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História

A Estrutura Política e os Movimentos Sociais no Período Militar

Professor Cássio Albernaz

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História

A ESTRUTURA POLÍTICA E OS MOVIMENTOS SOCIAIS


NO PERÍODO MILITAR

Governo Jânio Quadros (1961) e os antecedentes de 1964: Jânio assumiu a presidência do


Brasil em janeiro de 1961. Sua campanha (união entre o PTN e a UDN) fora marcada pela
imagem de um político que “lideraria a massa popular brasileira”. Era demagogo, populista e
engraçado. Encontrou, ao longo da campanha, um país que vivia com taxas altíssimas de inflação
devido ao governo anterior. Ao lado disso, havia uma dívida externa crescente e organização
administrativa marcada pela corrupção. Sobre essa última, seu símbolo de campanha era,
justamente, uma vassoura e a música “varre, varre, vassourinha”.
Jânio da Silva Quadros, que já havia sido professor, vereador, deputado estadual, prefeito e,
até, governador de São Paulo, disputou o cargo presidencial ao lado do general Lott (PSD-PTB-
PSB), Ademar de Barros (PSP) e Plinio Salgado (coligações). Jânio foi eleito com grande número
de votos, a maior votação, até então, de toda história republicana. Seu vice-presidente era João
Goulart, o mesmo que havia sido vice de JK, tendo em vista que naquela época os cargos eram
eleitos separadamente.
Já em março, visitaria Cuba, a convite de Fidel Castro, assim, Jânio esperava legitimar,
internacionalmente, seu governo. Em seu retorno, Jânio Quadros afirmou ser favorável
à revolução Cubana. Aparentemente, o presidente desenvolvia uma política externa
independente, negociava ora com países de ordem capitalista, ora socialista. Deve-se levar em
conta a vigência da Guerra Fria e a validade da ordem bipolar mundial nesse contexto.
Em pouco tempo, seu comportamento impactou, destacadamente, os Estados Unidos. O ponto
auge foi verificado em agosto de 1961 quando o presidente condecorou o líder revolucionário
e então Ministro da Economia de Cuba, Ernesto Che Guevara, com a Medalha da Grã-Cruz da
Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul.
No âmbito econômico, o presidente seguiu orientações do FMI, a fim de cortar gastos e conter
a inflação, suas austeras medidas restringiram o crédito e congelaram os salários. A insatisfação
popular foi imediata.
Medidas de caráter saneador e moralizador também foram alvo do excêntrico presidente: a
proibição da rinha de galo, das corridas de cavalo em dias úteis e o uso de biquínis em desfiles.
Decretou, ainda, novas regras para espetáculos públicos, qualidade dos programas de rádio, de
televisão, de cinema, de teatro e de casas noturnas.
A própria UDN, na figura de Carlos Lacerda, que havia apoiado Jânio nas eleições, tornar-se-ia
sua opositora política. O “estilo Jânio” também ficou marcado pelo “governo de bilhetinhos”,
por meio desses o presidente enviava ordens administrativas. Estima-se que foram mais de
dois mil bilhetes escritos.

