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DESCRIÇÃO

O Serviço Social como especialização do trabalho coletivo na sociedade.

PROPÓSITO
Refletir sobre o trabalho e o modo de produção capitalista, além de compreender a inserção do Serviço Social como trabalho e profissão inscrita no processo de trabalho coletivo na
sociedade.

PREPARAÇÃO
É importante ter à mão um bom dicionário de teoria política ou mesmo de Filosofia, considerando a riqueza e as múltiplas possibilidades de análise do tema. Sugerimos o Dicionário
de Filosofia, de Abbagnano, e o Dicionário de Política, de Bobbio, Matteucci e Pasquino. Ambos são facilmente encontrados em formato digital.

OBJETIVOS

MÓDULO 1

Reconhecer conceitos para o entendimento do modo de produção capitalista, sob o qual a profissão se legitima

MÓDULO 2

Distinguir breve recuperação histórica que permita a compreensão do Serviço Social como um trabalho coletivo, com uma função social delimitada

MÓDULO 3

Identificar o significado da transição do foco da prática profissional para os processos de trabalho, a partir da categorização das dimensões constitutivas da profissão e do exercício
profissional

MÓDULO 4

Identificar o conceito de totalidade em Serviço Social e como incide sobre o exercício profissional cotidiano de assistentes sociais em seus diferentes campos de atuação

INTRODUÇÃO
O Serviço Social é uma profissão que tem aproximadamente 80 anos, o que, do ponto de vista da história, lhe confere um caráter relativamente recente. Sua gênese acontece no
modo de produção capitalista, mais especificamente na chamada idade dos monopólios, que significa a atual fase do capitalismo, cujo início se deu no fim do século XIX.

É dessa maneira que o Serviço Social emerge, como definiu na década de 1980 Iamamoto (2007), como uma especialização na divisão sociotécnica do trabalho, como um ramo da
especialização do trabalho coletivo.

Porém, a profissão ainda sofre, atualmente, determinadas “confusões” com práticas conservadoras ligadas à filantropia e à prática profissional relegada simplesmente à aplicação
sem crítica de um “arsenal de instrumentos e técnicas” nos espaços socioinstitucionais.

Mas, segundo Iamamoto (1998), não se trata apenas e tão somente de uma mudança de nomenclatura, mas sim de refinar a análise sobre a chamada “prática”, que passa a ser
encarada como um tipo de trabalho especializado, que se realiza no âmbito dos processos e das relações de trabalho no Serviço Social.

MÓDULO 1

 Reconhecer conceitos para o entendimento do modo de produção capitalista, sob o qual a profissão se legitima
REFLEXÕES SOBRE O TRABALHO E O MODO DE PRODUÇÃO CAPITALISTA

 Linha de produção da Ford em 1913.

O QUE É O TRABALHO?

Existem diversas formas de se compreender a realidade, uma série de correntes teóricas que explicam as formas nas quais o mundo e as sociedades se apresentam. Não existe
nesse aspecto certo ou errado, apenas qual modo de perceber a realidade nos parece mais completo e dotado de sentido. Assim, aqui trataremos a questão do trabalho à luz de
conceitos de Karl Marx, apropriados por diversos e conceituados autores do Serviço Social que têm influência também na direção social da profissão, de modo mais abrangente.
Trata-se de um jeito de compreender a realidade que está presente, inclusive nos documentos e nas legislações mais importantes da profissão, como o Código de Ética Profissional
(1993), a Lei de Regulamentação da Profissão nº 8662/93 e a Lei de Diretrizes e Bases do Serviço Social (1996).

Portanto, significa ainda olhar a realidade através de uma lente chamada método histórico dialético, que define que a sociedade está dividida em classes sociais: burguesia
(dominantes) e proletariado (dominados).

Por burguesia ou classe dominante se compreende o grupo de pessoas detentoras dos meios de produção, e por proletários aqueles que vendem sua força de trabalho para a
burguesia, produzindo a riqueza com seu trabalho, que deixará os burgueses ainda mais ricos. Nessa análise, admitem-se as situações como concretas, materiais, mas que não se
dão ao acaso – são “heranças” de condições do passado e da posição que se tenha nas classes sociais.

DIVISÃO DA SOCIEDADE EM CLASSES

Como você percebeu, aqui se assumiu o método histórico dialético como ferramenta de compreensão das relações sociais. Porém, esse não é o único método!

Nesse sentido, confira os artigos A “luta de classes” é real; só que os lados opostos são diferentes , de Matt McCaffrey, e O que diferencia o proletariado dos donos do meio de
produção? , de Geanluca Lorenzon.

Podemos, a partir dessa maneira de ver o mundo e entender a realidade, compreender o trabalho como a atividade sobre a qual o ser humano emprega sua força para produzir os
meios para seu sustento. Assim, é pelo trabalho que o homem se diferencia e se distancia da natureza, ao submetê-la a sua vontade no ato de transformá-la em produtos necessários
à sua vida. Tais produtos são valores de uso, que podem satisfazer diferentes necessidades humanas.

No entanto, para pensar o Serviço Social como trabalho, é necessário entender o modo de produzir como um todo articulado, que leva em consideração as dimensões econômicas e
sociais. É preciso pensar em outros desdobramentos do ato de trabalhar e produzir, como, por exemplo, quais matérias-primas serão usadas, quais mercadorias serão produzidas e
quais instrumentos serão utilizados.

Imagine que para se produzir valor de uso seja necessário que o homem trabalhe. Chamamos essa potencialidade de o homem trabalhar de força de trabalho. É importante
perceber que, ao usar essa potencialidade – a força de trabalho –, o homem se orienta por um fim, apresenta uma finalidade.

Além da sua força de trabalho para realizar o trabalho em si, o homem precisa também de matéria-prima sobre a qual trabalhar, entendida como o objeto que será moldado com
seus esforços físicos e mentais para atingir o formato planejado.

E, para atingir esse formato, o homem vem ao longo do tempo construindo instrumentos, ferramentas e meios para a concretização do seu trabalho. Podemos entender que os
instrumentos são as mediações entre o objeto de trabalho e o homem, fabricados por este para que possa desenvolver melhor seus produtos.

Assim, os homens, que ao longo do seu processo evolutivo sempre trabalharam, sempre contaram também com esses três elementos, que constituem o processo de trabalho.
Contudo, com o surgimento do modo de produção capitalista, ou capitalismo, ocorreram mudanças significativas e que até os dias atuais são identificadas.

Quando falamos em capitalismo, estamos nos referindo a um sistema econômico e social que apresenta centralidade na propriedade privada e na acumulação do capital a partir da
exploração do trabalho.

O capitalismo, como sistema de produção, surgiu no final do século XIV e início do século XV e passou por diferentes estágios e crises:
1º ESTÁGIO

Capitalismo comercial (baseado na troca ou venda de mercadorias), também chamado de pré-capitalismo.

2º ESTÁGIO

Capitalismo industrial (com o avanço da industrialização e a centralidade nas fábricas e empresas – inserção dos maquinários e processos de produção em larga escala).

3º ESTÁGIO

Capitalismo financeiro ou monopolista, que, em linhas gerais, começou no fim do século XIX e início do século XX como união do capital industrial com o capital financeiro, tendo o
dinheiro como principal “produto” do capital, centralizado nas taxas de lucro, bolsas de valores e grandes empresas formando monopólios de produtos, para garantir mais e mais
lucratividade.

