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– Malan reflexe sobre a Doutrina Monroe para indicar que a hegemonia dos EUA sob a
América Latina já datava de 1823, e nisso faz uso de uma expressão de Campos
(“imperialismo defensivo”), citada na obra Ensaios de História Econômica e Sociologia
(p. 58) – O autor também fala do “Corolário Roosevelt (Theodore) e sua a política do
Big Stick” (p. 58-59)
O caso do Brasil
– Para Malan, o Brasil era o país que apresentava o nível mais alto de expectativas
quanto à cooperação dos EUA após a queda de Vargas em outubro de 1945,
aparentemente, pelas seguintes razões: em parte, porque “o Brasil tinha-se caracterizado
no passado recente, dentre os países grandes do continente, como o mais fiel aliado das
iniciativas da política norte-americana para com a América Latina”, vide sua
colaboração no esforço de guerra – “sua colaboração no esforço de guerra havia ido
muito além da cessão de bases aéreas e navais no território nacional: o suprimento de
matérias-primas básicas e materiais estratégicos havia sido assegurado a preços estáveis
durante o conflito e forças brasileiras se empenharam diretamente em expulsar tropas
alemãs do território italiano em 1944”; e em parte, porque “o Brasil havia sido dos
primeiros países do mundo a participar, lealmente aos EUA, a partir de 1943, das
discussões sobre a criação das instituições internacionais projetadas para o mundo do
pós-guerra. Nas conferências interamericanas a tradicional discrição da diplomacia
brasileira não escondia seus apoio às iniciativas norte-americanas” – “A instauração de
uma forma democrática de Governo a partir das eleições de dezembro de 1945 e a
adoção da constituição liberal de 1946 pareciam confirmar a inevitabilidade do
estreitamento das relações” (p. 59)
– “Com efeito, as vicissitudes da economia brasileira na década dos anos 30, de certa
forma agravadas nos anos de guerra, haviam tornado progressivamente claro aos
militares interessados em questão de segurança e desenvolvimento, bem como à
reduzida parcela das elites brasileiras interessadas na diversificação da estrutura
produtiva e na aceleração do ritmo de formação do capital na indústria e em
infraestrutura produtiva, que qualquer processo de transformação estrutural da economia
brasileira requereria tanto um significativo grau de intervencionismo do Estado na vida
econômica quanto uma expressiva contribuição da tecnologia e recursos externos,
oficiais e/ou privados. As questões substantivas de economia política que se seguiram –
até o presente – estiveram quase todas relacionadas, em maior ou menor grau, a
divergências quanto à forma e à extensão tanto da participação externa quanto da
intervenção do setor público na vida econômica.
A intervenção do setor público, enquanto agente de política econômica, obviamente, em
si mesma, não constituía novidade. Esta intervenção sempre existiu no Brasil; no século
XX, até 1930, assumiu principalmente a forma de defesa dos interesses da cafeicultura
(programa de valorização do café e estabilização do mil-réis) identificados como
coincidentes com o ‘bem-comum’ e com os supremos interesses da nação. A depressão
dos anos 30 marcou uma tendência ao intervencionismo que se observou em escala
internacional, e que obviamente encontrou eco – e uma experiência pretérita no Brasil.
O que houve de novo na natureza da intervenção que se esboçou nos anos 30 foi a sua
utilização parcial e incipiente, não apenas para assegurar níveis de dispêndio (e,
portanto, renda e emprego) adequados ao setor cafeicultor mas, inicialmente, para tentar
uma aceleração no ritmo da formação bruta de capital fixo com diferenciação da
estrutura produtiva da economia; vale dizer, uma realocação de recursos reais distinta,
tanto em intensidade quanto em composição, daquela que o setor privado realizaria na
ausência da intervenção governamental. Não se tratava portanto apenas de induzir o
setor privado, via ‘sinais de mercado’ modificados e/ou intensificados pelos estímulos
ou desestímulos governamentais, a se engajar em determinados programas de
investimento”, p. 61-62
Notas de leitura:
Nesta altura, Malan reflexe sobre a Doutrina Monroe para indicar que a
hegemonia dos EUA sob a América Latina já datava de 1823, e nisso faz uso de uma
expressão de Campos (“imperialismo defensivo”), citada na obra Ensaios de História
Econômica e Sociologia (p. 58) – O autor também fala do “Corolário Roosevelt
(Theodore) e sua a política do Big Stick” (p. 58-59). A intenção aqui, nos parece, é
mostrar que o domínio dos Estados Unidos sob o continente americano data de período
mais longo. Porém, aqui, uma outra forma de hegemonia se estabelecia com a
emergência da Guerra Fria. Vejamos o que diz o autor a esse respeito:
Nestes termos, para Malan, o Brasil era o país que apresentava o nível mais alto
de expectativas quanto à cooperação dos EUA após a queda de Vargas em outubro de
1945, aparentemente, por duas razões: em parte, porque “o Brasil tinha-se caracterizado
no passado recente, dentre os países grandes do continente, como o mais fiel aliado das
iniciativas da política norte-americana para com a América Latina”, vide o esforço de
guerra brasileiro; e em parte, porque “o Brasil havia sido dos primeiros países do mundo
a participar, lealmente aos EUA, a partir de 1943, das discussões sobre a criação das
instituições internacionais projetadas para o mundo do pós-guerra. Nas conferências
interamericanas a tradicional discrição da diplomacia brasileira não escondia seus apoio
às iniciativas norte-americanas” (p. 59). Como assinala o autor, “a instauração de uma
forma democrática de Governo a partir das eleições de dezembro de 1945 e a adoção da
constituição liberal de 1946 pareciam confirmar a inevitabilidade do estreitamento das
relações” entre o Brasil e os Estados Unidos (p. 60). Pareciam... e era essa a expectativa
que indica Malan.1
A partir deste ponto, o autor coloca a questão de que tal contexto tornou nítido a
percepção da importância da intervenção do Estado na economia brasileira, o que
1
Como assinalou Malan: “Com efeito, em 1945-46, o Brasil, através de parcela majoritária de suas
chamadas elites – civis e militares –, julgava-se no limiar de uma nova era da secular ‘relação especial’
com os Estados Unidos da América do Norte. Aos seus olhos, o Brasil surgia, naturalmente, como o
parceiro privilegiado (para a região latino-americana) na construção da nova ordem internacional que se
esboçava sob a praticamente incontestável hegemonia econômica, militar e – pour cause – política do
capitalismo norte-americano. A relação especial, contudo, era essencialmente assimétrica. Uma assimetria
que tinha menos a ver com as óbvias diferenças econômicas ou com diferenças padrões de comércio, e
mais com marcadas diferenças de percepções e expectativas quanto a natureza, a importância e a forma de
relacionamento entre os dois países no mundo do pós-guerra”, p. 60
causaria uma reflexão a respeito do caráter e a forma de sua interferência no
desenvolvimento nacional, e de como isso geraria possíveis discussões e choques de
interesses sob a hegemonia dos Estados Unidos e o capital internacional. A esse
respeito, vejamos o que disse o autor: