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Brasil democrático

Autor
Helio Cannone
Introdução
Marcada pela promulgação da nova Constituição em 1988 e pela reconquista do voto direto, a
Nova República brasileira construiu uma intensa história. São sete presidentes a ocupar o
Palácio do Planalto e dois processos de impeachment em poucos mais de três décadas. Neste
conteúdo, vamos revisitar um passado recente em suas dimensões políticas, econômicas,
sociais e culturais.

A Unidade 1 inicia com a histórica eleição de 1989, com mais de 20 candidatos e permeada por
polêmicas e marketing político. Foi um período conduzido por uma política econômica liberal,
sendo as privatizações uma estratégia central. O curto mandato de Collor divide espaço com seu
vice, Itamar Franco, governo em que foi desenvolvido o Plano Real. Porém, o legado político foi
usufruído pelo então ministro da fazenda Fernando Henrique Cardoso, eleito e reeleito em
primeiro turno. Desgastado pelas crises econômicas e dívidas com o Fundo Monetário
Internacional (FMI), o projeto político de FHC não fez sucessor nas eleições de 2002, sendo o
vencedor Luiz Inácio Lula da Silva.

Dedicada aos governos de Lula, a Unidade 2 apresenta um Brasil com crescimento econômico e
maior distribuição de renda, embora ainda permeado por escândalos políticos de corrupção. Os
custos políticos do mensalão não foram suficientes para retirar o Partido dos Trabalhadores do
poder. Sem a possibilidade de disputar a eleição, Lula fez campanha para sua ministra, Dilma
Rousseff. Eleita para dois mandatos a primeira presidenta do Brasil, sofreu impeachment em
2016 e foi substituída por Michel Temer. O país passava por crise econômica e alta taxa de
desempregados. Em 2018, após período eleitoral altamente polarizado, Jair Bolsonaro foi eleito
presidente do Brasil.

Na última Unidade, estudaremos como estas décadas movimentadas impactaram na


composição social brasileira, agora mais urbana, e na expressão cultural. Veremos a
consolidação de movimentos sociais e algumas de suas conquistas e a reverberação de algumas
destas pautas na cena cultural. A democratização e a internet revolucionaram as artes,
amplificando o alcance à diversidade.
Práticas profissionais - História do tempo presente

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1 Advento liberal (1990-2003)
Após 29 anos sem eleições diretas para presidente no Brasil, a Nova República foi iniciada com
Constituição aprovada e participação ativa dos cidadãos. Derrotando os demais 21 candidatos,
Fernando Affonso Collor de Mello assumiu a Presidência da República.

Nesta Unidade, estudaremos os primeiros anos deste período desde a eleição e posse de Collor,
em 1990, até o fim do mandato de Fernando Henrique Cardoso, em janeiro de 2003. Para tanto,
este conteúdo está dividido em três seções principais, cada uma dedicada ao governo de um dos
três presidentes.

Em ordem cronológica, começamos pelo governo curto e marcante de Collor, do Partido de


Reconstrução Nacional (PRN). Eleito em pleito histórico, o novo presidente teve que enfrentar um
quadro inflacionário grave, sem muito sucesso. A pauta anticorrupção também perdeu força
após ser denunciado e iniciado o processo de impeachment. O governo termina com a renúncia
do presidente em outubro de 1992.

Subiu ao poder o vice-presidente Itamar Augusto Cautiero Franco (PRN). Com a missão de
apaziguar a crise política instaurada, o presidente dirigiu o país com proposta de reunir as forças
nacionais. Foi durante o governo de Itamar que o Plano Real foi elaborado e implementado,
garantindo impactos econômicos – controle da inflação – e políticos, como o fortalecimento do
seu ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso.

Fortalecido pelo sucesso do plano econômico, FHC foi eleito no primeiro turno pelo PSDB
(Partido da Social Democracia Brasileira). Diferentemente dos mandatos anteriores, o presidente
permaneceria no poder por longo prazo, devido à aprovação de emenda constitucional que
passava a permitir a reeleição, que FHC também conquistou no primeiro turno. O apoio popular
era resultado de uma gestão que controlou a inflação e inaugurou projetos de distribuição de
renda. A seguir, veremos os pormenores das três gestões e de que maneira enfrentaram os
desafios políticos econômicos e sociais do início da Nova República.

1.1 Governo Collor (1990-1992)

1.1.1 As eleições diretas

Durante o processo de abertura política, em outubro de 1988 foi promulgada a nova Constituição
brasileira, sétima de nossa história. Foram 20 meses de debates intensos na Constituinte, que
resultaram em um documento comprometido com a democracia. O conjunto de 245 artigos
previa defesa da liberdade de expressão aos cidadãos e à imprensa, independência entre os três
Poderes, ampliação da autonomia dos Estados e municípios, seguro-desemprego, jornada de
trabalho de até 44 horas semanais, licença-maternidade de 120 dias e definição do racismo
como crime inafiançável.

No tocante ao governo federal, a carta reduziu o mandato presidencial para quatro anos, sem
possibilidade de reeleição. Aprovada no decorrer do mandato de José Sarney (1985-1990), a
Constituição previa eleições diretas. Com a redução do mandato de Sarney para cinco anos, em
vez dos seis previstos anteriormente, a eleição presidencial foi marcada para o ano seguinte,
sendo o primeiro turno realizado no dia 15 de novembro.

Quase três décadas depois da última eleição direta para presidente da República, os cidadãos
voltariam às urnas para escolher seu representante. Opções não faltariam, já que 22 candidatos
disputaram o primeiro turno das eleições.

Da longa lista, saltam aos olhos nomes relevantes para a política nacional como Leonel Brizola
(Partido Democrático Trabalhista, PDT), líder político no campo da esquerda e ex-governador do
Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul; Ulysses Guimarães (Partido do Movimento Democrático
Brasileiro, PMDB), que presidiu a assembleia constituinte e havia feito oposição ao regime militar,
e Paulo Maluf (PDS), ex-governador de São Paulo.

Outra mudança eleitoral da Constituição foi a exigência de maioria absoluta para definir o
vencedor, caso contrário os dois mais votados se enfrentariam em novo pleito, o chamado
segundo turno. A nova regra entrou em vigor e no dia 17 de dezembro de 1989 se enfrentaram
nas urnas dois outsiders. Fernando Afonso Collor de Mello (PRN) garantiu seu lugar no segundo
turno com 22,6 milhões de votos (28%). O segundo colocado entre os 22 candidatos foi Luiz
Inácio Lula da Silva (Partido dos Trabalhadores, PT), que reuniu 11,6 milhões de votos (16%).

Figura 1 – Eleições de 1989.

Fonte: <cidadania23.org.br [https://cidadania23.org.br/2019/11/08/os-30-anos-


das-eleicoes-presidenciais-de-1989/] >.
A despeito de quem vencesse este embate, a definição do segundo turno demostrava um
desgaste da população com o status quo estabelecido. Segundo as historiadoras Lilia Schwarcz
e Heloisa Starling (2015), os cidadãos passavam por uma sequência de frustrações, sendo uma
delas o falecimento de Tancredo Neves. Então, Collor conquistou a remanescente esperança na
mudança ao apresentar-se como o salvador que implantaria uma “cruzada moralizadora”. A
década que terminava estava marcada pela aguda crise econômica, e a abertura política
impulsionava a demanda social por mais direitos.

De um lado da disputa estava o alagoano Collor, político jovem que havia sido líder da Arena,
proprietário de meios de comunicação no Estado de origem e de terras. Além destas questões,
também agradavam parte da elite nacional as propostas econômicas de cunho liberal para
redução do Estado. Esta foi umas das principais propostas de governo juntamente ao combate à
corrupção, que ganhou destaque com a caça aos “marajás” do Estado de Alagoas, e aos
privilégios do funcionalismo. É importante lembrar que o público do presidenciável era mais
abrangente, atingindo as massas com sua capacidade oratória e seu carisma.

Do outro lado, estava o torneiro mecânico pernambucano Lula, que migrou para São Paulo com a
mãe e os irmãos em busca de melhores condições de vida. A experiência nos sindicatos o
ambientou na vida política e o levou às disputas eleitorais partidárias. O talento comunicativo,
em conjunto com a origem social e política, ampliava seu apelo popular. Apoiado pela Frente
Brasil Popular, as pautas de Lula eram contrastantes com as do adversário. Defendia o combate
às desigualdades sociais com ações como ampla reforma agrária, anulação do pagamento da
dívida externa e aumento dos salários-mínimos.

No dia 3 de dezembro de 1989, as emissoras Band, Globo, Manchete e SBT se uniram para
promover um debate entre Collor e Lula para o segundo turno. Você pode assistir ao debate
completo pelo vídeo a seguir: www.youtube.com [https://www.youtube.com/watch?v=iP-
_kAaniKY&ab_channel=BandJornalismo] .

Impactada pelas estratégias do marketing político e pelo uso ostensivo da televisão com
propagandas e debates, o segundo turno foi realizado no dia 17 de dezembro de 1989. Dias antes
do pleito, foi veiculado no programa eleitoral de Collor depoimento de uma ex-namorada de Lula,
Míriam Cordeiro, com quem ele possui uma filha, Lurian. No vídeo, o petista é acusado de ter
oferecido dinheiro para que Míriam abortasse.

Em edição do Jornal Nacional no dia seguinte, a jornalista Maria Helena Amaral, que se afastou
da campanha, alegou que o PRN havia conseguido o depoimento por meio de pagamento de 200
mil cruzados-novos, afirmação que foi negada por Míriam. A denúncia causou impacto negativo
na campanha de Lula.

Por fim, Fernando Collor foi eleito com pouco mais de 3 milhões de votos de diferença. O novo
presidente recebeu 42,75% dos votos, enquanto Lula alcançou a marca de 37,86%, em torno de 31
milhões de votos.

Videoaula - O marketing político chegou para ficar.mp4

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1.1 Governo Collor (1990-1992)

1.1.2 O mandato de Fernando Collor

Após quase 30 anos, chegava ao poder um presidente diretamente eleito pela nação. Com 40
anos de idade, tornou-se o presidente mais jovem do país. Não foram apenas estas questões que
transformaram Fernando Collor em um presidente marcante — a alta expectativa na mudança do
rumo do país seria seguida de grande frustação. O governo do “caçador de marajás” foi
interrompido por acusações de corrupção, processo de impeachment e renúncia. Assim, a
esperança depositada nas urnas em 1989 durou apenas até 1992.
Figura 2 – Fernando Collor.

Fonte: <veja.abril.com.br
[https://veja.abril.com.br/blog/noblat/at
ras-da-chuva-de-collor-17-9-1989/] >.

Voltando ao início, no dia da posse, em março de 1990, Collor apresentou-se como o símbolo da
vitória da democracia e das liberdades cívicas. Sintetizando suas propostas, o novo presidente
comprometeu-se com os seguintes pontos: “democracia e cidadania; a inflação como inimigo
maior; a reforma do Estado e a modernização econômica; a preocupação ecológica; o desafio da
dívida social; e, finalmente, a posição do Brasil no mundo contemporâneo” (COLLOR, 2008).

As promessas de moralização e racionalização do setor público na campanha e no discurso se


materializaram em primeiras ações como presidente. Por meio de medidas provisórias e
decretos, Collor vendeu imóveis federais, reduziu o número de ministérios – em que houve a
extinção do Ministério da Cultura –, e demitiu servidores públicos. Entre seus ministros estavam:
na Economia, Fazenda e Planejamento, Zélia Cardoso de Melo; na Educação, Carlos Chiarelli; e
nas Relações Exteriores, Francisco Rezek.

Em médio prazo, Collor pretendia liquidar a inflação, que apresentava índices ultrapassando os
80% ao mês. Para tanto, aprovou um plano enérgico que congelava preços e salários; elevava os
Impostos sobre Produtos Industrializados (IPI); sequestrava reservas financeiras nos bancos que
superassem a soma de 50 mil cruzeiros, reestabelecia o cruzeiro como moeda nacional; e
investia em privatizações e reduzia a interferência do Estado na economia. Estas compunham o
Plano Brasil Novo ou Plano de Estabilização Econômica, popularmente conhecido como Plano
Collor. Os resultados imediatos das medidas foram benéficos, de modo que depois de muito
tempo havia deflação no país. Tal situação reafirmou o ímpeto por transformação que já estava
presente na sociedade.
Aproveitando o clima favorável, o presidente passou no Congresso o Plano Nacional de
Desestatização, com medidas em prol da abertura do país ao mercado internacional. Entre as
medidas, implementadas em outubro de 1991, estava a privatização da Usiminas. Tais medidas
foram amplamente criticadas pela oposição, que faziam protesto contra a condição econômica,
política e social do país. Entre os principais articuladores estavam PT, PSB, PDT e PCB.

As tendências liberais do novo dirigente não eram novidade no mundo, mas estavam ajustadas
às concepções econômicas fundacionais do Consenso de Washington. No ano anterior, havia
ocorrido nos Estados Unidos uma reunião de representantes técnicos do governo e economistas
latino-americanos. Dali resultaram propostas de reformas econômicas a serem implementadas
na região. As questões basilares do Consenso eram: combate rigoroso à inflação;
implementação do Estado mínimo; e a liberalização dos mercados.

As boas notícias econômicas não duraram por muito tempo, e Collor viu sua popularidade do
período eleitoral derreter em 50%. O retorno do crescimento da inflação gerou insatisfação, e as
reivindicações por melhores salários voltaram a ganhar força, sendo apoiadas por aqueles
prejudicados por erros jurídicos nos planos de desestatização do presidente. A influência política
do presidente também recebeu outro abalo com os resultados das eleições para governo dos
Estados. Nenhum dos políticos por ele apadrinhados venceu a eleição.

Embora tenha negado a necessidade de redirecionamento na política econômica, em janeiro de


1991, foi lançado o Plano Collor II, entrando em vigor diversas medidas financeiras, como o
aumento das taxas de juros e dos Impostos sobre Operações Financeiras (IOF).

Os resultados pretendidos não foram alcançados e, como reação, Collor convidou Marcílio
Marques Moreira para assumir o Ministério da Economia. Bem relacionado no mercado
internacional, Marcílio investiu em altas taxas de juros, abertura do mercado de capitais a
investimentos externos e em eliminar progressivamente o controle dos preços. As estratégias
falharam novamente, a inflação permanecia em alta, 25% mensais no fim do mandato, com
recessão e Produto Interno Bruto (PIB) estagnado.
No dia 26 de março de 1991, foi criado o Mercado Comum do Sul (Mercosul), em Assunção.
Estavam presentes Carlos Menem (Argentina), Fernando Collor (Brasil), Luis Alberto Lacalle
(Uruguai) e André Rodriguez (Paraguai). Os representantes dos países-membros acordaram a
redução progressiva das taxas alfandegárias e a suspensão dos subsídios até dezembro de 1994,
dando início ao livre comércio.

Para saber mais sobre a instituição atualmente, acesse: www.mercosul.gov.br


[http://www.mercosul.gov.br/] .

Videoaula - O Consenso de Washington chega ao Brasil.mp4

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1.1 Governo Collor (1990-1992)


1.1.3 O processo de impeachment

Ao longo do mandato de Collor, denúncias de corrupção vieram a público, como esquemas na


Petrobras liderados pelo secretário de Assuntos Estratégicos, Pedro Paulo Leoni Ramos, ou o
suborno de 30 mil dólares recebido por Antônio Rogério Magri, ministro do Trabalho. Collor
tentou reduzir a tensão com uma reforma ministerial, substituindo os nomes acusados de
corrupção. Entre os novos integrantes estavam Celso Lafer e Hélio Jaguaribe, cientistas políticos
próximos do PSDB, e Ângelo Calmon de Sá e Marcus Pratini de Morais, ex-ministros do regime
militar.

O ápice ocorreu em maio de 1992, quando Pedro Collor, irmão do presidente, confirmou
publicamente denúncias anteriores de corrupção e ainda ampliou a lista, envolvendo o
presidente.

O embate entre Pedro Collor e PC Farias, tesoureiro da campanha de Collor, era antigo. Meses
antes, Pedro deu entrevistas à Veja, acusando o tesoureiro de enriquecer às custas da amizade
com o irmão. O resultado foi a abertura de inquérito pelo Polícia Federal a respeito dos negócios
de PC Farias e, na sequência, foi criada Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Câmara dos
Deputados.

Apesar do descrédito do governo com os resultados da CPI, a oposição organizou-se em prol da


garantia do devido processo legal e lançaram o Manifesto Democrático contra a Impunidade. Daí
resultou a chamada Vigília pela Ética na Política, manifestação que tinha por objetivo fiscalizar a
comissão e despertar a sociedade para esta necessidade. Entre as entidades envolvidas nesta
ação estavam a CUT (Central Única dos Trabalhadores), a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil)
e partidos de oposição.

Ao longo da investigação, acompanhada pela opinião pública, outros atores se juntaram às


manifestações contrárias ao governo. Como foi o caso dos estudantes, secundaristas e
universitários que foram às ruas com os rostos manchados pelas cores do Brasil, o que deu ao
movimento o nome de “caras-pintadas”. A mobilização se espalhou pelo país e, em 16 de agosto,
houve protesto em dez capitais exigindo o impeachment. Em resistência, o presidente convocava
os apoiadores para as ruas, sem muito sucesso.

Figura 3 – Manifestação pelo impeachment de Collor.

