Você está na página 1de 13

VIZENTINI, Paulo G. Fagundes.

Quadros e a formulação da Política


Externa Independente. In:___. Relações Internacionais e
Desenvolvimento: O nacionalismo e a política externa independente. Rio
de Janeiro: Vozes, 1995.

INTRODUÇÃO:

- A política externa brasileira sofreu alterações importantes com a


formulação da PEI;
- “Esta não representava uma inovação completa, na medida em que se
estruturava como continuidade e aprofundamento da barganha nacionalista
de Vargas e Kubitschek e da política externa dirigida para apoiar o
desenvolvimento industrial. No entanto, a PEI era estruturada num
conjunto de princípios articulados, extrapolava o âmbito regional e abria
perspectiva mundiais, ultrapassava as vacilações dos governos anteriores e
dava à política externa um perfil e um lugar de destaque na vida nacional.”
(p.177);
- Fatores: novo perfil da sociedade brasileira; crise socioeconômica interna;
dificuldades externas da economia e acelerada mudança do contexto
mundial e regional;
-“As tensões que marcaram o curto governo Quadros impediram que a
maior parte das questões propostas pela PEI fossem implementadas (...). De
qualquer forma, coube ao seu governo lançar as bases de uma experiência
inédita na política externa brasileira, coroando um processo iniciado com
limitações pelos governos anteriores.” (p. 178);

BASES INTERNAS DA POLÍTICA EXTERNA INDEPENDENTE:

- Em 1961 o Brasil atingiu a população de 72 milhões de habitantes, 20


milhões a mais do que no período do segundo governo Vargas, ou seja, sete
anos antes. A urbanização se intensificou e continuaria a aumentar em
virtude do êxodo no campo, e a produção da indústria ultrapassou a
produção agrícola em termos de valores. As classes médias, a burguesia e o
operariado consolidaram-se no meio urbano e se articularam politicamente,
passando a exigir cada vez mais o direito de participação política, o que
exigiu dos partidos políticos, exercer uma política de massas;
- “O processo de urbanização crescente propiciava a mobilização popular, a
que os partidos deveriam atender. As grandes medidas dificilmente
poderiam ser implementadas apenas por acordos de cúpula. O populismo
chegava a seu clímax com a democracia eleitoral.” (p. 178);
- A crise socioeconômica se agravou: o preço dos produtos primários de
exportação aumentou, no entanto, o volume das exportações estava aquém
do necessário, o que por outro lado, reduziu a capacidade de importação do
país; as divisas encontravam-se baixas e a remessa de capital para o
exterior aumentava a cada dia. Nesse contexto, havia um déficit geral no
balanço de pagamentos, com estimativa de déficit em Cr$ 100 bilhões de
cruzeiros em 1961. Além disso a inflação do ano anterior superou a marca
dos 30%, o dobro da média anual dos últimos anos
- Ao lado dos dados supracitados, havia também, uma crescente taxa de
desemprego; alta no custo de vida e baixa nos salários em virtude da
inflação; e a efervescência de movimentos e conflitos políticos em regiões
como o Nordeste, especialmente em virtude da situação social daquela
população;
- Jânio prometia que se eleito, resolveria toda essa situação, governando
acima de partidos. “Aos humildes prometia reforma, à classe média,
moralidade administrativa e austeridade, à burguesia, saneamento
financeiro.” (p. 179);
- A PEI agradava a esquerda e setores nacionalistas;
