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GOMES, Ângela de Castro. População e Sociedade. In: GOMES, Ângela de Castro.

Olhando para
Dentro – v 4. Rio de Janeiro: Ed. Objetiva, 2013.

Em marcha para o Oeste, o Brasil e a utopia da conquista dos sertões

“A construção de uma nação é um processo permanente e inconcluso, durante o qual seus integrantes,
ou melhor, sua população vai aprendendo a se reconhecer com características próprias, que não só a
distinguem de outras nações, como a identificam para si mesma.” (p. 41)

- Operações socioculturais.
- A autora deseja chamar a atenção sobre a “convicção” e “sensibilidade políticas” que percebem
em determinado cenário uma maior possibilidade de agir e reinventar a nação.

“pois é exatamente essa percepção que preside o imaginário e a atuação de muitos dos intelectuais e
políticos brasileiros no decurso das décadas de 1930 e 1960, havendo, evidentemente, variações quando
o autoritarismo dos anos 1940 fica para trás e os ventos democráticos sopram nos anos 1950.” (p. 41)

- Tempo de grandes transformações para o país (e para o mundo como um todo).

“lhe dá uma nova face, desde muito almejada: uma face urbana, industrial, moderna e civilizada, não
mais colonizada e atrasada (...).” (p. 42)

- Tarefa de organizar o Brasil.

“a maioria das características que tornavam, até então, o Brasil, Brasil, deviam ser repensadas, podendo
sofrer algum grau de intervenção de políticas públicas do Estado, que, após 1930, havia centralizado
seu poder, concentrando-o, principalmente após 1937, no Executivo federal, encarnado na figura de
Getúlio Vargas.” (p. 42)

- Enfrentamento de questões antigas, presentes no processo histórico de formação.

“o trabalho tinha de ser intenso, devido aos numerosos e graves problemas existentes, que envolviam,
entre outros, as precárias condições de saúde e educação da população. Também teria que ser imenso,
pois imenso era nosso território, ao longo do qual se encontrava essa população, escassa em número,
mal distribuída no espaço geográfico e muito mal assistida pelo poder público.” (p. 42)

- Intervencionismo do Estado. Desenvolvimento.

“(...) pode-se dizer que, até os anos 1930, o Brasil era visto como uma sociedade tradicional e atrasada:
um país rural, agrário-exportador, com poucas ‘gentes’ e muitos ‘vazios territoriais’ a desbravar e
ocupar. Pouco desenvolvido econômica e culturalmente, o país vivia dependente dos fluxos da
economia internacional, como a crise de 1929 acabara de comprovar, mais uma vez; também vivia
dependente das ‘ideias’ vindas do exterior, pois não tinha universidades que formassem suas elites, nem
escolas primárias, menos ainda secundárias, que educassem seus futuros cidadãos. Grande parte de sua
população economicamente ativa, de seus trabalhadores, concentrava-se no campo, sendo pobre ou
miserável, além de analfabeta e doente. (...) Modernizar o Brasil significava apostar em transportes,
terrestres e marítimos, em meios de comunicação modernos, e em melhor educação, saúde etc.
Modernizar o Brasil era, em síntese, conquistar o seu território e organizar o seu povo, entendendo-se
que tais ‘missões’ implicavam um trabalho simultâneo, no espaço e no tempo, pois a integração do
território significava fazer avançar o povo em séculos, retirando-o de um passado verdadeiramente
colonial, para lançá-lo no futuro do mundo urbano-industrial, que se apresentava como o presente, isto
é, como um projeto factível e viável. Território e povo são, assim, categorias fundamentais para o
pensamento e a ação nessas décadas, tendo grande sentido e valor político-cultural, e permitindo, quer
a conformação dos diagnósticos, quer dos prognósticos sobre o país.” (p. 43)

- Literatura diz que o período entre 1930 e 1960 foi um período de transição demográfica. Isso
é, período em que se tornou industrializado, combinação entre queda da taxa de mortalidade e
índices estáveis de natalidade. MUDANÇAS NAS CONDIÇÕES DE VIDA.

