Economia, Trabalho e Crise Nos Anos 30

Esse modelo compartilhava, com o nacionalismo

1 A industrialização em perspectiva histórica
estatizante, os mesmos temores e a mesma concepção
Nacionalismo e petróleo
sobre o valor estratégico do petróleo. No entanto,
A questão do petróleo
desconfiava da capacidade de gestão do Estado e

propunha uma empresa privada brasileira.

Entre 1938 e 1948, a questão do petróleo foi motivo

de diversas controvérsias, com três posições Visão cosmopolita

contrapostas.
Esse modelo considerava que o mais importante era

pesquisar, encontrar petróleo, e produzir energia para

“A campanha do petróleo possibilitou uma
a indústria. Nesse sentido, eles tinham uma visão

aglutinação sem precedentes dos mais distintos tipos pragmática, visando alcançar um meio mais eficaz de

produção. Seus adversários os acusavam de

de pensamento político, frações sociais e associações
“entreguistas”, termo pejorativo para indicar que

profissionais, produzindo uma linha de clivagem assim estariam “entregando as riquezas nacionais” às

empresas estrangeiras. Os cosmopolitas, por sua vez,

inédita no contexto da Guerra fria e da repressão
acusavam os nacionalistas estatizantes de comunistas.

política. Transversal às estruturas sociais e políticas Argumentavam que o capital estrangeiro daria

contribuição técnica e financeira fundamental.

da sociedade brasileira, o petróleo foi um tema típico

O debate chegou às ruas em 1948, com a proposta de

do nacionalismo econômico.”
um estatuto, elaborado pelo governo Dutra.

(MOURA, 1986, p. 90)

Nacionalismo estatizante

Defendia o controle governamental, com a criação de

uma empresa estatal monopolista. Esse modelo

nacionalista estatizante tinha como pressuposto o alto

valor estratégico do petróleo na economia e nas

Sob o lema O petróleo é nosso!, foram organizados
questões militares. Temia, em particular, a ação das
inúmeros comitês pelo país afora.
poderosas companhias internacionais, sobretudo as

norte-americanas e as inglesas – Shell, Exxon,

Texaco, British Petroleum.

Nacionalismo liberal
 Pensamento econômico desenvolvimentista

Cepal e ISEB

O desenvolvimentismo, isto é, um projeto de

industrialização planejado e apoiado pelo Estado,

figurou no centro do debate sobre a questão da

soberania nacional brasileira no pós-guerra (1945). A

Sob pressão popular e com um Congresso dividido, o
Comissão Econômica para a América Latina (Cepal),
projeto do estatuto foi arquivado.
nesse momento histórico, foi o principal local de

A campanha voltou à tona quando Vargas, ao assumir articulação e elaboração de um instrumental teórico e

o governo em 1951, propôs a criação de uma empresa prático para o desenvolvimento dos países

de petróleo, com capitais privados e estatais, com considerados periféricos, de economias

possibilidade de aporte de capital estrangeiro. O subdesenvolvidas como a brasileira.

partido do presidente, o PTB, rejeitou a proposta, Saiba mais

apresentando outra fórmula, que estabelecia o rígido

A Cepal foi criada em 25 de fevereiro de 1948, pelo
monopólio estatal, vedando a participação
Conselho Econômico e Social das Nações Unidas
estrangeira. A UDN, partido liberal, e intensamente
(ECOSOC), e tem sua sede em Santiago, Chile. Foi
antivarguista, assumiu a defesa do monopólio estatal.
criada para monitorar as políticas direcionadas à
Diante da situação, Vargas retirou o projeto original,
promoção do desenvolvimento econômico da região
sugerindo a criação de uma empresa estatal.
latino-americana, assessorar as ações encaminhadas

Em 3 de outubro de 1953, depois de sete anos de luta para sua promoção e contribuir para reforçar as

e de intensa mobilização popular, nasceu a Petróleo relações econômicas dos países da área, tanto entre si

Brasileiro S. A. – uma empresa de economia mista, como com as demais nações do mundo.

mas de controle nacional e participação da União. A Posteriormente, seu trabalho ampliou-se para os

Petrobras é encarregada de extrair e explorar as países do Caribe e incorporou o objetivo de promover

diferentes etapas da indústria petrolífera, excetuando- o desenvolvimento social e sustentável.

se a distribuição.
Os cepalinos argumentavam que o

subdesenvolvimento era produzido a partir de uma

relação desigual de troca entre países centrais e países

periféricos. Uma relação em que o estímulo para a

economia vinha de fora do país e não se conseguia

acumular capital internamente. Dessa maneira, a

especialização em produtos primários exportadores
Filho à frente da presidência da República, como
retirava desses países a capacidade de negociar no

comércio internacional. E, mais grave, formava no órgão do Ministério da Educação e Cultura. Foi

país uma sociedade e uma economia partidas entre o

criado por um grupo de intelectuais egressos do
setor vinculado à demanda externa – moderno e

adiantado – e um setor marginalizado, atrasado. Grupo de Itatiaia que tinha como objetivos o estudo,

o ensino e a divulgação das ciências sociais, cujos

dados e categorias seriam aplicados à análise e à

compreensão crítica da realidade brasileira e

deveriam permitir o incentivo e a promoção do

Inauguração do Instituto Superior de Estudos

Brasileiros desenvolvimento nacional.

O Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB) (ABREU, s.d.)

foi, também, um importante espaço para elaboração

Apesar das marcantes divergências entre os teóricos
das perspectivas de desenvolvimento oferecidas no
desse instituto, alguns pontos são considerados
período. O ISEB foi incumbido de elaborar uma
chaves na elaboração da ideia de desenvolvimento
ideologia desenvolvimentista de cunho nacionalista.
proposta pelo ISEB.
Para Caio Navarro de Toledo, o ISEB se apresentou

como uma verdadeira fábrica de ideologias,

A defesa de uma perspectiva dualista existente na
cumprindo o papel de delinear o projeto nacional de
configuração da sociedade brasileira:
desenvolvimento.

Uma construção ideológica que, por meio da ação

planejadora do Estado e de uma frente política de

aliança de classes, nortearia o desenvolvimento

proposto para a superação do “atraso” que marcava a

realidade brasileira.

O Iseb foi criado pelo Decreto nº 37.608 de 14 de

julho de 1955, ainda na gestão transitória de Café

 Outro grupo ligado aos setores urbanos,
verdadeiramente dinâmicos do país, que
representavam a “burguesia industrial”, entendido
pelos isebianos como o principal agente das
transformações, “vanguarda” da “revolução”
propugnada para o país.

Assim, o estímulo aos setores urbanos seria o

caminho a ser percorrido para a superação do

subdesenvolvimento. Aqui o ISEB, sem formular

uma análise propriamente econômica como feita pela

Comissão Econômica para a América Latina (Cepal),

acabava por compartilhar o diagnóstico feito pelos

economistas cepalinos para explicar as razões do

subdesenvolvimento.