Fonte: <noticias.uol.com.br [https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-


noticias/2015/03/14/sem-whatsapp-organizadores-do-fora-collor-estouraram-
conta-de-telefone.htm] >.
Com a incriminação de Collor na CPI por receber 6,5 milhões de dólares, a Câmara aprovou a
abertura do pedido de impeachment no dia 29 de setembro. O pedido, capitaneado por Barbosa
Lima Sobrinho e Marcelo Lavenère, presidente da OAB, argumentava que foi utilizado cheque de
um “laranja” de PC Farias para compra de automóvel, Fiat Elba, e reformas em imóveis; houve
ainda recebimento de dinheiro de tráfico de influência comandado por PC Farias para arcar com
despesas do presidente. O presidente foi afastado do cargo e, em 2 de outubro, substituído por
Itamar Franco, o vice-presidente.

Devido à tendência de ser condenado pelo Senado, Fernando Collor renunciou na tentativa de
livrar-se das consequências do julgamento. Porém, o Sendo manteve o julgamento e condenou o
já ex-presidente à inelegibilidade por oito anos. No mesmo dia, Itamar Franco tornou-se
presidente da República. Dois anos depois, Fernando Collor e PC Farias foram inocentados pelo
STF da acusação de corrupção passiva, mantendo-se a inelegibilidade e os demais processos
em curso.

Durante o governo Collor, o Rio de Janeiro sediou um encontro organizado pela ONU (Organização
das Nações Unidas) para debater os problemas relacionados ao meio ambiente. O evento,
conhecido como Rio 92 ou Cúpula da Terra, produziu a Agenda 21. O programa de ação assinado
pelos 179 países participantes promovia iniciativas para um “desenvolvimento sustentável”.

A questão ambiental continua sendo central nos dias de hoje. Para acompanhar novas iniciativas
neste setor, acesse: www.agenda2030.org.br [http://www.agenda2030.org.br/sobre/] .

1.2 Governo Itamar Franco (1992-1995)

Engenheiro de formação, Itamar Augusto Cautiero Franco foi prefeito de Juiz de Fora e senador
pelo MDB e PMDB antes de chegar ao Palácio do Planalto. Uma curiosidade sobre o presidente
reside nas informações a respeito do seu nascimento. Há divergências sobre o ano, com
registros de 1929, 1930 e 1931, e sobre o local do nascimento. Alguns pesquisadores alegam que
Itamar nasceu em Juiz de Fora; outros que sua mãe deu à luz em um navio no litoral da Bahia,
posteriormente tendo sido registrado em Salvador (LEMOS; CARNEIRO, [201-]).
Figura 4 – Itamar Franco.

Fonte: <www.assobrav.com.br
[https://www.assobrav.com.br/noticias/
noticias-importadas/fusca-itamar-
historia-anos-equipamentos-
diferencas-e-detalhes/] >.

Além da crise política que levou Itamar Franco à cadeira presidencial, ele também precisou
enfrentar questões deixadas por Collor, como a inflação em alta e a abertura econômica aos
mercados internacionais. As palavras do discurso de posse do presidente já demostravam que o
clima de esperança de anos atrás precisaria ser deixado de lado.

Itamar comprometeu-se em trabalhar para que o Estado servisse à nação, afirmando não
acreditar em uma modernidade que negasse a dignidade aos cidadãos. Nas palavras de Itamar:
“Não serão tempos felizes, mas de sacrifício; não de regozijo, mas de preocupações. Em nome do
povo, comecemos a trabalhar” (BONFIM, 2004, p. 367).

Bem recebido pelos brasileiros, Itamar Franco compôs o novo governo com uma proposta de
união nacional, estando fora desta aliança apenas o PT. Para tanto, o presidente ampliou o
número de ministérios, inclusive promovendo as secretarias de Cultura e Ciência e Tecnologia e
desmembrando alguns ministérios. Entre os nomes da nova equipe estavam: para a Educação,
Murílio Hingel (PMDB); Fernando Henrique Cardoso (PSDB) nas Relações Exteriores; Gustavo
Krause (PFL-PE) para a Fazenda, e Maurício Corrêa (PDT-DF) para a Justiça.

Após a renúncia de Collor e a posse permanente, o presidente apresentou seu plano econômico,
que não trabalharia com congelamento de preços, confiscos ou flutuação do câmbio, mantendo
a política de juros altos e o ajuste fiscal e tendo as privatizações como estratégia. De autoria de
Paulo Haddad, o plano tinha por objetivo criar empregos, reduzir a miséria reativando programas
de distribuição de alimentos, reduzir a inflação e promover o crescimento econômico.

A Constituição promulgada em 1988 havia deixado em aberto duas questões que deveriam ser
decididas em plebiscito, que ocorreu durante o governo Itamar. A população deveria decidir entre
monarquia e república, e entre presidencialismo e parlamentarismo. No dia 23 de abril de 1993,
foram vitoriosos a república e o presidencialismo.

Embora curto, o governo de Itamar passou por frequentes mudanças nas lideranças dos
ministérios, seja por denúncias ou incompatibilidades. O mesmo aconteceu com um ministério
central para o legado deste mandato, o da Fazenda. Inicialmente ocupado por Paulo Haddad, foi
substituído por Eliseu Resende, até que em maio de 1993 Fernando Henrique Cardoso assumiu o
posto. A chegada de FHC foi bem vista, inclusive pelo FMI. Afastando-se de promessas
milagrosas, o novo ministro entendia que o combate à inflação passava por reformar o Estado,
isto é, redução do gasto público e privatizações.

Em dezembro daquele ano, o Ministério da Fazenda divulgou o plano de estabilização


econômica. Neste contexto, a corrida eleitoral para o pleito de 1994 já havia começado, e o PSDB
indicou o ministro para representá-lo. As questões principais do plano eram manter a
perspectiva de contenção dos gastos do Estado e a introdução de uma nova moeda em várias
etapas, iniciada pela adoção da Unidade Real de Valor (URV).

O contexto econômico não era favorável, já que os índices de inflação alcançavam marca
histórica de 2.567,46% ao ano. Porém, a política de juros havia surtido bons resultados no PIB,
que crescia em uma taxa de 4,5%. Antes do processo do Plano Real ser finalizado, Fernando
Henrique teve que deixar o governo para concorrer às eleições presidenciais, assumindo seu
lugar o embaixador em Washington, Rubens Ricupero. Mas os resultados do Plano seguiram
sendo combustível para a propaganda política do ex-ministro.

No dia 1º de julho de 1994, foi lançada a nova moeda, o real. Dias depois, os efeitos já foram
percebidos com a redução de preços, e a moeda nacional apresentou maior valorização cambial
do que o dólar. Em consequência, a inflação iniciou processo de queda.
Os ganhos políticos do Plano Real não puderam beneficiar Itamar, já que a constituição não
permitia reeleição. Na reta final do mandato, mais uma mudança ocorreu no ministério da
Fazenda: Ciro Gomes (PSDB) assumiu o cargo, após Ricupero ser gravado alegando que o
governo federal estava envolvido na campanha de Fernando Henrique.

1.3 Governo Fernando Henrique Cardoso

1.3.1 Eleições de 1994

Com a impossibilidade da reeleição, Itamar Franco não pôde usufruir eleitoralmente dos
resultados econômicos de seu curto governo. Este ganho foi herdado por Fernando Henrique
Cardoso (PSDB), ministro da Fazenda no comando do Plano Real.

Figura 5 – Fernando Henrique Cardoso.

Fonte: <noticias.uol.com.br
[https://noticias.uol.com.br/politica/eleicoes/2018/noticias/2018/10/29/bolson
aro-mantem-tradicao-de-presidentes-sem-experiencia-no-executivo.htm] >.

Além do ex-ministro, estavam na disputa mais sete candidatos, entre eles Lula (PT), que havia
travado disputa acirrada no último pleito, Leonel Brizola (PDT) e Enéas Carneiro (Prona).
Diferentemente de 1989, a eleição teve apenas um turno, com a vitória de FHC com mais de 34
milhões de votos (54,3%), sendo o segundo colocado Lula (27%).

Durante a campanha, o candidato do PSDB estabeleceu cinco eixos centrais de ação: segurança,
saúde, agricultura, habitação e educação. Seguindo as tendências liberais dos governos
anteriores, também prometia investir em privatizações e ampliar as relações com o mercado
internacional. Também estava no horizonte de FHC a promoção de reformas estruturais no
Estado, como da previdência, fiscal e administrativa.

1.3.2 Primeiro Mandato (1995-1999)

Apesar de ter nascido no Rio de Janeiro, Fernando Henrique Cardoso mudou-se para São Paulo
ainda criança, devido à transferência do pai. Formou-se na Faculdade de Filosofia, Ciências e
Letras da Universidade de São Paulo (USP), onde também lecionou e obteve o título de doutor em
Sociologia.

Com experiência fora do país, FHC construiu longo e reconhecido percurso no mundo acadêmico.
Durante a ditadura militar, após ser alvo de ordem de prisão, viajou para a Argentina, onde
estabeleceu contato com a Comissão Econômica para a América Latina (Cepal) e desenvolveu
juntamente com Enzo Faletto a “teoria da dependência”.

Ainda no campo da intelectualidade, Fernando Henrique Cardoso foi um dos fundadores do


Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), em 1969. Na vida política, seu primeiro
cargo foi como suplente da cadeira de senador de André Franco Montoro, posto que assumiu
quando o titular se tornou governador do Estado de São Paulo. Até então, o sociólogo era filiado
ao PMDB, cenário que se alterou em junho de 1988, quando contribuiu para a criação do PSDB.
Como estudamos na seção anterior, FHC participou ativamente do governo de Itamar Franco, nas
Relações Exteriores e na Fazenda, até assumir a presidência da República.

Em 1995, a revista IstoÉ noticiou denúncia de tráfico de influência na gestão do Sistema de


Vigilância da Amazônia (Sivam). Grampos da Polícia Federal confirmaram que o embaixador Júlio
Cesar Gomes e o ministro da Aeronáutica Mauro Gandra favoreciam a empresa estadunidense
Raytheon. O PT requereu a instalação de uma CPI, o que só ocorreu em 2001, sem resultados
contundentes.

Atribuindo a Juscelino Kubitschek seu exemplo de desenvolvimento e democracia, FHC


discursou em sua posse que era tempo de “crescer e florescer” (BONFIM, 2004, p. 375). Para
tanto, montou o governo com nomes como: Francisco Weffort no ministério da Cultura; Luís
Carlos Bresser-Pereira para reforma do Estado e administração, e José Serra no Planejamento e
Orçamento. Também compunha o grupo Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, como ministro
extraordinário de Esportes.

Logo nos primeiros dias de governo, FHC levou ao Congresso, onde possuía maioria em torno de
70%, os projetos de emenda à constituição (PEC) de reformas. Ao longo do primeiro mandato,
foram aprovadas 16 PECs originárias do governo federal. Orientadas pela política econômica
liberal de redução do Estado e, portanto, do gasto público, passaram a vigorar medidas de
desestatização, abertura ao mercado, como na distribuição de gás natural encanado e o término
do monopólio estatal nas telecomunicações, siderurgia, energética e no petróleo. Tais pautas, em
especial a do petróleo, não vieram a público sem causar reação da oposição. A CUT organizou
manifestações contrárias em diversas localidades do país. O governo reagiu com demissões e
suspensões de petroleiros.

Figura 6 – Marcha do MST (Movimento Sem Terra) em Brasília.

Fonte: <memoria.oglobo.globo.com
[http://memoria.oglobo.globo.com/jornalismo/premios-jornalisticos/um-dia-
de-personagens-dissonantes-em-brasiacutelia-9901506] >.

As saídas liberais haviam estabilizado a economia e os preços, reduzindo os níveis de pobreza


no país. Contudo, o fator desigualdade ainda persistia. O Índice de Pobreza Humana (IPH) era de
46% no Nordeste, segundo o Relatório de Desenvolvimento Humano de 1997, enquanto no
Sudeste, a marca era de 14%.

Uma das pautas não cumpridas pelo governo foi de investir na questão agrária, fato que
impulsionou as manifestações reivindicatórias. Em confronto com manifestantes no Pará, em
abril de 1996, a polícia militar assassinou 19 sem-terra. A tragédia teve repercussão
internacional e ficou conhecida como o Massacre de Eldorado dos Carajás.

Na pauta trabalhista, o governo aprovou medidas como aumento da idade para aposentadoria
compulsória de servidores públicos, estágio probatório de 2 anos e estabilidade apenas após 5
anos de serviço. Estas medidas compunham a reforma administrativa. O setor privado também
foi alvo de reformas, mas que só alcançaram aprovação na Câmara no final do segundo
mandato.
Outra pauta central do governo eram as privatizações, que foram acontecendo ao longo do
mandato, desde rodovias a empresas estratégicas. Entre as mais polêmicas está a venda da Vale
do Rio Doce por R$ 3,3 bilhões para um consórcio de bancos e fundos de pensão, sendo a
empresa no mundo a maior exportadora de minério de ferro.

Também foi privatizado o sistema Telebrás, pelo valor de R$ 22 bilhões. A venda ampliou o
acesso à rede de telefones, apesar de ter aumentado as tarifas. A transação também contou com
denúncias de irregularidades pelos “grampos do BNDES”, o que levou à saída do governo de Luiz
Carlos Mendonça de Barros, ministro das Comunicações.

Apesar do apoio no Congresso, que facilitou as aprovações das reformas propostas, e da


popularidade do presidente, a economia do país sofreu revezes neste período, devido a crises
internacionais. Em 1995, houve fuga de capitais e desvalorização do real devido à situação
financeira no México, porque os países emergentes eram entendidos como homogêneos pelos
investidores. Por fim, a crise beneficiou a exportação, com impactos positivos na balança
comercial.

Ainda no primeiro mandato, outras duas crises dificultaram o desempenho econômico do país:
em 1997, o endividamento do setor privado nos chamados “tigres asiáticos” produziu um clima
de insegurança nos investidores. No ano seguinte, foi a Rússia que declarou não ter capital para
arcar com os juros e a dívida externa. Dessa vez, era ano de eleição, e FHC, para controlar os
efeitos da saída dos capitais, aumentou os juros, medida que surtiu pouco efeito. O país acabou
pedindo socorro ao FMI, que teve o pacote aprovado pelo senado de cerca de 41 bilhões de
dólares.

Logo após a posse de FHC, a base aliada do presidente, na pessoa do deputado José Mendonça
Filho, do PFL, apresentou PEC para reeleição de cargos do Executivo. Após anos de debate, no dia
4 de junho de 1997, a medida foi aprovada e logo promulgada, passando a valer para as eleições
presidenciais do ano seguinte.
Videoaula - Mais quatro anos: a PEC da reeleição.mp4

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[https://player.vimeo.com/video/534504477 ] .

1.3 Governo Fernando Henrique Cardoso


1.3.3 Eleições de 1998

Aprovada a reeleição, FHC participou da campanha, juntamente com seu vice Marco Maciel.
Também estavam na disputa Ciro Gomes (Partido Popular Socialista) e Luiz Inácio Lula da Silva
(PT).

As eleições de 1998 entraram para a história, porque marcaram a primeira vez em que um
presidente foi reeleito ainda estando no cargo. A vitória de Fernando Henrique aconteceu ainda
no primeiro turno com 53,06%, cerca de 36 milhões de votos. Os principais adversários, Lula e
Ciro, receberam respectivamente 31,71% e 10,97% dos votos válidos.

Apesar das denúncias de corrupção e de desafios econômicos durante o primeiro mandato, a


figura de FHC seguiu altamente atrelada à estabilidade e ao combate à inflação, rendendo ao
político forte poder eleitoral.

1.3.4 Segundo Mandato (1999-2003)

Os desafios econômicos do primeiro mandato não terminaram com a reeleição. Logo nos
primeiros meses de 1999, o governo passou por uma crise cambial com consequências
negativas para a economia, e o ministro Pedro Malan esteve perto de abandonar o posto. A crise
também era política, já que a população passou a criticar a gestão, reduzindo a popularidade do
presidente. O câmbio fixo do real tornou-se insustentável, embora tenha sido a estratégia que
garantiu o sucesso do plano em 1994.

Neste contexto, o presidente do Banco Central (BC) foi substituído, e a política cambial deixou de
ser fixa e passou a ser flutuante, com a alternativa de intervenção do BC. As primeiras
estratégias de Francisco Lopes, novo presidente da instituição, não conseguiram impedir a
desvalorização da moeda diante do dólar, que já em março custava R$ 2,16. O efeito da crise
cambial foi a redução da competitividade de produtos dos exportadores e o enfraquecimento da
indústria nacional.

Os sinais da crise tomaram as ruas contra o presidente. Conhecida como Marcha dos Cem Mil,
embora a quantidade de pessoas não seja um consenso, a manifestação ocorreu na Esplanada
dos Ministérios. O protesto foi organizado por sindicatos, entidades da sociedade civil, como
UNE (União Nacional dos Estudantes) e MST, e partidos da oposição (PT, PDT, PSB, PCdoB, PCB,
PMN e PSTU).

Figura 7 – Marcha dos Cem Mil em Brasília.

Fonte: <jovempan.com.br [https://jovempan.com.br/programas/dentro-da-lei-


ou-golpe-lembre-falas-de-petistas-pedindo-o-impeachment-de-fhc.html] >.

Uma das principais pautas era a abertura de um processo contra FHC por crime de
responsabilidade nas privatizações. Havia preocupação por parte dos organizadores de que o
objetivo não fosse desvirtuado, por isso foram distribuídos manuais de comportamento
orientando os participantes a não aceitarem provocações. Ao saber do movimento, FHC o
chamou de golpista.

