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MALAN, Pedro Sampaio.

“Relações econômicas internacionais do Brasil (1945-


1964)”. In: FAUSTO, Boris (org.). O Brasil Republicano, tomo III: economia e cultura
(1930-1964). Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1997. p. 51-106.

4. O Segundo Governo Vargas e as Condições Internacionais na Primeira Metade dos


Anos 50

– Guerra da Coreia: 1950-3

– Segundo faz notar Malan, o governo dos Estados Unidos avaliava que a eleição de
Vargas para a Presidência do Brasil significaria “persistentes e agressivas demandas por
ajuda financeira e outros tipos de assistência, insistindo na contribuição brasileira
durante a guerra e ao caráter de ‘tradicional aliado’ dos EUA, mas (...) que as relações
com os EUA provavelmente não se deteriorariam com a eleição de Vargas”. Havia,
segundo sinaliza Malan, uma certa crença/percepção de que a linha de governo adotada
por Vargas podia colidir com a política estadunidense no campo das relações
internacionais, “possivelmente por razões internas, uma política socialista e
definitivamente nacionalista...”, p. 70

– “Com efeito, o primeiro ano do governo Vargas foi um ano de expectativas otimistas
quanto ao estreitamento das relações com os EUA. Os ministros João Neves da
Fontoura (Relações Exteriores) e Horário Lafer (Fazenda) eram francos partidários de
uma estreita cooperação com os norte-americanos, da qual esperavam resultasse
substancial volume de financiamentos. Como vimos, esta havia sido a expectativa –
totalmente frustrada – do governo Dutra, o qual teria enfrentado um grave desequilíbrio
nas contas externas, não fora a recuperação dos preços internacionais do café a partir de
1948 [Nota de rodapé: Entre 1940 e 1949, condições climáticas adversas haviam
estabilizado a produção e levado a uma redução líquida de estoques estimada em 16
milhões de sacas (além dos 65 milhões de sacas queimadas durante os anos 30).
Quando, em junho de 1948, o governo Dutra – preocupado com a inflação – decidiu que
não desvalorizaria e comunicou ao FMI que a paridade oficial do cruzeiro em relação ao
dólar seria a mesma de 1939 (18,50), os importadores de café que estavam aguardando
uma desvalorização desde a expiração, em 1848, do Acordo Interamericano do Café,
lançaram-se ao mercado e causaram uma surpreendente elevação dos preços em um
prazo extremamente curto para um mercado que estivera, por quase três décadas, sujeito
a superprodução. Entre 1948 e 1950, o preço do café aumentou em 125%, elevando-se
de 23 para 51 centavos de dólar por libra-peso], p. 70

– e o Plano Lafer de Recuperação econômica?

– Malan chama a atenção para o fato de que a política econômica e as relações


internacionais do Brasil com o governo Vargas teriam que de alguma forma refletir suas
novas bases sociais de sustentação, bem como a própria composição – crescentemente
urbana – da chamada sociedade civil brasileira, p. 71

– É bom eu me atentar para a maneira com que Campos deu respostas à “dimensão
nacional-populista” de Vargas (conceito de Carlos Estevam Martins), p. 71

– “O segundo governo Vargas foi marcado por divergências – no âmbito do próprio


Poder Executivo – quanto à forma e à extensão tanto da participação externa quanto da
intervenção do setor público na vida econômica. Tais divergências foram exacerbadas
ideologicamente por um duplo fermento: no plano interno, pelas tensões entre a corrente
nacional-populista e as seculares bases sociais de sustentação do Estado brasileiro
enquanto Pacto do Poder. No plano externo, pelo agravamento considerável da Guerra
Fria, pelos graves efeitos do conflito coreano sobre as contas externas do Brasil, pela
perda de credibilidade do Brasil junto a instituições financeiras internacionais a partir de
1952 e pela relativa negligência com a qual, a partir de 1953 e até o final da década, a
nova administração republicana (Eisenhower) trataria o Brasil (e a América Latina)”, p.
71

– De que forma o conflito coreano impactou as contas externas do Brasil? Por que o
Brasil perdeu credibilidade junto a instituições financeiras internacionais a partir de
1952?