- Seu Ministério caracterizava-se pela heterogeneidade de grupos políticos
e com pouca representatividade;
- O Janismo se mantinha coeso em um ponto: seu caráter antigetulista;
- O aparente paradoxo estava na nomeação do titular do Ministério da
Relações Exteriores, que executaria a PEI. O nome escolhido foi do
conservador e antigetulista, Afonso Arinos de Melo Franco, político
mineiro e filiado a UDN de Minas Gerais;
- “Em março de 1961, o governo decretou uma reforma que introduziria a
“verdade cambial”, através da instrução 204 da SUMOC, que teve como
consequência imediata a desvalorização cambial, reduzia drasticamente os
gastos públicos e a emissão monetária. O resultado foi um notável aumento
do custo de vida, que era ainda acompanhado pelo congelamento de preços
e restrições ao crédito.” (p. 180);
- Projetos de lei: reforma bancária; imposto de renda; antitruste e remessa
de lucros;
- Medidas moralizantes, calcadas no caráter moralizador pequeno-burguês:
disciplinamento e sindicâncias no serviço público; regulação de trajes de
banho e jogos de azar; censura de filmes e atrações artísticas;
- Tentativa de agradar o capital internacional pela política de estabilização
financeira; os setores populares pelas reformas e a classe média pela onda
moralizadora;
- A ortodoxia liberal de Jânio na área econômica, agradou sobremaneira os
financistas internacionais, garantindo aplausos, a renegociação da dívida
brasileira e novos empréstimos do FMI, do Clube de Haia e do governo
norte-americano;
- As exportações estimuladas pela desvalorização do cruzeiro aumentaram
e “Como resultado, o déficit global do balanço de pagamentos em 1960
(US$ 410 milhões) transformou-se em um superávit de US$ 115 milhões
em 1961. (...) Na verdade (entretanto), as negociações de 1961 apenas
promoveram um alívio temporário, adiando a crise de liquidez do balanço
de pagamentos.”;
- Existência de uma oposição dialética entre as políticas externa e
interna de Jânio Quadros;
- “Uma das bases internas da PEI encontra-se no novo perfil sócio-político
brasileiro, pois a emergência das massas urbanas (e as vezes rurais) nos
quadros de uma democracia eleitoral e dentro de um modelo de
desenvolvimento industrial, que, a par das diferenças esboçadas em cada
governo, buscava apoiar-se na aliança entre trabalhadores e burguesia
nacional, punha exigências novas.” (p. 182);
- Bases internas da PEI: 1ª “(...) uma das bases internas da PEI encontra-se
na emergência das massas populares urbanas ao cenário político e na
articulação desses segmentos ao projeto de desenvolvimento, através do
nacionalismo, o que garantia certa unidade interna e aplacava as
contradições sociais mais graves, aliando o operariado e a burguesia
industrial nacional num projeto comum.” (p. 183); 2ª “(...) necessidades
externas do desenvolvimento industrial. Essas necessidades de obtenção de
divisas para importação de bens de capital, de exportação de produtos
primários com limitado escoamento, a sustentação dos preços destes
produtos, a obtenção de investimentos e tecnologias estrangeiras (...).” (p.
184);
- Os momentos de crise constituíam um fator potenciador da formulação de
uma política externa autônoma, uma vez que os conflitos só eram evitados
com crescimento econômico e distribuição de renda, o que poderia ser feito
na concepção de Quadros, pela política externa independente;