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Em sete meses de governo, renunciaria, em 25 de agosto de 1961, sob a alegação de estar
sendo pressionado por “forças terríveis”, por meio de um possível complô contra seu governo.
Há um debate em torno do seu pedido de renúncia: possivelmente, o presidente acreditava
que aumentaria seu poder diante da decisão que tomava porque os demais políticos, em
seu pensamento, não aceitariam a chegada de Jango, seu vice, para o seu lugar. O Congresso
Nacional, entretanto, não questionou a decisão. Jânio ficaria em exílio até o fim do regime Civil-
Militar.
Deveria assumir o posto presidencial, segundo a linha sucessória, João Goulart, que estava em
viagem à China, um país comunista. No intervalo até seu retorno, de forma interina, assumiu o
presidente da Câmara, deputado Ranieri Mazzili. A posse de Jango só seria realizada depois de
ser sufocada uma tentativa de golpe contra sua chegada.
O Governo João Goulart (1961-1964): Quando soube da renúncia de Jânio Quadros, João
Goulart estava em viagem à China. Enquanto realizava a viagem de volta era Ranieri Mazzili
quem assumia, interinamente, o posto presidencial. Todavia, o general Odilo Denis, o almirante
Silvio Heck e o brigadeiro Grun Moss, reuniram-se em nome das Forças Armadas e de parte da
elite brasileira para vetar o nome de Jango à presidência. A imagem de Jango como Ministo do
Trabalho ainda era presente na memória de determinado grupos. João Goulart, nesse sentido,
antes de chegar ao Brasil, precisou ir à Europa e depois ao Uruguai, para só assim entrar no
Brasil pelo Estado do Rio Grande do Sul. Em contrapartida, grupos de esquerda e políticos
legalistas baseavam-se na Constituição Federal de 1946 para garantir a defesa de Jango e esse
pudesse assumir o posto presidencial. O cunhado de Jango e governador do Rio Grande do Sul,
Leonel Brizola, destacou-se nessa empreitada. Por meio dos rádios, Brizola tornou conhecida a
Campanha da Legalidade e utilizou os porões do Palácio Piratini, sede do governo gaúcho, para
fazer as transmissões para a região Sul. A empreitada de Brizola foi apoiada por populares e,
inclusive, membros da milícia estadual. Quando foi ordenado ao general Machado Lopes, que
comandava o III Exército, esse se negou a realizar a tarefa e se uniu ao governante gaúcho. A
grave crise político-militar instaurada no Brasil por pouco não levou o país à guerra civil.
•• A fase parlamentarista: O Congresso Nacional, nesta emergência, instituiu o
Parlamentarismo através da Emenda Número 4, de autoria de Plinio Salgado. As Forças
Armadas cederam mediante o novo tipo de regime e, assim, assumiu, então, o Vice-
presidente João Goulart. Como primeiro-ministro assumiram, respectivamente, Tancredo
Neves, Hermes Lima e Francisco Brochado da Rosa. O sistema parlamentarista cairia, em
pouco tempo, em descrédito, foi restabelecido o presidencialismo em janeiro de 1963,
após realização de um novo plebiscito. Em torno de 9 milhões votaram a favor pela vota do
regime anterior.
•• A fase presidencialista: Já atuando no sistema presidencialista, Jango tentou colocar
em prática o chamado Plano Trienal. Esse plano previa medidas nacionalistas, as quais
aumentavam a intervenção do Estado na vida econômica. Para combater a inflação, reduzir
o déficit público e promover o crescimento econômico. Nesse sentido, desvalorizou-se a
moeda e a redução das importações. Também era a intenção do presidente melhorar a
distribuição de renda e encampar refinarias de petróleo. Como Ministro da Fazenda, Jango
contou com San Tiago Dantas e Celso Furtado para o âmbito da Reforma Administrativa. O
Plano Trienal exigia grande austeridade e, çpor isso, entrou em contradição com a política
de mobilização popular em apoio ao governo. A tensão reinaria durante o período de
governo presidencialista de João Goulart, exemplo disso, foi a execução da Lei de Remessa
de Lucros ao estrangeiro. Já em março de 1964, Jango realizou o Comício na Central do

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Brasil, no Rio de Janeiro. foram nacionalizadas refinarias estrangeiras e desapropriadas