As manifestações deram lugar aos resultados eleitorais, em que o governo também sofreu dura
derrota. As eleições municipais dos anos 2000 favoreceram o PT, que venceu em seis capitais
(Aracajú, Belém, Goiânia, Recife, Porto Alegre e São Paulo), enquanto o partido do governo
(PSDB) garantiu quatro. O PT conseguiu 75 prefeituras a mais do que no pleito de 1996, e no
legislativo obteve a marca de 1.977 vereadores. O PMDB continuou sendo o partido com mais
prefeituras, 1.253, apesar do número ser menor do que na eleição anterior.

As eleições municipais de 2000 foram as primeiras em que a urna eletrônica foi utilizada por
todos os eleitores. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) vinha fazendo testes desde a década de
1980, e em pleitos anteriores a urna foi usada em menor escala.

No canal do YouTube da Justiça Eleitoral, há diversos vídeos sobre os benefícios e segurança do


aparelho. Sobre a história da urna eletrônica, assista em: www.youtube.com
[https://www.youtube.com/watch?v=h4nbkAvdRmA&ab_channel=justicaeleitoral] .

Ainda tratando sobre sustentação política do governo, o primeiro mandato do FHC foi de grande
sucesso no quesito apoio do legislativo, ultrapassando a taxa de 80% de propostas aprovadas no
Congresso (MOTTA, 2018). Por isso, a jornalista Helena Chagas nomeou o período de a Era dos
Três Quintos, número necessário para alcançar a aprovação nas casas legislativas.

Além da bancada tucana, foi necessário fazer alianças para atingir a quantidade de votos para as
reformas propostas pelo Executivo. Juntamente com os resultados negativos nas urnas em
2000, também se apresentava uma crise no apoio da base no Legislativo, principalmente após a
saída de importantes lideranças do governo com Luiz Carlos Mendonça de Barros por
envolvimento em escândalos de corrupção das privatizações.
O mundo parou no dia 11 de setembro de 2001, em choque com os atentados terroristas nos
Estados Unidos. Coordenados pela Al-Qaeda, sob liderança de Osama Bin Laden, os ataques
foram direcionados ao World Trade Center e ao Pentágono, causando a morte de quase 3 mil
pessoas.

Entenda o contexto no vídeo indicado a seguir: www.youtube.com


[https://www.youtube.com/watch?v=79YrLCTa91E&ab_channel=CanalNostalgia] .

As críticas ao governo também levaram às greves das universidades públicas federais. O corpo
docente e técnico reivindicava melhores condições de trabalho, tanto de infraestrutura,
denunciando o sucateamento do ensino, e de melhores salários, pois não houve reajustes
compatíveis com a inflação enquanto FHC estava no poder. A paralisação das aulas durou cerca
de três meses, com a conquista de R$ 328 milhões em investimento na educação superior. A
verba, no entanto, não resolveu a péssima imagem do presidente com o setor, que apesar de ser
professor de carreira, em discurso disse: “Se a pessoa não consegue produzir, coitado, vai ser
professor. Então fica a angústia: se ele vai ter um nome na praça ou se ele vai dar aula a vida
inteira e repetir o que os outros fazem” (FOLHA DE S. PAULO, 2001).

O segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso alcançou resultados mais tímidos do que o
anterior, como um crescimento do PIB menor, de 1,93%, e maior taxa de desemprego (6,2%).
Apesar de alguns investimentos em distribuição de renda, como os projetos Bolsa Escola, Bolsa
Alimentação, Auxílio Gás e Cartão Alimentação, a renda do trabalhador apresentou índice
negativo de 0,6%. Contribuiu para este quadro econômico a desvalorização progressiva do real,
que ao fim do mandato custava R$ 3,73 dólares. Já a inflação obteve redução significativa,
chegando à casa de apenas um dígito: 7,61%, uma das principais metas de FHC.
Videoaula - Apagão: o futuro do projeto FHC no escuro.mp4

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[https://player.vimeo.com/video/534504631 ] .

Práticas profissionais - História e Ciências Sociais

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Recapitulando a Unidade 1
Desolados com a morte do primeiro presidente civil após a ditadura militar, os brasileiros foram
às urnas em 1989 com a esperança de que dessa vez seria diferente. Pouco mais de dois anos
depois, as ruas recebiam cidadãos inconformados com o presidente eleito, que acabou
renunciando. O governo Itamar não despertava muitas paixões, mas viabilizou importante
projeto, o Plano Real.

Foi combatendo a inflação como ministro da Fazenda que Fernando Henrique Cardoso construiu
seu caminho até a presidência da República. Dirigido por uma perspectiva liberal, investiu em
privatizar estatais, reduzir o Estado e abrir o mercado para capitais estrangeiros. Aprovada a PEC
das eleições, permaneceu por mais quatro anos em Brasília, este com resultados menos
promissores, seja na economia ou no âmbito social.

Nesta Unidade, estudamos o início de um período que ainda está em construção no país e que
continua sendo permeado por períodos de frustração e esperança.
Exercícios de fixação
Complete a frase:

No início da década de 1990, o Brasil passava por uma crise inflacionária. O recém-empossado
presidente Fernando Collor estabeleceu o Selecione... , popularmente conhecido como
Plano Collor. Entre as medidas estava o aumento do
Selecione... e o congelamento de preços e
Selecione... .

A respeito do Plano Real, é incorreto afirmar:

A nova moeda chamava-se Unidade Real de Valor (URV).

Foi implementado em julho de 1994.

O ministro da Fazenda era Fernando Henrique Cardoso.

Os resultados econômicos vieram nos dias seguintes ao lançamento, com redução de preços
e valorização da moeda.

Itamar Franco era presidente do país.


2 Da “esperança” ao “mensalão”
Após dois mandatos sucedidos de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), foi a vez de outro partido
que surgiu no contexto da abertura política do regime militar alcançar a cadeira presidencial.

Fundado em 1980, a partir de aliança entre o “novo sindicalismo” do ABC paulista com
intelectuais e alguns quadros de esquerda do antigo MDB, o Partido dos Trabalhadores pretendia
ser uma novidade na política brasileira. O seu discurso se baseava na ideia de que “nunca antes
na história do país” houve um partido verdadeiramente ligado aos interesses da classe
trabalhadora.

Depois de duas tentativas malsucedidas de se eleger presidente da República, o ex-metalúrgico e


líder sindical Luiz Inácio da Silva – conhecido como Lula – venceu as eleições de 2002 em
segundo turno, contra o candidato do PSDB, José Serra. Quatro anos depois, conseguiu a
reeleição, desta vez contra Geraldo Alckmin, também do PSDB, e igualmente em segundo turno.

Seus governos foram marcados de um lado por uma palavra mobilizada em sua campanha:
esperança. Diversos setores sociais apostaram em Lula como uma figura que finalmente
conseguiria resolver os problemas de desigualdade social do Brasil, sem prejuízo para a
manutenção do crescimento econômico.

De outro lado, o PT no governo se demonstrou um partido com características distintas de seu


papel na oposição ou nos movimentos sociais. Pontos como a defesa de uma nova política
econômica ou da importância da ética para a política acabaram por perder força. Além do
governo Lula não ter mexido de modo significativo em questões macroeconômicas estabelecidas
por Fernando Henrique Cardoso, o seu partido teve que lidar com denúncias de corrupção que
ligavam suas principais lideranças a um esquema de repasses ilegais para congressistas. Este
escândalo ficou conhecido como “mensalão”.

Nesta Unidade, estudaremos como se deu o processo eleitoral de 2002, que levou Lula à cadeira
de presidente da República, assim como faremos um balanço das principais características de
seu governo. Destacaremos as principais medidas em políticas públicas e a mudança nas
relações internacionais que esta gestão presidencial representou, além de tratarmos do
escândalo do mensalão, que marcou o período como uma mácula na trajetória do PT.

2.1 Quem é Lula

Nascido em 1945 na cidade de Caetés, no Estado de Pernambuco, Luiz Inácio da Silva era o
sétimo filho de oito. Em 1952, migrou com sua mãe para a cidade de Guarujá, em São Paulo, e em
1954 foi com ela para a capital do Estado. Lula – como já era conhecido – frequentou a escola
apenas até o primário, o que equivale ao Ensino Fundamental I, na divisão atualmente adotada.
Aos 14 anos, empregou-se em uma fábrica de parafusos e na mesma época realizou o curso de
torneiro mecânico no Serviço Nacional de Aprendizagem (Senai). Lula seguiu na profissão de
metalúrgico e, por causa dela, teve o acidente de trabalho que o fez perder um dos dedos da mão.

Sua entrada na política se deu pelo movimento sindical, quando ingressou no sindicato de São
Bernardo do Campo e Diadema. Em 1972, tornou-se presidente da associação. Naquele contexto,
o futuro presidente se construiu como uma liderança importante do movimento que ficou
conhecido “novo sindicalismo”. O discurso mobilizado por esses trabalhadores era de que o
“velho sindicalismo” seria ligado excessivamente às amarras do Estado e não representaria os
interesses dos trabalhadores.

Para eles, os sindicatos teriam servido historicamente apenas para garantir que suas lideranças
tivessem projeção política, e o movimento que a nova geração representava era uma ruptura com
isso, visando ao aumento real tanto dos salários quanto da qualidade de vida dos trabalhadores.
Naquele contexto dos anos 1970 e 1980, o “novo sindicalismo” organizou greves em São Paulo
que tiveram expressão nacional. Por conta disso, Lula foi cada vez mais se construindo como
uma figura política relevante.

Já se destacando enquanto liderança política, Lula deu entrevista para o programa Roda Viva em
8 de agosto de 1989, em que explica como vê o “novo sindicalismo” do ABC paulista. Você pode
conferir o episódio na íntegra no link a seguir: www.youtube.com
[https://www.youtube.com/watch?v=6ndUfrcZOJI] .
Figura 8 – Lula e o movimento sindical.

Fonte: <theintercept.com [https://theintercept.com/2018/01/19/quem-era-o-


lula-preso-em-1980/] >.

Em 1979, Lula decidiu se aglomerar com políticos e intelectuais que pretendiam formar um
partido político que expressasse os interesses dos trabalhadores. A partir deste conjunto de
discussões, formou-se o Partido dos Trabalhadores (PT). Em 1982, Lula foi lançado candidato ao
governo de São Paulo, alcançando apenas 3,2% dos votos.

Nos anos seguintes, Lula e o PT se mobilizaram na campanha por eleições diretas, que embora
tenha sido fracassada, ajudou a projetá-lo politicamente. Sua primeira vitória eleitoral veio em
1986, quando o sindicalista foi eleito deputado constituinte. A experiência congressual ajudou a
consolidar Lula como uma liderança política, o que fez com que o partido o lançasse como
candidato presidencial pela primeira vez em 1989. Como vimos na Unidade anterior, ele saiu
derrotado, assim como em 1994 e 1998. A vitória veio apenas em 2002.

2.2 As eleições de 2002

Segundo a análise do cientista político Pedro Ribeiro (2008), as eleições de 2002 representariam
o ápice da profissionalização do PT enquanto partido político. O mesmo autor ressalta que uma
das expressões disso foi a introdução de técnicas de marketing político na campanha. Ao assistir
ao horário eleitoral gratuito daquele ano, não é difícil perceber as mudanças de estratégia. Se nos
anos 1980 e 1990 o partido apostava em um discurso inflamado que convocava a sociedade civil
a defender seus interesses frente ao Estado, na campanha de 2002, apostou-se em uma figura
do Lula como uma pessoa moderada e conciliadora. No primeiro programa, o PT mostra o
preparo técnico da equipe que formulou o projeto, enumerando as pessoas e seus currículos,
com formação acadêmica de excelência em universidades brasileiras e estrangeiras. Além disso,
na composição da chapa, o partido buscou sinalizar para o empresariado que não teria um
programa econômico radical à esquerda. Para representar isso, o PT colocou como vice de Lula o
empresário mineiro José Alencar.

A eleição contou com seis candidatos: Ciro Gomes (PPS), Anthony Garotinho (PSB), José Maria
de Almeida (PSTU), Rui Costa Pimenta (PCO), José Serra (PSDB) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
A candidatura que representava maior concorrência para Lula era a de José Serra, por ser o
candidato do então presidente Fernando Henrique Cardoso e por ser uma campanha com muita
verba.

No horário eleitoral gratuito, o candidato do PSDB dispunha de uma apresentação de sua


biografia pelo apresentador de programa de auditório Augusto Liberato (conhecido como Gugu),
então com alta audiência com o Domingo Legal, programa da emissora SBT. Também apareciam
na propaganda de José Serra artistas em voga no período, como o trio KLB, a cantora Elba
Ramalho, a dupla sertaneja Chitãozinho e Xororó e a atriz da emissora Globo, Solange Couto. Na
participação da atriz, houve a utilização do bordão “Não é brinquedo, não”, de sua personagem
Dona Jura, na novela das 21 horas O clone.

Você pode conferir as propagandas de Lula e Serra referidas no conteúdo no link a seguir.
Também nele está disponível o programa eleitoral dos demais candidatos à presidência da
República: www.youtube.com [https://www.youtube.com/watch?v=HU45_nQD-H8] .

Nas pesquisas de opinião feitas, o candidato Ciro Gomes aparecia como a principal ameaça ao
Serra. Por isso, a sua campanha focou-se no primeiro turno em opor-se ao candidato do PPS.
Em suas propagandas televisivas, o PSDB divulgava falas do adversário para construir uma
imagem dele como uma pessoa mal-educada e sem paciência. A campanha surtiu efeito, mas,
em compensação, o candidato Anthony Garotinho subiu nas pesquisas, assim como Lula. O
resultado do primeiro turno foi o candidato do PT em primeiro lugar, com José Serra em segundo,
seguido respectivamente por Anthony Garotinho, Ciro Gomes, José Maria Almeida e Rui Costa
Pimenta.
Para entender a história do marketing político no Brasil republicano, assista ao documentário
Arquitetos do poder, disponível no link a seguir: www.youtube.com
[https://www.youtube.com/watch?v=wT9nd_ejs7o] .

Embora o governo Fernando Henrique Cardoso já fosse impopular no final do mandato, muitos
setores sociais que não queriam apoiar o seu indicado para sucessor – José Serra – viam na
figura de Lula uma aposta arriscada. Expressão desta sensação foi uma propaganda do PSDB
feita à época com Regina Duarte. Nela a atriz dizia que tinha medo de que o Brasil perdesse a
estabilidade econômica conquistada por Fernando Henrique Cardoso em uma eventual vitória de
Lula. No entanto, desde junho de 2002, o PT já havia feito esforço de se blindar contra este tipo
de questionamento. Naquele mês, o partido divulgou um documento que ficou conhecido como
Carta ao povo brasileiro, no qual se comprometia a fazer um governo de conciliação com o
empresariado nacional e internacional, além de garantir que qualquer reforma seria feita em
respeito às instituições e à democracia.

Figura 9 – Lula: presidente da República.

Fonte: <www.infoescola.com [https://www.infoescola.com/mandatos-


presidenciais-do-brasil/governo-lula/] >.
José Serra tentou em sua campanha marcar suas diferenças com Fernando Henrique Cardoso,
enfatizando pautas como segurança pública e programas de geração de emprego. No entanto, o
pleito não lhe foi favorável. Com 61,27% dos votos, Lula foi efeito presidente do Brasil, tomando
posse em 1º de janeiro de 2003. No seu primeiro discurso como presidente, ressaltou um dos
motes de sua campanha de que “a esperança finalmente venceu o medo” (BRASIL, 2003, p. 1) e
que aquele seria o dia do “encontro do Brasil consigo mesmo” (BRASIL, 2003, p. 12).

Videoaula - A economia no governo Lula

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2.3 O primeiro governo Lula (2003-2006)

Tal como aponta o cientista político André Singer (2009), a experiência de Lula no governo foi um
esforço de conciliar interesses distintos da sociedade. Na análise de Singer, o presidente teria
tentado ao mesmo tempo garantir políticas de distribuição de renda e de diminuição da
desigualdade com a manutenção do modelo macroeconômico estabelecido pelo PSDB e o
controle de atritos com a classe política. Na própria composição ministerial, estes esforços já
apareciam: se ministérios-chave como Casa Civil, Fazenda e Trabalho foram entregues para
lideranças e pessoas próximas do PT (José Dirceu, Antônio Palocci e Jacques Wagner), a
presidência do Banco Central foi delegada ao economista liberal Henrique Meirelles. Já o
ministério da Agricultura ficou a cargo do fundador da Associação Brasileira de Agrobusiness,
Roberto Rodrigues.

A política econômica do governo Lula e seu legado para os anos posteriores é tema muito
discutido por analistas. No entanto, o que podemos afirmar é que se tratou de política baseada
em ampliação do consumo via crédito e de manutenção de equilíbrio fiscal. A taxa básica de
juros (Selic) também foi mantida alta durante todo o período. O comércio exterior priorizou a
exportação de commodities, sobretudo para a China. A política de desenvolvimento apostou nos
chamados “campeões nacionais”, ou seja, na concessão de crédito do BNDES para que grandes
empresas brasileiras ganhassem projeção internacional e conquistassem mercados externos.

Outro ponto considerado contraditório dentro do histórico de esquerda do PT foi o


encaminhamento da pauta de reforma da previdência. A medida foi levada à frente, mas resultou
em conflitos internos no partido. Alguns quadros recusaram-se a votar pela reforma da
previdência. Entre eles, a senadora Heloísa Helena e alguns deputados federais, como João
Batista Oliveira de Araújo – o Babá – e Luciana Genro. O atrito resultou na expulsão dos quadros
contrários à proposta. Estes, por sua vez, fundaram outro partido político, o Partido Socialismo e
Liberdade (PSOL).

