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UFMS – CPTL

HISTÓRIA – LICENCIATURA

Docente: Prof. Dr.: Vitor Wagner Neto de Oliveira


Discente: Matheus Medeiros Piquera

FICHAMENTO
IANNI, Octávio. O colapso do populismo no Brasil. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 1988.
p.7-11 • “Um país subdesenvolvido somente ingressa na era da
civilização industrial quando alcança a autonomia política e
econômica. E a autonomia somente ocorre mediante a ruptura
político-econômica com a sociedade tradicional e com o sistema
internacional dominante.” (p.7)
• “O desenvolvimento econômico, social e político do Brasil,
simbolizado na industrialização acelerada, foi o resultado de uma
seqüência de rompimentos políticos e econômicos internos e
externos. Grosso modo, ocorreram entre a Primeira Guerra
Mundial e o Golpe de Estado de 1964. A democratização das
relações políticas e sociais, a expansão do sistema educacional, a
conquista de direitos políticos e benefícios sociais, por parte das
classes média e operária, inclusive em certas regiões agrícolas,
além de outras transformações institucionais importantes, foram
a conseqüência e o componente da ruptura político-econômica
ocorrida nessa época.” (p.8)
• “A época da transição para uma economia industrial no Brasil,
assinalando essa etapa crucial do desenvolvimento, pode ser
simbolizada pela política de massas, como padrão de
organização política e sustentação do nôvo estilo de poder. A
política de massas — portanto, diferente da política de partidos
— é o fundamento da democracia populista, que se organizou
paulatinamente nas décadas que antecederam a mudança
repentina ocorrida a partir do Golpe de Estado de l.° de abril de
1964. Em consequência da nova composição do poder,
característica do padrão getuliano de ação política, floresceram
as atividades políticas e culturais, criando-se uma cultura urbana
diferente e mais autenticamente nacional. Ao mesmo tempo,
desenvolveram-se contradições econômicas, políticas e sociais,
criando-se as organizações políticas de esquerda.” (p.9)
• “O desenvolvimento econômico-social no Brasil, baseado no
nacionalismo econômico, na luta por uma política externa
independente, na política de massas e, ao mesmo tempo, em
compromissos crescentes com o capitalismo internacional, foi
interrompido e conduzido para outra direção, por várias razões.
Em um plano econômico, o mecanismo básico de transição da
política de substituição de importações à política de associação
com capitais estrangeiros apoiou-se em processos tais como:
Primeiro, a deterioração das relações de intercâmbio ocorre ao
mesmo tempo que surge a necessidade de evoluir para uma
industrialização de alto nível técnico e organizatório, para
competir com os outros centros de produção, em plano
internacional.” (p.10)
• “[...]o progresso econômico esteve em vias de conduzir o Brasil
à condição de uma potência independente, com ascendência
sobre a América Latina e a África. Segundo, a política de massas
e o nacionalismo esquerdizante começavam a ameaçar o poder
político burguês. Terceiro, os Estados Unidos da América do
Norte assumiram plenamente a liderança do mundo capitalista e
acertaram uma espécie de “Tratado de Tordesilhas”, um
compromisso tácito com a União Soviética, ficando a América
Latina sob sua égide.” (p.10-11)
• “O Golpe de Estado de l.° de abril de 1964 assinala a transição
efetiva para o modelo de desenvolvimento econômico associado.
Implica na combinação e reagrupamento de empresas brasileiras
e estrangeiras, com a formulação de uma nova concepção de
interdependência econômica, política, cultural e militar, na
América Latina e com os Estados Unidos.” (p.11)
p.53-67 • “No jogo entre os diferentes grupos e classes, sociais, durante
cinquenta anos, constatam se basicamente quatro modelos de
desenvolvimento e organização da economia brasileira.” (p.53)
• “O mais antigo e ao mesmo tempo o mais conservador e o modelo
exportador.” (p.54)