“(...) descobertas e melhorias nas áreas da saúde, habitação e transportes, que incidem sobre os níveis
de expectativa de vida que, com a expansão e o acesso à educação e outros serviços, produzem o
crescimento da população.” (pp. 43-44)

- Pessoas passam a almejar um estilo de vida confortável e moderno.

“(...) mudanças nos tamanhos e funções das famílias; novas relações de gênero, com a entrada de
mulheres, inclusive de classe média, no mercado de trabalho, e com a ampliação de sua presença no
sistema educacional; novas percepções sobre o tempo, em função da velocidade e da possibilidade de
acesso a novas mídias, como o rádio e o cinema, além do impresso, com muitas novas roupagens.” (p.
44)

“(...) deseja-se vincular a transição demográfica do Brasil a toda uma mudança no repertório de
representações do Brasil, que orienta e dá sentido às políticas formuladas entre 1930 e 1960. (...)
[período recortado] como o da realização de uma utopia – a da conquista dos sertões. (...) uma categoria
síntese para designar não apenas o que se devia desbravar no século XX – um espaço vazio, longínquo,
abandonado, atrasado -, mas aquilo em que se deveria tornar: um lugar ocupado, não mais periférico, e
sim integrado ao corpo da nação e contribuindo com riquezas para sua grandeza e modernidade.” (p.
44)

“Faça o Brasil a estatística que deve ter, e a estatística fará o Brasil como deve ser”

- O papel dos números na ressignificação do país.


“O IBGE deveria ser a instituição capaz de garantir respostas seguras e regulares a uma série de questões
há muito recorrentes na história do país. Como era o território brasileiro? Quantos e quem eram os
brasileiros? Onde estavam? Como viviam? Como trabalhavam? Como se movimentavam?” (p. 45)

- Aproveitou de dados anteriores.

“(...) sua atuação diferenciou-se de tudo o que existira anteriormente, por se pautar em uma orientação
técnica mais precisa e unificada para todo o Brasil. Seria impossível tratar dos problemas que
acompanham a história do povo e da sociedade brasileira sem dar o devido destaque ao IBGE e a seus
integrantes.” (p. 45)

- Conhecer e enfrentar os problemas do Brasil -> organizar.

“Tratava-se de um conhecimento de novo tipo, uma vez que não mais remetia a um ‘saber
bacharelesco’, de natureza jurídica e idealizada, mas a outros saberes, como o sociológico, o geográfico,
o histórico e, sem dúvida, o estatístico.” (p. 45)

- Criação do INE (instituto nacional de estatística), em 1936, por Getúlio Vargas. -> 1938 se
torna o IBGE, subordinado à presidência da Rep.

“Durante os anos 1950 e também 1960 passaria por crises, enfrentando debates e críticas, internas e
externas, a seu modelo de trabalho e a sua conformação. Em 1967, após o golpe civil e militar, deixou
de ser uma autarquia para tornar-se uma fundação, passando por grande reformulação, como que
encerrando uma etapa de sua trajetória de vida. Dessa forma, da década de 1930 até a de 1960, o IBGE,
como o Brasil, cresceu e realizou proezas, a começar pela feitura dos censos populacionais, prática que
não mais seria interrompida e que, cada vez mais, embora não com o mesmo significado, corrobora a
máxima de que não é possível governar sem números.” (p. 46)

- Brasil desconhecido. Campanha pra informação sobre o IBGE.

“O censo se inseria, portanto, em uma série de eventos e festas, na qual se destacava por seu grande
valor e pelas dificuldades técnicas e políticas que tinham de ser vencidas para sua bem-sucedida
ocorrência.” (p. 46)

“O Estado Novo, como outros regimes autoritários seus contemporâneos, estabelecia como meta
estratégica para a segurança nacional um efetivo controle sobre o povo e território, cuidando-se das
fronteiras do país, ameaçadas, quer por inimigos externos, quer por inimigos internos.” (p. 46)

- Ameaças internas: tentativas de separatismo ou o federalismo exacerbado (almejavam


autonomia política).
“(...) mesmo com o Estado Novo, o poder das elites estaduais não desaparecera, apesar de ter sido
duramente golpeado, bastando lembrar que os chefes dos governos estaduais eram os interventores, não
mais eleitos, e sim nomeados pelo presidente Vargas.” (pp. 47-48)

- Diferenças. Negociações.

