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“A LITERATURA INFANTOJUVENIL
NA FORMAÇÃO DOS FILHOS”
COM PROFESSOR VICTOR MELO
SUMÁRIO
Sinopse .................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................... 5
Introdução ............................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................ 6
Introdução ................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................... 18
Parte 1
...................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................... 32
Parte 2............................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................... 42
Introdução ......................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................... 55
A Memorização ...................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................... 59
Enarratio ..................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................... 69
Introdução .............................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................. 79
A Ideologia do Historicismo 88
.............................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................
Que tipo de leitura deve fazer? Como o livro deve ser explorado?
BONS ESTUDOS!
INTRODUÇÃO
Sejam todos muito bem-vindos ao nosso curso de Literatura
idades mais propícias do que outras, em que esses livros se tornam, de fato,
mais relevantes.
serão transmitidos.
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AU L A 1
ORIGEM DA LITERATURA
INFANTOJUVENIL
Neste primeiro módulo, vamos tratar da origem da literatura
infantojuvenil.
abrangente.
infantojuvenil dizerem: “Olha, este meu livro não é infantil; uma das suas
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vezes propositadamente pelo próprio autor, que pensou a obra com essa
não é incomum.
claro que existem características mais específicas. São livros que servem para
em dia, mesmo os que oferecem obras do século XVIII, às vezes até do século
de cima de nós essa cúpula de vidro que é a Modernidade, e ter assim uma
infantojuvenil, e que todas essas obras teriam o mesmo valor; que já teríamos
tido tempo suficiente para aprender a escrever histórias para crianças. É por
isso que hoje em dia existem tantos livros nessa seara, mas não é bem assim.
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o novo fosse sempre o melhor ou se o novo lançamento fosse extremamente
como se orientar de forma mais objetiva e direta dentro deste cenário atual,
mais unitária, mais objetiva, é mais assertiva, e é isso o que os clássicos nos
excessiva.
Modernidade?
poucas coisas são mais úteis do que modificar ou adulterar de algum modo
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esse tipo de literatura. Então, é claro que existe um grande interesse pela
mercado livreiro.
estilo clássico, e ela disse que não poderia fazer isso, pois seria antiético.
“A arquitetura é daqui para a frente, não podemos voltar”, foi o que ela
e nesse caso os livros antigos seriam livros mortos. Mas veremos que não
conseguimos ver algumas coisas a partir do século XVII. Vamos fazer agora
pois muitos livros modernos são extremamente úteis, mas precisamos fazer
A infância estaria perdida? Como ficariam nossos filhos? Eles não seriam
bem-educados?
medievais não leram nada disso quando crianças. A intenção não é dizer
que se deve usar ou não determinado livro, essa não é a proposta do curso,
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um pieguismo estupidificante. É uma espécie de memória afetiva que cria
momentâneo.
XVII, com algumas exceções, como no caso de Ésopo, cujos textos eram
para crianças.
deu em 1744, com a obra The little pretty pocket-book, de John Newbery,
Não é possível definir que, a partir do século XVIII, tem início a literatura
infantojuvenil, e que o que foi produzido no período anterior era outra coisa.
Eles não entendiam muito bem do que estavam falando. Vamos comentar
São coisas que professores estão reproduzindo o tempo inteiro, seja nas
pedagógicos universitários.
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infância, quer dizer, a concepção de infância, na Idade Média, já foi
infância se estenderia até os 7 anos – e vamos ver como essa classificação foi
bem carregado, que era uma espécie de almanaque com vários textos
infantis, com enigmas. O poema de Sir Gowther, com 756 versos. Inclusive,
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um dos diferenciais da literatura infantojuvenil medieval eram textos em
756 versos é uma leitura que pode durar 2 ou 3 anos, por exemplo.
Então, existiam esses livros e muitos outros, e essas obras não estão
preciso compreender o que ficou perdido. E com certeza muita coisa ficou
para trás.