Já nas políticas sociais, o primeiro mandato do governo Lula focou-se em dois grandes projetos,
o Fome Zero e o Bolsa Família. O primeiro foi lançado em 2003 para combater a fome no Brasil e
visava a garantir alimentos básicos para todos os cidadãos. Entre as medidas adotadas estavam
a construção de restaurantes populares, a concessão de pequenos empréstimos para famílias
pobres e a distribuição de suplementos alimentares.

A grande inspiração para o programa Fome Zero foi o sociólogo Herbert José de Souza,
conhecido como Betinho. Seu principal projeto foi a Ação da Cidadania Contra a Fome, sediado
na cidade do Rio de Janeiro. A ideia do projeto era conscientizar as pessoas sobre como no
Brasil pessoas morriam de fome, além de tomar medidas concretas promovidas por seus
voluntários de levar alimentos para pessoas pobres. Hemofílico, Betinho precisava realizar
transfusões de sangue periódicas. Em um desses procedimentos, contraiu o vírus HIV, o que o
levou a falecer de Aids em 1997.
Figura 10 – Herbert de Souza.

Fonte: <wikipedia.org
[https://pt.wikipedia.org/wiki/Herbert_Jos%C3%A9_de_Sousa#/media/Ficheir
o:Betinho-soci%C3%B3logo.jpg] >.

Por sua vez, o Bolsa Família iniciou sua operação em 2004. Este programa tinha escopo mais
amplo que o Fome Zero e não visava a uma política específica, mas à redução da desigualdade
social a partir de transferência de renda para pessoas em situação de pobreza ou extrema
pobreza – o que na época era estabelecido pela renda mensal per capita igual ou inferior a R$
70,00. Para ser beneficiário do programa, era preciso que a composição familiar incluísse filhos
com a idade de até 15 anos, que deveriam estar regularmente matriculados na escola. A família
também era obrigada a seguir programas de educação alimentar do governo e manter
acompanhamento médico dos seus componentes. O benefício inicial era de R$ 58,00 mensais,
com acréscimo de R$ 18,00 por filho, no entanto, o valor total a ser concedido tinha o limite de R$
112,00 por família.

Embora o governo Lula tenha sido responsável por ampliar estes programas, é importante
enfatizar que eles não são invenção totalmente original dele. Tanto o Fome Zero quanto o Bolsa
Família foram projetos que ampliaram políticas já existentes nos governos anteriores. No
governo Fernando Henrique Cardoso já existiam concessões de benefícios para pessoas em
situação de pobreza, como o programa Bolsa Escola e o programa Comunidade Solidária,
encabeçado pela antropóloga e então primeira-dama Ruth Cardoso. A principal novidade foi a
unificação de programas já existentes de auxílio em um só, além da ampliação do valor do
benefício e dos grupos que teriam direito a ele.

É muito discutido nos estudos de comportamento eleitoral qual o impacto que programas sociais
têm nos eleitores. Embora seja um tema com divergências, a literatura costuma apontar que há
sim algum impacto. Para Fernando Limongi e Fernando Guarnieri (2015), há uma correlação forte
entre pessoas beneficiadas pelo programa Bolsa Família e votos em Lula em 2006, mas isso não
quer dizer que há relação causal entre uma coisa e outra, uma vez que na inexistência do
programa, o candidato do Partido dos Trabalhadores não perderia necessariamente esse
eleitorado.

Segundo os dois autores, é preciso levar em conta variáveis políticas para entender o aumento
do eleitorado do PT em certas regiões do país. Em suas análises, Limongi e Guarnieri (2015)
consideram que é fundamental entender a derrocada do PSDB para entender a ascensão do PT. A
perda de alianças com potentados locais no Nordeste, a fragilidade do seu aliado, o PFL (depois
DEM) e a aliança do PT com o PSB no Nordeste para políticas locais seriam importantes fatores
a serem levados em conta, além do programa Bolsa Família.

Adotando o critério de análise por anos de escolaridade, os cientistas políticos chegam à


conclusão de que o aumento de votos no PT pelos menos escolarizados é continuação de uma
tendência existente desde 1998. Contudo, a tendência se inverte nos mais escolarizados: entre
2002 e 2006, o partido perde eleitores neste segmento, enquanto o PSDB ganha eleitores nesta
mesma faixa. A conclusão a que os pesquisadores chegam é que, a partir de 2006, ambos os
partidos ganham bases sociais mais rígidas.

Nas relações exteriores, o governo Lula representou mudanças importantes. O Brasil passou a
partir de então a se aproximar do bloco chamado de BRICS, composto por Brasil, Rússia, Índia,
China e África do Sul. Esta parceria ficou consolidada a partir de 2006, quando ocorreu reunião
do bloco na cidade de Nova Iorque, onde se encontra a sede da ONU. É a partir desta aliança que
o Brasil assina muitos acordos com a China, que se converteu em nosso principal parceiro
comercial. Nesta época, começam a entrar no Brasil produtos chineses industrializados,
enquanto nós exportamos principalmente commodities e carne para eles.

Neste mesmo contexto de aproximação com países do chamado “terceiro mundo”, o Brasil
estabeleceu parcerias com a África do Sul para que empreiteiras nacionais realizassem obras no
país africano. Outra ação de cooperação internacional no governo Lula foi a participação na
Missão de Paz no Haiti, a partir de 2004. Naquele ano, o governo brasileiro chegou a promover
um jogo amistoso de futebol entre a seleção brasileira e a haitiana, conhecido como “jogo pela
paz”. Participaram do evento jogadores muito famosos à época, como Ronaldo “fenômeno” e
Ronaldinho Gaúcho. Para além da ajuda humanitária, a participação do Brasil ajudou a projetar o
país no cenário internacional, conferindo-lhe maior confiança e protagonismo internacional.

Caminhando para o final do primeiro mandato, veio à tona o escândalo de corrupção que
marcaria o primeiro governo Lula. No dia 6 de junho de 2005, o jornal Folha de São Paulo
publicou entrevista com o então deputado federal Roberto Jefferson (PTB) na qual ele
denunciava um repasse mensal de 30 mil reais feito pelo PT para alguns partidos, com o fim de
que eles votassem a favor dos projetos do governo na Câmara dos Deputados. Embora acusasse
diretamente lideranças do PT – como o Chefe da Casa Civil, José Dirceu –, Roberto Jefferson
afirmava que o presidente da República não tinha conhecimento do esquema, que o próprio
deputado batizou de “mensalão”.

A denúncia feita pelo deputado pode ser interpretada como uma forma de diminuir seu
protagonismo neste esquema e em outros cujo seu nome já havia sido citado, visto que o
principal motivo de sua denúncia é que veio a público sua participação no “escândalo dos
correios”, que envolvia desvios de verba na estatal. Com sua denúncia, ficou claro que uma das
fontes do dinheiro do mensalão era a verba desta e de outras estatais.

No canal do YouTube Meteoro, dos jornalistas Álvaro Borba e Ana Lesnovski, há um vídeo
dedicado aos detalhes do início do “mensalão”. Você pode conferir no link a seguir:
www.youtube.com [https://www.youtube.com/watch?v=slfbZA7-qv4&t=840s] .

O escândalo foi particularmente mal recebido pela mídia e pela sociedade civil, porque antes de
ser o partido no governo, o PT tinha como uma das suas principais pautas a ética na política e o
fim da corrupção. Segundo estudo feito pelo filósofo Rogério Basili (2015), seria exagerado, ao
menos do ponto de vista quantitativo, considerar o mensalão como o maior escândalo de
corrupção da história. Nos dados trazidos pelo autor, o total de dinheiro desviado pelo mensalão
foi de 55 milhões de reais, enquanto o escândalo de desvios na Superintendência do
Desenvolvimento da Amazônia (Sudam), ocorrido em 2001, teria desviado 214 milhões de reais.
Já a “privataria tucana”, nome dado ao esquema de lavagem de dinheiro recebido como propina
no contexto das privatizações realizadas no governo Fernando Henrique Cardoso, teria envolvido
100 milhões de reais.
Figura 11 – Roberto Jefferson na CPI dos correios.

Fonte: <www.terra.com.br
[https://www.terra.com.br/noticias/brasil/politica/olho-roxo-e-dolar-da-
cueca-relembre-15-fatos-do-inicio-do-
mensalao,69d3d46a5ddfb3503140c790dd3bb4baws8jRCRD.html] >.

A principal diferença do mensalão para estes e outros escândalos é que ele foi levado adiante por
lideranças partidárias do próprio PT, como José Dirceu e José Genoino, e tinha alto grau de
articulação e de planejamento de suas atividades, que envolvia o repasse corriqueiro de verbas
de estatais. As denúncias também envolveram o publicitário Marcos Valério e o tesoureiro do
partido, Delúbio Soares, indicados como responsáveis pelos repasses ilegais. O mensalão
resultou na instauração de uma CPI e na prisão destas e outras lideranças do PT e de outros
partidos, como Valdemar Costa Neto (PL), João Cláudio de Carvalho Genu (PP). O próprio
Roberto Jefferson (PTB), além de figuras próximas ao presidente, como José Dirceu (PT) e José
Genoino (PT), foram condenados no processo.
Videoaula - Betinho e a luta contra a fome

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[https://player.vimeo.com/video/534505050 ] .

Videoaula - Bolsa Família e comportamento eleitoral

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[https://player.vimeo.com/video/534505181 ] .

2.4 As eleições de 2006 e o segundo governo Lula

Embora fosse um governo popular, um grande desafio que se apresentava para a reeleição de
Lula era lidar com as denúncias de corrupção. Lançado candidato à reeleição, o presidente tinha
como principal adversário o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB). Além deles,
também disputaram o pleito Ana Maria Rangel (PRP), Cristovam Buarque (PDT), Heloísa Helena
(PSOL), José Maria Eymael (PSDC), Luciano Bivar (PSL) e Rui Costa Pimenta (PCO), no entanto,
este último teve a candidatura impugnada. Lula foi para o segundo turno com cerca de 48% dos
votos válidos, enquanto Geraldo Alckmin conseguiu um pouco menos, em torno de 41%.

A campanha de Lula buscou enfatizar os avanços de seu governo na área social e o crescimento
econômico experimentado. Já a de Alckmin criticava o então presidente por ter aumentado os
impostos e pelos escândalos de corrupção no seu governo, além de apontar que o crescimento
não seria duradouro se ajustes fiscais não fossem feitos. No segundo turno, Lula foi reeleito com
60,83% dos votos válidos.

Figura 12 – Lula e Alckmin.

Fonte: <osdivergentes.com.br [https://osdivergentes.com.br/orlando-


brito/memoria-o-segundo-turno-da-eleicao-de-2006/] >.

Uma das primeiras medidas de Lula depois de reeleito foi lançar o Programa de Aceleração do
Crescimento (PAC). Este consistia em um pacote de medidas econômicas focadas na área de
infraestrutura e previa investimentos de 500 bilhões de reais. O foco do PAC eram locais do Brasil
que apresentavam mais problemas estruturais de desenvolvimento, portanto, nestas regiões
iniciaram-se obras para construir ferrovias, usinas elétricas para fornecimento de energia,
rodovias e até programas de habitação. O ponto mais lembrado do programa foi a transposição
do Rio São Francisco, visando a garantir o fornecimento de água para regiões do Nordeste.

O projeto foi muito criticado mesmo à época porque envolveu a desapropriação de localidades
que teriam de ser alagadas ou desabitadas para as obras, além do impacto ambiental e
econômico das medidas, que afetavam a piscicultura e a vida subaquática daquelas regiões. As
obras do PAC foram projetadas para não terminarem durante o mandato do Lula e, em 2020,
algumas ainda estão incompletas. Em 26 de junho de 2020, o presidente Jair Bolsonaro
inaugurou em cidades do Estado de Pernambuco parte da obra de transposição do Rio São
Francisco iniciada durante o governo Lula.

Em continuação da política de cooperação Sul-Sul encabeçada pelo ministro de Relações


Exteriores, Celso Amorim, o Brasil manteve suas alianças com o BRICS, mas ampliou a
cooperação com a América Latina. Ponto que à época causou polêmica foi a aproximação com o
presidente venezuelano Hugo Chaves, cuja entrada no bloco comercial sul-americano do
Mercosul obteve o apoio de Lula.

Dada a boa imagem internacional e a boa reputação econômica do país durante o segundo
governo Lula, foi também durante esta gestão que o Brasil venceu a disputa para sediar dois
“megaeventos”: a Copa do Mundo de 2014 e as Olímpiadas de 2016. Tendo em vista as datas,
ambos ocorreram durante o governo de Dilma Rousseff. O cenário de otimismo internacional foi
ainda mais favorecido pela divulgação da descoberta pela Petrobrás de petróleo de alta
qualidade em águas profundas do território brasileiro, o pré-sal.

Figura 13 – Brasil escolhido para sediar Olimpíadas.

Fonte: <exame.com [https://exame.com/negocios/como-rio-conseguiu-ser-


sede-olimpiada-2016-593831/] >.

Entre 2007 e 2008, ocorreu nos Estados Unidos uma crise econômica que afetou mercados no
mundo inteiro. A origem do problema se deu pela forma como funcionava o sistema de
empréstimo imobiliário. Nos EUA, os bancos concediam crédito de maneira alargada para atrair
mais clientes, cuja garantia era a própria casa comprada (dispositivo chamado de hipoteca).
Com o dinheiro adquirido com o pagamento das prestações, os bancos faziam novos
investimentos para adquirir novas propriedades para a revenda. O problema disso é que o valor
dos imóveis era empurrado para cima pela alta procura e pelos juros. Assim, as pessoas perdiam
a capacidade de pagar. Uma vez que o banco tomasse a propriedade pela ausência de
pagamentos, ele não conseguiria vendê-la, tendo em vista o valor alto. O resultado foi a quebra
de bancos importantes do país, como o Lehman Brothers, o que gerou um efeito negativo no
sistema financeiro internacional e uma corrida de venda das ações. De início, o Brasil e outros
países em desenvolvimento foram menos afetados pela crise, mas ela foi importante para a
desaceleração do crescimento de nosso país.

As políticas sociais também continuaram a tendência do governo anterior, embora de forma


ainda mais ampliada. O Bolsa Família teve seu valor progressivamente corrigido e os programas
de acesso à educação ganharam maior prioridade por parte do governo federal.

Criado ainda em 2005, o ProUni foi ampliado durante o segundo mandato de Lula. O objetivo do
programa era conceder bolsas em faculdade privadas brasileiras para estudantes oriundos da
rede pública de ensino e que não poderiam arcas com os custos da mensalidade. Em troca, as
instituições de ensino recebiam isenções de impostos federais. Outro programa adotado para o
setor privado é o Fies (Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior), que concede
crédito de financiamento dos estudos com juros mais baixos que os valores de mercado.

Ainda durante a gestão do ministro da Educação, Fernando Haddad, ampliou-se o número de


vagas das universidades federais, além de abertura de novas instituições e cursos com o
Programa de Reestruturação das Universidades Federais (ReUni). A partir de 2009, passou-se a
adotar o Exame Nacional de Ensino Médio (Enem) como prova de ingresso em universidades
federais, e em 2010 criou-se o Sistema de Seleção Unificada (Sisu). No entanto, a medida
encontrou resistência das instituições, visto que muitas não queriam perder a sua autonomia no
processo de recrutamento dos discentes.

A adoção do Enem como vestibular representou mudanças importantes, pois passou-se a


selecionar os alunos por uma prova nacional unificada. Isso facilitava os estudos e permitia que
o mesmo indivíduo pudesse, em um mesmo exame, concorrer para instituições em locais
diferentes do Brasil, além de pagar apenas um valor pela inscrição. Entretanto, a concorrência
passou a ser igualmente nacional. Outro efeito da nacionalização é que temas de história e
geografia regional não poderiam ser cobrados nas questões.

As medidas adotadas por Lula em seu segundo governo foram bem recebidas, o que se expressa
pela aprovação do governo de 87% em pesquisa do Ibope de 2010. Como sucessora, Lula indicou
sua ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, que disputou as eleições naquele mesmo ano.
A principal crítica da oposição já àquela altura é que o PT teria desorganizado as contas públicas
de modo a garantir as suas políticas sociais. Esta seria uma das principais pautas das eleições
seguintes.
O canal do YouTube Parabólica fez um vídeo resumindo os principais pontos do segundo governo
Lula. Você pode conferi-lo no link a seguir: www.youtube.com [https://www.youtube.com/watch?
v=j7EG06KHKBY] .

Videoaula - A crise econômica de 2008

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[https://player.vimeo.com/video/534505327 ] .
Recapitulando a Unidade 2
Nesta Unidade, vimos como se deu a chegada do Partidos dos Trabalhadores na presidência da
República e como foi o governo de seu primeiro presidente, Luiz Inácio Lula da Silva.

Tratamos das estratégias adotadas pelo partido para conseguir se eleger, assim como as
principais medidas adotadas uma vez no poder. Como estudamos, o PT na presidência precisou
tomar medidas por vezes contraditórias com as intenções dos seus fundadores, ainda nos anos
1980. Exemplos disso são a reforma da previdência e a indicação de um economista liberal para
o Banco Central. Por outro lado, propostas do partido de atenuar a desigualdade social e
combater a fome e a miséria foram levadas à frente por Lula.

