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Economia, Trabalho e Crise a partir dos anos 1930 no Brasil

Prof. Daniel Pinha

Descrição

O papel dos modelos econômicos adotados no Brasil, a partir dos anos de 1930, e seus impactos no país e nos brasileiros.

Propósito

Compreender o modo como os trabalhadores são impactados pelos modelos econômicos, e sua adoção política, é fundamental para entender as
relações de trabalho no Brasil.

Objetivos

Módulo 1

A industrialização em perspectiva histórica


Identificar o modelo econômico nacional desenvolvimentista implementado no Brasil da década de 1950.

Módulo 2

Do milagre ao neoliberalismo
Relacionar a crise econômica no Brasil da década de 1980 com a adoção de políticas econômicas de orientação neoliberal.
Módulo 3

Crise da dívida externa na década de 1980 e a emergência do


neoliberalismo
Reconhecer as características da economia neoliberal no Brasil.

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Introdução
Para entendermos as características da economia brasileira entre as décadas de 1930 e 1950, é preciso compreender, primeiramente, que foram
anos de mudança no eixo dinâmico do processo de acumulação econômica no Brasil: o país tornou-se urbano e industrial, deixando de ser apenas
agrário, exportador centrado no café, como era durante a chamada Primeira República (1890-1930).

Entre 1930 e 1954, na Era Vargas, procurou-se estabelecer as determinações internas do processo de industrialização, com a implantação pelo
Estado do setor industrial de bens de produção e tendo como base desse modelo a legislação sindical e trabalhista.

Por outro lado, esse modelo de desenvolvimento econômico atendia aos interesses dos setores agroexportadores, já que o Estado realizava
investimentos que os beneficiava, tais como em obras de construção e ampliação da rede de transportes, vias de acesso e comunicação. Além
disso, politicamente, o Estado garantia a manutenção da estrutura fundiária e das relações de produção no campo. Essa política trazia, como
desdobramento, o crescimento das cidades em função do fluxo migratório.

Nesse contexto, a palavra de ordem é desenvolvimento, tornando-se sinônimo de crescimento industrial. A conjuntura internacional adversa dificulta
o ingresso de investimentos externos e reforça a opção nacionalista, baseada na acumulação interna e na ação do Estado. A crise decorrente do
modelo, a estagnação da década de 1980, e o modelo internacional em 1990 levam a um novo modelo de solução, como o neoliberalismo.

1 - A industrialização em perspectiva histórica


Ao final deste módulo, você será capaz de identificar o modelo econômico nacional
desenvolvimentista implementado no Brasil da década de 1950.

Nacionalismo e petróleo

A questão do petróleo
Entre 1938 e 1948, a questão do petróleo foi motivo de diversas controvérsias, com três posições contrapostas.

A campanha do petróleo possibilitou uma aglutinação sem precedentes dos mais distintos tipos
de pensamento político, frações sociais e associações profissionais, produzindo uma linha de
clivagem inédita no contexto da Guerra fria e da repressão política. Transversal às estruturas
sociais e políticas da sociedade brasileira, o petróleo foi um tema típico do nacionalismo
econômico.
(MOURA, 1986, p. 90)

Nacionalismo estatizante
Defendia o controle governamental, com a criação de uma empresa estatal monopolista. Esse modelo nacionalista estatizante tinha como
pressuposto o alto valor estratégico do petróleo na economia e nas questões militares. Temia, em particular, a ação das poderosas companhias
internacionais, sobretudo as norte-americanas e as inglesas – Shell, Exxon, Texaco, British Petroleum.

Nacionalismo liberal
Esse modelo compartilhava, com o nacionalismo estatizante, os mesmos temores e a mesma concepção sobre o valor estratégico do petróleo. No
entanto, desconfiava da capacidade de gestão do Estado e propunha uma empresa privada brasileira.

Visão cosmopolita
Esse modelo considerava que o mais importante era pesquisar, encontrar petróleo, e produzir energia para a indústria. Nesse sentido, eles tinham
uma visão pragmática, visando alcançar um meio mais eficaz de produção. Seus adversários os acusavam de “entreguistas”, termo pejorativo para
indicar que assim estariam “entregando as riquezas nacionais” às empresas estrangeiras. Os cosmopolitas, por sua vez, acusavam os nacionalistas
estatizantes de comunistas. Argumentavam que o capital estrangeiro daria contribuição técnica e financeira fundamental.

O debate chegou às ruas em 1948, com a proposta de um estatuto, elaborado pelo governo Dutra.

Sob o lema O petróleo é nosso!, foram organizados inúmeros comitês pelo país afora.
Sob pressão popular e com um Congresso dividido, o projeto do estatuto foi arquivado.

A campanha voltou à tona quando Vargas, ao assumir o governo em 1951, propôs a criação de uma empresa de petróleo, com capitais privados e
estatais, com possibilidade de aporte de capital estrangeiro. O partido do presidente, o PTB, rejeitou a proposta, apresentando outra fórmula, que
estabelecia o rígido monopólio estatal, vedando a participação estrangeira. A UDN, partido liberal, e intensamente antivarguista, assumiu a defesa
do monopólio estatal. Diante da situação, Vargas retirou o projeto original, sugerindo a criação de uma empresa estatal.

Em 3 de outubro de 1953, depois de sete anos de luta e de intensa mobilização popular, nasceu a Petróleo Brasileiro S. A. – uma empresa de
economia mista, mas de controle nacional e participação da União. A Petrobras é encarregada de extrair e explorar as diferentes etapas da indústria
petrolífera, excetuando-se a distribuição.

Pensamento econômico desenvolvimentista

Cepal e ISEB
O desenvolvimentismo, isto é, um projeto de industrialização planejado e apoiado pelo Estado, figurou no centro do debate sobre a questão da
soberania nacional brasileira no pós-guerra (1945). A Comissão Econômica para a América Latina (Cepal), nesse momento histórico, foi o principal
local de articulação e elaboração de um instrumental teórico e prático para o desenvolvimento dos países considerados periféricos, de economias
subdesenvolvidas como a brasileira.

Saiba mais
A Cepal foi criada em 25 de fevereiro de 1948, pelo Conselho Econômico e Social das Nações Unidas (ECOSOC), e tem sua sede em Santiago, Chile.
Foi criada para monitorar as políticas direcionadas à promoção do desenvolvimento econômico da região latino-americana, assessorar as ações
encaminhadas para sua promoção e contribuir para reforçar as relações econômicas dos países da área, tanto entre si como com as demais nações
do mundo. Posteriormente, seu trabalho ampliou-se para os países do Caribe e incorporou o objetivo de promover o desenvolvimento social e
sustentável.

Os cepalinos argumentavam que o subdesenvolvimento era produzido a partir de uma relação desigual de troca entre países centrais e países
periféricos. Uma relação em que o estímulo para a economia vinha de fora do país e não se conseguia acumular capital internamente. Dessa
maneira, a especialização em produtos primários exportadores retirava desses países a capacidade de negociar no comércio internacional. E, mais
grave, formava no país uma sociedade e uma economia partidas entre o setor vinculado à demanda externa – moderno e adiantado – e um setor
marginalizado, atrasado.
Inauguração do Instituto Superior de Estudos Brasileiros

O Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB) foi, também, um importante espaço para elaboração das perspectivas de desenvolvimento
oferecidas no período. O ISEB foi incumbido de elaborar uma ideologia desenvolvimentista de cunho nacionalista. Para Caio Navarro de Toledo, o
ISEB se apresentou como uma verdadeira fábrica de ideologias, cumprindo o papel de delinear o projeto nacional de desenvolvimento.

Uma construção ideológica que, por meio da ação planejadora do Estado e de uma frente política de aliança de classes, nortearia o
desenvolvimento proposto para a superação do “atraso” que marcava a realidade brasileira.

