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Breve ensaio sobre as influências dos pensamentos econô micos presentes na histó ria

brasileira na Constituiçã o Federal

Por: Victor Augusto Machado de Freitas

Durante a história brasileira, viu-se surgir diversos pensadores que adentraram nos debates econômicos. Alguns
importaram do exterior tais debates e ideias, e outros criaram suas próprias teorias e soluções para problemas de
seu tempo. Pode-se citar e enumerar como debates e pensamentos importantes na história brasileira o debate
entre Abertura Comercial x Protecionismo; Escravismo X Abolicionismo; Papelistas x Metalistas; Agraristas x
Industrialistas; as ideias de Caio Prado Júnior e o "Sentido da Colonização"; Roberto Simonsen x Eugenio Gudin e o
debate sobre o Planejamento Estatal; Modelo primário-exportador x Industrialização dirigida pelo Estado e o
debate entre Desenvolvimentismo Nacionalista x Desenvolvimentismo Não-Nacionalista (representado por Celso
Furtado e Roberto Campos, respectivamente).

Tais debates e ideias ecoam até os dias de hoje ao passo que observa-se que muitas das questões levantadas ainda
não tiveram “ganhadores” e possuem adeptos de ambos os lados. Entretanto, sua influência não limita-se ao meio
acadêmico e às revistas. Vê-se marcas de cada pensamento e debate apresentado até mesmo na Constituição
Federal de 1988, a qual é responsável por guiar a nação. Nela, encontram-se até mesmo lados opostos do mesmo
debate, o que mostra uma tendência de se harmonizar idéias opostas, buscando separar os pontos positivos de
ambos, mas tal tendência não é o foco deste ensaio. Antes de prosseguir para a conclusão do texto presente, segue
abaixo alguns exemplos do que foi dito até agora:

Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:

I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;

Aqui, vê-se um pensamento abolicionista, o qual foi defendido como atitude fundamental para o desenvolvimento
brasileiro por pensadores como José Bonifácio, José da Silva Lisboa e Roberto Schwarz. Estes iam contra outros
como José de Alencar, que ainda defendia a escravidão.

II - garantir o desenvolvimento nacional;

Todos os envolvidos nos debates econômicos visavam o desenvolvimento nacional, a diferença era o como
pensavam isso. O fato desse desenvolvimento ser matéria da Constituição Federal, mostra a influência dos
pensamentos que pregavam a atuação do Estado para esse desenvolvimento. Como exemplo disso temos: Roberto
Simonsen (1889-1948) e seu pensamento sobre o planejamento estatal; Raúl Prebisch (1901 – 1986) e a CEPAL
(1948) e os desenvolvimentistas nacionalistas ou não-nacionalistas (ambos concordavam com a Intervenção
Estatal), como Celso Furtado e Roberto Campos, respectivamente.

III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais;

Dentre todos os pensadores que sonharam com algum meio de se desenvolver o país, mesmo que muitas vezes
discordantes; excetuando-se os defensores da escravidão, pode-se destacar, como aqueles a quem mais
diretamente se relacionam o proposto pelo artigo, Caio Prado Júnior (1907 – 1990) – pensador que trouxe a ideia de
um “sentido” que norteou a história brasileira, sendo este a dependência aos interesses externos - e Celso Furtado
que, representando os desenvolvimentistas não-nacionalistas, segue a mesma linha do anterior, pregando a fuga da
dependência ao mercado externo (motivo pelo qual os desenvolvimentistas não-nacionalistas eram contrários ao
uso de capital externo), desenvolvendo-se um mercado interno forte. Tal solução só ocorreria com a possibilidade
de consumo por parte de todas as camadas sociais. Além disso, Caio Prado Júnior também sugere a afirmação dos
direitos da população (vistos no artigo 6º da Constituição).

Art. 173, § 4º - lei reprimirá o abuso do poder econômico que vise à dominação dos mercados, à eliminação da
concorrência e ao aumento arbitrário dos lucros

Observa-se neste texto, a junção de ideais liberais com os intervencionistas. No Brasil, pode-se destacar como
pensador liberal José da Silva Lisboa (Visconde de Cairu) que inspirou-se em Adam Smith, defendendo o livre-
comércio.

Art. 174.

§ 1º A lei estabelecerá as diretrizes e bases do planejamento do desenvolvimento nacional equilibrado, o qual


incorporará e compatibilizará os planos nacionais e regionais de desenvolvimento

A partir de tal texto, pode-se trazer a contraposição entre os desenvolvimentistas nacionalistas e os não-
nacionalistas. A priori, vê-se a diferença na questão da aceitação ou recusa ao uso de recursos externos, como visto
através do Art 3º. Além disso, vê-se como diferença a questão do como se faria o planejamento estatal. Um
defende um planejamento global (visto na frase “planos nacionais”) enquanto o outro defende um planejamento
seccional, visando criar “pontos germinativos” para inovações tecnológicas (visto na frase “planos ... regionais”).

O que se pretende apontar com tais fatos é a importância de se valorizar a educação e o meio acadêmico brasileiro.
Hodiernamente, vive-se um período de desvalorização das mentes brasileiras e de sua educação (em especial o
ensino superior e as pesquisas). Tal realidade pode ser vista tanto no pensamento popular de que se alguém “só
estuda”, esse alguém “não faz nada”, quanto nos constantes cortes de verbas destinadas ao ensino superior. O
assunto é extenso e não cabe no espaço presente, entretanto, o texto aqui presente pode ter como conclusão -
baseando-se no histórico dos pensadores brasileiros, dos debates que estes travaram e nas grandes influências que
estes têm ainda hoje – a necessidade de se voltar a valorizar e produzir debates e teorias nacionais.

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