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BRAZIL CONFERENCE:

A Conspiração Aberta de H G Wells em Ação

Ano passado tivemos, no Brazil Conference at Havard & MIT, uma conferência
entre Olavo de Carvalho, o maior filósofo brasileiro ainda vivo, Eduardo Suplicy,
político profissional do legislativo brasileiro (também foi fundador do Partido dos
Trabalhadores) e Hussen Kalout, secretário especial de assuntos estratégicos
do governo Temer. Ainda, o moderador Pedro Henrique Cristo (ONG Brasil21),
que rapidamente abordou sua experiência de trabalho no Rio de Janeiro após
ter cursado mestrado em Havard, conduziu a conferência. Apresentados os
palestrantes, é de suma importância termos uma visão básica, mas
abrangente, que nos leva ao palco deste evento para que possamos sair da
paixão torcedora do “a favor ou contra” que nos cega diante dos argumentos ali
apresentados. Primeiro, a audiência, se não em sua totalidade, pelo menos em
sua maioria é formada por brasileiros que estudam fora do país, ou através de
programas do governo – ou multinacionais - ou por interesse de suas próprias
famílias, e, em breve, farão parte da classe dominante, dirigente. Isso foi
destacado bem no início da conferência pelo Prof. Olavo. Segundo, dos quatro
participantes, apenas o Prof. Olavo é um autodidata – no sentido o qual seu
trabalho intelectual foi desenvolvido fora da formalidade acadêmica - que,
dispensando explicações, tem uma vasta obra filosófica e literária da qual dois
livros são importantes para o que aqui será exposto: O Jardim das Aflições e
Os EUA e a Nova Ordem Mundial (ambos da Vide Editorial). Os outros três,
todos, tiveram a carreira formal acadêmica completa, entre institutos públicos
governamentais e privados, aonde iram convergir na docência ou discência em
institutos estrangeiros e a aplicação desses trabalhos no seu país de origem. É
importante entendermos que essa comparação não tem nada a ver com uma
demonstração curricular para que seja válida a opinião de fulano ou cicrano,
porém, ela ressalta as diferentes experiências intelectuais obtidas pelos
indivíduos que, ao decorrer do texto, serão entendidas. Por último, e não
menos importante, o teor político-ideológico que possamos identificar nas falas
ali apresentadas só é considerado como um todo e não em seus planos
individuais de uma possível esquerda ou direita. Isso fica bem característico se
pensarmos em três linhas progressivas que vão crescendo em paralelo ao
decorrer da conferência: de um lado o cientificismo-positivista e do outro o
distributivismo-materialista como formas paliativas de soluções, as quais são
trazidas para tangenciar a linha central, representada pelo caráter educacional
deficiente, problema real que é apresentado em confronto às doutrinas,
compreensíveis na forma abstrata, que são proferidas.

O moderador inicia a conferência falando sobre sua experiência e dizendo: “o


que eu escutava de um lado dito de esquerda, e do outro lado dito de direita,
que são conceitos ultrapassados​, não eram reflexões reais da verdade
[brasileira]”, apesar do que possa parecer, ele já deixa registrado a sua
ideologia que, há oitenta e cinco anos, foi chamada de “Ideologia da
Conspiração Aberta” por H G Wells. Este eminente escritor inglês, possuidor de
uma vasta obra literária que perfaz a ficção-científica, os romances e os
estudos sociológicos, é proclamado pelo moderador do debate e,
provavelmente, não é conhecido por ele. Porém, Wells o conhece muito bem
porque o moderador é, ainda na forma abstrata e especulativa à época em que
foi descrito (1933), uma criação do literato e de sua ideologia que avançaria no
mundo até chegar em 2017, no M.I.T., com o brasileiro Pedro Henrique
proferindo que direita e esquerda são “conceitos ultrapassados” e o são, há
muito tempo.

