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Reorganização política
"Após a renúncia de Getúlio Vargas em outubro de 1945, o Brasil
embarcou em uma tumultuada jornada de volta à democracia. As eleições
foram meticulosamente programadas, orquestrando a escolha de um novo
presidente e de um grupo de parlamentares encarregados de tecer a
estrutura de uma nova Constituição. Dentro desta grande reconfiguração,
surgiram pelo menos três entidades politicamente formidáveis, cada uma
caracterizada por aspirações distintas e uma adesão heterogênea."
“A medida que esse novo mosaico partidário se desenrolava, a sombra de
Getúlio Vargas ampliou seu alcance, exercendo profunda influência tanto
sobre o PSD quanto sobre o PTB. Nas eleições de dezembro de 1945,
tornou-se evidente que o legado político de Vargas permaneceu resoluto”.
“O general Eurico Gaspar Dutra, ex-ministro da Guerra de Vargas,
conquistou a vitória com impressionantes 3,2 milhões de votos,
constituindo 55% do total, reforçado pelo apoio de Getúlio e do PTB.
derrota."
“No entanto, a eleição teve uma reviravolta imprevista – o Partido
Comunista teve um desempenho surpreendente. Ele garantiu não apenas
um senador, Luís Carlos Prestes, mas também conseguiu conquistar 15
cadeiras na Câmara dos Deputados.”
"Em setembro de 1946, o projeto final da nova Constituição viu a luz do
dia. Embora esse marco consagrasse o direito à greve e concedesse o
sufrágio universal às mulheres, ele teimosamente se agarrou à privação de
direitos dos analfabetos, que constituíam quase metade da população do
Brasil em ao mesmo tempo. Simultaneamente, as propostas apresentadas
pelo crescente movimento pelos direitos civis para combater a
discriminação racial e étnica encontraram-se atoladas numa teia de
complexidades parlamentares, tornando ilusório o progresso substantivo."
Liberalismo e anticomunismo
Em meio à história política brasileira, um capítulo transformador se
desenrolou sob a gestão do presidente Dutra. O seu mandato foi marcado
por uma doutrina económica firmemente enraizada em princípios liberais,
defendendo a aceitação aberta do capital estrangeiro e o entusiasmo
irrestrito pelas importações. No entanto, as ramificações destas políticas
suportaram o peso das consequências. A indústria nacional, outrora um
símbolo de resiliência, viu-se enredada nas espirais de uma recessão
implacável. A inflação e o desemprego, subiram ameaçadoramente.
Entretanto, a base da classe trabalhadora – o salário mínimo – permaneceu
petrificada, intocada pela reforma. As consequências repercutiram à medida
que o poder de compra das massas trabalhadoras despencou.
Simultaneamente, surgiu uma onda de descontentamento coletivo. Os
protestos de rua aumentaram e a cadência rítmica das greves ecoou pelas
fábricas e vias públicas, enquanto a população procurava reparação para as
suas queixas. Contudo, para além do domínio da economia, o cenário
político assumiu uma tonalidade totalmente divergente. Dutra, consciente
das fissuras ideológicas globais provocadas pela Guerra Fria, embarcou
numa campanha incansável contra o comunismo. No tumultuado ano de
1947, rompeu os laços diplomáticos com a União Soviética e lançou o
Partido Comunista do Brasil (PCB) no abismo da ilegitimidade. Um ano
mais tarde, ocorreu um ato abrangente de purga política, a medida que
todos os parlamentares solitários afiliados ao bloco comunista enfrentavam
a expulsão dos sagrados corredores do Congresso. As consequências destas
medidas tumultuosas geraram ressentimento e descontentamento entre uma
infinidade de estratos sociais. Este turbilhão de insatisfação encontraria a
sua expressão final no cadinho das eleições presidenciais de 1950. Foi
nessa atmosfera carregada que Getúlio Vargas, vestindo as cores do Partido
Trabalhista Brasileiro (PTB), reentrou na arena política. Com retumbantes
48,73% dos votos válidos, ele conquistou a vitória, recuperando assim o
manto da presidência no ano seguinte. A população, sempre propensa a
acessos de exuberância rítmica, anunciou o seu regresso com um refrão
cativante: "Bota o retrato do velho outra vez, bota no mesmo lugar, o
sorriso do velhinho faz a gente trabalhar" Com 73% dos votos válidos, ele
conquistou a vitória, recuperando assim o manto da presidência no ano
seguinte. A população, sempre propensa a acessos de exuberância rítmica,
anunciou o seu regresso com um refrão cativante: "Bota o retrato do velho
outra vez, bota no mesmo lugar, o sorriso do velhinho faz a gente trabalhar"
Com 73% dos votos válidos, ele conquistou a vitória, recuperando assim o
manto da presidência no ano seguinte. A população, sempre propensa a
acessos de exuberância rítmica, anunciou o seu regresso com um refrão
cativante: "Bota o retrato do velho outra vez, bota no mesmo lugar, o
sorriso do velhinho faz a gente trabalhar".
