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O
Clube MBL já produziu vários
dossiês e relatórios que tocam
no tema da agenda progressis-
ta, do movimento woke. Ao falarmos do
complexo industrial transgênero, desven-
damos o processo de financiamento da
agenda transexual: como grandes farma-
cêuticas, instituições financeiras e canais
de televisão infantis têm lucrado com a
propagação dos ideais progressistas da
esquerda norte-americana. Inevitável e
infelizmente, essa não é uma tendência
que se restringe ao país dos ianques e
aos países centrais do Ocidente. Não à
toa, no início do governo, quando fala-
mos sobre os ministros de Lula demos
ênfase a Silvio Almeida, que ficou como
tema de um relatório só. Ele é, politica-
mente, o símbolo do progressismo oci-
dental aqui, em terras tupiniquins.
A importação do progressismo euro-
-americano, porém, não se dá apenas por
meios políticos; invés disso, conta com
bastante apoio da elite econômica daqui,
tal como o desenvolvimento dessa ide-
ologia conta com o apoio da elite lá dos
gringos. Quando, num dossiê passado,
comparamos o comportamento oligár-
quico dos nossos empresários brasilei-
ros com os oligarcas da Rússia (que de
o exemplo da flórida
08 de maio de 2023
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fato são oligarcas), percebemos uma im-
portante diferença: os brasileiros, politi-
camente mais engajados que os russos,
embarcaram no progressismo cultural,
avançam com a agenda ESG (sigla em
inglês para environmental, social and corpo-
rative governance, ou, em bom português,
governança corporativa, social e ambien-
tal), tão marcada por ideais da esquer-
da progressista ocidental. Jorge Paulo
Lemann é o nome que mais se destaca
nessa seara, desenvolvendo não apenas
políticas corporativas em suas empresas,
como também, projetos políticos e so-
ciais com essa clivagem.
Até agora, em nossas análises, nós
do Clube MBL apenas pautamos o pro-
gressismo como o grande problema que,
de fato, ele é; não propusemos, ainda,
uma solução (por mais que a ação polí-
tica do Movimento Brasil Livre dê mais
que vestígios dessa solução). Com efei-
to, quando analisamos o “Método Ni-
kolas”, caracterizamo-lo por sua nature-
za espetaculosa — isto é, marcada pelo
espetáculo. As soluções que, em geral,
parecem ser propostas pela direita bra-
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 sileira contra o progressismo, a agenda
trans, as teorias críticas raciais, a (homo)
sexualização infantil e a (bi) sexualiza-
ção juvenil, não passam do ato teatral,
espetaculoso; não têm efeitos concre-
tos maiores do que meramente chamar
a atenção do povo para o ridículo dessa
agenda — o que, por si só, não é tão po-
sitivo, pois, em certa medida, normaliza
essa agenda ante a sociedade brasileira.
O presente dossiê, nós o escrevemos
com o fim de corrigir esse erro; com o
objetivo de pôr fim a essa ausência de
propostas de solução concreta a tal pro-
blema que tanto apontamos. Perceba,
caro assinante, não é que essa solução
seja perfeita ou infalível; mas indica um
rumo que podemos seguir. A inspiração
que nos trouxe a solução que aqui apre-
sentaremos já dava seus indícios algu-
mas semanas atrás, quando escrevíamos
os dossiês sobre a disputa presidencial
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o exemplo da flórida
08 de maio de 2023
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entre Ron DeSantis e Donald Trump.
Ao olharmos para a competição política
pela presidência dos Estados Unidos no
pleito de 2024, não pudemos deixar de
notar o árduo envolvimento do gover-
nador floridiano na luta contra o pro-
gressismo cultural em seu estado, parti-
cularmente no que se refere à educação
em todos os seus níveis. Conformemen-
te, elaboramos o presente dossiê com
foco no trabalho que DeSantis vem de-
senvolvendo em seu governo, inclusive
com o apoio do legislativo da Flórida.
