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FRIEDRICH NIETZCHE
“DEUS ESTÁ MORTO” OU NIETZSCHE (QUE MORREU LOUCO) TERIA SIDO
IMORTAL?
Ao proclamar a morte de Deus, Nietzsche não espera ser levado a sério. De acordo
com ele, Deus nunca existiu; então falar sobre Sua “morte” tem mais a ver com
humanidade do que com divindade. A morte de Deus deixa o homem livre para ser deus.
Nietzsche afirma que com a morte de Deus, morrem também o significado da vida, a
moralidade e a razão. Como é possível que o homem mortal possa matar Deus imortal? No
cristianismo de sua época, Nietzsche viu uma religião desprovida de significado, hostil à
vida. Seu discurso sobre Deus ainda hoje repercute. A tese de Nietzsche parece paradoxal,
os fatos obviamente não podem ser esclarecidos com argumentos lógicos.
Se Deus não existe, a moralidade se torna uma ilusão e o julgamento moral se torna
uma mera interpretação, representando nada mais do que o gosto pessoal de quem o faz.
Nietzsche ilustra a natureza fictícia da moralidade quando toma como exemplo a relação
entre as aves predatórias e as ovelhas, suas presas (Genealogia da Moral, 1887).
Quando as aves se alimentam das ovelhas, o que elas fazem não é moralmente bom nem
mau. Elas simplesmente agem de acordo com seu instinto; a moralidade é irrelevante.
Nietzsche rejeita claramente os consolos por uma vida melhor no futuro. Da mesma
forma, a crença em um reino supra-sensível. Nas notas preparatórias para o Anticristo, ele
escreve: “Vida exemplar é amor e humildade; na plenitude do coração, que não exclui nem
o mais baixo, na crença na bem-aventurança aqui, na terra, apesar da necessidade,
resistência e morte, na conciliação, na ausência de raiva, no desprezo.”
A religião secular assumiu várias formas no século XX: felicidade espiritualista para a
humanidade, contra-religião ateísta, promessa comunista de salvação de uma sociedade
sem classes. Cenários pacíficos e violentos, messiânicos e apocalípticos foram
apresentados. Assim, a religião nietzschiana significava luta contra a ordem eclesiástica
estabelecida, busca pelas raízes do cristianismo, pela vida dos primeiros grupos cristãos.
Em poucas palavras: a religião esquecida deve ser revivida. Nietzsche nunca quis voltar a
um entendimento ingênuo de Deus. Sua posição é a de uma religião iluminada. É por isso
que não pode haver um Deus onipotente e onisciente para ele. Não é um deus que
encarna tudo o que falta às pessoas fracas.
“O maior evento recente de que Deus está morto já está começando a lançar sombras
sobre a Europa. Nós, filósofos e "espíritos livres", sentimos a notícia de que o "velho deus
está morto", como se iluminado por uma nova aurora, nossos corações estão
transbordando de gratidão, espanto, antecipação, expectativa - finalmente o horizonte
aparece novamente livre, finalmente nossos navios podem sair novamente, correr a todo
risco, todo risco do conhecedor é permitido novamente, o mar, nosso mar está aberto
novamente, talvez nunca houvesse um 'mar aberto'“.
DIONILDO DANTAS