Em 1933, época na qual ele escreveu seu estudo final sobre o maravilhoso
mundo vindouro da Conspiração Aberta e o condensou em ​The Open
Conspiracy. What are we to do with our lives? Blueprints for a World Revolution
(Traduzido por Flávio Quintela e publicado pela Vide Editorial em 2017). Além
dos avanços tecnológicos, o mundo vinha numa enorme pujança de alterações
socioeconômicas e geopolíticas, principalmente na Europa, antecedidas por
idéias que, impulsionadas na descoberta filosófica alemã, foram influenciadas
pela turbulência da tradição socialista francesa e da política econômica inglesa.
Nesse cenário cheio de vivacidade intelectual e científica, acontece a Grande
Guerra e, ao seu final, Wells reflete sobre uma crise nos assuntos dos homens
e que ​“essas novas forças e substâncias estavam modificando e transformando
– de forma discreta, certeira e inexorável – os detalhes da vida normal da
humanidade”​. A partir daí, por que não ter um conjunto de idéias que culminem
num sistema de conduta que atualize a nossa vida social e política? Ele
percebe certeiramente que os vários Kaluots, Suplicys e Pedro Henriques,
cidadãos do mundo, cada qual de sua forma, estarão – se, de posse de uma
ferramenta a qual possam usar - aptos a fazer parte e propagar um sistema
mundial futuro. Portanto, na intuição de Wells:

“Parecia para mim que, em todo o mundo, pessoas


inteligentes estavam acordando para a indignidade e
o absurdo de estarem em perigo, reprimidas e
empobrecidas por uma mera adesão sem sentido
crítico a governos tradicionais, idéias tradicionais da
vida econômica, e formas tradicionais de
comportamento, e que essas pessoas inteligentes...
começaria[m] um protesto, primeiro mental e depois
prático, depois chegariam a um tipo de
conspiração... [que] aconteceria, por sua própria
natureza, à luz do dia, e estaria disposta a aceitar a
participação e a ajuda de cada pessoa, bairro ou
comunidade... ela se tornaria, na verdade, uma
conspiração aberta...”

Wells, H G; A Conspiração Aberta. Diagramas Para Uma Revolução


Mundial, pag. 20-21, Vide Editorial, Campinas 2016.

Portanto, o autor aponta para estudos os quais sejam “​algo realmente sólido e
abrangente para seguir em frente, uma ‘ideologia’, como dizem, com a qual
seria possível pensar a construção de um novo mundo, sem surpresas
fundamentais...​” chegando a uma quantidade de visão e conhecimento de
mundo que alcance um arranjo geral, ou seja, ele (e seus adeptos) tornaria-se
um exímio planejador da humanidade.

Para isso desenvolveu três estudos e os transformou em livros: O Esboço da


História (​The Outline of History​) como tema principal sobre o crescimento da
intercomunicação humana, suas regras e seus conflitos; a Ciência da Vida (​The
Science of Life​) sobre as fontes e natureza da vida, da relação entre espécie e
indivíduos, consciência e pensamento; e O Trabalho, Riqueza e Felicidade da
Humanidade (​The Work, Wealth and Happiness of ManKind​) que aborda as
relações humanas de trabalho, necessidades, cultivo, manufatura, direção,
comércio, governo etc. Estes estudos, em sua visão e pretensão, deveriam
responder a pergunta – convenhamos, presunçosa – sobre “o que devemos
fazer com nossas vidas?”. Bom, com a minha, devo fazer o que eu bem
entendo, todavia, H G Wells não pensa assim e inicia a formulação geral do
que seria a ideologia da “Conspiração Aberta” e um o futuro sistema do “Bem
Público Mundial” que coordenaria toda a vida no mundo:

“​A psicologia da cooperação humana está apenas


em seu começo, [porque] as questões principais da
associação humana são biológicas e psicológicas...
e o século XIX despendeu um grande esforço de
inteligência numa controvérsia estéril entre
individualismo e socialismo. A sociedade humana foi,
é e sempre será um sistema intricado de ajustes
entre a liberdade condicional e as disciplinas e
subordinações do empreendimento cooperativo. A
Conspiração Aberta não pode ser um
desenvolvimento de classes, mas uma convergência
de muitos tipos diferentes de pessoas a uma idéia
comum... numa campanha constante para
revolucionar a educação e estabelecer uma
ideologia moderna nas mentes dos homens...
[assim] ela não deve ser entendida como uma
organização singular, ela é uma concepção de vida
da qual surgirão esforços, organizações e novas
orientações...​”

Wells, H G; A Conspiração Aberta. Diagramas Para Uma Revolução


Mundial, pag. 80-99, Vide Editorial, Campinas 2016.

