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FORMAÇÃO

SOCIAL,
ECONÔMICA E
POLÍTICA DO
BRASIL
O desenvolvimento
urbano no Brasil
entre 1945 e 1964
Simone da Silva Viana

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

>> Identificar os fatores que colaboraram para a industrialização e a urbanização


no Brasil a partir do governo de Eurico Gaspar Dutra.
>> Avaliar os efeitos da urbanização e os impactos no quadro econômico bra-
sileiro.
>> Relacionar as mudanças ocorridas no âmbito social a partir do governo de
Juscelino Kubitschek.

Introdução
O processo de urbanização no Brasil entre 1945 e 1964 implementou importantes
centros urbanos, principalmente na região Sudeste do país, visando a ampliar a
diversificação da economia e o desenvolvimento da indústria e do comércio. A
sociedade brasileira se modernizava rapidamente, apresentando um crescimento
urbano e populacional que trazia consigo muitos problemas e desigualdades
sociais. Estas suscitaram insatisfações e oposição ao governo.
Nesse contexto, o populismo se desenvolveu e consolidou a política de massas,
que buscava conduzir o trabalhador, manipulando suas aspirações e atendendo
aos interesses das classes dominantes. O projeto desenvolvimentista com base
na industrialização avançou. Porém, o endividamento externo cresceu e implicou
em uma grande dependência econômica do capital estrangeiro, impactando o
2 O desenvolvimento urbano no Brasil entre 1945 e 1964

quadro econômico brasileiro e o modo de vida dos indivíduos. Apesar do quadro


de modernização e urbanização, o país não conseguia resolver os problemas
sociais latentes, como a pauperização e a desigualdade social.
Neste capítulo, você vai compreender o processo de desenvolvimento industrial
atrelado à urbanização. Esse processo foi lento e gradual, com implementações
de políticas liberais e neoliberais aliadas aos interesses norte-americanos, que
acentuaram o vínculo de dependência econômica e profundas crises políticas e
sociais latentes até os dias atuais. A indústria passou a ser a atividade econômica
mais dinâmica. Porém, a urbanização não alcançou todas as regiões do país, que
ainda hoje apresentam enormes desigualdades e sofrem com a destituição de
direitos, a precarização do trabalho e a carência de uma política urbana eficaz.
A partir dessa perspectiva, você vai apreender o contexto histórico em que se
desenvolveram a industrialização e a urbanização do Brasil nos governos de Eurico
Gaspar Dutra (1946-1951), Getúlio Vargas (1951-1954), Juscelino Kubitschek (1956-
1961), Jânio Quadros (1961) e João Goulart (1961-1964). Sob essa ótica, você vai poder
analisar e pensar sobre a capacidade da sociedade brasileira de se reinventar e
se reorganizar na luta pela cidadania e pela sobrevivência diante do caos.

A industrialização e a urbanização no Brasil


a partir do governo de Eurico Gaspar Dutra
O período de 1945 a 1964 foi denominado pelos historiadores como período
republicano populista. Nesse momento, o que estava em pauta era a demo-
cracia, o avanço industrial e urbano, a modernização, a consolidação das
indústrias e das massas populares nas grandes cidades e a pressão externa
do capital monopolista na economia capitalista nacional.
No processo de industrialização brasileira nesse período, nota-se uma
grande influência da corrente de pensamento nacionalista, com base em
uma industrialização comandada pela burguesia e pelo capital nacionais,
oportunizando também o apoio do capital estrangeiro para impulsionar a
modernização tão sonhada pela sociedade brasileira. Assim sendo, é impor-
tante ressaltar a análise de Bauman (2001) acerca da modernidade:

A modernidade começa quando o espaço e o tempo são separados da prática


da vida e entre si, e assim podem ser teorizados como categorias distintas e
mutuamente independentes da estratégia e da ação; quando deixam de ser, como
eram ao longo dos séculos pré-modernos, aspectos entrelaçados e dificilmente
distinguíveis da experiência vivida, presos numa estável e aparentemente invul-
nerável correspondência biunívoca. Na modernidade, o tempo tem história, tem
história por causa de sua ‘capacidade de carga’, perpetuamente em expansão — o
O desenvolvimento urbano no Brasil entre 1945 e 1964 3

alongamento dos trechos do espaço que unidades de tempo permitem ‘passar’,


‘atravessar’, ‘cobrir’ — ou conquistar (BAUMAN, 2001, p. 16).

Diante dessa reflexão, os estudiosos acerca do assunto compreenderam


que a década de 1950 foi a consolidação dos avanços tecnológicos. Tais avan-
ços intensificaram a produção e a exploração do trabalho, as resistências e
as mobilizações sociais, a expansão dos mercados e do consumo, a criação
artística e o engajamento político, a transformação das paisagens e das
relações humanas, perpetuamente em expansão.
Segundo os historiadores Cardoso e Vainfas (1997), ao longo da história
da sociedade brasileira, a economia se deslocou do setor agrícola para o
setor industrial, em um processo lento e gradual. Atualmente, nota-se que
esses dois setores da economia ainda possuem uma grande relevância para a
economia brasileira, apesar de várias transformações tecnológicas. O avanço
das indústrias e do trabalho fabril e urbano não findou o trabalho rural — este
caminhou lado a lado com o desenvolvimento industrial.
O desenvolvimento urbano foi consolidado no Brasil a partir de 1945,
atrelado a uma política industrial que não estava preocupada com a realidade
nacional. A preocupação era implementar políticas que garantissem o aumento
da produção em curto espaço de tempo, além de maior poder de compra dos
indivíduos, com estratégias de linha de crédito e abertura de crediários nas
atividades comerciais, leis trabalhistas e organização sindical, e abertura da
economia aos investidores estrangeiros.
No governo de Eurico Gaspar Dutra (1946-1951), houve uma oscilação en-
tre os que defendiam um projeto nacionalista e aqueles que defendiam
uma abertura ao capital estrangeiro. Várias medidas políticas e econômicas
foram tomadas para facilitar a entrada dos produtos industrializados norte-
-americanos, fazendo parte da política de alinhamento entre o Brasil e os
Estados Unidos no contexto da Guerra Fria.
A Constituição de 18 de setembro de 1946 apresentou inúmeras medidas
importantes na consolidação da democracia no país. Dentre tantas medidas,
algumas favoreceram diretamente o desenvolvimento industrial e urbano
do país (Figura 1), como: aumento de poder dos estados e autonomia dos
municípios, defesa da propriedade privada, sustentação de uma política
econômica liberal e não intervenção do Estado na economia. Foram medidas
que favoreceram diretamente a ação do capital estrangeiro, porém, não sig-
nificaram grande repercussão no desenvolvimento industrial do país, apesar
da entrada de diversas empresas estrangeiras, que passaram a concorrer
com a produção nacional.
4 O desenvolvimento urbano no Brasil entre 1945 e 1964

Figura 1. Desenvolvimento industrial e urbano no governo Dutra: inauguração da Via Dutra,


em 1951, retrato da política desenvolvimentista e populista do Brasil a favor do avanço
industrial e urbano.
Fonte: Stoodi (2020, documento on-line).

Getúlio Vargas continuava sendo uma figura política importante para o


Brasil. Nas eleições para presidente em 1950, foi eleito novamente. Iniciava
no país a Nova Era Vargas (1951-1954). A sociedade brasileira esperava, com
isso, a retomada do crescimento industrial e o controle das massas urbanas.
Procurando retomar o nacionalismo e o intervencionismo no Estado brasi-
leiro, Vargas incentivou indústrias petroquímicas, siderúrgicas, de energia e
técnicas agrícolas. Liderou a campanha “O petróleo é nosso”, criando a estatal
Petrobrás na exploração e refino do petróleo no Brasil e implementando uma
política populista, que se intensificava devido ao seu caráter nacionalista
de governar.
O nacionalismo de Vargas e a sua aproximação com o operariado geravam
insatisfações dos empresários nacionais e estrangeiros, aumentando a opo-
O desenvolvimento urbano no Brasil entre 1945 e 1964 5

sição ao seu governo. Sua política protecionista entrava em conflito com os


interesses do capital estrangeiro, que encontrou na burguesia nacional um
forte apoio contra as medidas políticas e econômicas elaboradas por Vargas,
principalmente no que se referia ao apoio dado aos trabalhadores, como a
elevação do salário mínimo.
À medida que perdia o apoio dos setores dominantes, Vargas buscava o
apoio dos trabalhadores, adotando políticas trabalhistas. Mesmo assim não
conseguiu o apoio total dos trabalhadores, que reivindicavam, por meio de
greves e movimentos, melhores condições de trabalho e aumento do salário.
Em agosto de 1954, com tantas oposições e manifestações de vários setores
da sociedade contra o seu governo, e se recusando a aceitar a renúncia ou
o afastamento do cargo de Presidente da República, Vargas se suicidou. A
partir daí, ocorreram rearranjos políticos e econômicos nas eleições para
presidente da República.
No ano de 1956, o Brasil nomeava um novo presidente: Juscelino Kubitschek
(1956-1961), também conhecido como JK. Seu programa de governo, denomi-
nado de Plano de Metas, priorizava investimentos em energia, transporte,
alimentação, indústria de base e educação. JK consolidou o desenvolvimento
do capitalismo nacional associado ao capital estrangeiro, baseado na indus-
trialização acelerada de bens duráveis e semiduráveis, na expansão de obras
públicas e na construção da nova capital brasileira: Brasília.
Segundo os historiadores contemporâneos Cardoso e Vainfas (1997), o
governo populista se mostrava em desajuste com os interesses capitalistas
associados ao capital estrangeiro, o País se endividava, e as multinacionais
levavam seus lucros exorbitantes para o seu país de origem. As cidades cres-
ciam, juntamente com os problemas sociais e urbanos nas áreas de moradia,
mobilidade urbana, emprego, saúde e educação. Foi um período de largo
crescimento industrial, que ocasionou a migração de nordestinos para as
regiões Sudeste e Centro-Oeste em grande número, aumentando ainda mais
a pobreza, a exclusão social e as vulnerabilidades sociais no espaço urbano.
Em contrapartida, houve o fortalecimento da camada média no país,
criando na sociedade uma mentalidade desenvolvimentista, despertando as
potencialidades que o país poderia oferecer e incentivando o alto nível de
consumo. Os bons resultados do Plano de Metas não impediram, nos espaços
urbanos, principalmente, a existência de muitos focos de conflitos sociais,
manifestações e greves realizadas por trabalhadores.
Os “50 anos em 5” promovidos por JK foram possíveis devido aos inves-
timentos do capital estrangeiro, gerando altas dívidas e dependência eco-
nômica, principalmente com os Estados Unidos. Tratava-se de uma situação
6 O desenvolvimento urbano no Brasil entre 1945 e 1964

em que o grande capital monopolista, em escala internacional, acelerava


as economias periféricas ao grande capital mundial, no contexto da Guerra
Fria. Houve a promoção de um intenso crescimento industrial, que não solu-
cionava os problemas sociais no campo e na cidade, e a miserabilidade era
favorável para o oferecimento de mão de obra barata e a grande reserva
dela em território nacional.
Segundo Prado Jr. (2000), acerca da política desenvolvimentista no Brasil,
na década de 1950, o governo de JK terminou e deixou o país submetido a uma
grave crise econômica, sendo cenário para a campanha partidária de Jânio
Quadros. Este se presentava com um discurso agressivo, que prometia varrer
a corrupção e as mazelas da sociedade brasileira, prometendo justiça social
e moralização nacional. Assim, obteve uma vitória histórica no país. Jânio
Quadros precisava de um programa político eficaz para resolver os proble-
mas deixados por JK, como inflação, dívida externa, pobreza e instabilidade
social. Ao longo do seu governo, ele se utilizou de uma política autoritária,
que interferia diretamente no modo de vida das pessoas, com reformas de
princípios e fundamentos morais.
Jânio Quadros comandou o país por pouco tempo, devido às medidas
tomadas por ele, como restrição ao crédito e congelamento parcial dos sa-
lários, aproximação econômica com a Argentina e intenção de criar um bloco
independente na América Latina. Acabou gerando muitas oposições ao seu
governo, tanto pelos brasileiros como pelos norte-americanos. Buscando
aproximação com os países socialistas, no contexto da Guerra Fria, acabou
sendo acusado de inimigo do país e comunista, intensificando as pressões
internas e externas ao seu governo, o que o levou a renunciar.
Após a renúncia de Jânio Quadros, os militares não aceitaram a posse
do vice-presidente, João Goulart (conhecido como Jango) — acusavam-no
de comunista. Daí, a solução encontrada pelas forças conservadoras foi
implementar o parlamentarismo, para diminuir o poder de Jango. De 1961
até janeiro de 1963, o país foi governado de forma parlamentar. Porém, Jango
realizou um plebiscito, que fazia retornar o regime presidencialista. Era o
último e mais conturbado dos governos presidenciais da democracia popu-
lista, dominado pelos interesses das oligarquias, das elites financeiras e do
capitalismo internacional.
Jango elaborou uma Reforma de Base, que daria condições para o país
ter uma reforma agrária, universitária, eleitoral e urbana. Esse projeto era
audacioso e era contra os interesses burgueses aliados ao capital estrangeiro.
Em um cenário de profundas crises sociais, urbanas, rurais e econômicas,
o país diminuía os investimentos e se afundava em dívidas. Nas cidades, o
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aprofundamento da política de massas ameaçava o populismo, a burguesia


e a camada média, que viam com pavor o aprofundamento de tendências de
esquerda e comunistas no país.
Enfim, controlar a inflação e a crise econômica e política e garantir o de-
senvolvimento industrial era algo impossível de se resolver na década de 1960.
Em 31 de março de 1964, o cenário para a intervenção militar se consolidava.
Terminava o período populista da história do Brasil e se instalava o regime
ditatorial, encerrando, assim, o projeto nacionalista do desenvolvimento
industrial brasileiro.

A história da industrialização e da urbanização está atrelada à injus-


tiça e à vivência nas camadas populares. Nesse sentido, é importante
ressaltar que, no contexto de 1945 a 1964, a cultura e a política se interligavam.
A cultura era vista como um instrumento de transformação, uma visão ambígua
da sociedade que lutava pela politização dos indivíduos e pelo exercício da
cidadania por meio da arte, do cinema, da música, da poesia e da literatura. O
objetivo era revelar ao indivíduo a sua realidade, por meio da desconstrução das
ideologias impostas pelo grande capital. O resultado foi um clima de conflitos
e confrontos, mesmo diante de uma política autoritária e de um nacionalismo
exacerbado. Tratava-se da contestação à prosperidade que só beneficiava uma
minoria, do inconformismo com as relações comerciais e a dependência ao
capital estrangeiro, da crítica à sociedade de consumo, da busca pela liberdade
contra a alienação.
Para saber mais sobre esse assunto, leia o artigo “O Brasil de JK > Sociedade
e cultura nos anos 1950”, de Mônica Almeida Kornis, disponível no site do Centro
de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil, da Fundação
Getúlio Vargas.

Os efeitos da urbanização e os impactos no


quadro econômico brasileiro
O mundo se modifica diariamente. Espaços geográficos, populações, costumes
e sistemas socioeconômicos são continuamente alterados, em um movi-
mento constante causado pela modernização e pela renovação. É importante
ressaltar que o desenvolvimento industrial provoca efeitos e impactos na
sociedade, nas relações de trabalho, na integração cultural e social e nos
espaços urbanos e rurais. Sob essa ótica, é importante compreender que a
urbanização e a industrialização, no contexto de 1945 a 1964, mudaram hábitos
cotidianos, comportamentos e valores e transformaram o espaço urbano em
8 O desenvolvimento urbano no Brasil entre 1945 e 1964

todos os aspectos — político, econômico, cultural e social —, impactando o


desenvolvimento e a construção do homem contemporâneo.
Durante a década de 1950, com o avanço da industrialização, as grandes
cidades, principalmente da região Sudeste, receberam a implantação de
multinacionais responsáveis pela produção de diversos bens de consumo e
de veículos, que consolidaram transformações importantes nos processos
de urbanização e política econômica do país. A sociedade e a economia se
reinventavam, reproduzindo as características mais evidentes dessas orga-
nizações, como a divisão social e a exploração do trabalho. As conquistas
de direitos políticos e, ao mesmo tempo, as restrições de direitos sociais, a
heterogeneidade e a desigualdade social foram marcantes no processo de
industrialização ocorrido no Brasil de 1945 a 1964.
Segundo Prado Jr. (2000), nas grandes cidades, observou-se a amplia-
ção da pobreza, a deterioração das condições ocupacionais e o aumento
das vulnerabilidades sociais, do desemprego e da instabilidade econômica.
Tais fatores causaram efeitos devastadores na política urbana brasileira. A
estrutura industrial com base nos interesses do capital estrangeiro não pos-
sibilitou o enfrentamento de problemas internos, como a pobreza nas áreas
rurais, o que levou à migração de milhares de trabalhadores para os grandes
centros urbanos em busca de emprego e renda. Essa migração resultou em
uma grande reserva de mão de obra barata que se amontoou nas cidades,
aprofundando as desigualdades sociais no país. A precariedade e a incerteza
se tornaram elementos cotidianos na vida dos migrantes e trabalhadores
das grandes cidades.
O progresso trazido com a industrialização não resolvia os problemas
sociais, como a miséria, a violência, o desemprego, as migrações e a criminali-
dade. O homem pobre urbano estava fortemente marcado pelas condições do
sistema econômico instituído. Por mais que as cidades oferecessem maiores
possibilidades de emprego, isso não era suficiente para atender a toda a
demanda. Ao mesmo tempo que se propagava a ideia de uma vida melhor nos
centros urbanos, a realidade era bastante perversa. Os postos de trabalho
eram muito volúveis, com pagamento de salários muito baixos, e a cidade
não oportunizava para a maioria dos trabalhadores serviços básicos como
saúde, educação e saneamento básico.
As condições de vida da maioria dos trabalhadores nos grandes centros
urbanos desde 1945, estendendo-se até os dias atuais, são precárias, sub-
-humanas, miseráveis. De fato, trabalho e dinheiro não são acessíveis a todos.
A exclusão dos direitos e a política econômica direcionada ao longo da história
para beneficiar a elite nacional e estrangeira favoreceram a consolidação
O desenvolvimento urbano no Brasil entre 1945 e 1964 9

de uma urbanização ineficaz, com sérios problemas na infraestrutura e na


conjuntura das cidades.
Assim, entre 1945 e 1964, as cidades se transformaram para assegurar o
desenvolvimento econômico. O espaço físico se descaracterizou, e as an-
tigas moradias deram lugar a habitações coletivas e centros comerciais.
As favelas e a periferia cresceram na mesma intensidade (Figura 2); novos
bairros distinguiam os moradores de acordo com sua renda e seu status.
Nesse contexto, o planejamento urbano se fazia necessário e urgente para
reorganizar o espaço público e o privado, além de oportunizar uma melhor
infraestrutura para atender à instalação de inúmeras fábricas e indústrias. As
cidades adquiriram um ritmo cada vez mais acelerado de produção e de vida.

Figura 2. Efeitos e impactos da urbanização: registro de favelas que compunham o cenário


do Rio de Janeiro na década de 1960.
Fonte: Museu da Vida (2018, documento on-line).

Segundo Ianni (1996), as cidades são complexos laboratórios das relações


sociais. Ao mesmo tempo que são o lugar privilegiado das indústrias, são
também o lugar da tirania e da opressão. Para o autor,

A ‘cidade’ pode ser realidade e metáfora, significando simultaneamente mercado,


comércio, indústria, banco, capital produtivo, capital especulativo, tecnologia,
força de trabalho, divisão do trabalho social, planejamento, competição, lucro,
qualidade total; compreendendo grupos e classes sociais, sindicatos e partidos
políticos, movimentos sociais e correntes de opinião pública, tensões sociais e
lutas políticas, assembleias, greves, revoltas, revoluções, pode significar liberdade,
igualdade e contrato, tanto quanto alienação e emancipação, tirania e democracia.
Na cidade desenvolvem-se as mais diversas formas de sociabilidade e múltiplas
10 O desenvolvimento urbano no Brasil entre 1945 e 1964

criações culturais, inclusive artísticas, científicas e filosóficas. E tudo isso pode


irradiar-se pelo mundo agrário, tanto impregnando-se de suas criações como
fertilizando-as (IANNI, 1996, p. 54–55).

É importante ressaltar a análise realizada por Ianni (1996), quando este


se refere ao desenvolvimento das cidades e às contradições que elas de-
senvolveram. Isso porque, paralelamente ao desenvolvimento econômico e
urbano do país, acelerado na década de 1950, surgiram inúmeros contrastes
e confrontos a serem resolvidos nas estruturas urbanas, verificados ainda
hoje. Muitos deles só serão solucionados a partir da tomada de consciência
política por parte dos indivíduos, de uma ação organizada de mobilização
social que se posicione contra a ordem estabelecida, em prol de mudanças
nas implementações políticas espaciais, econômicas e sociais urbanas.
Outro efeito do desenvolvimento industrial urbano, apontado por Prado
Jr. (2000), foi a substituição de vagões e ferrovias por carros e rodovias. A
rede ferroviária foi abandonada, porém, seu custo era muito mais baixo do
que o da rede rodoviária, tanto para o cidadão quanto para o Estado. Foram
medidas tomadas para atender ao capital estrangeiro, abrindo totalmente
a economia e o mercado para as indústrias automobilísticas e petrolíferas,
estimulando, assim, diversas atividades afins, como das indústrias mecânica,
eletrônica, química e outras.
É evidente que a indústria automobilística criou inúmeros postos de empre-
gos. Porém, o país não tinha infraestrutura para atender a esse investimento.
Para construir rodovias, por exemplo, deixou de financiar hospitais, escolas
e rede de saneamento para a população. O governo priorizou políticas de
transporte individual em vez do coletivo, para, assim, aumentar as vendas
de carros no território nacional.
Constatou-se também, com a industrialização, a facilidade de acesso aos
bens de consumo, principalmente nas cidades. Nos governos de JK, Jânio
Quadros e Jango, apesar dos problemas ocasionados pela dependência ao
capital estrangeiro, foi notável o aumento de consumo de bens duráveis e
semiduráveis por parte da população, acarretando mudanças no seu modo
de vida. Por exemplo: ao adquirir uma televisão, obtinha-se acesso a um novo
meio de comunicação, que informava, oferecia lazer, influenciava e direcionava
o cidadão em suas escolhas e seus comportamentos.
Segundo Fausto (1985), é importante acentuar que nenhum dos gover-
nantes, nesse contexto de 1945 a 1964, tinha interesse em desenvolver uma
industrialização e urbanização que acarretasse a modificação da estrutura
socioeconômica do país. Isso porque o lucro e a modernidade faziam parte
O desenvolvimento urbano no Brasil entre 1945 e 1964 11

de um interesse nacional que consolidava as desigualdades da economia


brasileira. O Estado assumiu a liderança no processo de industrialização,
associou-se à iniciativa privada e proporcionou ampla liberdade para a im-
plantação de investimentos estrangeiros no país, principalmente na região
Sudeste, no eixo São Paulo-Rio de Janeiro-Belo Horizonte. Ainda, estabeleceu
políticas educacionais, principalmente nos grandes centros urbanos, obje-
tivando a formação de mão de obra semiqualificada por meio dos cursos
técnicos, para garantir mão de obra barata que atendesse ao grande capital.
Na verdade, a desigualdade, a dominação e as injustiças sociais não foram
oriundas do desenvolvimento industrial e urbano do país — elas sempre
estiveram presentes na história da sociedade brasileira. Muitos de nossos
problemas sociais são oriundos de sistemas políticos excludentes, negligentes
e autoritários, que destituíram, ao longo do processo histórico, o cidadão de
seus direitos.
As grandes cidades brasileiras, no contexto de 1945 a 1964, apresentaram
grandes contrastes sociais, efeitos da desproporção e das injustiças na
distribuição de riquezas socialmente produzidas, da violação dos direitos
e dos impactos causados pelo desenvolvimento econômico brasileiro. As
camadas altas e médias da cidade definiram a padronização do consumo, de
acordo com as propagandas e os comerciais divulgados pela imprensa. Novos
produtos criavam novos hábitos no cotidiano das famílias, despertando uma
extrema necessidade de consumo de tais produtos.
Pode-se dizer que a apropriação capitalista no espaço urbano e a utilização
deste como mercadoria delimita o lugar de cada indivíduo na cidade. Aqueles
que não possuem poder aquisitivo habitam áreas marginais, excludentes,
periféricas. Dessa forma, as cidades se expandem de forma desigual, gerando,
a partir daí, muitas contradições, ambiguidades e miserabilidades que o
grande capital não consegue reverter. O grande entrave à urbanização por
meio de um modelo sustentável é a ausência de implementação de políticas
públicas eficazes, que garantam seguridade e melhores condições de vida
para os habitantes dos grandes centros urbanos. São inúmeras as questões
não resolvidas na governabilidade do espaço urbano, relacionadas a aspec-
tos como moradia, transporte coletivo, saúde, educação, lazer, entre tantos
outros aspectos que se deterioram a cada dia, causando prejuízos enormes
na vida urbana.
O desenvolvimento econômico e urbano gerou frustrações e carências para
a sociedade brasileira, que ainda luta contra as segregações e as precariedades
causadas por ele. O modelo de urbanização acelerada, desordenada e exclu-
dente viabilizado desde 1945 resultou em fortes indicadores de destituição
12 O desenvolvimento urbano no Brasil entre 1945 e 1964

de direitos sociais, dependência do capital estrangeiro, exploração de mão


de obra e matéria-prima barata e precarização do trabalho e da vida humana.
Porém, é imprescindível reconhecer também os avanços obtidos no espaço
urbano com as implementações tecnológicas, que transformaram o modo de
vida das pessoas, e a inserção ao mundo moderno e pós-moderno. Dentre
esses avanços, destacam-se a luta pelo exercício da cidadania, o papel da
mulher no mercado de trabalho e na organização espacial urbana, as políticas
sociais e públicas, que intensificaram a organização de movimentos sociais,
e a democratização da educação. Enfim, são diversos avanços que entram
em confronto com os retrocessos da realidade social brasileira.

A Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, um plano de ação


da Organização das Nações Unidas que aponta 17 objetivos para o
desenvolvimento sustentável, sugere muitas transformações no espaço urbano.
Por exemplo, o Objetivo 11, intitulado “Cidades e Comunidades Sustentáveis”,
objetiva tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros,
resilientes e sustentáveis. Para saber mais, acesse o site da Agenda 2030 e
consulte o Objetivo 11.

As mudanças ocorridas no âmbito social a


partir do governo de Juscelino Kubitschek
No contexto do governo de JK (Figura 3), de 1956 a 1961, vários aspectos da
questão social acentuaram a gravidade das demandas oriundas do sistema
econômico capitalista. O desenvolvimento era a ideologia da época, e o
Estado cada vez mais ampliava a sua participação na economia e reforçava
as alianças nacionais e internacionais, propagando as ideias do patriotismo e
da cooperação internacional. Outro aspecto importante do desenvolvimento
urbano nesse contexto foi a formação de uma grande reserva de mão de
obra nas cidades, acelerando o processo de empobrecimento das classes
populares e a marginalização da população desempregada.
O desenvolvimento urbano no Brasil entre 1945 e 1964 13

Figura 3. O presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira se dirige para o palanque do Palácio


da Alvorada, em 1960, em Brasília, no Distrito Federal. Ao mesmo tempo que ocorria a política
desenvolvimentista no país, evidenciava-se um aumento da miséria e da desigualdade social.
Fonte: Paraná (2020, documento on-line).

Durante o governo JK, a sociedade brasileira presenciou a estabilidade


da política desenvolvimentista. Simultaneamente, a população assistiu a
várias manifestações e rebeliões realizadas por trabalhadores e desempre-
gados em busca de melhorias e direitos e contra a abertura desenfreada ao
capital estrangeiro e a exploração da mão de obra. Decorreram daí inúmeras
mudanças no âmbito social do país.
Segundo Guimarães (2005, p. 48–49), acerca da política desenvolvimentista:

A estratégia desenvolvimentista inicia sua argumentação afirmando que a demanda


e o consumo de produtos primários nos centros mais desenvolvidos não acompa-
nham proporcionalmente o crescimento da renda, enquanto aqueles bens estão
sujeitos a flutuações de preços súbitas e amplas, o que afeta a capacidade nacional
de importar e portanto de investir, inclusive na infra-estrutura, com graves reper-
cussões sobre o nível interno de emprego e renda e a estabilidade social do país.
14 O desenvolvimento urbano no Brasil entre 1945 e 1964

O Plano de Metas elaborado no governo de JK significou uma maior diver-


sificação de bens de consumo duráveis, o que acarretou mudanças sociais
e culturais significativas no cotidiano da sociedade brasileira, consolidando
uma realidade política, social, econômica e cultural baseada nas influências
estrangeiras. Dessa forma, desenraizaram-se progressivamente as manifes-
tações culturais e peculiares da nação, ao mesmo tempo que se propagou a
estratégia desenvolvimentista no sistema econômico brasileiro.
Durante o governo JK, o Congresso assegurava a legitimação das políticas
públicas elaboradas pelo Presidente, funcionando como um canal de circu-
lação de demandas setoriais dos grupos sociais, principalmente de apoio ao
governo. Foram utilizados o clientelismo e o empreguismo como moeda de
troca com os sindicatos. Dessa maneira, neutralizavam-se as resistências
populares contra o alto custo de vida e a presença do capital estrangeiro.
Nota-se um caráter liberal democrático nas ações políticas consolidadas
no contexto da década de 1950, que determinava as bases e as propostas do
Plano de Metas, dinamizando o processo de industrialização e transformação
capitalista. Isso ocorria diante de um cenário de desemprego e pauperização,
um acelerado processo migratório e um aumento da violência, das tensões
e das fragmentações no âmbito social, que contradiziam o discurso desen-
volvimentista na prática. É importante destacar a ressalva de Guimarães
(2005, p. 168):

[...] é preciso notar que, em diversos momentos da história da formação indus-


trial brasileira, a ação do Estado, construindo as bases físicas para a atuação do
capital privado nacional ou estrangeiro — tais como a infra-estrutura de energia
e de comunicações —, ou implementando políticas regulatórias das atividades do
capital , foi decisiva para superar estrangulamentos localizados, ou para dotar a
economia daquela base indispensável ao seu desenvolvimento continuado e ao
alcance de níveis mais elevados de sofisticação e competitividade.

Cabe acrescentar que o grande contingente de mão de obra barata foi


fundamental para o país ser atraente para o capital estrangeiro. Pode-se
dizer ainda que esse contingente foi fundamental no processo industrial
urbano. Projetar no país “50 anos em 5” foi uma prática audaciosa, apoiada
no grande capital monopolista. No âmbito social, o governo JK não promoveu
alteração na correlação de forças entre as classes dominantes e manteve as
contradições do desenvolvimento, em que a miséria permitia o fornecimento
de mão de obra barata para a dinamização industrial.
O Programa de Metas do governo objetivava 31 metas, distribuídas em
seis grandes grupos: Energia, Transporte, Alimentação, Indústrias de Base,
O desenvolvimento urbano no Brasil entre 1945 e 1964 15

Educação e Construção de Brasília. Com investimentos em obras públicas e


entrada de indústrias estrangeiras, o Programa de Metas fazia aumentar o
quantitativo de vagas de emprego. É importante ressaltar a análise de Lafer
(2002, p. 47) acerca do Plano de Metas:

O Programa de Metas ia ao encontro do estilo conciliatório das elites. Nesse sentido,


cumpre salientar a importância do plano como um conceito político, decorrente da
visão que Kubitschek tinha — e defendia — do futuro, compatível com as condições
vigentes de participação política e, portanto, com os interesses dos atores rele-
vantes no sistema político. Como conceito político, um plano representa, de fato,
não apenas aspectos da experiência real de determinados grupos, mas também
a visão e as expectativas de um futuro no qual acreditam. Portanto, a decisão de
planejar, pela primeira vez proposta em uma campanha eleitoral, consistiu em
uma tentativa de reduzir a incerteza sobre as novas políticas, na medida em que
a visão do futuro não revelava, de antemão, incompatibilidade entre as aspirações
das massas (expansão das oportunidades de emprego) e das elites (tradicional
estilo conciliatório).

Porém, a acelerada entrada de migrantes na região Sudeste, em busca de


melhorias de vida, fugindo da miséria e do atraso regional das demais regiões,
em destaque o Nordeste, diminuía as oportunidades de geração de renda.
Isso porque as cidades não conseguiam promover a quantidade necessária
de ofertas de emprego. O sucesso do Programa de Metas não solucionou as
contradições e ambiguidades do sistema capitalista liberal — por exemplo,
não impediu o movimento operário e as greves, o aumento das disparidades
regionais simultaneamente ao desenvolvimento industrial, a manutenção
e o crescimento da miséria e as desigualdades sociais nos espaços rural e
urbano. O governo não conseguia gerar tantos empregos nos setores secun-
dários e terciários para atender a toda a demanda. Assim, o desequilíbrio era
evidente no espaço urbano, com a construção de favelas lado a lado com as
mansões burguesas.
Segundo Ianni (1979), o governo JK marcou um período de transição, saindo
de uma política prioritariamente nacionalista do governo Vargas para adotar
o desenvolvimentismo pautado em uma relação de dependência e associação
com o capital externo. Nesse sentido, o progresso econômico desejado por
Kubitschek não defendia a ideia de autonomia. Ao contrário, previa que a
industrialização só se efetivaria, de fato, com a entrada de investimento
privado, principalmente estrangeiro. Partindo desse argumento, Ianni (1979)
afirma que o vínculo com o nacionalismo “[...] era apenas e exclusivamente
ideológico e tático. Era muito mais uma concessão às forças políticas com
16 O desenvolvimento urbano no Brasil entre 1945 e 1964

as quais Kubitschek teve de jogar” (IANNI, 1979, p. 186). A Figura 4 mostra o


planejamento dos investimentos do governo JK.

Figura 4. Previsão de "tempos" no plano de investimentos do governo Juscelino Kubitschek.


Fonte: Silva (2020, documento on-line).

Ao longo dos anos seguintes, segundo Fausto (1985), a crise brasileira


aumentou e afetou todas as esferas da sociedade — econômica, política,
social e cultural. O discurso desenvolvimentista se desgastou e perdeu seu
teor populista. As intensas mobilizações social, política e popular propaga-
ram ideias revolucionárias e um profundo descontentamento com a ordem
estabelecida. Muitas foram as críticas ao governo JK e às políticas desen-
volvimentistas que propagaram um crescimento econômico vinculado ao
capital estrangeiro. O golpe de 1964 esmagou as forças populares e manteve
o modelo de desenvolvimento industrial instituído por JK, com algumas
alterações, para a retomada do crescimento econômico no país frente a um
cenário de crise e recessão.
No que se refere ao âmbito social, as perdas salariais e trabalhistas foram
altíssimas, aprofundando as disparidades sociais e aumentando os índices de
mortalidade e miserabilidade, empobrecimento dos trabalhadores e privação
O desenvolvimento urbano no Brasil entre 1945 e 1964 17

de seus direitos básicos. Tais problemas percorreram todo o século XX e ainda


perduram no século XXI. Houve o fortalecimento de uma segregação espacial e
social nas cidades brasileiras, juntamente com a crise urbana, fomentada pelo
desemprego, pela miserabilidade, pela violência e pela desregulamentação
dos direitos e serviços básicos.
Para sanar essas problemáticas, faz-se necessário regulamentar políticas
sociais eficazes que possam oportunizar melhores condições de vida para os
cidadãos, seja no espaço urbano ou rural. Como afirma Faleiros (1991, p. 8):

As políticas sociais no Brasil estão relacionadas diretamente às condições viven-


ciadas pelo País em níveis econômico, político e social. São vistas como mecanis-
mos de manutenção da força de trabalho, em alguns momentos, em outros como
conquistas dos trabalhadores, ou como doação das elites dominantes, e ainda
como instrumento de garantia do aumento da riqueza ou dos direitos do cidadão.

O momento histórico é de reinvenção, reorganização, reestruturação da


sociedade brasileira e de todo o seu sistema político-econômico. O enfren-
tamento à realidade perversa do capitalismo se fortalece juntamente com
as ações de cidadania, a implementação de políticas públicas eficazes, as
mobilizações e as tomadas de consciência política e social, em prol de um
desenvolvimento sustentável e humano.
Segundo Faleiros (1991), as políticas sociais devem ser entendidas como
produto histórico concreto a partir do contexto da estrutura capitalista.

As políticas sociais são formas de manutenção da força de trabalho econômica


e politicamente articuladas para não afetar o processo de exploração capitalista
e dentro do processo de hegemonia e contra hegemonia da luta de classes. (FA-
LEIROS, 1991, p. 45).
[...] as políticas sociais, apesar de aparecerem como compensações isoladas para
cada caso, constituem um sistema político de mediações que visam à articulação
de diferentes formas de reprodução das relações de exploração e dominação da
força de trabalho entre si, com o processo de acumulação e com as forças políticas
em presença (FALEIROS, 1991, p. 80).

Acerca desse assunto, pode-se ressaltar também a questão do desenvol-


vimento urbano industrial. No cenário brasileiro, ao longo da história, esse
desenvolvimento foi desigual, com formas tipicamente capitalistas atuando
juntamente com as formas tradicionais de expropriação e espoliação da
acumulação primitiva, a partir de um modelo de modernização conservadora
e de um desenvolvimento desigual, dependente e periférico do capitalismo.
Visto que o crescimento econômico é uma das condições necessárias para a
resolução dos problemas que se arrastam na história do país, tanto no espaço
18 O desenvolvimento urbano no Brasil entre 1945 e 1964

urbano quanto no rural, fazem-se necessárias inúmeras implementações de


políticas sociais e públicas em todas as estruturas da sociedade, como na
saúde, na educação, na habitação etc. É necessário ainda o investimento em
novas perspectivas de retomada dos direitos sociais e trabalhistas.

Referências
BAUMAN, Z. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.
CARDOSO, C. F.; VAINFAS, R. Domínios da história. Rio de Janeiro: Campus, 1997.
FALEIROS, V. de P. A política social do Estado capitalista: as funções da previdência e
da assistência sociais. São Paulo: Cortez, 1991.
FAUSTO, B. (org.). História geral da civilização brasileira. 4. ed. São Paulo: Difel, 1985a.
Tomo 3, v. 1.
FAUSTO, B. (org.). História geral da civilização brasileira. 3. ed. São Paulo: Difel, 1985b.
Tomo 3, v. 2.
GUIMARÃES, S. P. Desafios brasileiros na era dos gigantes. Rio de Janeiro: Contraponto,
2005.
IANNI, O. A era do globalismo. 2. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1996.
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LAFER, C. JK e o Programa de Metas (1956-1961): processo de planejamento e sistema
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MUSEU DA VIDA. Exposição "O Rio que se queria negar", que reúne imagens de favelas
cariocas captadas por Anthony Leeds, está em cartaz em Nilópolis. Rio de Janeiro:
Fiocruz, 2018. Disponível em: http://www.museudavida.fiocruz.br/index.php/ultima-
-semana-para-conferir-exposicao-o-rio-que-se-queria-negar-que-reune-imagens-de-
-favelas-cariocas-captadas-por-anthony-leeds#.X8tW8GhKhPZ. Acesso em: 5 dez. 2020.
PARANÁ. Governo do Estado. Museu Oscar Niemeyer abre exposição sobre as origens
do fotojornalismo no Brasil. Curitiba: Agência de Notícias do Paraná, 2020. Disponível
em: http://www.aen.pr.gov.br/modules/galeria/detalhe.php?foto=224144&evento=39
893#menu-galeria. Acesso em: 5 dez. 2020.
PLATAFORMA AGENDA 2030. Objetivo 11: cidades e comunidades sustentáveis. Brasília:
PNUD, IPEA, 2020. Disponível em: http://www.agenda2030.org.br/ods/11/. Acesso em:
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PRADO JR, C. Formação do Brasil contemporâneo. São Paulo: Brasiliense, 2000.
SILVA, S. B. da. O governo de Juscelino Kubitschek. Rio de Janeiro: FGV, 2020. Disponí-
vel em: https://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/JK/artigos/Economia/PlanodeMetas.
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STOODI. Resumo de Governo Dutra: história. São Paulo: Stoodi, 2020. Disponível em:
https://www.stoodi.com.br/resumos/historia/governo-dutra/. Acesso em: 5 dez. 2020.
O desenvolvimento urbano no Brasil entre 1945 e 1964 19

Leituras recomendadas
HOBSBAWM, E. A era dos extremos: 1914-1991. São Paulo: Cia das Letras, 1993.
KOWARICK, L. A espoliação urbana. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979.
KOWARICK, L. O preço do progresso: crescimento econômico, pauperização e espoliação
urbana. In: MOISÉS, J. A. et al. Cidade, povo e poder. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982.
v. 5. (Coleção CEDEC/PAZ E TERRA). p. 30–48.
LE GOFF, J. História e memória. Campinas, SP: Editora Unicamp, 2012.
LEITE, C.; AWAD, J. di C. M. Cidades sustentáveis, cidades inteligentes: desenvolvimento
sustentável num planeta urbano. Porto Alegre: Bookman, 2012.
ROSE, J. F. P. A cidade em harmonia: o que a ciência moderna, civilizações antigas e a
natureza humana nos ensinam sobre o futuro da vida urbana. Porto Alegre: Bookman,
2019.
SANTOS, W. G. dos. O cálculo do conflito: estabilidade e crise na política brasileira.
Belo Horizonte: UFMG; Rio de Janeiro: IUPERJ, 2003.
SKIDMORE, T. E. Brasil: de Getúlio a Castello (1930-1964). São Paulo: Companhia das
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SOUZA, N. O planejamento econômico no Brasil: considerações críticas. Revista de Ad-
ministração Pública, v. 46, n. 6, p. 1671–1720, 2012. Disponível em: https://doi.org/10.1590/
S0034-76122012000600012. Acesso em: 5 dez. 2020.

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