Por ser uma figura que em 2020 ainda é ativa na política brasileira, Lula desperta sentimentos
diversos nas pessoas. Para alguns, é visto como um herói ou salvador; para outros é um grande
vilão de nossa história, além de figura inescrupulosa e corrupta. Tentando pensar da maneira
mais isenta possível, podemos chegar a uma conclusão que não caminha nem para um lado e
nem para o outro. De fato, o governo Lula garantiu inclusão social com crescimento econômico e
estabilidade política; ao mesmo tempo, fez acordos escusos, houve corrupção em seu governo e
capitaneou para si projetos que continuavam medidas de governos anteriores.

Talvez um dos maiores problemas de fazermos uma história do tempo presente é que muitas
vezes nos deixamos levar excessivamente por paixões políticas, visto que estamos tratando de
um contexto no qual nós mesmos estamos inseridos. Com o tempo, pode ser que nossa visão do
governo Lula se torne mais balizada. Afinal, reconhecer eventuais méritos seus em políticas
públicas não pode e não deve significar uma adesão automática à sua figura política e nem ao
seu partido. Em raciocínio inverso, sermos críticos ao excesso de gastos de seu governo ou dos
escândalos de corrupção ocorridos nele não deve significar que somos necessariamente contra
as políticas sociais adotadas. Mas a maneira como a figura de Luiz Inácio Lula da Silva entrará
para a história é questão ainda em aberto.
Exercícios de fixação
O início da carreira política de Lula se deu:

como governador de São Paulo.

no movimento negro.

em revoltas do campo no Nordeste.

no movimento sindical.

no PSDB.

Lula conseguiu se eleger presidente da República apostando no radicalismo e evitando alianças


políticas.

Verdadeiro Falso

O segundo governo Lula foi popular, o que ajudou a eleição de mais um candidato do PT em
eleição seguinte.

Verdadeiro Falso
3 O início do fim do PT no governo
Mesmo após o escândalo do mensalão e o desgaste de seu governo por conta das denúncias de
corrupção em seus governos, Lula terminou sua gestão como um presidente popular. Deste
modo, seria esperado que um sucessor ou sucessora fosse indicado pelo PT para a presidência
da República. Isso ocorreu, e Dilma Rousseff foi a segunda a ocupar a cadeira pelo partido.
Embora tenha conseguido a reeleição em 2014, ela não teria o mesmo sucesso de Lula em
manter governabilidade com políticas sociais. Além disso, o modelo econômico escolhido já
apontava desgastes, o que desagradou a sociedade civil nos mais diversos setores.

Após encarar protestos em 2013, articulação de movimentos de oposição e processos no


judiciário, Dilma acabou sendo a segunda presidente eleita a ter que lidar com um processo de
impeachment. Como resultado, foi afastada do cargo e substituída por seu vice, Michel Temer
(PMDB). Embora fizesse parte da chapa eleita, o governo Temer teve diferenças importantes com
sua antecessora. A política econômica mudou sensivelmente, assim como os partidos que
compunham a base do governo. Em 2018, a mudança de rumos na política ficou ainda mais
nítida, com a eleição de Jair Bolsonaro para presidente da República.

Nesta Unidade, estudaremos os últimos anos de nossa história política, buscando entender
como se deu o processo que antecedeu a política brasileira que vemos atualmente. Trataremos
então de alguns pontos dos governos Dilma Rousseff e Michel Temer, assim como a eleição de
2018, que elegeu Jair Bolsonaro.

3.1 Quem é Dilma Rousseff

Ponto da trajetória de Dilma Vana Rousseff por vezes lembrado no debate público é sua
participação na luta armada durante o regime militar. Ela fez parte de algumas associações de
esquerda naqueles anos, tais como a Política Operária (Polop), sua dissidência que apostou na
via armada, Comando de Libertação Nacional (Colina) e a Vanguarda Popular Revolucionária
Palmares (VAR-Palmares). Já em São Paulo, por ordem de sua organização, a futura presidenta
acabou sendo presa e torturada pela Operação Bandeirantes (Oban) em 1970. Dilma ficou no
cárcere por dois anos e, em 1972, mudou-se para Porto Alegre, onde concluiu a graduação em
Economia em 1977.
Figura 14 – Dilma Rousseff na
militância da juventude.

Fonte: <www.gazetadopovo.com.br
[https://www.gazetadopovo.com.br/vid
a-publica/eleicoes/2010/dilma/o-que-
sobrou-da-guerrilheira-
13gvrkr3wklj8c0ew5uxjm3pq/] >.

Dilma Rousseff não teve na presidência da República sua primeira experiência política. Embora
não tivesse anteriormente ocupado cargo eletivo, a economista já tinha em 2010 currículo
acumulado nesta seara. Durante a redemocratização, ela participou ativamente da construção do
PDT, no qual permaneceu filiada até sua saída para ingressar no PT em 2001.

Durante sua trajetória, ela ocupou secretarias de Estado em Minas Gerais e Porto Alegre, além de
ter sido ministra de Minas e Energia no primeiro governo Lula. Seu projeto mais célebre nesta
área foi o Luz para Todos, que visava a garantir infraestrutura e investimentos para evitar que os
problemas de falta de energia dos anos anteriores se repetissem. Após o escândalo do mensalão
e a consequente prisão de José Dirceu, Dilma foi colocada em seu lugar como ministra-chefe da
Casa Civil, cargo que ocupou até 2010. No mesmo ano, foi indicada pelo partido como sucessora
de Lula para disputar a presidência da República.
Videoaula - A Comissão Nacional da Verdade

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Videoaula - Políticas de Promoção da Igualdade Racial durante os


governos do PT

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3.2 As eleições de 2010 e o primeiro governo Dilma

Uma vez indicada como candidata do PT nas eleições de 2010, Dilma teria como principal
adversário José Serra, do PSDB. Além deles, também concorreram Plínio de Arruda Sampaio
(PSOL), Marina Silva (PV), Ivan Pinheiro (PCB), Levy Fidelix (PRTB), José Maria Eymael (PSDC),
Rui Costa Pimenta (PCO) e José Maria de Almeida (PSTU). O segundo turno repetiu o padrão das
eleições anteriores, entre PT e PSDB.

A campanha de José Serra focou-se em colocá-lo como um político experiente e como um


ministro da Saúde que tomou medidas importantes para modernizar o sistema de saúde e para
combater a epidemia da Aids. Já sua oponente era colocada como inexperiente e, portanto,
menos qualificada para enfrentar os desafios do Brasil. Serra também afirmava que não
descontinuaria os programas sociais de seu antecessor, tal como o Bolsa Família.

Enquanto isso, a campanha de Dilma a colocava como uma continuadora das políticas sociais de
Lula – que era figura constante em suas propagandas. Sobre os adversários, o PT afirmava que o
PSDB continuaria o processo de privatizações de empresas brasileiras, tal como feito nos
governos FHC. Desta vez, a campanha apontava que o pré-sal, então recém-descoberto, seria
entregue para a iniciativa privada, assim como a própria Petrobras. Segundo este discurso, o país
perderia com isso recursos importantes que, uma vez estando na mão do Estado, poderiam ser
usados para políticas sociais e para a modernização do país.

O resultado das eleições no segundo turno apontou 56,05% dos votos para Dilma Rousseff e
43,95% para José Serra. Ela tomou posse em 1º de janeiro de 2011. Em seu primeiro discurso no
cargo, Dilma destacou que foi a primeira mulher eleita presidenta da República e que visava a
avançar as políticas adotadas por Lula.

Figura 15 – Dilma Rousseff e Lula na posse de 2011.

Fonte: <wikipedia.org
[https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Posse_Dilma_2010_8.jpg] >.
Uma das medidas tomadas por Dilma Rousseff logo no primeiro ano de seu governo foi a de
instaurar a Comissão Nacional da Verdade (CNV). Seguindo o mesmo caminho trilhado por
outros países que passaram por ditaduras militares, o governo brasileiro estabeleceu esta
comissão para investigar crimes contra os direitos humanos cometidos pelo Estado durante o
regime militar brasileiro. O relatório final da CNV saiu em 2014 e contou com três volumes sobre
os casos de mortes, desaparecimentos e perseguições a minorias praticadas pelo Estado
durante não só o período do regime militar, mas desde 1946 até 1988.

Na economia, o governo Dilma ficou conhecido pela sua política econômica de nome Nova Matriz
Econômica. Segundo análise da economista Laura Carvalho (2018), a principal mudança foi a
tentativa de dar competitividade da indústria e direcionamento da economia para o mercado
externo. Para isso, foram atendidas políticas de desonerações de impostos para empresas,
redução de taxa de juros e do spread bancário, desvalorização da moeda nacional, concessão de
crédito, além de outras medidas para beneficiar este setor.

Para Carvalho (2018), o maior problema disso é que já era um período em que a economia estava
crescendo menos que nos anos anteriores, pois o preço das commodities estava em baixa. O
retorno esperado era que o empresariado industrial traria investimentos para o país, o que não
ocorreu. O resultado foi a progressiva piora da situação econômica brasileira.

Você pode conferir o balanço da economia brasileira durante o governo Dilma feito pela
economista Laura Carvalho no link a seguir: www.youtube.com [https://www.youtube.com/watch?
v=28YZRZnsvjY] .

Em 2012, a então presidenta Dilma Rousseff sancionou a lei que garantia 50% de cotas nas
universidades federais para oriundos de escolas públicas. Dentro desta reserva, existiam
critérios não só de renda, mas uma parte se reservava exclusivamente a pessoas negras. Esta
medida continuou outras adotadas pelo governo anterior no contexto de promoção da igualdade
racial, como o ensino de história e cultura africana.

Um dos pontos que marcou o governo Dilma foi ter de levar à frente as políticas de infraestrutura
necessárias para que o Brasil pudesse sediar a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de
2016. Para isso, algumas medidas consideradas contraditórias para um partido de esquerda
tiveram que ser tomadas. Entre elas, a privatização de aeroportos, como dois do Estado de São
Paulo – Guarulhos e Viracopos – e o de Brasília.

Dentro deste contexto de desaceleração da economia e de medidas tomadas pelo governo para
garantir os megaeventos, iniciaram-se manifestações contra Dilma, que exigiam que os
investimentos em estádios fossem os mesmos na saúde e na educação pública. O ápice deste
movimento viria em 2013, quando protestos tomaram as ruas das principais cidades do país.
Para controlar o movimento, o governo federal fez uso da Força Nacional de Segurança que, junto
com as polícias militares estaduais, empregou métodos não letais de dispersão, como spray de
pimenta e bala de borracha.

O sentido e os principais motivos das manifestações de junho de 2013 ainda são amplamente
debatidos pelos analistas. O início dos protestos se deu por reajustes de 20 centavos nas
passagens de ônibus, primeiro em Porto Alegre. Logo em seguida, as manifestações tomaram
outras cidades que passaram pela mesma situação, como São Paulo, Rio de Janeiro e Natal. Em
pouco tempo, elas já haviam tomado as ruas de 27 cidades. Estipula-se que na principal
manifestação, em 20 de junho, 1,5 milhão de pessoas tenham ido às ruas. Ganhando o apelido à
época de “jornadas de junho”, o movimento foi heterogêneo tanto do ponto de vista ideológico
quanto em suas pautas, contando pessoas de esquerda e de direita e que demandavam desde
intervenção militar e impeachment até ampliação das políticas sociais do governo.

Figura 16 – Manifestações de junho de 2013.

Fonte: <www.gazetadopovo.com.br [https://www.gazetadopovo.com.br/vida-


publica/protestos-contra-dilma-reunem-de-1-mi-a-18-mi-manifestantes-em-
todo-o-pais-ba83fv62s0s706xc8jrebu84t/] >.

Apesar do clima de tensões, a Copa do Mundo ocorreu normalmente em 2014. No entanto, a


presidenta teve ali um sinal de que sua popularidade estava ameaçada. Durante a abertura oficial
do evento, ela foi vaiada pelos presentes no estádio, logo após sua presença ser anunciada. Para
piorar o clima de descontentamento, a seleção brasileira perdeu a partida da semifinal da
competição contra a Alemanha por 7 a 1.

Outro ponto que afetou o governo foram as denúncias de corrupção, que não cessaram com a
mudança de presidente. No primeiro ano de seu mandato, Dilma afastou o total de sete ministros
por suposto envolvimento em transações ilícitas. Entre eles estava o ministro-chefe da Casa
Civil, Antônio Palocci. No entanto, as denúncias voltariam no último ano de seu mandato, quando
começou a ser investigado pela Polícia Federal um esquema de desvio e lavagem de dinheiro que
envolvia grandes empreiteiras, a estatal de petróleo Petrobrás e políticos da base do governo.
Iniciada em 17 de março de 2014, a Operação Lava Jato ganhou este nome porque usava-se uma
rede de postos de gasolina e lava-jatos para lavar o dinheiro adquirido de forma ilícita.

Tal como percebe o cientista político Paulo Joaquim Rodrigues (2017), o termo “judicialização da
política” seria um conceito usado para entender os impactos políticos do Poder Judiciário. Sendo
um poder pretensamente neutro, a judicialização buscaria abarcar dimensões que são
individuais dos juízes e institucionais do Poder Judiciário. De alguns anos para cá, o termo tem
sido cada vez mais aplicado para entender fenômenos recentes da política e, por isso, precisa ser
mais bem definido.

Desde os escândalos de corrupção que ganharam a esfera pública nos governos do PT, o tema
do ativismo judiciário tem entrado na pauta da política. Em anos mais recentes, a Operação Lava
Jato tem sido uma expressão disso, tal como aponta Paulo Joaquim Rodrigues (2017). A
operação prendeu figuras importantes da política nacional – incluindo o ex-presidente Lula e o
ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha – além de donos de empreiteiras,
outros tipos de empresários e doleiros.
Videoaula - As manifestações de 2013

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[https://player.vimeo.com/video/534506123 ] .

Videoaula - O que é judicialização da política?

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[https://player.vimeo.com/video/534506281 ] .
Videoaula - Operação Lava-Jato e judicialização da política

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[https://player.vimeo.com/video/534506388 ] .

3.3 Das eleições de 2014 ao impeachment de Dilma Rousseff

É neste clima de convulsões sociais, crise econômica e denúncias de corrupção do governo que
ocorreram as eleições de 2014. Embora 11 candidatos tenham concorrido, a disputa ficou
concentrada em apenas 3. Após o acidente de avião que levou o concorrente Eduardo Campos
(PSB) ao óbito, sua vice na chapa, Marina Silva, assumiu a disputa. Apesar de ter ameaçado
chegar ao segundo turno, ele ficou definido entre o então senador e ex-governador de Minas
Gerais Aécio Neves (PSDB) e a presidenta Dilma Rousseff (PT).

A campanha de Aécio concentrou-se em responsabilizar Dilma pela desaceleração do


crescimento econômico, além de denunciar atrasos de obras públicas e do excesso de gastos
para a Copa do Mundo. Além disso, o candidato do PSDB também afirmava que o Partido dos
Trabalhadores teria sido responsável por tornar a corrupção em empresas estatais e órgãos
públicos uma conduta sistemática.

Já Dilma afirmava que continuaria os investimentos em educação e nas obras de infraestrutura,


assim como nos programas sociais. Sobre as críticas, ela afirmava que não tinha sido possível
fazer tudo em quatro anos, mas que se reeleita daria continuidade às políticas que estavam
sendo feitas. Ela apontava que os problemas econômicos seriam tão graves quanto Aécio Neves
indicava. Tratando das denúncias de corrupção, a candidata não as negava, além de afirmar que
em seu governo e do presidente Lula foi dada autonomia ao Judiciário e à Polícia Federal para
que pudessem investigar fosse quem fosse que tivesse cometido crimes. A campanha do PT
também construía a narrativa de que sua ascensão representaria a chegada dos subalternos ao
poder e que eleger um candidato do PSDB seria retomar os problemas de desigualdade que o
Brasil enfrentava nos anos 1990.

Tal como aponta o cientista político Wanderley Guilherme dos Santos (2017), a campanha no
segundo turno foi acirrada e dividiu politicamente jornalistas, intelectuais e demais setores da
sociedade, como empresários e artistas. Uma das expressões desta polarização foi o resultado
do pleito: Dilma venceu com 51,64% dos votos válidos, contra 48,36% de Aécio Neves, o que
constituiu uma diferença de aproximadamente 3,5 milhões de votos. A diferença pequena fez
com que o derrotado nas urnas entrasse com um pedido de auditoria ao Tribunal Superior
Eleitoral, no entanto, a vitória da candidata do PT foi confirmada.

Figura 17 – Os candidatos das eleições de 2014.

Fonte: <www.dw.com [https://www.dw.com/pt-br/dilma-e-a%C3%A9cio-


levantam-casos-de-corrup%C3%A7%C3%A3o-em-%C3%BAltimo-debate/a-
18020446] >.

No início do mandato, Dilma Rousseff buscou manter as alianças políticas que André Singer
(2018) definiu como fundamentais para o projeto de manutenção do PT no governo. A principal
delas era com o partido mais forte no Poder Legislativo, o PMDB, que já estava na coalizão do
governo e na coligação eleitoral do PT desde o pleito de Lula em 2002. No caso de Dilma, o vice-
presidente era Michel Temer, uma das lideranças e presidente do partido. Já para a eleição do
presidente da Câmara dos Deputados, o PT apoiou outro membro daquele partido, Eduardo
Cunha.

Já na economia, a presidenta reeleita fez uma mudança importante e nomeou o economista


liberal Joaquim Levy, que tinha formação na Universidade de Chicago e atuação como consultor
para o mercado financeiro. Esta indicação sinalizou que a diminuição da crise econômica feita
durante a campanha não condizia com o real pensamento do governo sobre a questão. Levy se
comprometeu a fazer cortes de gastos e ajustes fiscais, a fim de aumentar o superavit e retomar
o ritmo de crescimento da economia.