O Iseb foi criado pelo Decreto nº 37.608 de 14 de julho de 1955, ainda na gestão transitória de
Café Filho à frente da presidência da República, como órgão do Ministério da Educação e
Cultura. Foi criado por um grupo de intelectuais egressos do Grupo de Itatiaia que tinha como
objetivos o estudo, o ensino e a divulgação das ciências sociais, cujos dados e categorias seriam
aplicados à análise e à compreensão crítica da realidade brasileira e deveriam permitir o
incentivo e a promoção do desenvolvimento nacional.
(ABREU, s.d.)

Apesar das marcantes divergências entre os teóricos desse instituto, alguns pontos são considerados chaves na elaboração da ideia de
desenvolvimento proposta pelo ISEB.

A defesa de uma perspectiva dualista existente na configuração da sociedade brasileira:

Um grupo ligado à agroexportação, entendido como arcaico, tradicional, e relacionado ao imobilismo social.
Outro grupo ligado aos setores urbanos, verdadeiramente dinâmicos do país, que representavam a “burguesia industrial”, entendido pelos
isebianos como o principal agente das transformações, “vanguarda” da “revolução” propugnada para o país.

Assim, o estímulo aos setores urbanos seria o caminho a ser percorrido para a superação do subdesenvolvimento. Aqui o ISEB, sem formular uma
análise propriamente econômica como feita pela Comissão Econômica para a América Latina (Cepal), acabava por compartilhar o diagnóstico feito
pelos economistas cepalinos para explicar as razões do subdesenvolvimento.

Segundo Mendonça (2003), a contradição básica a ser superada, para os teóricos isebianos, estava caracterizada na relação entre a nação e a
antinação, o que permitia envolver todos os setores sociais na tarefa de promover o crescimento. A ideia de pacto entre diferentes segmentos da
sociedade, interessados no viés industrialista para superação do “atraso brasileiro”, atravessava o conjunto das formulações isebianas.

Política econômica

Desenvolvimentismo e Plano de Metas


Essa noção de Estado como indutor de determinada estratégia elaborada para o desenvolvimento econômico/industrial reflete-se, na prática, em
diversos momentos no Brasil dos anos 1950. A segunda metade dessa década é esclarecedora sobre a presença e contribuição dessas análises
estruturalistas cepalinas.

O próprio Plano de Metas do governo JK foi elaborado em uma parceria entre o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE) e Cepal. A
novidade trazida pelos cepalinos foi a implementação de técnicas de planejamento na formulação de direcionamento das políticas econômicas
industriais e desenvolvimentistas do período.

Comentário
O Estado assumia um papel de direção da estratégia de desenvolvimento, criando condições propícias para a expansão do setor privado,
estimulando o estabelecimento de uma sólida poupança interna para consolidação de um mercado interno que atendesse o crescimento da
produção industrial.

A partir de meados da década de 1950, a industrialização por substituição de importações passa a ter como carro-chefe a implantação da indústria
de bens de consumo duráveis, como automóveis e eletrodomésticos.

Durante o governo Juscelino Kubitschek (1956-1961), a taxa de crescimento da economia foi de 8% ao ano, em média, mas a produção industrial
cresceu 100%. Todo esse desenvolvimento foi definido a partir do Plano de Metas, que priorizou a substituição de importações nos setores de bens
de capitais e, principalmente, bens de consumo duráveis.

Inauguração da Fábrica da General Motors em São José dos Campos (SP) pelo Presidente Juscelino Kubitschek, 1959.

O Estado, especialmente por meio do BNDE, continuou a financiar grande parte das indústrias de base, com novas emissões de moedas ou por meio
de empréstimos externos. Já o setor de bens de consumo duráveis desenvolveu-se a partir da internacionalização da economia, e para isso utilizou
a instrução da Superintendência da Moeda e do Crédito (Sumoc), baixada no início de 1955, no curto governo Café Filho (1954-1955), que garantia a
importação de máquinas e equipamentos no exterior, sem impostos ou cobertura cambial, desde que os empresários estrangeiros tivessem sócio
nacional.
A criação da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) pelo governo Juscelino pretendia minimizar os problemas provocados
pela seca e promover o desenvolvimento da região Nordeste. No período entre 1960 e 1964, o Plano da Sudene para a agricultura nordestina estava
apoiado no estudo da realidade da região e tinha os seguintes programas prioritários:

Produção de alimentos na zona úmida do Nordeste.

Desenvolvimento no semiárido de uma agricultura resistente aos efeitos da seca.

Colonização do Maranhão.

Desenvolvimento da irrigação no Vale do rio São Francisco.

Tendo como base a política econômica construída por Getúlio Vargas e a massa crítica da Cepal, Juscelino Kubitschek inovou no gerenciamento da
economia brasileira, lançando seu Plano de Metas. Um plano que deveria realizar 50 anos em 5.

A meta síntese era a construção da nova capital no planalto central – Brasília.

O plano abrangia os seguintes setores estratégicos:

local_fire_department
Energia
commute
Transportes
restaurant
Alimentação
location_city
Indústria de base
Seus objetivos principais visavam enfrentar os pontos de estrangulamento da economia, por meio de investimentos do Estado em infraestrutura,
expansão da indústria de base, desenvolvimento da indústria automobilística, incentivando investimentos privados nacionais e estrangeiros,
principalmente

Composto de 31 metas distribuídas em seis grandes grupos, o programa incorporava a noção de planificação e planejamento da economia.
Segundo Benevides (1979), tratava-se de um documento de caráter estritamente econômico, que estipulava metas para os setores de:

Energia (metas de 1 a 5; energia elétrica, nuclear, carvão, produção e refino de petróleo).

Transportes (metas de 6 a 12; investimentos em estradas de ferro, pavimentação de estradas de rodagem, portos, barragens, marinha mercante e
transportes aéreos).

Alimentação (metas de 13 a 18: trigo, armazéns e silos, frigoríficos, matadouros, mecanização da agricultura, fertilizantes).
Indústria de base e bens de consumo duráveis (metas de 19 a 29: aço, alumínio, metais não ferrosos, cimento, álcalis, papel, celulose, borracha,
exportação de ferro, indústria de veículos motorizados, construção naval, maquinaria pesada e equipamento elétrico).

Educação (meta 30).

A meta 27 do Plano de JK merece destaque, pois versava sobre a implantação da indústria automobilística,
símbolo do crescimento econômico do período.

Com capacidade de produção de 170 mil veículos em 1960, o desempenho do setor era surpreendente. A capacidade instalada, ao final da década,
permitia a superação da meta fixada em 1955 em 17,2%, segundo Moreira (2003).

A meta 31, referente à construção de Brasília, seria incorporada ao longo da campanha presidencial; no entanto, foi a que melhor encarnou as
utopias desenvolvimentistas dos setores que chegaram ao poder naquele contexto histórico.

A construção da nova capital, ao sugerir a integração do território nacional e simbolizar a modernidade do que posteriormente seria qualificado
como “anos dourados”, ganharia contornos de “meta síntese” do governo Kubitschek.

Saiba mais
A Instrução 113 da Superintendência de Moeda e Crédito (Sumoc) foi um dos instrumentos-chave da política econômica desenvolvimentista, na
medida em que facilitava a entrada de bens de capitais estrangeiros. Adotada ainda no governo Café Filho, permitia ao investidor estrangeiro
introduzir equipamentos sem cobertura cambial (a taxa livre de câmbio), isto é, sem dispêndio de divisas; ou seja, poderiam se instalar no país
trazendo máquinas que já possuíssem ou que tivessem condições de adquirir no exterior por sua conta. Esses equipamentos seriam incorporados
ao ativo das empresas, que tanto poderiam ser uma filial do investidor no Brasil ou uma empresa brasileira à qual o investidor estrangeiro ficava
associado. A Sumoc foi a instituição que precedeu o Banco Central do Brasil, criado apenas em 1965, no trato das políticas cambiais.

Desdobramentos sociais do modelo desenvolvimentista

Crescimento econômico
O crescimento da economia brasileira durante a vigência do modelo econômico desenvolvimentista pode ser notado em números:

Na produção de cimento, foram produzidas 914 mil toneladas em 1947 e 4.680 mil toneladas em 1961, alcançando-se a autossuficiência.

