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29/05/2019 Lumpemproletariado: a chave que une liberais e marxistas na utopia globalista - Estudos Nacionais

Lumpemproletariado: a chave que une


liberais e marxistas na utopia globalista
28/05/2019 Cristian Derosa

O lumpemproletariado não é a burguesia nem o proletariado. É uma espécie de limbo. (Cristo no Limbo. Óleo de
Hieronymus Bosch).
A ideologia do globalismo, que visa uma nova ordem global em que a humanidade será
administrada por uma elite de políticos iluminados, pode facilmente ser descrita como
resultado da ação de intelectuais neomarxistas financiados por milionários liberais, em torno
da utopia de um novo iluminismo. Uma das chaves para entender esse jogo de cooperação
histórica está no papel do proletariado marginal ou o lumpemproletariado.
Não há dúvidas de que a classe revolucionária dominante nos dias de hoje compõe-se do que
Marx chamava de lumpemproletariado, aquela classe desorganizada e cínica que poderia
contaminar o proletariado e facilmente acabar servindo aos interesses da burguesia. O
proletariado marginalizado e destituído de consciência de classe é potencialmente uma classe
de mercenários e traidores. Não é preciso pensar muito para prever que os atuais ativistas
LGBT, pró-banditismo revolucionário, etc, seriam os primeiros a se revoltar contra uma
ditadura comunista ou uma “ditadura financeira” de megabilionários. Mas são justamente os
liberais e marxistas que mantém viva essa classe descartável de idiotas úteis.

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Afinal, George Soros foi o responsável pelo fundo que criou a Fundação Marielle Franco.
Investiu mais de 10 milhões para causas como combate ao racismo, lgbtfobia e audiência de
custódia, clássicas causas que fortalecem o subproletariado ou o proletariado em frangalhos.
Ninguém questionará se esse “proletariado” representa mesmo os que originalmente
trabalhavam para o sustento da prole. Afinal, se os marxistas desistiram de vez do
proletariado originalmente descrito por Marx dada a sua falta de fidelidade à classe, eles
souberam substituí-lo por uma massa fiel ao dinheiro dos metacapitalistas.
O lumpemproletariado, para Max, era uma classe abaixo do proletariado, desprovida de
recursos econômicos e de qualquer consciência de classe. Teria sido com o controle dessa
subclasse (também chamado subproletariado) que Luis Bonaparte teria formado o grupo
chamado Sociedade 10 de dezembro, entidade de mercenários que tumultuava e ameaçava de
morte e roubo os adversários políticos de Bonaparte para intimidá-los em favor da sua causa.
A história é contada por Marx em O 18 Brumário de Luis Bonaparte e exemplifica o uso
estratégico do lumpemproletariado por qualquer classe que consiga organizá-lo.
Mobilizados pela Escola de Frankfurt, os estudantes se uniram a essa massa amorfa e
disforme (palavras de Marx) que se ocuparam do verdadeiro “trabalho do negativo”,
recomendado por Hegel e seguido pelos frankfurtianos. A “crítica total de tudo quanto
existe” se tornou a atividade preferida, e bem financiada, dos intelectuais ao longo do último
século.
Essa mudança foi possível principalmente graças à percepção marxista de que o proletariado
jamais teria a capacidade concreta de organizar-se como classe. A solução foi simbolizar a
consciência proletária em outros grupos de revoltados, incluindo aí as “revoluções subjetivas
da burguesia” (feminismo, lobby gay), que ironicamente eram associadas ao fascismo pelos
marxistas ortodoxos.
Mas a quem coube organizar a massa desorganizada dos fracassados, entre os quais o século
XX acrescentou misteriosamente a classe estudantil? Não pode ter sido o proletariado, já que
nem mesmo os marxistas confiam mais na sua capacidade de organização. A resposta já tem
sido dada por Olavo de Carvalho: coube aos metacapitalistas, herdeiros da ideologia liberal,
e temerosos da promessa marxista da expropriação das suas propriedades.
Quando a classe intelectual, representada por professores universitários, reduziu-se a um
amontoado de ideólogos mercenários, obedientes ao dinheiro de incentivos governamentais,
benesses de fundações internacionais financiadas por milionários estrangeiros, reduziu-se a
uma classe útil justamente ao comando dos estudantes, que respondem ao estímulo que os
marxistas ortodoxos mais temiam: o dinheiro dos capitalistas.

Família, Igreja e Estado: trindade maldita


Não vem só de velhos marxistas, como Marx e Engels, o ódio ao conceito universal de
família, o papel da Igreja e as funções originais do Estado. Liberais que almejam uma
sociedade planejada e funcional também desejam ver essas instituições plenamente
domesticadas e direcionadas à produtividade.
Para os marxistas, a família é o berço da exploração e também origina a autoridade do
Estado. Assim como a Igreja, essas instituições criam obstáculos à formação da consciência
de solidariedade de classe. Família atua na solidariedade parental, Igreja na caridade cristã e
o Estado (burguês) na obediência às leis (burguesas e portanto exploradoras).

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Já para os liberais, essas instituições representam obstáculos à livre consciência e à liberdade


individual, oferecendo regramentos externos e solidariedades alheias à racionalidade e
gestão racional da vida humana. Para o liberalismo, embora essas instituições sejam
respeitáveis, elas não poderiam jamais suplantar a autoridade individual sobre cada um. A
autoridade da família limita modelos e projetos de vida, assim como a religião influencia nos
limites da ação humana (moralidade).