No entanto, tal como aponta Singer (2018), as críticas de apoiadores do governo, assim como a
dissonância entre o discurso do economista com a da presidenta, fizeram com que sua
permanência no cargo fosse tensa. Isto o levou a pedir demissão e ser substituído no final do
primeiro ano de mandato por Nelson Barbosa. Se a alteração de ministro da Fazenda agradou os
apoiadores, desagradou a oposição, que apontava em sua narrativa a necessidade do controle de
gastos e de reformas nos sistemas previdenciário, trabalhista e administrativo.

Neste clima já tenso, a popularidade estava abalada também na sociedade civil. O aumento do
dólar, da inflação e do desemprego fez com que os setores sociais que não votaram na
presidenta permanecessem descontentes. Ao mesmo tempo, muitos dos que foram seus
eleitores se sentiam frustrados pelo mal andamento da economia e, segundo apontam os
cientistas políticos César Zucco e Daniela Campello (2015), tenderiam a responsabilizar o
governo pelos efeitos da desaceleração da economia até mesmo em questões nas quais não
haveria ingerência direta do Brasil, como a baixa do preço de commodities. Uma onda de
protestos pedindo o impeachment da presidenta tomou o país. No Congresso Nacional, foram
recebidos 68 processos de impeachment.

Figura 18 – Manifestações a favor do impeachment de Dilma Rousseff.

Fonte: <oglobo.globo.com [https://oglobo.globo.com/brasil/protestos-contra-


dilma-reunem-36-milhoes-em-todos-os-estados-18865889] >.

Enquanto isso, a Operação Lava Jato continuava sua atuação, até que chegou ao nome do
presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, que até então era base do governo. Foi
aberto processo contra ele no Comitê de Ética da casa legislativa. Nesta ocasião, os três
deputados do PT que compunham o comitê decidiram votar contra sua absolvição, o que marcou
um rompimento do partido com o quadro do PMDB.
No dia 2 de dezembro de 2015, Eduardo Cunha decidiu colocar para votação o processo de
impeachment da presidenta da República, por uma acusação de pedaladas fiscais em sua gestão
anterior. Este procedimento consistia em atrasar propositalmente o repasse de verbas para
bancos públicos, de modo a dar a ilusão de que as contas públicas estariam em melhores
condições ou garantir o empenho das verbas para outras atividades.

Segundo Wanderley Guilherme dos Santos (2017), a medida foi praticada pelos governos
anteriores, mesmo de outros partidos, mas o diferencial de Dilma é que, em sua gestão, a prática
ocorreu em maior número de vezes. O argumento do cientista político é que a impopularidade do
governo e o clima de radicalização do país teria favorecido o uso das pedaladas fiscais como
argumento para sua retirada do poder.

O próprio vice-presidente, Michel Temer, já demonstrava sinais de ser favorável à retirada de


Dilma Rousseff da cadeira presidencial. Àquela altura, seu partido tinha saído da base do
governo e ido para a oposição. Em 7 de dezembro, Temer escreveu uma carta pública para a
presidenta, na qual sinalizava sua frustração em ter sido supostamente posto ao lado pelo
governo e apontava discordâncias com a condução por ela feita da economia e da política
brasileira.

O impeachment de Dilma Rousseff foi votado em 17 de abril de 2016 na Câmara dos Deputados e
foi levado à frente por 376 votos a favor e 137 contra. Levado ao Senado em 31 de agosto, 61
senadores votaram pela retirada de Dilma Rousseff da presidência da República. No entanto,
houve uma votação complementar para decidir se ela teria os direitos políticos cassados ou não.
Neste caso, 42 senadores votaram pela manutenção de seus direitos, enquanto outros 36 foram
contrários. Após esgotar todas as instâncias de requerimento, Dilma Rousseff afastou-se de vez
do cargo e mudou-se para Porto Alegre.
Figura 19 – Aprovação do impeachment de Dilma Rousseff.

Fonte: <www.camara.leg.br [https://www.camara.leg.br/noticias/485947-


camara-autoriza-instauracao-de-processo-de-impeachment-de-dilma-com-
367-votos-a-favor-e-137-contra/] >.

O jornal O Estado de São Paulo fez um vídeo compilando momentos-chave do processo de


impeachment de Dilma Rousseff. Você pode conferi-lo no link a seguir: www.youtube.com
[https://www.youtube.com/watch?v=mIfamN2a0OI/] .

O processo de impeachment de Dilma Rousseff não foi levado adiante sem polêmica. De um
lado, seus apoiadores afirmavam que se tratava de um golpe, com motivações exclusivamente
políticas. De outro, os favoráveis ao processo indicavam que o procedimento era legal e que
estava sendo feito em respeito aos ritos institucionais e tendo como mote uma atividade que de
fato era ilegal. A escolha do termo para caracterizar a deposição de Dilma Rousseff acabou
sendo marcada, então, por uma disputa de narrativas sobre o evento. De um lado, muitos
analistas – como Singer (2018) e Guilherme dos Santos (2017) – apontam que foi apenas neste
governo que as pedaladas fiscais foram acionadas como irregularidade que levava a um
processo de impeachment. Eles também afirmam que existiam motivações políticas e de
discordância com a agenda econômica que seriam os motivos por trás do processo. De outro, é
verdadeiro que o processo foi feito em respeito às instituições e seus procedimentos, sendo
votado e aprovado tanto na Câmara dos Deputados quanto no Senado, além de ter contado com
juristas importantes como Hélio Bicudo na autoria do pedido de impeachment.
Videoaula - Golpe e Impeachment: duas narrativas para o mesmo
evento

Escaneie a imagem ao lado com um app QR code para assistir o vídeo ou clique aqui
[https://player.vimeo.com/video/534506561 ] .

3.4 O governo Temer e as eleições de 2018

Com o afastamento de Dilma Rousseff do cargo, Michel Temer (PMDB) assumiu a cadeira de
presidente da República. Era a primeira vez que seu partido chegava ao cargo, no entanto, o
jurista paulistano já tinha ampla experiência política. Durante o processo de elaboração da
Constituição de 1988, Temer foi deputado constituinte; nas eleições seguintes, elegeu-se
deputado federal por São Paulo, embora tenha saído logo em seguida para assumir a
Procuradoria-Geral do Estado de São Paulo. Entre 1994 e 2011, permaneceu deputado federal,
sendo de 1997 até 2001 presidente da Câmara dos Deputados. Sua escolha como vice-
presidente na chapa de Dilma para as eleições de 2010 se devia ao fato de ele ser liderança e
importante articulador político do PMDB na Câmara dos Deputados.
Figura 20 – Michel Temer.

Fonte: <wikipedia.org
[https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Michel_Temer_(foto_oficial).jpg] >.

Embora tenha sido eleito na mesma chapa que sua antecessora, seu governo representou
mudanças significativas na condução da economia e também na correlação de forças políticas.
Partidos da oposição, como PSDB e DEM, passaram a ser base de governo, ao mesmo tempo que
o PT foi para a oposição. Para o ministério da Fazenda, Temer indicou o economista liberal
Henrique Meirelles, que já havia sido presidente do Banco Central no governo Lula, mas diferia no
entendimento da condução da economia de ministros dos governos anteriores, como Nelson
Barbosa e Guido Mantega.

As principais medidas econômicas do governo Temer foram de cunho fiscal, com a finalidade de
corrigir os deficit nas contas públicas. A principal delas foi a PEC 241, conhecida como a PEC do
Teto de Gastos. A partir dela, ficou limitado o aumento de despesas da União durante 20 anos,
cujos gastos foram fixados a partir da receita 2016 e poderiam ser ampliados apenas por
correção com a inflação. A medida sofreu duras críticas da oposição, que viam nela o
recrudescimento de atividades tidas como essenciais, sobretudo nas áreas de saúde e educação.
No entanto, a medida foi aprovada por 366 votos na Câmara dos deputados e 61 votos no
Senado.

No ano de 2017, o governo Temer aprovou uma reforma trabalhista que flexibilizou questões
estabelecidas desde a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), feita por Getúlio Vargas. Entre as
mudanças estão a priorização dos acordos entre patrão e empregado em detrimento do
estabelecido pela CLT, regulamentação do home office, possibilidade de fracionamento de férias,
estabelecimento do trabalho intermitente – em que o empregador pode fixar com o empregado
contratos temporários de trabalho –, permissão de terceirização de atividade-fim e fim da
obrigatoriedade do imposto sindical.

Você pode conferir no link a seguir as principais mudanças da reforma trabalhista de Michel
Temer em comparação com a legislação anterior: www.conjur.com.br
[https://www.conjur.com.br/2017-jul-14/entenda-principais-mudancas-reforma-trabalhista] .

Para estimular a atividade econômica, o governo liberou saques do Fundo de Garantia por Tempo
de Serviço (FGTS) no valor de R$ 500,00. No entanto, a medida não foi suficiente para aumentar a
popularidade do governo e nem garantir crescimento na economia. Em 2017, o PIB subiu 1,7% e,
em 2018, apenas 1,1%.

Michel Temer indicou para presidente da Petrobrás o engenheiro Pedro Parente, que mudou a
política de definição de preços da estatal. Ela deixou de ser definida no plano doméstico e passou
a ser feita por câmbio flutuante de acordo com os preços no mercado internacional. Isso resultou
em alta dos preços de gasolina e diesel que prejudicava o transporte de mercadorias. Como
consequência, ocorreu uma greve de caminhoneiros em 2018, que abalou o abastecimento de
mercadorias em todo o país. Pedro Parente se demitiu do cargo e foi substituído por Ivan
Monteiro. Em acordo com a categoria, Michel Temer reduziu o preço do diesel e concedeu
isenções fiscais aos caminhoneiros.

Naquele mesmo ano iniciaram-se as campanhas para as eleições presidenciais. Foram lançados
um total de 13 candidatos, entre eles Ciro Gomes (PDT), Marina Silva (Rede), Guilherme Boulos
(PSOL) e Henrique Meirelles (MDB). Inicialmente, o candidato do PT seria o ex-presidente Lula,
no entanto, ele foi impedido legalmente de concorrer ao pleito por ter sido condenado em
segunda instância em processo ligado à Operação Lava Jato. No seu lugar, concorreu o ex-
prefeito de São Paulo, Fernando Haddad. Já o PSDB lançou Geraldo Alckmin. Porém, essa eleição
seria a primeira desde os anos 1990 em que a principal disputa não seria entre estes dois
partidos. Surgiu um candidato que não era ligado a um partido tradicional e que não havia
disputado o pleito anteriormente. O Partido Social Liberal (PSL) lançou Jair Bolsonaro para
concorrer à presidência da República.
O segundo turno foi entre o candidato do PT, Fernando Haddad, e o do PSL, Jair Bolsonaro. Tal
como apresenta o cientista político Jairo Nicolau (2020), foi uma eleição marcada pelo uso
massivo de redes sociais na campanha, além de um discurso de radicalização adotado, por
vezes, por ambos os candidatos. No caso de Haddad, construía-se a narrativa de que o país era
melhor nos governos do PT e que a prisão de Lula teria sido resultado de perseguição política,
numa tentativa impedi-lo de vencer as eleições. Já Bolsonaro apontava o contrário sobre o
partido de oposição, além de defender o alinhamento de uma agenda conservadora em costumes
com uma liberal em economia.

O resultado foi a eleição de Jair Bolsonaro, com 55,13% dos votos válidos. Em dados trazidos
também pelo cientista político Jairo Nicolau (2020), o eleitor de Bolsonaro se concentrou nas
áreas urbanas, vencendo nos principais colégios eleitorais: São Paulo, Rio de Janeiro e Minas
Gerais. Das 38 maiores cidades do Brasil, o presidente eleito teria vencido em 32. Além disso, seu
apoio seria bem maior entre os homens do que entre as mulheres. Entre os jovens (de 16 até 29
anos), a diferença de gênero seria ainda mais acentuada, com Bolsonaro perdendo entre as
mulheres e vencendo entre os homens. Na religião, o cientista político afirma que, a cada 10
evangélicos, 7 teriam votado no candidato do PSL.

O cientista político Jairo Nicolau explica de maneira didática a pesquisa do seu livro O Brasil
dobrou à direita no debate disponível no link a seguir: www.youtube.com
[https://www.youtube.com/watch?v=K4sqMUw_UOA&t=13s] .
Recapitulando a Unidade 3
Apresentamos nesta Unidade as principais características políticas e econômicas do governo
Dilma Rousseff. Do mesmo modo, vimos o acirramento da crise nestas duas esferas, o que
resultou no impeachment da presidenta em seu segundo mandato. Seguido dela, assumiu o vice
eleito na chapa, Michel Temer, o que representou uma mudança na coalizão de governo, assim
como na política econômica do Brasil. Por fim, tratamos brevemente das eleições presidenciais
de 2018, tentando entender o perfil do eleitorado.

Na segunda década do século XXI, a política brasileira apresentou mudanças em relação ao


modelo consolidado desde os anos 1990, quando a polarização se dava entre PT e PSDB. Após
dois mandatos consecutivos do Partido dos Trabalhadores, o país teve uma inclinação para
outras pautas, o que ficou expresso com mais força na eleição de um candidato declaradamente
de direita e contrário às políticas de Lula e Dilma. Os próximos pontos desta aventura que é a
história do Brasil ainda esperam por ser compreendidos e analisados pelos historiadores e
demais cientistas sociais.
Exercícios de fixação
Dilma não tinha experiência nenhuma na política antes de ser presidenta.

Verdadeiro Falso

Dilma saiu da presidência por um processo de impeachment.

Verdadeiro Falso

Após o impeachment de Dilma, quem assumiu a presidência foi:

Michel Temer.

Aécio Neves.

Lula.

Bolsonaro.

Fernando Haddad.
4 A pluralidade chegou
As mudanças no mundo político desafiaram a sociedade e a cultura a uma reinvenção. Não há
dúvidas de que a chegada da televisão representou uma revolução para o mundo da
comunicação e causou grande impacto na maneira de produzir e disseminar a cultura nacional.
Não poderia ser diferente com o advento da internet e das redes sociais, aproximando artistas de
seus fãs, acelerando o consumo e, portanto, a demanda por novos sucessos, possibilitando que
com apenas um clique o produto cultural de sua preferência esteja disponível.

A sociedade brasileira já não é mais a mesma de décadas atrás. Somos mais velhos, temos
menos filhos, mais escolarizados, mas ainda com índices desafiadores de desigualdade. Nossos
movimentos sociais se consolidaram como atores políticos relevantes, as pautas contra
machismo, homofobia e racismo ganharam ressonância no poder e transformaram-se em leis.
Nesta Unidade vamos nos debruçar sobre parte da produção cultural do Brasil democrático.

É tarefa impossível retratar a pluralidade das diversas frentes de arte e cultura desse período,
desde a Festa Literária Internacional de Paraty às bilhões de visualizações dos clipes de funk do
Kondzilla. Portanto, o objetivo aqui é apenas apresentar um aperitivo, para que você possa
usufruir mais do que a democracia pode oferecer em termos de arte e cultura.

4.1 Sociedade

Após um longo e lento caminho, no período da redemocratização, o Brasil tornou-se um país


urbano. Não se trata aqui de valorar este status como algo necessário ou essencialmente
positivo. Porém, com um olhar diacrônico sobre os processos sociais ao longo de quase dois
séculos de país independente, é possível destrinchar as consequências e características desse
processo de urbanização e progressivo aumento da cidadania.

Foi em meados do século XX que a migração urbana, recorrente no país em razão de suas
estruturas desiguais entre as regiões, acelerou-se. O processo de industrialização e a urgente
necessidade de mão de obra, em conjunto com o incentivo do Estado, fortaleceram estas
jornadas. Porém, o país continuou possuindo maior população rural até a década de 1970. Foi
com o censo de 2000 que os números se tornaram discrepantes: a população urbana brasileira
passou a representar 80% do total. Segundo o Censo de 2010, 160 milhões residiam em área
urbana, enquanto na área rural estão 29 milhões de brasileiros.

A esse respeito, uma ressalva é importante. A desigualdade regional brasileira faz com que as
tendências demonstradas quando agrupamos os dados tornem-se discrepantes quando são
analisados separadamente. Por exemplo, os 80% urbanos do censo de 2000 se transformam em
91% no Sudeste e 69% no Nordeste. Em 2010, dos 80.364.410 residentes no Sudeste, apenas
5.668.232 estão em zonas rurais. Já nos Estados nordestinos, 14.260.704 vivem no campo, com
um total populacional de 53.081.950.

Entendida a nova realidade urbana brasileira, apesar das desigualdades, outra característica
importante dessa sociedade contemporânea é a taxa de fecundidade. Ao longo dos anos, a taxa
de mortalidade infantil caiu consideravelmente e, para o período aqui analisado, também houve
mudança de padrão para o número de filhos por mulher. Se em 1960 correspondia a 6,3, em 2000
este número reduziu mais de duas vezes, alcançando a marca de 2,3. A tendência segue na
mesma direção e, dez anos depois, a pesquisa verificou uma queda de 20,1%, chegando a 1,90
filho por mulher.

Estes dados, que parecem números soltos, representam mudança significativa na estrutura
familiar brasileira. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad
Contínua) divulgada em 2019, há tendência de queda nas faixas etárias abaixo de 30 anos de
idade, enquanto o grupo de cidadãos com idade superior está em crescimento (57,7%), com
destaque para aqueles acima de 65 anos, que já representam 10,8% da população. Estes dados
evidenciam um processo contínuo de envelhecimento da população, isto é, a base da pirâmide
tende a encurtar, enquanto o topo se alarga, como mostra a imagem a seguir.