“Foi o que se chamou de ‘consórcio interadministrativo de base municipalista’. Quer dizer, um arranjo
cuja cabeça era uma instituição nacional (e não federal), que agregava entidades federais numa Junta
Executiva Central e entidades estaduais em Juntas Executivas Regionais.” (p. 48)

- Agências Municipais de Estatística.

“Uma autêntica ‘obra de relojoaria’, na imagem construída para dar conta da delicadeza e precisão
necessárias a seu funcionamento, bem como de seu destino: produzir um novo tempo, que acelerasse o
ritmo de crescimento do Brasil, tirando-o do atraso e projetando-o para a modernidade, agora sustentada
em bases mensuráveis quantitativamente.” (p. 48)

- Comunistas e espiões internacionais como ameaças internas.


- IBGE: “subsidiar um governo forte, centralizado e intervencionista, que vivia em clima de
guerra e precisava implementar um variado conjunto de políticas, entre as quais se destacavam
aquelas destinadas a proteger o espaço territorial e seu povo, integrando-o de uma maneira
efetiva.” (p. 48)
- Visto como uma grande vitória.
- Foi possível traçar um retrato do Brasil.
- Observou-se um aumento no ritmo de crescimento da população (p. 49); estabilidade nas taxas
de natalidade e menor taxa de mortalidade (p. 50).

“entre 1920 e 1940, a população era de 30.638.607 habitantes; entre 1940 e 1950, subiu para
40.165.189; e entre 1950 e 1960 alcançou 51.151.629.” (p. 49)

“Uma série de motivos responde por esse declínio [da entrada de imigrantes], desde questões ligadas à
crise internacional de 1929 e ao clima da Segunda Guerra Mundial até aquelas ligadas ao fim dos
incentivos que o país mantinha para sustentar uma imigração subsidiada. O encerramento desses
incentivos se relaciona não só com essa nova conjuntura política internacional, como também com
alterações nos projetos político-ideológicos do regime que se iniciou com a Revolução de 1930.” (p.
50)

- O pensamento do embranquecimento muda e passa a ser positivo que o brasileiro seja um povo
mestiço, seria essa diversidade que deveria constituir a raça brasileira.
- Medidas restritivas na década de 30 que impediam a entrada de estrangeiros.
- Política de Nacionalização: lei de nacionalidade, lei de extradição, lei de expulsão e lei de
controle de entrada.

“Os imigrantes deveriam ser, definitivamente, um fator de progresso e não de desagregação social e
desordem política, como eram vistos por conta de seu envolvimento no movimento operário, em greves
e boicotes e de sua imprensa, sendo por isso identificados como potenciais anarquistas, considerados
sempre os maiores responsáveis pela importação das ideias exóticas e perigosas que agitaram o período
da Primeira República.” (p. 52)

- Priorização do trabalhador brasileiro.


- Discriminação e perseguição a alemães, japoneses e italianos.
- O crescimento populacional não foi o mesmo por todo o Brasil.

“não o fez com a mesma intensidade, razão pela qual manteve e até aprofundou algumas das
desigualdades há muito conhecidas no país.” (p. 53)

- Ideia de que o Brasil era uma nação jovem. Devido à queda de mortalidade infantil e a taxa de
fecundidade alta (até 5,5 filhos por mulher). A nação se voltava para o futuro.
- População beneficiada pelas novas descobertas científicas. Políticas voltadas para à assistência
médica e saneamento básico (variações regionais, os chamados sertões profundos e as periferias
não recebiam a mesma dedicação).
- Apesar da propaganda, existiam diferentes brasis.

“Segundo os estudiosos, em 1940, enquanto no Nordeste a expectativa de vida era de apenas 38 anos,
no Sul/Sudeste, área mais urbanizada e industrializada, já chegava a 50 anos, apontando para um
diferencial de doze anos que não diminuiu nas décadas de 1950 e 1960, só começando a declinar nos
anos 1970. Algo que se replicava nas taxas de mortalidade infantil, evidenciando a tragédia das famílias
do Norte e Nordeste. Embora as mães dessas regiões tivessem de dois a três filhos a mais que as mães
de outras partes do Brasil, durante todo esse período elas não conseguiam mantê-los vivos pela pobreza
e falta de condições de saúde e educação em que viviam.” (p. 54)

- Mulheres também eram diversas. Especialmente quando se pensava na cor.