Notavelmente, damos ênfase aos acon-
tecimentos recentes que envolvem a ad-
ministração da New College da Flórida
— uma universidade pública estadual,
marcada por seu viés progressista, que
DeSantis promete transformar em um
exemplo para todos os Estados Unidos.
Quiçá, seja um exemplo também para o
nosso Brasil.
Angelica Edwards | Times (2023)
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 T
alvez fenômeno político mais
significante dos últimos cin-
quenta, sessenta anos seja a cap-
tura das instituições (políticas, jurídicas,
burocráticas, educacionais, sanitárias,
etc.) pela esquerda progressista. A partir
da década de 1960, ativistas e intelectu-
ais de esquerda — inspirados por teóri-
cos como o comunista italiano Antonio
Gramsci, e o filósofo da nova esquerda
Hebert Marcuse — se organizaram no
esforço de embutir suas ideias nas insti-
tuições que transmitem conhecimento,
informação e valores para o restante da
sociedade (sendo as mais relevantes as
das áreas de educação, governo, filan-
tropia e imprensa). Recentemente, esse
processo veio a dar frutos espetaculares.
Nas duas décadas iniciais do século XXI,
parece, todas as instituições de prestígio
no Ocidente — e , aí, podem-se incluir
os países anglófonos (Estados Unidos,
Reino Unido, Canadá, Austrália e Nova
Zelândia), a Europa Ocidental (Fran-
ça, Alemanha, Espanha, Holanda, Bél-
gica, Suíça, etc.) e os países periféricos
da América Latina (Brasil, Colômbia,
Chile, Argentina, México, etc.) — se in-
clinavam, inevitavelmente, em favor do
progressismo de esquerda.
o exemplo da flórida
08 de maio de 2023
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Assim, avançavam os pontos ideoló-
gicos da esquerda em temas como rela-
ções raciais, gênero, e — especialmen-
te — cultura. Conscientemente ou não,
eram esses os temas propostos inicial-
mente pelos teóricos, ativistas e intelec-
tuais da década de 1960. Nesse sentido,
órgãos do governo, grandes corporações
privadas, universidades, escolas de ensi-
no fundamental e médio: todas essas ins-
tituições, neste início da década de 2020,
passaram transmitir a mesma mensagem
neomarxista que os intelectuais da déca-
da de 1960 defendiam, agora travestida
pelo acrônimo DEI (Diversidade, Equi-
dade, Inclusividade). Esses termos —
muito bonitos na teoria —, na prática,
servem apenas ao objetivo de tornar he-
gemônica a visão de esquerda na socieda-
de. Diversidade, supostamente, significa
aceitar uma grande variedade de pesso-
as, de modo que instituições pautadas
por diversidade reflitam a variedade de
pessoas que há na sociedade em que elas
estão inseridas. Equidade, por sua vez,
por mais que soe parecido com o ide-
al liberal de igualdade de oportunidades,
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 significa, em termos simples, adaptar as
situações de modo a considerar as dife-
renças que há entre as pessoas — algo
bastante louvável. Inclusividade, por fim,
pressupõe ser tolerante com as diferen-
ças que há entre as pessoas, de modo a
não excluir ninguém por arbitrariedade.
Na prática, porém, a diversidade é
aplicada com base em critérios de con-
dição de renda, pigmentação de pele e
preferências sexuais, enquanto se exige,
ao mesmo tempo, uma uniformidade de
pensamento; as pessoas podem parecer
diferentes umas das outras, mas, nível
mais básico, pensam todas de maneira
igual. Equidade também tem um signifi-
cado prático diferente: é, de fato, consi-
derar as identidades grupais das pessoas
de modo a alcançar resultados identitá-
rios iguais. A aplicação prática da inclu-
sividade, finalmente, consiste em excluir
pessoas e ideias que questionem a utili-
dade, a praticidade, o benefício que esses
ideais podem trazer. Em nenhum outro
lugar a implementação dessas ideias foi
mais efetivo que no sistema educacional
— principalmente, no sistema educacio-
nal de nível superior, nas universidades.