– Dwight D. Eisenhower (1890-1969) foi presidente dos Estados Unidos entre 1953 e


1961 / administração republicana – Quais as implicações da administração de
Eisenhower para o Brasil e a América Latina?
– A primeiro ano do governo Vargas é marcado pelo grande aumento nas importações /
Os preços do algodão subiram em 1951 / Mercado paralelo de venda de café e
diminuição da produção de outros produtos agrícolas (questões de conjuntura)

– Crise cambial em 1953 / Aumento drástico da dívida externa brasileira

– “É importante notar que o grave desequilíbrio nas contas do Brasil no início dos 50
não se resumia à balança comercial. Vargas havia deixado claro, em sua campanha e
desde o início de seu governo, que não estava comprometido com a política liberal vis-
à-vis o capital estrangeiro que havia caracterizado o governo de Dutra. Tanto nas
recomendações pessoais que fez à sua assessoria econômica (e relacionadas a projetos
específicos) quanto em pronunciamentos públicos, Vargas procurou marcar uma postura
nacionalista que tinha óbvios propósitos políticos internos. Esta postura combinada com
os acenos à classe trabalhadora [Nota de rodapé: O salário mínimo, que havia
permanecido constante (Cr$ 0,38) por 97 meses (de dezembro de 1943 a janeiro de
1952), foi aumentando em 216% (para Cr$ 1,20) em 1º janeiro de 1952 (a taxa de
inflação no período foi da ordem de 200%). Em 1º de maio de 1954 foi decretado um
aumento de 100% a vigorar a partir de julho (a taxa de inflação no período foi da ordem
de 60%)] contribuiria para erodir, progressivamente, não apenas o seu relativamente
precário apoio externo, como o apoio das elites militares e civis (e classes médias)
partidárias de maior aproximação política e econômica com os Estados Unidos (e da
preservação de diferenciais de renda na sociedade brasileira) e não deixaria de afetar
negativamente as contas externas do Brasil. Por exemplo, no front da política
econômica externa, Vargas criticou violentamente não apenas a retirada da taxa de 5%
sobre as operações cambiais – que era a principal fonte de financiamento para os seus
Planos de Obras Públicas de 1939/44 e 1944/45 – mas criticou também o poder
outorgado à SUMOC (embrião do atual Banco Central) para modificar como melhor lhe
parecesse as normas que regulamentavam as remessas para o exterior. Além disso,
determinou uma reestimativa do valor contábil do estoque de capital estrangeiro na
economia brasileira, uma vez que acreditava serem esses valores sistematicamente
superestimados através da inclusão indevida de reservas visando criar artificialmente
uma base de cálculo mais ampla para as remessas legais [Nota de rodapé: Essas
remessas legais poderiam chegar até a 20% do capital registrado para amortização mais
juros, e até 8% do capital registrado para lucros e dividendos. Como resultado da
reestimativa, Decreto-Lei Executivo de 3 de janeiro de 1952 reduziu o estoque de
capital estrangeiro registrado (em 31.12.51), para fins de base legal para cálculo das
remessas, de US$ 750 milhões para US$ 372 milhões. Segundo dados oficiais dos
Estados Unidos, a estimativa do estoque de capital norte-americano no Brasil, teria
passado de US$ 323 milhões em 1946 para US$ 644 milhões em 1950 e US$ 1.013
milhões em 1952]”, p. 72