Com base nesse modo de produção, uma premissa é a de que a sociedade não pode deixar de produzir, assim como não pode deixar de consumir. Esse é um processo interligado,
como uma cadeia, e assim é possível constatar que todo processo social de produção é, ao mesmo tempo, um processo de reprodução. A produção aqui é entendida como as
relações envolvidas na elaboração de produtos, num ato consciente do homem para atingir aquela determinada finalidade, ao passo que a reprodução é compreendida como o
conjunto dos atos relativos à vida material e biológica dos homens e também aos atos de suas vidas em sociedade.

Da mesma maneira que a produção não pode ser pensada sem a reprodução, no sistema capitalista a produção também não pode ser pensada sem a circulação e o consumo das
mercadorias.

Para produzir as mercadorias, numa relação de assalariamento, a jornada de trabalho é composta de dois tipos de trabalho – o trabalho necessário e o trabalho excedente.
Por trabalho necessário podemos compreender o tipo de trabalho pago ao trabalhador pelo capitalista, com o qual o trabalhador irá adquirir seus meios de subsistência.


O trabalho excedente significa a parte do trabalho realizado cujo custo vai além do que é necessário para custear a subsistência do trabalhador. Esses dois tipos de trabalho são
realizados e se encontram na mesma jornada realizada pelo trabalhador. Ao capitalista importa muito mais o trabalho excedente, uma vez que seu desejo é diminuir o tempo do
trabalho necessário e aumentar o tempo do trabalho excedente, a base de sua riqueza.

A esfera em que as mercadorias produzidas são comercializadas é chamada de circulação. Nessa zona é que se realiza a mais-valia anteriormente gerada na produção. O conceito
de mais-valia diz respeito à forma em si que a exploração no sistema capitalista assume. Essa exploração ocorre porque a força de trabalho produz mais do que recebe como salário.

Granemann (1999) nos esclarece quais são os dois tipos de mais-valia:


A MAIS-VALIA ABSOLUTA SE REALIZA COM O PROLONGAMENTO DA JORNADA DE TRABALHO ALÉM
DO PONTO EM QUE O TRABALHADOR PRODUZ PARA GARANTIR A SUA SUBSISTÊNCIA, COM A
APROPRIAÇÃO PELO CAPITAL DO TRABALHO EXCEDENTE; A MAIS-VALIA RELATIVA SE REALIZA COM
O PROLONGAMENTO DO TEMPO DE TRABALHO EXCEDENTE E A CONDENSAÇÃO DO TEMPO DE
TRABALHO NECESSÁRIO, POSSÍVEIS PELO USO DA TECNOLOGIA QUE PERMITE PRODUZIR EM
MENOS TEMPO O EQUIVALENTE AO SALÁRIO.

No sistema capitalista, na esfera da reprodução, dá-se um importante aspecto dessa interação, que diz respeito a uma sociabilidade para a continuidade dos trabalhadores
com suas características importantes para a continuidade do sistema.

Trata-se de garantir que os trabalhadores não tenham outra mercadoria para vender a não ser sua própria força de trabalho. Isso garante um controle maior do capitalista sobre o
trabalhador, visto que, nas horas em que está sendo remunerado, o trabalho pertence ao capitalista, não ao trabalhador, que é quem efetivamente o realiza.

Outra questão é que, como o trabalhador não mais possui os meios de produção – agora concentrados nas mãos dos capitalistas –, tudo o que é produzido pelo trabalhador durante a
jornada de trabalho não lhe pertence, mas sim ao capitalista que o contratou.

Em sequência, outra característica essencial ao sistema é a da condição de alienação desses trabalhadores. Ao não perceberem seu papel na produção da riqueza, sentem-se
estranhos ou não pertencentes aos meios de produção, ao próprio produto que produzem, ao seu trabalho em si. Isso ocorre porque têm seu potencial criativo capturado pelo
capitalista, uma vez que a centralidade do sistema está focada nas mercadorias e não nos homens que as produzem.

Levando em consideração todas essas definições para compreender o trabalho e os processos de trabalho, vamos olhar mais de perto para o Serviço Social como um trabalho.

SERVIÇO SOCIAL: PROFISSÃO INSCRITA NO PROCESSO DE TRABALHO COLETIVO


De acordo com Iamamoto (2007), a centralidade da categoria trabalho surge na profissão não por acaso, mas sim em função de permitir pensar a prática profissional integrada em um
processo de trabalho que estabeleça uma conexão entre o fazer profissional do Serviço Social e a prática da sociedade:


O TRABALHO É UMA ATIVIDADE FUNDAMENTAL DO HOMEM, POIS MEDIATIZA A SATISFAÇÃO DE SUAS
NECESSIDADES DIANTE DA NATUREZA E DE OUTROS HOMENS. PELO TRABALHO O HOMEM SE
AFIRMA COMO UM SER SOCIAL E, PORTANTO, DISTINTO DA NATUREZA. O TRABALHO É ATIVIDADE
PRÓPRIA DO SER HUMANO, SEJA ELA MATERIAL, INTELECTUAL OU ARTÍSTICA. É POR MEIO DO
TRABALHO QUE O HOMEM SE AFIRMA COMO UM SER QUE DÁ RESPOSTAS PRÁTICO-CONSCIENTES
AOS SEUS CARECIMENTOS, ÀS SUAS NECESSIDADES. O TRABALHO É, POIS, O SELO DISTINTIVO DA
ATIVIDADE HUMANA.

Para a autora, trazer a categoria trabalho para a discussão da prática profissional possibilita ampliar a análise sobre o exercício profissional. Considerando que o Serviço Social é
uma profissão inscrita na divisão social e técnica do trabalho coletivo, na sociedade capitalista – e tem seus profissionais, assistentes sociais, inseridos nas instituições como
trabalhadores assalariados, vendedores de sua força de trabalho –, tal olhar rompe definitivamente com a compreensão mais antiga sobre a profissão, tida como especialização de
práticas caritativas e de filantropia, oriundas da forte influência da Igreja católica.

Ainda nessa linha de análise, do Serviço Social como especialização dentro do trabalho, há uma dupla determinação, sendo ao mesmo tempo útil e abstrata. Útil pois apresenta valor
social, necessário para cumprir uma função na sociedade, e abstrato porque não é palpável, não configura uma mercadoria que se possa enxergar.

Além de útil e abstrato, ao falarmos sobre o trabalho em Serviço Social precisamos considerar que se trata de um trabalho improdutivo.

Trabalho produtivo é todo aquele que gera lucro diretamente. Já o trabalho improdutivo também gera lucro, mas de maneira indireta.

 EXEMPLO

Suponha que o assistente social trabalhe numa indústria automobilística. Os trabalhadores que geram um lucro direto para a empresa por meio de seu trabalho são os montadores,
soldadores e demais operários. No entanto, o assistente social também participa coletivamente da geração do lucro, de maneira indireta. Quando esse assistente social gerencia o
plano de saúde que possibilita que aquele conjunto de operários – trabalhadores produtivos, que geram lucro/mais-valia direta para o dono da indústria – trabalhe com suas garantias
de saúde e atendimento médico funcionando bem, o assistente social está operando na cadeia da produção de lucro, ainda que de forma indireta, como parte do trabalhador coletivo.

Na atualidade, discute-se o fim do trabalho, considerando as altas taxas de desemprego e desocupação, além da crescente ofensiva sobre direitos trabalhistas construídos no país
durante anos, a partir de um importante marco histórico que foi a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), em 1943, bem como a precarização das condições de trabalho e dos
vínculos empregatícios.

Contudo, o atual sistema de produção em que nossa sociedade de assenta – o modo de produção capitalista –, mesmo com tantos avanços tecnológicos, ainda não conseguiu
descobrir outra forma de produzir riqueza senão aquela que é gerada a partir do trabalho e de sua exploração. Enquanto perdurar esse cenário, o que observaremos é uma sucessão
de crises desse modelo de produção, por esgotamento de sua forma de operar e extrair riqueza e, consequentemente, suas novas formas de reestruturação e ressurgimento para
continuação.