inúmeras propriedades. Ali, o presidente lançava as Reformas de Base. Dentre as ações
dessa reforma eram previstas mudanças nos setores:
•• Urbano: controle no valor dos aluguéis, criação de um fundo para o povo adquirir casas.
Desagradou classe média que temia perder seus imóveis.
•• Agrário: desapropriar grandes latifundiários mediante indenização. Grande pressão
contrária da classe em questão.
•• Tributário: reorganizar a cobrança dos impostos.
•• Bancário: Diminuir lucros dos banqueiros.
•• Educacional: Melhorar índices educacionais, ensino público de qualidade. Influência de
Paulo Freire na implantação das medidas de ensino.
Jango ainda previa outras ações polêmicas, como voto aos analfabetos. De qualquer forma, o
contexto político nacional estava polarizado entre os apoiadores e os opositores ao presidente.
Dois institutos, que deveriam ser imparciais, colocaram-se contra João Goulart: O Instituto
Brasileiro de Ação Democrática (IBAD), que apoiava e patrocinava membros da UDN e o
Instituto Brasileiro de Pesquisas Sociais (IPES) que fazia propaganda política contra o governo.
Muito do dinheiro gasto por esses locais eram oriundos da CIA (EUA).
O apoio ao presidente vinha do PTB, seu partido e do PCB, que ainda estava na clandestinidade.
Também a UNE dava apoio ao governo Jango e uma pequena parte da Igreja Católica. Do
Nordeste, por meio do governador de Pernambuco, Miguel Arraes, vinham mensagens de
apoio e de solidariedade ao presidente. As chamadas Ligas camponesas, que queriam reforma
agraria, somaram-se aos defensores de Goulart. Outra organização nesse mesmo sentido foi
a criação do Comando Geral dos Trabalhadores (CGT), a qual, mediante pressões, conseguiu
junto ao presidente, a aprovação do 13º salário. Essa medida desagradaria o empresariado
nacional. Finalmente, somou-se a esse cenário de radicalizações, o surgimento da Frente
Parlamentar Nacionalista. Uma das agremiações oriundas desse contexto foi o Grupo dos Onze,
pela liderança de Leonel Brizola.
Acontecimentos no mês de março de 1964:
•• Comício na Central do Brasil em 13 de março.
•• Dia 19 de março, Marcha da Família com Deus pela Liberdade em SP: financiada pelo
IPES contra a possível infiltração comunista no Brasil. Contou com a participação da
União Cívica Feminista e pela Campanha da Mulher pela Democracia.
•• Dias 25, 26 e 27: Manifestação de Marinheiros, liderado por Anselmo Santos:
interrompiam suas atividades enquanto não fosse exonerado o Sr. Silvio Frota, ministro
da Marinha. Foi descoberto que Anselmo era um infiltrado da CIA. De qualquer forma,
o pedido de exoneração de Frota foi aceito. A notícia foi entendia como quebra de
hierarquia militar.
•• Discurso no Automóvel Clube do Brasil, no RJ, em 30 de março: frente a inúmeros
sargentos, o presidente tenta conseguir apoio. O contato com a baixa oficialidade
transformou-se em afronta aos altos escalões militares.

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•• 31 de março: início da Operação Popeye. Era o início do golpe para retirar João Goulart
do poder. Generais Luís Carlos Guedes e Olímpio Mourão Filho iniciam o movimento a
partir de Minas Gerais rumando ao RJ. A movimentação seria seguida pela Operação
Silêncio (controle dos meios de comunicação) e pela Operação Gaiola (prisão daqueles
que reagissem ao movimento ainda em MG).
•• O Golpe/ “Revolução” de 64: Apoio de Carlos Lacerda, governador do RJ, Ademar de Barros,
de SP, Magalhaes Pinto, de MG e Ildo Meneghetti, do RS (inimigo de Brizola e de Jango). O
presidente, por sua vez, viria para Porto Alegre, pois aqui, ainda teria mais apoio, sobretudo
de parte das Forças Armadas gaúchas (Amaury Kruel, Morais Ancora, Ladário Teles). No dia
4 de abril, o presidente Jango deixava o posto presidencial e seguia em exílio no Uruguai.
Retornaria ao Brasil em fins dos anos 70 para seu ritual fúnebre na cidade de São Borja.
Estava encerrada a fase populista no Brasil. Iniciou-se a repressão política e social. A economia
foi aberta ao capital estrangeiro e o nacionalismo perdeu força e espaço. Por trás do golpe,
havia a chamada Doutrina de Segurança Nacional (base da Escola das Américas no Panamá,
feita por norteamericanos). No Brasil, a doutrina foi colocada em prática pela Escola Superior
de Guerra (ESG), assim se afastaria o perigo socialista no Brasil.
Houve, em todo esse contexto, o apoio dos EUA, da CIA e das Forças Armadas estadunidenses. A
Operação Brother Sam, organizada pelo embaixador dos EUA Lincoln Gordon, mandaria navios
para a costa brasileira a fim de invadir o território brasileiro caso houvesse reação popular
à saída do presidente. Essa operação não precisou ser colocada em prática. Os documentos
relativos a ela só seriam descobertos em 1976.