Fica evidente, digo até que estereotipado, as opiniões que foram apresentadas
no “debate”, pois não trazem nada de novo, a não ser dentro da “​convergência
de muitos tipos diferentes de pessoas a uma idéia comum​”.
A opinião expressa pelo ex-senador Suplicy – do qual conhecemos sua
atuação política - fica subentendida em termos os quais são bem amplos,
gerais e abstratos. Por exemplo, invocando uma “fraternidade universal”, ele
fala sobre “​valores que não sejam simplesmente a busca do interesse próprio,
de levar vantagem em tudo​” – um ataque a psicologia individual de cunho
pessimista. Óbvio que nós brasileiros temos o ego muito aguçado sobre tirar
vantagens nas nossas relações pessoais, principalmente pecuniárias, porém,
esse “interesse próprio” não é combatido neste sentido e sim de uma forma
ampla na qual qualquer ganho, qualquer ascensão e mérito pessoal de
empreendedorismo vira “interesse próprio”. Assim, resta apenas o “interesse
público” pelo qual irão atuar os administradores da burocracia governamental –
por muito tempo o ex-senador foi um deles, que não buscam o lucro ou a
vantagem, mas o bem coletivo. O que leva o ex-senador a prosseguir
argumentando, mais à frente, sobre a “renda básica de cidadania” e de
inúmeros exemplos de países e cidades que, segundo ele, instituíram um valor
pecuniário básico para cada indivíduo em toda a população. Bom, neste ponto,
a expressão de um marxismo contumaz – ele foi fundador do PT e disse que
vai lutar até morrer para ver esse programa social implantado – nos conduz a
uma interpretação lógica a qual não será possível que 206 milhões de
brasileiros percebam um valor fixo do Estado. O que resulta em três problemas:
primeiro, a burocracia que será envolvida nesse processo; segundo, o próprio
gasto para ter esta burocracia e; terceiro, o próprio controle burocrático amplo
sobre a população, pois, para ter o benefício todos deverão ser registrados
pelo aparato burocrático. Porém, essa reivindicação é válida exatamente
porque não se pode atendê-la, acarretando apenas a fixação na tal “luta pelo
direito”, que nunca é concedido, e por alguém que o promulgue. Com isso
temos, proferido pelo político brasileiro e que encontra eco numa grande parte
da nossa elite, a luta por um ideal de igualdade universal que será amparada
pelos administradores do bem público, e estes, garantirão o mínimo de renda
como condição de vida para o resto da população. Contudo, esta conclusão
estava contida, há 85 anos, no que foi previsto por H G Wells e, neste caso, no
discurso da Conspiração Aberta:

“​...não houve, como finalidade do processo


econômico, uma alternativa pratica para uma
igualdade inumerável em subsistência mínima,
exceto por uma desigualdade de arranjos
econômicos... [mas] pela criação de uma vida nova e
aperfeiçoada... a propriedade privada não é
totalmente maligna como estágio provisório que tem
a habilidade de transcender as fronteiras políticas e
se um homem deve lucrar e sobreviver, esses
enganos inconscientes, precisam ser observados,
dominados e dirigidos, [com isso] haverá o suporte a
um padrão mínimo de liberdade individual e
bem-estar no mundo...​”

Wells, H G; A Conspiração Aberta. Diagramas Para Uma Revolução


Mundial, pag. 72-115, 158, 167-69, Vide Editorial, Campinas 2016.

Eis a face socialista da Conspiração Aberta. Seu autor discutiu seriamente o


porquê – como mostrado numa citação mais acima – de o marxismo ter se
perdido num centralismo feroz. Entretanto, Wells afirma que, apesar de seus
métodos, a experiência de controle no Leste Europeu foi importante por ter
limpado o seu caminho de “​muitos dos principais elementos obstrutivos que
encontramos ainda vigorosos no Ocidente​” e que a observação dessa “limpa” o
levou a verificar a liberação, de “​vastas áreas, das superstições relacionadas à
monarquia e da necessidade de controle proprietário privado de grandes
interesses econômicos”​. Mesmo assim, se a ideologia marxista ainda profere –
como o faz o ex-senador – seus “​dogmas, não sendo progressiva​”, a maré que
ascende da Conspiração Aberta irá submergi-la e dissolve-la, incorporando
apenas o que for assimilável. É exatamente o que vemos no argumento
proferido pelo Suplicy diante da plateia a qual ele está.