Tais crises vão se expressar não só sobre os aspectos econômicos e financeiros, mas também, e de modo bastante agudo, nas expressões da questão social, assumindo contornos
de desemprego e fome, por exemplo.

Granemann (2009) nos esclarece sobre esse pretenso “fim do trabalho” com a discussão entre trabalho e emprego. Segundo a autora, às vezes intencionalmente, às vezes não,
trabalho e emprego são colocados como sinônimos, de maneira equivocada. Claro que guardam uma relação estreita entre si. É preciso seguir compreendendo o trabalho como uma
forma mais abrangente, de venda da força de trabalho e produção de mercadorias, e o emprego como uma base técnica de organização do trabalho, no modo de produção
capitalista.

Observaremos também as faces cada vez mais agudas das expressões da questão social, e a incidência sobre a sociabilidade dos trabalhadores, matérias sobre as quais o Serviço
Social atuará profissionalmente, em seus processos de trabalho.

Ou seja, seguiremos com a discussão sobre a centralidade do trabalho, os processos e as relações de trabalho do Serviço Social, bem como suas intencionalidades, tensões e
formas de inter-relação com o meio social.

No vídeo a seguir, a professora Nataly Barros Pereira apresenta a definição de trabalho segundo o método histórico dialético, relacionando-o com a profissão do Serviço Social.
VERIFICANDO O APRENDIZADO

MÓDULO 2

 Distinguir breve recuperação histórica que permita a compreensão do Serviço Social como um trabalho coletivo, com uma função social delimitada

TRABALHO E PROCESSOS DE TRABALHO EM SERVIÇO SOCIAL: CONSTRUÇÃO


HISTÓRICA
O Serviço Social, sob a ótica do trabalho, significa estabelecer um olhar mais apurado sobre como essa profissão se desenvolve assentada no modo de produção capitalista e, ainda,
como o exercício profissional corresponde a essa lógica. No caso brasileiro, com o desenvolvimento do capitalismo, há uma dupla relação estabelecida entre desenvolvimento e
crescimento econômico, de um lado, e um quadro de fragilização das relações de trabalho, individualismo, competitividade, entre outras mazelas sociais, do outro. Isso se dá em
função da forma contraditória que incide sobre esse modo de produção.

Surge então a necessidade do sistema capitalista de que haja uma profissão e, consequentemente, profissionais prontos a lidar com esses impactos gerados pelo sistema de
produção. Tais impactos são as múltiplas expressões da questão social.

Iamamoto e Carvalho (1991) tratam desse aspecto ao postular que:


[...] É NESSE CONTEXTO, EM QUE SE AFIRMA A HEGEMONIA DO CAPITAL INDUSTRIAL E FINANCEIRO,
QUE EMERGE SOB NOVAS FORMAS A CHAMADA ‘QUESTÃO SOCIAL’, A QUAL SE TORNA A BASE DE
JUSTIFICAÇÃO DESSE TIPO DE PROFISSIONAL ESPECIALIZADO. A QUESTÃO SOCIAL NÃO É SENÃO
AS EXPRESSÕES DO PROCESSO DE FORMAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DA CLASSE OPERÁRIA E DE
SEU INGRESSO NO CENÁRIO POLÍTICO DA SOCIEDADE, EXIGINDO SEU RECONHECIMENTO COMO
CLASSE POR PARTE DO EMPRESARIADO E DO ESTADO. É A MANIFESTAÇÃO, NO COTIDIANO DA VIDA
SOCIAL, DA CONTRADIÇÃO ENTRE O PROLETARIADO E A BURGUESIA, A QUAL PASSA A EXIGIR
OUTROS TIPOS DE INTERVENÇÃO, MAIS ALÉM DA CARIDADE E REPRESSÃO.

Os autores seguem, nessa linha de explicação da profissão como trabalho e sua relação no trato das expressões da questão social, abordando o papel do Estado nesse contexto.

As relações entre classe trabalhadora e empresariado passam a ser intermediadas diretamente pelo Estado, que figura como importante ente regulador, não somente do ponto de
vista jurídico, mas também quanto à prestação dos serviços sociais. Sob o ponto de vista jurídico, o Estado teve importância fundamental na regulamentação jurídica do mercado de
trabalho a partir da legislação social e trabalhista. Em relação à prestação de serviços sociais, apresentam um deslocamento da questão caritativa para uma parcial consideração na
formulação de políticas sociais, como estratégia de sustentar o poder de classe sobre o conjunto da sociedade.

Contudo, o Estado procura também enfrentar o processo da pauperização que atinge o contingente de trabalhadores, não apenas por meio da regulação legal dos que se inserem
nos empregos, mas também visa abarcar a parcela de trabalhadores cuja mão de obra foi excedente para as necessidades de exploração do capital, o chamado exército industrial
de reserva. Esse segmento de trabalhadores não podia sobreviver do salário, pois não estava empregado.

 SAIBA MAIS

No mesmo sentido apresentado quando falamos de sociedade de classes, e porque acreditamos que o conhecimento se dá abordando diversos pontos de vistas, como forma de
contraponto ao método histórico dialético vale conferir a reflexão de Carlos Marcelo Velloso Wendt, em seu artigo Nosso desastre começa nas faculdades e universidades de
economia .

Entretanto, essa parcela era fundamental para a regulação das formas de produção e reprodução social, mas seu custo de manutenção foi socializado para o conjunto da sociedade a
partir de ações estatais como estratégia de desresponsabilização dos capitalistas sobre tais “trabalhadores livres”. A expressão aparece entre aspas por conta de uma falsa impressão
de liberdade, de vender sua força de trabalho para um mercado regulado por regras que invariavelmente exploram os trabalhadores e os desprotegem de garantias.

É dessa maneira que historicamente o Serviço Social como profissão consolida sua marca de ajuda e solidariedade, engendrando ações voltadas ao controle social e à pobreza
visível aos olhos da burguesia. Nesse período, a profissão atuou significativamente para o controle e a coerção exercidos pela classe dominante por meio do Estado.

A classe dominante produz esse novo agente profissional na medida em que cria sua necessidade nas organizações, o emprega e o remunera, e o assistente social, então, influencia
diretamente os aspectos ideológicos, assumidos pelos profissionais como viável para manutenção da vida em sociedade. Naquele momento era necessário ter na profissão uma base
de conhecimento que pudesse dar sustentação ao exercício profissional de assistentes sociais que concebessem a questão social como um problema de disfuncionalidade do
indivíduo, descaracterizando toda a incidência dos determinantes históricos e econômicos envolvidos.

Naquela perspectiva, compreendendo o trabalho dos assistentes sociais da época como majoritariamente voltado à população que vivia em condição de vulnerabilidade social e
pobreza, excluída do processo produtivo, cabia à categoria, naquele contexto histórico, resposta às expressões da questão social do momento.

Contudo, essas respostas se materializavam em ações de responsabilização individual do “cliente”, numa atuação profissional focada na mudança de comportamento dos sujeitos,
com a finalidade de melhor adequação, sobre os aspectos de:

Inserção/enquadramento na ordem social vigente;

Concepção de justiça social pautada pela solidariedade humana (e não na esfera do direito social);

Controle da pobreza, desconsiderando a luta de classes e os impactos da subalternidade na sociedade.

O que norteia essa perspectiva é a relação de harmonia entre Estado e sociedade para garantir o desenvolvimento econômico e o chamado “bem comum”, que, na verdade,
apresenta uma falsa conotação de “comum a todos”, porque antes se preocupa com a manutenção da ordem societária vigente.