• “Em seguida, e em decorrência da inadequação do padrão
exportador para atender às exigências crescentes e multiplicadas
da economia e da sociedade nacionais, constitui-se o modelo
substituição de importações. [...] Esse ê o modelo getuliano.” (.54)
• “constitui-se o modelo de desenvolvimento e organização da
economia que preconiza a associação de capitais e interesses
políticos e militares nacionais e estrangeiros.” (p.54)
• “E a sua implantação exige a liquidação da democracia populista,
como estrutura política nacional, tanto quanto a destruição da
ideologia e prática da doutrina de independência econômica e
política.” (p.55)
• “Em verdade, foi com base no nacionalismo desenvolvimentista.
como núcleo ideológico da política de massas — em que s£
envolvem civis e. militares, liberais e esquerdistas, assalariados e
estudantes universitários” (p.56)
• “Por todas essas razões, predomina uma consciência singular, no
proletariado urbano e industrial. A composição heterogênea e a
formação recente, associadas às exigências da política de massas
conduzida por outros grupos sociais, favorecem a criação e a
persistência de uma consciência de mobilidade.” (p.58)
• “O regime do salário mínimo, iniciado em 1940, e as conquistas
consubstanciadas na Consolidação das 1 eis do Trabalho, posta em
vigência em 1945, tiveram o objetivo — entre outros — de
preservar a classe oneraria de uma pauperização drástica, ao
mesmo tempo, destinavam-se a manter as relações de produção
em conformidade com as exigências do desenvolvimento
econômico.” (.59)
• “Em âmbito mais largo, foi a democracia populista que propiciou
a conciliação de interesses em benefício da industrialização e em
nome do desenvolvimento nacionalista.” (p.59)
• “Em certo sentido, existe uma “doutrina da chantagem”
subjacente â maneira pela qual o padrão getuliano de
desenvolvimento econômico foi posto em prática no Brasil. Isto é,
jogava-se com as condições das outras nações, relativamente ao
Brasil, procurando obter melhores condições econômicas e
políticas, na defesa de uma política econômica nacionalista. Já foi
dito que o governo de Getúlio Vargas conseguiu a instalação da
Usina Siderúrgica de Volta Redonda (iniciada em 1943) devido a
um jogo hábil com os Estados Unidos da América do Norte e a
Alemanha. Enquanto os Estados Unidos desejavam a adesão do
Brasil contra as nações do Lixo, a Alemanha pretendia a
neutralidade da nação sulamericana.” (p.62)
• “Essas tensões se agravam com o desenrolar da política de massas
e do programa de industrialização, bem como de criação de novas
condições institucionais para o desenvolvimento econômico
independente. Em 1953, Vargas sanciona a lei que cria a empresa
estatal para exploração do petróleo nacional, a Petrobrás. Em
seguida, agrava-se ainda mais a crise política.” (p.63)
• “O governo Juscelino Kubitschek de Oliveira foi um
desdobramento singular dos componentes políticos e econômicas
implicados 11a crise que liquidou o governo Getúlio Vargas. Não
foi possível instalar uma ditadura, para liquidar com a democracia
populista de uma vez. Entretanto, o governo de Juscelino
Kubitschek de Oliveira foi forçado a conciliar: manteve e apoiou-
se 11a política de massa, mas realizou um programa de
desenvolvimento econômico baseado na internacionalização dos
novos investimentos.” (p.65)
p.102-111 • “Ao longo das etapas da industrialização, o povo brasileiro
acumulou experiências políticas fundamentais e elaborou uma
nova interpretação da própria história. Ao rever as suas relações
com os países dominantes e com as próprias experiências
nacionais, pouco a pouco formulou uma nova imagem de si. De
maneira desordenada, às vezes, e de forma sistemática, em outras
ocasiões, perseguiu alguns dos seus dilemas mais importantes; e
deu-lhes alguma solução. Em boa parte, conseguiu construir urna
visão dinâmica das condições do progresso político, econômico,
social e cultural.” (p.102)
• “A política externa independente, por exemplo, formulada e posta