Considerações Finais
hoje. Tudo isso já era utilizado na Idade Média. E onde estão esses poemas?
Quem eram esses poetas? Quem eram esses menestréis? Muita coisa ficou
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esquecida, e a proposta deste módulo é justamente esclarecer que há
se estamos imersos em uma cultura que poderia ser outra, o que pode
essencial, o que seria essencial em todas elas. É isso o que vamos abordar
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AU L A 2
DESENVOLVIMENTO DA
CAPACIDADE DE LEITURA
Introdução
obras.
segundo módulo.
Isso quer dizer que uma família pode ter uma lista completamente diversa
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Os Períodos do Desenvolvimento Infantil
correto.
indicações mais específicas, com a subdivisão dos títulos que seriam mais
adequados a crianças de 4, 5, 7 anos, mas não é disso que vamos tratar aqui,
são flutuantes, por isso consideramos aqui uma idade mediana, razoável; é
claro que isso varia de acordo com a criança, mas não muito. Esses períodos
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em diante, até a adolescência, é a fase do terceiro período sensível.
educar passa a ter uma relação com eles. Educar vem do latim educare,
que significa guiar para fora ou extrair. Mas extrair o que, exatamente?
desses períodos.
termo; não se trata simplesmente de guiar para fora, de extrair, e sim extrair
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deve atuar principalmente nessas qualidades da alma que estão em
mais agudas.
didático a eles, vai evitar transições muito bruscas, ou seja, minimizar crises.
A Primeira Fase
pois isso é essencial para que ela faça associações gratuitas, as mais ricas
possíveis.
sua ação, na sua imersão, imaginação e realidade. É para ser assim, tem
de ser assim. Nós poderíamos falar sobre isso de forma mais detalhada,
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mas basicamente é o estudo da analogia, e esse não é o foco agora. Basta
do desenvolvimento.
orgânicas.
cérebro para a leitura, que por isso se confunde com o jogo; e é bom que
por isso os livros infantojuvenis para esse período sensível têm muitas
A ilustração, nessa fase, serve como um gancho que vai conduzir, nas
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sensível, mas também poderíamos chamar de leitura superficial, pois é uma
Então, como existem outras potências cognitivas que ainda não estão
divisão no foco.
Por exemplo, uma criança dessa idade ainda não tem desenvolvidas
questões mais sutis do afeto, como a generosidade, ela ainda não consegue
não está tão bem formada. Por isso também é importante observar suas
são vividas como pura realidade, e toda essa riqueza vem não somente
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palavras, mas ainda não pode comparar o sentido dessas palavras com
ela tem, não há com o que comparar, com o que fazer um contraste. E,
específica.
de seu imaginário; lembrando que a criança não é uma tábula rasa, o ser
imitar, isso é uma capacidade inata, que pode ser chamada de instinto de
é uma leitura superficial, e que deve ser superficial. Logo vamos entender
como lidar com essa superficialidade da forma mais adequada. “Mas por que
com a mentira somente a partir dos 8 anos, porque, quando uma criança
com menos de 8 anos mente, é muito possível que esteja em uma vivência
de fantasia, aquela mentira faz parte de um jogo que ela está criando
mentalmente, já que não faz essa distinção. A partir dos 8 anos, a criança
fiquem atentos para as mentiras das crianças somente após os 8 anos, pois
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já começa a ser algo mais problemático em termos educacionais.
ser denominada literacia. Vocês já devem ter ouvido falar nessa palavra.
jogos, vivências e experiências do dia a dia, enfim, tudo isso traz uma base
para a criança, essa é uma excelente palavra. Para a leitura nesse período,
a literacia seria uma espécie de prática social da leitura, que deve ocorrer
ênfase específica na linguagem. Por isso que se fala muito de uma ênfase
leitura para uma criança de 7 anos não precisa ser profunda, mas é bom que
seja uma leitura empolgada, porque é essa empolgação que dá vida ao texto.