A produção de aço em lingotes passou de 1,4 milhão de toneladas em 1956 para 2,7 milhões de toneladas em 1962.

A produção de veículos automotores passou de 31.000 em 1957 para 200.000 em 1962.

A capacidade instalada de geração de energia elétrica passou de 2,8 milhões de Kw em 1954 para 5,8 milhões de Kw (1962).
A extensão de rodovias pavimentadas passou de 3.200Km em 1956 para 9.000Km em 1962.

O crescimento médio anual da economia brasileira foi de 8,1 %.

Dessa maneira, realizou-se a abertura do mercado nacional para as grandes empresas estrangeiras, que passaram a investir maciçamente no Brasil
com a disponibilidade de capitais. Assim, os Estados Unidos e as nações europeias retomavam a expansão imperialista.

Vale lembrar que a Europa Ocidental e o Japão se recuperavam dos prejuízos causados pela Segunda Guerra Mundial, como resultado do Plano
Marshall e de outros investimentos realizados pelos Estados Unidos.

O governo Kubitschek soube aproveitar a nova conjuntura econômica internacional, com maior disponibilidade de capitais e a retomada da disputa
por mercados pelas empresas das economias centrais. Assim, as reticências e as condições impostas pelos norte-americanos à cooperação para o
desenvolvimento industrial brasileiro podiam ser contornadas com essas novas parcerias, ávidas por oportunidades de investimentos rentáveis.

O modelo de desenvolvimento dependente-associado rapidamente apresentou as suas contradições, dificultando a satisfação de


todos os interesses.

Sem o apoio esperado do governo norte-americano de Eisenhower e do Fundo Monetário Internacional, JK rompeu com o FMI em
1959, optando pela manutenção da política econômica expansionista.

A crise econômica manifestou-se com intensidade no final do governo, com denúncias de corrupção e aumento do déficit público e da
inflação, além das perdas salariais a partir de 1958, eliminando grande parte do ufanismo desenvolvimentista.

O crescimento urbano foi acompanhado pelo crescimento de uma classe média, em grande parte vinculada ao setor de serviços,
ampliando também o consumo.

A inflação voltou a crescer e, apesar dos investimentos públicos no setor de serviços, as cidades não estavam preparadas para o
crescimento, pois atraíam milhares de migrantes.

A política para o setor agrário caracterizou-se pela manutenção do modelo tradicional.


A concentração fundiária manteve-se e foi menos questionada, uma vez que toda a discussão econômica passou a basear-se no
desenvolvimento industrial.

Dessa maneira, os financiamentos tradicionais garantiram a manutenção do latifúndio ao mesmo tempo em que a não existência de uma nova
política para o campo garantia o fluxo constante de mão de obra barata, expulsa do campo e atraída pelas novas oportunidades nas grandes
cidades.

O movimento desenvolvimentista não cessou com o fim dos anos JK, muito pelo contrário, é um modelo político
que emerge – adaptado, ressignificado – em momentos diversos do Brasil.

Durante o governo civil-militar entre 1964 e 1985, tivemos o chamado milagre econômico: mesmo que em termos de fundamento tenham um papel
diferenciado, é um exemplo de como determinadas tendências aparecem e são reutilizadas em outros momentos políticos.

Outro comparativo possível é a adoção de inspirações desenvolvimentistas durante o governo Luíz Inácio – ainda que com fortes tendências
neoliberais e com o foco na inclusão pelo consumo –, traços desse valor são mantidos e trabalhados.

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Comparando modelos: desenvolvimentismo de JK
O professor Tadeu Lemos discute agora um pouco sobre as semelhanças e diferenças dos anos Vargas e JK, e como podemos perceber traços no
modelo econômico da ditadura civil-militar no Brasil.
Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?


Questão 1

(PUC-RIO 2008- Adaptada) Leia o texto a seguir antes de responder:

“Como nasceu Brasília? A resposta é simples. Como todas as grandes iniciativas, surgiu quase de um nada. A ideia da interiorização da capital
do país era antiga, remontando à época da Inconfidência Mineira. A partir daí viera rolando através das diferentes fases da nossa História: o fim
da era colonial, os dois reinados e os sessenta e seis anos de República até 1955. [...] Coube a mim levar a efeito a audaciosa tarefa. Não só
promovi a interiorização da capital no exíguo período do meu governo, mas que essa mudança se processasse em bases sólidas, construí, em
pouco mais de três anos, uma metrópole inteira – moderna e urbanisticamente revolucionária – que é Brasília” (KUBITSCHEK, Juscelino. Por
que construí Brasília? Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, 2000, p. 7. Coleção Brasil 500 Anos).

A partir da citação e de seus conhecimentos sobre o governo de Juscelino Kubitschek (1956-1960), examine as afirmativas a seguir:

I – O projeto nacional-desenvolvimentista do governo JK caracterizou-se pelo compromisso com a democracia e pela intensificação do
desenvolvimento industrial de tipo capitalista.
II – Integração do território nacional com a localização da capital no centro geográfico simbolizando as entradas dos bandeirantes no mundo
colonial.
III – A política econômica do governo JK, definida no Plano de Metas, apoiou-se no incentivo aos investimentos privados de capital nacional e
estrangeiro, bem como nos investimentos estatais na infraestrutura nacional.
IV – Kubitschek apoiou-se na ideia de modernidade que resultou na qualificação do período como “anos dourados”.

Assinale a alternativa correta:


A Somente as afirmativas I e II estão corretas.

B Somente as afirmativas I e III estão corretas.

C Somente as afirmativas I, II e III estão corretas.

D Somente as afirmativas II, III e IV estão corretas.

E Somente as afirmativas I, III e IV estão corretas.

Parabéns! A alternativa E está correta.

O constructo das frases aponta corretamente para o caminho desenvolvimentista, mostrando suas variações e interpretações ao longo da
história do Brasil. O governo JK se caracterizou por um projeto nacional-desenvolvimentista no campo ideológico e econômico, e com
compromisso com a democracia e industrialização. A integração do território nacional, com a localização da capital no centro geográfico,
simbolizava a modernidade. O Plano de Metas se baseou em investimentos privados de capital nacional e estrangeiro, e nos investimentos
estatais na infraestrutura nacional. Kubitschek apoiou-se na ideia de modernidade que resultou na qualificação do período, posteriormente,
como “anos dourados”.

Questão 2

(PUC-RIO 2007- Adaptada) Durante o governo de Juscelino Kubitschek de Oliveira (1956-1961), o setor socioeconômico caracterizou-se pelo
desenvolvimentismo, expressado pelo Plano de Metas, que continha trinta e um objetivos estratégicos para o desenvolvimento do país.

Com base no exposto, examine as afirmativas a seguir.

I - Energia, transporte, alimentação e indústria básica foram os setores estratégicos do governo JK.
II - A agricultura de exportação foi o setor econômico de maior expansão durante os anos JK, permitindo acumulação de divisas estrangeiras.
III - O desenvolvimento industrial foi possível pela conjugação de investimentos estatais e privados, entre os quais merece destaque a presença
de capital estrangeiro.
IV - A construção da nova capital – Brasília – foi considerada a meta síntese, pois expressava, de um lado, os esforços de integração do
território brasileiro e, de outro, a modernidade do momento vivido.

Assinale a alternativa correta:

A Somente as afirmativas I e II e III.

B Somente as afirmativas II e IV.

C Somente as afirmativas I, III e IV.


D Somente as afirmativas II, III e IV.

E Somente as afirmativas I e IV.

Parabéns! A alternativa C está correta.

A lógica é de perceber uma política de heranças e reestruturação de modelo por conta do Plano de Metas, assim é no investimento de um Brasil
urbano que reconhecemos as características do governo Juscelino.

2 - Do milagre ao neoliberalismo
Ao final deste módulo, você será capaz de relacionar a crise econômica no Brasil da década de 1980
com a adoção de políticas econômicas de orientação neoliberal.