Figura 21 – População residente no Brasil segundo sexo e os grupos de


idade (%).

Fonte: <biblioteca.ibge.gov.br
[https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101707_informativo.pdf]
>.
Segundo pesquisa do demógrafo José Eustáquio Alves, em 2032, os evangélicos devem
ultrapassar os católicos na população brasileira. A projeção baseia-se no crescimento constante
daqueles que se declaram evangélicos, enquanto o percentual de católicos apresenta uma
tendência de decréscimo.

Saiba mais em: veja.abril.com.br [https://veja.abril.com.br/brasil/evangelicos-devem-


ultrapassar-catolicos-no-brasil-a-partir-de-2032/] .

Além do envelhecimento e da redução do número de filhos e, portanto, da população mais jovem,


as alterações na composição domiciliar passam também pela maior presença de mulheres no
mercado de trabalho e aumento do número de divórcios. No final da década de 1970, o divórcio
estava legalizado no Brasil, e nos anos seguintes o número cresceu em torno de 9% ao ano. Em
conjunto à redução de matrimônios, um dos impactos da igualdade de direito entre os gêneros
no âmbito do trabalho pela Constituição de 1988 foi o aumento de mulheres nas chefias de seus
domicílios. Segundo a Pnad Contínua (2019), 45% dos lares brasileiros possuem mulheres como
pessoa de referência. Isto significa um aumento de 9 milhões de mulheres que passaram a
assumir esse posto desde a última pesquisa, em 2012.

Sobre inserção no mercado de trabalho, precisamos pensar a respeito da capacitação


profissional, e não é possível tratar desse assunto sem analisar as condições básicas da
educação no país. Em 2019, ainda há 11 milhões de pessoas analfabetas no país, cerca de 6% da
população, mais da metade nordestinos. Quando adicionamos à análise um critério de raça, a
desigualdade fica evidente: entre brancos o índice de analfabetismo é de 3,6%, 5,3 pontos
percentuais menor do que entre pretos e pardos (8,9%).

Não há dúvida de que houve avanços importantes na escolaridade dos brasileiros, sendo 48,8%
da população com 25 anos ou mais que concluíram, pelo menos, o Ensino Médio. Porém, no
Nordeste, três em cada cinco adultos não completaram o ensino médio. A Pnad Contínua
investiga apenas a educação básica, que compõe Educação Infantil, o Ensino Fundamental e o
Ensino Médio. Enquanto o Ensino Superior é majoritariamente atendido pela rede privada (73,7%
na graduação e 74,3% na pós-graduação), o ensino básico está a cargo da rede pública. Na
creche e pré-escola são atendidos 74,7% dos alunos; no Ensino Fundamental 82%, e no Médio
87,4%. Estes serviços são mantidos com recursos federais via Fundeb (Fundo de Manutenção e
Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação).
Todas estas mudanças radicais na composição social do Brasil das últimas décadas não vieram
desacompanhadas de organização social e reivindicação de direitos. Três pautas que ganham
destaque são as contra o machismo, a homofobia e o racismo. Foi marcante a pressão feminista,
por meio Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (CNDM), em busca da igualdade de gênero da
Constituição de 1988. 

Iniciativas federais também foram tomadas para institucionalizar a luta contra a desigualdade de
gênero, como a criação, em 2003, da Secretaria de Políticas para Mulheres (SPM). Já no governo
Dilma (2015), a secretaria passou a compor o ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos
Direitos Humanos (MMIRDH). Em 2016, durante o governo Temer, o ministério foi extinto – e
reformulado, passando a fazer parte do ministério da Justiça e da Cidadania.

O movimento feminista tem se capilarizado no país, fato que se traduz em mudanças legislativas
e no voto. Foram conquistadas políticas públicas como o programa Mulher, Viver Sem Violência,
dedicado ao cuidado de mulheres em situação de violência, contando com ações como a Casa
da Mulher Brasileira e a ampliação do Ligue 180, Central de Atendimento à Mulher (VISCARDI;
PERLATTO, 2018). Outro marco foi a promulgação da Lei Maria da Penha (nº 11.340/2006).

Diferentemente do movimento feminista, as pautas LGBTQIA+ alcançaram menos


institucionalização para suas reivindicações, a começar pela Constituição de 1988. As
conquistas ainda estão aquém, mas o avanço não pode ser ignorado. Foi em São Paulo, no dia
28 de junho de 1997, que aconteceu a primeira parada do Orgulho Gay no Brasil. Contando com 2
mil manifestantes na primeira edição, a 23ª edição (2019) apenas na Avenida Paulista reuniu 3
milhões de pessoas e movimentou R$ 403 milhões.

Leia mais sobre a Lei Maria da Penha acessando o site: www.planalto.gov.br


[http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm] .
Figura 22 – Parada do Orgulho LGBT.

Fonte: <wikipedia.org
[https://pt.wikipedia.org/wiki/Parada_do_orgulho_LGBT_de_S%C3%A3o_Paulo
#/media/Ficheiro:S%C3%A3o_Paulo_LGBT_Pride_Parade_2014_(14108541924).j
pg] >.

Em 2001, tendo em vista o combate à intolerância em seu sentido amplo, criou-se o Conselho
Nacional de Combate à Discriminação (CNCD). Anos depois, este confronto tornou-se mais
específico, e surgiu o programa Brasil Sem Homofobia (BSH). Também em diálogo com a
sociedade civil, foi redigido, em 2009, o Plano Nacional de Promoção da Cidadania e Direitos
Humanos de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (PNDCDH-LGBT). Outras
iniciativas institucionais foram postas em prática para sistematicamente garantir voz à
população LGBTQIA+ brasileira. Mas uma das medidas de maior impacto foi o reconhecimento
da união estável de pessoas do mesmo sexo pelo STF, em 2011.

No tocante à temática do racismo, o movimento negro organizado de longa data conseguiu


estabelecer diálogo e conquistas na Constituição de 1988, em especial pela atuação do
Movimento Negro Unificado contra a Discriminação Racial (MNU). O avanço social histórico da
nova carta foi estabelecer o racismo como crime inafiançável e imprescritível. Nas últimas
décadas, foram criados arranjos institucionais como conselhos, grupos de trabalho e secretarias
para responder à demanda social contra o racismo, entre eles o Estatuto da Igualdade Racial (Lei
nº 12.888/2010).

Como vimos, a população negra no Brasil ainda é mais atingida pelos piores índices de
educação. Assim, a regulamentação e ampliação das cotas raciais foram de grande impacto para
a inserção de estudantes negros nas universidades públicas. Por fim, do ponto de vista da
representatividade cultural, vale mencionar a Lei nº 10.639, que insere no currículo
obrigatoriamente o ensino de história e cultura afro-brasileira (VISCARDI; PERLATTO, 2018).
Para compreender o que foram as cotas na graduação, confira a linha do tempo elaborada pela
cientista política Anna Venturini, especialista em ações afirmativas, para o Nexo Jornal:
nexojornal.com.br [https://pp.nexojornal.com.br/linha-do-tempo/2020/As-pol%C3%ADticas-de-
a%C3%A7%C3%A3o-afirmativa-em-cursos-de-gradua%C3%A7%C3%A3o] .

Leia mais sobre a Lei nº 10.639 acessando o link: www.planalto.gov.br


[http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.639.htm] .

Videoaula - FUNDEB e o futuro da educação básica

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[https://player.vimeo.com/video/534506753 ] .
Videoaula - Fake News: o desafio das redes sociais

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[https://player.vimeo.com/video/534506821 ] .

4.2 Dimensão virtual

Além do impacto dos processos sociais, políticos e econômicos da intensa democratização que
viveu o Brasil nos últimos anos, outra força acelerou e remodelou esta trajetória, a internet.
Segundo dados da Pnad Contínua sobre Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) em
2018, 79,1% dos domicílios brasileiros possuem acesso à internet, sendo o celular o meio mais
utilizado para utilizar a rede, encontrado em 99,2% das casas. Em ranking elaborado pela
empresa GlobalWebIndex em 2019, o Brasil está em segundo lugar em tempo dedicado em sites
e redes sociais, com média de 225 minutos por dia.

Não seria possível, e não é o objetivo, relatar a imensidão de informações e funcionalidades que
a internet proporciona. Contudo, é importante pontuar aspectos nos quais ela cumpre papel
central na sociedade contemporânea. A agilidade e o maior alcance, especialmente das redes
sociais, transformaram o ambiente virtual em espaço de disseminação de pautas das lutas
coletivas e de construção dos próprios movimentos. O efeito também pode ser observado no
campo precisamente político, tanto no aspecto da polarização potencializada pelos conflitos
virtuais, embora reais, como também nas campanhas eleitorais baseadas em algoritmos.

No aspecto cultural, ressalvando os desafios a respeito de direitos autorais, a internet tem sido
espaço de produção de diversas expressões artísticas. O ambiente plural, livre e acessível
contribuiu para fomentar iniciativas que não possuíam espaço nos meios tradicionais de
comunicação. Um dos casos de sucesso foi o Porta dos Fundos, coletivo criativo do ramo do
entretenimento que possui mais de 16 milhões de inscritos e 6 bilhões de visualizações em seu
canal do YouTube.

Por algum tempo, a internet esteve restrita ao seu próprio espaço, mas o mercado consolidou-se,
e os serviços de streaming como Netflix passaram a disponibilizar conteúdos originais e disputar
premiações importantes com as grandes produtoras. Como é o caso do Especial de Natal do
Porta dos Fundos feito para a Netflix, que ganhou o Emmy Internacional de Comédia em 2019. A
empresa inclusive já garantiu algumas estatuetas no Oscar com três documentários, e em 2018,
melhor filme estrangeiro por Roma.

Desde que chegou no Brasil em 1950, a televisão foi ganhando espaço até se tornar o principal
meio de comunicação, seja para informação ou entretenimento. O advento feroz da internet
provavelmente não extinguirá a TV, assim como esta não o fez com o rádio. Embora haja uma
inegável disputa pelo protagonismo, no Brasil ainda existem 2,1 milhões de lares onde há apenas
o sinal analógico da televisão. Este meio já tradicional na vida nacional continua contribuindo
com a cultura, como é o caso do programa de entrevistas Roda Viva, no ar desde 1986 na TV
Cultura, que também conta com um canal no YouTube no qual transmite ao vivo e disponibiliza
os programas, um excelente exemplo da coexistência desses veículos.

Outro fenômeno interessante das redes sociais com o mundo da cultura tradicional está na
tendência de compartilhar trechos de textos famosos da literatura nas linhas do tempo. Se por
um lado a liberdade de recortar textos quaisquer e conceder a autoria aleatória a escritores
brasileiros possa ser um ponto de preocupação, por outro a força das redes sociais se provou
real quando mantém vivos autores como Clarice Lispector de maneira massiva, e reverte tal
presença em compra de livros, como foi o caso das bem-sucedidas reedições de Paulo Leminski
(GARBERO, OLIVEIRA, FREIRE 2018).

4.3 Teatro

Pluralidade é uma das marcas desse período, e não seria diferente com o teatro no Brasil. Os
grupos cênicos são milhares e diversos, mas ainda sobrevivendo com dificuldade. Durante a
ditadura militar, o setor foi fortemente prejudicado pela censura e exílio de atores e diretores. O
Teatro Oficina foi símbolo desse processo. Fechado em 1968, foi reformado e reinaugurado em
1993 com montagem de José Celso Martinez Correa do espetáculo Hamlet, com sua
característica polêmica e potência, vencendo o prêmio de melhor direção e outros.

Em resposta à precariedade do investimento público na produção teatral, em 1999 surgiu o


movimento Arte Contra a Barbárie. Além da reivindicação, também assumiu o papel de disputar o
pensamento sobre a cultura no Brasil. Desse movimento surgiu um manifesto de mesmo nome
que foi assinado pelos seguintes grupos: Pia Fraus, Folias D’Arte, Tapa, Monte Azul, Companhia
do Latão e Olho Vivo. O movimento segue vivo e realizou no início de 2020 a Semana de Arte
Contra a Barbárie, com uma sequência de apresentações no Theatro Municipal de São Paulo e na
Avenida Paulista. Entre os presentes estavam as atrizes Denise Fraga e Marisa Orth.

Presente desde o século 1859, o teatro musical consolidou-se no Brasil, especialmente pela
evolução técnica e comercial do setor. As grandes montagens da Broadway encontravam aqui,
em meados do século XX, dificuldades estruturais como ausência de teatros com estrutura
adequada e falta de elenco especializado. Ainda assim foram produzidos musicais como Hair
(1969), Jesus Cristo Superstar (1972) e Godspell (1974). Com as leis de incentivo à cultura, o
teatro musical renasceu em 1999 com Rent, sendo o musical Les misérables o marco da virada.
A produção foi de grandes proporções, e em 11 meses foi vista por 350 mil pessoas (CARDOSO;
FERNANDES; CARDOSO-FILHO, 2016).

Fenômeno interessante aconteceu nos anos 2000: o stand-up comedy ressurgiu com força em
uma nova geração de humoristas, como Rafinha Bastos, Danilo Gentili, Bruno Motta e Fábio
Porchat, que apostaram no formato já consolidado na cena estadunidense: humorista, microfone,
palco, histórias e plateia rindo. O movimento foi alavancado pelos vídeos na internet e migrou de
bares pequenos para grandes teatros. Vinte anos depois, o setor é amplamente aquecido, levou
seus pioneiros a horários nobres da TV e atraiu gigantes da internet como Whindersson Nunes,
com mais de 40 milhões de seguidores, que faz shows de stand-up por todo o Brasil e turnês
internacionais com teatros lotados. Em 2019, ele fez o show de comédia com maior público da
história: 20 mil pessoas em Fortaleza assistiram a Adulto, especial na Netflix.

Figura 23 – Maior público de comédia da história.

Fonte: <otvfoco.com.br [https://www.otvfoco.com.br/apos-grande-show-em-


fortaleza-whindersson-nunes-revela-momento-emocionante/] >.
Videoaula - Rodas de rima

Escaneie a imagem ao lado com um app QR code para assistir o vídeo ou clique aqui
[https://player.vimeo.com/video/534507012 ] .

4.4 Música

Assim como durante a ditadura militar, o retorno da democracia foi acompanhado pela música. A
esperança que deu lugar à desilusão com o primeiro mandato de um civil após décadas de
comando dos militares pôde ser representada pelas atitudes díspares de um ícone do momento,
Cazuza. Vocalista do Barão Vermelho, festejou enrolado na bandeira nacional na primeira edição
do Rock in Rio a eleição indireta e, anos depois, em turnê do álbum Ideologia, cuspiu em uma
bandeira do Brasil durante show no Canecão.

Das canções que embalaram eventos políticos, In(dig)nação, do Skank, foi a escolhida pelos
caras-pintadas para manifestar pela saída do presidente Fernando Collor. Composta por Chico
Amaral e Samuel Rosa, a letra faz jogo de palavras, além de questionar e instigar os limites da
indignação dos cidadãos: “(...) A minha indignação é uma mosca sem asas. Não ultrapassa a
janela da minha casa. Indignação. Indigna, nação” (IN(DIG)NAÇÃO, 1993).

Um movimento que marcou o início da década foi o Manguebeat, que misturava ritmos
nordestinos com influências do rock, música eletrônica e hip-hop. De Pernambuco para o mundo,
o novo estilo era representado principalmente pelas bandas Chico Science & Nação Zumbi e
Mundo Livre S/A. Em 1992, foi escrito por Fred Zero Quatro o manifesto Caranguejos com
cérebro, que estabeleceu as bases para essa cena cultural.
As lutas sociais que foram amplificadas no período também tiveram espaço na música. Como é
o caso das letras de O Rappa, com explícitas críticas ao racismo estrutural presente na
sociedade brasileira em Todo camburão tem um pouco de navio negreiro. Outra música da banda
que fez muito sucesso questiona os padrões de vida da sociedade, Minha alma (A paz que eu
não quero). Também representam essa luta os Racionais MC’s, que propunham “orgulho da raça
negra e lealdade para com os irmãos de etnia e de pobreza” (KEHL, 1999, p. 96). O rap de Mano
Brown, Ice Blue, KL Jay e Edy Rock tinha uma mensagem e um público.

1993, fudidamente voltando, Racionais

Usando e abusando e abusando da nossa liberdade de expressão

Um dos pouco direitos que o jovem negro ainda tem nesse país

Você está entrando no mundo da informação, autoconhecimento, denuncia e diversão

Esse é o Raio-X do Brasil, seja bem-vindo

À toda comunidade pobre da zona sul. (FIM DE SEMANA NO PARQUE, 1993).

Estilos musicais tradicionais da cultura brasileira reapareceram nesse período com outras
características, como o pagode mais suave do que aquele do Fundo de Quintal, divulgado por
Beth Carvalho na década de 1970, representado pelos grupos masculinos de grande sucesso na
década de 1990, como o Molejo.

Nascido no subúrbio carioca, o ritmo recebeu múltiplas variações. O famoso grupo É o Tchan, por
exemplo, representa a vertente do chamado pagode baiano, também conhecido como
quebradeira.

Ainda nas reinvenções, podemos pensar no sertanejo universitário, que tem em Luan Santana um
de seus grandes ícones. Neste estilo, conhecido pelas duplas, as mulheres ganharam intenso
protagonismo, em carreiras solo como de Marília Mendonça e Paula Fernandes ou em duplas:
Simone e Simaria e Maiara e Maraisa são algumas destas representantes.

