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I UNIDADE: AMAZÔNIA - HISTÓRIA E LENDAS

I.1. História da Amazônia Portuguesa

Em fins do século XV, as duas superpotências da época, Portugal e Espanha, com as


bençãos da Igreja Católica, acordaram pelo tratado de Tordesilhas (assinado em 1494) a divisão
das terras por descobrir, onde atualmente se situam a África e as Américas.
Pelo combinado, grande parte do que se conhece hoje por Amazônia brasileira
pertencia aos espanhóis. E realmente foram esses que tomaram a dianteira no reconhecimento da
Região.
A Francisco de Orellana, navegador espanhol, credita-se o descobrimento do grande
rio Amazonas, por ele navegado, desde a nascente, nos contrafortes dos Andes, a sua foz, nos
anos de 1540 e 1541.
As narrativas fantasiosas do escrivão de bordo, reportando a existência de mulheres
guerreiras nas margens do grande rio, as Amazonas, são responsáveis pelo nome que hoje o
identifica e à região que acolhe seu vasto caudal: amazonas.
Seguiram-se outras expedições espanholas com finalidade exploratória, até que
franceses tentassem, no norte do Brasil, estabelecer a França Equinocial.
A expulsão do invasor do Maranhão alertou os portugueses para a importância da
região amazônica.
Como conseqüência, Francisco Caldeira Castelo Branco fundou, em 1616, na foz do
grande rio, o Forte do Presépio, origem da atual cidade de Belém.
A Amazônia começava a ser brasileira. É bem verdade que a União das Coroas
Ibéricas – Portugal e Espanha, a partir de 1580, tornando letra morta a linha de Tordesilhas,
facilitara para Portugal. Afinal de contas, só havia um rei e senhor, o da Espanha; e todas as
terras lhe pertenciam.
Astutamente, os portugueses se valeriam dessa circunstância histórica para ampliar
suas terras na América.
Duas expedições – verdadeiras epopéias - foram decisivas na conquista da Amazônia
portuguesa: a de Pedro Teixeira e a de Raposo Tavares.
Em 1637, o Capitão Pedro Teixeira, a frente de uma expedição cujo efetivo chegava a
cerca de 2.500 pessoas, lançou-se para Oeste, contra a correnteza, pela calha do rio Amazonas,

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com a finalidade de reconhecer e explorar a região e colocar marcos de ocupação portuguesa, até
aonde pudesse chegar.
Valendo-se do conhecimento e da adaptação à selva de mais de um milhão de índios,
levou a cabo sua penosa missão, tendo chegado a Quito, na América Espanhola.
Tal empreitada, que durou cerca de 2 anos, constitui feito memorável e de suma
importância para o reconhecimento da presença portuguesa na Amazônia.
Outro grande desbravador da região foi Raposo Tavares. Saindo de São Paulo, em
1648, pela tradicional via de acesso do rio Tietê, Raposo Tavares atingiu o rio Paraguai, daí o
Guaporé, o Madeira e finalmente o Solimões-Amazonas, o qual navegou até Gurupá, no atual
estado do Pará, de onde retornou a São Paulo. Três anos foram consumidos nessa jornada.
Muitas outras entradas e bandeiras foram empreendidas pelos luso-brasileiros a
Amazônia, seja em busca do tão sonhado "El Dorado", seja para colher as chamadas "drogas-do-
sertão", especiarias muito apreciadas da época.
Conquistada a custo de sofrimentos e sacrifícios, a Amazônia precisava agora ser
mantida. Era de se esperar que, além dos espanhóis, franceses, holandeses e ingleses, não se
conformassem, pacificamente, com a posse portuguesa da Amazônia. E assim foram à luta. Os
últimos tentaram se estabelecer, na margem Norte, junto à foz.
Quanto aos espanhóis pressionaram de Oeste para Leste, pretendendo conduzir suas
ações ao sabor da correnteza. Foi aí que se depararam com as sentinelas de pedra, os fortes da
Amazônia, erigidos pelos luso-brasileiros para barrar-lhes o caminho. Fiéis ao sábio princípio
militar de que quem domina a embocadura de um rio domina seu curso, os portugueses
estabeleceram suas fortificações na Amazônia em posições estratégicas, ao longo das vias
fluviais, em sítios privilegiados para os defensores.
Foi a partir das pranchetas rudimentares de seus engenheiros que os luso-brasileiros
começaram a ganhar a guerra pela manutenção da Amazônia.
Entre os mais importantes, além do já mencionado Forte do Presépio,
desempenharam papel de fundamental importância para a consolidação da conquista da
Amazônia portuguesa, os Fortes de São José do Rio Negro, de Gurupá, de Macapá, de São José
de Marabitanas, de São Gabriel das Cachoeiras, de São Joaquim, de São Francisco Xavier de
Tabatinga e Príncipe da Beira, entre outros.

ATIVIDADE

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1. Pesquise em livros o mapa que retrata o tratado de Tordesilhas. Após encontrá-lo, desenhe ou
cole no quadro abaixo e escreva um pequeno texto sobre a imagem.

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2. Complete as frases abaixo buscando as palavras corretas no texto.


a) A ..........................................................., navegador espanhol, credita-se o descobrimento do
grande rio ..........................................., por ele navegado, desde a nascente, nos contrafortes dos
Andes, a sua foz, nos anos de ................... e ....................

b) ................................................................................. fundou, em 1616, na foz do grande rio, o


Forte do ......................................, origem da atual cidade de Belém.

c) Duas expedições – verdadeiras epopéias - foram decisivas na conquista da Amazônia


portuguesa: a de .......................................................... e a de ......................................................

d) Em 1637, o Capitão Pedro Teixeira, saiu a frente de uma expedição com a finalidade
de ............................................ e .............................................. a região e colocar marcos de
ocupação ............................................., até aonde pudesse chegar.

e) ................................................... saiu de São Paulo, em 1648, pela tradicional via de acesso do


rio Tietê. Atingiu o rio Paraguai, daí o Guaporé, o Madeira e finalmente o Solimões-Amazonas.

3. De acordo com o texto, o que eram as sentinelas de pedra?

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4. De acordo com o texto, qual a região escolhida pelos portugueses para estabelecimento das
fortalezas?
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5. Além do Forte do Presépio, quais as outras fortificações construídas pelos portugueses como
forma de defender o território dos povos estrangeiros?
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6. Pelo que foi lido no texto sobre a história da Amazônia, 1648 marca:
a) a viagem de Pedro Teixeira pelo rio Amazonas.
b) a saída de Raposo Tavares de São Paulo até Gurupá.
c) a construção do Forte do Presépio.
d) o descobrimento do rio Amazonas.
e) a expulsão dos franceses da região amazônica.

7. Nas linhas abaixo, construa um breve resumo sobre o que foi lido no texto História da
Amazônia Portuguesa.
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I.2. Mitos e Lendas da Amazônia

Diversas são as lendas sobre a Amazônia. A lenda do Eldorado, provavelmente


refere-se à existência real do lago Amaçu, que tinha uma pequena ilha coberta de xisto micáceo,
material que produz forte brilho ao ser iluminado pelo Sol e que produzia a ilusão de riquezas
aos europeus. Mas, antes de continuar, vamos esclarecer o que é mito e lenda.
É comum a confusão entre o que é mito e o que é lenda. E visto que os limites entre
um e outro termo são praticamente inexistentes, procuramos uma definição adequada que
estabelecesse a fronteira entre lenda e mito:
LENDA - Narração escrita ou oral, de caráter maravilhoso, no qual os fatos históricos
são deformados pela imaginação popular ou pela imaginação poética.
MITO - (Mytho- gr = relato, fábula) Narrativa dos tempos fabulosos ou heróicos.
Narrativas de significação simbólica, geralmente referente a deuses encarnadores das forças da
natureza e (ou) de aspectos da condição humana. Representação dos fatos ou personagens reais,
exageradas pela imaginação popular, pela tradição. O mito pode ser entendido como alegorias
empregadas pelos antigos para revelarem ou perpetuarem verdades e conhecimentos; expressar
conceitos morais, filosóficos e religiosos; justificar princípios; servir de referência histórica e
geográfica, etc. Os mitos são projeções dos fatos reais, verdadeiramente acontecidos.
Já definido o significado de mito e lenda, conheçamos algumas delas:

I.2.1 - As Amazonas: tidas no princípio como fruto de uma observação mal feita pelos primeiros
navegantes do Grande Rio; ou produto do delírio de um capitão espanhol; ou ainda, da
ingenuidade clerical - sempre dispostos a aceitar o "absurdo" desde que viesse dos selvagens
pagãos de um frei Gaspar de Carvajal ou Cristobal de Acunã; as Amazonas permanecem, ainda,
quase meio milênio depois.
Etimologicamente, Amazonas significa "sem seios"; de A-Mazós, pois acreditavam
os antigos que as famosas guerreiras da Cítia cortavam o seio direito para melhor manejarem o
arco e flecha. Já o paraense Alfredo Ladislau dá-nos, numa terminologia nativa, um significado
que é exatamente igual ao que a lenda de Heródoto difundiu: "Aquelas que não têm seios" ou no
dizer dos índios Ikam-ny-abas. Já o Padre de Acunã informa que "Yacamiaba" é o nome dado ao
pico que se destaca mais entre todos os outros", nas altas montanhas provavelmente do
Tumucumaque - onde vivem "essas mulheres masculinizadas"; entretanto os Tapajós as

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conheciam por "cunhantensequina" ou "mulheres sem marido", que ao meu ver é a expressão
mais adequada.

I.2.2 - O Boto: reza a lenda que o boto costuma perseguir as mulheres que viajam pelos rios e
inúmeros igarapés; ás vezes tenta virar a canoa em que elas se encontram, e suas investidas
contra a embarcação se acentuam quando percebem que há mulheres menstruadas ou mesmo
grávidas.
Ele, o boto, é o grande encantado dos rios, que
transformando-se num rapaz, todo vestido de branco e
portando um chapéu - que é para esconder o furo no
alto da cabeça, por onde respira - percorre as vilas e
povoados ribeirinhos, freqüenta as festas e seduz as
moças, quase sempre engravidando-as.
Para se livrarem da "influência" do bicho, os
caboclos vão buscar ajuda na magia, apelando para os
curandeiros e pajés. O primeiro com suas rezas e
benzeduras exorciza a vítima, e o segundo "chupa" o
feto do ventre da infeliz. É esse Don Juan caboclo, o
sedutor das matas, o pai de todos os filhos cuja
paternidade é "desconhecida".

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I.2.3 - Iara ou Uiara, Oiara, Eiara, Igpupiara, Hipupiara: mito baseado no modelo das
sereias dos contos homéricos, a Iara é a Vênus amazônica; é uma ninfa loira de corpo
deslumbrante e de beleza irresistível. Sua voz é melodiosa e seu canto, tal como no original
grego, é capaz de enfeitiçar a todos que o ouvem, arrastando-os em sua direção, até o fundo do
rio, lagos, igarapés, etc., onde vivem esses seres fabulosos.
Na Amazônia o tapuio que escuta o cantar da Iara fica
"mundiado" e é atraído por ele; o mesmo se dá com as
crianças que desaparecem misteriosamente. Crêem os
ribeirinhos que essas crianças estão "encantadas" no
reino da "gente do fundo". Lá o menino é instruído no
preparo de todos os tipos de puçangas e remédios.
Ao fim de sete anos, durante os quais foi iniciado nas artes mágicas, na manipulação
de plantas e ervas, etc.; o jovem pode retornar para junto dos seus, onde, geralmente, se torna
um grande xamã, um medicine-man. Na nossa cultura o mito da deidade fluvial Iara, mesclou-se
com seus congêneres europeus (sereias) e africanos (Iemanjá).

I.2.3 - Mapinguari: esta criatura é descrita como um macaco de tamanho descomunal -5 a 6


metros – peludo como porco espinho, "só que os pêlos são de aço". Dentro dessa descrição - um
grande macaco, "uma espécie de orangotango, coberto de longo e denso pelágio", etc.
Cada passo do Mapinguari mede três metros e seu
alimento favorito é a cabeça das vítimas, geralmente
pessoas que ele caça durante o dia, deixando para dormir à
noite. Há aqueles que afirmam ser impossível matá-lo: é
invulnerável. Noutra versão ele é apresentado como um
ser dos mais fantásticos, com dois olhos, mas "três bocas",
sendo uma debaixo de cada braço e outra sobre o coração.
Essa última é considerada seu "calcanhar de Aquiles", pois
quando ele abre a boca pode-se acertar seu coração, única
maneira de matá-lo.