Antes de 1960

Antecedentes na década de 1960


O início do governo de Jânio Quadros foi marcado pelo julgamento contundente de seu antecessor. A inflação alta e a desorganização
administrativa formavam o núcleo das críticas dirigidas a Kubitschek. O modelo econômico desenvolvimentista de JK ocasionava uma crescente
concentração de capitais, na introdução e incorporação de novas e sofisticadas tecnologias, reforçando o domínio dos monopólios, a concentração
de renda e a internacionalização da economia.

A redução da taxa de investimento, a partir de 1962, faz parte do processo de maturação do capital, em resposta ao ritmo de crescimento
internacional. Tais medidas agradaram ao FMI, que deu sinal verde para a renegociação da dívida externa brasileira.
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Esse processo encontrava caminhos próprios, de acordo com as condições externas, com o crescimento da classe média e do mercado
consumidor interno e por causa da corrosão dos salários pela inflação.

FMI
O Fundo Monetário Internacional (FMI) foi criado em 1944 na Conferência de Bretton Woods. O objetivo era auxiliar a reconstrução do sistema
monetário internacional no período pós-Segunda Guerra Mundial, utilizando o seguinte mecanismo: os países contribuem com dinheiro para o fundo
por um sistema de cotas e, como contrapartida, podem requisitar fundos emprestados temporariamente. O fundo funciona também como modo de
controlar o desenvolvimento econômico de seus membros, demandando políticas de autocorreção.

Estamos falando de um contexto de grande ebulição política. E tal agitação interferia diretamente no ambiente econômico. As lutas políticas se
sobrepunham à questão econômica, com a organização e mobilização crescente dos trabalhadores em defesa de seus salários e de suas bandeiras
históricas. Com forte instabilidade política desde a renúncia de Jânio Quadros, da tentativa de golpe, da imposição do Parlamentarismo, da
retomada das prerrogativas presidenciais após o plebiscito, intensificava-se um quadro de crise econômica que o Plano Trienal do ministro Celso
Furtado não conseguiria reverter.

Diante de um cenário econômico que apresentava perceptíveis dificuldades no gerenciamento das contas públicas
e dos contratos externos, foi anunciada, em 30 de dezembro de 1962, a adoção de um novo modelo geral de
orientação da política econômica do governo. Elaborado pela equipe chefiada pelo ministro extraordinário do
Planejamento, o economista Celso Furtado, o Plano Trienal de Desenvolvimento Econômico e Social procurou
estabelecer regras e instrumentos rígidos para o controle do déficit público e refreamento do crescimento
inflacionário. No diagnóstico apresentado e na terapêutica proposta, as linhas-mestras do plano estão muito mais
próximas do receituário ortodoxo acerca do controle inflacionário do que das interpretações alternativas da escola
cepalina, da qual Furtado era um dos mais notáveis representantes.

(SARMENTO, s/d)

A regulamentação da Lei de Remessa de Lucros, limitando a saída dos ganhos das multinacionais gerados no Brasil, aprofundou a crise em 1962.
Acusando o governo de atacar a propriedade privada e de instalar o comunismo, as forças políticas de direita passaram a conspirar abertamente
pelo golpe contra o presidente João Goulart. Diante desse quadro, o governo insistiu em uma política econômica voltada a solucionar a crise, com a
retomada do desenvolvimento, conciliando interesses e buscando a colaboração de classes. Não conseguiu.

Saiba mais
Reformas de base foi um conjunto de iniciativas do governo, como as reformas bancária, fiscal, urbana, administrativa, agrária e universitária. Seu
objetivo era a promoção de medidas nacionalistas tendo como principal foco a intervenção do Estado na economia e a regulação do envio de lucros
para o exterior. Entre as reformas de base, a reforma agrária era a principal e objeto de maiores disputas políticas, visando eliminar os conflitos pela
posse da terra, por meio do acesso à propriedade de terra.

Política econômica na Ditadura Militar

PAEG e o milagre econômico


Logo após o golpe de 1964, o governo iniciou um programa econômico de estabilização e reformas comandado pelo ministro do Planejamento,
Roberto Campos, e pelo ministro da Fazenda, Octavio de Gouvêa Bulhões. Eles lançaram as bases para um novo ciclo de acumulação e
desenvolvimento econômico no Brasil. Algumas dessas reformas fizeram parte do Plano de Ação Econômica do Governo (PAEG), que havia sido
discutido e elaborado em parte nos círculos do IPES antes do golpe.
Alguns objetivos do PAEG eram:

Devolver ao país o crescimento da segunda metade dos anos 50.

Pôr fim à inflação anual de três dígitos.

Corrigir o déficit externo; equilibrar as contas públicas.

Reduzir desigualdades regionais e sociais.

Gerar empregos.

PES
Foi um dos principais articuladores do movimento que culminou no golpe de 1964. Fundado em 1962 por empresários e militares de alta patente,
apresentava como objetivo fins educacionais. No entanto, o instituto desenvolveu nos bastidores uma ampla campanha político-ideológica para
desestabilizar o governo João Goulart. Entre as ações estavam o financiamento de parlamentares e grupos oposicionistas, a infiltração em movimentos
populares e a disseminação de propagandas anticomunistas através de filmes, programas de TV, publicações etc.

Entre 1964 e 1967, a economia brasileira cresceu a média anual de 4,2%, em um ritmo dentro dos padrões da época. Antes do golpe, no primeiro
trimestre de 1964, a inflação acelerou em um nível anualizado de 140%, depois de ter atingido o nível recorde de 81% em 1963.

A reversão do processo inflacionário foi um dos objetivos primordiais da política econômica no início do período militar e teve como pilar principal o
arrocho salarial, por meio da correção de salários com base na “inflação futura”.

Foi a fase da “inflação corretiva”, em que houve aumentos nos preços artificialmente represados, como tarifas públicas, gasolina, trigo e outros
produtos.

A inflação fechou 1964 em 91%, e caiu para 34% em 1965, sem que houvesse um grande aperto monetário, mas baseado no arrocho salarial. A
partir de 1966, quando a política monetária foi mais dura, houve dois anos seguidos de inflação em torno de 25%, e nos três anos consecutivos, ela
estacionou no nível de 20%. Percebe-se, claramente, uma estratégia de transferência de renda nessa política econômica, que tem seus efeitos
agravados pelo conjunto do plano.

O PAEG incluiu uma reforma tributária, que criou impostos sobre valor agregado (ICM e IPI), e universalizou o Imposto de Renda. O aumento dos
impostos reduziu substancialmente o déficit público, de 1964 a 1966. Outras medidas foram:

Unificação da Previdência, com a criação do Instituto Nacional de Previdência Social (INPS).

Criação de um mercado para títulos da dívida pública e da correção monetária.

Criação do Banco Central (inicialmente com independência, posteriormente retirada pelo presidente Costa e Silva).

Fim da estabilidade de emprego aos 10 anos de trabalho, substituída, como “mecanismo de proteção ao trabalhador”, pelo Fundo de Garantia do
Tempo de Trabalho (FGTS).
Lançamento das cadernetas de poupança e do financiamento da casa própria em larga escala, com a fundação do Banco Nacional da Habitação
(BNH) e o Sistema Financeiro da Habitação (SFH).

Essas medidas resultaram em forte capitalização do Estado, na alavancagem das empresas, em uma intensa rotatividade de mão de obra, e
viabilizaram o período de acelerado crescimento econômico a partir de 1968, conhecido como “milagre econômico”.

Nesse contexto, o marechal Costa e Silva chegou à presidência e elegeu como prioridade o crescimento econômico. Hélio Beltrão (Planejamento) e
Antonio Delfim Netto (Fazenda), apresentaram novo diagnóstico e uma nova receita para a crise brasileira, que desencadeou o mais longo ciclo de
crescimento econômico do país.

Alavancada pelo confortável caixa do Estado e pelo excesso de liquidez internacional, a taxa de investimento passou de 20% do PIB. Completavam o
modelo: uma grande oferta de crédito e subsídios ao setor privado, especialmente nas áreas ligadas à exportação; um rigoroso sistema de controle
de preços (implementado em 1967) e o arrocho salarial. Foi a materialização do milagre econômico.

