questionamento dessa espécie de “refluxo” reacionário. Nesse
sentido, a proposta deste estudo consiste em analisar o processo histórico de
constituição da chamada Nova Direita no Brasil, a partir da estruturação e articulação
de uma série de organizações de atuação política e doutrinária.
O entendimento aqui é o de que este processo não se inicia em 2014, todavia,
lança suas raízes em meados dos anos de 1980, com o surgimento de um novo modus
operandi de ação político-ideológica das classes dominantes no Brasil. Essa
representação política não partidária dos segmentos da direita liberal conservadora,
atualizada, militante e, muitas vezes, truculenta, configura-se, portanto, como um
processo gestado e em curso a partir do processo de redemocratização, ganhando
amplitude e intensidade, assim como, radicalizando seu discurso ao longo do tempo.
Instituto Von Mises Brasil (IMB) e o Movimento Brasil Livre (MBL), vinculado ao
Estudantes Pela Liberdade (EPL).
3 GRAMSCI, Antônio. Cadernos do Cárcere (caderno 13). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
2000, (vol 3).
4 GROS, Denise Barbosa. Novas formas de ação política do empresariado gaúcho nas ultimas
décadas. In: CONCEIÇÃO, Octávio A. C. et alii. Três décadas de economia gaúcha: A evolução
social. Porto Alegre: Fundação de Economia e Estatistica (FEE), 2010, p. 190.
5 forumdaliberdade.com.br/i-ao-xx/, acesso em 29/08/2015.
Revista História & Luta de Classes - 27
seus princípios, que reside a sua principal força enquanto intelectual coletivo do
projeto neoliberal no Brasil.
9BLOCK, Walter. Defendendo o Indefensável. São Paulo: Instituto Ludwig Von Mises Brasil,
2010. p. 20.
30 – Dominação Burguesa e os Aparelhos de Doutrinação da Nova Direita no Brasil Contemporâneo
Considerações finais
Tanto de forma direta ou indiretamente todos estes intelectuais coletivos
articulam-se através de distintas e complexas formas, seja por meio da elaboração e
execução de um projeto estrutural único; na organização de eventos da agenda liberal
(como o Fórum da Liberdade); na replicação de conteúdos ideológicos de doutrinação
e recrutamento; outros organicamente a partir de uma origem comum (IL e Instituto
Liberdade); ou no compartilhamento de quadros de dirigentes e intelectuais
orgânicos. Estamos diante, portanto, de uma frente ampla de ação política e
ideológica do pensamento liberal conservador.
A nova direita brasileira não possui uma homogeneidade ideológica, mas
comporta distintas orientações, desde a influência monetarista da Escola de Chicago,
o neoliberalismo da Escola Austríaca, com Von Mises e Hayek, ou mesmo vertentes
mais fundamentalistas, como o libertarianismo da geração austríaca de Murray
Rothbard. Essa nova direita, portanto, abarca contradições e conflitos interburgueses,
todavia, assegurando o essencial para a garantia dos seus interesses de ampliação das
taxas de lucro e acumulação de capital.
Nos anos de 1980, os aparelhos doutrinários, como foi o caso do IL e do IEE,
buscaram apresentar-se de maneira mais técnica e mais teórica, desenvolvendo ações
18 Idem.
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