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Esse período da literacia até os 7 anos antecede a maturação plena
formal dos textos, ao menos de modo mais rigoroso. É claro que o estudo
já mencionado.
maturação orgânica.
A Segunda Fase
nas palavras, ou seja, haverá agora o foco no texto, porque nessa idade as
Pode haver nesse período até uma certa fixação com as palavras. As
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estão acontecendo estará mais consolidada, então a criança reestruturará
vida também da criança. E isso acontece porque ela já tinha uma base de
impressões, e agora vai poder comparar com outras impressões que terá;
aprofundada.
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E-BOOK BP A LITERATURA INFANTOJUVENIL NA FORMAÇÃO DOS FILHOS
mais concretamente os valores. Porque, antes dessa idade, muitas vezes
os valores são adquiridos de forma mimética, por hábito, mas depois dos 7
será desenvolvida, você não tem para onde correr, está ali cercado por todos
alma. Na pedagogia moderna, muita coisa foi esquecida dessa relação entre
ser resgatada.
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A Terceira Fase
nem que quiséssemos, nem com o maior esforço do mundo seria possível
ensinar conceitos de silogismo ou de lógica formal a uma criança de 7 ou 8
algo, que têm uma missão, personagens que sabem para onde estão indo
Arthur Conan Doyle, O homem que queria ser rei, de Rudyard Kipling, A ilha
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categorizadas em um subgênero chamado gênero dos mundos perdidos.
uma espécie de releitura das antigas sagas dos épicos, uma releitura mais
adequada para essa idade. Isso não significa que todas essas histórias,
nas histórias.
ser sugeridas, adotadas, mas faz muita diferença conhecer esses períodos
indo.
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AU L A 3
CRIANÇAS
Parte 1
sobre o tema. Hoje, vamos falar sobre os gêneros literários e entender qual
textuais, para fins pedagógicos, são os gêneros literários, os quais têm uma
vamos falar de alguns gêneros não literários. Alguns gêneros não literários
(das cartas).
1 É importante distinguir gênero textual de tipo textual. Tipo textual define um texto de acordo com suas estru-
turas linguísticas e com seu objetivo. Os tipos textuais são: narrativo, dissertativo, descritivo, expositivo e injuntivo.
Já gênero textual se refere à materialização dos textos que ocorrem em nosso cotidiano, classificados de acordo
com seus aspectos comunicativos, sociais e funcionais e também por seu estilo, conteúdo e composição.
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texto muito objetivo. Ele contém informações importantes, às vezes muito
Ela deve compreender essas leis e entender a sua função, mas esse é um
reflexão, o que gera reclamações por parte dos alunos. Se isso acontece no
Ensino Superior, imagine com crianças. Por isso, o gênero legislativo não é
na Bíblia, por exemplo. Na verdade, todos esses gêneros não literários citados
ou seja, não é qualquer história que está sendo contada, não é qualquer
epístola que está sendo escrita, não é qualquer lei que está sendo descrita.
interrogativo.
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preparação para a Lógica, para outros gêneros da Razão e para os gêneros
do Juízo.
Outro gênero não literário é o diálogo oral, que deu origem, por
Alguns gêneros humorísticos são mais do que lúdicos; eles são curativos,
sua vida, a criança passa por suas próprias experiências, vivências, situações;
o que cria uma base de dados e oferece uma superfície de contraste para
uma outra vida, e permitem que nós tenhamos experiências que nunca
onze anos, na terceira fase dos períodos sensíveis, porque, como vimos, esse
ela vai perceber, por contraste, que aquilo é algo que ela não quer ser; já
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do que ela quer ser. Isso, é claro, é mediado por pais e professores.