Segundo Mendonça (2003), a contradição básica a ser

superada, para os teóricos isebianos, estava

caracterizada na relação entre a nação e a antinação, o

Um grupo ligado à agroexportação, entendido como
arcaico, tradicional, e relacionado ao imobilismo que permitia envolver todos os setores sociais na
social.
tarefa de promover o crescimento. A ideia de pacto

entre diferentes segmentos da sociedade, interessados

no viés industrialista para superação do “atraso

brasileiro”, atravessava o conjunto das formulações

isebianas.

Política econômica

Desenvolvimentismo e Plano de Metas

Essa noção de Estado como indutor de determinada

estratégia elaborada para o desenvolvimento

econômico/industrial reflete-se, na prática, em

diversos momentos no Brasil dos anos 1950. A

segunda metade dessa década é esclarecedora sobre a

presença e contribuição dessas análises estruturalistas

cepalinas.
O próprio Plano de Metas do governo JK foi
elaborado em uma parceria entre o Banco Nacional
de Desenvolvimento Econômico (BNDE) e Cepal. A
novidade trazida pelos cepalinos foi a implementação
de técnicas de planejamento na formulação de
direcionamento das políticas econômicas industriais e
desenvolvimentistas do período.
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Comentário
O Estado assumia um papel de direção da estratégia
de desenvolvimento, criando condições propícias para
a expansão do setor privado, estimulando o
estabelecimento de uma sólida poupança interna para
consolidação de um mercado interno que atendesse o
crescimento da produção industrial.
A partir de meados da década de 1950, a
industrialização por substituição de importações
passa a ter como carro-chefe a implantação da
indústria de bens de consumo duráveis, como
automóveis e eletrodomésticos.
Durante o governo Juscelino Kubitschek (1956-
1961), a taxa de crescimento da economia foi de 8%
ao ano, em média, mas a produção industrial cresceu
100%. Todo esse desenvolvimento foi definido a
partir do Plano de Metas, que priorizou a substituição
de importações nos setores de bens de capitais e,
principalmente, bens de consumo duráveis.
Inauguração da Fábrica da General Motors em
São José dos Campos (SP) pelo Presidente
Juscelino Kubitschek, 1959.
O Estado, especialmente por meio do BNDE,
continuou a financiar grande parte das indústrias de
base, com novas emissões de moedas ou por meio de
empréstimos externos. Já o setor de bens de consumo
duráveis desenvolveu-se a partir da
internacionalização da economia, e para isso utilizou
a instrução da Superintendência da Moeda e do
Crédito (Sumoc), baixada no início de 1955, no curto
governo Café Filho (1954-1955), que garantia a
importação de máquinas e equipamentos no exterior,
sem impostos ou cobertura cambial, desde que os
empresários estrangeiros tivessem sócio nacional.
A criação da Superintendência do Desenvolvimento
do Nordeste (Sudene) pelo governo Juscelino
pretendia minimizar os problemas provocados pela
seca e promover o desenvolvimento da região
Nordeste. No período entre 1960 e 1964, o Plano da
Sudene para a agricultura nordestina estava apoiado
no estudo da realidade da região e tinha os seguintes
programas prioritários:
 1- Produção de alimentos na zona úmida do
Nordeste.  Energia (metas de 1 a 5; energia elétrica,
2- Desenvolvimento no semiárido de uma
agricultura resistente aos efeitos da seca. nuclear, carvão, produção e refino de petróleo).
3- Colonização do Maranhão.
4- Desenvolvimento da irrigação no Vale do
rio São Francisco.  Transportes (metas de 6 a 12; investimentos em

estradas de ferro, pavimentação de estradas de

Tendo como base a política econômica construída por
rodagem, portos, barragens, marinha mercante
Getúlio Vargas e a massa crítica da Cepal, Juscelino
e transportes aéreos).
Kubitschek inovou no gerenciamento da economia
 Alimentação (metas de 13 a 18: trigo, armazéns
brasileira, lançando seu Plano de Metas. Um plano
e silos, frigoríficos, matadouros, mecanização
que deveria realizar 50 anos em 5.
da agricultura, fertilizantes).

A meta síntese era a construção da nova capital no  Indústria de base e bens de consumo duráveis

planalto central – Brasília. (metas de 19 a 29: aço, alumínio, metais não

ferrosos, cimento, álcalis, papel, celulose,

O plano abrangia os seguintes setores estratégicos:
borracha, exportação de ferro, indústria de

veículos motorizados, construção naval,

Energia
maquinaria pesada e equipamento elétrico).
Transportes
 Educação (meta 30).
Alimentação

Indústria de base A meta 27 do Plano de JK merece destaque, pois

versava sobre a implantação da indústria

Seus objetivos principais visavam enfrentar os pontos
automobilística, símbolo do crescimento econômico
de estrangulamento da economia, por meio de
do período.
investimentos do Estado em infraestrutura, expansão

da indústria de base, desenvolvimento da indústria

Com capacidade de produção de 170 mil veículos em
automobilística, incentivando investimentos privados
1960, o desempenho do setor era surpreendente. A
nacionais e estrangeiros, principalmente
capacidade instalada, ao final da década, permitia a

superação da meta fixada em 1955 em 17,2%,

Composto de 31 metas distribuídas em seis grandes
segundo Moreira (2003).
grupos, o programa incorporava a noção de

planificação e planejamento da economia. Segundo

A meta 31, referente à construção de Brasília, seria
Benevides (1979), tratava-se de um documento de
incorporada ao longo da campanha presidencial; no
caráter estritamente econômico, que estipulava metas
entanto, foi a que melhor encarnou as utopias
para os setores de:
desenvolvimentistas dos setores que chegaram ao precedeu o Banco Central do Brasil, criado apenas

poder naquele contexto histórico. em 1965, no trato das políticas cambiais.

Desdobramentos sociais do modelo

A construção da nova capital, ao sugerir a integração desenvolvimentista

do território nacional e simbolizar a modernidade do

Crescimento econômico
que posteriormente seria qualificado como “anos

dourados”, ganharia contornos de “meta síntese” do O crescimento da economia brasileira durante a

governo Kubitschek. vigência do modelo econômico desenvolvimentista

pode ser notado em números:

1- Na produção de cimento, foram produzidas

914 mil toneladas em 1947 e 4.680 mil
toneladas em 1961, alcançando-se a
autossuficiência.
2- A produção de aço em lingotes passou de
1,4 milhão de toneladas em 1956 para 2,7
milhões de toneladas em 1962.
3- A produção de veículos automotores passou
de 31.000 em 1957 para 200.000 em 1962.
4- A capacidade instalada de geração de
energia elétrica passou de 2,8 milhões de
Kw em 1954 para 5,8 milhões de Kw
(1962).
5- A extensão de rodovias pavimentadas
Saiba mais
passou de 3.200Km em 1956 para 9.000Km
em 1962.