Hoje, nos Estados Unidos, as universi-
dades têm programas e mais programas
voltados para satisfazer os imperativos
dessa ideologia. Assim, a admissão de
novos alunos, a contratação de novos
professores, a definição das ementas de
aula, tudo perpassa uma burocracia ad-
ministrativa responsável por assegurar o
cumprimento da agenda DEI.
Contra isso, o conservadorismo, em
geral, pareceu conseguir pouco além do
mero espetáculo, da reação não plane-
jada. O esforço mais organizado contra
o avanço progressista através das ins-
tituições sequestradas consistia em ex-
por esse avanço e chamar a atenção da
consciência pública para esse assunto.
As medidas mais efetivas que pudemos
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o exemplo da flórida
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observar, foi uma série de políticas pú-
blicas aprovadas nos órgãos legislativos
estaduais dos Estados Unidos. Particu-
larmente interessantes foram as legisla-
ções aprovadas na Flórida com o apoio
do governador Ron DeSantis, que im-
puseram limites aos tipos de ideologias
que poderiam ser transmitidas em ins-
tituições de ensino floridianas; que re-
estabeleceram controle democrático
sobre as burocracias administrativas. É
uma luta pessoal de DeSantis comba-
ter o progressismo de esquerda; comba-
ter a cultura woke; tirar a agenda trans,
a agenda queer das escolas infantis; ex-
cluir a teoria crítica racial dos currículos
escolares do ensino médio; transformar
as universidades públicas da Flórida em
instituições superiores de educação, in-
vés do que são hoje — medíocres cen-
tros de ensino, na melhor das hipóteses.
A esse respeito, DeSantis não está
estrategicamente mudando apenas as
políticas públicas de educação na Flóri-
da. Ele também está mudando o pessoal
administrativo de escolas e universida-
des e o estilo de governança dessas ins-
tituições. Isso não tudo, porém. Politi-
camente, o governador floridiano sabe
muito bem mesclar suas propostas legis-
lativas com o combate midiático com os
progressistas. Muitas de suas ações re-
centes seguiram essa linha de conduta.
Foi assim quando ele enviou migrantes
ilegais para a ilha Martha’s Vineyard —
uma região turística no estado do Mas-
sachussets que atrai muitos progressis-
tas, os quais defendem uma política de
fronteiras abertas à imigração. Foi assim
quando ele elaborou o “Stop the Wrongs
to Our Kids and Employees (WOKE) Act”,
que regula conteúdos instrutivos e edu-
cacionais em escolas e treinamentos pro-
fissionais; entre as determinações mais
importantes do Stop the WOKE Act, está
a que proíbe conteúdos que corroborem
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 a tese de que indivíduos compartilham a
culpa e a responsabilidade de atos his-
tóricos com base em raça, sexo ou ori-
gem nacional. Foi assim, sobretudo,
na batalha que DeSantis vem travando
contra a Disney, após a empresa multi-
milionária de entretenimento — conhe-
cida por, em anos recentes, propagar
ideais progressistas em seus conteúdos
infantis — criticar legislações apoiadas
pelo governador que visavam a restrin-
gir discussões sobre identidade de gêne-
ro e orientação sexual em sala de aula.
Em todos esses casos, consultores
políticos afirmaram veementemente
que DeSantis teria passado do ponto,
e a imprensa tradicionalmente alinhada
com a esquerda o atacou sem pudor. Às
vezes, o ciclo midiático durava apenas
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o exemplo da flórida
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uma semana; outras vezes, duas; nunca
chegou a passar de um mês. Uma vez
cansados os jornalistas de “noticiar” das
mesmas coisas; de regurgitar as mesmas
“notícias”, a medida tomada por DeSan-
tis permanecia. Sua atitude contra esses
ataques midiáticos sempre foi aguentar;
esperar até que acabassem e, enquanto
isso, demonstrar solidez de posiciona-
mento. Isso muito contribui para que o
governador mantenha sua popularidade
enquanto toma as medidas necessárias
para combater o progressismo na Fló-
rida. A receita de DeSantis parece con-
sistir simplesmente em 1. liderança, 2.
implementação estratégica de políticas
públicas e de comunicação com o povo,
e 3. coragem e sabedoria para aguentar a
moagem da imprensa e dos progressistas.