Acontece o mesmo com Hussen Kalout. O Secretário de assuntos estratégicos


do Governo Temer tem uma importante posição que equivale a ser um dos
cérebros do Estado brasileiro sobre assuntos muito importantes. Ou seja, lidar
com a situação sinuosa das relações internacionais e tomar decisões que
influenciam as nossas instituições, a fim de que, nosso Estado tenha uma
posição de influência regional, até mundial, ou não. O famoso o que queremos
ser quando crescer. No entanto, apesar de o péssimo áudio do vídeo, o que
aferi dos argumentos do secretário ficou claro no seu positivismo científico e
acadêmico. Em um primeiro momento, concorda com as reformas sociais
proferidas por Suplicy, porém, adverte que essas não sejam arrogadas como
projetos políticos, que seus supostos donos proclamam, mas como projetos
para o bem coletivo que é representado no Estado, e o que é bom para todos,
vem do Estado. O que, em outros termos, fica bem parecido com o argumento
do Suplicy. Mais à frente, ele protesta sobre o financiamento de pesquisas
científicas e argumenta sobre o ​Brasil ser “​um país que não produz ciência​”,
porque o “​investimento em ciência é entendido como gasto, não como matéria
de segurança nacional ou como projeto de estado​”, e há a necessidade de uma
conexão entre as Universidades e os centros de pesquisas, para que haja um
projeto desenvolvimentista – claro, tudo vindo do governo – de nação. Bom,
esse argumento foi realizado na prática pelo Regime Militar (1964 – 1985) que
aumentou grandiosamente o número de universidades e escolas técnicas para
acompanhar o desenvolvimentismo estatal sob rédeas curtas. Entendendo
assim que uma elite tecnocrata poderia conduzir o país ao desenvolvimento
tecnológico e a riqueza. De fato, no início funcionou, porém, o desenrolar da
história mostrou o que sabemos hoje: uma casta mais estrategicamente
preparada – e corrupta - tomou de assalto o Estado e o patrimonialismo, que
era de direita, virou de esquerda. Entretanto, não importa qual a ideologia dos
que assumem a Máquina Estatal, o que importa é que o Estado planejador
funcione como laboratório para o futuro “Bem Público Mundial”, pois, “​acidentes
menores podem ajudar ou atrasar... dispersar ou concentrar atenções sobre
ela...​”. Assim, o cientificismo do sr. Kalout cai como uma luva no que Wells
previu:

“​...não estamos começando alguma coisa; estamos


descrevendo e participando de algo que já
começou... o avanço geral da ciência, a proteção e o
apoio à pesquisa científica e a difusão do
conhecimento científico. Estas coisas, estão dentro
do esquema normal de tarefas para os membros da
Conspiração Aberta... a ciência – pesquisa e difusão
do conhecimento científico – é extraordinariamente
negligenciada... e para este trabalho há, antes de
qualquer coisa, uma grande necessidade de
doações e estabelecimento de laboratórios,
observatórios, estações experimentais e similares
em todo o mundo... ​[que ligarão] ​o homem da
ciência e o homem comum inteligente... firmando
a substância, as implicações, e as
consequências do novo trabalho em um linguajar
comum, se for preciso, treinarão as pessoas em
novos idiomas e tecnicalidades...​”
Wells, H G; A Conspiração Aberta. Diagramas Para Uma Revolução
Mundial, pag. 159-65, Vide Editorial, Campinas 2016

Aqui fica explicito que o desenvolvimento tecnológico, ocorrido dentro do


sistema liberal clássico dos séculos XVIII-IX - mas comumente conhecido como
capitalismo - e levado a cabo por indivíduos no mundo inteiro, é bem-vindo na
forma devidamente planejada pelo coletivo (Estado) e inspirada pelo bem
comum. Claro, não centralizado como o foi na URSS, mas convergente ao
“Bem Público Mundial”. O maior exemplo é o próprio secretário de governo
brasileiro que, após sua estadia como pesquisador de ciências políticas na
universidade de Havard – que é um desses laboratórios sobre o qual falou
Wells – retorna ao seu país para aplicar seu conhecimento que foi adquirido
naquela “​organização ad hoc especial... que trabalha como sociedade
internacional e cosmopolita para o estabelecimento de uma organização
mundial​...”