gênero muito íntimo, ele permite que a criança entre em contato consigo
mesma, não simplesmente por contraste ao conhecer outras vidas, mas por
não literários mais nutritivos à inteligência, por assim dizer, são o diálogo
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retomar essas disputas de pontos filosóficos específicos, na idade correta,
juízo. Portanto, esses gêneros não literários não serão mais adequados após
terão tanto impacto antes dessa idade, porque, antes dessa idade, o cérebro
que vão exigir e precisar muito mais de textos imaginativos, portanto textos
literários.
e onze anos de idade. Caso uma criança não tenha tido uma formação
porque agora a imaginação conta com o apoio da Lógica, uma vez que as
Gêneros Literários
educativos, por que eles funcionam, por que eles desenvolvem a inteligência
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em si, e sim por uma característica da própria natureza humana. A alma
pois não poderia acontecer de outra forma. Foi assim, porque tinha de ser
e o elemento metafórico.
simbólica muito mais ampla do que textos mais objetivos, sobre os quais
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legislação ou um decreto. O que propomos é que sigamos o ritmo natural
são essenciais. Não por outro motivo, grandes sábios, como São Jerônimo,
O Gênero Narrativo
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narrativa: relações humanas, desafios, dramas, forças e fraquezas, virtudes
das narrativas, pois elas exigem que a criança espere por um sentido final
global ao fim da história. Se a história for ruim, esse sentido global pode ser
prejudicado e a criança pode ficar desmotivada. É por isto que é importante
selecionar boas histórias: para que, no fim, haja uma recompensa. Com as
original, para que tenhamos outra visão do que é enarratio. Enarratio, que
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textos. Por meio dessas perguntas, vamos fornecer gradualmente à criança
pré-Lógica dentro da própria Gramática e deve ser realizada com o uso dos
O Gênero Poético
disciplina música era estudada em conjunto com a poesia, por causa dos
é o grande jogo dos sábios. Ou seja, uma das grandes motivações dos
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e é dessa maneira que ela deve ser compreendida no uso educacional.
um texto que tem maior densidade literária: ele diz muito e apresenta
mais camadas de significado podem ser extraídas dele. Nós podemos nos
grande desafio.
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E-BOOK BP A LITERATURA INFANTOJUVENIL NA FORMAÇÃO DOS FILHOS
Parte 2
podem ser uma preparação para o épico. Contudo, o épico, por ser um
poema, exige também que se saiba jogar o jogo das palavras e o jogo dos
gênero mais avançado para onde devemos ser conduzidos, ou seja, é uma
que eram elogios também escritos, gênero muito comum na Idade Média,
em que muitas vezes a história de vida de uma pessoa era contada como
4 Luís Vaz de Camões (1524-1580) foi um poeta e dramaturgo português, considerado um dos mais importantes
escritores lusófonos.
5 Públio Virgílio Maro (70-15 a.C.) foi um poeta romano clássico, considerado o expoente da literatura latina.
6 Homero (928-898 a.C.) teria sido um poeta grego épico, autor de Ilíada e Odisseia. Atualmente, acredita-se
que o nome “Homero” seja fictício.
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utilizava muitos recursos literários, é classificado por vezes como um gênero
a ode, que é um poema que enaltece (um hino e um louvor são exemplos
de ode); o idílio, também conhecido como écloga, que são poemas que
desses gêneros poéticos deve conduzir ao poema épico, que é uma grande
O Gênero Sapiencial
provérbios podem ter elementos literários, mas são mais expositivos, isto
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O que é uma alegoria? Alegoria é uma figura de linguagem cujo
profundo. O ditado popular “água mole em pedra dura tanto bate até que
fura” tem um sentido alegórico para além do seu sentido literal. Provérbios e
para a educação, uma vez que, neles, o sapiencial está muito condensado. É
e a diferença entre o certo e o errado. Certa vez, uma aluna minha disse
direção rápido, imediato, algo prático. Por isso, os provérbios são um gênero
prático, pois oferecem uma sabedoria condensada, as chamadas pílulas de
sabedoria. Essa é a grande virtude dos gêneros sapienciais, compartilhada
pelas histórias sacras, que são um gênero narrativo e muitas vezes não
educação.