As próprias instituições assistenciais foram desenhadas a partir desse modelo, que privilegia a manutenção da ordem e o controle social. E é nesse espaço que os assistentes sociais
são chamados a atuar sobre a questão social, são reconhecidos e se reconhecem como profissionais da prática. Estão submetidos a um conjunto de determinações sociais inerentes
ao trabalho na sociedade capitalista, que vai além do trabalho assalariado e controle da força de trabalho. Passam também pelo que essas instituições demandam, pelos seus
objetivos e as necessidades dos empregadores. Até os dias atuais, esses aspectos ainda marcam consideravelmente a questão do exercício profissional e, por essa razão, requerem
um debate constante. Tais considerações históricas da profissão são relevantes e necessárias para compreender melhor o atual cenário e as questões relacionadas ao Serviço Social.

OBJETIVOS INSTITUCIONAIS E OBJETIVOS DA PROFISSÃO


Tratamos, em momento anterior, da autonomia relativa do assistente social, ou seja, seu caráter de profissional liberal, que lhe confere alguma mobilidade nas estratégias para lidar
com as contradições na relação com o empregador, mas que figura como relativa por ser atravessada pelas requisições e imposições institucionais.

Esse debate nos conduz a analisar os objetivos da profissão e os objetivos da instituição. O fazer profissional do assistente social se realiza de modo assalariado e em diversas áreas
de atuação, como na assistência, na saúde, na educação, nas empresas, no sistema sociojurídico, na docência, entre outras, fato que, por um lado, limita e cerceia sua autonomia,
posto que é relativa. Por outro lado, abre uma possibilidade na compreensão da realidade social dessas áreas e a elaboração de respostas às expressões da questão social ali
colocadas. E, para fazer uso concreto de sua autonomia relativa, é necessário que o assistente social tenha clareza dos objetivos da instituição e dos objetivos presentes na
profissão.

 RESUMINDO

Pense no momento de contratação de um assistente social. Além das formalidades burocráticas próprias do trabalho, exigências de documentação e contratuais, aquela organização
já define quais são suas expectativas sobre o profissional e seu exercício naquele espaço – ou seja, já se define em quais programas e projetos irá atuar, para quem e com que
objetivos. Uma contratação se dá baseada no assalariamento e na definição do que será desenvolvido, além dos controles estabelecidos sobre esse “produto/mercadoria”.

Caso o assistente social não mantenha um distanciamento, analítico e crítico, pode incorrer no erro de tomar como seus os objetivos da instituição. A consequência desse equívoco é
a dificuldade de reconhecer suas atribuições e, em decorrência, gestar respostas profissionais alinhadas com os preceitos da profissão. Funciona como se o assistente social nessa
condição enxergasse a instituição em que atua como um bloco monolítico, que apresenta determinações intransponíveis e imutáveis.

Mas quais são os caminhos de superação dessa via? A partir do distanciamento crítico, aqui entendido como a capacidade de articular o conjunto de elementos analíticos da profissão
para compreender a realidade, da maneira mais abrangente possível. Tal distanciamento vai possibilitar examinar as condições sob as quais seu trabalho se realiza. Sem ele, pode
haver comprometimento do que faz e da visibilidade sobre o que é feito, e implicações sociais desse fazer.

A construção desse distanciamento deve ser fundada em alguns pilares para que seja sólida:

Identificação de demandas de atendimento e não apenas aquelas indicadas previamente pela organização;

Conhecimento do poder local e das redes que atuam inter-relacionadas com a instituição;


Identificação das condições objetivas em que seu trabalho se realiza;


Apropriação de seu projeto profissional;


Mapeamento das condições objetivas de vida do usuário e da realidade social na qual se insere.

Embora os assistentes sociais sejam possuidores de um saber profissional, não é exatamente isso que a organização “compra” ao contratá-los. Seu interesse é sobre o produto do
trabalho realizado, determinado segundo o empregador. Torres (2009) problematiza de modo interessante a questão:


NA MEDIDA EM QUE O ASSISTENTE SOCIAL É UM TRABALHADOR ASSALARIADO E IDENTIFICADO COM
OS OBJETIVOS DE QUEM O CONTRATOU, ELE ‘ESPERA’ QUE SEU EMPREGADOR LEGITIME AQUILO
QUE FAZ. ASSIM, O PRODUTO DO TRABALHO É AQUELE QUE O EMPREGADOR RECONHECE DE
ACORDO COM AS SUAS DETERMINAÇÕES. NESSA DIREÇÃO, O PRODUTO DO TRABALHO DO
ASSISTENTE SOCIAL É AVALIADO POR SEU DESEMPENHO EM CUMPRIR AS DETERMINAÇÕES DA
ORGANIZAÇÃO E NÃO NECESSARIAMENTE PELO IMPACTO DE SUAS AÇÕES NAS CONDIÇÕES
OBJETIVAS DE VIDA DO USUÁRIO. OU SEJA, A CONSTRUÇÃO DO EXERCÍCIO PROFISSIONAL ESBARRA
NO LIMITE DA ORGANIZAÇÃO; O ASSISTENTE SOCIAL VAI CONSTRUINDO E TAMBÉM REPRODUZINDO
AS ATIVIDADES QUE CARACTERIZAM O SEU FAZER PROFISSIONAL.

Até aqui concluímos que os processos de trabalho dos assistentes sociais integram uma concepção maior, que ocorre a partir do entendimento da profissão como trabalho. Tais
processos recebem influências da própria construção do saber profissional que é resultado das dimensões teórico-metodológicas, ético-políticas e técnico-operativas, mas também de
requisições institucionais, suas expectativas e determinações. No intervalo entre essas forças, temos o profissional com sua relativa autonomia, que, apoiado no “arsenal” de sua
profissão, lida com as contradições, identifica outras demandas para além do que está dado pela organização e pelos usuários, e gesta novas possibilidades pensadas analítica e
criticamente.

Porém, devemos considerar um importante marco histórico da profissão, o movimento de reconceituação, que inaugurou um processo na América Latina e no Brasil no sentido da
intenção de ruptura com o conservadorismo, que marcava as práticas profissionais. Portanto, o movimento de reconceituação se estabelece a partir de duas perspectivas distintas na
construção do exercício profissional: a perspectiva conservadora e a perspectiva crítica.

A perspectiva conservadora da profissão é fundamentada nas correntes teóricas do positivismo e funcionalismo, reforçando o controle e a legitimação do poder dominante, que
estava estreitamente ligado naquele período à Igreja católica e à lógica do capital. Em seu campo de atuação profissional o assistente social afeto a essa perspectiva estabelece foco
na mudança comportamental e do meio social. Esse direcionamento reforça que os assistentes sociais assumam para si os objetivos institucionais, e suas práticas são fortemente
influenciadas por um caráter moralizador, de enquadramento dos usuários às regras e à representação da figura do assistente social como mero intermediário das determinações
institucionais.


A perspectiva crítica, ao contrário, reconhece a contradição entre as classes sociais e toma para si o projeto societário das classes subalternas. Articula o fazer profissional ao
reconhecimento da realidade social como parte fundamental da intervenção. Apoiada na teoria marxista do debate sobre o Serviço Social, fundamenta duas questões importantes: a
concepção do Serviço Social como trabalho e a importância do trato analítico como parte fundamental da dimensão interventiva.

Após cerca de 50 anos do movimento de reconceituação, ainda podemos identificar no exercício profissional assistentes sociais atuando sob uma ou outra perspectiva, e seus
processos de trabalho junto ao público-alvo certamente apresentam tais marcas. É preciso compreender que o exercício profissional não se dá de modo linear, mas exige de seu
conjunto de profissionais a construção de respostas indicadas pelo projeto ético-político, pelos usuários e pela realidade social, sem perder de vista que a instituição permanece como
uma arena de embates, possibilidades, mudança e de transformação.
No vídeo a seguir, a professora Nataly Barros Pereira esclarece as diferenças entre a perspectiva conservadora e a perspectiva crítica do exercício profissional.

