Você está na página 1de 41

CELSO FURTADO E ÁLVARO VIEIRA PINTO Dois expoentes do nacional

desenvolvimentismo
NACIONAL ISEB e CEPAL

DESENVOLVIMENTISMO
NACIONAL DESENVOLVIMENTISMO
Corrente de pensamento dos anos 1950 e 1960 identificada com a
tarefa de pensar em maneiras para criar as condições de superação
do subdesenvolvimento.
Para Jaguaribe (2005), o nacional-desenvolvimentismo enquanto
corrente de pensamento surge como uma resposta a uma questão
central: como seria possível viabilizar um esforço nacional de
desenvolvimento?
CARACTERÍSTICAS DO NACIONAL
DESENVOLVIMENTISMO
Crença na A Intelligentsia tem o
possibilidade de papel de entender a Nação
superar o realidade e propor (integração)
subdesenvolvimento. mudanças.

Autonomia Dependência Estado Ativo e


(internalização dos (econômica/social) Planejador
centros decisórios)
NACIONAL DESENVOLVIMENTISMO
“O centro dessa reflexão consiste no esforço de equacionar os
nós que devem ser desatados para que a expansão das forças
produtivas possa ser associada à solução dos problemas
fundamentais da população. Nessa perspectiva, acumulação de
capital, avanço das forças produtivas e integração nacional
constituem aspectos indissolúveis de um mesmo problema: criar as
bases materiais, sociais e culturais de uma sociedade nacional
capaz de controlar o sentido, o ritmo e a intensidade do
desenvolvimento capitalista” (SAMPAIO JR., 2012, p.673-4).
NACIONAL DESENVOLVIMENTISMO
De maneira institucional, o nacional-desenvolvimentismo
pode ser dividido entre a atuação da CEPAL e do ISEB, dois
espaços nos quais o tema foi fomentado e debatido por
ângulos e perspectivas diversas.
Celso Furtado e Álvaro Vieira Pinto são figuras expoentes
dos dois institutos.
ISEB Instituto Superior de Estudos
Brasileiros
NACIONAL-DESENVOLVIMENTISMO DO ISEB
O ISEB foi criado em julho de 1955 como órgão do Ministério da Educação
e Cultura. O grupo de intelectuais que o criou tinha como objetivos o estudo,
o ensino e a divulgação das ciências sociais, cujos dados e categorias
seriam aplicados à análise e à compreensão crítica da realidade brasileira
e deveriam permitir o incentivo e a promoção do desenvolvimento nacional.

Iniciou suas atividades com JK, que prestigiou o instituto.

Fonte: CPDOC
NACIONAL-DESENVOLVIMENTISMO DO ISEB
Álvaro Vieira Pinto, Guerreiro Ramos, Nélson Werneck Sodré e Hélio Jaguaribe.

Intensificar Política Soberania e


Industrialização Nacionalista Emancipação

Superação da Rejeição ao
Nova elite: burguesia política
industrial (+ inteligentiza
exportadora capital
+ proletariado +t écnicos)
primária estrangeiro
Fonte: CPDOC
RECEPÇÃO DAS IDEIAS DO ISEB
Os membros do ISEB foram muito criticados pela falta de instrumentos
teóricos e metodológicos para analisar a realidade brasileira.
Embate com a escola de sociologia da USP e com setores do
empresariado e da burguesia, representados na grande imprensa.
Conflito interno entre defensores da aceitação de uma política de
maior participação do capital estrangeiro (levada a cabo por JK) e
outros que chamavam os primeiros de entreguistas (entre eles AVP).
O instituto foi extinto a partir do golpe civil-militar de 1964.