Já vamos longe, e não custa lembrar que tudo isto não é a famosa
“conspiração” pejorativa com a qual os que tem medo do conhecimento taxam
os outros e riem dos argumentos apresentados. Aqui estão descritos os planos
narrados por um dos mais altos agentes desta “​concepção de vida​”, como o
mesmo afirma. Neste sentido, podemos citar aqui inúmeros outros partícipes
como Aldous Huxley, George Orwell, Arnold Toynbee, George Bernad Shaw,
Oscar Wilde, James Joyce, Virginia Woolf, eminentes nomes da literatura
mundial cujos trabalhos tinham alguma ligação com a psicologia das possíveis
relações humanas num futuro próximo e que apresentavam características da
“​concepção de vida​” que estavam disseminando.

Porém, não existem planos humanos perfeitos e, a todos eles, sempre haverá
alguma oposição, mesmo que seja ínfima. Neste caso, a oposição não é feita
como um projeto em contrário, mas sim como um despertar, um alerta, para o
objetivo pérfido, mesquinho e diabólico que é o planejamento da vida humana -
consequentemente, sua submissão - por uma casta dominante, uma elite
mundial iluminada. Esse alerta é o conhecimento da nossa realidade, e esse é
apresentado na Conferência do M.I.T. pelo prof. Olavo de Carvalho. ​H G Wells
tem um ponto em comum acordo com o que o Prof. Olavo – e os dois são
exímios ensaístas e literatos, ou seja, possuem um rico treinamento do
imaginário - fala no debate: sobre a educação, em seu sistema universal, ser
(tanto hoje, como naquela época) péssimas e não ensinarem nada. E cada
indivíduo, por si mesmo, tem que buscar as ferramentas de sua reorientação
na vida. Olavo é prova viva disto e o autor também afirma no livro que o é, mas
esta concordância, para na crítica.

O sentido de educação o qual é defendido pelo Prof. é oposto ao sentido de


educação o qual Wells professa. Enquanto o Prof. defende uma educação no
sentido liberal clássico, de forte tradição filosófica, onde as ferramentas, das
quais se equipa o indivíduo, se transformam no máximo de sua força intelectual
e, em seu apoio, ajudam a identificar a realidade sem a pretensão de planejar o
futuro do mundo; Wells acredita numa educação para a nova sociedade
vindoura que se forma com o processo da “Conspiração Aberta” e nega toda a
tradição dos “​professores e escolas do velho mundo​”. Assim, aqueles estudos
os quais ele fez, e que foram citados neste texto, condensam o “​Relato
Moderno da Vida​”. Estes estudos serão a fermenta do homem moderno e
“​permearão e substituirão os livros didáticos​” para que tenhamos os “​hábitos
corretos e os fundamentos certos de fatos percebidos​”, portanto, seremos parte
da “​vida humana na futura comunidade mundial...​”.
Já o Prof. Olavo cita o idealizador do evento, o sr. David Pares, falando sobre
sua crítica a qual no Brasil “​um dos grandes problemas é a falta de diálogo,
sobretudo entre direita e esquerda​”, e por isso acaba “​não havendo
interpenetração das consciências, nem diálogo algum​”. Isto nos demonstra que
a intenção do sr. David, que faz parte da ​intelligentsia brasileira, é exatamente
o que Wells apresentou em 1933 sobre o individualismo e o socialismo
(esquerda e direita) não serem totalmente excludentes e que a sociedade é o
emaranhado de ajustes sociais que resultam das duas idéias.
Após comentar sobre aquilo, o Porf. Olavo apresenta um argumento que
enfatiza um dos problemas da ruína da educação brasileira:

“​A história social e psicológica do Brasil aparecia


translúcida na literatura nacional. Lendo os livros de
Machado de Assis, Raul Pompéia, Lima Barreto,
Antônio de Alcântara Machado, Graciliano Ramos...
A complexa e rica imagem da vida nacional, que se
via nas obras dos melhores escritores, é então
substituída por um sistema de estereótipos...
coletivamente, a arte em geral, mas, sobretudo, a
literatura, corresponde ao imaginário [e]
desaparecendo a literatura, não teremos mais uma
imagem operante da sociedade brasileira, da
experiência de ser brasileiro... não temos diante de
nós o objeto, imaginariamente representado,
chamado Brasil...​”