I.2.4 - Curupira: na Enciclopédia Delta Larousse, curu é traduzido como sarna, e pír como pele;
contudo uma tradução mais adequada apresenta curu como sendo a abreviatura de curumi, e pira
significando corpo, assim temos que Curupira pode ser entendido como "aquele que tem corpo
de menino", por motivos óbvios, como veremos.

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Na teogonia indígena o Curupira apresenta-se como um moleque de aproximadamente
sete anos, com o corpo coberto de longos pêlos e tendo os pés virados para trás.
As primeiras informações sobre o curupira
foram registradas pelos portugueses, nos primeiros
séculos do descobrimento, e desde aquela época é visto
como um ente maléfico, um demônio ou um mau
espírito; evidentemente que foi pintado com as tintas
da paleta dos missionários, as mesmas que coloriram o
Jurupari.
As informações também são as mais diversas: Ora é um duende benfazejo, ora um
demônio mau; ora um gnomo ou um ogro. O ponto em que todos são unânimes é quanto sua
condição de deus autóctone das selvas, um protetor.
Como protetor das florestas, castiga impiedosamente aquele que caça por prazer, que
mata as fêmeas prenhes e os filhotes indefesos, mas ampara o caçador que tem na caça seu
único recurso alimentar, ou que abate um animal por verdadeira necessidade.
As descrições físicas são díspares e confusas: numa o Curupira aparece de "acanga piroka" -
cabeça careca -, noutra é coxo e unípede. A figura mais comum é a de um ser antropomórfico,
de pequena estatura - criança ou anão - muito peludo e com os calcanhares voltados para frente.
Como percebemos, o Curupira incorporou outros atributos e ampliou seus poderes e
sua área de ação, mas permanece o caráter benfazejo e protetor. Apesar disso a versão
tradicional informa que um encontro com esse duende é sempre desagradável e marcante. Um
dos artifícios que os caboclos utilizam quando percebem que são vítimas do Curupíra, é fazer
pequenas cruzes de madeira, fortemente amarradas com cipó timbuí, e esconder a ponta do nó.
Dizem que o Curupira fica tentando desfazer o nó e se esquece do caçador, que pode então
escapulir, safar-se.
Texto e Contexto
Já em 1560 o padre Anchieta registrava em suas cartas a existência do Curupira.
"É coisa sabida e pela boca de todos corre que ha certos demônios a que os Brasis chamam Curupíra, que acometem aos
índios (...) e matam-nos. São testemunhas disso os nossos irmãos, que viram algumas vezes os mortos por eles.”

I.2.5 - Jurupari ou Juruparím, Jeropary, Jeropoari, Yurupari, Iurupoari, Jurupari-


Pereira ou Perê: Jurupari é uma denominação Tupi para um demônio particular, mas, foi usada
com exclusividade pelos missionários para designar qualquer demônio; até assumindo o lugar do
diabo cristão nos trabalhos de catequese dos índios. A lenda diz que Jurupari é um deus que veio
do céu em busca de uma mulher perfeita para ser esposa de Coaraci, o Sol, mas, não diz se ele a

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encontrou e, segundo Orico, essa missão é inatingível. Jurupari foi o maior legislador que os
indígenas conheceram.
Enquanto conviveu com os homens, estabeleceu uma série de normas de conduta e leis
morais; instituiu a monogamia, a higiene pessoal através da depilação corporal, restituiu o poder
aos homens que viviam em um regime matriarcal; promoveu modificações nos costumes e na
lavoura; e especialmente deve-se-lhe as festas de colheita.
Segundo a lenda, a mãe do Jurupari era uma índia virgem chamada Ceuci, "filha de
Tupã e Zuacacy", e instigada pela curiosidade foi espionar os rituais, contrariando assim a lei
instituída pelo filho. Para servir de exemplo de que as leis do Jurupari não podem ser
transgredidas, foi condenada à morte.

I.2.6 - Macunaíma: Macunaíma é um misto de deus e herói


lendário do extremo norte da Amazônia, alto Rio Branco, área do
grupo Aruaque, e foi trazido a lume pelo grande pesquisador
alemão Köch Grúnberg. Sua presença também é atestada noutros
países da região, como a Venezuela. Tal como o Jurupari, este também é um enviado dos céus.
Converteu troncos de madeira em gente e bichos.

I.2.7 - Matin ou Saci (Maty-Taperê, Matinta Pereira, Maty, Çaci, Saci, Pererê, Saci Pererê,
Cererê): as informações são, também nesse mito, muito controversas. Numa, surge como
"assombração" ou "visagem" que assusta as pessoas e pode até provocar-lhes a morte; noutras é
uma mulher que vira passarinho assobiador; ou ainda, um duende unípede. Segundo o
sobejamente citado Câmara Cascudo, Saci (h-ã-cí) significa “o que é mãe das almas", porém.
Teodoro Sampaio diz que Saci (ça-ci) pode ser traduzido por "o olho doente", talvez queira dizer
mau-olhado; olho gordo; olho de seca-pimenteira. etc. Em sua Geografia dos Mitos Brasileiros,
Cascudo informa-nos que foi em fins do século XVIII que se deu a aparição do Saci, "vindo do
Sul, pelo Paraguai-Paraná, justamente a zona indicada como
tendo sido o centro da dispersão dos Tupi-Guaranis", contudo há
referências a entes semelhantes nas mais diversas regiões do
planeta, provavelmente porque, como bem o percebeu o mestre
potiguar, esse nosso demônio nativo corresponde ao Gremlim da
América do Norte e seus similares noutros países.
O mito do "Çaci" assume diversas denominações,
podendo ser SACI PERERÊ no Sul do país,

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KAIPORA no Centro e MATINTAPEREIRA ou
MATY-TAPERÉ ao Norte. No Pará e Amazonas sua
imagem é a de um curumi que anda numa única
perna e tem os cabelos cor de fogo.
Parece que através do sincretismo luso-africano, ele ganhou o barrete vermelho -
comum em Portugal - e os traços negróides, mais o cachimbo.
Dizem que o Saci tem por companheira uma velha índia - ou uma preta velha,
maltrapilha, cujo assobio arremeda seu nome: Mati-Taperé. Crêem alguns que ele é filho do
Curupira; outros identificam-no como um pequeno pássaro que pula numa perna só; há também
aqueles que dizem ser as mãos dele furadas no centro. Em muitos lugarejos a existência dessa
bruxa cabocla que se transforma em gato, cachorro, bota, morcego, porca, pássaro, é tida como
inconteste e até encarada com normalidade.
O assobio da Matinta, atestam todos que já o ouviram, "é coisa de outro mundo";
"arrepia até a alma"; "a gente sente como se estivesse levantando do chão", etc. Dizem ainda que
ao ouvir o assobio a pessoa disser: - "Vem buscar tabaco amanhã ", pode contar como certo que
na manhã seguinte encontrará, à porta de sua casa, uma velha ou uma pedinte, em busca do que
lhe foi prometido. Também, pode ser a primeira pessoa que aparecer na casa pedindo um
inocente cigarro.

I.2.8 - Uirapuru ou Oirapuru, Gauirapuru, Irapuru: é um deus que se transforma em pássaro


e anda rodeado de outros pássaros, à guisa da corte. Quando canta, todos os outros pássaros da
mata ao redor silenciam, ou querendo aprender seu canto ou em respeitosa reverência. Como diz
a letra de uma velha canção: "A mata inteira fica muda ao seu cantar, tudo se cala para ouvir sua
canção". O canto do Uirapuru é a própria Rapsódia Amazônica.
Os sons melódicos produzidos por essa ave são dotados de poder hipnótico, como o canto da Iara
e do Cauré. Acreditam os caboclos que se o canto do Uirapuru tem o poder de atrair todos os
pássaros, pode, por conseguinte, atrair também a sorte nos negócios e no amor, daí a crença nos
seus poderes e propriedades talismânicas.

I.2.9 - Muiraquitã ou Muiraquitá, Murakitã, Tuxáua-ita


(Tupi), Ninací (Tucanos): de todos os amuletos indígenas, esse
parece ser um dos mais conceituados e investido de enorme
poder.

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Pensava-se antigamente que os delicados pingentes fossem jóias orientais -
provavelmente chineses -, pois eram desconhecidas na região, jazidas de Jadeíta, material onde
se esculpiam os pequenos e preciosos ídolos zoomorfos.
A forma mais conhecida desses amuletos líticos é a de uma pequena rã, mas também
pode ser encontrado sob a aparência de uma tartaruga ou outro bicho.
Entretanto é interessante observar que o Muiraquitã está sempre zoomorficamente
relacionado com a água, sendo que a rãzinha ou perereca, na crença indígena, é a causadora das
chuvas; guardiã das águas pluviais.
Apesar de batraquiformes, esses amuletos se assemelham bastante com a genitália
masculina, remetendo-nos novamente as propriedades fertilizantes e fecundantes das águas, e
traçando um paralelo entre elas e o falo ereto. Tais jóias funcionavam como um salvo-conduto
para que os guerreiros que mantinham relações sexuais com as Amazonas pudessem entrar e sair
da aldeia delas sem serem molestados. Segundo a lenda, as famosas mulheres guerreiras
mergulhavam no lago Jamundá - espelho da Lua - para apanharem as pedras verdes, que já
vinham na forma do animal.

I.2.10 - Japu ou Japuaçu: este é um curioso mito amazônico que se apresenta similar mito do
herói Prometeu. Prometeu, aquele que trouxe o fogo do Olimpo para os homens, foi condenado
por Zeus a ser acorrentado a urna rocha e ter o fígado devorado por um abutre, sendo que o
fígado arrancado num dia ressurgia no seguinte, perpetuando assim o tormento do prisioneiro e a
missão do abutre. Esta semelhança levou Osvaldo Orico a afirmar que o Japu é "o Prometeu
indígena".
A lenda tapuia diz que no principio os índios sofriam de muito frio e desconheciam o
fogo; o pajé da tribo escolheu um guerreiro valente para ir ao céu em busca do precioso
elemento, que era guardado pelo raio, de quem o bravo deveria roubá-lo. Para tanto, o pajé
transformou o guerreiro num belo pássaro, que voou ao alto e depois de uma dura luta com o
raio, conseguiu apossar-se de um pedaço de fogo, que trouxe para a terra preso ao bico. Ao
voltar a forma humana, o valente índio percebeu que estava com o rosto deformado pelo fogo
celeste. Não aceitando viver estigmatizado, implorou ao pajé que o transformasse novamente em
pássaro, contudo o bico ficou-lhe marcado de vermelho, cor de fogo, como uma recordação da
aventura.

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I.2.11 - Vitória-Régia (Iaupé-iaçanã ou Jaçanã): é uma planta aquática que floresce e se
desenvolve quando das "águas vivas" e definha quando a água é pouca. É comum nas águas
pouco profundas (cerca de 1/2 metro). Suas folhas podem atingir mais de três metros quadrados.
Esta é uma das lendas inspiradas por Perudá e nasceu do amor entre a índia Moroti e o
guerreiro Pitá. A história narra, como toda história de amor que se preze, mais um caso infeliz
que termina mal, parecendo que os índios já sabiam que toda novela de um grande amor tem um
final infeliz.
Diz a lenda que Pitá afogou-se nas águas
caudalosas de um paraná, em busca da pulseira que
Moroti havia atirado. Moroti, querendo mostrar para as
amigas o quanto era amada pelo guerreiro, jogou a sua
pulseira ao rio desejando que, como prova de amor,
Pitá a trouxesse de volta. O infeliz apaixonado atira-se
ao rio e não retorna. Desesperada e arrependida,
Moroti joga-se atrás do amado, tendo igual fim. No dia
seguinte, a tribo presenciou o nascimento de uma
grande flor, que ao centro era branca como o nome de
Moroti, e as pétalas ao redor eram vermelhas como o
nome do bravo Pitá.
A Vitória-Régia, a rainha das flores da Amazônia, só abre suas pétalas à luz do sol,
recolhendo-se ao cair da noite, para abrir-se novamente no dia seguinte.