– “O problema adquiriu conotação altamente política uma vez que Vargas procurou
explicar em detalhes os motivos da evasão, expressando-se de maneira marcadamente
nacionalista, não somente no discurso que proferiu por ocasião da passagem do ano
(1951-52) como também em sua Mensagem ao Congresso em 1952. Por outro lado, teve
profundas implicações sua decisão de impor restrições às remessas de lucros e ao
retorno de capital sem consulta prévia ao governo americano ou às instituições
internacionais. Houve reação imediata tanto do Departamento de Estado quando do
Banco Mundial, que enviaram violentas notas de protesto, sendo que este tentou, sem
sucesso, fazer uso de sua capacidade de influência, tendo em vista que, à época, a
Comissão Mista Brasil-Estados Unidos selecionava projetos a serem financiados pelo
Banco. Afinal, o Banco Mundial decidiu não mais conceder empréstimos ao Brasil, a
menos que fosse encontrada uma solução para a questão das remessas. Tal decisão teve
sérias implicações de longo prazo; os empréstimos declinaram em 1953 e 1954 e foram
nulos em 1955-1957. Exceção feita de um empréstimo isolado negociado em 1958,
entre 1955 e 1964 o Banco Mundial não realizou qualquer novo empréstimo ao Brasil
[Nota de rodapé: É bem verdade que a preocupação do Banco não ficou restrita à
questão de remessas. O Presidente do Banco Mundial, diz a história oficial deste:
‘Comunicou a uma sucessão de Ministros da Fazenda – Lafer, em 1953, Aranha, em
1954, e Gudin, em 1955 – que não haveria discussão sobre empréstimos até que o
Banco e o governo brasileiro, conjuntamente, levassem em consideração as perspectivas
da economia brasileira (e as políticas internas seguidas pelas autoridades brasileiras)].
Com a redução abrupta das receitas de exportação, com uma pauta de importações
progressivamente inflexível, com linhas bilaterais de crédito para assistência ao balanço
de pagamentos praticamente exauridas e com crescente custo de serviço de sua dívida
externa, o Brasil teve que alterar radicalmente seu sistema cambial em outubro de 1953
[Nota de rodapé: Os atrasados comerciais acumulados em 1952 exigiram em 1953 a
contratação, entre outros, de um empréstimo junto ao Eximbank de US$ 300 milhões e
de um consórcio de bancos europeus no montante de US$ 158 milhões. Ambos tinham
um vencimento de curto prazo e foram negociados na suposição de que os preços de
exportação (i.e., café) continuariam a subir. Quando estes preços começaram a desabar,
em fins de 1954 houve a necessidade de um novo empréstimo de US$ 200 milhões
obtido junto a um consórcio de bancos norte-americanos para fazer face a uma espécie
de reescalonamento da dívida anterior. Ao final de 1954, a dívida externa brasileira era
de US$ 137 milhões, 120% mais elevada que o nível médio da dívida externa do
período 1947-51], após reformulação ministerial de meados do ano, por razões ligadas à
política interna que estavam levando à progressiva erosão da base de sustentação
política de Vargas e que o levariam ao dramático suicídio de agosto de 1954”, p. 73-74

– Instrução 70 da SUMOC, de outubro de 1953: “A adoção do sistema de taxas


múltiplas e leilões cambiais contemplados pela famosa Instrução nº 70 da SUMOC, de
outubro de 1953, não deixou de ser uma imaginativa resposta à grave crise cambial de
1952-1953 – e uma substantiva alteração em relação ao sistema anterior. Em primeiro
lugar porque era um sistema de restrições quantitativas que permitia um papel às ‘forças
de mercado’ através dos leilões de divisas. Em segundo lugar porque eliminava a
possibilidade de uma acumulação rápida de atrasados comerciais como em 1951-52:
agora, o que estava vendido não eram licenças de importação desvinculadas da real
disponibilidade de divisas. Em terceiro lugar porque o governo se apropriava do
diferencial entre as taxas de importação (que resultavam dos leilões) e as taxas de
exportação (às quais os exportadores eram obrigados a converter suas cambiais) [Nota
de rodapé: Este efeito foi extremamente importante. As receitas brutas dos leilões
cambiais representaram, no período 1955-1960, em média, cerca de 80% da receita
fiscal do Governo]”, p. 74 – “(...) o sistema, em suas linhas gerais, permaneceu em vigor
(com alterações em 1957 associadas à introdução da Lei de Tarifas) até ser alterado
fundamentalmente pelo governo Jânio Quadros em março de 1961”, p. 74