VERIFICANDO O APRENDIZADO

MÓDULO 3

 Identificar o significado da transição do foco da prática profissional para os processos de trabalho, a partir da categorização das dimensões constitutivas da profissão
e do exercício profissional

CADEIA DE RELAÇÕES ENTRE CONDICIONANTES DA PROFISSÃO E SUAS


DIMENSÕES CONSTITUTIVAS
A fim de tratar essa temática, é preciso ter em mente que tanto os condicionantes quanto as dimensões da profissão guardam uma relação orgânica e não podem ser considerados
isoladamente sem suas interconexões. Em relação aos aspectos que condicionam o desempenho da profissão, podem-se destacar:

CONDICIONANTES INTERNOS

Aqueles que dependem do desempenho do profissional, como, por exemplo, sua capacidade de acionar estratégias e técnicas, habilidade no trato das relações humanas etc.


CONDICIONANTES EXTERNOS

Referentes às circunstâncias sociais nas quais se realiza o exercício profissional propriamente dito – por exemplo, as relações de poder institucionais, políticas sociais, os recursos
alocados para que o assistente social desenvolva suas atividades etc.

A prática profissional é vista como a atividade do assistente social na relação com os usuários, com as instituições, com os empregadores e com demais profissionais. Ao focar o
trabalho profissional como parte dos processos de trabalho, compreende-se que se organizam de acordo com as exigências econômicas e sociopolíticas do modo de produção
capitalista. Tais processos de trabalho também assumem os contornos em função das condições e relações sociais de dada conjuntura ou contexto, que estão em constante
transformação. Portanto, a transição do foco da prática profissional para os processos de trabalho implica correlacionar constantemente e de maneira crítica as diversas dimensões
constitutivas, tanto da profissão quanto do exercício profissional em si.

Santos (2013) faz interessantes esclarecimentos quanto à questão da prática profissional, concebida como partícipe dos processos de trabalho de assistentes sociais, que, por sua
vez, são atravessados complementarmente pelas dimensões teórico-metodológica, ético-política e técnico-operativa. Mas, quando falamos de dimensão, sobre o que nos referimos
exatamente?

Seguimos concordando com Santos (2013) quando traz o conceito do termo dimensão, que diz respeito às propriedades de alguma coisa, no sentido de seus pressupostos, de suas
direções, de seus princípios fundamentais.
Ao trazermos esse conceito para a profissão, pensamos nos princípios que contribuem para a concretização da profissão e que formam a base do Serviço Social: a passagem da
finalidade ideal (que está no âmbito da projeção, do planejamento e do pensamento) para a finalidade real (âmbito da efetividade da ação).

As dimensões que determinam a profissão e suas particularidades estruturam-se da seguinte forma: teórico-metodológica, técnico-operativa e ético-política. Essas dimensões
encontram-se presentes nas diferentes expressões do exercício profissional: interventiva, investigativa e formativa.

Merece destaque que as dimensões são diferentes entre si, têm finalidades e cumprem papéis diferentes, mas guardam entre si uma relação visceral (unidade na diversidade). São
distintas, mas interligadas, interdependentes e complementares. A seguir, veremos algumas considerações sobre as especificidades de cada uma das dimensões.

ESPECIFICIDADES DAS DIMENSÕES DA PROFISSÃO DE ASSISTENTE SOCIAL

Mesmo quando o assistente social não tem consciência dessas dimensões, as intencionalidades de suas ações, bem como as posições que toma no seu cotidiano profissional,
apresentam uma sustentação teórica. Do ponto de vista ético, temos a reflexão crítica sobre os valores presentes na ação humana, e se uma ação requer tomar partido, escolher um
lado ou caminho, há uma relação estabelecida entre ética e política.

 Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal

Dimensão
Fornece ao profissional, a partir do arcabouço teórico, um ângulo de leitura dos processos sociais, de compreensão do significado social da ação, uma
teórico-
explicação da dinâmica da vida social na sociedade capitalista, possibilitando a análise do real.
metodológica

Envolve o projetar da ação, em função dos valores e das finalidades do profissional, da instituição e da população usuária. É a esfera da avaliação das
Dimensão ético- consequências das ações empreendidas ou mesmo da ausência dessa avaliação de consequências, durante o assumir de posições profissionais. Os
política princípios éticos do Serviço Social estão consolidados no Código de Ética Profissional (1993), mas a dimensão ético-profissional deve também ajudar a
refletir sobre os posicionamentos éticos e morais que atravessam sua prática profissional.

Relacionada à execução do que foi planejado, tendo por base os valores, as finalidades e a análise do real. É a dimensão que mais se aproxima da
prática profissional propriamente dita e, por essa razão, expressa e contém as demais dimensões. A dimensão técnico-operativa envolve um conjunto
Dimensão
de estratégias, táticas e técnicas instrumentalizadoras da ação que efetivam o trabalho profissional e expressam determinada teoria, um método, uma
técnico-
posição política e ética, embora esse processo nem sempre seja consciente. A aplicação de tais instrumentos requer o conhecimento sobre os sujeitos
operativa
da intervenção, as relações de poder, o perfil e modo de vida dos usuários, a intencionalidade da ação, a direção social daquela ação frente à profissão
etc.

Ainda sobre a dimensão teórico-metodológica, é importante ressaltar o seu seguinte aspecto:


A DIMENSÃO TEÓRICO-METODOLÓGICA DEVE PROPICIAR A ANÁLISE DA REALIDADE SOCIAL A
PARTIR DO CONCRETO, DOS PROCESSOS SOCIAIS QUE PERMITEM CAPTURAR O SIGNIFICADO
SOCIAL DA PROFISSÃO NA SOCIEDADE CAPITALISTA E NAS PARTICULARIDADES DA FORMAÇÃO
SÓCIO-HISTÓRICA DA SOCIEDADE BRASILEIRA [...] TAL DIMENSÃO DEVE PROPICIAR A CAPTURA DAS
MEDIAÇÕES POSTAS NO REAL PARA APREENSÃO DA TOTALIDADE SOCIAL.

(TEIXEIRA, 2019)

Tão importante quanto conhecer e entender as dimensões constitutivas da profissão é apreender a importância delas em interconexão, colocadas no exercício profissional. Nesse
sentido, podemos inferir que:


[...] A RELAÇÃO ENTRE AS DIMENSÕES SE COLOCA NO EXERCÍCIO PROFISSIONAL DA SEGUINTE
FORMA: TEORIA COMO INSTRUMENTO DE ANÁLISE DO REAL, ONDE OCORRE A INTERVENÇÃO
PROFISSIONAL (DIMENSÃO TEÓRICO-METODOLÓGICA) PARA CRIAR ESTRATÉGIAS E TÁTICAS DE
INTERVENÇÃO (DIMENSÃO TÉCNICO-OPERATIVA), COMPROMETIDAS COM DETERMINADO PROJETO
PROFISSIONAL (DIMENSÃO ÉTICO-POLÍTICA).

(SANTOS, 2013)

O exercício profissional se realiza sob condições subjetivas e objetivas historicamente determinadas e se configura pela inter-relação entre as dimensões. É nessa arena que o
exercício profissional se desenrola e no qual podemos identificar, a partir dessas dimensões, as expressões constitutivas do exercício profissional, sobre as quais vamos tratar a
seguir.