I.2.12 - Lenda do Açaí: o Açaí é o fruto de uma palmeira (Euterpe Oleracea) bastante comum e
abundante no Pará, onde seguramente tem o seu indigenato. No vizinho estado do Maranhão seu
nome é Juçara; na Venezuela é Manaca, e Quasei, Qapoe no Suriname. Desse fruto se extrai um
caldo escuro e cremoso, de cheiro e sabor característico, conhecido como vinho de açaí e que
tanto pode ser servido puro, com açúcar,. com farinha de mandioca, de tapioca, ao natural ou
gelado. Do vinho de açaí se obtém diversos manjares da culinária paraense, principalmente
sobremesas. É o nosso correspondente a "ambrosia" dos deuses mitológicos do Olimpo.
Da palmeira do açaizeiro também se extrai outro delicioso petisco: o palmito. A
derrubada desordenada dessa prodigiosa palmeira está preocupando os ecologistas e os
consumidores do licoroso suco.
Segundo a lenda, uma tribo que vivia onde hoje está situada a cidade de Belém,
atravessava um período negro de escassez, obrigando o cacique Itaki a decretar a morte de toda

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criança nascida a partir daquela data, como medida de controle demográfico da tribo. Mas, eis
que Iaçá, filha do cacique, dá a luz a uma menina. Apesar de ser neta do cacique a recém-nascida
deveria ser submetida à pesada lei, debalde os rogos da infeliz e desventurada mãe.
Cumprida a sentença, a pobre Iaçá chora por dias, sempre orando a Tupã para que
mostre um jeito de acabar com as mortes dos inocentes. Numa noite ela ouve um choro de
criança; tentando localizá-lo, descobre sua filhinha encostada numa esguia palmeira, sorrindo-
lhe, mas ao abraçar a filha, esta desaparece e Iaçá vê-se atracada ao tronco da palmeira. No dia
seguinte, o cacique encontra o corpo da filha abraçado ao tronco de uma palmeira, que trazia um
cacho de frutinhas negras como os olhos de Iaçá. Imediatamente ordenou que esmagasse as
frutas num alguidar e ao suco obtido batizou de Açai, que é o nome da filha ao contrário.

I.2.13 - Lenda da Mandioca: Reza a lenda que a filha de um cacique apareceu grávida, sem que
se soubesse como, para a tristeza do pai, que a queria casada
com um bravo e ilustre guerreiro. Muito triste e decepcionado
com a filha, o cacique vivia infeliz, até o dia que um homem
branco lhe apareceu em sonho e lhe disse que sua filha não o
havia enganado; ela continuava pura e imaculada. Isso fez
voltar a alegria ao coração do índio, que se desculpou com a
filha pelos maus tratos que a submetera antes.
Passado alguns meses nasceu uma linda menina, de
pele muito branca, que recebeu o nome de MANI, e se tornou
querida por todos da tribo, sendo a alegria de sua mãe e do
velho cacique, seu avô. Porém a alegria foi de pouca duração: a criança amanheceu morta em sua
rede. Em desespero a índia resolve enterrá-la à entrada da maloca, para poder ficar mais perto da
filha. E todos os dias ela ia chorar sobre o túmulo da pequenina.
Suas lágrimas fizeram brotar uma planta nova e estranha a todos os índios. A mãe
lacrimosa alegrou-se e começou a cuidar da plantinha, vendo ali a presença de sua amada filha,
até que algum tempo depois percebeu algo saindo da terra em volta da planta. Pensando tratar-se
da filha que retornava à vida, a índia cava a terra com as mãos, porém encontra umas raízes
grossas que retira da terra imaginando ser o corpo da pranteada filha.
Todos se aproximaram curiosos, querendo saber que milagre era aquele. Ao retirarem a
casca grossa, viram que as raízes eram brancas como o corpo de Mani e deram-lhe o nome de
manioca, a casa ou corpo de Mani. “Acreditando ser um milagre de Tupã, os índios comeram
essas raízes e fizeram com as mesmas um vinho delicioso.”

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I.2.14 - Boiúna ou Cobra Grande: falar das coisas da Hiléia no sentido superlativo, pode
parecer exagero para o estrangeiro ou turista acidental. Contudo, a grandiosidade da Amazônia
não se reflete apenas no seu gigantismo territorial, ela está presente também nos elementos da
flora e da fauna, na malha hidrográfica, nas riquezas do subsolo, e mais ainda, nos mistérios da
natureza, nos segredos ocultados pelos inúmeros igarapés, igapós, lagos, furos, etc. Árvores
monumentais, rios cuja margem oposta não se consegue enxergar, e uma considerável gama de
fatos estranhos fazem parte do cotidiano do nosso caboclo, mas que deslumbram os visitantes. É
nesse palco que o mito da Cobra Grande mescla-se com o réptil, no cadinho das crendices
populares.
De fato existem cobras enormes, grossas e compridas como os troncos das árvores, e
quase todos que costumam viajar pela complexa
teia aquática da região, bem como os ribeirinhos e
moradores das matas, conhecem histórias da
Cobra Grande ou já viram a "bicha" nalguma de
suas aparições. Qualquer um que percorrer esses
interiores poderá recolher dezenas de relatos que
contam tanto do mito quanto dos ofídios
monstruosos.
A Boiúna é uma corruptela de Mboi
(cobra) e Una (preta), designação aplicada com
mais propriedade ao mito; ao réptil é boiaçu ou
boiguaçu, a sucuriju, classificada dentre as maiores cobras do mundo, juntamente com a jibóia e
a sucuri. No Pantanal matogrossence a boiaçu é batizada de Anaconda.
Lendas que falam de dragões e serpentes de tamanho descomunal pertencem as mais
diversas culturas e civilizações, desde tempos remotos, chegando em alguns povos a constituir
motivo de adoração e base de seitas de fanáticos. O mito da cobra grande é um dos mais antigos.

I.2.15 - Cobra Norato: outra cobra famosa das lendas é a Cobra Norato, um jovem encantado
que durante a noite se desencanta e vira gente, tal como acontece com o Boto. Assumindo sua
condição humana, NORATO freqüenta as festas, dança muito, namora as ribeirinhas e
desaparece antes do amanhecer.

17
Este é um mito genuinamente paraense, se bem que jovens belos e formosos
transformados em bichos lembram as histórias de príncipes encantados em sapos; de donzelas
enfeitiçadas e princesas prisioneiras, dos contos europeus.
Nossa lenda diz que uma cabocla de nome Zelina deu à luz a um casal de gêmeos:
Honorato e Maria Caninana, duas cobras. Jogou-as no rio onde se criaram, mas Maria Caninana
vivia fazendo malvadezas até que foi morta pelo irmão, que tinha bom coração.
Sempre que assumia sua forma humana ia ele visitar sua mãe, a quem implorava que o
fosse desencantar. Para que o encanto fosse quebrado, deveria chegar onde estava o corpo
adormecido da serpente, por um pouco de leite na sua boca e ferir-lhe a cabeça, de forma que
sangrasse. A mulher por medo nunca chegou perto do réptil, até que um soldado da guarnição da
ilha de Cametá livrou o jovem da maldição.

ATIVIDADE
1. Leia:
Em reportagens para a revista ISTOÉ nº 1266 e 1294 (05/01/1994 e 20/07/1994, p.35-36 e p. 44-
47, respectivamente), o norte-americano David C. Oren, doutor em zoologia e especialista em
biodiversidade amazônica do Museu Paraense Emílio Goeldi, derruba a lenda que o Mapinguari
é um grande símio. Ele afirma a existência de um gigantesco bichopreguiça terrestre de 200 a
300 quilos e 2 metros de altura, ainda vivo nas selvas amazônicas, que ele diz ser o Mapinguari.
O Dr. Oren baseia suas teorias, afirmações e pesquisas em restos fossilizados e relatos de índios
e garimpeiros: “Conheci pelo menos 30 pessoas que viram o Mapinguari e mais de 100 que
acharam seus rastros”.
A partir da leitura do texto acima e da lenda do Mapinguari, faça um desenho no seu caderno, do
que para você representa o personagem principal da lenda.

2. Nas linhas abaixo, escreva uma lenda que faz (ou fez) parte da sua vida. Caso você
desconheça, crie uma.
...........................................................................................................................................................
...........................................................................................................................................................
...........................................................................................................................................................
...........................................................................................................................................................
...........................................................................................................................................................
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18
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...........................................................................................................................................................
...........................................................................................................................................................
...........................................................................................................................................................
...........................................................................................................................................................
...........................................................................................................................................................

3. Complete com os nomes das lendas corretas:


a) A ..................................................., um jovem encantado que durante a noite se desencanta e
vira gente, tal como acontece com o Boto. Assumindo sua condição humana, ........................
freqüenta as festas, dança muito, namora as ribeirinhas e desaparece antes do amanhecer.

b) ......................................... significa "sem seios"; de A-Mazós, pois acreditavam os antigos que


as famosas guerreiras da Cítia cortavam o seio direito para melhor manejarem o arco e flecha.

c) ......................................................... é uma das lendas inspiradas por Perudá e nasceu do amor


entre a índia Moroti e o guerreiro Pitá.

d) ......................................................... é um misto de deus e herói lendário do extremo norte da


Amazônia, alto Rio Branco, área do grupo Aruaque, e foi trazido a lume pelo grande pesquisador
alemão Köch Grúnberg.

e) ......................................................... é um curioso mito amazônico que se apresenta similar


mito do herói Prometeu. .................................., aquele que trouxe o fogo do Olimpo para os
homens.

4. Tidas no princípio como fruto de uma observação mal feita pelos primeiros navegantes do
Grande Rio; ou produto do delírio de um capitão espanhol; ou ainda, da ingenuidade clerical -
sempre dispostos a aceitar o "absurdo" desde que viesse dos selvagens pagãos de um frei
Gaspar de Carvajal ou Cristobal de Acunã. O trecho corresponde à lenda:
a) as Amazonas.
b) o Boto.
c) a Yara.
d) a Cobra Norato.
e) a Cobra Grande.

19
5. De fato existem cobras enormes, grossas e compridas como os troncos das árvores, e quase
todos que costumam viajar pela complexa teia aquática da região, bem como os ribeirinhos e
moradores das matas. O trecho corresponde à lenda:
a) as Amazonas. b) o Boto. c) a Yara.
d) a Cobra Norato. e) a Cobra Grande.

6. Mito baseado no modelo das sereias dos contos homéricos, a Iara é a Vênus amazônica; é
uma ninfa loira de corpo deslumbrante e de beleza irresistível. Sua voz é melodiosa e seu canto,
tal como no original grego, é capaz de enfeitiçar a todos que o ouvem, arrastando-os em sua
direção, até o fundo do rio, lagos, igarapés, etc., onde vivem esses seres fabulosos. O trecho
corresponde à lenda:
a) as Amazonas. b) o Boto. c) a Yara.
d) a Cobra Norato. e) a Cobra Grande.

7. Reza a lenda que o boto costuma perseguir as mulheres que viajam pelos rios e inúmeros
igarapés; ás vezes tenta virar a canoa em que elas se encontram, e suas investidas contra a
embarcação se acentuam quando percebem que há mulheres menstruadas ou mesmo grávidas.
O trecho corresponde à lenda:
a) as Amazonas. b) o Boto. c) a Yara.
d) a Cobra Norato. e) a Cobra Grande.

8. Responda:
a) Reza a lenda que a filha de um cacique apareceu grávida, sem que se soubesse como, para a
tristeza do pai, que a queria casada com um bravo e ilustre guerreiro. Muito triste e
decepcionado com a filha, o cacique vivia infeliz, até o dia que um homem branco lhe apareceu
em sonho e lhe disse que sua filha não o havia enganado; ela continuava pura e imaculada. Isso
fez voltar a alegria ao coração do índio, que se desculpou com a filha pelos maus tratos que a
submetera antes. Qual a lenda presente no trecho do texto?
...........................................................................................................................................................

b) Segundo a lenda, uma tribo que vivia onde hoje está situada a cidade de Belém, atravessava
um período negro de escassez, obrigando o cacique Itaki a decretar a morte de toda criança
nascida a partir daquela data, como medida de controle demográfico da tribo. Mas, eis que
Iaçá, filha do cacique, dá a luz a uma menina. Apesar de ser neta do cacique a recém-nascida

20
deveria ser submetida à pesada lei, debalde os rogos da infeliz e desventurada mãe. Qual a
lenda presente no trecho do texto?
...........................................................................................................................................................

c) De todos os amuletos indígenas, esse parece ser um dos mais conceituados e investido de
enorme poder. Pensava-se antigamente que os delicados pingentes fossem jóias orientais -
provavelmente chineses -, pois eram desconhecidas na região, jazidas de Jadeíta, material onde
se esculpiam os pequenos e preciosos ídolos zoomorfos. Qual a lenda presente no trecho do
texto?
...........................................................................................................................................................

d) É um deus que se transforma em pássaro e anda rodeado de outros pássaros, à guisa da


corte. Quando canta, todos os outros pássaros da mata ao redor silenciam, ou querendo
aprender seu canto ou em respeitosa reverência. Como diz a letra de uma velha canção: "A
mata inteira fica muda ao seu cantar, tudo se cala para ouvir sua canção". Qual a lenda
presente no trecho do texto?
..........................................................................................................................................................

e) As informações são, também nesse mito, muito controversas. Numa, surge como
"assombração" ou "visagem" que assusta as pessoas e pode até provocar-lhes a morte; noutras
é uma mulher que vira passarinho assobiador; ou ainda, um duende unípede. Qual a lenda
presente no trecho do texto?
...........................................................................................................................................................

f) Na Enciclopédia Delta Larousse, curu é traduzido como sarna, e pír como pele; contudo uma
tradução mais adequada apresenta curu como sendo a abreviatura de curumi, e pira
significando corpo, assim pode ser entendido como "aquele que tem corpo de menino". Qual a
lenda presente no trecho do texto?
...........................................................................................................................................................