– TRECHO EXTRAÍDO DE LIVRO DIDÁTICO: “Um dos exemplos mais importantes


da política populista de massas foi a campanha pela nacionalização da pesquisa,
exploração e refino do petróleo, que culminou com a criação, em 1953, da Petrobrás,
símbolo do nacionalismo econômico. Dela participaram os setores ‘progressistas’ da
burguesia industrial, grupos nacionalistas do Congresso e das Forças Armadas, o
movimento estudantil sob a liderança da União Nacional dos Estudantes e as massas
trabalhadoras urbanas, através das organizações sindicais e dos partidos nacionalistas e
de esquerda”

– TRECHO EXTRAÍDO DE LIVRO DIDÁTICO: “A UDN era a favor de uma política


econômica liberal, opondo-se à intervenção estatal em benefício da indústria”

– TRECHO EXTRAÍDO DE LIVRO DIDÁTICO: “No final de 1953 a industrialização


substitutiva chegava a um impasse. A ampliação daqueles setores requeria taxas mais
elevadas de investimento e o consequente aumento das importações de máquinas e
equipamentos, o que tornava deficitária a balança comercial brasileira. O mesmo ocorria
com a balança de pagamentos, devido às remessas ilegais de lucros por firmas
estrangeiras e outros gastos. Por fim, o declínio dos preços do café, a partir de 1953,
reduzia a receita externa, agravando a situação.
Para manter o ritmo de crescimento da economia, sobretudo da indústria, o Governo
nacionalista de Vargas teria que manter pelo menos a seguinte situação:
 continuar a política de confisco cambial, que transferia renda da agroexportação
para a indústria; essa tarefa era bem mais difícil agora, por causa da queda dos
preços externos e do aumento da reação dos setores agroexportadores;
 conseguir maior nacionalização dos lucros, o que significava atacar os
privilégios do capital estrangeiro através, por exemplo, da restrição à remessa de
lucros para o exterior;
 conciliar a política de massas com uma redução relativa dos salários (ou seja,
evitar que o seu aumento fosse superior ao das taxas de produtividade).
O declínio da receita externa intensificaria a disputa pelas divisas entre os diferentes
setores da classe dominante, sendo esta uma das razões da crise política dos anos 53-54.
À burguesia industrial e ao Estado as divisas eram imprescindíveis para a manutenção
das importações de bens de capital (máquinas, insumos básicos, etc.); o capital
estrangeiro desejava-as para a conversão e a remessa dos lucros obtidos no país em
cruzeiro; as firmas importadoras queriam a importação de bens de consumo; o setor
agroexportador reinvindicava a abolição do controle e do confisco cambial.
Sob cerrada pressão do Parlamento, da imprensa e de associações de classe, Getúlio
liberou as importações em 1953, bem como a entrada e saída de capitais. Em
contrapartida, criou outros mecanismos para assegurar a acumulação industrial, entre os
quais o aumento do crédito à indústria a taxas compensadoras de juros.
A expansão do crédito, à base de novas emissões e numa época em que a produção
começava a declinar, inflacionava a economia provocando a alto dos preços. Já em
1952, o custo de vida elevava-se a mais de 40% e a inflação a 20%, quase o dobro dos
anos anteriores. Como os reajustamentos salariais não vinham acompanhando o ritmo
do custo de vida, os trabalhadores, uma das bases do pacto populista, eram os mais
prejudicados. Por isso, em março de 1953, cerca de 300 mil operários em São Paulo,
contrariando a orientação dos dirigentes sindicais, entraram em greve durante 29 dias
exigindo aumento salarial e contenção do custo de vida. Além disso, criaram uma
Comissão Geral de Greve, que se transformou depois numa organização sindical
unificadora do movimento operário”

– “(...) é preciso situar a reforma cambial de 1953 em um contexto mais amplo, dado
que seus efeito se prolongariam pelo restante da década. Em particular, é extremamente
importante reconhecer que, do ponto de vista internacional, tais medidas, adotadas como
foram após significativos desequilíbrios associados ao boom provocado pela guerra da
Coreia, não eram caracteristicamente brasileiras.
Com efeito, as condições econômicas internacionais em 1953-54 refletiam três fatores
fundamentais: a continuada recuperação europeia, uma redução da atividade econômica
nos EUA a partir do segundo semestre de 1953 e uma queda dos preços de produtos
primários cuja produção se havia expandido ao longo do ‘boom coreano’ e que agora
encontravam uma demanda menor. Segundo a história oficial do FMI, o primeiro destes
fatores fez renascer a esperança de um rápido retorno à convertibilidade. O segundo e o
terceiro trouxeram dificuldades para vários produtores de produtos primários, o que
resultou em uma série de mudanças em seus sistemas cambiais”, p. 75