“De forma geral, enquanto os homens continuavam a se casar com uma média de 27 anos, elas
começavam a se casar um pouco mais tarde (...), não mais tão jovens e, como hipótese, não mais tão
sujeitas às imposições familiares. Como os censos do período utilizavam os critérios de cor então
disponíveis, eram os brancos e pardos que cresciam em número, havendo declínio dos que eram pretos.”
(p. 55)

- Mulheres negras casavam menos e tinham menos filhos. Aumento de habitantes brancos e
partos.
- Brasil divido geopoliticamente.

“As ‘regiões’ deviam se tornar uma nova maneira de se representar o Brasil: de vê-lo espacialmente e
de pensá-lo política e culturalmente.” (p. 58)

- Ideia de que o Brasil era um país por vocação agrícola. Suas tradições, culinárias, músicas,
nasciam dos sertões.

“Dessa forma, esse lugar mítico da nacionalidade, permanentemente imaginado através de séculos da
história do Brasil, era tanto o berço das mais verdadeiras qualidades da ‘raça brasileira’, quanto o
obstáculo a ser vencido e civilizado, passando a receber, como o ‘litoral’, as benesses da modernidade.”
(p. 58)

- Entre 1930 e 1960 o Brasil passa por grandes movimentos com impactos geopolíticos,
econômicos, sociais e culturais: o processo de urbanização e industrialização (o povo se
deslocava agora para o “sul”/São Paulo), em 1960 são vários os centros urbanos, diferente do
desenhado em 1920; o movimento de deslocamentos internos com destino a Amazônia e o
Centro-Oeste.
- Em 1930, 70% da população se encontrava nas zonas rurais, em 1980, esse número era
encontrado nas cidades.

“Voltando à questão das divisões regionais do Brasil, o Nordeste era o grande abastecedor de mão de
obra, respondendo pelo maior número de saídas, enquanto o Sul e o Sudeste eram as regiões receptoras,
por serem as áreas urbano-industriais mais desenvolvidas e atraentes para quem queria ‘fazer o Brasil’.”
(p. 59)

“O homem brasileiro, o trabalhador nacional, e não mais o imigrante estrangeiro, era o grande
protagonista desse cenário de migrações internas que se descortinava a partir do fim dos anos 1930.”
(p. 60)

“O verdadeiro sentido da brasilidade está na marcha para Oeste” (Cassiano Ricardo, Marcha
para Oeste, 1940)

“Herói que tem muitos nomes e cores, o bandeirante não era um ‘invasor’, mas um ‘conquistador’ do
que já seria seu por direito.” (p. 60)

- A marcha para oeste, implantado em 1938.


- Brasil para brasileiros.

“(...) debatiam e buscavam intervir na organização do espaço territorial do país; no controle dos fluxos
populacionais, fossem de imigrantes ou de migrantes nacionais; e na previsão de investimentos em áreas
estratégicas, como a de transportes e comunicações, fundamentais para a segurança e o
desenvolvimento socioeconômica do Brasil, sobretudo quando o pano de fundo era a Segunda Guerra
Mundial.” (p. 62)

- Políticas territoriais: de povoamento e de transporte e comunicação.


- Nesse período buscavam redefinir o mapa do brasil, de modo que os estados ficassem
equilibrados.
- Instituição das regiões geográficas.
- Um regionalismo que combatia a descentralização política, nascia da própria centralização.

“Essa divisão regional do território brasileiro, portanto, devia considerar aspectos físicos, como relevo,
hidrografia e clima, e também aspectos humanos, como produção econômica, hábitos alimentares,
costumes, festas, arte, crenças etc. O novo regionalismo minimizava a identidade política das unidades
federativas estaduais, integrando-as em um todo maior.” (pp. 67-68)

“O regionalismo do Estado Novo, materializado no próprio mapa que traçava as regiões geográficas do
país, era um dos fundamentos do novo nacionalismo, que compreendia o Brasil como formado por uma
multiplicidade de elementos naturais, étnicos, econômicos e culturais, responsáveis por sua grandeza.”
(p. 68)

- Norte, Nordeste, Leste, Sul e Centro-Oeste.

