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INTRODUÇÃO
O PARADIGMA MODERNO:
1
Capítulo do livro Mente e Corp: integração multidisciplinar em neurologia. Luiza Elena Ribeiro
do Valle( org) Rio de janeiro, editora Wak, 2007
que o cumprimento das promessas seja nuns casos excessivo e
noutros insuficiente.” 2
O conceito de modernidade pode ser analisado como um marco histórico-
temporal, como o advento de um novo modo de produção ou como uma
mentalidade, uma visão de mundo e um modelo de ciência. Modernidade ou
modernismo é um fenômeno ocidental. Situa-se no contexto histórico das
civilizações que se expandiram da Península Balcânica para a Itálica e Ibérica
atingindo todo o continente europeu e, dali, a América.
Este paradigma irá imperar durante séculos e ainda hoje subsiste, apesar de já
serem sentidos os impactos de uma nova transição paradigmática. Suas
características permitem definir toda a produção científica a partir dos séculos
XIV e XV como “moderna”, e configuram um novo modelo de pensamento.
2
SANTOS, 2000.p.50
3
SANTOS, 2000.p.18.
4
SANTOS, 2000.p.15.
O Positivismo é considerado um “modelo” de pensamento da modernidade
porque, por intermédio da análise de suas teorias, é possível compreender a
realidade daquele momento histórico. Tem em Augusto Comte seu destaque e
vai influenciar o pensamento e a vida nos séculos XIX e XX. Comte elegeu a
palavra “Positivismo” considerando que ela assinalava a realidade e a
tendência construtiva que pretendeu imprimir ao aspecto teórico de sua
doutrina. De maneira geral, interessou-se em estudar como a vida social se
reorganizou para o bem da humanidade por intermédio do desenvolvimento do
conhecimento científico, permitindo o controle das forças da natureza.
Tal atitude de busca da lei com o esclarecimento das causas como condição
absoluta de conhecimento é o fundamento sobre o qual vai repousar a
modernidade, que encontra na causalidade lógica e no empirismo suas
expressões mais significativas.
5
BREGUNCI, 1997, p76-81 passim.
Compreender a inteligência e a aprendizagem desta maneira teria concorrido,
portanto, para aguçar as superstições, os preconceitos, reduzindo o biológico
ao genético e convertendo a hereditariedade “genética” em hereditariedade
“social”, bem de acordo com o “darwinismo social”, proposto e defendido por
Durkheim6. É sabido que o funcionalismo expressa o pensamento positivista no
âmbito da sociologia.
Há uma ordem linear e causal que sustenta a visão científica moderna: todo
fenômeno é efeito de uma causa. Do encadeamento entre causas e efeitos
progride o pensamento humano na busca da verdade. O termo linear origina-se
de “linha”, cuja definição básica é a de ser “distância entre dois pontos.”
Pressupõe um espaço no qual os pontos estão situados e um tempo que
decorre em seu traçado. Esse conceito traz em si a ideia de continuidade,
presente nas paralelas e na espiral.
6
Cfr. GOMES, 1994. p 31-44 passim.
O positivismo clássico e a ciência moderna incentivaram a causalidade na
investigação da realidade e elegeram o pensamento linear como a forma pela
qual as relações entre os fatos e os fenômenos se apresentam. Isso se
encontra de tal maneira impregnado no pensamento do homem ocidental que
tem caráter de dogma, impedindo que novas formas de pensar possam ser
aceitas e difundidas e colocando o homem contemporâneo em situação de
perplexidade diante da dificuldade em determinar os agentes, as ações e as
consequências delas advindas.
O PARADIGMA PÓS-MODERNO:
Este movimento caracteriza-se por uma severa crítica aos padrões éticos e
estéticos que vigoraram no século passado e é típico das sociedades pós-
industriais baseadas na informação. Passou a incorporar uma visão de mundo
relacionada ao fim dos conflitos mundiais e à superação da “guerra-fria”.
7
SANTOS, 1986. p. 7-8
sobretudo no pensamento das pessoas, as quais compreendem que estão
vivendo uma fase de grandes transformações que afetam a todos direta ou
indiretamente e que é necessário compreender seu significado no contexto da
sociedade como um todo.
O MODELO DA COMPLEXIDADE:
8
VEIGA NETO, 1997. p. 3.
possa compreender a visão de mundo da atualidade, em oposição à
“racionalidade“ da época moderna.
A metáfora rizomática se torna uma das bases desta nova epistemologia e vai
encontrar no conceito de transdisciplinaridade seu contraponto ideal.
9
Cf. MATURANA E VARELA, 2002. pp. 70-77.