Além das letras e melodias, as músicas deste período passaram a ser representadas por seus
videoclipes. A MTV Brasil comandou esse setor com programas dedicados a compartilhar com a
audiência as novidades do mundo da música.

Com o surgimento da internet e a interação direta dos artistas e do público nas redes sociais, os
clipes migraram para plataformas como o YouTube. Símbolo do êxito deste mercado é o canal do
KondZilla, que possui mais de 60 milhões de inscritos e mais de 32 bilhões de visualizações.
Gerenciado por Konrad Dantas, a produtora de mesmo nome do canal dirige a carreira de mais de
100 artistas e foi fundamental para a consolidação do funk no país.
O funk, representado inicialmente pelo Bonde do Tigrão, Tati Quebra-Barraco e Furacão 2000,
abriu espaço para outras expressões da batida, como o chamado funk ostentação, produzindo
principalmente em São Paulo. O tradicional funk carioca também se reinventou, aumentando a
velocidade da batida para 150 bpm, nome deste novo estilo. Já o funk pop é um estilo mais
suave, tanto nas letras como na levada, alcançando um público mais diverso. São exemplos
desse estilo as cantoras Anitta e Ludmilla.

Para saber mais sobre a história do funk, você pode consultar a tese de doutorado de Juliana
Lessa Vieira denominada De baile em baile: UMA história social do funk carioca (1989-200).
Disponível em: www.maxwell.vrac.puc-rio.br [https://www.maxwell.vrac.puc-
rio.br/49684/49684.PDF] .

Videoaula - Lei Rouanet e os resultados na produção cultural

Escaneie a imagem ao lado com um app QR code para assistir o vídeo ou clique aqui
[https://player.vimeo.com/video/534507208 ] .

4.5 Cinema

Após o auge do Cinema Novo, a produção de filmes no Brasil passou por diversos desafios, como
a censura durante a ditadura militar e o baixo orçamento. Com a criação da Embrafilmes em
1969, iniciou-se uma nova era, a do cinema marginal. Já nos anos 1980, o cenário era
amplamente desfavorável, com redução das salas de cinema e consequentemente do acesso ao
público. Havia também a questão econômica do período, que reduziu os recursos do Estado para
a cultura. Na década seguinte, as salas de cinema dos bairros dariam passagem para os grandes
shopping centers, sem que no primeiro momento isso representasse um renascimento do
cinema nacional.

É preciso dizer que naquele momento havia cineastas produzindo obras importantes, como Bete
Balanço (1984) e Rádio Pirata (1987). Durante o governo Sarney, por meio de decreto foi posta
em vigor a Lei nº 7.505/1986, conhecida como Lei Sarney. O texto possibilitava abater do
imposto de renda contribuição para a cultura em diversos níveis: investimentos (50%);
patrocínios (80%) e doações (100%). A Lei, que esteve em vigor até o ano de 1990, foi experiência
pioneira de participação de empresas privadas na distribuição de recursos com incentivo de
isenção fiscal.

Durante o governo Collor, além de suspender a Lei Sarney, foram extintos órgãos federais da
cultura, como a Embrafilmes e o Concine , medidas que devastaram a produção cinematográfica.
Em 1991, foi criada a Lei Rouanet (Lei nº 8.313/1991), inegavelmente inspirada na lei anterior, já
que em seu próprio texto afirma que reestabelece princípios dela.

O cenário voltou a se reconstruir e nos anos seguintes com os editais públicos para fomentar o
cinema, como o 1º Prêmio Resgate do Cinema Brasileiro, as leis de incentivo como a própria
Rouanet e a Lei do Audiovisual em 1995.

Neste contexto, nasceu a Rio Filmes e outras iniciativas de fomento pelo Brasil, fazendo o
período ser conhecido como “retomada do cinema brasileiro”. O momento foi coroado pelo lento
retorno do público: o filme Carlota Joaquina, princesa do Brazil, de 1995, atingiu mais de um
milhão de espectadores (GARBERO; OLIVEIRA; FREIRE, 2018).

Leia mais sobre a Lei Rouanet (Lei nº 8.313) acessando o link: www.planalto.gov.br
[http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8313cons.htm#:~:text=L8313consol&text=LEI%20N%
C2%BA%208.313%2C%20DE%2023%20DE%20DEZEMBRO%20DE%201991.&text=Restabelece%20
princ%C3%ADpios%20da%20Lei%20n,Pronac)%20e%20d%C3%A1%20outras%20provid%C3%AAnc
ias] .
Apesar de nunca ter recebido uma estatueta do Oscar, os filmes brasileiros vêm aumentando suas
indicações à premiação. Na década de 1990, temos: O Quatrilho (1996); O que é isso,
companheiro? (1998); Central do Brasil (1999). Nos anos 2000: Uma história do futebol (2001);
Cidade de Deus (2004); Rio (2012); O sal da Terra (2015); O menino e o mundo (2016); e
Democracia em vertigem (2020).

Apesar da retomada ter sido importante para o setor, ela ainda não havia se convertido em um
público cativo ao cinema nacional. Diversas questões impactam nesse cenário, como o
monopólio de distribuidoras e o processo de elitização de salas de cinema, afastando parte do
público pelos altos preços dos ingressos. Alcançados os resultados de produção, os
profissionais da área passaram a se organizar enquanto setor. Quase 50 anos depois da edição
anterior, em 2000 foi realizado o 3º Congresso Brasileiro de Cinema (CBC), em que foi estruturada
a Medida Provisória nº 2.228-1/2001 que viabilizou a criação da Agência Nacional de Cinema
(Ancine).

Importante surgimento para o cinema nacional foi a Globo Filmes. Enquanto o cinema estava em
baixa, muito atores viram na TV uma oportunidade de carreira. Com a criação da empresa, esta
ponte foi criada resultando em sucessos como O auto da compadecida (2000), batendo o recorde
de público, com 2,1 milhões de ingressos vendidos. Nos anos seguintes houve considerável
crescimento do cinema nacional, com filmes na lista das dez maiores bilheterias entre todos os
filmes exibidos do ano, como Cidade de Deus (2002), Carandiru (2003), Lisbela e o prisioneiro
(2003) e Os normais, o filme (2003).

Com o passar do tempo, o cinema cresceu e pluralizou-se. Alguns gêneros receberam maior
destaque, como é o caso das cinebiografias: Olga (2004), 2 filhos de Francisco (2005), Elis (2016);
da comédia: Se eu fosse você (2006); De pernas pro ar (2010); Minha mãe é uma peça (2013); a
violência urbana, já representada em Cidade de Deus (2004), atingiu auge com Tropa de Elite
(2007), que ganhou continuação em 2015.

Tratando de números e recordes, atualmente o filme com maior bilheteria do cinema nacional é
Nada a perder (2018), com mais de 12 milhões de espectadores. Os números são questionados
porque as sessões que estavam esgotadas tinham salas vazias. O filme dedicado à biografia de
Edir Macedo, contudo, não ocupa o posto de filme mais rentável. Este título é de Minha mãe é
uma peça 3 (2019), com a marca de R$ 143,8 milhões de reais arrecadados.

Figura 24 – Minha mãe é uma peça 3.

Fonte: <diariodorio.com
[https://diariodorio.com/minha-mae-e-
uma-peca-3-o-divertido-mais-do-
mesmo/] >.
Recapitulando a Unidade 4
Esperança e frustração são sentimentos que perpassam as décadas que estudamos nesta
Unidade. Expressão das vivências sociais, a cultura espelhou este movimento com atos de
crença em um futuro melhor para o país, que deixava para trás a ditadura e o desprezo pela
sociedade ainda racista e desigual. O século XXI chegou com a consolidação de novas maneiras
de se comunicar e, portanto, de fazer arte.

A democratização não estava só na Constituição de 1988 e no voto direto da urna eletrônica,


mas nos cidadãos que ganharam voz, ao menos aqueles com acesso à internet. Nesta nova
expressão individualizada das redes sociais, angústias e desejos ganharam ouvidos e
espectadores. A pluralidade trouxe a sua beleza, e por isso o desafio de apresentá-la, com a
certeza de que muito não foi dito.
Exercícios de fixação
Marque a alternativa incorreta a respeito da sociedade brasileira no século XXI.

Há uma tendência de envelhecimento.

Há mais de 10 milhões de analfabetos no país.

A maioria dos cidadãos mora em área urbana.

Mais de 70% das casas possuem acesso à internet.

As mulheres brasileiras têm em média 2 filhos.

Complete a frase:

A Lei Rouanet, que entrou em vigor em Selecione... , é inspirada na


Selecione... , suspensa durante o governo Collor.
Considerações finais
Nesta Unidade fizemos um exercício de História do tempo presente. A partir do panorama que
elaboramos sobre o primeiro governo brasileiro eleito por voto direito (Fernando Collor) até as
eleições de 2018, podemos entender melhor quais foram as tendências da política nacional nas
primeiras décadas do século XXI. Ao mesmo tempo, conseguimos perceber que mudanças
importantes ocorreram neste meio tempo. Exemplo disso são as diferenças nas políticas
econômicas adotadas pelos presidentes, assim como a agenda política que pautaram. Nos anos
1990, isso foi perceptível com o controle da inflação na gestão de Itamar e de FHC, após vários
esforços que datam desde a década anterior.

Se anos 1980 era difícil imaginar o PT chegando à presidência, nos anos 2000 ele não só chegou
como permaneceu até 2016. Na economia, isso representou uma agenda de desenvolvimento
econômico com políticas sociais. Porém, na política, as denúncias de corrupção e os desgastes
sociais gerados pela alta do desemprego, do câmbio e da inflação acabaram por fazer Dilma ser
a segunda em um período curto de tempo a ser retirada do poder via processo de impeachment.
Tanto Temer quanto Bolsonaro foram governos que marcaram uma mudança da maré, em
direção a políticas liberais na economia e o recrudescimento da agenda progressista em
costumes.

Estes anos também demonstram uma nova cultura de massas, com a ampliação do acesso à
cultura, à internet e ao entretenimento. Surgiram novas produtoras de conteúdo, novas formas de
expressão e de manifestação artísticas e musicais. Desde o pagode dos anos 1990 até o funk e o
sertanejo dos anos 2000, até sucessos de bilheteria como Cidade de Deus e Tropa de Elite.

No período em que este material está sendo produzido, estes são todos movimentos políticos e
culturais que ou ainda estão em curso ou que vivenciamos os efeitos imediatos. Tratando de um
período curto na história, a nossa memória nos ajuda a lembrar como chegamos ao lugar em que
estamos. Como estudiosos de História, também temos que ter sempre em vista que nada está
dado ou é permanente, e que para a história tudo é possível.
Exercícios de fixação - respostas
Complete a frase:

No início da década de 1990, o Brasil passava por uma crise inflacionária. O recém-empossado
presidente Fernando Collor estabeleceu o Plano Brasil Novo , popularmente conhecido como
Plano Collor. Entre as medidas estava o aumento do
Imposto sobre Produtos Importados (IPI) e o congelamento de preços e
salários .

A respeito do Plano Real, é incorreto afirmar:

A nova moeda chamava-se Unidade Real de Valor (URV).

Foi implementado em julho de 1994.

O ministro da Fazenda era Fernando Henrique Cardoso.

Os resultados econômicos vieram nos dias seguintes ao lançamento, com redução de preços
e valorização da moeda.

Itamar Franco era presidente do país.

O início da carreira política de Lula se deu:

como governador de São Paulo.

no movimento negro.

em revoltas do campo no Nordeste.

no movimento sindical.

no PSDB.
Lula conseguiu se eleger presidente da República apostando no radicalismo e evitando alianças
políticas.

Verdadeiro Falso

O segundo governo Lula foi popular, o que ajudou a eleição de mais um candidato do PT em
eleição seguinte.

Verdadeiro Falso

Dilma não tinha experiência nenhuma na política antes de ser presidenta.

Verdadeiro Falso

Dilma saiu da presidência por um processo de impeachment.

Verdadeiro Falso

Após o impeachment de Dilma, quem assumiu a presidência foi:

Michel Temer.

Aécio Neves.
Lula.

Bolsonaro.

Fernando Haddad.

Marque a alternativa incorreta a respeito da sociedade brasileira no século XXI.

Há uma tendência de envelhecimento.

Há mais de 10 milhões de analfabetos no país.

A maioria dos cidadãos mora em área urbana.

Mais de 70% das casas possuem acesso à internet.

As mulheres brasileiras têm em média 2 filhos.

Complete a frase:

A Lei Rouanet, que entrou em vigor em 1991 , é inspirada na


Lei Sarney , suspensa durante o governo Collor.
Autoria
Helio Cannone
Autor
Bacharel e licenciado em História pela PUC-Rio, mestre em Ciência Política pelo Iesp-Uerj, onde
atualmente faz doutorado.
Glossário
Atividade-fim

Atividade considerada essencial dentro dos objetivos de uma empresa, que define a finalidade
daquele empreendimento. Fonte: www.contabeis.com.br
[https://www.contabeis.com.br/noticias/29163/atividade-fim-x-atividade-
meio/#:~:text=Atividade%2Dfim%20%C3%A9%20aquela%20que,Exemplo%3A%20ind%C3%BAstri
a%20de%20m%C3%B3veis] .

Cargo eletivo

Cargo político no qual o candidato é eleito por voto popular. Fonte: www.acessepolitica.com.br
[https://www.acessepolitica.com.br/cargos-eletivos-o-que-sao-quais-sao-e-suas-funcoes/] .

Commodity

Mercadorias que são comercializadas em estado bruto ou de baixa industrialização, como


petróleo e matérias-primas para a indústria. Fonte: www.dicionariofinanceiro.com
[https://www.dicionariofinanceiro.com/commodities/] .

Concine

Conselho Nacional de Cinema que esteve em vigor de 1976 a 1990. Fonte:


www.conselhosdecultura.ufba.br
[http://www.conselhosdecultura.ufba.br/pdf/Anita%20Simms%20-%20Concine.pdf] .

Cooperação Sul-Sul

Nome dado para a cooperação internacional entre países do Sul Global, ou seja, América Latina,
África e parte da Ásia. Geralmente o termo Sul é flexibilizado para além do critério puramente
geográfico, de modo a servir para classificar os países em desenvolvimento como um todo.
Fonte: www.ilo.org/brasilia [https://www.ilo.org/brasilia/temas/south-south/lang--pt/index.htm]
.

Deflação

Ato ou efeito de frear a inflação com medidas monetárias (redução do meio circulante) ou
financeiras (controle do crédito, enquadramento de preços etc.). Fonte: www.dicio.com.br
[https://www.dicio.com.br/deflacao/] .

Frente Brasil Popular

Grupo formado pelos partidos Verde (PV), Socialista Brasileiro (PSB) e o Comunista do Brasil
(PCdoB) em apoio à candidatura de Lula em março de 1989. Fonte: www.fgv.br
[http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-biografico/luis-inacio-da-silva] .

Governabilidade

Condição de estabilidade política, econômica e social que permite ao poder executivo governar.
Fonte: www.infoescola.com [https://www.infoescola.com/politica/governabilidade/] .

Impostos sobre Produtos Industrializados (IPI)

Imposto federal que incide sobre produtos da indústria nacional ou de importação. As taxas
cobradas variam de acordo com o produto. Fonte: www.gov.br
[https://www.gov.br/receitafederal/pt-br/assuntos/orientacao-tributaria/tributos/ipi] .

LGBTQIA

A sigla representa um movimento social em busca de diversidade e representatividade dos


direitos para as pessoas identificadas com essa comunidade. São elas: L (lésbicas); G (gays); B
(bissexuais); T (transexuais, travestis e transgêneros); Q (queer); I (intersexo); A (assexual); +
(inclusão de outras variações, como os pansexuais, demisexuais e intrasexuais). Fonte:
www.youtube.com [https://www.youtube.com/watch?
v=EREoc40JBr8&ab_channel=TemperoDrag] .

Novo sindicalismo

Nome dado ao movimento sindical que se iniciou a partir das greves do ABC paulista, no final dos
anos 1978. O nome “novo” visava a marcar uma diferença com o sindicalismo considerado velho
e que remeteria à Era Vargas. Fonte: memorialdademocracia.com.br
[http://memorialdademocracia.com.br/card/novo-sindicalismo] .

Piscicultura

Termo usado para definir o cultivo de peixes. Fonte: www.grupoaguasclaras.com.brs


[https://www.grupoaguasclaras.com.br/o-que-e-
piscicultura#:~:text=Piscicultura%20refere%2Dse%20ao%20cultivo,do%2Dnilo%20h%C3%A1%20
4000%20anos] .

Produto Interno Bruto (PIB)

O PIB é a soma de todos os bens e serviços finais produzidos por um país, Estado ou cidade,
geralmente em um ano. Fonte: www.ibge.gov.br [https://www.ibge.gov.br/explica/pib.php] .

Spread bancário

Taxa cobrada pelos bancos pelos serviços prestados em empréstimos e investimentos. Fonte:
www.politize.com.br [https://www.politize.com.br/spread-bancario/] .
Teoria da dependência

Elaborada por Fernando Henrique Cardoso e Enzo Faletto, a teoria da dependência tinha como
premissa a ideia de que o desenvolvimento é uma experiência diversa, portanto, nos países em
desenvolvimento não se está repetindo a história dos países desenvolvidos. Porém, a assimetria
entre os países configurava relações de dependência dos países da América Latina com aqueles
hegemônicos no mercado capitalista internacional. Fonte: CARDOSO, F. H.; FALETTO, E.
Dependência e desenvolvimento na América Latina. Rio de Janeiro: Zahar, 1970.
Bibliografia
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