“Pensar o Brasil tornou-se, desde então, visualizar essas regiões que se sobrepunham aos estados e os
preenchiam de significados físicos e humanos.” (p. 69)

- Buscava-se unidade. Exigia-se uma efetiva rede de transporte e comunicação. Deviam investir
nas vias ferroviárias, usar as hidrovias e também o transporte rodoviário.
- Plano Geral de Viação Nacional (1934); Plano Nacional de Viação (1951) - predominância
ferroviária; Plano Rodoviário Nacional (1944); Plano Ferroviário Nacional (1956).

“O Brasil, a partir dessa ótica, deveria possuir um verdadeiro ‘sistema’ de transportes e comunicações,
planificado de maneira a ocupar o território nacional.” (p. 71)

- Ainda que não fosse mais o mesmo Brasil de antes, ainda não era um continente atravessado
por muitas e boas estradas.

“A Amazônia, sob o impulso fecundo de nossa vontade e de nosso trabalho, deixará de ser, afinal,
um simples capítulo da história da Terra e, equiparado aos outros grandes rios, tornar-se-á um
capítulo da história da civilização.” (Getúlio Vargas, Discurso do Rio Amazonas, 1940)

“Entre as décadas de 1930 e 1960 há avaliações que apontam que mais de 20 milhões de pessoas
deixaram o campo, em especial oriundas dos estados do Nordeste e de Minas Gerais, os maiores
fornecedores dessa população de migrantes.” (p. 71)
- 3 grandes rotas migratórias: 1) no mov. Marcha p/ Oeste (anos 1940), no contexto da Segunda
Guerra. Trabalhadores nordestinos para a Amazônica, aumento da prod. de borracha; 2) (1930
a 1970) em direção ao Sul/Sudeste, sobretudo, RJ e SP; 3) (1950 e 1960) rumo ao sertão.
- Caminhava-se para dentro (principalmente no tocante a Amazônia).
- Políticas que criaram colônias agrícolas em áreas de fronteira; sistema de seguridade no campo.
- Fundação Brasil Central (FBC). 1943. Integração da Amazônica com o território nacional.

“Com o litoral ameaçado pelos bombardeios dos submarinos alemães, era preciso saber como usar tais
vias naturais [rios] e também mapear lugares para construção de campos de pouso de aviões, uma vez
que havia localidades que só assim poderiam ser acessadas.” (p. 73)

- Acordos de Washington de 1942 influenciam a marcha para Oeste. Os EUA necessitavam de


mais borracha.
- Esforço coletivo. Serviço de Mobilização de Trabalhadores para a Amazônia (SEMTA);
Superintendência de Abastecimento do Vale Amazônico e Rubber Development Corporation
(deveriam impedir o sistema de barracão, fornecendo assistência aos trabalhadores).

“(...) existência de um contrato de trabalho, pela primeira vez anunciado a trabalhadores rurais, que
sabiam da existência de direitos garantidos aos trabalhadores urbanos e também os desejavam.” (p. 77)

- Divulgação em massa do plano. Trabalhador rural como figura central e a floresta como um
lugar farto.

“(...) o poder de atração dessa propaganda encontrava-se com o imaginário de uma população que o
reconhecia como promessa possível, sobretudo porque apoiado em um tão desejado contrato de
‘encaminhamento’, vislumbrado como um contrato de trabalho, que dava um sentimento de segurança
legal a tais homens e mulheres.” (p. 77)

- Ao que me parece, lembrava a propaganda feita na Europa para atrair imigrantes no período em
que se almejava o embranquecimento da população. Ver texto de Brasil Rep. I.
- Denúncias na imprensa sobre a péssima condição de transportes e alojamentos, em 1942 e 1943,
o que piora em 1944 devido ao corte a assistência às famílias. Noticiados em 1945 nos jornais
estrangeiros.
- Trabalhadores sem direitos e esquecidos, assim como suas famílias.