O Regime Militar (1964-1985)

Antecedentes: O regime instaurado no Brasil após a saída de João Goulart não pode ser
entendido a partir de uma versão episódica, menos ainda, como fato isolado. Fora uma
planejada campanha, uma resposta política dos grupos conservadores brasileiros ao modo
de governo de Goulart. Refletiu, também, a conjuntura internacional da Guerra Fria, guerra
total contra o comunismo. Os Estados Unidos queriam extinguir a possibilidade de “novas
revoluções cubanas” na América Latina. Houve apoio por parte dos setores da opinião pública
para a chegada dos militares ao poder.
Estrutura do regime militar: “de cima para baixo”
•• Política baseada no autoritarismo e profunda centralização política.
•• Atos Institucionais como formas jurídicas de controle da nação (decretos que iam contra a
Constituição e necessidade de aprovação do Congresso Nacional).
•• Forte intervenção do Estado na economia: desenvolvimento econômico no modelo
tecnoburocrático, capitalista, dependente do capital internacional.
•• Preceitos da Escola Monetarista/ “Industrialização Excludente”
•• Modernização dos setores da infraestrutura (energia, comunicação e transportes)
•• Expansão da linha de crédito para classe média e elite.

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Divisões entre os militares:


•• Linha moderada/Castelanista/Sorbonne: oriundos da ESG (Escola Superior de Guerra –
1948), intelectuais, veteranos da 2ª Guerra, próximos da UDN, alinhados ideologicamente
com os EUA, anticomunistas, partidários de um poder executivo forte e soluções
econômicas técnicas.
•• Linha Dura: também anticomunistas, sem ligações diretas com os EUA, nacionalistas,
avessos a políticos e a qualquer tipo de democracia.
O Brasil após o golpe: assume Ranieri Mazzili (presidente da Câmara) interinamente. A
Constituição de 1946 ainda existe e será mantida. O poder de fato é instituído por meio do
Comando Supremo Revolucionário (Brigadeiro Correia de Mello, almirante Augusto Rademaker
e o general Artur da Costa e Silva).
Em 09 de abril de 1964: lançado o Ato Institucional nº 1 (AI – 1), de autoria de Francisco
Campos, mesmo autor da Carta de 1937, prevendo:
•• Demissão de funcionários públicos (civis ou militares) leais ao antigo governo.
•• Cassações de mandatos de opositores do golpe (Luís Carlos Prestes, João Goulart, Leonel
Brizona, Juscelino Kubistchek, Jânio Quadros).
•• Prisões de opositores.
•• Eleições indiretas para presidente (Castello Branco).
O governo Castello Branco (Sorbonne 1964 – 1967): pertencente à linha de caráter mais
democrático, buscou acabar com a tortura, mas intensificou investigações (muitas vítimas no
PTB). Criou, em junho de 1964, o Sistema Nacional de Informações (SNI, criado pelo General
Golbery do Couto e Silva para espionagem e coleta de dados). Realizou corte de gastos,
aumentou de tarifas e impostos. Já os salários foram reajustados uma vez ao ano, abaixo
do nível da inflação. O arrocho salarial foi acompanhado pela restrição de crédito, recessão
e desemprego, bem como a desvalorização monetária (o Cruzeiro Novo). Por trás desses
acontecimentos na área econômica havia o PAEG (Plano de Ação Econômica do Governo), sob
direção do Ministro da Fazenda, Otávio Gouveia de Bulhões e do Ministro do Planejamento,
Roberto Campos. Além disso, empresas nacionais foram compradas por estrangeiras. Houve
renegociação da dívida externa e pedidos de novos empréstimos. Surge a nova Lei de Remessa
de Lucros, terminando com aquela feita, em 1962, por Goulart. Bem como a criação do FGTS
(Fundo de Garantia por Tempo de Serviço, a qual finalizava a Lei de Estabilidade no emprego);
Banco Central; Banco Nacional de Habitação (BNH, o qual tinha relação com o FGTS para a
construção de casas para a população). Também era evidente a aproximação do governo
brasileiro cada vez maior com os EUA. A frase de Juracy Magalhães – Ministro das Relações
Exteriores – é emblemática nesse sentido: “O que é bom para os EUA é bom para o Brasil”. Em
julho de 64, houve a prorrogação do mandato presidencial até março de 67. Castello Branco
também foi responsável pelos Atos Institucionais que seguem:
•• Ato Institucional nº 2 (AI-2, de 27 de outubro de 1965): Eleições indiretas para presidente
e vice-presidente. Entretanto, as eleições em 11 Estados deram a vitória da oposição
em estados como Minas Gerais e Guanabara (RJ). Autorização para cassar mandatos e
suspender direitos políticos por dez anos. Extinção dos partidos políticos. Criação do
bipartidarismo (ARENA e MDB).