10
O conceito de “autopoiese” foi construído por Maturana e Varela, e hoje é fundamental
na Biologia, com repercussões em vários campos do conhecimento humano. Expressa o
processo de constituição da identidade dos seres vivos, definida como circular: Uma rede de
produções metabólicas que, entre outras coisas, produzem uma membrana que torna possível
a existência mesma da rede. Esta circularidade fundamental é, portanto, na opinião destes
autores, uma autoprodução única da unidade vivente em nível celular. O termo autopoiese
designa esta organização mínima do vivo.
O conhecimento humano passa a ser visto com o auxílio de outros vetores, os
quais evoluem de posturas disciplinares para atitudes transdisciplinares. Para
se compreender tal evolução de pontos de vista, é mister que se faça uma
apreciação destes termos.
No início do século XX esta visão foi substituída por duas outras, que
coexistiram durante várias décadas: a interdisciplinaridade e a
multidisciplinaridade ou pluridisciplinaridade. A primeira diz respeito a uma
transferência de método de uma disciplina para outra, abrindo espaços,
algumas vezes, para o aparecimento de novas contribuições no campo das
ciências, mas seus objetivos permanecem afeitos ao âmbito das disciplinas.
11
VASCONCELOS, 1995. p. 19. A perspectiva co-construtivista redimensiona os
vínculos presentes entre as perspectivas construtivistas e sociogenética, preservando o papel
Na abordagem co-construtivista são expostos dois modelos vinculados às
ideias da psicologia do desenvolvimento e aprendizagem: o unidirecional, que
considera o sujeito em processo de socialização como um ser passivo que
recebe a informação e só pode aceita-la ou rejeitá-la, nunca transformá-la; e o
bidirecional, que explica a transmissão cultural por meio de um fluxo constante
de construções ativas das gerações anteriores, pertinentes ao processo de
formação das novas gerações.
central do sujeito ativo e subjetivo, que constrói seu próprio mundo psicológico, em constante
relação e confronto com o mundo psicológico dos outros e o meio externo em geral.
12
VASCONCELOS, 1995. p. 21.
13
Cf. GARCÍA, 2000. p 104. Este autor apresenta uma análise do modelo geral de
equilibração como uma necessidade no âmbito da epistemologia construtivista de encontrar um
esquema explicativo dos processos que geram o desenvolvimento do conhecimento em
oposição ao modelo empirista, segundo o qual se trataria, em definitivo, da sucessiva aplicação
deve ser satisfeita, de algum problema a ser resolvido. Nela dois processos
mentais entram em cena: assimilação e acomodação. Por intermédio do
primeiro o homem capta da realidade, com o auxílio de seus sentidos, as
características que ela possui e estabelece relações com as informações
armazenadas em seu cérebro; por intermédio do segundo é capaz de utilizar o
que assimilou em situações novas, apresentando um comportamento
adequado e eficiente, adaptando-se às mudanças.
Dentre estes três autores14, Piaget foi aquele cujo pensamento mais interferiu
na formação das novas visões sobre inteligência e aprendizagem. Em seu
último livro publicado, quando ainda vivia (1980) 15, ele apresenta contribuições
acerca dos processos de desenvolvimento do conhecimento humano, incluindo
neles a dialética em sua tríplice dimensão: interiorizável (perspectiva do
sujeito), exteriorizável (perspectiva do objeto) e sintetizante (modelos).
A partir destes três enfoques, novos porque não destacam apenas aspectos de
natureza orgânica, ganha contorno uma visão da inteligência humana que
acabará por influenciar toda a concepção sobre a própria natureza do homem
como um ser distinto dos demais animais, porque não nasce dotado de todas
as habilidades e conhecimentos necessários à sua sobrevivência. Um ser que
precisa aprender a ser e a viver como os demais de sua espécie e que tem
uma natureza cultural tão importante quanto à física; um ser que se constrói
diariamente em face dos problemas que enfrenta, tendo sempre uma resposta
de explicações ad hoc ou de modelos teóricos aos dados empíricos obtidos pela observação e
experimentação. Considera que o esquema de equilibração de Piaget resolve o problema da
relação sujeito/objeto de conhecimento na construção do desenvolvimento humano sem,
contudo, abandonar os princípios mecanicistas modernos.
14
As ideias destes três autores foram apresentadas em suas diversas obras. Nesta Tese
não se pretendeu apresentá-las em profundidade, apenas registrar aquelas mais gerais,
expostas, por exemplo, em: PIAGET, J. (1967). Seis Estudos de Psicologia. Rio de
Janeiro: Forense; VYGOTSKY, L. S. (1994) A Formação Social da Mente. São Paulo:
Martins Fontes; WALLON, H. (1941). L'évolution psychologique de L’Enfant. Paris, A. Colin.