“A figura do retirante e a paisagem do sertão foram imortalizadas pela literatura dessa época, sobretudo
pelo chamado romance social (...).” (p. 78)

- Apesar dos esforços, a migração era mais frequente para as cidades. O Brasil se tornava,
portanto, uma sociedade urbano-industrial.
“(...) a rota mais persistente de deslocamento de todo o período levou os migrantes do Nordeste ou de
Minas Gerais para o Rio de Janeiro e, posteriormente, cada vez mais para São Paulo. Esta cidade
triplicou de tamanho entre 1930 e 1960, o que teve efeitos profundos no modo de vida dos que chegavam
e dos que estavam ‘estabelecidos’ e se sentiram invadidos, ameaçados.” (p. 79)

- Ainda assim essas entradas foram desejadas e estimuladas. Precisava-se de mão de obra.
- Entre 1935 e 1939, uma soma de 285.304 trabalhadores migraram para SP, 96,3% deles
brasileiros. Número que cresce com o decorrer dos anos, mesmo no momento da campanha dos
soldados da borracha. O fluxo só perde a força nos anos 1980.

“Aliás, durante os anos 1950, essa corrente migratória alcançou seu apogeu, uma vez que se
combinaram momentos de dificuldades econômicas no Nordeste com grande aumento de oportunidades
de emprego no Sudeste.” (p. 81)

- Em sua maioria eram nordestinos, mineiros, trabalhadores rurais, analfabetos, homens e de cor
negra ou parda (segundo censo de 1940).
- Emprego industrial, entre 1945 e 1960, subiam 9,5% ao ano, 50% localizados em SP.

“Nessa cidade, concentravam-se na indústria metalúrgica que começava a se desenvolver, mas também
na construção civil, que vivia um grande boom, não só em São Paulo, como em outras cidades do
Sudeste que também recebiam migrantes.” (p. 81)

- O trabalhador passa também a fazer parte das lideranças sindicais, compondo greves.

“Esses migrantes serão temidos e tratados como muito preconceito por variados grupos sociais já
estabelecidos nas maiores cidades do país. A intensidade da migração e as representações que se
constroem sobre a periculosidade dos recém-chegados, ao que se alia o crescimento da área urbana,
com as deficiências dos serviços de água, esgoto, além das carências nas áreas de educação e saúde,
fizeram com que crescessem as preocupações e reclamações a respeito dos migrantes.” (p. 82)

- Propostas para conter o fluxo em 1950. Mesmo período da construção de Brasília.

Ela deve ser concebida não como simples organismo capaz de preencher satisfatoriamente e sem
esforço as funções vitais próprias de uma cidade moderna qualquer, não apenas como urbs, mas
como civitas, possuidora dos atributos inerentes a uma capital” (Lúcio Costa, Plano-piloto de
Brasília, 1957)

- Assim como Vargas, JK investiu na conquista do território e no transporte e comunicação.


- Discussões sobre onde seria a nova capital federal em 1946.

“A década de 1950 foi, por tudo isso, das mais relevantes, assinalando um ponto de aceleração em um
processo de modernização que, inaugurado nos anos 1930, seguiu até os anos 1970, quando entrou em
crise, iniciando o que se tornou conhecido na literatura econômica como a ‘década perdida’. De todo
modo, nesses trinta anos, a população brasileira cresceu muito e a sociedade se transformou
profundamente, adquirindo novos e modernos padrões de consumo.” (p. 86)

“Para as classes mais favorecidas havia os eletrodomésticos, os alimentos industrializados, os novos


produtos de higiene pessoal e beleza, que começavam a ser encontrados em supermercados e shopping
centers, além dos grandes magazines. A vida moderna também transformava a aparência da população,
que se vestia de forma mais descontraída, abandonando luvas e chapéus e adotando camisetas, tênis e,
para as mulheres, as fantásticas calças compridas. (...) Enfim, a virada dos anos 1950 para a década de
1960 lembra a imagem de Brasília no cerrado, de São Paulo com seus arranha-céus, do Rio de Janeiro
com suas praias, mas não mais capital, e dos brasileiros ouvindo, no rádio, e alguns na televisão, uma
música bem emblemática do movimento bossa-nova, que explodiu nesse momento.” (p. 86)

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