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•• Ato Institucional nº 3 (AI-3, de 13 de fevereiro de 1966): Eleições indiretas para
governadores e vice-governadores, ambos de mesmo partido e na qual os governadores
eleitos nomeariam prefeitos. Tentativa frustrada de formação de uma frente oposicionista
composta por antigos rivais: Carlos Lacerda, Juscelino Kubitschek e João Goulart, a Frente
Ampla.
•• Ato Institucional nº 4 (AI-4, de 6 de dezembro de 1966): Incorporava o que já havia dito
os atos 2, 3 e 4. Mantinha na orientação da Doutrina de Segurança Nacional. Congresso
Nacional com poderes constitucionais para aprovar a Nova Constituição (1967),
promulgada em janeiro de 1965 e que vigorou a partir de março daquele ano. Criou a Lei
de Segurança Nacional, normas para a sociedade brasileira. Envio de tropas para apoio aos
EUA na intervenção realizada na República Dominicana (acusada de ser Socialista, mas era
nacionalista)
O governo Costa e Silva (1967-1969): Pertencente à Linha Dura. Seu governo seria conhecido
como os Anos de Chumbo. Em 1968, o então presidente realizou o Acordo MEC-USAID
(Ministério Brasileiro de Educação e United States Agency for Internacional Development),
o qual previa apoio de especialistas vindos dos EUA para normatizar o ensino brasileiro. As
reações estudantis frente ao presidente Costa e Silva foram imediatas: caso mais famoso o do
estudando Edson Luís, assassinado pela repressão ao movimento estudantil no restaurante
universitário Calabouço. Em maio de 1968, ocorreu a maior greve registrada no Brasil, desde
1964, entre operários de MG e SP. E, em junho, houve a Passeata dos Cem Mil organizada pela
UNE. A pensa organização realizaria um Congresso na cidade de Ibiúna e seria repreendida pela
polícia, 1240 estudantes foram fichados e liberados na ocasião.
Outros mecanismos de repressão vinham da extrema direita, apoiadora do regime: o Comando
de Caça aos Comunistas (CCC) e o Movimento Anticomunista (MAC). Diante da resistência
populart, o governo lançou, desesperadamente, o Plano Para-Sar, a fim de sequestrar inimigos
do regime e de jogá-los ao mar. Esse plano nunca foi colocado em prática: atribui-se a Sergio
Ribeiro de Miranda, o Sergio Macaco, capitão da Aeronáutica, ser o desarticulador do projeto
por negar-se a realizá-lo.
A repressão do governo seria aumentada ainda em 1968 após o pronunciamento do Deputado
Federal, Marcio Moreira Alves, do MDP, o qual sugeria, em discurso na tribuna da Câmara, que
a população boicotasse o desfile do Dia da Independência, que as mulheres não namorassem
os militares e, ainda, que houvesse greve de sexo entre as esposas de milites. Moreira Alves
teve pedido de cassação, por parte do governo, o que não foi aceito pelo Congresso. Após o
ocorrido foi lançado o Ato Institucional nº5:
•• Ato Institucional nº 5 (AI-5, de 13 de dezembro de 1968): foi o maior instrumento de
repressão da ditadura militar de validade indeterminada. Escrito pelo Ministro da Justiça,
baseou-se no discurso do deputado Márcio Moreira Alves (MDB) como pretexto para o
fechamento do Poder Legislativo (presidente assume sua função). Suspendem-se os direitos
políticos e individuais (como o recurso do Habeas Corpus). Intensifica-se a intervenção em
Estados e municípios, a permissão para cassar mandatos, demitir, prender, editar leis.
Outras ações de Costa e Silva, antes de se ausentar do poder por problemas de saúde em agosto
de 1969:
•• Criação da Funrural (reforma agrária);

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•• Criação da Funai (proteção indígena);