A Instrução 113 da Superintendência de Moeda e

Crédito (Sumoc) foi um dos instrumentos-chave da O crescimento médio anual da economia brasileira foi

política econômica desenvolvimentista, na medida em de 8,1 %.

que facilitava a entrada de bens de capitais

Dessa maneira, realizou-se a abertura do mercado
estrangeiros. Adotada ainda no governo Café Filho,
nacional para as grandes empresas estrangeiras, que
permitia ao investidor estrangeiro introduzir
passaram a investir maciçamente no Brasil com a
equipamentos sem cobertura cambial (a taxa livre de
disponibilidade de capitais. Assim, os Estados Unidos
câmbio), isto é, sem dispêndio de divisas; ou seja,
e as nações europeias retomavam a expansão
poderiam se instalar no país trazendo máquinas que já
imperialista.
possuíssem ou que tivessem condições de adquirir no

exterior por sua conta. Esses equipamentos seriam

Vale lembrar que a Europa Ocidental e o Japão se
incorporados ao ativo das empresas, que tanto
recuperavam dos prejuízos causados pela Segunda
poderiam ser uma filial do investidor no Brasil ou
Guerra Mundial, como resultado do Plano Marshall e
uma empresa brasileira à qual o investidor estrangeiro

ficava associado. A Sumoc foi a instituição que

 de outros investimentos realizados pelos Estados O movimento desenvolvimentista não cessou com o

Unidos.
fim dos anos JK, muito pelo contrário, é um modelo

político que emerge – adaptado, ressignificado – em

O governo Kubitschek soube aproveitar a nova

conjuntura econômica internacional, com maior momentos diversos do Brasil.

disponibilidade de capitais e a retomada da disputa

Durante o governo civil-militar entre 1964 e 1985,
por mercados pelas empresas das economias centrais.
tivemos o chamado milagre econômico: mesmo que
Assim, as reticências e as condições impostas pelos
em termos de fundamento tenham um papel
norte-americanos à cooperação para o
diferenciado, é um exemplo de como determinadas
desenvolvimento industrial brasileiro podiam ser
tendências aparecem e são reutilizadas em outros
contornadas com essas novas parcerias, ávidas por
momentos políticos.
oportunidades de investimentos rentáveis.

1. O modelo de desenvolvimento dependente- Outro comparativo possível é a adoção de inspirações

associado rapidamente apresentou as suas
contradições, dificultando a satisfação de todos os desenvolvimentistas durante o governo Luíz Inácio –
interesses.
2. Sem o apoio esperado do governo norte-americano ainda que com fortes tendências neoliberais e com o
de Eisenhower e do Fundo Monetário Internacional,
JK rompeu com o FMI em 1959, optando pela foco na inclusão pelo consumo –, traços desse valor
manutenção da política econômica expansionista.
3. A crise econômica manifestou-se com intensidade no são mantidos e trabalhados.
final do governo, com denúncias de corrupção e
aumento do déficit público e da inflação, além das Vamos praticar alguns conceitos?
perdas salariais a partir de 1958, eliminando grande Questão 1
parte do ufanismo desenvolvimentista.
4. O crescimento urbano foi acompanhado pelo
crescimento de uma classe média, em grande parte (PUC-RIO 2008- Adaptada) Leia o texto a seguir
vinculada ao setor de serviços, ampliando também o
consumo. antes de responder:
5. A inflação voltou a crescer e, apesar dos
investimentos públicos no setor de serviços, as
cidades não estavam preparadas para o crescimento,
pois atraíam milhares de migrantes. “Como nasceu Brasília? A resposta é simples. Como
6. A política para o setor agrário caracterizou-se pela
manutenção do modelo tradicional. todas as grandes iniciativas, surgiu quase de um nada.
7. A concentração fundiária manteve-se e foi menos
questionada, uma vez que toda a discussão A ideia da interiorização da capital do país era antiga,
econômica passou a basear-se no desenvolvimento
industrial. remontando à época da Inconfidência Mineira. A

partir daí viera rolando através das diferentes fases da

Dessa maneira, os financiamentos tradicionais nossa História: o fim da era colonial, os dois reinados

garantiram a manutenção do latifúndio ao mesmo e os sessenta e seis anos de República até 1955. [...]

tempo em que a não existência de uma nova política Coube a mim levar a efeito a audaciosa tarefa. Não só

para o campo garantia o fluxo constante de mão de promovi a interiorização da capital no exíguo período

obra barata, expulsa do campo e atraída pelas novas do meu governo, mas que essa mudança se

oportunidades nas grandes cidades. processasse em bases sólidas, construí, em pouco

mais de três anos, uma metrópole inteira – moderna e Somente as afirmativas I e III estão corretas.

urbanisticamente revolucionária – que é Brasília” C

(KUBITSCHEK, Juscelino. Por que construí

Brasília? Brasília: Senado Federal, Conselho Somente as afirmativas I, II e III estão corretas.

Editorial, 2000, p. 7. Coleção Brasil 500 Anos). D

A partir da citação e de seus conhecimentos sobre o Somente as afirmativas II, III e IV estão corretas.

governo de Juscelino Kubitschek (1956-1960), E

examine as afirmativas a seguir:

Somente as afirmativas I, III e IV estão corretas.

I – O projeto nacional-desenvolvimentista do governo

Questão 2
JK caracterizou-se pelo compromisso com a

democracia e pela intensificação do desenvolvimento (PUC-RIO 2007- Adaptada) Durante o governo de

industrial de tipo capitalista. Juscelino Kubitschek de Oliveira (1956-1961), o

II – Integração do território nacional com a setor socioeconômico caracterizou-se pelo

localização da capital no centro geográfico desenvolvimentismo, expressado pelo Plano de

simbolizando as entradas dos bandeirantes no mundo Metas, que continha trinta e um objetivos estratégicos

colonial. para o desenvolvimento do país.

III – A política econômica do governo JK, definida

no Plano de Metas, apoiou-se no incentivo aos Com base no exposto, examine as afirmativas a

investimentos privados de capital nacional e seguir.

estrangeiro, bem como nos investimentos estatais na

infraestrutura nacional. I - Energia, transporte, alimentação e indústria básica

IV – Kubitschek apoiou-se na ideia de modernidade foram os setores estratégicos do governo JK.

que resultou na qualificação do período como “anos II - A agricultura de exportação foi o setor econômico

dourados”. de maior expansão durante os anos JK, permitindo

acumulação de divisas estrangeiras.

Assinale a alternativa correta: III - O desenvolvimento industrial foi possível pela

A conjugação de investimentos estatais e privados, entre

os quais merece destaque a presença de capital

Somente as afirmativas I e II estão corretas. estrangeiro.

B IV - A construção da nova capital – Brasília – foi

considerada a meta síntese, pois expressava, de um

lado, os esforços de integração do território brasileiro A redução da taxa de investimento, a partir de 1962,

e, de outro, a modernidade do momento vivido. faz parte do processo de maturação do capital, em

resposta ao ritmo de crescimento internacional. Tais

Assinale a alternativa correta: medidas agradaram ao FMI, que deu sinal verde para

A a renegociação da dívida externa brasileira.

Esse processo encontrava caminhos próprios, de

Somente as afirmativas I e II e III.
acordo com as condições externas, com o crescimento
B
da classe média e do mercado consumidor interno e

Somente as afirmativas II e IV. por causa da corrosão dos salários pela inflação.