Entre 1968 e 1973, sobretudo no governo Médici, ainda com Delfim à frente da economia, o país cresceu, em média, 12% ao ano. Houve o estímulo à
atividade econômica, como a expansão do crédito – incluindo, especificamente, o crédito ao consumidor –, baixas taxas de juros e redução de
compulsórios.

Destaca-se o desempenho do setor de bens de consumo duráveis, como eletrodomésticos e carros,


que cresciam de 20% a 25% ao ano.

Uma iniciativa importante do governo foi a criação da Embrapa e as medidas de apoio ao setor agrícola, que acompanharam a fase inicial do plantio
de soja no Brasil, modernizando setores agrícolas tradicionais, lançando as bases dos complexos agroindustriais (CAIs). Foi o período das
chamadas grandes obras para o Brasil Grande:

Transamazônica

Ponte Rio-Niterói
Apesar da economia aquecida, a inflação caiu no período, saindo de 25% em 1968 para 16% em 1973. O ministro Delfim Neto, justificando a
concentração de renda, dizia que era necessário primeiro fazer crescer o bolo para depois dividi-lo. Algo que nunca se efetivou na prática, pois as
taxas de crescimento econômico não resultaram em distribuição dos dividendos.
Redemocratização e a economia

Crise do milagre econômico

Desde 1974, os países capitalistas entraram em uma fase de crescimento econômico lento, frequentemente interrompido por recessões. As causas
fundamentais dessa crise estavam ligadas à aceleração da inflação, além das dificuldades decorrentes da desorganização do sistema internacional
de pagamentos, a partir do agravamento da crise do dólar e do abandono da sua convertibilidade pelo governo americano em 1971.

Um aspecto essencial da crise econômica naquele momento foi a reação dos países desenvolvidos à crise do petróleo.

Comentário
A crise consistiu na redução do consumo de derivados de petróleo e no esforço de aumentar as exportações, sobretudo aos países da OPEP –
todos não industrializados – e que tiveram que utilizar grande parte de seus petrodólares para pagar essas importações. O peso maior, portanto,
recaiu sobre os países importadores de petróleo, como o Brasil.

Sem equilibrar suas contas externas, apesar do crescimento de suas exportações de bens industriais, o Brasil passou, a partir de 1974, a tomar
empréstimos dos banqueiros internacionais, cujos fundos provinham, em grande parte, dos excedentes de petrodólares.

Com juros relativamente baixos, mas flutuantes, os recursos externos visavam ao pagamento da conta petróleo e ao financiamento do II Plano
Nacional de Desenvolvimento (PND).
close

Com esses recursos, foi possível financiar projetos grandiosos como o Programa Nuclear e o Projeto Carajás, além do pagamento de juros da
dívida externa.

Dívida externa
A dívida externa subiu de US$3,3 bilhões para US$102 bilhões entre 1964 e 1984. Há dois grandes saltos no período: em 1975 e no triênio 1979/80/81.
No primeiro caso, os juros absorviam 8,2% da receita das exportações em 1974 e 17,3% em 1975. A participação dos serviços da dívida era de 29% em
1974 e subiu para 41% em 1975. No segundo período, como resultado da segunda crise do petróleo e da elevação da taxa de juros dos Estados Unidos,
o pagamento de juros correspondia a 27.5% em 1979, 31,3% em 1980 e 37% em 1981 da receita das exportações.

Nesse contexto, a inflação brasileira crescia a 34% ao ano.

Para um país extremamente dependente de petróleo importado, era muito grave a dimensão restritiva desse choque para o modelo de
desenvolvimento brasileiro. A imagem de ilha de prosperidade era de vital importância para um regime que possuía como principal base de
legitimação o bom desempenho da economia.
Abertura política e impactos na economia

Entrada do neoliberalismo no Brasil


A vitória do partido de oposição, o MDB, em 1974, elegendo um terço do Senado, mostraria o descontentamento de grande parte da população com
o regime, acarretando a ampliação de espaços de crítica. Isso evidenciou a falta de apoio político interno para um ajuste que pudesse ser
abertamente associado à recessão. Com o peso maior dos condicionantes internos e a abundância de créditos externos que financiassem os
déficits em conta corrente, optou-se pela linha de menor resistência, o endividamento externo permitindo o aumento dos investimentos e um ajuste
mais gradual.

A inflação, que tenderia a crescer como efeito colateral, nessa visão, não seria um problema para a economia.

O II Plano Nacional de Desenvolvimento (PND) lançado no final de 1974, forneceria as principais diretrizes econômicas de longo prazo gestadas
pelo governo, entre as quais, destacamos:

Grande ênfase nas indústrias básicas, notadamente no setor de bens de capital, e de eletrônica pesada, assim como no campo dos insumos
básicos, a fim de substituir importações e, se possível, abrir novas frentes de exportação.

No setor energético, optou-se por uma aceleração dos investimentos de prospecção, principalmente na bacia de Campos (RJ), e na execução de
um programa de elevação de 60% da capacidade geradora de energia hidroelétrica, que viabilizaria a expansão da produção e da exportação de
bens, como o alumínio, produzidas com intenso consumo de energia.

O investimento no domínio da tecnologia termonuclear, viabilizada pelo acordo Brasil-Alemanha.


Os principais instrumentos da política industrial, carros-chefes na estratégia de desenvolvimento, foram:

O crédito do Imposto de Produtos Industrializados (IPI) sobre a aquisição de equipamentos.

A depreciação acelerada para equipamentos nacionais.

As isenções do imposto de importação.

O crédito subsidiado.

A reserva de mercado para alguns setores.

A garantia de preços.

Os órgãos de implementação dessa política foram o Conselho de Desenvolvimento Industrial (CDI), o Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico (BNDE), o Conselho de Política Aduaneira, a Carteira de Comércio Exterior (Cacex) do Banco do Brasil e o Conselho Interministerial de
Preços (CIP).

A primeira crise do petróleo, em 1973, teve como consequências para o Brasil não só a elevação do preço do produto e de derivados, mas também o
aumento dos juros no mercado financeiro internacional, encarecendo o fluxo de poupança externa. A política desenvolvimentista do governo Geisel
prosseguiu em ritmo menos acelerado, com taxas de crescimento em torno de 4% ao ano, contra a média de 10% a.a. no período anterior. Essa
“marcha forçada” da economia teve em 1979 o seu limite, com o início de uma política recessiva de ajuste, promovida pelo governo, conforme o
receituário do Fundo Monetário Internacional (CASTRO; SOUZA, 1985).

A diferença mais importante da experiência brasileira da década de 1970, tanto em relação às experiências anteriores quanto às de outros países, é
que a opção pela política de substituição de importações foi feita sem que houvesse descontinuidade no incentivo às exportações. Estas passaram
de 7,5% do PIB em 1974 a 8,4% em 1980, enquanto as importações caíram de 11,9% para 9,5% do PIB no mesmo período, apesar do segundo
choque do petróleo.

A chave do sucesso da política industrial brasileira na década de 1970 foi a combinação de estímulos, incomum se
comparada com outras experiências no Terceiro Mundo.

No que se refere ao salário mínimo, tomando o valor inicial, vejamos sua trajetória:

1943 1964 1968 1975


O valor era equivalente a 100. O valor era de 92. O valor era de 68. O valor era equivalente a 55.

Isso evidencia um processo de gradativa redução do salário mínimo como parte da política econômica do país. O crescimento evidenciado no
período não se desdobrou em melhoria na distribuição de renda.

A chegada do neoliberalismo como opção de política econômica não pode ser entendida como mera opção, ou uma tomada de escolha de
Fernando Collor e dos presidentes que vêm depois, o processo é mais complexo; por isso, o professor Tadeu Lemos marca esses desdobramentos e
contextos.

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Neoliberalismo e o contexto: dentro e fora
O professor fará o exercício de relacionar o Brasil dentro e fora, pensando como podemos notar que o contexto interno de nossa economia
impulsiona o neoliberalismo como solução e o contexto do comércio e das novas dinâmicas internacionais são um instrumento de pressão.
Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?