•• Plano Nacional de Desenvolvimento Econômico (PED), seguia normas do PAEG.
O vice-presidente, Pedro Aleixo, havia sido contrário ao AI-5 e, contrariando a Constituição de
1967, foi impedido de assumir. Em 31 de agosto de 1969, foi lançado o AI-12, permitindo que
ministros militares assumissem temporariamente a presidência do país. A Junta Militar (general
Lyra Tavares, o almirante Augsuto Redemaker e o brigadeiro Marcio de Souza Mello) assume o
poder e escolhe novo presidente. Antes disso, lançaram:
•• Ato Institucional nº 14 (AI-14, de 5 de setembro de 1969): modifica a Constituição e aprova
pena de morte para casos de subversão. Essa determinação era relacionada ao crescimento
da oposição e dos movimentos revolucionários e guerrilheiros no país.
•• Ato Institucional nº 16 (AI-16, de 14 de outubro de 1969): eleições indiretas para substituir
Costa e Silva. Eleito → Emilio Garrastazu Médici, ex-chefe do SNI.
•• Emenda Constitucional nº 1: “Constituição de 1969”, incorporou o AI-5 à Constituição de
1967 e na qual o presidente poderia criar decretos-leis a serem incorporados à Constituição
livremente.
O governo E. G. Médici (1969 – 1974): Também pertencia à Linha Dura. A atuação do presidente
seria por meio do binômio Segurança X Desenvolvimento. Poder do Exército no primeiro âmbito
e a presença de tecnocratas no âmbito administrativo para o segundo. Foi também o período de
maior repressão e tortura, havia os “desaparecidos” durante o regime. Médici manteve o AI-5
e a Emenda Constitucional nº1 de 1969. São destaque em seu governo o Milagre Econômico
e as Guerrilhas. A respeito das guerrilhas, essas surgiram no Brasil já a partir de 1967, todavia
ganharam força a partir da gestão Médici, pela vigência do AI-5. Essas guerrilhas também foram
insufladas pelas vitórias da revolução Cubana de 1959 e pela Revolução Chinesa de 1949.
Abaixo, movimentos guerrilheiros do período:
•• Aliança Libertadora Nacional (ALN): Líder Carlos Marighella, ex-depurato comunista.
Sequestro do embaixador norteamericano Charles Elbrinck em 4 de setembro de 1969.
Pedido de liberdade aceito para 15 presos políticos. Posterior assassinato de Marighella em
novembro daquele ano.
•• Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8): Dissidência do PCB na cidade de Niteroi,
RJ. Sequestro e assaltos a banco.
•• Vanguarda Armada Revolucionária (VAR-Palmares): Líder capitão Carlos Lamarca,
dissidente do Exército, atuou no interior de SP. Foi o “inimigo nº 1 dos militares”. Assassinado
em 1971.
•• Partido Comunista do Brasil (PC do B): Cisão interna do PCB em 1962. Interiorizou a
guerrilha no país, Guerrilha do Araguaia, líder Oswaldo Orlando da Costa (seguidos da
Teoria Maoísta, a revolução a partir do campo). Ajudaram famílias que eram expulsas por
latifundiários. Membros foram exterminados em 1974.
Medida de repressão do governo:
•• Operação Bandeirante (OBAN): A polícia (Del. Fleury) e Exército juntos em ações contra
subversão.