15
Cf. Piaget, J. (1996). As formas Elementares da Dialética.
diferente para oferecer; um ser que tem na capacidade de mudar, criar, inovar,
a sua característica mais marcante.
Por isso é que se pode considerar Piaget como um dos pensadores que,
apesar de expressar um pensamento moderno, abre possibilidades para que
as ideias pós-modernas acerca de sistema, rede, complexidade cheguem até a
16
FREIRE, 2002 p. 21.
17
FREIRE, 2002. p.102.
psicologia e interfiram nas novas postulações acerca da inteligência e da
aprendizagem humanas.
18
DETTERMAN, D. K. (1994). ”A System theory of intelligence”. D. K. Detterman (Ed)
Curvet Topics in human intelligence, 4 vols. Theories of Intelligence (págs 85-115). Nowood,
NJ, Ablex Publishing Corporation.
19
FONSECA, 1998.p 27.
20
STEMBERG, R. (1988) The Triarchic Mind. New York: Viking Press.
21
FONSECA,1998. p. 28.
Sua teoria, segundo Fonseca22, é pautada no ponto de vista de que as
anteriores foram insuficientes para explicar o funcionamento da mente. Esboça
uma concepção triárquica, segundo a qual os componentes, as experiências e
os contextos são distintos da própria inteligência aplicada às situações práticas.
Subteoria experimental
Subteoria contextual
22
FONSECA, 1998. p. 31.
23
PIENDA, NÚNEZ Y ROCES, 2000. p. 19.
O enfoque tradicional encarava inteligência como potencial relacionado com as
estruturas neurofisiológicas ou como conjunto de conhecimentos, de acordo
com as concepções do ensino formal. Na atualidade inteligência é vista como
estratégia e os estudos procuram ir além das capacidades cognitivas
propriamente ditas, para centrar-se nos estilos cognitivos.
24
PIENDA, NÚNEZ Y ROCES, 2000. p. 20.
25
GARDNER, 1994. Estruturas da Mente: a teoria das inteligências múltiplas. Porto
alegre: Artes Médicas.
26
FONSECA, 1998.p. 32.
“Transladam-se, cada vez mais explicitamente, também às relações
sociais em geral, aquelas características notórias dos processos
vivos no nível bio-orgânicos: a vida só consegue ser e continuar
sendo vida na medida em que é aprendizagem adaptativa”. 27
27
ASSMANN, 1998.p. 25.
28
ASSMANN,1998.p. 27.
29
ASSMANN,1998.p. 84.
30
DEMO, 2000. p. 32.
“O computador tem cara da lebre: processa tudo com velocidade
cada vez mais estonteante, mas não tem organicidade complexa,
hermenêutica, sensível, da relação humana”. 31
31
DEMO, 2000. p. 34.
32
LÉVY,1998.p. 28.
33
LÉVY,1998.p. 66.
De acordo com o pensamento pós-moderno aprender é fundamental para a
manutenção da vida e a aprendizagem ganha âmbitos abrangentes como
aqueles delineados pela UNESCO ao definir os quatro pilares nos quais devem
se basear a educação no século XXI: aprender a aprender; aprender a fazer;
aprender a viver junto e aprender a ser.
Sendo assim, a aprendizagem não é vista mais como evento circunscrito num
espaço/tempo definido institucionalmente. A escola deixa de ser a instância
social que organiza os procedimentos de transmissão de conhecimentos, para
se transformar na geradora e propiciadora de “ambientes de aprendizagem”.
“Em qualquer ser vivo verifica-se uma unidade entre processos vitais
e processos de aprendizagem. Nos animais simbolizadores, as
próprias bases biológicas da vida ficaram impregnadas e
entrelaçadas com os processos cognitivos. Não há mais como
separar o viver do aprender, que se desenvolvem em processo
unificado. Por isso, para o ser humano, não aprender significa não
poder sobreviver. Isso é verdade no plano biofísico da corporeidade;
mas torna-se inteiramente crucial no plano da convivialidade social
da espécie, que hoje atingiu um nível de trocas simbólicas e
informativas sumamente intensas, compactada, pluriforme. A
evolução dos seres aprendentes humanos chegou a uma fase
evolutiva em que eles estão literalmente imersos em sistemas
aprendentes de avançada tecnologia”. 34
CONCLUSÃO:
34
ASSMANN,1998.p. 130.
Todo profissional que está inserido no mercado, atuando nas áreas da
educação e da saúde, é confrontado com práticas tradicionais e teorias
vanguardistas sobre inteligência e aprendizagem, levando-o muitas vezes a
assumir atitudes incoerentes.
Referências Bibliográficas:
FREIRE, João Batista.O Jogo entre o Riso e o Choro. São Paulo: Editora
Autores Associados,2002.