I.3. Sotaques da Amazônia

21
A Amazônia brasileira apresenta, de forma geral, dois sotaques: um tradicional e
outro trazido pelos migrantes advindos principalmente em decorrência das grandes rodovias
construídas a partir de 1960.
 tradicional: forte presença do português europeu misturado a palavras e pronúncias das
línguas indígenas tradicionais, formando expressões onde o s e o r são pronunciados de
forma semelhante aos s e r do Rio de Janeiro; presença marcante dos verbos conjugados
em concordância na segunda pessoa, i.e., tu fizeste, já almoçaste?, já abriste o presente
que mandaram para ti? Está presente em quase toda a Amazônia, inclusive nas duas
metrópoles (Belém e Manaus) e nas regiões onde a degradação ambiental não é muito
acentuada.
 sotaque dos migrantes: está presente principalmente no chamado Arco do Desmatamento
(região em formato de meia-lua que vai do Oeste do Maranhão, passando por Tocantins,
Sul do Pará, Mato Grosso até Rondônia), constitui-se como uma miscelânea de sotaques,
principalmente de maranhense, mineiro, gaúcho, goiano e outros de várias regiões
brasileiras. Têm como marca o s pronunciado de forma semelhante ao s de São Paulo e
diferencia-se do sotaque tradicional por soar de uma maneira mais caipira.
E o modo de falar dos paraenses?
O Pará é um dos poucos estados do Brasil onde o pronome “tu” é marca registrada
do linguajar cotidiano. E, no caso dos paraenses, utilizando a conjugação correta do verbo. Sem
contar expressões como o “pai d´egua” – que denota tudo aquilo que se gosta, que se valoriza.
As expressões de linguagem, isto é, a forma peculiar como o paraense fala, também constituem
marcas de sua identidade.
Você, certamente, já ouviu essas expressões de linguagem:
Axi: em geral exprime desprezo, desdém, zombaria, nojo, surpresa, indiferença ou mesmo raiva.
Caribé: espécie de mingau feito com farinha, água, alho, sal e manteiga.
Cuíra: ânsia muito grande, desejo compulsivo.
Égua: o paraense fala “égua” para que algo é muito, para mostrar surpresa, admiração.
Pavulagem: no Pará, a palavra ganha o significado de malcriação, preguiça, birra, tolice.
Pitiú: odor forte, semelhante ao de peixe; cheiro de maresia. Cheiro desagradável.

ATIVIDADE

1. A Amazônia brasileira apresenta, de forma geral, dois sotaques. São eles:


a) um tradicional e outro trazido pelos migrantes.

22
b) dos migrantes e dos europeus.
c) dos alemáes e dos negros.
d) dos índios e dos holandeses.
e) dos portugueses e dos espanhóis.

2. De acordo com o texto, quais as características do sotaque tradicional?


...........................................................................................................................................................
...........................................................................................................................................................
...........................................................................................................................................................

3. De acordo com o texto, quais as características do sotaque dos migrantes?


...........................................................................................................................................................
...........................................................................................................................................................
...........................................................................................................................................................

4. Em que regiões é predominante o sotaque dos migrantres?


...........................................................................................................................................................
...........................................................................................................................................................

5. Em que regiões é predominante o sotaque tradicional?


...........................................................................................................................................................
...........................................................................................................................................................

6. Forme frases usando as expressões (palavras) paraenses.


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...........................................................................................................................................................
...........................................................................................................................................................
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7. “Brincando de ser Historiador”: em casa, na escola ou na rua, observe a forma de falar das
pessoas. Depois de observar, anote em seu caderno as observações verificadas e responda a
seguinte questão: Todos nós somos iguais na forma de falar? Por quê?

23
II UNIDADE: CULTURA INDÍGENA AMAZÔNICA

II.1. Índios no Pará: A Amazônia paraense antes dos europeus

Na região que abrange a atual Amazônia (que compreende 60% do território


brasileiro) antes da chegada dos europeus viviam povos ameríndios que foram denominados de
“índios”, termo que tem sua origem com a conquista de Cristóvão Colombo que imaginava ter
chegado às Índias, na Ásia, quando “descobriu” o continente que mais tarde veio a se chamar
América.
Neste momento, a população indígena não utilizava a escrita. Sua história, mitos e
costumes eram transmitidos oralmente. Por esta razão, para o estudo do passado indígena do
Brasil, da Amazônia e do Pará chegou até nós através de narrativas ou relatos orais, que foram
transmitidos de geração a geração. Outra forma importante, e freqüentemente utilizada, para se
estudar e compreender a história dos povos ameríndios que viviam na Amazônia é o estudo dos
vestígios materiais que ficaram daqueles índios do passado longínquo. Através de pesquisas
destes materiais pode-se comprovar a presença de grupos humanos no passado da região, e, a
partir de suas análises, podemos compreender a forma de vida dos mesmos. Os estudos e análises
desses vestígios são realizados por arqueólogos. Os vestígios de materiais mais comumente
analisado na região são os fragmentos de cerâmica, instrumentos em pedra, gravuras e ossos
humanos descobertos.
O período anterior à chegada dos europeus é comumente chamado de pré-colombiano
(isto é, antes da chegada de Colombo). Os povos indígenas que vivem ainda hoje na Amazônia
são descendentes dos povos pré-colombianos. As suas línguas, por exemplo, são faladas desde
antes da chegada dos europeus. Estudos recentes mostram que os índios que vivem hoje na
Amazônia e no Pará estão nesta região a mais de 12.000 anos.
Os primeiros grupos humanos eram caçadores e coletores que estavam organizados
em pequenos grupos de famílias, morando em cavernas (ou grutas), geralmente localizadas em
serras. Eles eram predominantemente nômades, pois não moravam durante muito tempo no
24
mesmo local. Sua alimentação dependia do que caçavam ou coletavam: animais como a paca, a
cutia, o jacaré, peixes, etc. Coletavam raízes, sementes e frutos.
Em um segundo momento viveram na região grupos humanos horticultores de raízes,
por volta de 4.000 anos atrás, que começaram a se instalar na beira de rios, nas chamadas
“várzeas” da região amazônica. Formaram aldeias, morando principalmente em grandes casas.
Esses grupos buscavam sua subsistência, água e alimentação, principalmente nos rios e igarapés.
A sua alimentação era baseada na pesca (peixes, peixe-boi e tartarugas) e na caça (roedores e
mamíferos terrestres). Também começaram a plantar milho e mandioca. A agricultura se
realizava em áreas pequenas, por isso são chamados de horticultores.

ATIVIDADE

1. No texto ou no dicionário, procure o significado das palavras abaixo:


a) pré-colombiano: .......................................................................................................................
b) nômade: ...................................................................................................................................
c) horticultores: ............................................................................................................................
d) subsistência: .............................................................................................................................
e) ameríndios: ...............................................................................................................................

2. Pinte, apenas os círculos que fazem afirmações verdadeiras sobre os índios da Amazônia:
A história, os mitos e os costumes dos índios na Amazônia eram transmitidos oralmente.
Os primeiros grupos humanos a se estabelecerem na região amazônica eram caçadores e
horticultores que estavam organizados em pequenos grupos de famílias.
A alimentação indígena era baseada na pesca, como os peixes, peixe-boi e tartarugas.
Os horticultores praticavam a agricultura em pequenas áreas, plantavam milho e mandioca.
Os coletores eram predominantemente nômades, pois viviam se deslocando de uma região
para outra.

II.2. Os Tupinambás

Antes da chegada dos portugueses ao Estado do Pará, habitavam em nossa região


diversos grupos indígenas. Para a área do atual território amazônico, os indígenas estavam
agrupados em três grandes troncos: tupi-guarani, aruaque e caribe. Dentre os índios tupi-guarani
na região, os mais conhecidos são os Tupinambá.

25
O primeiro grupo indígena que os portugueses entraram em contato ao chegar ao Pará
foram os índios Tupinambás, cujo “morubixaba” (“principal” ou “cacique”) se chamava
Guaimiaba, apelidado pelos portugueses de Cabelo-de-Velha.
Os Tupinambás eram extremamente belicosos, isto é, guerreiros. As guerras entre os
Tupinambás tinham o objetivo de capturar prisioneiros para a execução e a antropofagia ritual.
Os mortos e feridos durante o combate eram devorados no campo de batalha ou durante a
retirada; os prisioneiros seguiam com seus algozes, para que as mulheres também os vissem, e
pudessem ser mortos. A vingança, assim, era socializada: era necessário que todos se vingassem.
A execução ritual, contudo, poderia demorar vários meses.
O objetivo da antropofagia ritual era o desejo de vingar a morte de seus parentes
próximos ou os amigos em batalhas. Também há a crença entre os Tupinambás de que comendo
o corpo de um guerreiro, adquiririam a sua força e habilidades nas batalhas. Tal ritual chocava
profundamente os europeus que o presenciaram; tal choque fora registrado em relatos de
viajantes e gravuras da época.
Matar publicamente um inimigo era o evento central da vida social Tupinambá.
Levado ao terreiro, pintado e decorado, preso pela mussurana (corda), o cativo esperava seu
carrasco que, vestindo seu manto de penas de íbis vermelha (ave pernalta), aproximam-se de sua
presa, imitando uma ave de rapina.
Recebia a ibirapema (espécie de
porrete), das mãos de um velho matador, desferia
um golpe concreto contra a nuca do cativo,
rompia-lhe o crânio e lançava-o ao chão. De
imediato, acudiam as velhas com cabaças para
recolher o sangue que se espalhava. Nada deveria
ser perdido, tudo precisava ser consumido e
todos deviam fazê-lo: as mães besuntavam seus
Antropofagia ou canibalismo Tupinambá. A
seios de sangue, para que seus bebês também representação do ritual associa-se às imagens do
pudessem provar do inimigo. purgatório e a ação demoníaca, no âmbito do imaginário
religioso europeu. Gravura de Theodore De Bry,
Grandes Viagens, 1592.

Texto e Contexto
Em 1639, Pedro Teixeira registrou durante sua famosa expedição pelo rio Amazonas, a belicosidade dos
Tupinambá que encontrará na região:
“Havia 120 léguas deste sítio [o estreito de Óbidos] até os Tupinambá; esta nação é de gente mui feroz
carniceira e nunca quis conhecer sujeição; por isso vieram fugidos do Brasil rompendo por terra e
conquistando grande número de gentios até chegar ao grande rio e sítio onde hoje vivem.”
26
(De Pedro Teixeira, 1639. In: PAPAVERO, Nelson et. al. O Novo Éden... Belém: Museu Paraense Emilio
Goeldi, 2002. 2ª ed. p. 153).

A antropofagia ritual Tupinambá era seu mais forte elemento social e cultural, que
fazia da morte guerreira uma condição da vida social. Paradoxalmente, porém, esses
“carniceiros” foram antes carniça nas guerras de conquista dos colonizadores, em suas bandeiras
e suas missões. Em menos de dois séculos, os numerosos Tupis foram varridos da costa
brasileira – aqueles que não sucumbiram à violência, às epidemias e à fome fugiram para o
interior.