AS TRANSFORMAÇÕES DO CENÁRIO MUNDIAL:

- “A situação econômica, social e política do Brasil dava aos fatores


internos atuantes na formulação da PEI um peso importantíssimo. Mas a
acelerada e profunda transformação do cenário mundial foi decisiva tanto
para a formulação quanto para a execução da nova diplomacia brasileira.”
(p. 186);
- No conflito Leste-Oeste crescia a influência da política externa soviética e
dos demais países socialistas. O processo de desestalinização iniciado por
Krushov, a divisão do movimento comunista internacional e o
desentendimento entre Pequim e Moscou, levou a perda de hegemonia da
URSS sob a órbita socialista, além do crescente desenvolvimento
tecnológico e militar soviético gerou forte impacto no mundo capitalista e
consequentemente na Guerra Fria;
- “O campo socialista deixava de constituir apenas um “sistema
antagônico”, para tornar-se um fator adicional de complexidade do cenário
internacional, o qual não poderia mais ser reduzido ao maniqueísmo da
primeira década da Guerra Fria.” (p. 186);
- Atração do Terceiro Mundo com as possibilidades financeiras,
comerciais e tecnológicas da cooperação com os países socialistas;
- Emergência de novos polos capitalistas com a recuperação econômica de
Japão e Europa Ocidental. “A CEE passa a se constituir um polo
importante de integração capitalista, que se fortalece e se autonomiza
gradativamente dos EUA, enquanto Japão se reinsere com dinamismo na
economia mundial.” (p. 187);
- Crescimento do processo de descolonização. Ente 1960 e 1966, 26 países
se tornaram independentes. “(...) este amplo processo de emancipação afro-
asiática na passagem dos anos 50 aos 60 não foi tão “pacífico” e controlado
conforme pretendiam as metrópoles europeias (...). Além disso, os novos
países alteravam as bases da política mundial e da própria ONU, onde
ingressavam com reivindicações próprias.”(p. 188);
- Realização da Conferência dos países não-alinhados (Tito, Nasser, Nehru
e Sukharno);
- Repercussão da Revolução Cubana na América Latina e no sistema
interamericano constituído (OEA). “(...) a Revolução Cubana, resultante da
crise latino-americana, levou ao agravamento qualitativo desta e ao
surgimento de problemas inéditos nas relações hemisféricas.” (p. 192);
- Alteração dos termos da dependência nas relações com os EUA;