Questão 1

A economia brasileira cresceu muito durante no período entre 1969 e 1973. Essa fase ficou conhecida como época do milagre econômico. Qual
das alternativas a seguir aponta características desse período?
A Investimentos nos setores culturais e educacionais, baixo índice de endividamento externo, distribuição de renda de forma justa.

Forte crescimento do PIB, investimentos em infraestrutura e elevados empréstimos vindos do exterior com aumento da dívida
B
externa.

Elevados investimentos externos (principalmente da União Soviética), inflação muito baixa e controlada e aumento do consumo
C
das camadas mais pobres da sociedade.

Criação de programas de distribuição de renda, incentivo à reforma agrária, aumento significativo das exportações de máquinas
D
e produtos tecnológicos.

E O maciço investimento humanitário estadunidense para evitar a influência soviética.

Parabéns! A alternativa B está correta.

O processo é marcado pelas dinâmicas econômicas em uma perseguição de números e de influências estratégicas, como o endividamento
externo buscado pelo contexto internacional.

Questão 2

Do ponto de vista econômico, os anos 1980, no Brasil, são considerados como a “década perdida”, pois os índices de crescimento da economia,
que chegaram a atingir a casa dos 10% anuais entre 1950 e 1970, caíram a taxas inferiores a 1%. Sobre os fatos que podem explicar essa queda
analise as seguintes afirmativas:

I - O excesso de intervenção do Estado na economia durante o governo militar criou inúmeras empresas estatais, aumentando o peso da
máquina estatal e o déficit público.
II - A crise do petróleo de 1979 diminuiu a oferta do produto e, consequentemente, aumentou o seu preço, prejudicando os países importadores
desse combustível, como o Brasil.
III - O aumento deliberado do salário mínimo ampliou a renda dos trabalhadores, permitindo o seu maior acesso ao mercado de consumo e,
dessa maneira, provocando inflação e carência de produtos.IV - O crescimento do endividamento externo, derivado dos empréstimos tomados
pelo governo militar para ampliar os investimentos no país, tornou-se impagável depois que os bancos internacionais aumentaram as taxas de
juros.

Estão corretas as afirmativas

A I, II e III, somente.

B I, II e IV, somente.

C I, III e IV, somente.

D I, III e IV, somente.


E II e III, somente.

Parabéns! A alternativa B está correta.

A tendência de os governos brasileiros procurarem resolver os problemas do déficit público sem cortar gastos ou ampliar receitas, mas
aumentando a emissão de moedas, com o acirramento do surto inflacionário, não visava ao aumento dos salários para poder de compra, pelo
contrário, este foi intensamente prejudicado no modelo.

3 - Crise da dívida externa na década de 1980 e a emergência


do neoliberalismo
Ao final deste módulo, você será capaz de reconhecer as características da economia neoliberal no
Brasil.

A década de 1980

Crise econômica da década de 1980


As políticas de estabilização econômica nos anos 1980 no Brasil tiveram características pouco consistentes e contraditórias. O ponto em comum
entre elas é o fato de que seu fracasso foi sempre acompanhado de pressão de setores exportadores por desvalorizações da moeda brasileira e
ameaça de crise cambial – isto é, crise envolvendo o valor do dólar e outras moedas estrangeiras. A política cambial tinha como foco combater a
inflação, estabelecendo uma paridade a médio prazo, com a cotação do dólar fixada em NCz$1,00 (um cruzado novo), após uma desvalorização da
moeda em 18%.

Atenção!
Outro ponto importante nesse período é acerca da dívida externa. No período 1978-1983, as dívidas externas, bruta e líquida, cresceram em média
16% e 20% a.a., respectivamente. Isso fez com que o passivo externo líquido triplicasse em seis anos. Essa revalorização da dívida externa com o
choque das taxas de juros e a sobrevalorização do dólar agravaram ainda mais as dificuldades de renegociação da dívida com o cartel de bancos
privados e os órgãos oficiais internacionais, enfraquecendo a posição dos países devedores.
Em meados de 1980, a equipe econômica já percebia os primeiros sinais de escassez de financiamento externo, evidenciando a disposição dos
credores de cobrar pesados custos internos no curto prazo para financiar o ajuste. Todavia, manteve-se a programação dos investimentos,
incluindo-se no III PND investimentos relacionados à exploração do petróleo, à substituição de energia na indústria e no transporte, à substituição de
importações de insumos básicos e para atividades voltadas para a exportação.

A vulnerabilidade financeira externa do Brasil só ocorreu a partir da decretação da moratória pelo México, em agosto de 1982, e do corte do
financiamento internacional pelos bancos privados.

close
A brusca retração dos empréstimos por parte do sistema financeiro internacional, desde então, teve como complemento o tratamento da
questão da dívida externa como um “problema de liquidez”.

Os países devedores deveriam se submeter a um programa de ajuste ortodoxo fiscalizado pelo FMI, baseado na obtenção de recursos financeiros
que possibilitassem a solução do problema de liquidez. Estabelecia-se a negociação “caso a caso”, fragilizando a posição dos países devedores e
dificultando a sua articulação.

O governo brasileiro tornou-se um importante elemento nesse processo, sendo um dos primeiros países engajados nessa estratégia. Como
resultado dessa postura, o desequilíbrio nas contas externas e a inflação passaram a ser um problema fundamental: a crise tornou-se crônica, a
instabilidade macroeconômica levou à perda de credibilidade e a uma política de ajuste permanente.

O ano de 1983 seria marcado pela tentativa de ajuste externo e uma brutal recessão. As difíceis negociações com o sistema financeiro internacional
levariam à elaboração de sete cartas de intenções até 1985, com promessas e metas não cumpridas de ambos os lados.

Mesmo assim, as metas estabelecidas pela equipe econômica para as contas externas foram atingidas em 1983. Para isso, convergiram a recessão
interna, o arrocho salarial, a maxidesvalorização do câmbio, a redução nos preços do petróleo e nas taxas de juros e o fim da recessão nos Estados
Unidos. A política econômica de 1983 e 1984 teria duas etapas:

Resistência, com o governo limitando o ajuste à regularização das contas externas até novembro de 1983.

Adoção explícita de um programa de ajuste recessivo do FMI.

A orientação econômica assentava-se em alguns pontos essenciais:

Contenção salarial.

Controle de gastos do governo e aumento da arrecadação.

Elevação das taxas de juros internas e contração da liquidez real.


Incentivo às exportações e políticas especiais para o setor energético, agricultura e pequenas empresas.

A contenção da inflação teria decorrido principalmente dos efeitos da expansão da agricultura e da queda dos seus preços relativos em 1980,
resultado tanto de um crescimento na produção como de um declínio nos preços dos produtos de exportação no mercado internacional.

A base de sustentação dessa política era a compressão interna para a obtenção de expressivos superávits na balança comercial, mas que resultou
no agravamento da inflação, das finanças públicas, da queda real dos salários (descontada a inflação) e da recessão.

Com os diversos decretos-lei que ditaram a política salarial, ficava claro que a contenção – ou o arrocho – salarial funcionava como uma âncora e
era condição para a aprovação externa. As intervenções e pressões externas de banqueiros, de governos e de instituições internacionais, como o
FMI, eram decisivas. Advertências sobre o “não desperdício de oportunidades”, ou ameaças ao “futuro do Brasil”, multiplicavam-se na imprensa
dirigidas ao governo e ao Congresso, para a aprovação de “medidas necessárias”.

Prevalecia no governo a política de imposição de enormes perdas para os trabalhadores assalariados.

A retomada do crescimento, a consequente dinamização do mercado de trabalho e a resistência organizada dos trabalhadores aboliram, na prática,
a lei salarial.

Das Diretas ao governo Sarney

Economia em contexto de redemocratização


As condições políticas internas ampliariam as margens de manobra da equipe econômica na negociação com os credores no início da década de
1980: era uma conjuntura política da transição para um governo civil – Sarney – e, em seguida, um governo democraticamente eleito, pós-1989.