C
Estamos falando de um contexto de grande ebulição

política. E tal agitação interferia diretamente no

Somente as afirmativas I, III e IV.
ambiente econômico. As lutas políticas se
D
sobrepunham à questão econômica, com a

organização e mobilização crescente dos

Somente as afirmativas II, III e IV.
trabalhadores em defesa de seus salários e de suas
E
bandeiras históricas. Com forte instabilidade política

Somente as afirmativas I e IV. desde a renúncia de Jânio Quadros, da tentativa de

golpe, da imposição do Parlamentarismo, da

2 Do milagre ao neoliberalismo
retomada das prerrogativas presidenciais após o
Antes de 1960
plebiscito, intensificava-se um quadro de crise
Antecedentes na década de 1960
econômica que o Plano Trienal do ministro Celso

O início do governo de Jânio Quadros foi marcado Furtado não conseguiria reverter.

pelo julgamento contundente de seu antecessor. A

“Diante de um cenário econômico que apresentava
inflação alta e a desorganização administrativa

formavam o núcleo das críticas dirigidas a perceptíveis dificuldades no gerenciamento das

Kubitschek. O modelo econômico desenvolvimentista contas públicas e dos contratos externos, foi

de JK ocasionava uma crescente concentração de anunciada, em 30 de dezembro de 1962, a adoção de

capitais, na introdução e incorporação de novas e

um novo modelo geral de orientação da política
sofisticadas tecnologias, reforçando o domínio dos
econômica do governo. Elaborado pela equipe
monopólios, a concentração de renda e a
chefiada pelo ministro extraordinário do
internacionalização da economia.
Planejamento, o economista Celso Furtado, o Plano
Trienal de Desenvolvimento Econômico e Social as reformas de base, a reforma agrária era a principal

e objeto de maiores disputas políticas, visando

procurou estabelecer regras e instrumentos rígidos
eliminar os conflitos pela posse da terra, por meio do
para o controle do déficit público e refreamento do
acesso à propriedade de terra.
crescimento inflacionário. No diagnóstico
Política econômica na Ditadura Militar
apresentado e na terapêutica proposta, as linhas-
PAEG e o milagre econômico
mestras do plano estão muito mais próximas do

receituário ortodoxo acerca do controle inflacionário Logo após o golpe de 1964, o governo iniciou um

do que das interpretações alternativas da escola programa econômico de estabilização e reformas

comandado pelo ministro do Planejamento, Roberto

cepalina, da qual Furtado era um dos mais notáveis
Campos, e pelo ministro da Fazenda, Octavio de
representantes.”
Gouvêa Bulhões. Eles lançaram as bases para um

(SARMENTO, s/d) novo ciclo de acumulação e desenvolvimento

econômico no Brasil. Algumas dessas reformas

A regulamentação da Lei de Remessa de Lucros,
fizeram parte do Plano de Ação Econômica do
limitando a saída dos ganhos das multinacionais
Governo (PAEG), que havia sido discutido e
gerados no Brasil, aprofundou a crise em 1962.
elaborado em parte nos círculos do IPES antes do
Acusando o governo de atacar a propriedade privada
golpe.
e de instalar o comunismo, as forças políticas de

direita passaram a conspirar abertamente pelo golpe Alguns objetivos do PAEG eram:

contra o presidente João Goulart. Diante desse

 Devolver ao país o crescimento da segunda
quadro, o governo insistiu em uma política
metade dos anos 50.
econômica voltada a solucionar a crise, com a

retomada do desenvolvimento, conciliando interesses  Pôr fim à inflação anual de três dígitos.

e buscando a colaboração de classes. Não conseguiu.

 Corrigir o déficit externo; equilibrar as contas

Saiba mais públicas.

Reformas de base foi um conjunto de iniciativas do  Reduzir desigualdades regionais e sociais.

governo, como as reformas bancária, fiscal, urbana,  Gerar empregos.

administrativa, agrária e universitária. Seu objetivo

era a promoção de medidas nacionalistas tendo como Entre 1964 e 1967, a economia brasileira cresceu a

principal foco a intervenção do Estado na economia e média anual de 4,2%, em um ritmo dentro dos

a regulação do envio de lucros para o exterior. Entre padrões da época. Antes do golpe, no primeiro
 3- Criação do Banco Central (inicialmente
trimestre de 1964, a inflação acelerou em um nível
com independência, posteriormente retirada
anualizado de 140%, depois de ter atingido o nível pelo presidente Costa e Silva).
4- Fim da estabilidade de emprego aos 10
recorde de 81% em 1963.
anos de trabalho, substituída, como
“mecanismo de proteção ao trabalhador”,
A reversão do processo inflacionário foi um dos
pelo Fundo de Garantia do Tempo de
objetivos primordiais da política econômica no início Trabalho (FGTS).
5- Lançamento das cadernetas de poupança e
do período militar e teve como pilar principal o
do financiamento da casa própria em larga
arrocho salarial, por meio da correção de salários com escala, com a fundação do Banco Nacional
base na “inflação futura”. da Habitação (BNH) e o Sistema
Financeiro da Habitação (SFH).

Foi a fase da “inflação corretiva”, em que houve

aumentos nos preços artificialmente represados, como Essas medidas resultaram em forte capitalização do

tarifas públicas, gasolina, trigo e outros produtos. Estado, na alavancagem das empresas, em uma

intensa rotatividade de mão de obra, e viabilizaram o

A inflação fechou 1964 em 91%, e caiu para 34% em
período de acelerado crescimento econômico a partir
1965, sem que houvesse um grande aperto monetário,
de 1968, conhecido como “milagre econômico”.
mas baseado no arrocho salarial. A partir de 1966,

quando a política monetária foi mais dura, houve dois Nesse contexto, o marechal Costa e Silva chegou à

anos seguidos de inflação em torno de 25%, e nos três presidência e elegeu como prioridade o crescimento

anos consecutivos, ela estacionou no nível de 20%. econômico. Hélio Beltrão (Planejamento) e Antonio

Percebe-se, claramente, uma estratégia de Delfim Netto (Fazenda), apresentaram novo

transferência de renda nessa política econômica, que diagnóstico e uma nova receita para a crise brasileira,

tem seus efeitos agravados pelo conjunto do plano. que desencadeou o mais longo ciclo de crescimento

econômico do país.
O PAEG incluiu uma reforma tributária, que criou

impostos sobre valor agregado (ICM e IPI), e Alavancada pelo confortável caixa do Estado e pelo

universalizou o Imposto de Renda. O aumento dos excesso de liquidez internacional, a taxa de

impostos reduziu substancialmente o déficit público, investimento passou de 20% do PIB. Completavam o

de 1964 a 1966. Outras medidas foram: modelo: uma grande oferta de crédito e subsídios ao

setor privado, especialmente nas áreas ligadas à

1- Unificação da Previdência, com a criação
do Instituto Nacional de Previdência Social exportação; um rigoroso sistema de controle de
(INPS).
preços (implementado em 1967) e o arrocho salarial.
2- Criação de um mercado para títulos da
dívida pública e da correção monetária. Foi a materialização do milagre econômico.
 Transamazônica

Ponte Rio-Niterói

Entre 1968 e 1973, sobretudo no governo Médici, Apesar da economia aquecida, a inflação caiu no

ainda com Delfim à frente da economia, o país período, saindo de 25% em 1968 para 16% em 1973.

cresceu, em média, 12% ao ano. Houve o estímulo à O ministro Delfim Neto, justificando a concentração

atividade econômica, como a expansão do crédito – de renda, dizia que era necessário primeiro fazer

incluindo, especificamente, o crédito ao consumidor crescer o bolo para depois dividi-lo. Algo que nunca

–, baixas taxas de juros e redução de compulsórios. se efetivou na prática, pois as taxas de crescimento

econômico não resultaram em distribuição dos

dividendos.
Destaca-se o desempenho do setor de bens de
Redemocratização e a economia
consumo duráveis, como eletrodomésticos e carros,
Crise do milagre econômico

que cresciam de 20% a 25% ao ano.