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•• Centro de Operações de Defesa Interna (CODI).
•• Destacamento de Operações Internas.
Ambos formavam o “DOI-CODI”
•• Departamento de Ordem Política e Social (DOPS).
•• Centros de Informação das Forças Armadas: CENIMAR, CISA, CIEX.
•• SNI, já existente.
Os capturados eram julgados pelos Inquéritos Policiais Militares (IPMs): prática de tortura. O
governo utilizava-se da censura dos meios de comunicação para esconder muitas de suas ações
com uso de violência extremado. Optavam, ainda, pela valorização de conquistas esportivas e
associavam as vitórias com o sucesso do governo. No futebol, com o tricampeonato da Seleção
Brasileira, por exemplo. E o governo também se beneficiou de uma condição econômica para
ampliar sua popularidade: o Milagre Econômico.
•• Milagre Econômico: Crescimento brasileiro em 10% ao ano. Ministro da Fazenda,
Delfim Neto, e a utilização das práticas baseadas na Teoria Maoísta. Atração do capital
estrangeiro, internacionalização da economia brasileira, renegociação da dívida externa,
desenvolvimento de indústria de bens de consumo duráveis. Empresas estatais, estrangeiras
e privadas. Alta oferta de emprego.
Realizaram-se obras “faraônicas” ao longo do país, como a Rodovia Transamazônica (jamais
concluída), a Rodovia Rio-Santos, a Ponte Rio-Niterói, a Ponte Colombo- Salles (SC), as
hidrelétricas de Solteira (SP) e Passo Fundo(RS). E a ampliação do mar territorial brasileiro
de 12 para 200 milhas marítimas (aproximadamente 350 Km). Criou-se o Plano Nacional
de Desenvolvimento (PND), a Telebrás, o INCRA (Instituto de Reforma Agrária) e, até, o
Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL). Em 1971, foi criada a Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional (lei 5692), ao lado isso, surgiram as disciplinas de Educação Moral
e Cívica e a Organização Social e Política do Brasil (OSPB). O sentimento ufanista permeava
o Brasil. Slogans como “Ninguém segura mais esse país” e “Brasil, ame-o ou deixe-o”, eram
constantemente veiculadas. Entretanto, a crise do petróleo a partir de 1973 e acirrada em 1974
abalaram o crescimento do “Milagre”.
O governo Ernesto Geisel (Sorbonne 1974 – 1979): Ainda que a Linha Dura tentasse se manter
no poder, o general Ernesto Geisel, de orientação mais democrática, chegava, por indicação dos
próprios militares, ao posto presidencial. Sua missão era realizar uma abertura política “lenta,
gradual e segura”. Os generais Golbery do Couto e Silva e Orlando Geisel (seu irmão), ajudaram
o então presidente nesse contexto. Órgãos de repressão começaram a ser desmantelados.
Porém, isso não impediu o surgimento de novos casos de tortura e de novas vítimas fatais.
Esse é o caso do jornalista Vladimir Herzog (TV Cultura), preso e torturado pelo DOI-CODI em
outubro de 1975. Sua foto, representando um possível suicídio, era publicada pelo referido
órgão para se eximir da culpa de sua morte. Um ato ecumênico para homenagear o jornalista
foi realizado na Catedral da Sé, em SP, contando com a participação de bispos e rabinos. Em
circunstâncias muito semelhantes ao assassinato de Herzog, em seguida ocorreu a morte do
operário Manoel Fiel Filho, a qual também foi dada a versão de suicídio já em janeiro de 1976.
A violenta repressão vivida no Brasil durante esse período começou a perder ainda mais força
com a Emenda Constitucional nº 11, dando fim ao AI-5 e aos demais Atos Institucionais. Logo,

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surgiria no cenário político a Lei de Anistia, a qual só atuaria de fato na cena política brasileira
no governo militar seguinte, de Figueiredo.
A realização da abertura política “lenta, gradual e segura” seguia ao longo da gestão Geisel,
entretanto, o MDB ganhava espaço como maior partido do período. Disso, resultaram novas
leis, por parte do governo, para barrar aquele crescimento político: surgia a chamada Lei
Falcão, de 1976. A partir dela, era regulada a propaganda política. No ano seguinte, era lançado
o Pacote de Abril, fechando o Congresso Nacional e aumentando o mandato presidencial para
6 anos. Além de criar os cargos de senadores biônicos (1/3 do Senado não era escolhido pelo
povo). O partido que mais se beneficiava nesse contexto era a ARENA.
Externamente, Geisel desenvolvia o chamado pragmatismo responsável, não colocava o
Brasil de forma exclusiva ao lado dos Estados Unidos, as relações diplomáticas entre os dois
países estavam abaladas, sobretudo em relação à Política dos Direitos Humanas de origem
norteamericada do presidente Jimmy Carter, a qual condenava governos ditatoriais.
Mesmo sob uma forte crise econômica, Geisel colocou em prática um novo Plano Nacional de
Desenvolvimento. Baseado na manutenção de modelo anterior, realizou novos empréstimos,
mais importações e buscou novos mercados para exportação. Além disso, mais obras foram
realizadas, ainda que algumas delas tenham suas utilidades questionáveis:
•• Usinas siderúrgicas de Tubarão (ES) e Açominas (MG).
•• Ferrovia do Aço (MG) – interrompida em 1979.
•• Usinas hidrelétricas de Itaipu (PR), Tucuruí (PA), e Sobradinho (BA).
•• Acordo nuclear com ALE para construção de 8 usinas nucleares (apenas uma realmente
começou a funcionar – ANGRA I).
•• Programa PROÁLCOOL (faliu pela falta de investimentos de tecnologia de ponta e
superfaturamento dos usineiros de açúcar)
A partir de 1979, Geisel sairia do poder para que o último presidente militar assumisse o Brasil,
o general João Baptista Figueiredo.

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