Fonte: CPDOC
ÁLVARO VIEIRA PINTO Um filósofo Brasileiro
ÁLVARO VIEIRA PINTO
Nasceu em 1909 em Campo dos Goytacazes.
Formou-se em Medicina em 1932.
Pesquisou a cura do cancer.
Graduou-se em matemática e física.
Passou uma temporada na Sorbonne.
Nomeado chefe do Departamento de Filosofia do
ISEB em 1955, assumiu a diretoria em 1962.
Em 1964 a extinção do Instituto e o exílio.
Retorno ao Brasil.
Faleceu em 1987 no Rio de Janeiro.
OBRA DE ÁLVARO VIEIRA PINTO
Marcada pelo ecletismo e pelo livre pensar.
Em seus diferentes livros, o intelectual refletiu sobre temas diversos
como educação, demografia, tecnologia e ciência.
O assunto que mais o fascinava era a questão nacional.
O que perpassa sua obra de maneira transversal é problemática da
consciência e suas contradições. É deste ponto que parte seu
pensamento, um ponto de vista filosófico.
OBRA DE ÁLVARO VIEIRA PINTO
CONSCIÊNCIA E REALIDADE NACIONAL
Livro base e mais conhecido do autor.
Um calhamaço de dois volumes.
Linguagem erudita, muito difícil de ser compreendido.
Livro 1 - Consciência Ingênua; Livro 2 - Consciência Crítica
Argumento central: é possível superar a consciência
ingênua a partir da consciência crítica, ancorada nos
problemas reais da nação.
CONSCIÊNCIA E REALIDADE NACIONAL
Livro 1: Argumento central: Distância entre a realidade do país e a
consciência construída em torno do senso comum, associada com as elites
submissas à culturas e ideias alienadas. Portanto, a consciência ingênua não
se encontra ligada a seu país e sua realidade autêntica, problema que se
agrava quando um de seus portadores tenta modificar a realidade na qual
vive por meio de procedimentos que não são próprios de seu mundo, mas
importados de outra realidade, distante e alheia.
Livro 2: Para ele, somente os sujeitos dotados de consciência crítica seriam
capazes de assumir o protagonismo do desenvolvimento nacional,
afastando a alienação e criando teorias próprias para dar conta dos
problemas reais da nação subdesenvolvida. Assim, seria possível desobstruir o
caminho do desenvolvimento, entendido como um processo capaz de trazer
condições dignas de vida para toda uma população autônoma, formando um
país soberano
A SOCIOLOGIA DOS PAÍSES SUBDESENVOLVIDOS
Livro escrito em 1975 e publicado em 2008.
A obra discorre sobre as maneiras pelas quais
a ciência atua no sentido de esconder o
subdesenvolvimento e o “vale das lágrimas” - o
desenvolvimento como narrativa da ocultação.
A ciência em suas múltiplas perspectivas, ao
abdicar de criar teorias próprias e
contextualizadas, reproduz o
subdesenvolvimento. Exemplos: economia,
psicologia, ciência política, sociologia,
administração, ...
ESTRATÉGIAS DA CIÊNCIA DA OCULTAÇÃO
Psicologia: criação do normal a partir de
patologias.
Economia: profusão de dados estatísticos.
Sociologia: reprodução de teorias norte-
americanas, darwinismo social, exaltação da
classe dominante.
Política: crença na mudança de “modelos” que
só mudam na aparência. Exaltação da técnica.
Administração: tecnicismo exacerbado.
DIALÉTICA DO CONSUMO – RELAÇÕES DIALÉTICAS
Consumo Consumo Consumo
Produção Trabalho Classes Sociais

Consumar Gastar Consumidor

Consumir Desgastar Não-


Consumidor
OS NÃO-CONSUMIDORES
Elaborando em torno das transformações do consumo dos não-consumidores no Brasil, quanto mais alguém
consome e desgasta diferentes mercadorias, mais necessita gastar. Quanto mais necessita gastar, mais dinheiro
precisa ter. Para ter mais dinheiro, o ser humano se desgasta mais e mais, sacrificando sua própria condição de
vida e sua saúde. Faz isso em troca de garantir o fluxo acelerado de consumo que propulsiona sua realização
pessoal a partir da sensação de incorporação do valor dos bens que possui. Ou seja, consumir é adquirir o valor
de um bem, mas também é consumir a si mesmo nesse processo, o que, a partir de certo nível, se potencializa. [...]
Portanto, a dialética do consumo (VIEIRA PINTO, 2008) demonstra como os não-consumidores, ao consumirem
mais, se esforçam para ter valor perante a sociedade, ao mesmo tempo em que aprofundam as contradições de
sua própria condição precarizada, renovando a superexploração do trabalho.
REFLEXÕES SOBRE AVP
Autor pouco difundido, mesmo na academia.
Foi prejudicado por sua associação injusta com um nacionalismo fascista.
É um dos maiores filósofos Latino-Americanos da história.
Sua visão filosófica permite compreender alguns aspectos essenciais da
realidade, especialmente no contexto Brasileiro e Latino-Americano.
Ainda é praticamente um desconhecido no campo dos Estudos
Organizacionais e Administração (pública inclusive).
CEPAL Centro irradiador do nacional
desenvolvimentismo
FUNDAÇÃO DA CEPAL
A Comissão Econômica Para América Latina (e o
Caribe) (CEPAL) foi fundada no ano de 1948 pelo
Conselho Econômico e Social das Nações Unidas
para uma experiência de 3 anos.

Seu objetivo era contribuir para o desenvolvimento


econômico da América Latina e, para permanecer,
teve que lutar contra a resistência Norte-Americana.