Daniel A. Varela | Getty Images (2023)
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 P
oliticamente, a estratégia que
Ron DeSantis vem seguindo é
um sucesso, de fato. Porém, caso
queiramos um resultado mais duradouro
que o ciclo político-eleitoral, será neces-
sário medidas mais robustas para trans-
formar a cultura institucional no gover-
no, nas universidades e nas empresas.
Nesse ponto, se encaixa o caso da New
College of Florida na cidade de Sarasota
Bay, à beira da praia, no Golfo do Méxi-
co. Instituição pública estadual de ensi-
no superior, a faculdade New College of
Florida foi fundada em 1960 e teve uma
história turbulenta: originalmente uma
instituição de ensino privada, passou ao
controle público em 1975, quando foi
incorporada à Universidade do Sul da
Flórida, e em 2001 se tornou uma facul-
dade autônoma. Essas mudanças com
relação à faculdade não mostram, por si
só, os problemas por que tem passado a
New College. Atualmente, a New Col-
lege aceita basicamente a inscrição de
qualquer pessoa: cerca de três quartos
dos candidatos a estudar lá são aceitos
— ou seja, não é um ambiente academi-
camente competitivo; dos muitos estu-
dantes que são aceitos para estudar na
faculdade, cerca de 85% acaba indo para
o exemplo da flórida
08 de maio de 2023
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outras instituições de ensino; e, para pio-
rar, dos estudantes que efetivamente se
matriculam, um quinto sai da faculdade
após seu primeiro ano de estudos lá.
Como consequência, a faculdade ope-
ra com apenas metade de sua capacidade
estudantil e, assim, tem sérios problemas
financeiros e não apresenta qualquer via-
bilidade econômica. Em 2018, a New
College se propôs a aumentar de 800 para
1200 a quantidade de alunos, com vistas
a atingir estabilidade financeira. Hoje em
dia, a faculdade tem cerca de 700 alunos.
Além disso, estado da Flórida gasta, por
diploma emitido pela New College, cer-
ca de US$ 200 mil — número absurdo
quando comparado aos US$ 37 mil que
custa a Florida State University. Desse
modo, o governo floridiano — e parti-
cularmente o poder legislativo do estado
— contemplou fechar a faculdade e doar
seus ativos para outras entidades públi-
cas de ensino. Ron DeSantis, porém, se
propôs a algo diferente: melhorar a fa-
culdade; investir nela; aumentar os indi-
cadores de qualidade educacional; trans-
formar o ambiente acadêmico da New
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 College em um exemplo de sucesso para
todos os estados dos Estados Unidos.
Essa decisão tem um peso no que se
refere a competência administrativa, sim;
mas tem um peso maior ainda no que se
refere à guerra cultural. New College é
conhecida por ser o ambiente perfeito
para alunos progressistas: uma bolha de
“justiça social”, em que estudantes que
divergem dessa visão são intimidados e
ostracizados — o que, por sua vez, tem
um grande impacto sobre a quantidade
de matriculas. É a faculdade do “politica-
mente correto”; dos alunos “zé-drogui-
nha”; dos professores “esquisitões” —
onde alunos cristãos sofrem bullying até
largarem os estudos, e os corpos admi-
nistrativo e docente não fazem nada para
impedir isso. A mudança que DeSantis
propôs já começou. No início deste ano,
DeSantis indicou seis nomes para o con-
selho de curadores da faculdade, den-
tre os quais se destaca o de Christopher
Rufo, um dos líderes da luta nacional
contra a teoria crítica racial nos Estados
Unidos e árduo defensor da meritocra-
cia e da liberdade individual em detri-
mento das questões raciais e sociais. Nas
palavras de Rufo, seu objetivo em New
College não é “substituir a ortodoxia de
esquerda pela ortodoxia de direita”, pelo
contrário, ele diz que “vamos ampliar os
limites do debate público, vamos permi-
tir que mais pessoas participem, vamos
ter uma variedade maior de opiniões que
podem ser debatidas e discutidas e ar-
ticuladas sem medo de intimidação, do
bullying; sem medo de ameaças de vio-
lência e nós já estamos fazendo isso.”