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papel dos contos é insubstituível no ensino de literatura.
sua curiosidade lúdica, coisa que nem sempre os contos fazem, e essa é a
ponto.
mito não nos diz o que de fato é um mito. O mito é uma história que deve
ser vivenciada como realidade. O que nós podemos fazer é uma leitura
profundo, de modo que eles não são adequados para as crianças. A leitura
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também conhecidos como contos de fadas ou como contos maravilhosos,
apólogos; mas eles as atraem não pela prosopopeia, e sim pelo espetacular,
Mais do que lúdica, a piada chegar a ser medicinal, porque ela nos
lógica formal.
crianças. Ele não vai trazer uma competência linguística para as crianças,
outros gêneros literários. Por isso, é importante que as peças de teatro para
crianças e jovens sejam bem selecionadas, para que sejam grandes eventos.
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Os Clássicos Literários
é uma palavra que se refere aos membros da alta classe, aos aristocratas, aos
uma história contada por Aulo Gélio7, em seu livro Noites áticas, que contém
para se referir aos nobres, aos optimates. Essa história conta que um jovem
estranho esse uso e disse: “Você deve usar arena, areia, no singular; não
arenae”. Frontão, com muita calma, disse ao jovem: “Tudo bem, você está
7 Aulo Gélio (123-165) foi um jurista, escritor e gramático latino. Noites áticas, em vinte volumes, é sua única obra
conhecida.
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que resistiu à passagem do tempo, testada pela tradição, e que serviu
varia, mas 100 anos é um tempo muito curto para se dizer, com certeza,
mais confiável. Contudo, isso não impede que textos mais recentes sejam
considerados clássicos, pois existem obras que têm uma tendência natural
provisórios, que ainda precisam passar por um teste maior do tempo; isso
discutir sobre essa obra, para, enfim, chegarem a um veredicto sobre sua
As Obras Adaptadas
devem ser adaptadas para que esse conhecimento chegue de forma mais
pode trazer alguns prejuízos, uma vez que as experiências com os livros
leitura com uma adaptação, guardar, por exemplo, Moby Dick, de Herman
Melville8, para mais tarde. Essa seleção vai do critério dos pais, para que a
8 Herman Melville (1819-1891) foi um romancista, contista e poeta norte-americano.
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criança, quando estiver mais velha, leia o original, e não a adaptação. Por
você mesmo; você não vai gostar necessariamente de tudo que é sugerido.
A respeito dessas sugestões, deve existir o teste dos pais e o das crianças,
porque elas também precisam ter a oportunidade de avaliar e escolher.
fundamentais, pois sem elas não existe país sério, nem existe intelectualidade
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E-BOOK BP A LITERATURA INFANTOJUVENIL NA FORMAÇÃO DOS FILHOS
conhecendo as obras, conversando com pais e com professores. Esse é o
literatura infantojuvenil.
para ser lido. Eles também podem ser organizados pelas virtudes. O livro
das virtudes, de William Bennett9, faz exatamente isso. O que esse autor
criou com esse livro foi uma pequena biblioteca, pois selecionou textos
incentiva na criança.
Para os contos, inclua grandes contos como “Os seis Napoleões”, de Arthur
“O lírio d’água”, “As fiandeiras de ouro”, que estão n’O fabuloso livro azul,
9 William John Bennett (1943) é um político e teórico político norte-americano. Foi Secretário da Educação de
Ronald Reagan.
10 Arthur Conan Doyle (1859-1930) foi um escritor e médico britânico, famoso por ter criado o detetive Sherlock
Holmes. Suas histórias revolucionaram o gênero romance policial.
11 Henrique Maximiano Coelho Netto (1864-1934) foi um escritor, político e professor brasileiro, membro da Aca-
demia Brasileira de Letras.
