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Resumo:
Abstract:
This article intends to analyze how some points of postmodernity meet gifts in the current
universe of the education. I will analyze the concepts of modernism and postmodernism,
perceiving, inside of the crisis of the modern scientific paradigm, how the central idea of
science is attacked by sources of the thought postmodern. Intending to catch these
influences, I will work some changes of approach in history, in the identities and in the
condition of knowing. About of the education, I will approach some potentialities of
reading of this line of thought, mainly the thematic of the Interdisciplinarty and the citizen.
Key-words: postmodernity – science – education
O discurso do “pós” está muito em voga nas atuais discussões acadêmicas, presente
desde meados dos anos 80 em âmbito de Brasil e Rio Grande do Sul. Vê-se neste campo de
saber tanto uma perspectiva negativa, com o fim das certezas e verdades, quanto positiva,
com uma renovação dos discursos do conhecimento. Creio que, para compreender alguns
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Graduando em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
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Nesses rápidos apontamentos, percebemos que podem existir alguns sentidos para o
mesmo termo, o que é muito comum aos mais variados conceitos. Tendo isso em mente,
devemos levar em conta que os significados dos conceitos de modernismo e pós-
modernismo variaram historicamente como resultado de intensas atividades teóricas, que
criam por sua vez diferentes significados e interpretações (PETERS, 2000, p. 16). Por
razões óbvias, pretendo abordar apenas definições ligadas às ciências humanas em geral,
pensando o campo da história, pautando em especial as definições trabalhadas por Jean-
François Lyotard.
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Não se pode pensá-la, nesses termos, como um simples discurso, mas sim como um
metadiscurso, de quem dependeria o verdadeiro saber para, por exemplo, a justificação de
dar aos indivíduos os meios de sua emancipação em relação à alienação e à repressão.
Discurso claro e caríssimo ao marxismo, como um destes expoentes.
Apesar de todo este trabalho de legitimação, a ciência foi o que foi e é o que é pois
houve um consenso, uma comunidade inteira que compartilhou de paradigmas comuns, se
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não idênticos, ao menos muito aproximados (MARQUES, 1993, p. 59). Comunidade esta
que conseguiu constituir relações de poder e saber tão sólidas que possibilitaram uma
ampla aceitação e imposição do discurso científico. Acredito que não seria demais pensar,
na acepção foucaultiana, em um “dispositivo científico”, pensando dispositivo como uma
gama heterogênea de elementos que são “discursos, instituições, organizações
arquitetônicas, decisões regulamentares, leis, medidas administrativas, enunciados,
proposições filosóficas, morais, filantrópicas” (FOUCAULT, 2005: 244). Uma gama de
elementos que dizem e omitem, estabelecem o que pode ser dito e não dito, o que pode ser
pensado e o que não pode ser pensado, encerrando um limite de pensamento. Ou seja, a
ciência foi (e ainda é, em muitos momentos) aceita e “imposta” à maioria, e este fato foi
decisivo na constituição da sua força de legitimidade.
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um enunciado científico seja a “mais verdadeira”, e muito menos a sua “cura” seja a mais
eficiente e justa.
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E na educação, tentando agora responder o que fora proposto a este ensaio, de que
forma a condição pós-moderna condiciona certas mudanças nos mecanismos de
transmissão de conhecimentos? Que elementos desse contexto podem atuar em
aprendizados ou até condicionar estes aprendizados? Ou ainda, que aprendizados são
estes?
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de balizas materiais (história em comum, religião, etnia, território), que por fim lhes dotam
de legitimidade.
Jean Baudrillard, pensador francês de cujas idéias são avaliadas como pós-
modernas, mas que identifica-se apenas como um “dissidente da verdade”
(BAUDRILLARD, 2003), diz que nossa sociedade possui uma “condição como a de uma
ordem social na qual os simulacros e os sinais estão, de forma crescente, constituindo o
mundo contemporâneo, de tal forma que qualquer distinção entre “real” e “irreal” torna-se
impossível” (APUD SIQUEIRA, 2007). Simulacros e sinais, para este pensador, são signos
e imagens que, dada a exaustividade com que são desenvolvidos e reproduzidos pelos
meios de comunicação, transformam as experiências de vida, destroem sentidos e
significações e, por fim, tomam a condição de realidade, ao mesmo tempo que esvaziam
este conceito. Nenhum exemplo demonstra tão bem isso quanto o consumo, onde a marca,
o prestígio, o luxo e a sensação de poder tornam-se uma parte cada vez mais importante do
artigo de consumo e não somente seu “valor de uso” ou “valor de troca”. Segundo
Baudrillard (APUD SIQUEIRA, 2007) “já não consumimos coisas, mas somente signos”.