Na prática, as mudanças não se resu-
mem a essas nomeações. DeSantis tam-
bém tem maioria no Conselho de Di-
retores da Flórida, o que lhe permitiu
abolir os departamentos universitários
que lidam com programas de diversida-
de, equidade e inclusão (DEI). Em 31 de
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o exemplo da flórida
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janeiro, também foi demitida a antiga rei-
tora da New College of Florida, Patricia
Okker, apesar dos esforços da presidente
do corpo estudantil, Grace Keenan, para
adiar a decisão. Keenan não poupou elo-
gios à reitora a se despedir: afirmou que
o modelo educacional exclusivo da New
College deve servir como inspiração para
o ensino superior em todos os lugares,
além de elogiar Okker por supostamente
resolver muitos dos problemas que a fa-
culdade enfrentou durante sua gestão. A
simpatia foi inútil, o novo indicado para
assumir a função foi Richard Corcoran,
um ex-presidente Republicano da As-
sembleia Legislativa da Flórida — aliado
próximo do governador DeSantis e en-
fático defensor de sua cruzada contra a
cultura woke na educação do estado.
Em contramão a essas mudanças na
Flórida, Hampshire College, uma facul-
dade particular de Amherst, Massachu-
setts, anunciou há alguns meses que os
alunos do New College of Florida pode-
riam se transferir para lá, inclusive com
o mesmo valor da mensalidade paga na
Flórida. O reitor de Hampshire, Edward
Wingenbach, falou o seguinte: “É extre-
mamente importante que as faculdades
e universidades façam algo para tentar
resistir ao que é essencialmente um es-
forço contínuo, em expansão e cada vez
mais agressivo para limitar a livre pesqui-
sa no ensino superior. Temos que vê-lo
pelo que ele é, e tentar fazer o que con-
diz com os nossos recursos e capacida-
des para fazê-lo recuar. Uma das coisas
que a Hampshire [College] pode fazer é
oferecer aos alunos da New College um
lugar para fugir disso”. Hampshire Colle-
ge não é a única escola tentando recrutar
alunos progressistas da New College que
fiquem desgostosos com as mudanças
propostas por DeSantis. A Binghamton
University, no norte do estado de Nova
York, também está se apresentando para
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 estudantes e educadores da Flórida. O
reitor da universidade, Donald E. Hall,
publicou em um jornal da Flórida (Miami
Herald) uma coluna intitulada “Send us
your woke, your trans — Florida’s you-
th yearning to breathe free”. Traduzido:
“Envie-nos os seus woke, seus trans —
a juventude da Flórida que anseia por
respirar livre”. São ambas, faculdade e
universidade, popularmente conhecidas
por seu viés progressista.
O ponto central do conflito com o go-
vernador é certamente o filtro ideológico
adotado pela New College. A faculdade
na Flórida sempre submeteu seus alunos
a inúmeros programas de diversidade, o
que obviamente é pouco atrativo para a
maioria dos jovens floridianos, algo que
inclusive se reflete no baixo número de
matrículas. As práticas progressistas que
sempre foram comuns na New Colle-
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o exemplo da flórida
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ge, felizmente — promete-se — desapa-
recerão, dado que DeSantis eliminou os
projetos de diversidade que anteriormen-
te eram adotados pela faculdade. Taryn
Fenske, diretora de comunicações de De-
Santis, fez a certeira constatação sobre a
New College of Florida: “Infelizmente,
como tantas faculdades e universidades
nos Estados Unidos, esta instituição foi
completamente capturada por uma ideo-
logia política que coloca conceitos moder-
nos e relativos à verdade acima do apren-
dizado”. Caso DeSantis consiga mudar
esse status quo na educação do estado da
Flórida, tornando a New College, de fato,
em uma instituição exemplar de ensino
superior, ele terá não apenas um modelo
replicável para o restante do estado; mas,
sobretudo, terá um caso de sucesso para
lhe acompanhar no pleito à presidência
dos Estados Unidos ano que vem.