EXPRESSÃO INTERVENTIVA
Quando pensamos o exercício profissional como parte do processo de trabalho do assistente social a partir da dimensão interventiva, significa fundamentalmente tratar da efetivação
das ações desenvolvidas. Compreendem a intervenção propriamente dita, que não pode ser efetivada sem o domínio das tendências teórico-metodológicas, a instrumentalidade
(instrumentos e técnicas utilizados para atingir uma finalidade previamente planejada e dirigida) e os componentes éticos e políticos norteadores da profissão. Mas, das três
dimensões, na intervenção podemos enxergar de maneira mais evidente a dimensão técnico-operativa, mesmo que isso não represente que ela seja mais importante – apenas é mais
visível nessa esfera.

DIMENSÕES DA PROFISSÃO DE ASSISTENTE SOCIAL

Tais expressões – interventiva, investigativa, formativa – não poucas vezes são também chamadas dimensões, mas aqui ligadas diretamente ao exercício profissional.

EXPRESSÃO INVESTIGATIVA
De acordo com a Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS), a dimensão investigativa tem papel fundamental na sistematização teórica e na
prática do exercício profissional, além da relevância na construção de estratégias e definição de instrumentais técnicos que fortalecem as formas de enfrentamento da desigualdade
social.

É muito importante perceber a relevância de aprofundar todas essas dimensões do exercício profissional. Um dos caminhos são os chamados grupos de trabalho (GTs).

Conforme a ABEPSS (2021), "reconhecidamente como necessários à reflexão teórica, os Grupos Temáticos de Pesquisa mostram-se como um espaço dinâmico, estimulante e efetivo
de elaboração, produção e circulação do conhecimento. Organizando-se em torno de pesquisadores da área de Serviço Social e afins, os Grupos Temáticos de Pesquisa congregam
pesquisadores para tratar de temas de relevância social, constituindo-se em núcleos capazes de disseminar informações sobre temáticas específicas, promover debates fecundos
sobre os temas de ponta do interesse profissional e das forças progressistas da sociedade".

 A situação dos presídios brasileiros é objeto de estudo do GT Ética, Direitos Humanos e Serviço Social, da ABEPSS.

É preciso compreender que a dimensão investigativa não está restrita aos trabalhos acadêmicos. Ela ocorre também no decurso da atividade profissional. Como exemplo, podemos
mencionar a incidência de determinadas solicitações pela população usuária dos serviços sociais, seu recorte de gênero, sua idade, raça e territorialidade, entre outras variáveis
sujeitas ao mapeamento e à análise. Cabe ressaltar que os dados “sozinhos” pouco falam por si; é necessário desvendar o que os apontamentos quantitativos expressam do ponto de
vista qualitativo.

EXPRESSÃO FORMATIVA
De acordo com Guerra (2012), “a dimensão formativa é referenciada nas Diretrizes Básicas da Formação Profissional de Assistentes Sociais e tem, dentre os seus princípios básicos,
a articulação orgânica entre a dimensão interventiva e a dimensão investigativa”. Para isso, é necessário que o assistente social em formação tenha um conjunto de conhecimentos,
saberes práticos e interventivos orientados para seu desenvolvimento prático-profissional, e inserção no mercado de trabalho.

Para tanto, a formação profissional requer, entre outras, as seguintes competências:

Aprendizado de habilidades voltadas à compreensão do significado social e histórico da profissão, apreendendo como ocorre na particularidade socioprofissional o contexto das
transformações societárias;
Identificação das demandas e requisições sociais, profissionais e políticas, distinguindo-as entre demandas institucionais, dos usuários e da profissão;

Formulação de respostas críticas capazes de problematizar respostas anteriores, de caráter reformista e integrador;

Capacidade de atuar na área social, identificando limites e possibilidades concretas – em programas, projetos e políticas sociais, não apenas como executor terminal, mas sim
na proposição, formulação, execução e avaliação;

Capacidade de contribuir para a organização e mobilização dos usuários;

Habilidade de condução de pesquisas, que subsidiem a formulação de indicadores, de políticas sociais e da própria intervenção profissional;

Competência para desenvolver atividades de supervisão, assessoria e consultoria frente a instituições públicas e privadas, bem como junto aos movimentos sociais, no que se
refere às políticas sociais e à garantia de direitos civis, políticos e sociais.

Ao avaliar a amplitude e complexidade das habilidades e dos conhecimentos mencionados, podemos compreender a importância da dimensão formativa, e também os riscos de um
processo de educação “aligeirado”, sem o tempo e os cuidados adequados para a apreensão, reflexão crítica e vivência dos conteúdos.

Contudo, a dimensão formativa não se restringe somente à experiência curricular de graduação e do campo de estágio, embora a vivência do estágio supervisionado seja um espaço
privilegiado da formação e do exercício profissional. É necessário que na experiência de estágio haja a capacitação de estudantes para investigar o campo, analisá-lo criticamente,
problematizar o contexto socioinstitucional e o significado sócio-histórico do trabalho profissional, a fim de desenvolver sua capacidade argumentativa e vislumbrar as estratégias de
enfrentamento e resistência.

Durante seu exercício profissional junto aos usuários, os assistentes sociais têm a incidência da dimensão formativa vivenciada na medida em que a reflexão crítica sobre os
processos de trabalho dos assistentes sociais lhes permite a aquisição de saberes, que podem se constituir em experiências de aprendizagem significativas, as quais incidem na
qualidade dos serviços prestados à população usuária, atendendo às suas necessidades sociais.

Fernandes (2008) chama esse processo de educação permanente e o aloca, acertadamente, na esfera da dimensão formativa do exercício profissional. Pereira (2019) destaca os
perfis pedagógicos da prática profissional, que se configuram na relação estreita entre formação e exercício profissional. Assim, tanto é possível ao assistente social, em seu exercício
profissional, reforçar a cultura dominante presente nas relações de exploração e alienação quanto é possível a negação dessa cultura, privilegiando os interesses das classes
trabalhadoras. Para definir esse perfil pedagógico profissional, a utilização da reflexão crítica será determinante para o estabelecimento de um ou outro viés, observado durante o
exercício profissional.

TRANSIÇÃO DO FOCO DA PRÁTICA PROFISSIONAL


A prática profissional vai muito além da reprodução imediata de uma ação, como uma “receita de bolo”.

Quando Iamamoto (2010) nos convida a transitar o foco da prática para o foco nos processos de trabalho, nos faz olhar para a prática com uma lente que se coloca sobre o exercício
profissional, que é muito mais amplo do que a mera reprodução de resposta imediata à demanda profissional posta.

Trata-se, pois, de enxergar o exercício profissional permeado pelos condicionantes internos e externos, bem como atravessado pelas dimensões que constituem a profissão e o
exercício profissional, numa relação social contraditória, que historicamente é marcada pelos projetos societários em disputa e pela tensão decorrente da luta de classes.

Agora, a especialista Nataly Barros Pereira fornece exemplos sobre as dimensões determinantes e sobre as diferentes expressões do exercício profissional na área de Serviço Social.

VERIFICANDO O APRENDIZADO
MÓDULO 4

 Identificar o conceito de totalidade em Serviço Social e como incide sobre o exercício profissional cotidiano de assistentes sociais em seus diferentes campos de
atuação

ATUAÇÃO PROFISSIONAL EM SERVIÇO SOCIAL ALÉM DA IMEDIATICIDADE


Para promover esse intento, o assistente social foca sua atuação nas diversas expressões da questão social, por meio de políticas públicas, programas, projetos e ações de caráter
socioassistencial.