Texto e Contexto
Por volta de 1550, um alemão de nome Hans Staden foi aprisionado pelos Tupinambá do Rio de Janeiro. Em seus
relatos, registrou o canibalismo tupi, mas fazendo ressaltar seu caráter ritualístico, social e guerreiro:
“Não o fazem por fome, mais por ódio e inveja, e quando combatem na guerra gritam um para o outro: para vingar a
morte dos meus amigos, estou aqui; tua carne será hoje, antes que o sol entre, meu assado”.

ATIVIDADE

1. Descreva como o índio tupinambá aparece na imagem. Depois diga se você concorda com a
forma com que o índio é retratado.

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2. Coloque V para as afirmativas verdadeiras e F para as falsas.


____ Os indígenas estavam ocupados em três grandes troncos lingüísticos: tupi-guarani, aruaque
e caribe.
____ No ritual antropofágico, nada deveria ser perdido, tudo precisava ser consumido e todos
deviam fazê-lo.

27
____ Os Tupinambás eram extremamente belicosos,
isto é, guerreiros. A guerra tinha o objetivo de
capturar prisioneiros para a execução e a antropofagia
ritual.
____ Matar publicamente um inimigo não era um
evento central da vida social do Tupinambá.

3. Com suas palavras, em seu caderno, escreva um


texto sobre o ritual antropofágico. Depois, ilustre-o.

II.3. Índios da Bacia Amazônica

A bacia amazônica foi palco das culturas


indígenas mais sofisticadas antes da conquista. Verificou-se a presença de sociedades complexas
na região amazônica. Começaram a se formar em um grande número de pessoas e a ocupar
extensas áreas. A expressão cultural mais importante desses grupos indígenas da Amazônia é a
cerâmica desenterrada na Ilha de Marajó na foz do Amazonas e em Santarém, no rio Tapajós,
sendo as evidências de sociedades indígenas mais avançadas existentes no Brasil.

II.3.1 - A Cultura Indígena Marajoara: as primeiras populações que habitaram a Ilha do


Marajó viviam de forma simples, com organização social baseada no trabalho doméstico e
familiar. Dedicavam-se à caça, à pesca, à coleta de produtos da floresta e à horticultura.
Cerâmica, tecidos e outros objetos eram produzidos para a família e para eventuais trocas com
outros grupos.
Os povos que viveram na Ilha do Marajó
entre 1.500 anos a.C. até o século XVIII produziam
cerâmica em estilos diversos. A cerâmica marajoara
demonstrava grande valor como objeto artístico e
veículo de comunicação social e cultural. Desenhos
geométricos e figuras humanas e de animais podem
ser observados na decoração.
A produção da cerâmica se concentrava no
trabalho das mulheres das tribos, responsáveis por

Igaçaba Marajoara. Museu do Encontro, Forte do


Presépio. Belém-PA 28
todo o processo, da escolha da argila à modelagem,
da queima das peças à pintura dos objetos.
Dentre as peças cerâmicas mais famosas estão as igaçabas, urnas destinadas à guarda
de ossos dos mortos em cerimônias funerárias.

Há ainda as estatuetas, muitas utilizadas


pelos pajés em rituais como maracás, e as tangas de
cerâmica, usadas por mulheres em cerimônias e
ritos de passagem.
Tanga de cerâmica. Museu Paraense Emílio
Goeldi. Belém-PA

II.3.2 - A Cultura Indígena Tapajônica:


O principal grupo indígena que
habitava a região do rio Tapajós, no Estado
do Pará, chamava-se Tapajó, habitando a
região pelo menos desde o século X até o
XVII. Sua principal aldeia estava situada na
foz do rio Tapajós, local atual do bairro de
Aldeia, na cidade de Santarém.
Os relatos históricos informam que os Tapajó estavam organizados em aldeias com
20 a 30 famílias, vivendo juntas em casas coletivas. Os grupos familiares possuíam lideres
(chefes), a quem deviam obediência.
A cerâmica indígena tipicamente de
Santarém da cultura tapajônica apresentam
regularmente a representação de figuras humanas
e animais. Os objetos mais significativos da
cerâmica de Santarém são os vasos de cariátides,
os vasos de gargalo, estatuetas e cachimbos.
Sobre os Muiraquitãs: redes, Orucu,
Vaso de Cariátide. Museu Paraense Emílio e pedras verdes que os Índios chamam
Goeldi. Belém-PA
Buraquites, as quais os estrangeiros do norte

29

Vaso de Gargalo
estimam muito; e como se diz que estas pedras se
lavram neste rio dos Tapajós de hû barro verde
que se cria debaixo da agoa. E debaixo desta
fazem contas redondas e compridas, vazos para
beber, assentos, pássaros, rãs e outras figuras.

E tirando o feito debaixo dagoa à o ar, se endurece o tal barro de tal maneira q’ fica
convertido em muy duríssima pedra verde, e he melhor contrato destes Índios, e delles muy
estimado.
Sobre a Cerâmica tapajônica: tem estes Indios [do Trombetas] e os Tapajos
finíssimo barro, de que fazem muita e boa louça de toda a sorte, que entre os Portuguezes he de
estima, e a levam a outras Provincias por contrato. (In: PAPAVERO, op. cit., pp. 255-256.). Os
vasos de cariátides apresentam curiosamente pequenas figuras modeladas que sustentam uma
vasilha sobre suas cabeças. Esses vasos e os de gargalo apresentam em sua estrutura decorações
com figuras humanas ou animais, como urubus, antas, macacos e pequenos batráquios. As
estatuetas, em sua maioria, representam formas humanas, sobretudo femininas.
Além de sua sofisticada cerâmica, os índios
Tapajós tem como maior expressão de sua criatividade os
Muiraquitãs, que são considerados os elementos de cultura
material indígena mais sofisticado do Brasil.
Muiraquitãs, também chamados de “Pedras das
Amazonas”, eram adornos produzidos de pedras verdes
(jadeíta, amazonita) em forma de batráquio, possivelmente
utilizados como protetores contra doenças e mordedura de
animais peçonhentos, assim como elemento para o
aumento da fertilidade feminina e como figura mitológica
astral. Estatueta em cerâmica
representando a forma humana
Na Amazônia, os muiraquitãs foram
encontrados com maior freqüência nos vales dos rios
Tapajós, Trombetas e Nhamundá.

Texto Complementar Muiraquitã.


Os viajantes se encantavam, nas diversas povoações por onde passavam às margens
do Amazonas, com a complicada cerâmica feita pelos índios, uma vez que, tendo em conta

30
aquelas pessoas por bárbaros, era surpreendente que tivesse tanta habilidade, gosto e destreza
para tão elaborada arte, que era, além de tudo, comercializada.
Os vestígios arqueológicos de ocupação humana em Marajó aparecem em uma
região que tem como centro o Lago Arari, este cobrindo uma área de cerca de 400 km².
Os sítios da Fase Marajoara se encontram sobre colinas ou aterros artificiais,
conhecidos localmente como “tesos” (em inglês, mound), construídos paralelamente ao longo
de rios e lagos. Percebe-se que nos níveis inferiores há o enterramento secundário, com ossos
muitas vezes pintados em vermelho, podendo estar quebrados ou apenas desarticulados, ou
ainda com o morto em posição sentada, com a presença de uma tanga de cerâmica decorada.
Foram encontrados diversos objetos e vasilhas cerâmicas associadas aos
enterramentos, como pratos, vasos menores, cachimbos, fusos, estatuetas, miniaturas,
instrumentos musicais, “tinteiros”, além de adornos e das conhecidas pedras verdes
(muiraquitãs).
É bastante curiosa a ocorrência de tangas cerâmicas associadas aos sepultamentos.
Elas são encontradas freqüentemente no fundo da urna, sob os ossos; em casos de
enterramentos sem urnas elas também podem aparecer associadas ao esqueleto. As tangas
parecem estar associadas a esqueletos femininos, mas muitos dos esqueletos não tiveram o sexo
identificado.
A Fase Marajoara apresenta um quadro em que há um grande contingente
populacional, congregado em alguma forma de organização sócio-política em um extenso
território, mantendo-se assim por centenas de anos. A construção de monumentais aterros,
vários metros mais elevados do que o nível das cheias exigia, evidencia, por um lado, a
necessidade de defesa e fortificação e por outro o fato de que milhares de trabalhadores
estiveram envolvidos em sua construção. Os padrões de enterramento significando
diferenciação social e a cerâmica policrômica indicando a existência de uma elite de artesãos
especializados, são características que, somadas às acima descritas constituíram-se nas
evidências necessárias para que se inferisse a existência de um modo de organização cacical
para a fase. (SCHAAN, Denise Pahl. Registro arqueológico e etnohistórico da Fase Marajoara.
In: A linguagem iconográfica da cerâmica marajoara. pp. 70-106.)

ATIVIDADE

1. Complete as frases:

31
a) Dentre as peças ................................. mais famosas estão as .................................., urnas
destinadas à guarda de ossos dos mortos em cerimônias funerárias.

b) A ..................................................................... foi palco das culturas indígenas mais


sofisticadas antes da conquista.

c) Para a área do atual território amazônico, os indígenas estavam agrupados em três grandes
troncos: ................................................., ......................................... e .........................................

d) A ................................................. ritual Tupinambá era seu mais forte elemento social e


cultural, que fazia da morte guerreira uma condição da vida social.

e) .................................................., também chamados de “Pedras das Amazonas”, eram adornos


produzidos de pedras verdes (jadeíta, amazonita) em forma de batráquio, possivelmente
utilizados como protetores contra ............................. e ...................................... de animais
peçonhentos, assim como elemento para o aumento da ........................................... feminina e
como figura mitológica astral.

f) O principal grupo indígena que habitava a região do rio Tapajós, no Estado do Pará, chamava-
se ................................, habitando a região pelo menos desde o século .............. até
o ......................

g) Os vestígios arqueológicos de ocupação humana em ....................................... aparecem em


uma região que tem como centro o Lago Arari, este cobrindo uma área de cerca de 400 km².

h) Os relatos históricos informam que os ....................................... estavam organizados em


aldeias com 20 a 30 famílias, vivendo juntas em casas ............................................. Os grupos
familiares possuíam lideres (chefes), a quem deviam .....................................................

i) Os primeiros grupos humanos eram ....................................... e .............................................


que estavam organizados em pequenos grupos de famílias, morando em cavernas (ou grutas),
geralmente localizadas em ...............................

2. O documento histórico (imagem) ao lado representa:

32
a) vaso de gargalo
b) muiraquitã
c) vaso de cariátide
d) tanga de cerâmica

3. Construa um pequeno texto sobre a Cultura Indígena Marajoara:


...........................................................................................................................................................
...........................................................................................................................................................
...........................................................................................................................................................
...........................................................................................................................................................
...........................................................................................................................................................
...........................................................................................................................................................
...........................................................................................................................................................

4. Construa um pequeno texto sobre os índios Tupinambás.


...........................................................................................................................................................
...........................................................................................................................................................
...........................................................................................................................................................
...........................................................................................................................................................
...........................................................................................................................................................
...........................................................................................................................................................

5. Pesquise em outros livros sobre as demais tribos indígenas, como: Caiapó, Aruaque, Caraíba,
Munduruku e Carajá. Anote o resultado da pesquisa em seu caderno.

33
III UNIDADE: A “GRANDE CONQUISTA”

III.1. Fundação de Belém: exploradores, índios, jesuítas...

Quem primeiro navegou no Rio Amazonas foi o navegante e descobridor espanhol


Vicente Yañez Pinzón (1461-1514), em dezembro de 1499, partiu de Palos, à frente de quatro
caravelas, com a finalidade precípua de descobrir terras e exercer a posse em nome da coroa
espanhola. A 20 ou 26 de janeiro seguinte – portanto antes de Pedro Álvares Cabral ter
descoberto para Portugal o Brasil. Costeando a região, Pinzón e os seus foram dar na foz do Rio
Amazonas, que recebeu na época o nome de Santa Maria de la Mar Dulce.
Em 1541, o navegante e descobridor espanhol Francisco de Orellana (1511-1546), a
mando do conquistador espanhol Gonçalo Pizarro (1502-1548) e à frente de 400 espanhóis e de
4.000 índios, partiu de Quito para explorar as terras do El dorado y la canela. A 24 de agosto de
1542, chegava Orellana à embocadura do Amazonas, sendo, portanto, o primeiro a navegar, na
realidade, toda a extensão daquele curso d’água. Na viagem, relatada por frei Gaspar de Carvajal
e pelo jesuíta Alonso de Rojas, é que teria ocorrido o lendário e fantasioso encontro com as
amazonas, na foz do Nhamundá, o qual originou o nome do grande rio.
Houve outras expedições, ainda comandadas por espanhóis. Dessas, a mais
importante foi a de Pedro de Úrsua, enviado, em 1560, pelo vice-rei do Peru, André Furtado de
Mendonça, para proceder a uma grande exploração. Contudo, desencadeou-se um motim,
comandado por Lopo de Aguirre. Pedro de Úrsua foi assassinado. Em dezembro de 1561, o que
restava da expedição chegou à foz do Amazonas.
Não eram, porém, apenas os espanhóis: também ingleses, holandeses e franceses,
principalmente estes últimos faziam incursões em terras hoje pertencentes à Amazônia. No Pará,
antes da fundação de Belém pelos portugueses, chegaram até a fundar uma aldeia em Caeté (hoje
Bragança), além de dominarem completamente o Maranhão. Mas os portugueses, depois de
muitas lutas, conquistaram as terras maranhenses. E partiram para a nova etapa: a conquista do
Grão-Pará.