Jim DeLa| WWSB-TV (2023)
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 A
perspectiva de que DeSantis
poderá usar uma bem-sucedi-
da mudança na New College
para fortalecer sua candidatura nas elei-
ções presidenciais de 2024 nos Estados
Unidos, é algo que atrai as críticas não
apenas da esquerda identitária, mas, espe-
cialmente do ativista conservador Curtis
Yarvin. “Custou US$ 200 milhões para
eleger o governador — um homem jo-
vem e vigoroso, com os pedigrees acadê-
mico e militar mais finos”, escreve Yarvin,
em seu blog Gray Mirror. “Pode custar um
bilhão de dólares para elegê-lo presidente.
O que, objetivamente, esse dinheiro todo
está comprando?” A resposta de Yarvin
é pessimista. Para ele, o conservadorismo
é uma força de resistência que, aos pou-
cos, vai cedendo até que ao que se busca-
va resistir torna-se o status quo e o que se
buscava conservar é deixado como relí-
quia de um passado ignorante. A partir de
então, o novo status quo é o que se busca
conservar. Não é que Yarvin veja o status
quo progressista como algo bom; suas pa-
lavras são claras quanto a isso: a cultura
woke não passa de “fertilizante intelectual
com sabor de doces” — nutricionalmen-
te, é matéria fecal, mas agrada ao paladar
infantil dos estudantes de esquerda.
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o exemplo da flórida
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É que Yarvin vê o esforço de DeSantis
como análogo ao antigo provérbio lituano
sobre uma vila cuja praça central por mui-
to tempo teve um grande carvalho que lhe
dava sombra. Certa noite de sábado, um
vândalo enlouquecido cortou o carvalho
com um machado. Naquela noite, como
era de costume, o sábio da via estava pro-
fundamente embriagado. Quando, na tarde
de domingo, ele acordou cheio de ressaca
e olhou através de sua janela para a praça,
o sábio se surpreendeu ao ver que o gran-
de carvalho fora cortado. Mais ainda ele se
surpreendeu ao ver que os moradores da
vila, com cordas, guindastes e pás, estavam
tentando replantar o carvalho. Eles cavaram
um buraco onde antes estiveram as raízes
da árvore; e ali planejavam plantar o tronco
cortado. Enquanto isso, as folhas do car-
valho já secavam. Em seus pijamas, sem se
importar muito com a dor de cabeça e com
o ardor do sol, o sábio desceu as escadas
até a praça; começou a juntar bolotas e a
plantá-las em pequenos buracos no solo.
Todos pensaram que o sábio tivesse enlou-
quecido. Ele não queria a árvore de volta?
Por que estava agindo como um esquilo?
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 Peter Duke| Flickr (2018)
Para Yarvin, o esforço de DeSantis de
transformar New College em uma institui-
ção de ensino de altíssima qualidade é se-
melhante ao esforço dos moradores da vila
de replantar o carvalho cortado: vai exigir
muito trabalho, dedicação, suor e força,
para no final não dar certo. De que adian-
ta demitir todos administradores que têm
viés de esquerda? Os estudantes e os pro-
fessores progressistas continuarão lá. Yar-
vin acha que, de New College, só os pré-
dios e o terreno se salvam. Todo o esforço
de DeSantis nesse sentido acaba apenas
por oxigenar a mídia e os agentes políticos
do progressismo de esquerda. No fim, a
árvore que se quer replantar já está mor-
ta. Invés disso, o que se deve fazer é plan-
tar algumas várias bolotas que poderão,
em algumas décadas se tornar um grande
arvoredo. Essas bolotas da analogia são,
na visão de Yarvin, a atividade artística e
educacional de quem se opõe ao progres-
sismo. Essa oposição, porém, não deve
ser politicamente escancarada: “eu passei
a acreditar que quão menos política a arte,
o melhor. Em certo sentido: quão menos
política, a mais política [ela passa a ser].”