Uma iniciativa importante do governo foi a criação da

Embrapa e as medidas de apoio ao setor agrícola, que

acompanharam a fase inicial do plantio de soja no

Brasil, modernizando setores agrícolas tradicionais,

lançando as bases dos complexos agroindustriais

Desde 1974, os países capitalistas entraram em uma
(CAIs). Foi o período das chamadas grandes obras
fase de crescimento econômico lento, frequentemente
para o Brasil Grande:
interrompido por recessões. As causas fundamentais

dessa crise estavam ligadas à aceleração da inflação,

além das dificuldades decorrentes da desorganização

do sistema internacional de pagamentos, a partir do

agravamento da crise do dólar e do abandono da sua Para um país extremamente dependente de petróleo

convertibilidade pelo governo americano em 1971. importado, era muito grave a dimensão restritiva

desse choque para o modelo de desenvolvimento

Um aspecto essencial da crise econômica naquele
brasileiro. A imagem de ilha de prosperidade era de
momento foi a reação dos países desenvolvidos
vital importância para um regime que possuía como
à crise do petróleo.
principal base de legitimação o bom desempenho da
Comentário economia.

Abertura política e impactos na economia

A crise consistiu na redução do consumo de

derivados de petróleo e no esforço de aumentar as Entrada do neoliberalismo no Brasil

exportações, sobretudo aos países da OPEP – todos

A vitória do partido de oposição, o MDB, em 1974,
não industrializados – e que tiveram que utilizar
elegendo um terço do Senado, mostraria o
grande parte de seus petrodólares para pagar essas
descontentamento de grande parte da população com
importações. O peso maior, portanto, recaiu sobre os
o regime, acarretando a ampliação de espaços de
países importadores de petróleo, como o Brasil.
crítica. Isso evidenciou a falta de apoio político

Sem equilibrar suas contas externas, apesar do interno para um ajuste que pudesse ser abertamente

crescimento de suas exportações de bens industriais, associado à recessão. Com o peso maior dos

o Brasil passou, a partir de 1974, a tomar condicionantes internos e a abundância de créditos

empréstimos dos banqueiros internacionais, cujos externos que financiassem os déficits em conta

fundos provinham, em grande parte, dos excedentes corrente, optou-se pela linha de menor resistência, o

de petrodólares. endividamento externo permitindo o aumento dos

investimentos e um ajuste mais gradual.

Com juros relativamente baixos, mas flutuantes, os

recursos externos visavam ao pagamento da conta A inflação, que tenderia a crescer como efeito

petróleo e ao financiamento do II Plano Nacional de colateral, nessa visão, não seria um problema para a
Desenvolvimento (PND).
economia.

Com esses recursos, foi possível financiar projetos

O II Plano Nacional de Desenvolvimento (PND)
grandiosos como o Programa Nuclear e o Projeto
lançado no final de 1974, forneceria as principais
Carajás, além do pagamento de juros da dívida
diretrizes econômicas de longo prazo gestadas pelo
externa.
governo, entre as quais, destacamos:

Nesse contexto, a inflação brasileira crescia a 34% ao

ano.
 Os principais instrumentos da política industrial,

carros-chefes na estratégia de desenvolvimento,

foram:

1- Grande ênfase nas indústrias básicas,  O crédito do Imposto de Produtos

notadamente no setor de bens de capital, e Industrializados (IPI) sobre a aquisição de
de eletrônica pesada, assim como no campo equipamentos.
dos insumos básicos, a fim de substituir
 A depreciação acelerada para equipamentos
importações e, se possível, abrir novas
nacionais.
frentes de exportação.

 As isenções do imposto de importação.

 O crédito subsidiado.

 A reserva de mercado para alguns setores.

 A garantia de preços.

2- No setor energético, optou-se por uma

Os órgãos de implementação dessa política foram o
aceleração dos investimentos de
Conselho de Desenvolvimento Industrial (CDI), o
prospecção, principalmente na bacia de
Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico
Campos (RJ), e na execução de um
(BNDE), o Conselho de Política Aduaneira, a
programa de elevação de 60% da
Carteira de Comércio Exterior (Cacex) do Banco do
capacidade geradora de energia
Brasil e o Conselho Interministerial de Preços (CIP).
hidroelétrica, que viabilizaria a expansão da

produção e da exportação de bens, como o

A primeira crise do petróleo, em 1973, teve como
alumínio, produzidas com intenso consumo
consequências para o Brasil não só a elevação do
de energia.
preço do produto e de derivados, mas também o

aumento dos juros no mercado financeiro

internacional, encarecendo o fluxo de poupança

externa. A política desenvolvimentista do governo

Geisel prosseguiu em ritmo menos acelerado, com

taxas de crescimento em torno de 4% ao ano, contra a

3- O investimento no domínio da tecnologia
média de 10% a.a. no período anterior. Essa “marcha
termonuclear, viabilizada pelo acordo
forçada” da economia teve em 1979 o seu limite, com
Brasil-Alemanha.
o início de uma política recessiva de ajuste,
 promovida pelo governo, conforme o receituário do O valor era de 60.

Fundo Monetário Internacional (CASTRO; SOUZA, 6. 1985

1985).

O valor era de 52.

A diferença mais importante da experiência brasileira

da década de 1970, tanto em relação às experiências Isso evidencia um processo de gradativa redução do

anteriores quanto às de outros países, é que a opção salário mínimo como parte da política econômica do

pela política de substituição de importações foi feita país. O crescimento evidenciado no período não se

sem que houvesse descontinuidade no incentivo às desdobrou em melhoria na distribuição de renda.

exportações. Estas passaram de 7,5% do PIB em

A chegada do neoliberalismo como opção de política
1974 a 8,4% em 1980, enquanto as importações
econômica não pode ser entendida como mera opção,
caíram de 11,9% para 9,5% do PIB no mesmo
ou uma tomada de escolha de Fernando Collor e dos
período, apesar do segundo choque do petróleo.
presidentes que vêm depois, o processo é mais

complexo; por isso, o professor Tadeu Lemos marca

A chave do sucesso da política industrial brasileira na
esses desdobramentos e contextos.
década de 1970 foi a combinação de estímulos,
Vamos praticar alguns conceitos?
incomum se comparada com outras experiências no
Questão 1
Terceiro Mundo.