O ano de 1984 foi marcado pela campanha das Diretas Já, com grandiosas mobilizações nas principais cidades do país, com mais de um milhão de
pessoas reunidas na Candelária, no Rio de Janeiro, e no Vale do Anhangabaú, em São Paulo. A derrota das “Diretas” no Congresso – da emenda
Dante de Oliveira – e a eleição indireta de Tancredo Neves (PMDB) confirmaram o conservadorismo no processo de transição da ditadura para a
democracia e o caráter das alianças que a sustentavam.

Apesar do slogan oposicionista “Fora daqui, com o FMI”, de Tancredo Neves, e de ele ter dito que “não pagaria a dívida com a fome e a miséria do
povo brasileiro”, a equipe econômica montada por Tancredo e mantida por José Sarney, liderada pelo ministro da Fazenda Francisco Dornelles, não
apresentou qualquer resistência ao modelo imposto pelo FMI. A política econômica de Dornelles manteve os dogmas do FMI: defendia a redução do
déficit público através do corte nos gastos públicos. Entre as medidas adotadas, decretou um corte de 10% no orçamento fiscal (além dos 15%
estabelecidos pela equipe anterior) e suspendeu por 90 dias os empréstimos de fomento do Banco do Brasil.

Esperava-se diminuir a demanda interna, reduzir o patamar inflacionário e promover as exportações, realizando
conjuntamente ajustes interno e externo.

O caminho proposto seria um “pacto social”, conforme vislumbrava o governo Sarney:

Na prática, ele se aplicaria na inexistência de vontade política e de ceder, efetivamente, por parte de políticos ligados ao governo e empresários.
close
Assim, as negociações que poderiam conduzir a algum “consenso mínimo” em torno de temas como estabilização, crescimento econômico,
reajuste de preços e salários, fracassaram na década de 1980.

O setor público, que progressivamente foi assumindo a dívida do setor privado – e considerado o culpado pela crise –, cada vez mais encontrou
dificuldades para o seu financiamento, pois dívidas e encargos se alimentavam mutuamente.

Entre 1985 e 1989, a política econômica passou por diversas reviravoltas, oscilando entre o maciço apoio da população e a total perda de
credibilidade. Nesse período, a inflação se multiplicou por quatro, chegando a 1.000% ao ano e às portas da hiperinflação.

Modelo econômico neoliberal

O modelo econômico neoliberal e seus limites para a democracia


No balanço da Constituição de 1988, pode-se dizer que ela representou a afirmação de uma tentativa de conciliação de classes. Os trabalhadores
urbanos, sem considerar as divergências de posicionamento entre os partidos e centrais sindicais, obtiveram algumas conquistas políticas,
econômicas e sociais.

Apesar da intensa articulação preparatória, os empresários não obtiveram êxito em várias reivindicações, por suas
divisões internas, dificuldades com seus representantes ou o pouco interesse do governo.

O lobby da União dos Empresários Brasileiros (UEB) não conseguiu virar a página: perdeu na reserva de mercado, na definição de empresa nacional,
no uso do subsolo, na regulamentação dos direitos trabalhistas e organização sindical etc.

Entre aqueles que poderiam se considerar derrotados, destacam-se os trabalhadores rurais (ou camponeses), liderados por CONTAG, CUT e MST,
sobretudo em relação à proposta de reforma agrária: houve uma derrota dos setores populares na Constituinte; contudo, a derrota – as principais
conquistas foram pontuais – não ocultava o fato de um partido com pequeno número de representantes ter conseguido estabelecer uma liderança
expressiva e polarizar, de fato, o debate político no país.

A Constituição de 1988 trouxe conquistas em dois aspectos:

Do ponto de vista político


Maior participação popular, por meio do voto e de organização em partidos e movimentos sociais.

Do ponto de vista econômico


Manutenção do capitalismo liberal, com seus pressupostos de lucro, propriedade privada e livre iniciativa econômica.

O paradoxo da Constituição de 1988 é que a democracia nela inscrita significaria a redução das desigualdades por meio de um Estado de Bem-Estar
Social.

Ao mesmo tempo em que defendia as prerrogativas da democracia liberal-representativa, de um ponto de vista político, abria-se caminho para o
desenvolvimento do programa neoliberal na economia. Esses valores primavam pelo fortalecimento da iniciativa privada, tendo em conta o
pressuposto da livre concorrência.

Vista dessa forma, a livre concorrência assume o significado de liberdade, e liberdade entendida como o mercado torna-se o pressuposto
fundamental da atividade econômica. Legalizam-se e legitimam-se as regras do mercado, limitando-se a capacidade de intervenção do Estado na
economia, que deveria agir somente quando houvesse o imperativo de preservação da segurança nacional e do relevante interesse coletivo.

Exemplo
Segundo essa lógica, o Estado não deveria atuar como empresário, salvo nos casos explicitados pela lei, devendo o desempenho das estatais
ocorrer nos parâmetros do funcionamento das empresas privadas, nas quais eficiência e produtividade seriam destinadas à obtenção do lucro.

Como o princípio da livre iniciativa é um pressuposto básico da livre concorrência, deu-se a equiparação entre a empresa pública e a empresa
privada, colocadas ambas no mesmo plano. Nessa visão neoliberal, para que a concorrência se tornasse possível, seria necessária a eliminação dos
privilégios e vantagens das empresas públicas. Essa visão de economia orientou os governos democráticos da década de 1990, sobretudo os
governos de Fernando Collor de Mello e Fernando Henrique Cardoso.

A agenda de reformas ocorrida na década de 1990 seguia o estabelecido pelo Consenso de Washington, onde tal reforma trabalhista deveria:

Consenso de Washington
É como ficou conhecido um conjunto de dez medidas econômicas formuladas durante uma reunião ocorrida em Washington, Estados Unidos, em
novembro de 1989, realizada por economistas de instituições financeiras, como o Fundo Monetário Internacional, Banco Mundial e o Departamento do
Tesouro dos Estados Unidos. As novas medidas estimulavam a competição entre as taxas de câmbio, davam incentivos às exportações e previam a
gestão de finanças públicas, se tornando a política oficial do Fundo Monetário Internacional em 1990, no momento em que passaram a ser "receitadas"
para promover o "ajustamento macroeconômico" dos países em desenvolvimento que passavam por dificuldades. Atualmente, o termo Consenso de
Washington é relacionado à adoção de medidas neoliberais na economia.

Desonerar o capital e aumentar a competitividade da economia (no período, aumentaram a taxa de desemprego, o subemprego, a precariedades
das relações de trabalho).

Implantar a reforma administrativa, com a diminuição dos gastos com o funcionalismo público e a quebra da estabilidade no emprego.

Implementar a reforma da previdência, para reduzir gastos e ampliar o limite mínimo de idade para a aposentadoria.

Executar a reforma tributária, para distribuir melhor a carga de impostos e combater a sonegação.

Governos Collor e Fernando Henrique Cardoso

Política econômica
Fernando Collor de Mello tomou posse em 15 de março 1990, implementando um ambicioso programa de estabilização econômica, baseado em um
inédito confisco monetário:

O bloqueio dos saldos em conta corrente e cadernetas de poupança que excedessem 50 mil cruzeiros, procedimento que, durante a campanha,
Collor acusara Lula de pretender adotar caso chegasse à presidência.

A moeda mudou de cruzado novo para cruzeiro. Foram adotadas medidas de enxugamento da máquina estatal, como a demissão de funcionários
públicos e a extinção de autarquias, fundações e empresas públicas.

Ao mesmo tempo, o processo de abertura da economia nacional à competição externa facilitaria a entrada de mercadorias e capitais estrangeiros
no país. Congelados, preços e salários passariam a ser reajustados conforme índices de inflação prefixados.

Tais medidas, no entanto, não tiveram êxito. A inflação retomava sua escalada ascendente em meio à recessão, ultrapassando 400% a.a.; a taxa de
desemprego era de 5,23%, o PIB de -4,6% em 1990 e a renda per capita retornando ao valor de 1979. Como tentativa de resposta, o governo
implantou o Plano Collor II em 31 de janeiro de 1991. No dia 7 de março, o governo lançou o Projeto de Reconstrução Nacional, constituído por sete
emendas constitucionais, 42 projetos de lei e dez decretos.