É exatamente esse objeto chamado Brasil – sua história, tradições, costumes,


valores, conquistas e feitos que condensam em torno nação o conjunto de
realizações que seu povo tem em comum - que não pode ser percebido.
Principalmente, quando aí desenvolvemos o sentimento nacionalista e não uma
ideologia nacional. Esta foi, segundo a propaganda, o “Grande Culpado” do
caos e das Guerras no mundo. No Primeiro Mundo foi o saco de pancada para
todos os golpes das mais variadas ideologias ascendentes, enquanto que no
Terceiro Mundo, essas mesmas ideologias se utilizavam do nacionalismo para
perpetrar a libertação ante ao “Imperialismo Burguês” com seu
antiamericanismo obsessivo. Este é o ponto crucial, apresentado pelo Prof.
Olavo, que entra como pedra no sapato das opiniões ali presentes: a realidade
BRASILEIRA e SEUS problemas, para que depois possamos agir diante do
Leviatã Moderno que é o desejo do Estado Mundial. Entretanto, sabemos que
os representantes deste Estado Mundial estão, ali na conferência, bem
definidos por suas posições ideológicas, e não vão entender, ou não irão
aceitar de bom grado o que foi dito, pois, apesar de brasileiros, eles, como foi
demonstrado, já estão inseridos dentro da dialética do processo da
Conspiração Aberta e fazem parte da ​intelligentsia que propaga essa ideologia,
sabendo ou não.

Implicitamente, o Prof. é a única antítese real à ideologia ali proferida e o seu


autor desde há muito (85 anos atrás) já afirmava que:

“​Estamos todos enxergando que certas tradições


estabelecidas não são tão convenientes quanto
eram, mas positivamente prejudiciais e perigosas...
todos aprendiam uma história que glorificava seu
próprio país, e o patriotismo era o maior de todas as
virtudes... e nós já mostramos que há uma forte
disposição ao conservadorismo que preservam as
tradições em vez de desenvolvê-las... ​[o que implica
na] ​organização fundamental dos Estados
contemporâneos ainda ser basicamente militar, e
isso é exatamente o que uma organização mundial
não pode ser. Bandeiras, uniformes, hinos nacionais,
patriotismo cultivado na Igreja e na Escola, a
fanfarronice, a exaltação e a vociferação de nossas
soberanias em disputa, tudo isso pertence à fase de
desenvolvimento que a Conspiração Aberta
suplantará...”

Wells, H G; A Conspiração Aberta. Diagramas Para Uma Revolução


Mundial, pag. 14-15, 61 e 172, Vide Editorial, Campinas 2016.

O nosso desenvolvimento intelectual é demasiado importante nesta luta. A


informação que temos, se estudada e buscada a fundo em sua fonte, nos ajuda
a entender a confusão atual formada pela convergência à um único objetivo
que tem centenas de formas de propagação. Lembro que esse projeto não tem
uma organização rígida e um comando central, método criticado por Wells que
proferiu sobre que “o marxismo perdeu o mundo quando foi para Moscou e
tomou as tradições do Czarismo, assim como a Igreja perdeu o mundo quando
foi para Roma e tomou as tradições de César​”, palavras estas que deixam claro
a abrangência dessa ideologia que absorve o capitalismo e o comunismo
doutrinários, assim como invoca uma revolução liberal contra qualquer tradição
ocidental. Ainda, o autor invoca à todas as “​mentes abertas​” dizendo que “​não
pode haver uma pausa para a substituição nos assuntos da ​vida” e, bem
consciente de seus planos, alega a ação “​dia a pós dia, com a continuidade
das atividades comuns​”; tudo isto, para a formação do novo homem que é um
“Conspirador Aberto” e para chegarmos ao “Bem Público Mundial”.

Nós também não podemos parar, temos que enfrentá-los, pois, cada um de
nós é uma resistência. Busque, leia, informe-se, ainda podemos resistir!

Referências:

Brazil Conference at Havard & M.I.T.:


https://www.youtube.com/watch?v=t3gHVkMJZ6A

Wells, H G; A CONSPIRAÇÃO ABERTA. DIAGRAMAS PARA UMA


REVOLUÇÃO MUNDIAL, Campinas-SP, Vide Editorial, 2016.

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