Em certa medida, Yarvin está certo. A
mudança não pode ser feita apenas por fi-
guras políticas; se, efetivamente, “o futu-
ro sempre começa no centro e no topo”,
conforme ele diz no final de seu post, esse
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o exemplo da flórida
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centro e esse topo não são, nem podem
ser, apenas o centro e o topo político.
Contudo, a visão de Yarvin parece mero
pessimismo conservador. Uma vez que se
deixem as abstrações de carvalhos e bolo-
tas, e se aprofundem nas especificidades
da administração e da burocracia educa-
cional, vê-se que em pouco tempo as mu-
danças em New College já estão abalando
o sistema de educação superior nos Esta-
dos Unidos. Nunca antes alguém golpeou
frontalmente a ortodoxia de esquerda no
ensino superior, e agora a esquerda identi-
tária e progressista deixou de se sentir in-
vulnerável, intocável, invencível. É verda-
de que o progressismo de esquerda é fruto
das pequenas bolotas que foram plantadas
na década de 1960; mas essas bolotas não
consistiram apenas nos investimentos e
patrocínios que os figurões endinheirados
davam a artistas e escritores de esquerda.
Algumas das bolotas eram também os
funcionários públicos, os professores e
os estudantes que ganharam aos poucos
mais e mais espaço no sistema de ensino
superior. DeSantis não está empreenden-
do um esforço monumental de replantar
o carvalho cortado; ele está plantando
uma pequena bolota. Apenas acontece
que essa bolota é a que, até agora, vem
se desenvolvendo melhor e que vai cres-
cer em uma árvore o mais rapidamente.
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 S
e o esforço de Ron DeSantis se pro-
var frutífero, se New College se tor-
nar um exemplo de ensino superior
isento do viés progressista, então, os Estados
Unidos e o Ocidente terão um modelo ao
qual seguir para extirpar o sistema educacio-
nal da esquerda woke. É verdade que o siste-
ma de educação pública dos Estados Unidos
é bastante diferente do sistema brasileiro. No
entanto, a descrição de New College como
uma faculdade do “politicamente correto”,
dos alunos “zé-droguinha”, dos professores
“esquisitões” — onde alunos cristãos so-
frem bullying até largarem os estudos, e os
corpos administrativo e docente não fazem
nada para impedir isso — soa bastante fami-
liar aos ouvidos de qualquer brasileiro que
já frequentou uma universidade pública no
Brasil. Se as especificidades em si do modelo
adotado por DeSantis lá não possam ser re-
plicadas aqui, a atitude de se aprofundar no
dossiê produzido por:
Redatores: André Levi, Igor Thawan, Orlando Lima, Pablo Aragon & Thiago de Sá Gomide
Layout: Vitor Ferreira Mateus
É terminantemente proibida a reprodução, cópia, distribuição, resumo, extra-
ído ou de outra forma referenciado, no todo ou em parte, de conteúdo deste
material sem o expresso e prévio consentimento dos membros do Clube MBL.
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o exemplo da flórida
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emaranhado burocrático e ideológico pode.
Nossos líderes eleitos sobre os palanques do
que podemos chamar de direita e de conser-
vadorismo podem, muito bem, tomar a mes-
ma atitude: mergulhar nas leis, nos artigos,
nos incisos e nas alíneas que compõem os
ditames da educação pública no Brasil. Os
jovens conservadores e liberais que queiram,
com efeito, mudar o status quo em nossas
universidades terão de também se emara-
nhar nas burocracias administrativas, de pas-
sar por um sistema educacional que lhes é
desfavorável, para — aos poucos — muda-
-lo. Esses esforços serão as bolotas que nós
vamos plantar, com a esperança de que aqui
no Brasil surja um arvoredo conservador que
inspire admiração em todos os cantos.
Foto da Capa: Cheney Orr | AFP (2023)
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