A IDEOLOGIA DA POLÍTICA EXTERNA INDEPENDENTE:

- “A Política Externa Independente, enquanto ideologia, surgiu a partir de


um conjunto de princípios e atitudes independentes durante a gestão Jânio
Quadros/Afonso Arinos. (...). O termo Política Externa Independente foi
cunhado por San Tiago Dantas, que sistematizou seus princípios e
aprofundou seu conteúdo.” (p. 193);
- PEI dividida em três fases: 1º - Governo Jânio Quadros; 2º - Agosto de
1961 a fins de 1962; 3º - De 1963 até o primeiro trimestre de 1964. “Os
princípios ideológicos da PEI não sofreram alterações significativas ao
longo de suas três fases. O que mudou foi a ênfase dada a cada elemento.”
(p. 194);
- A PEI constituí uma totalidade histórica, que representou um novo
momento na diplomacia brasileira, elevando a política externa a um nível
nunca antes alcançado na vida nacional;
- Durante pouco mais de três anos das gestões Jânio e Jango, houve a
sucessão de cinco Ministros das relações exteriores, sendo que nenhum
completou um ano de gestão, o que demonstra uma linha de continuidade
da PEI durante esse período, bem como o elevado grau de discussão e
debate político e social despertado pela política externa;
- O núcleo ideológico da PEI, pode ser sintetizado em cinco princípios
basilares: 1º - situado na esfera econômica, visa a ampliação do mercado
externo dos produtos primários, bem como dos manufaturados brasileiros,
por meio do relacionamento comercial com todas as nações,
independentemente de seu posicionamento ideológico no sistema
internacional, além da redução tarifária no âmbito hemisférico; 2º - também
a nível econômico, o segundo princípio, defende a formulação autônoma de
planos de desenvolvimento econômico, com a prestação e aceitação de
ajuda internacional a partir da formulação desses planos; 3º - já no âmbito
político, temos como terceiro princípio, a busca da manutenção da paz,
através da coexistência pacífica entre Estados, pela via do desarmamento
geral e progressivo; 4º - o quarto princípio, também no campo político,
propõe a não-intervenção em assuntos internos de outras nações, a
autodeterminação dos povos e a resolução de conflitos no âmbito mundial,
utilizando-se do Direito Internacional; 5º - o último princípio, diz respeito
ao apoio a emancipação dos territórios não autônomos;
- O principal eixo da PEI, foi o que mais tarde Rubens Ricupero chamaria
de “diplomacia de desenvolvimento”, ou seja, todos os fundamentos e
ações da política externa estariam voltados para a busca do
desenvolvimento nacional. Nesse sentido, temos a ampliação das relações
comerciais com todos os países, bem como o apoio ao processo de
independência dos países afro-asiáticos, possibilitaria a abertura de novos
mercados para o país, e consequentemente estimularia o desenvolvimento
econômico do Brasil;
- “Assim, a estratégia da PEI é incrementar as exportações primárias para
os países capitalistas e socialistas industrializados, para deles poder
importar técnicas de bens de capital, e de ampliar as exportações industriais
para o Terceiro Mundo recém – descolonizado, superando as limitações do
mercado interno e dando uma base econômica para a liderança política do
Brasil junto aos jovens países do Sul.” (p. 198);
- Nacionalização gradual dos lucros do capital estrangeiro. “Assim, a PEI
aceita o capital e a ajuda estrangeira, mas procura assegurar o controle
nacional dos recursos oriundos da cooperação externa, o que constituí um
avanço com relação à fase anterior.” (p. 200);
- Posicionamento de independência nos fóruns multilaterais e não
alinhamento a nenhum bloco;
- Conferência do Desarmamento em Genebra;
- “A defesa da paz, da coexistência e do desarmamento pela Política
Externa Independente objetivava, portanto, contribuir para a luta mundial
pela realocação dos colossais recursos econômicos gastos em armamentos
dentro da política de Guerra Fria, desviando-se para investimentos nos
países subdesenvolvidos. Daí a ênfase na competição pacífica entre dois
sistemas, da segurança baseada no desenvolvimento, e da conquista de
aliados pela generosidade das ofertas de cooperação econômica.” (p. 202);
- Dinâmica de aplicação do princípio de não intervenção, autodeterminação
dos povos e respeito/prevalência do direito Internacional na resolução de
conflitos nas relações internacionais;
- “O Brasil desejava o aprofundamento do processo de descolonização, por
necessidades de ampliação de sua influência política junto aos novos
países, e também para um nova esfera de atuação econômica, visando
exportar seus produtos manufaturados e contornar certos privilégios
alfandegários inerentes a situação colonial. No plano político, o país
também beneficiava-se da crescente heterogeneidade e do aumento do
número de atores das relações internacionais.” (p. 203);
- Necessidade de evitar uma intervenção americana em Cuba, a qual
precipitaria a volta da pauta político-repressiva em detrimento da
econômico-cooperativa nas relações entre os EUA e a América-Latina;
- O processo de descolonização afro-asiático criava um novo ambiente
político internacional para o Brasil se alçar como um liderança terceiro-
mundista, permitindo assim escapar de uma completa submissão da
diplomacia norte-americana. Essa nova configuração internacional, com a
presença de novos atores, também enfraquecia a efetividade da divisão
bipolar da Guerra Fria;
- “A ideologia da PEI era, portanto, uma continuadora do nacionalismo dos
governos anteriores, O nacionalismo de Jânio Quadros, principalmente,
constituía uma ideologia do fortalecimento nacional, como mostra Míriam
Limoeiro Cardoso. O nacionalismo dos anos 50 e o da PEI tinham
basicamente os mesmos objetivos internos e externos, só que a nova
situação doméstica e mundial faziam-no agora mais complexo e arrojado.
(...). Ao invés de considerar que éramos um aliado preferencial dos EUA,
Quadros mostrava claramente que sua concepção diplomática (a PEI) era
explícita e acentuadamente influenciada pelo nacionalismo gaullista, de
fortalecimento nacional dentro da Aliança Ocidental (...).” (p. 206-207);
- O Brasil deveria atuar no sistema regional e internacional como um ator
influente e de em certa medida decisivo na tomada de posição;
- “(...) os países subdesenvolvidos deveriam unir-se para fazer do conflito
Norte-Sul – e não do conflito Leste-Oeste – o tema básico do sistema
internacional. Desta forma, a PEI buscava alcançar autonomia diplomática
para o Brasil apoiando-se na nova realidade internacional, para afirmar
novas pautas e lograr uma melhor inserção no sistema mundial como mio
de assegurar o desenvolvimento econômico e o bem-estar da população.”
(p. 208);