A economia brasileira cresceu muito durante no

No que se refere ao salário mínimo, tomando o valor
período entre 1969 e 1973. Essa fase ficou conhecida
inicial, vejamos sua trajetória:
como época do milagre econômico. Qual das
1. 1943
alternativas a seguir aponta características desse

período?
O valor era equivalente a 100.
A
2. 1964

Investimentos nos setores culturais e educacionais,

O valor era de 92.
baixo índice de endividamento externo, distribuição
3. 1968
de renda de forma justa.

O valor era de 68. B

4. 1975
Forte crescimento do PIB, investimentos em

O valor era equivalente a 55. infraestrutura e elevados empréstimos vindos do

exterior com aumento da dívida externa.

5. 1980
C
ampliou a renda dos trabalhadores, permitindo o seu

maior acesso ao mercado de consumo e, dessa

Elevados investimentos externos (principalmente da
maneira, provocando inflação e carência de
União Soviética), inflação muito baixa e controlada e
produtos.IV - O crescimento do endividamento
aumento do consumo das camadas mais pobres da
externo, derivado dos empréstimos tomados pelo
sociedade.
governo militar para ampliar os investimentos no
D
país, tornou-se impagável depois que os bancos

Criação de programas de distribuição de renda, internacionais aumentaram as taxas de juros.

incentivo à reforma agrária, aumento significativo das

exportações de máquinas e produtos tecnológicos. Estão corretas as afirmativas

E A

O maciço investimento humanitário estadunidense I, II e III, somente.

para evitar a influência soviética. B

Questão 2
I, II e IV, somente.

Do ponto de vista econômico, os anos 1980, no C

Brasil, são considerados como a “década perdida”,

pois os índices de crescimento da economia, que I, III e IV, somente.

chegaram a atingir a casa dos 10% anuais entre 1950 D

e 1970, caíram a taxas inferiores a 1%. Sobre os fatos

I, III e IV, somente.
que podem explicar essa queda analise as seguintes

afirmativas: E

II e III, somente.
I - O excesso de intervenção do Estado na economia
3 Crise da dívida externa na década de 1980 e a
durante o governo militar criou inúmeras empresas
emergência do neoliberalismo
estatais, aumentando o peso da máquina estatal e o
A década de 1980
déficit público.
Crise econômica da década de 1980
II - A crise do petróleo de 1979 diminuiu a oferta do

produto e, consequentemente, aumentou o seu preço, As políticas de estabilização econômica nos anos

prejudicando os países importadores desse 1980 no Brasil tiveram características pouco

combustível, como o Brasil. consistentes e contraditórias. O ponto em comum

III - O aumento deliberado do salário mínimo entre elas é o fato de que seu fracasso foi sempre
acompanhado de pressão de setores exportadores por - A vulnerabilidade financeira externa do Brasil só

desvalorizações da moeda brasileira e ameaça de ocorreu a partir da decretação da moratória pelo

crise cambial – isto é, crise envolvendo o valor do México, em agosto de 1982, e do corte do

dólar e outras moedas estrangeiras. A política cambial financiamento internacional pelos bancos privados.

tinha como foco combater a inflação, estabelecendo

- A brusca retração dos empréstimos por parte do
uma paridade a médio prazo, com a cotação do dólar
sistema financeiro internacional, desde então, teve
fixada em NCz$1,00 (um cruzado novo), após uma
como complemento o tratamento da questão da dívida
desvalorização da moeda em 18%.
externa como um “problema de liquidez”.
Atenção!

Os países devedores deveriam se submeter a um

Outro ponto importante nesse período é acerca da
programa de ajuste ortodoxo fiscalizado pelo FMI,
dívida externa. No período 1978-1983, as dívidas
baseado na obtenção de recursos financeiros que
externas, bruta e líquida, cresceram em média 16% e
possibilitassem a solução do problema de liquidez.
20% a.a., respectivamente. Isso fez com que o
Estabelecia-se a negociação “caso a caso”,
passivo externo líquido triplicasse em seis anos. Essa
fragilizando a posição dos países devedores e
revalorização da dívida externa com o choque das
dificultando a sua articulação.
taxas de juros e a sobrevalorização do dólar

agravaram ainda mais as dificuldades de O governo brasileiro tornou-se um importante

renegociação da dívida com o cartel de bancos elemento nesse processo, sendo um dos primeiros
privados e os órgãos oficiais internacionais, países engajados nessa estratégia. Como resultado
enfraquecendo a posição dos países devedores. dessa postura, o desequilíbrio nas contas externas e a

inflação passaram a ser um problema fundamental: a

Em meados de 1980, a equipe econômica já percebia
crise tornou-se crônica, a instabilidade
os primeiros sinais de escassez de financiamento
macroeconômica levou à perda de credibilidade e a
externo, evidenciando a disposição dos credores de
uma política de ajuste permanente.
cobrar pesados custos internos no curto prazo para

financiar o ajuste. Todavia, manteve-se a O ano de 1983 seria marcado pela tentativa de ajuste
programação dos investimentos, incluindo-se no III externo e uma brutal recessão. As difíceis
PND investimentos relacionados à exploração do negociações com o sistema financeiro internacional
petróleo, à substituição de energia na indústria e no levariam à elaboração de sete cartas de intenções até
transporte, à substituição de importações de insumos 1985, com promessas e metas não cumpridas de
básicos e para atividades voltadas para a exportação. ambos os lados.
Mesmo assim, as metas estabelecidas pela equipe  Incentivo às exportações e políticas especiais

econômica para as contas externas foram atingidas para o setor energético, agricultura e pequenas

em 1983. Para isso, convergiram a recessão interna, o empresas.

arrocho salarial, a maxidesvalorização do câmbio, a

A contenção da inflação teria decorrido
redução nos preços do petróleo e nas taxas de juros e
principalmente dos efeitos da expansão da agricultura
o fim da recessão nos Estados Unidos. A política
e da queda dos seus preços relativos em 1980,
econômica de 1983 e 1984 teria duas etapas:
resultado tanto de um crescimento na produção como

de um declínio nos preços dos produtos de

exportação no mercado internacional.

A base de sustentação dessa política era a compressão

interna para a obtenção de expressivos superávits na

balança comercial, mas que resultou no agravamento

1- Resistência, com o governo limitando o
da inflação, das finanças públicas, da queda real dos
ajuste à regularização das contas externas
salários (descontada a inflação) e da recessão.
até novembro de 1983.

Com os diversos decretos-lei que ditaram a política

salarial, ficava claro que a contenção – ou o arrocho –

salarial funcionava como uma âncora e era condição

para a aprovação externa. As intervenções e pressões

externas de banqueiros, de governos e de instituições

internacionais, como o FMI, eram decisivas.

2- Adoção explícita de um programa de ajuste
Advertências sobre o “não desperdício de
recessivo do FMI.
oportunidades”, ou ameaças ao “futuro do Brasil”,

multiplicavam-se na imprensa dirigidas ao governo e

A orientação econômica assentava-se em alguns
ao Congresso, para a aprovação de “medidas
pontos essenciais:
necessárias”.