Período desenvolvimentista
Quando Juscelino Kubitschek ascendeu à presidência, ele apresentou uma
grande promessa – alcançar em apenas cinco anos o que, nas suas próprias
palavras, outros presidentes precisariam de meio século para realizar. Para
traduzir esta visão audaciosa em realidade, ele revelou o ambicioso Plano
de Metas, uma sinfonia de medidas destinadas a impulsionar o
desenvolvimento económico abrangente em todo o Brasil. Este plano
abraçou investimentos audaciosos em sectores críticos, abrangendo energia,
transportes, indústrias básicas, educação e nutrição. Num piscar de olhos
surgiram hidrelétricas de destaque como Furnas e Três Marias, ao lado da
colossal Usiminas, renomada siderúrgica. As indústrias automobilística e de
construção naval também experimentaram um renascimento. Promover a
ocupação e o desenvolvimento de regiões remotas, com mais de 20000
quilômetros de rodovias foram gravados na paisagem. O ápice dessa
empreitada, sem dúvida, foi a concepção e construção da futurística cidade
de Brasília, elevada como a nova capital do Brasil. Sob a batuta de JK, o
Brasil testemunhou um notável aumento econômico. Entre 1955 e 1961, a
produção industrial disparou, saltando surpreendentes 80%. Durante este
período, o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu a uma taxa anual
impressionante de 7%. Esse aumento no poder de compra impulsionou a
classe média, passando a ter acesso a eletrodomésticos, automóveis e
produtos feitos de plásticos e fibras sintéticas, considerados verdadeiros
luxos na época. Esta era de prosperidade e otimismo foi imortalizada como
os “anos dourados”. Contudo, as políticas orientadas para o
desenvolvimento de Kubitschek não estavam isentas de desafios. A dívida
externa continuou a aumentar e os custos relacionados com a construção de
Brasília geraram um défice estratosférico nas finanças públicas. Para cobrir
estas despesas, o governo começou a inundar o mercado com quantidades
consideráveis de papel-moeda, um processo que alimentou a inflação. Em
1959, os aumentos de preços foram avassaladores, chegando quase a 40%.
O Plano de Metas acelerou o desenvolvimento das regiões Sudeste,
desencadeando uma migração massiva para esta área, predominantemente
do Nordeste, uma região marcada por desafios persistentes como pobreza,
seca e falta de oportunidades de emprego. Além disso, a expansão aleatória
das áreas urbanas, exacerbada pelo crescente êxodo rural, resultou na
proliferação de favelas e no surgimento de bairros periféricos
caracterizados pela escassez de recursos básicos como água encanada e
saneamento. Essas condições sociais desfavoráveis, agravadas durante o
governo JK, manifestaram-se nas urnas. Em 1961, Jânio Quadros, da UDN,
candidato da oposição, foi eleito presidente, sendo João Goulart reeleito
vice-presidente, numa época em que os votos para esses cargos eram
independentes entre si.
Parlamentarismo no brasil
O governo de Jânio Quadros durou sete meses, até agosto de 1961, quando
ele renunciou ao mandato. Segundo alguns historiadores, Jânio renunciou à
Presidência esperando que os parlamentares mais conservadores e o alto
comando das Forças Armadas não aceitassem o seu vice – João Goulart,
politicamente ligado à esquerda e aos sindicatos – no poder. Dessa maneira,
ele pretendia se fortalecer politicamente e retomar o governo mais
independente, implantando medidas que considerasse necessárias. O
Congresso, entretanto, aceitou a renúncia. A Presidência foi ocupada
interinamente pelo presidente da Câmara, o deputado Ranieri Mazzili, já
que João Goulart encontrava-se na China. Nas Forças Armadas, grupos
conservadores ligados à UDN tentavam impedir a posse de Goulart. Ao
mesmo tempo, no Exército, grupos ligados ao governador do Rio Grande
do Sul, Leonel Brizola (PTB), ameaçavam resistir caso João Goulart fosse
impedido de assumir a Presidência. Alegando evitar que o país entrasse em
uma guerra civil, o Congresso Nacional aprovou uma emenda
constitucional criando o parlamentarismo. O governo seria exercido pelo
primeiro-ministro, a ser escolhido pelo Congresso, e o presidente teria a
função de chefe de Estado. João Goulart retornou ao Brasil e, no dia 7 de
setembro de 1961, assumiu a Presidência com poderes limitados.