AS RELAÇÕES EXTERIORES NO GOVERNO JÂNIO QUADROS:

- “O governo Jânio Quadros durou menos de sete meses, pautou-se por um


acentuado conservadorismo interno nos planos político e econômico, foi
marcado pela instabilidade e incerteza permanentes, por um acirrado debate
ideológico-partidário e, o que é pior, o populismo antipopulista do
carismático presidente não se apoiou em nenhum plano consistente para a
superação da crise.” (p. 210);
- A PEI revolucionou a diplomacia brasileira, seja pela postura ou
propostas, ou mesmo pelas ações empreendidas;
- Reforma do Itamaraty (já vinha sendo discutida desde 1953 no governo
Vargas e posteriormente no governo JK, sendo implementada efetivamente
por Jânio, a fim de corresponder às expectativas da nova postura
internacional do Brasil): em março houve a criação do Serviço de
Propaganda e Expansão Comercial do Brasil (SEPRO), modificando e
dinamizando os escritórios comerciais do país; em julho, a Lei 3.917/61
realizada uma ampla e modernizadora reforma no MRE. “Um das
mudanças era a separação entre órgãos de formulação política e órgãos de
administração geral e específica. (...). Foram criadas divisões específicas às
novas regiões para onde se ampliava a diplomacia brasileira.” (p. 210-211);
- Cinco secretarias: Assuntos Americanos; Assuntos da Europa Ocidental e
da África; Assuntos da Europa Orienta e da Ásia; Organismos
Internacionais; Assuntos econômicos;
- Uma das principais medidas da política externa janista, seja pela
repercussão social e política, ou ainda pela efetividade prática, foi o
reatamento de relações comerciais e diplomáticas com países do bloco
socialista, especialmente a URSS e a República Popular da China;
- A aproximação e manutenção de relações com os países socialistas foi
utilizada por outros governos como forma de barganha com os EUA. Com
a PEI, essa postura se modifica, e os países do bloco socialista passam a ter
significativa relevância. “Essa política foi concretizada com relação às
democracias populares leste-européias, sofreu vacilações com respeito à
URSS e foi apenas encaminhada com respeito à República Popular da
China. (...). Com relação ao Leste Europeu, o governo brasileiro
restabeleceu relações diplomáticas com a Hungria e a Romênia em 31 de
março de 1961; iniciou relações diplomáticas com a Bulgária na mesma
data e com a Albânia 4 dia depois.” (p. 212-213);
- Assinatura de acordos comerciais com Alemanha Oriental, Polônia e
Tchecoslováquia;
- Missão João Dantas foi enviada à Europa Oriental com assinatura de
acordos de cooperação cultural e científica, bem como comercial com
Bulgária, Iugoslávia, Roménia, Hungria, Albânia, Polônia e
Tchecoslováquia. Além disso iniciou negociações de acordos econômicos
com a República Democrática Alemã, Itália e Áustria;
- Em 1958 as exportações brasileiras para o Leste Europeu somavam US$
45,1 milhões, o que representava cerca de 3,3% do total de nossas
exportações. Em 1961 esse percentual quase dobrou, chegando a cifra de
87,3 milhões, o que significava US$ 6,3% de tudo o que o país exportava;
- Em março de 1961, o Brasil pôs fim às suas relações diplomáticas com
Lituânia, Letônia e Estônia, que há muito tempo haviam sido incorporadas
à URSS. Tal fato, portanto, sinalizava que o Brasil queria aproximar-se dos
soviéticos;
- Em maio de 1961, o Brasil envia à Moscou, uma Delegação Comercial,
chefiada por Paulo Leão de Moura, e integrada por membros do Itamaraty,
Banco do Brasil, Petrobrás, Instituto do Café e Conselho Nacional do
Petróleo. O extrato dessa visita foi a assinatura de acordos comerciais, bem
como o estabelecimento oficial de delegações comerciais permanentes no
Rio de Janeiro e em Moscou. Além disso, Quadros foi convidado à visitar à
URSS;
- Em julho de 1961, um Missão soviética de Boa Vontade, integrada por
deputados sovietes e altos membros do governo soviético, visitaram o
Brasil, sendo recebida por Jânio;
- Iuri Gagarin, cosmonauta soviético, e primeiro homem a viajar até a Lua,
foi recebido pelo presidente e condecorado com a Ordem do Cruzeiro do
Sul, maior honraria concedida pelo estado brasileiro;
- Após todos esses episódios de aproximação entre Brasil e URSS, Jânio
enviou memorando ao Ministro Afonso Arinos, ordenando que fossem
tomadas providências para o reatamento das relações diplomáticas
brasileiras com a URSS. “Quadros argumentava que o comércio era
necessário para o Brasil, que a economia soviética possuía melhores
potencialidades para a cooperação a longo prazo que outras regiões, além
do fato de que outros países, inclusive os EUA, possuíam relações coma
URSS. Tratava-se, ainda, da aplicação dos princípios de defesa da paz, da
coexistência pacífica e do desarmamento.” (p. 214);
- Em agosto, foi enviado à República Popular da China, uma missão
comercial, liderada pelo vice-presidente João Goulart e integrada por
políticos e diplomatas. Foram assinados importantes acordos comerciais
com o governo chinês;
- “O perfil das relações comerciais do Brasil com os países socialistas era,
com respeito à URSS e Leste Europeu, o mesmo que com os países
capitalistas industriais, ou seja, matérias-primas e artigos alimentares bem