O foco sobre a materialização de sua demanda maior – as múltiplas expressões da questão social – se dá no cotidiano de seu exercício profissional. O cotidiano de atuação
profissional do assistente social nas instituições e nos diversos campos sócio-ocupacionais é profundamente marcado pela lógica capitalista, que significa uma requisição frequente
por respostas rápidas, irrefletidas, imediatistas e que usualmente responsabilizam o indivíduo, somente, pela situação que está vivenciando.

Superar esse tipo de prática profissional, ainda marcada pelo viés conservador da profissão, apesar dos avanços registrados após o movimento de reconceituação do Serviço Social,
está na pauta da categoria profissional e deve, também, merecer atenção no importante período de formação profissional. Lacerda (2014) contribui com a questão da análise do
pensamento imediato, limitado pela pressão do dia a dia, ao afirmar que, por exemplo, é comum que o profissional enxergue a pobreza, mas não o processo histórico-econômico que
a instituiu. Portanto, é necessário o olhar desse profissional para além da aparência das demandas que lhe chegam.

Trata-se, portanto, de estabelecer um olhar além do aparente, do que está imediatamente posto, no sentido de romper com a superficialidade e heterogeneidade do cotidiano, que
representam um solo fértil para o que Netto (1992) abordava a respeito do sincretismo profissional: a concepção sobre o entendimento da profissão pautada sem a devida correção
teórica e metodológica.

Iamamoto (2010) destaca a importância da contribuição de Netto (1992) ao pensar a profissão, sua afirmação e seu desenvolvimento, pautada pela ausência de uma abordagem
histórico-crítica, e atribui os fundamentos desse sincretismo a três pilares:

Questão social, núcleo das demandas histórico-sociais que se apresentam à profissão;

No cotidiano, como horizonte do exercício profissional;

Na manipulação de variáveis empíricas, como modalidade específica da profissão.

Esta última perspectiva, sim, leva em consideração a totalidade das relações sociais, não apenas e tão somente a aparência do fenômeno social que é posto para atuação
profissional do assistente social, traduzido em expressões da questão social, no seu campo de atuação socioinstitucional.

É interessante perceber, nesse contexto de atuação profissional do assistente social, os riscos do imediatismo de respostas profissionais não pensadas e aprofundadas, por meio da
contribuição de Guerra (2012) sobre a concepção equivocada acerca da profissão. Essa concepção consistiria em ver a profissão como um conjunto de técnicas que se destina a
solucionar problemas imediatos no sentido de administrar conflitos, adaptar indivíduos ao meio e construir uma sociabilidade adequada às necessidades e aos interesses da ordem
burguesa.

Essa autora se debruça sobre a análise do exercício profissional, configurado pela articulação de dimensões e que se realiza sob condições objetivas e subjetivas historicamente
determinadas, sobre as quais se estabelecem a necessidade da profissão responder às demandas da sociedade por meio de requisições socioprofissionais e políticas, delimitadas
pela correlação de forças sociais que expressam os diversos projetos de sociedade e acabam por se refletir nos projetos profissionais.

O exercício profissional de assistentes sociais incide sobre o cotidiano das classes sociais na busca de sua modificação, ainda que em caráter emergencial e imediato. Assim, é
possível perceber a funcionalidade dessa prática profissional no padrão de produção e reprodução social, tendo o assistente social consciência ou não dessa dinâmica.

Estamos aqui tratando de uma profissão eminentemente interventiva; contudo, a profissão não se resume apenas ao seu caráter interventivo. Para uma melhor consolidação das
bases sobre as quais deve se assentar o exercício profissional, é preciso resgatar a natureza teórica e investigativa da atuação profissional, de modo que o Serviço Social tem se
apoiado nas Ciências Sociais para daí retirar e reformular seus modos de operar.

Essa medida necessita de atenção, pois essa apropriação se dá, por vezes, com o apoio de referências teóricas ecléticas, com o argumento de que esse é o caminho para dar conta
da complexidade e do sincretismo da realidade.

BREVE ANÁLISE SOBRE ECLETISMO E SINCRETISMO PROFISSIONAL


Por ecletismo podemos compreender a atitude teórica de tentar promover o diálogo entre diversas correntes de pensamento que não são afins, que não apresentam uma
compatibilidade de ideias e pressupostos, como tentar unir marxismo e positivismo em uma mesma análise, visto que são teorias com bases de pensamento opostas entre si.

Tal ação acarreta uma visão superficial e subjetiva da realidade social, mistificando-a e assentando a visão sobre essa realidade num consenso equivocado entre as ideias, sem a
coerência devida.

Tendo referenciado o ecletismo, podemos compreender o sincretismo como um extrato conservador e eclético que perpassa a profissão desde a sua origem. É a relação entre o
Serviço Social e o conservadorismo burguês.

Segundo Netto (1992), há na profissão o registro do sincretismo teórico-prático e o político-ideológico, que se efetivam na atuação profissional tanto no campo da execução terminal
das políticas públicas quanto na forma de conceber a profissão e no direcionamento político escolhido pelo profissional em seu exercício.

Isso aparece com mais nitidez no exercício profissional quando vemos a tentativa de adequar diferentes modelos de intervenção no trato das expressões da questão social, sofrendo
a forte influência da lógica e dos valores próprios do capitalismo, presentes na profissão desde sua origem (cabe registrar a influência europeia e norte-americana na constituição da
profissão).

Esse viés conservador, presente desde a origem da profissão, gradualmente se atualiza até alcançar as formas contemporâneas do exercício profissional, na medida em que
podemos observar o avanço de forças conservadoras em disputa do projeto profissional, em relação à tradição marxista no Serviço Social, presente especialmente após o movimento
de reconceituação profissional.
No sentido oposto ao ecletismo, temos outra categoria, chamada de pluralismo. Enquanto o ecletismo busca unir correntes teóricas incompatíveis, o pluralismo faz o movimento
inverso, no sentido de buscar a união de teorias compatíveis para melhor explicação dos fenômenos sociais (indicados pelas expressões da questão social) e, de modo mais
abrangente, da própria realidade social onde assistentes sociais, usuários, Estado e sociedade como um todo estão inseridos.

Como vimos, não é possível compatibilizar os pressupostos teóricos do marxismo e do positivismo, sob pena de incorrer em ecletismo. Porém, ao realizarmos aproximações teóricas
possíveis, sustentadas nos pressupostos do marxismo e das categorias gramscianas, por exemplo, é possível a compatibilidade através do pluralismo.

TOTALIDADE E SERVIÇO SOCIAL


Quando autores de conceito do Serviço Social se referem à necessidade de perseguir a totalidade no exercício profissional, o que querem nos dizer com isso, afinal? Qual o convite
que nos fazem à reflexão, que atende não só à esfera da formação profissional, mas também à da materialização do exercício profissional nos diversos campos de atuação
ocupacional da profissão?

Totalidade, aqui, surge como uma categoria presente em Marx e Lukács e sobre a qual Netto (1992) se apoia para pensar a atuação profissional de assistentes sociais pautada no
contexto que integra os diversos fatos da vida social numa totalidade, que é o conhecimento dos fatos se tornando possível como conhecimento da realidade. Essa perspectiva vai
além de considerar os fatos isoladamente e depois montá-los como um quebra-cabeça sem mediação da relação que guardam entre si. A ênfase, pelo contrário, é dada justamente na
relação entre o fato concreto e sua historicidade política, econômica, social e ideológica.

Quando os conhecimentos e valores são reduzidos ao fazer profissional imediato do assistente social, há uma tendência de torná-los reféns da razão instrumental, ou seja, o uso de
instrumentos como visitas domiciliares, entrevistas, pareceres e relatórios como aplicação de uma “receita de bolo”, sem qualquer mediação crítica que apreenda a totalidade dos
elementos que constituem aquela determinada situação social sobre a qual o assistente social esteja atuando.

