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HISTÓRIAS DA CIVILIZAÇÃO BRASILEIRA

A ERA COLLOR

Fernando Collor de Mello foi o primeiro presidente eleito diretamente após o final do
governo militar, numa disputa apertada com mais de 20 candidatos. Defendia uma agenda
liberal e o enxugamento do Estado. Collor venceu derrotando o candidato do PT, Lula. O
governo Collor foi um grande fracasso. Collor não teve sucesso no combate à crise
econômica do Brasil, e, denunciado por corrupção, sofreu impedimento.

A ELEIÇÃO
A eleição de 1989 foi a primeira eleição presidencial direta depois de quase 30 anos (a
última aconteceu em 1960). A população brasileira votou unicamente para presidente. Essa
eleição seguiu determinações da Constituição Cidadã, promulgada no ano anterior, e
da Lei nº 7773/89. Não houve coligações no primeiro turno, pois muitos partidos lançaram
seus próprios candidatos num total de 22 (uma mulher, Lívia Maria Lêdo Pio de Abreu).

O primeiro turno contou com nomes de políticos veteranos, como Brizola, Ulysses
Guimarães, Lula, Maluf, Mário Covas e Aureliano Chaves. Collor, por sua vez, no início
da disputa, era um político pouco conhecido nacionalmente, mas que era famoso no seu
estado, Alagoas. No início da campanha eleitoral, o candidato que tinha a preferência da
população era Leonel Brizola, do PDT, mas logo o embate ocupou Collor e Lula. A
campanha aconteceu principalmente na TV (propaganda eleitoral gratuita).
O resultado do primeiro turno entre os primeiros cinco colocados foi surpreendente: 1.
Fernando Collor (PRN) – 30,47%; 2. Luiz Inácio Lula da Silva (PT) – 17,18%; 3. Leonel
Brizola (PDT) – 16,51%; 4. Mário Covas (PSDB) – 11,51% e 5. Paulo Maluf (PDS) – 8,85%.
Houve uma disputa acirrada entre os dois candidatos da esquerda nessa eleição. A
diferença de votos entre Lula e Brizola foi de menos de 400 mil votos.

Os dois candidatos que disputaram o segundo turno dessa eleição (Collor e Lula)
tinham propostas para o país totalmente diferentes. Essas diferenças eram perceptíveis,
sobretudo na área da economia, uma vez que:
1. Collor atacava o gigantismo do Estado e os “marajás” que viviam do erário sem
trabalhar e sem merecimento. Ele defendia um reformismo liberal que rompesse o caráter
fechado da economia brasileira e integrasse o Brasil ao “Primeiro Mundo”.

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2. Lula adotava a retórica econômica do velho Movimento Democrático Brasileiro (MDB),
a do desenvolvimentismo-distributivo, que demandava um desenvolvimento conduzido pelo
Estado para o crescimento econômico, igualdade e melhor distribuição de renda.
No segundo turno, uma série de partidos uniu-se a Fernando Collor: PDS, PFL, PTB,
PDC, PL e alguns membros do PMDB, mais como uma reação anti-Lula do que
necessariamente uma campanha pró-Collor. Na campanha do segundo turno, Collor
defendeu a modernização do Estado brasileiro ao mesmo tempo em que intensificou críticas
ao governo de José Sarney e atacou Lula apresentando-o como um atraso ao país.
Collor venceu com 53% dos votos, enquanto Lula obteve 47%.

O Governo
O Brasil de então vivia uma crise econômica intensa e uma inflação altíssima. A inflação
acumulada de 1989, ano anterior ao da posse de Collor, foi de 1972,91%. Após a posse em
1990, já no dia seguinte, ele lançou um plano econômico que ficou gravado na memória da
população. O Plano Collor vinha para solucionar os problemas da economia e
trouxe medidas drásticas. A mais conhecida foi o confisco dos valores depositados nas
poupanças. Por ela, o governo permitiu o saque de valores de até 50 mil cruzados novos
(algo correspondente a 17 mil reais atualmente). O que não fosse sacado ou que excedesse
a isso seria confiscado pelo governo e devolvido a partir de setembro de 1991.