Uma nova ordem socialista e liberal?


Marxismo e liberalismo são, portanto, raízes comuns do globalismo, que desenvolve-se
como um plano de administração total em um novíssimo mundo cujos princípios são a
combinação de projetos das duas ideologias. E não é a toa que as duas únicas correntes
política permitidas pelo globalismo sejam duas espécies do mesmo gênero: social-
democracia e neoliberalismo. Uma estranha dualidade entre socialismo democrático e um
liberalismo social, dois nomes para a mesmíssima coisa.
Um plano de governança global agradaria evidentemente os dois lados, mas também poderia
ser criticado por ambos. Para marxistas, a solidariedade do proletariado sempre foi
supranacional e o controle dos meios de produção, como recursos naturais por exemplo, são
tranquilamente satisfeitos com o ambientalismo e ecossocialismo.
Para os liberais, a administração e gestão com o foco na eficiência e no mútuo
desenvolvimento das nações em um mundo globalizado. No caso do ambientalismo, a soma
da visão ecossocalista e do liberalismo traduz-se no arranjo retórico-prático da
sustentabilidade Para esse desenvolvimento, todas as balizas morais e religiosas são
obviamente obstáculos inúteis e velharias tradicionais que precisam ser sacrificadas em
nome da prosperidade das nações.
O papel do estado é obviamente dúbio no jogo estratégico. Para o socialista, seria preciso
atrair funções cada vez mais profundas para as mãos estatais, cujos únicos obstáculos são
família e religião, representando o estágio intermediário entre individuo e estado. Neste caso,
o liberal coopera quando combate os mesmos obstáculos, mas na esperança da auto-
diminuição estatal, o que traria exatamente o mesmo resultado socialista sem que houvesse
um fortalecimento da sociedade, o que só ocorreria através das suas instituições naturais.
O universo liberal é o de um estado mínimo e uma sociedade menor ainda, cujo único valor
que sobra é o da produtividade, eficiência etc, ou seja, justamente o sonho dos grandes
capitalistas. É evidente que sem moralidade a produção será muito maior e a geração de
riqueza econômica se multiplicará.
Indivíduos sem família, sem filhos, sem religião ou balizas morais são funcionários perfeitos
e exímios trabalhadores produtivos e eficientes, cujo único sentido de solidariedade seria
com seus patrões, empresas ou organizações para as quais trabalham. Para satisfazer o sonho
liberal, o lumpemproletariado trabalha dia e noite nas suas revoluções subjetivas de
liberdade sexual, prazeres ilimitados e uma vida aparentemente livre de amarras morais que
fatalmente termina na escravidão dos vícios em drogas, sexo e consumo.
O projeto deste tipo de cidadania dos prazeres satisfaz perfeitamente o plano liberal de
sociedade consumista que se vê profundamente livre enquanto é escravizada por seus desejos
(e não mais por suas necessidades, como no passado). Ao mesmo tempo, os gostos e
prazeres mais subjetivos convertem-se em motivos para a organização de grupos que lutam
pelo direito de gostar, desejar e consumir.

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Essas “comunidades de sentido” são úteis também ao avanço do marxismo culturalista, que
simboliza todo tipo de anseio por libertação de amarras morais como sujeito histórico da
revolução, o proletariado perdido.
Uma dúvida que pode ser colocada é: será que depois de extintos todos os valores morais a
sociedade será capaz de identificar o que significa prosperidade, riqueza e felicidade? Talvez
o velho proletariado, aquele que trabalha para o sustento da prole, foi protestar contra a
ordem globalista no dia 26 de maio. Como diz Olavo de Carvalho, estamos vendo o
fenômeno de uma esquerda elitista tentando sufocar uma direita genuinamente popular, algo
impensável e imprevisível pelo discurso marxista tradicional.

Oposições meramente doutrinais


É claro que há pontos contrários ao globalismo em ambas as doutrinas. Um marxismo mais
ortodoxo seria obviamente contrário a essa tutela global das nações, principalmente se não se
tratasse de uma governança de base socialista. O financiamento do Grande Capital também
seria motivo suficiente para marxistas combaterem a ordem global.
Da mesma forma, o liberalismo, como doutrina contrária a toda centralização de poder,
principalmente quando este poder pretende determinar crenças, valores e uma ética
supraindividual.
Mas a crítica meramente doutrinal, liberal ou marxista, do globalismo não significa
absolutamente nada quando o uso dos seus meios de ação caminha exatamente para a
efetivação dessa ordem global. Além disso, tendo os valores universais cada vez mais
excluídos da sociedade e ausentes dos debates públicos como questões de foro íntimo e
arbítrio meramente individual, sobra-nos o valor da produtividade e da prosperidade material
como único valor moral.
Desde que liberais e marxistas aprenderam a utilizar o lumpemproletariado, isto é, a massa
de manobra de vagabundos do sistema, como motor das mudanças globais, o único caminho
diante do mundo é o do holocausto revolucionário defendido por Marx, que fatalmente
eliminará a humanidade antiga em nome do “novo homem”.

Jardim das Delícias (Hieronymus Bosch)

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