Fonte: Mallorquín (2005)


IDEIAS CENTRAIS DO ESTRUTURALISMO
LATINO-AMERICANO

Teoria Própria para Desenvolvimento Mudanças Estruturais


Problemas Próprios nacional

Busca pela soberania


Interiorização dos Estado Planejador nacional a partir da
Centros de Decisão aceleração do
desenvolvimento
NÚCLEO DURO DA CEPAL: FURTADO E PREBISCH
Raúl Prebisch: economista argentino,
participou da fundação da CEPAL.
Celso Furtado: economista e intelectual
brasileiro, entrou na CEPAL em 1949.
Encontro fundamental para a gênese do
nacional-desenvolvimentismo e da escola
econômica do estruturalismo latino-americano
(fundadora do desenvolvimentismo).
Reação às teorias do desenvolvimento liberais
e universalizantes.

Fonte: Mallorquín (2005)


ESCOLA DO ESTRUTURALISMO LATINO-AMERICANO

Necessidade de criar uma teoria Método histórico-estruturalista:


econômica própria para a compreender a formação Estudo da formação histórica
América Latina, capaz de dar histórica dos entraves ao das estruturas sociais e
conta de sua situação no desenvolvimento para formular econômicas que travam o
capitalismo mundial. e instrumentar agendas de desenvolvimento.
reforma.

Fonte: Mallorquín (2005)


Intelectual e político incansável
CELSO FURTADO na busca pela superação do
subdesenvolvimento
CELSO FURTADO
Paraibano, acadêmico, político, economista e intelectual.
Um dos intérpretes do Brasil.
Atuou na academia e no aparelho do Estado (plano trienal – João Goulart).
Homem pragmático.
Obra intelectual: voltada para a interpretação e teorização como subsídio à
transformação da realidade dentro da ordem.
Mudanças ao longo da carreira (é preciso contextualizar).
CELSO FURTADO
1920 – Nasce em Pombal, sertão da Paraíba.
1939 – Entra na Faculdade Nacional de Direito.
1946 – Ganha o prêmio Franklin Roosevelt com o ensaio “Trajetória
da democracia na América” e se inscreve na França em curso de
doutoramento em economia.
1949 – Ingressa na CEPAL.
1953 – Preside o Grupo Misto CEPAL – BNDE.
1955 – Relatório do Grupo torna-se base do Plano de Metas de JK.
1957 a 1958 – Na Universidade de Cambridge escreve “Formação
Econômica do Brasil”.
CELSO FURTADO
1959 – Criação da SUDENE.
1962 – Nomeado primeiro titular do Ministério do Planejamento, elabora o Plano Trienal.
1964 – A.I. nº 1 e Inicio do exílio..
1965 – Primeiro estrangeiro a ser nomeado para uma universidade francesa.
1986 – Nomeado ministro da Cultura
2001 – Criado o Prêmio Celso Furtado de Desenvolvimento
2003 – Indicação ao Prêmio Nobel de Economia
2004 – Falecimento.
OBRA DE CELSO FURTADO
Publicou muitos artigos e livros durante a vida.
Sua obra se divide em três fases:
1. Décadas de 1950 e 1960, até a ditadura, marcada pela passagem na Cepal.
Tentativa de superar o subdesenvolvimento (estruturalismo latino-americano).
2. Parte da década de 1960 pós ditadura até meados dos anos 1970. Balanço
sobre as falhas do projeto das décadas anteriores.
3. Anos 1970 e 1980. Crescente mistura de elementos em sua obra, com uma maior
importância para a cultura e sua relação com a dependência.
DETERIORAÇÃO DOS TERMOS DE INTERCÂMBIO

Bens primários
Bens industrializados

Contra a teoria das vantagens comparativas.


Baseada na divisão internacional do trabalho – centro-periferia.
Desenvolvimento e subdesenvolvimento são fenômenos interdependentes.
Torna-se, mais tarde, central para as demais teorias do (sub)desenvolvimento latino-americanas.
Qual a solução para estancar a
perda de divisas causada pela
deterioração dos termos de
intercâmbio?
POLÍTICA DE SUBSTITUIÇÃO DE IMPORTAÇÕES
Estratégia para reversão da deterioração dos termos de
intercâmbio, buscando a autonomia da economia nacional.
Deveria ser conduzida pelo Estado.
Ideia-força referência no surgimento do desenvolvimentismo
latino-americano, perspectiva que alcançou grande
popularidade na América Latina nos anos 1950 até 1960,
perdendo força nos anos 1970.
FIM DO SONHO?