O conjunto de medidas objetivava reerguer a economia, resgatar a dívida social e quebrar o monopólio estatal em
várias atividades

Após substituir Zélia Cardoso de Melo por Marcílio Marques Moreira (ex-embaixador em Washington) no comando da economia, o governo deu
início à execução do Programa Nacional de Desestatização, com a privatização da Usiminas. A política de privatização, um dos pilares do Plano
Collor, fora objeto de contestações desde o seu anúncio.

Na comemoração do Dia do Trabalho em 1990, em Volta Redonda (RJ), entidades sindicais e representantes de partidos de oposição (PDT, PT, PCB,
PSB) haviam protestado contra a recessão, o desemprego e a intenção do governo de vender a CSN.

Afastado do poder devido a inúmeras denúncias de corrupção, Fernando Collor deixou o cargo em 1992 para que Itamar Franco, seu vice, assumisse
seu lugar. O governo Itamar implementou o principal programa de estabilização da moeda no contexto democrático pós-Constituição: o Plano Real.

Em 1 de julho de 1994, o ministro da Fazenda Fernando Henrique Cardoso (FHC) lançou o Plano Real, que se destacou por buscar a
estabilização sem usar o congelamento de preços e salários.

As medidas visavam conter os gastos públicos, acelerar o processo de privatização das estatais, controlar a demanda, por meio da
elevação dos juros, e pressionar diretamente os preços pela facilitação das importações.

Com o plano, a moeda, que havia mudado de cruzeiro para cruzeiro real em agosto de 1993, mudou para real em julho de 1994.
O programa previa a continuação da abertura econômica do país e medidas de apoio à modernização das empresas.

Após 15 dias da implantação do real, já era flagrante a vertiginosa queda da inflação. Alguns dos segmentos mais pobres da população se
atreveram a incrementar suas compras, provocando uma corrida ao crediário, apesar da manutenção das taxas de juros em patamares muito altos.
No mercado de câmbio, a relação do real com o dólar foi estabelecida em termos inesperados, com a moeda nacional valendo mais do que a norte-
americana.

Fernando Henrique Cardoso tomou posse em 1 de janeiro de 1995, eleito na esteira da popularidade do Plano Real. A continuidade do plano garantiu
o apoio ao governo, sobretudo pela estabilidade monetária, embora com a supervalorização do real, houve o aumento do desemprego e defasagem
salarial. Na agricultura, cerca de 1,5 milhões de postos de trabalho desapareceram entre 1995 e 1996, em decorrência do emprego de novas
tecnologias no campo. Na indústria, a busca por novos ganhos de produtividade, por meio da reestruturação produtiva e a intensificação do capital,
também contribuiu para o aumento do desemprego no setor. A melhoria na distribuição de renda foi pequena. Convivendo com crises internacionais
no México e na Ásia, em fins de 1997, o governo elevou a taxa de juros e lançou um pacote fiscal para reduzir as despesas do governo e melhorar as
receitas. Em 1998, o país foi atingido ainda mais duramente pela crise financeira mundial: houve desaquecimento da economia e aumento do
desemprego.

Com amplo apoio político, consolidado a partir de uma sólida base no Congresso, os governos FHC (reeleito em 1998) obtiveram êxito em seu plano
de reformas econômicas do Estado.

A ampla base de apoio no Congresso possibilitou a continuidade do processo de privatizações, principalmente na telefonia e mineração, com a
quebra dos monopólios estatais nas áreas de Comunicação e Petróleo e a eliminação de restrições ao capital estrangeiro.

Era o Programa Nacional de Desestatização.

Um dos pontos centrais para a manutenção da estabilidade econômica foi o controle dos gastos públicos. Foi visando a esse objetivo que o governo
FHC aprovou, em maio de 2000, a Lei de Responsabilidade Fiscal, a qual impede que os governantes gastem mais do que a capacidade de
arrecadação prevista no orçamento dos municípios, dos estados e da União.

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A agenda econômica liberal no Brasil
Mas será que acabou? O professor Tadeu explora o conceito e aponta como os fundamentos da economia neoliberal são fortes na história recente
do Brasil.
Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?


Questão 1

Em junho de 1994, durante o mandato presidencial de Itamar Franco, o então ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, anunciava à
nação um novo plano econômico, denominado Plano Real. Entre as principais características do Plano Real podemos citar

a reforma monetária com equiparação do valor da moeda nacional ao dólar e estruturação de um plano de intervenção
A
reguladora do Estado na economia.
a apresentação de um programa de privatização de estatais, elevação da taxa de juros e reforma monetária com equiparação do
B
valor da moeda nacional ao dólar.

a elevação da taxa de juros, desvalorização da moeda nacional e aceleração do processo de privatização exclusivamente do
C
setor de telecomunicações.

a privatização de estatais, diminuição da taxa de juros e criação de uma fiscalização popular da variação diária de preços dos
D
produtos considerados essenciais.

o estabelecimento de uma nova regra para correção da poupança, substituindo o IPC (Índice de Preço ao Consumidor) pelas
E
LFTs (Letras Financeiras do Tesouro).

Parabéns! A alternativa A está correta.

A ideia de elaborar um sistema complexo de controle de gastos públicos com a redução da máquina do Estado foi premissa do Plano Real para
gerar compreensão clara dos gastos, valor da moeda e credibilidade internacional.

Questão 2

Inspirado no liberalismo clássico e em clara oposição ao Keynesianismo, o neoliberalismo propõe, entre outras medidas:

I. O desenvolvimento de uma política de privatização das empresas estatais para reduzir o papel do Estado na economia.
II. O fortalecimento dos sindicatos e a ampliação dos direitos trabalhistas.
III. A redução das barreiras para a circulação de mercadorias e capitais entre países, promovendo, assim, uma abertura econômica.

Estão corretas

A apenas I e II.

B apenas I e III.

C apenas II e III.

D apenas III.

E apenas II.

Parabéns! A alternativa B está correta.


A relação é entre o momento vivido e como as disputas teóricas se materializam em decisões políticas. Assim, as formas de neoliberalismo
como solução são apresentadas item a item, com o que é criticado, mas que faz parte do escopo do olhar necessário segundo a teoria.

Considerações finais
Neste conteúdo, abordamos a presença do desenvolvimentismo, suas novas formas em um modelo que flerta com a economia internacional e a
entrada no Brasil em um modelo neoliberal a partir da década de 1990.

As mudanças não foram rápidas, mas em camadas de sutileza e disputas políticas, somadas a estratégias econômicas.

headset
Podcast
Para encerrar, ouça um breve resumo sobre os principais aspectos sobre economia, trabalho e crise a partir de 1930.

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Assista ao filme Os anos de JK (1980), de Silvio Tendler, para aprofundar seu conhecimento sobre a política econômica empreendida por Juscelino
Kubitschek na década de 1950.

Assista ao documentário O longo amanhecer (2020), de José Mariane, para conhecer a biografia e o pensamento econômico de Celso Furtado,
membro da Cepal, ministro da Fazenda do governo João Goulart e um dos principais economistas da história brasileira.

Assista à entrevista do economista Antonio Delfim Netto, ministro da Fazenda no contexto do milagre econômico da ditadura militar, no programa
Roda Viva, da TV Cultura, realizada em 2019.

Leia o artigo 1980, década perdida ou ganha?, do professor Gilberto Maringoni, publicado na revista Desafios do Desenvolvimento do Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), sobre o contexto econômico brasileiro e latino-americano da década de 1980.

Compreenda as relações entre o modelo econômico neoliberal e a gestão pública da pandemia de coronavírus na entrevista do cientista político
Bertrand Badie, publicada no jornal El Pais Brasil, em 6 abr. 2020.

Aprofunde seu conhecimento sobre o Plano Real com a leitura do verbete do Dicionário Histórico Biográfico do Centro de Pesquisa e Documentação
de História Contemporânea da Fundação Getúlio Vargas.
Referências
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