12 Esopo (620-564 a.C.) foi um fabulista, mitógrafo e filósofo grego, a quem se atribui a criação do gênero literário
fábula.
13 Jean de La Fontaine (1621-1695) foi um poeta e fabulista francês, considerado o pai da fábula moderna.
14 Fedro (séc. I d.C.) foi um fabulista romano, responsável por traduzir, pela primeira vez, as fábulas de Esopo
para o latim.
15 Flávio Aviano (c. 400) foi um poeta romano autor de fábulas em latim.
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E-BOOK BP A LITERATURA INFANTOJUVENIL NA FORMAÇÃO DOS FILHOS
de Andrew Lang16, ou “O gigante egoísta”, de Oscar Wilde17, que é um
texto mais recente, mas que tende a se tornar um clássico. Organize, por
saga. Os três mosqueteiros ou Ben Hur são histórias mais propícias para
que é mais indicado para jovens. Em uma prateleira de poesia, inclua “As
às crianças.
16 Andrew Lang (1844-1912) foi um poeta, romancista e crítico literário escocês.
17 Oscar Wilde (1854-1900) foi um escritor, poeta e dramaturgo irlandês, conhecido principalmente por suas
epigramas, suas peças e pelo romance O retrato de Dorian Gray.
18 Santa Paula de Roma (347-404) é uma santa cristã, considerada copatrona da Ordem de São Jerônimo.
19 Ernest Miller Hemingway (1899-1961) foi um romancista, contista, jornalista e esportista norte-americano. Seu
estilo de escrita influenciou a literatura ficcional do século XX, e muitas de suas obras são consideradas clássicos
da literatura americana.
20 Laura Ingalls Wilder (1867-1957) foi uma escritora norte-americana, cujo maior sucesso, Uma casa na campi-
na, é baseado em sua infância e adolescência como pioneira americana no Meio-Oeste.
21 John Ronald Reuel Tolkien (1892-1973) foi um escritor, poeta, filólogo e acadêmico inglês, mais conhecido por
suas obras de alta fantasia O Hobbit e O Senhor dos anéis.
22 Gilbert Keith Chesterton (1874-1936) foi um escritor, filósofo, teólogo leigo e crítico literário e de arte inglês.
23 Olavo Bilac (1865-1918) foi um poeta, cronista, contista e jornalista brasileiro, membro fundador da Academia
Brasileira de Letras e um dos principais representantes do Parnasianismo no Brasil.
24 Casimiro de Abreu (1839-1860) foi um poeta brasileiro, representante da segunda geração do Romantismo.
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E-BOOK BP A LITERATURA INFANTOJUVENIL NA FORMAÇÃO DOS FILHOS
repleta de livros clássicos e de antologias, ou seja, da seleção dos melhores
opinião pública.
biblioteca em casa.
25 Charles Kingsley (1819-1875) foi um pastor da Igreja Anglicana, professor universitário, historiador, romancista
e poeta inglês.
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E-BOOK BP A LITERATURA INFANTOJUVENIL NA FORMAÇÃO DOS FILHOS
AU L A 4
COMO EXPLORAR
A LITERATURA
INFANTOJUVENIL
Introdução
crianças.
Homo sapiens é sapiens porque é literário, ou seja, por meio dos gêneros
Uma vez dito isso, entramos em alguns aspectos mais práticos sobre
Literatura.
Como explorar isso? Como levar isso para outros níveis? Como fazer
para fazer isso e seguir adiante. Nem sempre temos essa possibilidade
caminhos para que, dentro das nossas possibilidades, sigamos o que for
possível no momento.
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E-BOOK BP A LITERATURA INFANTOJUVENIL NA FORMAÇÃO DOS FILHOS
Os Primeiros Passos
No primeiro período sensitivo, que nós vimos que vai desde a fase de
imersiva e vivida — pode ser uma leitura que não é profunda, mas tem de
ser uma leitura empolgada.