em prática por Vargas e desenvolvida por Jânio Quadros, San
Tiago Dantas e João Goulart beneficiou-se amplamente da
atuação de vanguarda e do respaldo popular garantidos pela
esquerda.” (p.103)
• “Em outro plano, mas na mesma direção, as lideranças burguesas
comprometidas taticamente com a esquerda apelavam
freqüentemente para o “povo”, as “massas”, os “trabalhadores”,
as “classes laboriosas”, os “humildes”, etc. Reconhecem que o
projeto de desenvolvimento econômico nacional, associado com
uma política externa independente — como seu corolário
inevitável — não pode realizar-se a não ser com o
aprofundamento das rupturas estruturais internas e externas.”
(p.104)
• “Portanto, a democracia populista tinha diante de si uma única
opção: continuar a revolução brasileira, realizar nova etapa do
modelo getuliano. Tratava-se de afirmar-se, peio aprofundamento
das rupturas estruturais internas e externas. Tornava-se necessário
e urgente entrar em nova fase de realização das suas
“virtualidades". Impunha-se efetivar a política externa
independente, apressar a modernização da sociedade agrária,
engajar novos contingentes da população brasileira no processo
político, favorecer o debate científico e político sobre a realidade
nacional, estimular o florescimento dos movimentos artísticos
inspirados na sociedade nacional, etc.” (p.106)
• “Entretanto, o modelo getuliano só poderia ser negado sob duas
formas radicais: a revolução socialista ou a reintegração plena no
capitalismo mundial. Como a democracia populista não foi capaz
de formular e implantar uma interpretação de conjunto,
relativamente às exigências inerentes à sua dinâmica interna,
colocaram-se as alternativas. E essas alternativas apresentaram-se
como necessárias e inevitáveis, em decorrência do fato de que
estavam inseridas internamente no padrão getuliano. Elas também
faziam parte dos elementos que entravam na caracterização do
contorno e da substância desse modelo.” (p.107)
• “De outro lado, ainda, no interior do próprio modelo getuliano
constituíra-se o modelo internacionalista. A deposição de Vargas,
em 1945, a política cambial no Governo Eurico Gaspar Dutra, em
1946-50, as pressões que conduzem o Presidente Vargas ao
suicídio, em 1954, são acontecimentos que denotam essa
tendência. O mesmo se pode dizer de uma outra sequência de fatos
— tais como as análises e proposições das Missões Cooke (1942)
e Abbink (1949) — revelando o mesmo sentido geral. O Programa
de Metas do Governo Juscelino Kubitschek de Oliveira (1956-60)
demonstra perfeitamente a elaboração prática do modelo de
associação internacionalista, como política de expansão da
economia brasileira.” (p.108)
• “Esse contexto de possibilidades abertas torna-se ainda mais
concreto quando focalizamos a situação econômica. A crise de
conjuntura, em que a economia se vê lançada, em particular a
partir de 1962, é um elemento básico do todo. Ela vem
acrescentar-se à crise estrutural inerente à forma pela qual se
estava procurando conciliar o padrão agrário exportador com a
política de desenvolvimento nacionalista e a associação cada vez
mais ampla com empresas e organizações internacionais.” (p.109)
• “Assim, a importância e a urgência de uma decisão se evidenciam,
no quadro das condições existentes e das possibilidades abertas.
Configura-se e executa-se o golpe de Estado de 1964. Em boa
parte, trata-se de uma operação político-militar destinada a limpar
o terreno para a execução mais ampla e eficaz — isto é ortodoxa
— do modelo internacionalista. A crise econômica e democracia
populista revelaram-se incompatíveis. Por essa razão, forças
políticas “latentes” assumem primazia sobre aquelas
predominantes anteriormente. No primeiro instante, aparece o
poder militar. Uma das bases de manobra, no entanto, é a classe
média. Assim, mais uma vez, a solução política da crise brasileira
resulta da dependência estrutural.” (p.110-111)

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