– “Com efeito, a convertibilidade era a questão crucial, como havia sido desde a guerra.
Em 1953 menos da metade do comércio internacional do chamado mundo livre era
conduzido em moedas conversíveis. Caso a libra esterlina fosse livremente conversível,
esta proporção seria superior a 75%. Entretanto, a incapacidade da economia britânica
em aceitar a responsabilidade formal da convertibilidade da libra esterlina continuava a
bloquear os progressos na direção da realização do projeto norte-americano. Como
veremos adiante, apenas no final da década de 1959 e, formalmente, em 1961, as
obrigações do Artigo VIII do FMI, acordado quinze anos antes, foram afinal aceitas
pela maioria dos países membros cujas moedas nacionais tinham importância no
comércio internacional. Esta foi talvez a mais significativa divergência ocorrida entre os
planos dos idealizadores do sistema de Bretton-Woods e a evolução do mundo do pós-
guerra”, p. 75-76

– “O término da recuperação europeia por volta de 1954 teve importantes implicações


para países mais avançados da periferia, porquanto os créditos comerciais (créditos de
fornecedores) eram parte integrante do necessário esforço de exportação europeu. É
importante notar neste contexto que, por volta de meados dos anos 50, os Estados
Unidos estavam cada vez mais preocupados com a competição europeia. O depoimento
do presidente do Eximbank ao Congresso norte-americano em 1955 é elucidativo e
merece ser citado na íntegra dada sua importância para eventos posteriores no Brasil:
‘Nos últimos dois anos, a situação na área do comércio exterior mudou de mercado
vendedor para mercado comprador. Os fabricantes de outros países, principalmente da
Europa Ocidental e Japão, estão agora oferecendo prorrogação de prazos de pagamento
para clientes em potencial. Em muitos casos, eles podem assim proceder devido à ajuda
financeira de seus próprios governos na forma de seguro de crédito para exportação.
[Nota de rodapé: Até 1965, cerca de 90% dos créditos de fornecedores para países em
desenvolvimento eram provenientes da Europa Ocidental e do Japão].
Embora de maturidade curta e alto custo em termos das taxas de juros envolvidos, estes
créditos eram, na verdade, uma espécie de financiamento para o desenvolvimento para
os países importadores, uma vez que estavam ligados à compra de maquinaria e
equipamento estrangeiro. Portanto, é preciso notar que eventos associados à recuperação
europeia mostraram-se de vital importância [Nota de rodapé: em maio de 1955, países
europeus engajados em comércio (e finanças) com o Brasil formaram o Clube de Haia,
um sistema paralelo de arranjos bilaterais eliminando discriminação e permitindo a
convertibilidade entre países participantes. Leilões cambiais para a ‘Área de
Convertibilidade Limitada’ começaram a ter lugar no Brasil em agosto de 1955 como
resultados destas negociações. Os diretores executivos do FMI aprovaram tais arranjos
considerando-os ‘um passo intermediário na direção de um sistema não discriminatório
e plenamente multilateral’] para alguns países menos desenvolvidos a caminho da
industrialização. O Brasil figurava de forma destacada entre estes, especialmente após a
ruptura com o Banco Mundial em 1952, a atitude de negligência da administração
Eisenhower após 1953, a sensacional queda de preços do café a partir de 1954 e, por
último, mas não menos importante, a eleição de Kubitschek em 1955, com uma clara
plataforma desenvolvimentista (com concurso do capital estrangeiro), que, além dos
seus óbvios propósitos internos, levava em conta as condições internacionais adversas e
a restrição imposta pelo balanço de pagamentos ao desenvolvimento sustentado da
economia brasileira”, p. 76-77

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