“O desenvolvimento econômico – a ideia


de que os povos pobres podem algum dia
desfrutar das formas de vida dos atuais povos
ricos – é simplesmente irrealizável. Sabemos
agora de forma irrefutável que as economias da
periferias nunca serão desenvolvidas, no sentido
similar às economias que formam o atual centro
do sistema capitalista.” (FURTADO, 1974, p.
75)
CELSO FURTADO E A EXPLICAÇÃO DO
SUBDESENVOLVIMENTO
Deterioração dos Economias
Oposição centro- Termos de Exportadoras: Elite dependente
periferia (DIT) Intercâmbio Excedentes = culturalmente
Consumo

Consumo Substituição Falta de ajuste Facilitação para


importado dos atende demanda entre oferta e entrada de
países centrais pré-existente demanda capital
(modernização) estrangeiro

Fonte: Furtado (1981)


ESPERANÇAS RENOVADAS
Apesar disso, Celso Furtado nunca desistiu de lutar pelo
desenvolvimento possível.
O centro de suas reflexões sempre foi e continuou sendo a maneira de
desatar os nós para expandir as forças produtivas e solucionar
problemas fundamentais da população brasileira.
Entretanto, o caminho que Furtado vislumbrava não era mais o salto de
industrialização, mas o incentivo ao consumo das massas por meio de
uma melhor distribuição de renda.

Fonte: Abdala e Goulart (2013)


REFLEXÕES SOBRE CELSO FURTADO
Nome muito reconhecido como intelectual e acadêmico.
Teve notável atuação como político, nunca se furtando do fazer como
meio de transformação da realidade.
Foi utilizado indevidamente como uma suposta referência para a política
de expansão do consumo de massa e aumento salarial dos governos Lula.
REFLEXÃO ?!?!?!
Como o pensamento de Álvaro
Vieira Pinto e Celso Furtado
podem ser apropriados para a
qualificação da Administração
enquanto teoria e prática?
REFERÊNCIAS
ABDALA, Paulo. Organização do Conceito “Nova Classe Média”, dialética do consumo e superexploração renovada do trabalho. Tese de
Doutorado. Escola de Administração, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2014.
ABDALA, Paulo; GOULART, Sueli. Consumo e subdesenvolvimento no pensamento de Celso Furtado: riscos do anacronismo e pistas para reflexão
atual. In: GURGEL, Claudio; MARTINS, Paulo Emílio. Estado, Organização e Pensamento Social Brasileiro. Niterói: Editora da UFF, 2013, p. 217-
252.
BIELSCHOWSKY, Ricardo. Continuidad y cambio en la evolución de las ideas: el estructuralismo (1948-1990) y el neoestructuralismo (1990-
2008). In: BIELSCHOWSKY, Ricardo. Sesenta años de la CEPAL: textos seleccionados del decenio 1998-2008. Buenos Aires: Siglo Vinteuno
Editores, 2010.
BRESSER-PEREIRA, Luiz Carlos; FURQUIM, Lilian. Estado desenvolvimentista, nacionalismo e liberalismo. Congresso da Sociedade Brasileira de
Ciência Política, Gramado, ago. 2012. Disponível em: < http://www.bresserpereira.org.br/papers/2012/372-Desenvovimentismo-Nacionalismo-
Liberalismo-Lilian.pdf>. Acesso em o5 de out. 2013.
FURTADO, Celso. Economia do desenvolvimento: curso ministrado na PUC-SP em 1975. Rio de Janeiro: Contraponto, 2008.
FURTADO, Celso. Pequena introdução ao desenvolvimento: Enfoque Interdisciplinar. São Paulo: Ed. Nacional, 1981.
FURTADO, Celso. O mito do desenvolvimento econômico. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1974.
MALLORQUÍN, Carlos. Celso Furtado: um retrato intelectual. Rio de Janeiro: Contraponto, 2005.
PREBISH, Raúl. O desenvolvimento econômico da América Latina e alguns de seus principais problemas. Boletín económico de América Latina, v. VII,
n. 1, 1962. Disponível em: http://archivo.cepal.org/pdfs/cdPrebisch/003.pdf. Acesso em 03 set. 2014.
SAMPAIO JR., Plínio. Desenvolvimentismo e neodesenvolvimentismo: tragédia e farsa. Serviço Social e Sociedade, n. 112, p. 672-688,
out./dez. 2012.
VIEIRA PINTO, Álvaro. A sociologia dos países subdesenvolvidos: introdução metodológica ou prática metodicamente desenvolvida da ocultação
dos fundamentos sociais do "vale das lágrimas". Rio de Janeiro: Contraponto, 2008. Originalmente escrito como um caderno em 1974.

Você também pode gostar