 Contenção salarial.

Prevalecia no governo a política de imposição de

 Controle de gastos do governo e aumento da
enormes perdas para os trabalhadores assalariados.
arrecadação.

 Elevação das taxas de juros internas e contração A retomada do crescimento, a consequente

da liquidez real. dinamização do mercado de trabalho e a resistência

organizada dos trabalhadores aboliram, na prática, a pagaria a dívida com a fome e a miséria do povo

lei salarial. brasileiro”, a equipe econômica montada por

Das Diretas ao governo Sarney Tancredo e mantida por José Sarney, liderada pelo

ministro da Fazenda Francisco Dornelles, não

Economia em contexto de redemocratização
apresentou qualquer resistência ao modelo imposto

As condições políticas internas ampliariam as pelo FMI. A política econômica de Dornelles

margens de manobra da equipe econômica na manteve os dogmas do FMI: defendia a redução do

negociação com os credores no início da década de déficit público através do corte nos gastos públicos.

1980: era uma conjuntura política da transição para Entre as medidas adotadas, decretou um corte de 10%

um governo civil – Sarney – e, em seguida, um no orçamento fiscal (além dos 15% estabelecidos pela

governo democraticamente eleito, pós-1989. equipe anterior) e suspendeu por 90 dias os

empréstimos de fomento do Banco do Brasil.

O ano de 1984 foi marcado pela campanha das

Diretas Já, com grandiosas mobilizações nas Esperava-se diminuir a demanda interna, reduzir o

principais cidades do país, com mais de um milhão de

patamar inflacionário e promover as exportações,
pessoas reunidas na Candelária, no Rio de Janeiro, e
realizando conjuntamente ajustes interno e externo.
no Vale do Anhangabaú, em São Paulo. A derrota das

“Diretas” no Congresso – da emenda Dante de O caminho proposto seria um “pacto social”,

Oliveira – e a eleição indireta de Tancredo Neves conforme vislumbrava o governo Sarney:

(PMDB) confirmaram o conservadorismo no

1- Na prática, ele se aplicaria na inexistência
processo de transição da ditadura para a democracia e
de vontade política e de ceder,
o caráter das alianças que a sustentavam.
efetivamente, por parte de políticos ligados

ao governo e empresários.

2- Assim, as negociações que poderiam

conduzir a algum “consenso mínimo” em

torno de temas como estabilização,

crescimento econômico, reajuste de preços

e salários, fracassaram na década de 1980.

O setor público, que progressivamente foi assumindo

a dívida do setor privado – e considerado o culpado

Apesar do slogan oposicionista “Fora daqui, com o pela crise –, cada vez mais encontrou dificuldades

FMI”, de Tancredo Neves, e de ele ter dito que “não

para o seu financiamento, pois dívidas e encargos se liderados por CONTAG, CUT e MST, sobretudo em

alimentavam mutuamente. relação à proposta de reforma agrária: houve uma

derrota dos setores populares na Constituinte;

Entre 1985 e 1989, a política econômica passou por
contudo, a derrota – as principais conquistas foram
diversas reviravoltas, oscilando entre o maciço apoio
pontuais – não ocultava o fato de um partido com
da população e a total perda de credibilidade. Nesse
pequeno número de representantes ter conseguido
período, a inflação se multiplicou por quatro,
estabelecer uma liderança expressiva e polarizar, de
chegando a 1.000% ao ano e às portas da
fato, o debate político no país.
hiperinflação.

Modelo econômico neoliberal A Constituição de 1988 trouxe conquistas em dois

aspectos:
O modelo econômico neoliberal e seus limites para
a democracia

No balanço da Constituição de 1988, pode-se dizer

que ela representou a afirmação de uma tentativa de

conciliação de classes. Os trabalhadores urbanos, sem

considerar as divergências de posicionamento entre

os partidos e centrais sindicais, obtiveram algumas

conquistas políticas, econômicas e sociais.

1- Do ponto de vista político

Apesar da intensa articulação preparatória, os Maior participação popular, por meio do voto e de

empresários não obtiveram êxito em várias organização em partidos e movimentos sociais.

reivindicações, por suas divisões internas,

dificuldades com seus representantes ou o pouco

interesse do governo.

O lobby da União dos Empresários Brasileiros (UEB)

não conseguiu virar a página: perdeu na reserva de

mercado, na definição de empresa nacional, no uso do 2- Do ponto de vista econômico

subsolo, na regulamentação dos direitos trabalhistas e

Manutenção do capitalismo liberal, com seus
organização sindical etc.
pressupostos de lucro, propriedade privada e livre

Entre aqueles que poderiam se considerar derrotados, iniciativa econômica.

destacam-se os trabalhadores rurais (ou camponeses),

O paradoxo da Constituição de 1988 é que a
democracia nela inscrita significaria a redução das
desigualdades por meio de um Estado de Bem-Estar
Social.
Ao mesmo tempo em que defendia as prerrogativas
da democracia liberal-representativa, de um ponto de
vista político, abria-se caminho para
desenvolvimento do programa neoliberal
economia. Esses valores primavam
fortalecimento da iniciativa privada, tendo em conta o
pressuposto da livre concorrência.
Vista dessa forma, a livre concorrência assume o
significado de liberdade, e liberdade entendida como
o mercado torna-se o pressuposto fundamental da
atividade econômica. Legalizam-se e legitimam-se as
regras do mercado, limitando-se a capacidade de
intervenção do Estado na economia, que deveria agir
somente quando houvesse o imperativo
preservação da segurança nacional e do relevante
interesse coletivo.
Exemplo
Segundo essa lógica, o Estado não deveria atuar
como empresário, salvo nos casos explicitados pela
lei, devendo o desempenho das estatais ocorrer nos
parâmetros do funcionamento das empresas privadas,
nas quais eficiência e produtividade seriam destinadas
à obtenção do lucro.
Como o princípio da livre iniciativa é um pressuposto
básico da livre concorrência, deu-se a equiparação
entre a empresa pública e a empresa privada,
colocadas ambas no mesmo plano. Nessa visão
neoliberal, para que a concorrência se tornasse
possível, seria necessária a eliminação dos privilégios
e vantagens das empresas públicas. Essa visão de
economia orientou os governos democráticos da
década de 1990, sobretudo os governos de Fernando
Collor de Mello e Fernando Henrique Cardoso.
o
na A agenda de reformas ocorrida na década de 1990
pelo seguia o estabelecido pelo Consenso de Washington,
onde tal reforma trabalhista deveria:
1- Desonerar o capital e aumentar a
competitividade da economia (no período,
aumentaram a taxa de desemprego, o
subemprego, a precariedades das relações
de trabalho).
2- Implantar a reforma administrativa, com a
diminuição dos gastos com o funcionalismo
público e a quebra da estabilidade no
emprego.
3- Implementar a reforma da previdência, para
reduzir gastos e ampliar o limite mínimo de
idade para a aposentadoria.
4- Executar a reforma tributária, para
distribuir melhor a carga de impostos e
combater a sonegação.
de
Governos Collor e Fernando Henrique Cardoso
Política econômica
Fernando Collor de Mello tomou posse em 15 de
março 1990, implementando um ambicioso programa
de estabilização econômica, baseado em um inédito
confisco monetário:
- O bloqueio dos saldos em conta corrente e
cadernetas de poupança que excedessem 50 mil
cruzeiros, procedimento que, durante a campanha, execução do Programa Nacional de Desestatização,

Collor acusara Lula de pretender adotar caso com a privatização da Usiminas. A política de

chegasse à presidência. privatização, um dos pilares do Plano Collor, fora

objeto de contestações desde o seu anúncio.