34
ATIVIDADE

1. Complete a cruzadinha abaixo:


a. ________ Yañes Pinzon foi o primeiro navegante e descobridor espanhol a navegar o rio
Amazonas.
b. Francisco de ______ foi também um navegador e descobridor espanhol, quem navegou toda a
extensão do rio Amazonas.
c. Em 1560 Pedro de ______ explorou o rio Amazonas, enviado pelo vice-rei do Peru.
d. Na ______, holandeses, franceses e ingleses também faziam incursões assim como os
espanhóis.
e. Os _____ depois de muitas lutas conquistaram as terras maranhenses e partiram para a
conquista do Grão-Pará. d e
b

a
c

III.2. A conquista do Pará

Na época da conquista do Pará, Espanha e Portugal formavam a União Ibérica (desde


1580). Para o Brasil, naquela fase de expansão territorial, a união peninsular foi benéfica, pois
Portugal e Espanha, transformadas em uma só nação, veio a tornar sem efeito o Tratado de
Tordesilhas, facilitando, desse modo, a penetração interiorana.
A conquista do Norte foi
determinada pelo rei de Espanha e
Portugal. Visava, inicialmente, desalojar,
do Maranhão, os franceses que ali haviam
criado a França Equinocial. E em 1614,
Jerônimo de Albuquerque segui à frente da
tropa, para cumprir aquela missão.

35
Em 1615, já com Alexandre de Moura liderando as tropas lusas, houve a capitulação
definitiva. Após a vitória, Moura nomeou Albuquerque governador do Maranhão e encarregou o
militar e explorador português Francisco Caldeira de Castelo Branco (-1619) de conquistar o
Pará.
A 25 de dezembro de 1615 a expedição partiu da baía de São Marcos, composta do
patacho Santa Maria da Candelária, do caravelão Santa Maria das Graças e da lancha grande
Assunção. Compunha-se de 150 homens, 10 peças de artilharia, pólvora e muita munição e
mantimentos. O piloto-mor era Antônio Vicente Cochado, o francês Charies servindo de guia.
As três embarcações eram comandadas por Pedro de Freitas, Antônio da Fonseca e Álvaro Neto.
A viagem sem incidentes durou 18 dias. E a 12 de janeiro de 1616 os portugueses aportaram na
baía de Guajará, chamada pelos nativos de Paraná-Guaçu.

Fundação de Belém, obra de Theodoro Braga, 1908, Museu de Arte de Belém (MAB). Na imagem a chegada dos
portugueses em suas embarcações, os índios Tupinambá observam a chegada às margens da baía do Guajará (à
direita, abaixo) e a construção do Forte do Presépio pelos portugueses (à esquerda).

Texto e Contexto
O capitão André Pereira, que participou da expedição que fundou o Forte do Presépio na cidade de Belém em
1616, dá notícia desse sucesso ao Rei de Espanha.
“Primeiramente depois que ò capitão maior, Alexandre de Moura deu fin no Maranhaom à ò enemigo como fez, è
tendo à terra pacifica, è povoadas as fortalezas como lhe pareceo necessario, pos por obra mandar fazer este novo
descobrimento do grande Rio das Amazonas, è pera tambem se saver ò que avia no Cavo do Norte, conforme à
ordem que pera isso levava do Governador Geral do Brasil Gaspar de Souza; è asi mandou 150 homens em tres
companhias, è por capitaom mor dellas à Francisco Caldeira de castel branco em tres embarcazoens. Partimos
para esta jornada dia de Natal pasado, em que deu principio à esta era de 1616.”
“chegando no sitio à onde fizemos fortaleza por el Rey nosso senhor, que será 35 leguoas pello Rio asima pera ò
Sul, por parecer elle à ò capitaom mor bom sitio.”
“Há neste Rio em todas as partes delle muito Gentio por extremo de diversas nazoens, ò mais delle mui bem
encarado sem barba, trazem os homens cabello comprido como molheres, è de mui perto ò parecem de que pode ser
36
nasceria o emgano que dizem das Amazonas; pois naom há outra cousa de que à este proposito se pudesse deitar
maom.” (PEREIRA, André. A “Relazoam do que há no grande rio das Amazonas novamente descuberto” do Capitão André
Pereira (16160). In: PAPAVERO, Nelson et. al. O Novo Éden... Belém: Museu Paraense Emilio Goeldi, 2002. 2ª ed.p. 111.)

À nova conquista, Castelo Branco, dando vazão a seu amor por Portugal, deu o nome
de Feliz Lusitânea. O engenheiro-mor Francisco Frias Mesquita iniciou a construção da Casa
Forte, localizada à margem esquerda da foz do Piri (hoje doca do Ver-o-Peso). Recebeu a
denominação de Forte do Presépio e em seu interior levantaram uma pequena capela, sob a
invocação de N. S. das Graças.
Além do Forte do Presépio outros foram também construídos para proteger as terras
da Amazônia da invasão de conquistadores ao longo do século XVII: Forte de S. Pedro de
Nolasco (Convento das Mercês, em Belém), Forte N. S. das Mercês da Barra, Forte S. Antônio
de Macapá, Casa Forte (origem da cidade de Ourém), Forte de N. S. de Nazaré, Forte da
embocadura do rio Tuerê, Forte do Rio Paru, Forte do Tapajós (futura Santarém) e o Forte do
Pauxis (origem da cidade de Óbidos).
Texto e Contexto
A 2 de janeiro de 1639 Pedro Teixeira redigiu, em Quito, uma Relação da sua jornada Amazonas acima,
endereçada ao presidente da Audiência de Quito.
“Nesse grande sítio tem Sua Majestade uma fortaleza que chamam ‘O Presépio’, situada na Cidade de
Belém; dista do mar 25 léguas [e] fica na banda leste, numa ponta de terra firme mui saudável e
fertilíssima. (...) Está situada a dita fortaleza sobre uma grande enseada que ali faz o rio, tendo à vista três
caudalosos rios: o primeiro se chama Capim, o segundo Oscaza [Acará?], o terceiro Moysu [Mojú].”
“A cidade do Pará está ao sul em dois terços [de grau] menos alguns minutos. Os holandeses têm chegado
sondando [explorando] até o sítio de caça Juro [?], quatro jornadas inteiras acima do Tapajós e têm feito
muitíssimo esforço para povoá-lo.” (Pedro Teixeira In: PAPAVERO, op. cit., p. 154.)

O local escolhido por Castelo Branco para os portugueses se instalarem compreendia


uma estreita faixa de terra confinada por um lado pela baía de Guajará e por outro por um grande
pântano, chamado pelos nativos de Piry.
A localização escolhida mantinha o núcleo
naturalmente abrigado de um ataque pelo interior, ao
mesmo tempo em que permitia o controle da entrada
da baía.
O surgimento do Forte do Presépio
representou, assim, o marco da fundação da cidade.
Em função do reduzido número de pessoas envolvidas
37

O Forte do Presépio, Hoje. Núcleo


Cultural Feliz Lusitânea. Belém, PA.
no ato de fundação, a cidade nasceria
embrionariamente dentro do forte.

Em 7 de janeiro de 1619, os Tupinambás chefiados por Guaimiaba, Cabelo de


Velha, revoltaram-se contra os portugueses, atacando o Forte do Presépio. Porém, o levante
Tupinambá foi desbaratado pelos luso-brasileiros.
Texto e Contexto

A “Descriçam do Estado do Maranham, Para,


Corupa, Rio das Amazonas” de Maurício de
Heriarte (1662).
XXI. A Cidade de Bellem, capitania do gram Para,
esta asentada sobre o famoso rio que se chamam
Para, 25. legoas da Barra, cercada com 4. rios, que
Artefatos Bélicos encontrados por arqueólogos
por hûa parte e outra a cingem: que sam, Guama, nos arredores do Forte. Balas de canhão e pedras
de perdeneira (o atrito da pederneira no patin da
Guajara, Capim, e Moju, que todos juntos desaguam arma produzia faísca na caçoleta que explodia e
expulsava a bala). Acervo do Museu do Forte do
no gram Para. Presépio. Belém, PA.

Tem esta cidade hûa fortaleza, sobre o porto, bastante e defensível, com tres
companhias de infantaria. Tem Capitam mor, Ouvidor, Provedor, Amoxarife, e Escrivam real,
que tudo se desconta da Fazenda de S. Majestade. Tem sette engenhos de fazer asucar. Seus
moradores fazem muito tabaco, he muy abundante de mantimentos da terra e frutas.
XXIII. Sam as terras do Para firmes, e melhores que as de Sam Luis, muy fertiles em dar fruto,
e todo o anno criam, porque todo anno chove: suposto que no veram nam há tanta a agoa. Sam
capazes de grandes povoações, por serem terras larguissimas, e de muitos Indios, que quando
foy povoada de Portuguezes, avia mais de 600. Povoações de Indios Tapinambas e Tapuias,
que vendo que eram poucos os Portuguezes, se levantaram contra elles, e mataram 222, sendo
seu Capitam mor Francisco Caldeira de Castello Branco: mas os q’ ficaram, com muito
trabalho, deram grandes guerras à os Indios, e destruíram a naçam Tupinamba, que dominava
sobre a outra naçam Tapuia. Morreram muitos Indios na guerra, e outros se retiraram pella
terra dentro. (Maurício de Heriarte In: PAPAVERO, op. cit., p. 251.)
Terminada a construção do Forte do Presépio, o próximo passo dos portugueses foi a
colonização de Belém. Ergueram as primeiras casas.
A conquista do Grão-Pará pode ser dividida em quatro momentos. Em um primeiro
momento, ocorreu a luta contra os indígenas que visava não só desalojá-los, mas também que

38
continuassem a apoiar os franceses. Destacaram-se nessas lutas Mahias de Albuquerque e
Manuel Pires (que dizimaram as tribos localizadas nos sertões de Cumã e Tapuitapera), Diogo
Botelho (que arrasou a aldeia de Muju), Gaspar de Freitas (que lutou nas aldeias de Iguapé),
Bento Maciel Parente e Pedro Teixeira.
Em um segundo momento, os portugueses tinham como meta a luta contra os
estrangeiros a fim de evitar que os franceses, ingleses e holandeses dominassem o vale
amazônico, onde já haviam construído várias fortalezas. As principais: Forte de Nassau,
construído pelos holandeses entre 1599 e 1600, próximo à foz do Xingu, destruído em 1623;
Forte de Mandiatuba, próximo a Gurupá, pertencente também dos holandeses, atacado em 1625
por Pedro Teixeira; Forte de Maiocaí, também de holandeses, destruído por Luís Aranha e
Bento Maciel.
Em um terceiro momento, houve a ação de religiosos na região, que foi muito
importante para a conquista espiritual na Amazônia. Com Castelo Branco, veio o padre Manoel
Figueiredo de Mendonça, que rezou a primeira missa em Belém e que foi depois nomeado o 1º
Vigário do Pará. Em 1617, aportavam os frades capuchos frei Antônio de Merciana, frei
Cristóvão de São José, frei Sebastião do Rosário e frei Felipe de São Boaventura. Em 1618, os
franciscanos capuchos, por ordem régia, ficaram responsáveis pela catequese indígena. Em
1621, a corte concordava com a reivindicação do capitão Manoel de Souza Eça, no sentido de
que fossem enviados jesuítas ao Grão-Pará. Em 1626, era fundado, em Belém, o convento de
Santo Antônio. Em 1639 foi criada a Missão do Maranhão e Grão-Pará da Companhia de Jesus
(depois de, no ano anterior, ser entregue aos jesuítas o empreendimento catequista). Neste
mesmo ano, aportavam em Belém os primeiros mercedários, que, em 1640, fundaram o
convento (onde hoje se localiza a Igreja das Mercês). Fundaram missões no Rio Negro, Urubu,
Amatari, Aniba e Uatumã. Em 1643 chegou o padre Antônio Vieira, que, deslumbrado com o
lugar, sentiu que a conquista espiritual da Amazônia ampliaria os domínios de Sua Majestade e
da região.
Missões jesuítas foram fundadas ao longo do rio Amazonas, do Negro e do
Tocantins. Tiveram participação importante Francisco Veloso e Manoel Pires. Em 1660, os
jesuítas inauguraram, em Belém, a Igreja de São Francisco Xavier (atual Santo Alexandre).
Nessa fase, a conquista espiritual estava, assim, dividida: jesuítas, mercedários e frades de Santo
Antônio cuidavam da catequese; os carmelitas e os frades da Piedade encarregavam-se da
moralização interna das conquistas. Em 1667, foi criado o Bispado do Maranhão. Em 1706,
outra ordem vinha atuar na região: a dos Franciscanos da Província da Conceição da Beira de
Minho. No dia 4 de março de 1719, o papa Clemente XI, através da bula Copiosus in