industriais de capital. (...). Além disso, o campo socialista podia fornecer
trigo, petróleo e minerais estratégicos, além de empréstimos facilitados.”
(p. 215);
- O intercâmbio com essas nações era ligeiramente mais favorável ao
Brasil;
- Repercussão da aproximação do Brasil com os países do bloco socialistas,
especialmente com a possibilidade de reatamento das relações com a
URSS, que preocupavam os EUA, de que o maior país do continente
pudesse caminhar rumo ao socialismo;
- Reformismo de Kennedy com a núncio de plano de ajuda ao
desenvolvimento econômico e reformas sociais dos países da América
Latina, ficando conhecido como Aliança para o Progresso;
- O problema de Cuba passou a ter uma importância significativa nas
relações do continente. Houve uma pressão norte-americana para que o
Brasil e outros países latino-americanos se posicionassem favoravelmente
ao plano de invasão dos EUA em Cuba, com objetivo de conter o
movimento revolucionário rumo ao socialismo;
- Invasão da Baía dos Porcos em abril de 1961. “Quadros tentou expressar
em telegrama ao embaixador brasileiro na ONU o “repúdio” nacional, que
se somava ao do continente. Arinos convenceu-o a atenuar o texto, que foi
publicado manifestando “a profunda apreensão” brasileira, e apoiando a
proposta mexicana que solicitava a imediata cessação das hostilidades e a
apuração da origem das forças desembarcadas em Cuba.” (p. 218);
- “Jânio Quadros não apenas reafirmou em seus discursos os princípios de
autodeterminação e não-intervenção contidos na PEI, como buscou uma
aproximação com a América Latina frente às atitudes norte-americanas.”
(p. 218);
- Assinatura do Tratado de Uruguaiana em abril de 1961 entre Brasil e
Argentina. “Foi assinado um acordo cultura, uma declaração política e um
econômica, além de um Convênio de Amizade e Consulta.” (p. 218);
- “Sem dúvida, os termos e o contexto do Tratado de Uruguaiana são
inequívocos, afirmando a política de oposição e barganhada face aos EUA.
Visava reforçar a autonomia dos signatários, somar forças contra a
diplomacia intervencionista de Washington e encaminhar a resolução da
questão de cubana nos termos esboçados pela PEI.” (p. 219);
- A ALPRO foi lançada na Conferência de Punta Del Este, e era uma clara
resposta norte-americana aos desafios enfrentados no continente a partir da
Revolução Cubana (“Plano Castro”);
- “A ALPRO previa um investimento de cerca de US$ 20 bilhões dentro de
dez anos, para financiar programas de desenvolvimento e reforma social,
complementado com a entre-ajuda dos latino-americanos. (...). As forças de
esquerda e nacionalistas viam na ALPRO um instrumento de contra-
revolução continental e um eficaz instrumento de intromissão norte-
americano nos negócios internos dos países da América Latina.” (p. 220);
- Não assinatura da Carta de Punta Del Este por Cuba;
- Condecoração de Che Guevara e reação interna;
- Funcionamento da Associação Latino-Americana de Livre Comércio com
a ratificação do tratado de Montevideo;
- “A ALPRO relacionava-se com as demandas da OPA e da PEI, as quais
visavam a um maior apoio dos EUA ao desenvolvimento brasileiro,
solicitado em nome de todo o continente, mas de forma inconfessada,
destinados principalmente ao país “aliado” (caso da OPA) ou “líder (caso
da PEI)”. Da mesma forma, a materialização da ALALC relacionava-se aos
princípios tanto da OPA quanto da PEI. Que defendiam a expansão do
comércio e o acercamento econômico em relação à América Latina.”
(p.222);
- Diplomacia da PEI em relação ao Terceiro Mundo, especialmente nos
episódios do processo de descolonização afro-asiáticos;
- Havia uma dificuldade na política anticolonialista de Quadros, que era o
tradicional relacionamento do Brasil com Portugal;
- Em alguns territórios, a luta pró-independência foi reprimida, e os
movimento de libertação nacional evoluíram para a luta armada;
- Incidente do navio português Santa Maria. “Salazar e os pró-portugueses
do Brasil exigiam a entrega do capitão, mas Jânio concedeu asilo aos
revoltosos e, depois, devolveu o navio a Portugal. Afirmava-se, ao sabor
dos fatos, a linha proposta para a África pela PEI.” (p. 224);
- Em março foi criado o Grupo de Trabalho para a África;
- Em abril foram criadas embaixadas no Senegal, Nigéria, Guiné, Costa do
Marfim e Etiópia, além de consulados na Rodésia, Congo e Quênia;
- Criação do Instituto Brasileiro de Estudos Afro-Asiáticos a fim de
desenvolver projetos e estudos que permitissem um acercamento dos
jovens as nações africanas;
- Envio de duas missões à África (p. 225-226);
- “Além de passar a votar nos organismos internacionais contra o
colonialismo e apoiar diplomaticamente as independências afro-asiáticas, o
Brasil enviou o diplomata Araújo Castro às Conferência Neutralista do
Cairo (...).” (p. 226);
- “É interessante discutir o fato de Jânio problematizar as relações com os
EUA, ao afirmar ser impossível qualquer solidariedade entre países ricos e
pobres, e defender mesmo uma frente terceiro-mundista pelo
desenvolvimento e ação política, mas recusar a classificação de neutralista
para a PEI.” (p. 226);
- Barganha neutralista.

Você também pode gostar