- A moeda mudou de cruzado novo para cruzeiro.

Foram adotadas medidas de enxugamento da máquina Na comemoração do Dia do Trabalho em 1990, em

estatal, como a demissão de funcionários públicos e a Volta Redonda (RJ), entidades sindicais e

extinção de autarquias, fundações e empresas representantes de partidos de oposição (PDT, PT,

públicas. PCB, PSB) haviam protestado contra a recessão, o

desemprego e a intenção do governo de vender a

- Ao mesmo tempo, o processo de abertura da
CSN.
economia nacional à competição externa facilitaria a

entrada de mercadorias e capitais estrangeiros no Afastado do poder devido a inúmeras denúncias de

país. Congelados, preços e salários passariam a ser corrupção, Fernando Collor deixou o cargo em 1992

reajustados conforme índices de inflação prefixados. para que Itamar Franco, seu vice, assumisse seu

lugar. O governo Itamar implementou o principal

Tais medidas, no entanto, não tiveram êxito. A
programa de estabilização da moeda no contexto
inflação retomava sua escalada ascendente em meio à
democrático pós-Constituição: o Plano Real.
recessão, ultrapassando 400% a.a.; a taxa de
1. Em 1 de julho de 1994, o ministro da
desemprego era de 5,23%, o PIB de -4,6% em 1990 e
Fazenda Fernando Henrique Cardoso (FHC) lançou o
a renda per capita retornando ao valor de 1979.
Plano Real, que se destacou por buscar a
Como tentativa de resposta, o governo implantou o
estabilização sem usar o congelamento de preços e
Plano Collor II em 31 de janeiro de 1991. No dia 7 de
salários.
março, o governo lançou o Projeto de Reconstrução
2. As medidas visavam conter os gastos
Nacional, constituído por sete emendas

constitucionais, 42 projetos de lei e dez decretos. públicos, acelerar o processo de privatização das

estatais, controlar a demanda, por meio da elevação

O conjunto de medidas objetivava reerguer a dos juros, e pressionar diretamente os preços pela

economia, resgatar a dívida social e quebrar o facilitação das importações.

monopólio estatal em várias atividades 3. Com o plano, a moeda, que havia mudado

de cruzeiro para cruzeiro real em agosto de 1993,

Após substituir Zélia Cardoso de Melo por Marcílio
mudou para real em julho de 1994.
Marques Moreira (ex-embaixador em Washington)

no comando da economia, o governo deu início à

4. O programa previa a continuação da
houve desaquecimento da economia e aumento do
abertura econômica do país e medidas de apoio à
desemprego.
modernização das empresas.

Com amplo apoio político, consolidado a partir de

Após 15 dias da implantação do real, já era flagrante uma sólida base no Congresso, os governos FHC

a vertiginosa queda da inflação. Alguns dos (reeleito em 1998) obtiveram êxito em seu plano de

segmentos mais pobres da população se atreveram a reformas econômicas do Estado.

incrementar suas compras, provocando uma corrida

A ampla base de apoio no Congresso possibilitou a
ao crediário, apesar da manutenção das taxas de juros
continuidade do processo de privatizações,
em patamares muito altos. No mercado de câmbio, a
principalmente na telefonia e mineração, com a
relação do real com o dólar foi estabelecida em
quebra dos monopólios estatais nas áreas de
termos inesperados, com a moeda nacional valendo
Comunicação e Petróleo e a eliminação de restrições
mais do que a norte-americana.
ao capital estrangeiro.

Fernando Henrique Cardoso tomou posse em 1 de

Era o Programa Nacional de Desestatização.
janeiro de 1995, eleito na esteira da popularidade do

Plano Real. A continuidade do plano garantiu o apoio

ao governo, sobretudo pela estabilidade monetária,

embora com a supervalorização do real, houve o

aumento do desemprego e defasagem salarial. Na

agricultura, cerca de 1,5 milhões de postos de

trabalho desapareceram entre 1995 e 1996, em

decorrência do emprego de novas tecnologias no

campo. Na indústria, a busca por novos ganhos de

Um dos pontos centrais para a manutenção da
produtividade, por meio da reestruturação produtiva e
estabilidade econômica foi o controle dos gastos
a intensificação do capital, também contribuiu para o
públicos. Foi visando a esse objetivo que o governo
aumento do desemprego no setor. A melhoria na
FHC aprovou, em maio de 2000, a Lei de
distribuição de renda foi pequena. Convivendo com
Responsabilidade Fiscal, a qual impede que os
crises internacionais no México e na Ásia, em fins de
governantes gastem mais do que a capacidade de
1997, o governo elevou a taxa de juros e lançou um
arrecadação prevista no orçamento dos municípios,
pacote fiscal para reduzir as despesas do governo e
dos estados e da União.
melhorar as receitas. Em 1998, o país foi atingido

ainda mais duramente pela crise financeira mundial: Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
Consumidor) pelas LFTs (Letras Financeiras do

Em junho de 1994, durante o mandato presidencial de Tesouro).

Itamar Franco, o então ministro da Fazenda, Questão 2

Fernando Henrique Cardoso, anunciava à nação um

Inspirado no liberalismo clássico e em clara oposição
novo plano econômico, denominado Plano Real.
ao Keynesianismo, o neoliberalismo propõe, entre
Entre as principais características do Plano Real
outras medidas:
podemos citar

A
I. O desenvolvimento de uma política de privatização

das empresas estatais para reduzir o papel do Estado

a reforma monetária com equiparação do valor da
na economia.
moeda nacional ao dólar e estruturação de um plano
II. O fortalecimento dos sindicatos e a ampliação dos
de intervenção reguladora do Estado na economia.
direitos trabalhistas.
B
III. A redução das barreiras para a circulação de

a apresentação de um programa de privatização de mercadorias e capitais entre países, promovendo,

estatais, elevação da taxa de juros e reforma assim, uma abertura econômica.

monetária com equiparação do valor da moeda

nacional ao dólar. Estão corretas

C A

a elevação da taxa de juros, desvalorização da moeda apenas I e II.

nacional e aceleração do processo de privatização B

exclusivamente do setor de telecomunicações.

apenas I e III.
D

a privatização de estatais, diminuição da taxa de juros C

e criação de uma fiscalização popular da variação

apenas II e III.
diária de preços dos produtos considerados

essenciais. D

E
apenas III.

o estabelecimento de uma nova regra para correção E

da poupança, substituindo o IPC (Índice de Preço ao

apenas II.