39
misericórdia, criou o Bispado do Grão-Pará, sendo nomeado o 1º bispo, o Carmelita D. Frei
Bartolomeu do Pilar.
Por fim, ocorreu a conquista do Rio Amazonas. Na primeira metade do século XVII
a Coroa Portuguesa já havia determinado que o Rio Amazonas fosse explorado até o Peru. O
explorador e militar português Pedro Teixeira (1570-1641) fora nomeado comandante por
Jácome de Noronha, dando-lhe a patente de capitão-mor da força expedicionária e poderes de
capitão-geral governador do Estado. Os demais cargos e postos foram ocupados por outras
pessoas influentes: mestre de campo, o capitão Antonio de Azambuja; sargento-mor, Felipe de
Matos Cotrim; comandante das companhias de infantaria, os capitães Pedro Baião de Abreu e
Pedro da Costa Favela.
A Bandeira saiu de São Luís, aportando em Belém em julho de 1637. Na capital
paraense, foram incorporados à expedição 70 soldados, além do capitão Domingos Pires da
Costa, o sargento Domingos Gonçalves e Diogo Rodrigues, o cronista da viagem João Gomes
de Andrade, entre outros. No dia 28 de outubro de 1637, a expedição seguiu de Cametá, já com
45 canoas, conduzindo 87 militares, três civis e mais de mil caboclos paraenses. No dia 3 de
julho de 1638, a expedição atingiu o estuário do Rio Aguarico. Ali, Pedro Teixeira instalou um
destacamento militar sob o comando de Pedro Favela, com a assistência de Pedro Baião de
Abreu. No dia 15 de agosto atingiu a povoação de Payamino, longe 80 léguas de Quito.

Expedição de Pedro Teixeira.


A 16 de fevereiro de 1639, Pedro Teixeira deu início à nova jornada, desta vez de
regresso a Belém. Vários religiosos acompanharam-no como os padres Cristóvão de Acunã (que
a respeito escreveu O Novo Descobrimento do Rio das Amazonas) e Andrés de Artieda.
Rumaram para Belém, chegando à baía do Guajará a 12 de dezembro de 1639. Os limites da
Amazônia portuguesa tinham sido dilatados.

40
ATIVIDADE

1. A 16 de fevereiro de 1639, deu início a uma nova jornada, desta vez, de regresso a Belém:
a) Pedro Teixeira. b) Castelo Branco. c) Cristóvão de Acunã.

2. Em 1638, Pedro Teixeira instalou um destacamento militar sob o comando de:


a) Castelo Branco. b) Pedro Favela. c) Pedro Teixeira.

3. O explorador e militar português Pedro Teixeira fora nomeado comandante por:


a) Pedro Favela. b) Jácome de Noronha. c) Cristóvão de Acunã.

4. Como estava dividida a conquista espiritual na Amazônia no processo de colonização?


...........................................................................................................................................................
...........................................................................................................................................................
...........................................................................................................................................................
...........................................................................................................................................................

5. Após término da construção do forte do presépio, os portugueses iniciaram a colonização de


Belém. Essa conquista pode ser dividida, de acordo com o texto, em quatro momentos.
Descreva-os no seu caderno.

6. Explique a escolha pela região onde foi construído o forte que deu origem a cidade de Belém
(no caderno).

7. Quais os outros fortes construídos na Amazônia além do forte do presépio? (no caderno)

8. Como foi realizada a conquista do Norte? (no caderno)

9. Por que a União Ibérica foi importante para a conquista da Amazônia? (no caderno)

III.3. Choque cultural

41
A chegada dos portugueses a terras brasileiras em 1.500 colocou em contato duas
culturas notavelmente diversas. A sociedade européia privilegiava o dinheiro, as relações
mercantis e o cristianismo. A sociedade indígena, nativa da América, valorizava a relação com a
natureza, o mito e a vida comunitária. Mais tarde vieram os africanos sob a condição de
escravos.
Nesses 500 anos de história em comum, a ação dos europeus, somada à contribuição
de ameríndios e africanos, criou uma sociedade original nos trópicos. No entanto, isto teve o seu
preço. Para os ameríndios, ocorreu a destruição quase completa de sua cultura original e o
extermínio de povos inteiros.
Logo houve combates religiosos: a fé em um deus único (monoteísmo) foi imposta e
a fé em vários deuses (politeísmo) foi combatida. O europeu obrigava os índios a cobrir o corpo
todo por “decência”, com vestidos, e a inutilizar os adereços (enfeites). Além disto, desde o
início da conquista portuguesa no Brasil, dos litorais do Sul até o Maranhão, os portugueses
estiveram em contato com povos que falavam diversos dialetos.
Os padres religiosos decidiram então unificar todos
os dialetos da língua tupi numa língua única,
escrevendo gramática e dicionários. Na Amazônia,
pela Carta Régia de 1689, a língua geral, isto é, a
língua tupi, tornou-se oficial e devia ser ensinada
pelos padres até aos filhos de colonos. Essa língua
ficou conhecida como Nheengatu. No plano
político-social, a alta mortalidade e os descimentos

Igreja de Santo Alexandre. Antiga Igreja e reduziram a população indígena, afastando a


Escola dos jesuítas do século XVIII no Pará. possibilidade de organização, em virtude da redução
Belém, Pará.
do poder político dos caciques.
A Companhia de Jesus foi a ordem religiosa que
mais se destacou no Brasil colonial. Fundada em 1534 pelo
espanhol Inácio de Loyola para ser uma organização religiosa
de combate às “heresias” e aos “inimigos da fé”, a Companhia
de Jesus incorporou o espírito da Contra-Reforma.
No Brasil, os jesuítas chegaram em 1549, na
comitiva chefiada pela padre Manuel da Nóbrega. Nos séculos
XVII e XVIII, os jesuítas mantinham igrejas, paróquias,
colégios e missões desde Paranaguá (no atual estado do

42

Padre Antonio Vieira


Paraná) até a região amazônica. Tanto por seu trabalho
pastoral e missionário quanto pelo papel político que
exerciam, os jesuítas tiveram forte presença na vida social e
cultural da colônia. Foi na implantação das missões junto aos
indígenas que os jesuítas mais se destacaram.
A função das missões era reunir grupos nativos em aldeamentos, promover sua
conversão e aculturação e evitar sua escravização. Os índios aldeados ou “reduzidos” eram
considerados protegidos, ou “livres”. Nos aldeamentos, onde isolavam os índios, os missionários
os catequizavam e faziam produzir.

ATIVIDADE

1. Responda no caderno:
a. O processo de conquista da Amazônia, assim como o contato entre colonizadores,
missionários e povos nativos foi pacífico? Justifique.
b. Qual foi a língua usada na conversão dos índios? Qual o significado de uma língua geral?
c. Com suas palavras, diga o que eram a missões realizadas na Amazônia.
d. Qual o resultado para os indígenas do processo de conquista da Amazônia?
e. Qual a função das missões na Amazônia?

2. Ilustre um aldeamento.

43
IV UNIDADE: O ESTADO NA AMAZÔNIA E A HISTÓRIA LOCAL

IV.1. Administração colonial

Após a fundação de Belém, a nova descoberta ficou administrada por capitães-mores


subordinados ao Governo Geral do Brasil. Não demorou muito para que o vasto território fosse
dividido e várias capitanias, doadas a pessoas de bom grado. Assim, criaram sete capitanias:
 1 – Capitania do Pará – Tinha como cede Belém e estendia-se da margem esquerda do rio
Acutipuru (Quatipuru), até o primeiro braço do Rio Pará (Tocantins).
 2 – Capitania de Caeté – Gaspar de Souza, e mais tarde seu filho Álvaro de Souza, era o
donatário. Não tinha delimitação certa.
 3 – Capitania de Vera Cruz do Gurupi – Pertencente a Feliciano Coelho de Carvalho,
filho de Francisco Coelho e Carvalho, governador do Maranhão e Pará.
 4 – Capitania de Cametá – Feliciano Coelho de Carvalho, perdendo a concessão de Vera
Cruz de Gurupi, conseguiu outra, localizada em terras banhadas pelo Tocantins e
habitada pelos índios camutás (1623). Em 1635, criou a vila Viçosa de Santa Cruz de
Cametá.
 5 – Capitania do Cabo do Norte – Pertencente a Bento Maciel Parente. Compreendia
quase a totalidade das terras do atual Amapá.
 6 – Capitania da Ilha de Joanes – Pertencente a Antônio de Souza Macedo, abrangendo
todo o território da ilha do Marajó.
 7 – Capitania de Gurupá – Criada a partir das ruínas do forte holandês.
Esse sistema de capitanias não foi muito benéfico para a região, sendo extinto e
revertendo à Coroa as antigas doações. Em 23 de setembro de 1623, as capitanias do Grão-Pará e
Maranhão se unificaram em um só Estado, tendo como sede a cidade de São Luís (Estado do
Maranhão e Grão-Pará). Em 1652, Pará e Maranhão separaram-se; dois anos depois voltando a
se unificar. Em 1673 o governador Pedro César de Menezes transferiu a sede do governo para
Belém. Em 1688, a corte determinou que a capital voltasse a ser São Luís. No entanto, em 1737
a sede governamental retornou a Belém para, em 1752, o Pará ganhar novamente sua autonomia.
Em 1815, as capitanias gerais do Brasil foram transformadas em províncias. A Província do
Grão-Pará, com capital em Belém, possuía toda a superfície da Amazônia, já que a capitania do
Rio Negro (atual Estado do Amazonas) continuava a depender do Pará.

44
O Pará (e a Amazônia) era subordinada diretamente a Lisboa, desvinculado do resto
do Brasil. Somente com a vinda de D. João VI, e sendo a Corte instalada no Rio de Janeiro, é
que os laços entre o extremo norte e o resto do país estreitaram-se mais.

ATIVIDADE

1. Em 1616, após fundação do forte do Presépio, Belém ficou administrada por:


a) capitães-mores. b) D. João VI. c) missionários.

2. Em 1548, os administradores de Belém ficaram subordinados:


a) a Coroa portuguesa. b) ao Governo Geral do Brasil. c) a Coroa espanhola.

3. A Amazônia, assim como o restante do Brasil, adotou como sistema de colonização:


a) o regime de feitorias. b) o sistema de capitanias hereditárias. c) o Governo Geral.

4. Relacione as colunas:
(1) capitania do Pará ( ) pertencia a Gaspar de Souza.
( ) pertencia a Feliciano Coelho de Carvalho,
(2) capitania do Caeté
que em 1635, foi transformado em Vila.
(3) capitania de Vera Cruz de Gurupi ( ) pertencia a Antonio de Souza Macedo.
(4) capitania de Cametá ( ) tinha a sede em Belém.
( ) pertencia ao governador do Maranhão e
(5) capitania do Cabo do Norte
Grão-Pará.
(6) capitania da Ilha de Joanes ( ) pertencia a Bento Maciel Parente.
(7) capitania de Gurupá ( ) criada a partir do forte holandês.