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Esta mudança, talvez um dos grandes objetos das críticas à condição pós-moderna,
é a realidade em que se desenvolvem grande parte dos centros de estudos e pesquisa do
mundo. Não é preciso grandes análises para perceber como as parcerias entre grandes
grupos empresariais e setores das universidades públicas, como a UFRGS, são muito bem
consolidadas. Se por um lado estes grupos investem na pesquisa e no desenvolvimento da
universidade, por outro cobram o seu quinhão nestas descobertas, e acabam desviando para
seus interesses um amplo capital humano e de pesquisas que poderia ter outro fim, mais
ligado aos problemas da sociedade como um todo. Em especial, desviam-se recursos
daqueles setores onde a universidade pública é, via de regra, o único agente existente para
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pesquisas não voltadas ao mercado, ligadas principalmente a desenvolver áreas que afetam
as populações de baixa renda.
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O papel decisivo está no sujeito coletivo, que passa por sujeitos individuais,
observadores posicionados historicamente. Um sujeito cuja constituição estará repleta de
influências, determinações, jogos de poder, etc. Entretanto, algumas dimensões do
pensamento pós-modernista podem propiciar uma independência em grande parte
esquecida.
Como nos pensamos? Como nos constituímos? Como somos o que somos? Bem,
podemos ser algo a priori, constituídos apenas no exterior à nossa vontade, por discursos e
dispositivos tão poderosos que nossa vã existência nem sonharia em tentar subvertê-los.
Nesse sentido, somos interpelados magistralmente pelas mais variadas indústrias das mais
variadas coisas possíveis (ou não) de serem consumidas e assimiladas. Vendem modos de
olhar, de ser, de interagir; vendem comportamentos, desejos, sonhos, vontades; vendem
modas, padrões, estéticas. Vendem todo o necessário para constituir um indivíduo (não tão
individual, nesses termos), algo que sempre compramos, em maior ou menor grau. Cabe
lembrar que muitas dessas interpelações são auxiliadas ou condicionadas por discursos da
ciência.
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Segundo Anthony Giddens (APUD SIQUEIRA, 2005), é possível dizer que a pós-
modernidade é o mundo da “destradicionalização” e da reflexividade, e conseqüentemente,
um mundo de “indivíduos mais ativos”; indivíduos que não acreditam mais em decisões
políticas impostas, rígidas, burocratizadas e que não condizem com suas necessidades.
Apesar desta linha de pensamento, o que percebemos na atual conjuntura, tanto do mundo
da educação quanto da sociedade brasileira como um todo, é o esvaziamento do
pensamento político.
Existe uma apatia das pessoas, que continuará enquanto não se valorizar a
autonomia e a participação dos indivíduos. Tratando de nossa organização eleitoral, os
partidos limitam as influências e o controle sobre os mesmos por parte dos eleitores. Ao
afastarem os indivíduos das questões públicas, o exercício da cidadania passa a
compreender exclusivamente o voto, desencorajando e mesmo negando outras formas de
participação política.
Retomando, por fim, a questão do pós-modernismo como agente para o fim das
ingenuidades, penso que “fim de inocências” não significa o fim das escolhas, o fim das
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Talvez haja uma forte confusão entre um corpo de idéias pós-modernas de leitura
da realidade, e outro corpo de idéias de proposição à realidade. Não creio ser possível
construir tal divisão, e unicamente me proponho a perceber o potencial de leitura
proporcionada por alguns pensadores pós-modernos.
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Bibliografia:
BAUDRILLARD, Jean. A Verdade oblíqua. Entrevista concedida à Luís Antônio Giron. Revista
Época, 7 junho 2003.
GOMES, Jomara Brandini and CASAGRANDE, Lisete Diniz Ribas. Reflexive education in post-
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SILVA, Tomaz Tadeu da. Documentos de Identidade: uma introdução às teorias do currículo.
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VEYNE, Paul. O último Foucault e sua moral. Paris: Em Critique, 1985. Vol. XLIL, nº 471-472,
p. 933-941. Disponível em: http://www.unb.br/fe/tef/filoesco/foucault/art11.html. Acessado em
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