“Milagre” econômico
Enquanto o Estado ceifava vidas entre os opositores do regime, a
economia, paradoxalmente, ressurgia com vigor, catapultando o Brasil para
um período de crescimento intenso. Esses anos sombrios, tingidos de
chumbo, também guardam o que ficou conhecido como o "milagre
econômico".
A partir de 1967, o Produto Interno Bruto (PIB) viu-se inflar a uma média
arrebatadora de aproximadamente 11% ao ano, uma façanha notável, que se
destacava no cenário mundial. Os pilares desse avanço eram sustentados
pelos vultosos investimentos governamentais em infraestrutura e a
ampliação agressiva do mercado interno e das exportações.
O fim da ditadura
As manifestações pelo fim da ditadura estavam ganhando um impulso
notável. Em 1978, nasceu o Movimento do Custo de Vida nos bairros
periféricos das grandes cidades. Eles organizaram um abaixo-assinado
impressionante, com mais de 1,3 milhão de assinaturas, exigindo aumento
salarial e congelamento dos preços dos itens essenciais. No mesmo ano,
representantes do Movimento Unificado contra a Discriminação Racial
(MUCDR) protestaram veementemente após a morte brutal de Robson
Silveira da Luz, um jovem negro de 21 anos, que foi preso e morto sob
tortura em uma delegacia na periferia de São Paulo.
No final dos anos 70, o movimento operário começou a mostrar sua
capacidade de mobilização. Em 1978 e 1979, milhares de trabalhadores
entraram em greve em São Paulo.
Em 1979, a campanha pela anistia dos presos políticos, cassados e
perseguidos pela ditadura, ganhou grande força. Em resposta à pressão
popular, em agosto de 1979, o Congresso aprovou a Lei da Anistia. Isso
permitiu o retorno dos exilados, mas também implicou no perdão aos
crimes cometidos pelos agentes da ditadura envolvidos em torturas e
assassinatos de presos políticos.
Em novembro de 1979, o Congresso aprovou um projeto de lei que
encerrou o sistema bipartidário e regulamentou o pluripartidarismo. Arena
e MDB foram extintos, e surgiram outros partidos, incluindo o Partido
Democrático Social (PDS), o Partido do Movimento Democrático
Brasileiro (PMDB), o Partido Popular (PP), o Partido Democrático
Trabalhista (PDT), e o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). Além disso,
em 1980, foi fundado o Partido dos Trabalhadores (PT), que reuniu
sindicalistas, intelectuais, militantes de esquerda, setores da Igreja e
políticos da ala mais à esquerda do antigo MDB.
Os militares da "linha dura," juntamente com grupos paramilitares de
direita, como o Comando de Caça aos Comunistas (CCC), a Aliança
Anticomunista Brasileira (AACB), e a Falange Pátria Nova (FPN),
começaram a organizar atentados terroristas com o objetivo de sabotar o
processo de redemocratização.
Um dos ataques terroristas mais notórios foi um atentado fracassado no
centro de convenções do Riocentro, no Rio de Janeiro, em 1981, durante
um show em comemoração ao 1º de Maio, Dia do Trabalhador. Duas
bombas explodiram prematuramente, enquanto ainda estavam sendo
montadas dentro do carro onde dois militares terroristas se encontravam.
Um deles perdeu a vida, enquanto o outro, o capitão Wilson Chaves
Machado, ficou ferido. Um Inquérito Policial Militar (IPM) foi aberto, mas
o caso foi abafado pelo governo, e os culpados nunca foram punidos.
Diretas já!
Não apenas o clima de terror, mas também uma crise econômica crescente
atormentava a sociedade. A inflação saiu do controle - atingindo 38,9% em
1978 e um incrível 110% em 1980. Em 1981, o PIB entrou em território
negativo. O Brasil estava preso em um estagflação: uma mistura de
estagnação econômica com uma inflação galopante.
Nas eleições de janeiro de 1985, Tancredo Neves venceu com 480 votos do
Colégio Eleitoral contra 180 de seu adversário. No entanto, um dia antes da
posse, em 15 de março, Tancredo Neves adoeceu gravemente e faleceu em
21 de abril.