Usando novamente um exemplo presente em Lacerda (2014), compreender a natureza da necessidade a ser atendida pelo serviço no qual o assistente social atua, ou mesmo
compreender a natureza do trabalho que executa, é fundamental para os resultados obtidos.

Vivemos um processo de individualização do social e naturalização da precariedade da vida do trabalhador. Abandonamos, portanto, a perspectiva de totalidade ao parcelarmos e
fragmentarmos o sujeito – a criança, a mulher, o desempregado etc., não a classe trabalhadora explorada.

Além de perdermos a perspectiva de totalidade, reforçamos o usuário passivo de serviços e benefícios, em vez de sujeitos capazes de refletir sobre suas realidades com o horizonte
da emancipação humana.

Outra visão parcial da realidade social e que não identifica a perspectiva de análise social pela via da totalidade se dá durante o atendimento “na ponta”, junto aos usuários. Imagine
um assistente social atendendo a uma situação relacionada a adolescentes em medida socioeducativa.

 Ato contra a redução da maioridade penal (2015).

Além das providências imediatas e legais que precisam ser adotadas nesse caso, é necessário também, para uma intervenção profissional qualificada, apreender o possível
envolvimento com o tráfico de drogas, por exemplo, para além de uma abordagem julgadora ou psicologizante. É preciso considerar na totalidade toda a gama de questões de ordem
material objetiva desses adolescentes, suas faltas de acesso aos mínimos sociais, a falta de apoio material e estrutural no que concerne à educação, segurança, alimentação, e todo
o restante necessário para seu desenvolvimento como sujeito na sociedade, pleno de possibilidades.

Contudo, se o assistente social restringe seu campo de visão, atuando apenas sobre a demanda imediata, a aplicação terminal da política pública na qual aquele conjunto de usuários
se aloca pelo Estado, além de empobrecer sua possibilidade de atuação, tende também a adotar um viés moralizador dos costumes, atribuindo ao adolescente do exemplo uma falta
de caráter, responsabilidade ou patologia que o leva a ser assim e adotar esse comportamento.

Nesse exemplo prático, que poderia ser estendido para qualquer campo de atuação do Serviço Social, como saúde, educação, assistência, empresa, sociojurídico etc., podemos
enxergar claramente a falta que faz considerar a totalidade na apreensão da realidade social e dos sujeitos que demandam a ação profissional de assistentes sociais.

CAMINHOS DE SUPERAÇÃO
Para finalizar esse diálogo sobre totalidade e Serviço Social, diante de tudo que foi exposto, resta a indagação:

QUAIS SÃO OS CAMINHOS POSSÍVEIS DE SUPERAÇÃO DAS FORMAS MAIS ARCAICAS E


CONSERVADORAS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL, REEDITADAS NA CONTEMPORANEIDADE?
Uma dessas possibilidades é buscar a compreensão sobre como a reprodução do capital permeia as várias dimensões e expressões da vida em sociedade, ou como dizem Iamamoto
e Carvalho (1991): apreender melhor a dimensão de totalidade do processo de produção e reprodução das relações sociais. Trata-se, pois, de entender que a lei geral de acumulação
supõe a acumulação de riqueza, monopolizada por uma parte da sociedade – a classe capitalista –, inseparável da acumulação da miséria e da pauperização daqueles que produzem
a riqueza como riqueza alheia, como poder que os domina – enfim, como capital. Dessa forma, a reprodução ampliada do capital supõe o poder da classe capitalista quanto à
apropriação da riqueza. No outro extremo, a reprodução ampliada da pobreza da classe trabalhadora, configurando o antagonismo de interesses que caracteriza a luta de classes,
gerador de tensões que se espelham em toda a sociedade, portanto, não é diferente nos espaços sócio-ocupacionais em que atuam os assistentes sociais.

Reside justamente na luta de classes a possibilidade transgressora no interior das políticas sociais. Por um lado, as políticas sociais servem ao capital para produzir a complexa
coesão social, no sentido de produzir consenso e aparente atendimento sem conflitos das necessidades da população. Por outro lado, a identificação e a tomada de consciência das
contradições estruturais permitem ao Serviço Social desenvolver seu exercício profissional vinculado ao compromisso com a emancipação humana, o que requer novas formas de
exercício profissional, tratando os sujeitos como partícipes ativos do processo e não meros receptores das ações que o Estado promove.

Agora, a especialista Nataly Barros Pereira aprofunda, mediante exemplos, as noções de ecletismo e sincretismo no âmbito do exercício profissional do assistente social.

VERIFICANDO O APRENDIZADO

CONCLUSÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Traçamos uma longa e bela jornada ao abordar o Serviço Social e os processos de trabalho. Começamos compreendendo o próprio conceito de trabalho, no contexto de modo de
produção capitalista, na ótica do método histórico dialético. E ali também vimos o processo de construção histórica do Serviço Social, com os objetivos da profissão.

E exatamente ao conhecermos um pouco mais a profissão, e os elementos constitutivos de seu exercício, é que identificamos como há dimensões e expressões da formação e
prática do profissional de Serviço Social.

Finalizamos o estudo mostrando como essa atuação profissional está longe de possuir uma única vertente, cujo principal elemento é a percepção de que é necessário ter uma visão
integral dos fatos que constituem a realidade social e, mais ainda, valorizar a relação que esses fatos mantêm entre si, tendo a certeza das forças sociais, políticas, econômicas e
ideológicas que historicamente os constituíram.

Há, portanto, muitos caminhos ainda a serem percorridos! Tais desafios fazem e farão dessa jornada algo ainda mais fascinante.

 PODCAST
Agora, a especialista Nataly Barros Pereira encerra o tema comentando a necessidade de formação permanente do profissional da área de serviço social.

AVALIAÇÃO DO TEMA:

REFERÊNCIAS
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ENSINO E PESQUISA EM SERVIÇO SOCIAL – ABEPSS; CENTRO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE BRASÍLIA – CEAD/UnB. O processo de
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IAMAMOTO, M. V. O Serviço Social na contemporaneidade: trabalho e formação profissional. 13. ed. São Paulo: Cortez, 2007.

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IAMAMOTO, M. V.; CARVALHO, R. Relações sociais e Serviço Social no Brasil: esboço de uma interpretação histórico-metodológica. 8. ed. São Paulo: Cortez; Lima, Peru:
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LACERDA, L. Exercício profissional do assistente social. In: Serviço Social e Sociedade, São Paulo, n. 117, p. 22-44, 2014.

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Londrina, v. 12, n. 1, 2009.

EXPLORE+
Além das indicações realizadas ao longo do texto, é importante que você conheça:

Lei nº 8.662/93 - Código de Ética do Assistente Social, que dispõe sobre a profissão de assistente social, regulamentando a profissão.

Diretrizes Gerais para o Serviço Social, definidas a partir da XXVIII Convenção Nacional da Associação Brasileira de Ensino de Serviço Social - ABESS, ocorrida em Londrina
- PR, em outubro de 1993.

Conselho Federal de Serviço Social (CFESS), que, além de documentação e legislação referente ao exercício da profissão, ainda traz informações sobre eventos
acadêmicos, publicações e campanhas relacionada ao Serviço Social.

Sobre as categorias gramscianas, uma boa percepção está na tese de doutorado de Marcos Antonio Correia (defendida na Universidade Federal do Paraná – UFPR, em 2015)
sob o título A influência do pensamento gramsciano na geografia crítica escolar brasileira. Apesar de estar ligado ao programa Ciências da Terra, apresenta uma visão
bem peculiar desse conceito sociopolítico.

CONTEUDISTA
Isabel Cristina Silva Marques Paltrinieri

 CURRÍCULO LATTES

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