Essa medida gerou pânico e filas nos bancos, uma vez que todos queriam sacar suas
economias. Houve confisco também nos fundos do overnight, aplicação financeira utilizada,
sobretudo, pela classe média, para diminuir os impactos da inflação sobre o salário. A
medida ainda incluiu ações como congelamentos de preços, reajustes salariais, e redução
das tarifas alfandegárias. O plano inicialmente até teve sucesso no combate à inflação, uma
vez que afetou o consumo, mas acabou fracassando e a inflação voltou a crescer.
Collor promoveu uma grande reforma, enxugando os ministérios de 23 para 12. Isso fez
com que alguns deles ficassem inchados, pois eram responsáveis por diversas pautas.
Os superministérios, ainda assim, ficaram muito presos aos desmandos da presidência e
estipula-se que cerca de 100 mil funcionários foram demitidos. A administração pública,
no entanto, continuou ineficiente. As medidas tomadas pela presidência reforçaram a
propaganda governamental de modernização do país.
A relação do presidente com os parlamentares permaneceu estável enquanto o governo
esforçava-se para controlar a inflação, mas depois que ficou evidente que o Presidente não
seria capaz de resolver os problemas da economia. A postura de Collor foi criticada. Ele

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tratava a política como espetáculo, desprezava outros políticos e desdenhava do Congresso.
Isso fez com que a oposição fosse reforçada. A relação entre o Congresso e o presidente
ficou insustentável.

O Impedimento (Impeachment)

A situação se complicou para Collor. Uma série de boatos a respeito


de favorecimentos ilícitos e de corrupção do tesoureiro do presidente, Paulo César
Farias, o PC Farias começou a circular. Em maio de 1992, uma reportagem com o
irmão do presidente, Pedro Collor, foi publicada. Pedro Collor denunciava seu irmão, o
presidente, por corrupção. As denúncias de Pedro Collor acusavam o presidente de
ter sido o grande beneficiário de um esquema de corrupção chefiado por PC Farias
além de Collor, segundo seu próprio irmão, ter recebido cerca de 60 milhões de
reais de propina para nomeações e concessão de favores políticos.
Com a denúncia de envolvimento em esquema de corrupção, os maiores partidos do
Brasil (PT, PMDB e PSDB) uniram-se para investigá-lo. Essa união resultou em
uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) para investigar as ações de PC
Farias. Em junho, novas denúncias aconteceram e Collor foi acusado de ter despesas
pessoais pagas com dinheiro sujo obtido por PC Farias. A CPMI, que tinha começado frágil,
ganhou força, e a investigação iniciada apenas contra PC Farias também ganhou outra
dimensão, passando a buscar o impedimento do presidente.
Collor tentou garantir o apoio de 1/3 do Congresso, de forma a barrar o avanço
do impeachment, pedindo que a população fosse às ruas de verde e amarelo para apoiá-lo.
A população foi às ruas, aos milhares, mas para exigir o impeachment de Collor. Nos
protestos muitos brasileiros pintavam o rosto de verde e amarelo e ficaram conhecidos
como caras-pintadas.
Com a mobilização popular, o processo contra Collor se fortaleceu e em 29 de setembro
de 1992, ele foi afastado temporariamente da presidência. Seu vice, Itamar Franco,
assumiu a presidência. Três meses depois, o processo contra Collor foi concluído, e
seu impeachment foi aprovado no Congresso por 441 a 38, e no Senado, por 76 a 3.
Em 29 de dezembro de 1992 Itamar Franco, assumiu oficialmente a presidência do país.
Collor, além do impeachment, perdeu seus direitos políticos por oito anos. O pivô do seu
esquema de corrupção, o tesoureiro PC Farias, foi assassinado em condições misteriosas
em 1996.
TEXTO: DIONILDO DANTAS
Fonte: Arquivos da Biblioteca Nacional

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