5. Em 1623, o que ocorreu com as capitanias do Grão-Pará e Maranhão?

6. O que ocorreu com o Estado do Maranhão em 1673?

7. Em 1815, qual a transformação sofrida no Estado do Maranhão?

8. Como ficou a situação da Província do Grão-Pará após 1815?

45
IV.2. Evolução Urbanística
Após a instalação do Forte do Presépio, os portugueses trataram de dar início à
colonização da nova conquista. Oficialmente, a primeira rua a ser aberta foi a do Norte, hoje
Siqueira Mendes, paralela à baía do Guajará, que ia daquela fortificação até a casa do capitão-
mor Bento de Maciel Parente, onde hoje localiza-se a Igreja do Carmo.
Depois abriram as ruas do
Espírito Santo (hoje Dr. Assis),
dos Cavaleiros (Dr. Malcher),
São João (João Diogo), da
Residência (Félix Rocque),
Atalaia (Joaquim Távora),
Barroca (Gurupá), Longa
(Ângelo Custódio), Água das
Flores (Pedro Albuquerque),
Alfama (Rodrigues dos Santos)
e Aljube (Cametá).
Em 1627, com a construção do Convento de Santo Antônio, pelos frades da mesma
ordem, que do igarapé do Uma se transferiram para ali, começou a “conquista” do bairro da
Campina.
Com a expansão urbanística, a cidade ficou dividida em dois bairros: o da Cidade e o
da Campina. O igarapé do Piri servia de limite entre as duas aglomerações urbanas. Com a
chegada de colonos açorianos, em 1676, tiveram de abrir uma nova rua para abrigá-los. Eram
cerca de 234 pessoas de ambos os sexos. A rua aberta foi chamada de São Vicente. Depois,
prolongaram-na até o Piri com o nome de Nova de Santana (é a atual Manoel Barata).
Nos dois bairros as paisagens se assemelhavam: as ruas eram estreitas, possuíam
poucas edificações, contudo havia algumas igrejas e conventos importantes, predominantemente
as construções eram de casas de um só pavimento. A partir do século XVIII, edificaram-se
importantes construções arquitetônicos como a capela de N. Sa. das Graças. Ergueram-se depois
as primeiras igrejas de São João, Carmo, Santo Alexandre, Capela Santo Antônio. Mercês.
Construíram-se os conventos do Carmo, dos Franciscanos de Santo Antônio, Jesuítas, Mercês.
Neste momento, não havia fonte de água na cidade. A água que os moradores bebiam
era a que se colhia dentro de um barril enterrado no chão, em um sítio chamado de Pau de Água
ou Paul de Água, existente na estrada de mesmo nome, posteriormente chamou-se de São
Jerônimo e, hoje, governador José Malcher. Contudo, o governador José de Nápoles Telo de

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Meneses resolveu levar até ao Lago do Palácio aquela água, onde foi erguida a Casa de Mãe de
Água. No entanto, o povo preferia servir-se do rio e dos igarapés. Os melhores poços eram o do
Convento de Santo Antônio, o da Horta do Seminário, o do Palácio do Governo e o da casa do
Ouvidor.

ATIVIDADE

1. Qual o primeiro passo dos portugueses para a conquista da Amazônia?

2. Qual o nome da primeira rua aberta em Belém pelos portugueses?

3. Quais as demais ruas abertas em Belém pelos portugueses?

4. Quais os primeiros bairros de Belém? Qual o limite entre eles?

5. Descreva a paisagem dos primeiros bairros de Belém.

6. A partir do século XVIII, quais as construções arquitetônicas erguidas em Belém?

7. Complete com os nomes atuais das ruas antigas de Belém:


a) Espírito Santo = .................................................. b) Cavaleiros = ...........................................
c) São João = ....................................................... d) Residência = ............................................
e) Atalaia = ...................................................... f) Longa = ........................................................
g) Alfama = ..................................................... h) Aljube = ........................................................

IV.3. Cametá: narrativa histórica

Em 1617 foi organizado uma expedição a mando de Jerônimo de Albuquerque para


reconhecimento e catequização dos índios camutás. O encarregado da catequização foi o frei
Cristóvão de São José, que após árduo trabalho fez nascer a povoação dos camutás ás margens
do rio Tocantins, em 1620.
A origem do município de Cametá está ligada a uma doação realizada em 1634, da
então Capitania de Camutá, pelo Governador do Maranhão e Grão-Pará, Francisco Coelho de
Carvalho a seu filho, Feliciano Coelho de Carvalho. A 24 de dezembro de 1635, Feliciano de

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Carvalho fixou-se na área à margem esquerda do rio Tocantins, no local hoje conhecido como
Cametá-Tapera, e fundou a Vila Viçosa de Santa Cruz de Camutá. Após alguns anos, a Vila
Viçosa de Santa Cruz de Camutá foi transferida do território primitivo (Cametá-Tapera) para o
local onde atualmente é a sede do município.
Em 1754, Francisco Albuquerque de Carvalho, herdeiro da donataria, conseguiu os
direitos sobre a Capitania de Camutá junto ao rei de Portugal, sendo esta incorporada à Coroa.
A elevação da Vila de Cametá a categoria
Segundo Victor Tamer, Feliciano
de cidade ocorreu apenas em 1848, pela Lei de Coelho de Carvalho recebeu a
capitania que abrangia a região
número 145 de 24 de outubro de 1848, juntamente
tocantina, incluindo as Donatarias de
com as Vilas de Santarém e Manaus. Cayeté, Gurupá, e Xingu, com sede
na Vila de Santa Cruz dos Camutás.
A cidade sofreu uma influência muito Governou as referidas capitanias até
forte de portugueses, os quais chegaram a Cametá no 1754, quando assumiu a direção o
seu herdeiro Francisco Albuquerque
século XVIII e XIX, em virtude principalmente da Coelho de Carvalho. A vila dos
Camutás, quando governada por
produção da borracha. Foram estas famílias que Feliciano de Carvalho era constituída
enriqueceram ao longo tempo, relacionaram-se com por quatro ruas, pela Igreja do
padroeiro da cidade, São João
os índios locais – Camutás e Parijós, e formaram as Batista, comércio regular, extensa e
variada produção agrícola.
famílias cametaenses.
A primitiva povoação, com o tempo, Já no início do século XX, Cametá era
transferiu-se de lugar, aproximadamente
a 8 Km de onde localiza-se a sede atual formada por 10 distritos judiciários e um administrativo,
do município; para a causa dessa
transferência são apontadas três
Joroca, Juaba, São Benedito, Curuçambaba, Limoeiro,
hipóteses. A primeira afirma ser a causa Providência, São Raimundo dos Furtados, Carapajó e
da mudança um surto de varíola; a
segunda uma forma de escapar da Conceição, e possuía uma população absoluta de 67.082
tributação realizada pelos donatários e a
terceira, a erosão. habitantes, concentrada no interior.
A denominação Cametá, de origem Tupi, relaciona-se ao fato dos Índios Camutás,
construírem nos troncos das árvores casas para espera de caça, conhecida também como “Caa-
muta”, que em linguagem nativa, significa armação elevada de copa de árvore, pois “Caa” é
explicado como Mato, floresta ou bosque e “Muta” como degrau, armação ou elevação.
A cidade de Cametá teve o papel destacado, durante todo o movimento Cabano, foi
de Cametá que o Dr. Ângelo Corrêa, foi a Belém, atendendo ao chamado do Governo Cabano
chefiado por Antônio Vinagre, para assumir a presidência da província, após uma série de
desentendimentos, não pôde assumir o governo. E retorna a Cametá onde toma posse do cargo
perante a Câmara Municipal. Assim, por um breve período, Cametá foi a sede do Governo da
Província. Convém ressaltar que o município sempre teve destacado papel na história do Pará.

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Nas últimas décadas o município passou por algumas atividades econômicos,
daquelas típicas da Amazônia. Assim, se favoreceu bastante da produção da borracha e do cacau,
mas o último com bastante importância foi a época da pimenta-do-reino, embora não
caracterizada como tal. Esses ciclos favoreceram algumas melhorias nas condições de vida da
população.
Apesar da cidade de Cametá ter sido declarada Patrimônio Histórico Nacional poucos
são os benefícios advindos disto. Não é visível a preservação dos prédios públicos e
particularmente de valor histórico no município, a Câmara Municipal está praticamente em
ruínas. Alguns documentos históricos estão no Museu de Cametá, embora sem catalogação. Parte
do casario antigo da primeira rua foi demolido ou vitimado pela erosão que já desgastou muito a
orla da cidade. Ainda há a destacar prédios seculares como as igrejas de Nossa Senhora do
Perpetuo Socorro na Aldeia e a Matriz, o Grupo Escolar D.Romualdo de Seixas e a Prefeitura.
Esses prédios integram um roteiro turístico chamado de Museu Contextual, organizado pela
Secult.

ATIVIDADE

1. Faça o que se pede no caderno:


a) Pesquise, cole ou desenhe a bandeira de Cametá. Depois escreva o significado dos símbolos
presentes na bandeira.
b) Pesqueise, cole ou desenhe o brasão de Cametá. Depois escreva o significado dos símbolos
presentes no brasão.
c) Pesquise e copie o Hino de Cametá, não esqueça de escrever o nome do autor.
d) Construa um texto de 15 linhas sobre o carnaval de Cametá.

2. Em 1617 foi organizado uma expedição a mando de:


a) Jerônimo de Albuquerque. b) Feliciano Coelho de Carvalho. c) Francisco Coelho de Carvalho.
d) Cristóvão de São José. e) Francisco de Albuquerque de Carvalho.
3. A origem do município de Cametá está ligada a uma doação realizada em 1634, da então Capitania de
Camutá, pelo governador do Maranhão e Grão-Pará,

a) Jerônimo de Albuquerque. b) Feliciano Coelho de Carvalho. c) Francisco Coelho de Carvalho.


d) Cristóvão de São José. e) Francisco de Albuquerque de Carvalho.
4. Foi quem recebeu a Capitania de Camutá de seu pai, então governador do estado do Maranhão. Fixou-
se a margem esquerda do rio Tocantins, no local hoje conhecido como Cametá-Tapera e fundou a Vila
Viçosa de Santa Cruz de Camutá.
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a) Jerônimo de Albuquerque. b) Feliciano Coelho de Carvalho. c) Francisco Coelho de Carvalho.
d) Cristóvão de São José. e) Francisco de Albuquerque de Carvalho.

5. Foi o encarregado da catequização dos índios camutás as margens do rio Tocantins, em 1620:
a) Jerônimo de Albuquerque. b) Feliciano Coelho de Carvalho. c) Francisco Coelho de Carvalho.
d) Cristóvão de São José. e) Francisco de Albuquerque de Carvalho.

6. Era o herdeiro da donataria, conseguiu os direitos sobre a Capitania de Camutá junto ao rei de Portugal,
sendo esta incorporada a Coroa:
a) Jerônimo de Albuquerque. b) Feliciano Coelho de Carvalho. c) Francisco Coelho de Carvalho.
d) Cristóvão de São José. e) Francisco de Albuquerque de Carvalho.
7. A elevação da Vila de Camutá a categoria de cidade ocorreu apenas em:
a) 1848, pela Lei de número 145 de 24 de outubro. b) 1847, pela Lei de número 145 de 24 de outubro.
c) 1846, pela Lei de número 145 de 24 de outubro. d) 1845, pela Lei de número 145 de 24 de outubro.
e) 1844, pela Lei de número 145 de 24 de outubro.
8. As famílias tradicionais cametaenses foram originadas da relação:
a) dos índios parijós e camutás com os portugueses que chegaram a Cametá por volta do século XVIII e
XIX.
b) dos índios camutás com os portugueses que chegaram a Cametá por volta do século XVIII e XIX.
c) dos índios parijós e camutás com os ingleses que chegaram a Cametá por volta do século XVIII e XIX.
d) dos índios parijós com os franceses que chegaram a Cametá por volta do século XVIII e XIX.
e) dos índios parijós e camutás com os holandeses que chegaram a Cametá por volta do século XVIII e
XIX.
9. A cidade de Cametá teve papel destacado em um dos movimentos paraenses, pois foi por algum tempo
a sede do Governo da Província. O movimento foi:
a) a revolta da vacina. b) o movimento de canudos. c) o movimento de contestado.
d) a independência do Brasil. e) a Cabanagem.

10. O município cametaense teve destaque na produção econômica de produtos típicos da Amazônia,
como:
a) o arroz e feijão. b) a borracha e o cacau. c) a borracha e o feijão.
d) o cacau e o feijão. e) o arroz e o cacau.

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