Isso pressupõe que o adulto, ou seja, quem irá ler o texto para a
criança nessa tenra idade, muitas vezes é mais importante do que o próprio
texto nesse momento, pois parte da leitura que a criança fará será conduzida
pelo adulto. Quem usa o texto — pai, mãe ou professor — irá determinar o
que, depois desse período da literacia, essa relação continuará desse modo,
porque os livros, depois dos sete ou oito anos de idade, começam a ter
texto.
primeiro período sensitivo. Uma primeira sugestão que deve ser comentada
sempre é possível — é que haja uma imersão dos pais ou dos professores
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E-BOOK BP A LITERATURA INFANTOJUVENIL NA FORMAÇÃO DOS FILHOS
quotidianamente relembrem os significados do texto.
a fim de que este não se encerre após a leitura. Muitos elementos relevantes
pai pode lembrar o filho de que essa atitude lembra aquele personagem
vilão da história tal, porque a criança não fará essa relação naturalmente —
quotidiana; não precisa ser uma obra específica para que isso não se
ler todos os dias se possível — ou ler com as crianças, ou fazer com que
mas isso não é recomendável, porque o livro, neste caso, está sendo tratado
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E-BOOK BP A LITERATURA INFANTOJUVENIL NA FORMAÇÃO DOS FILHOS
dos sete anos de idade, consiste em trabalhar intensamente com a contagem
grande desafio.
Não devemos ler o poema e dizer que não entendemos nada, mas,
em vez disso, nos perguntarmos: por que não entendi nada? O que esse
autor está querendo dizer com esse verso? Isso tem um motivo: idealmente,
palavras não podem ser substituídos por outros equivalentes, isso significa
que é poeta aquele que melhor diz. Se isso é assim e você não compreendeu,
participantes.
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E-BOOK BP A LITERATURA INFANTOJUVENIL NA FORMAÇÃO DOS FILHOS
A Memorização
antigos e medievais.
seria baixar um pouco a cabeça e refletir se, na verdade, somos nós que
sobre essa construção sintática? Se até nós precisamos nos atentar para
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E-BOOK BP A LITERATURA INFANTOJUVENIL NA FORMAÇÃO DOS FILHOS
responder a essa pergunta foi o Aluísio, marido da Waleska Montenegro1 —
daquele período.
Uma outra função, ou uma outra habilidade, que deve ser explorada
fazer o seu filho ficar servindo de assunto e atenção para as visitas? Não. Isso
até pode ser interessante, mas somente o é à medida que os elogios podem
partes que serão mais baixas, outras mais altas, de acordo com a intenção
prática, mesmo na prática intuitiva, sem precisar ler nenhum manual sobre
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E-BOOK BP A LITERATURA INFANTOJUVENIL NA FORMAÇÃO DOS FILHOS
de memorização, vai descobrindo isso por si só. Isso não significa que a
potência mnemônica dela vai aumentar, mas que as estratégias que ela
sua potência natural — há causas genéticas que podem pesar sobre esse
assunto também.
dominar a arte de ler. Mas pergunto: desses dois grandes objetivos, qual é o
resposta correta, mas fato é que desenvolver o hábito da leitura não é tão
por aí. As pessoas estão tão obcecadas com essa questão de hábito da
leitura a tal ponto que está havendo uma confusão de objetivos. É claro
clássica, é fazer com que a criança domine a arte de ler. Ainda que ela passe
dez anos sem ler grandes obras literárias, o objetivo é criar oportunidades
2 Dante Alighieri (1265-1321) foi um escritor, poeta e político florentino, nascido na atual Itália. Destacou-se princi-
palmente pela sua obra magna chamada A Divina Comédia.
3 Mortimer Adler (1902-2001) foi um filósofo americano, educador e autor popular.
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o analítico e o sintópico. Poderíamos falar sobre essas classificações de
vezes não estamos lendo um texto pela segunda vez e nos deparamos
evidente, então é literal, e por que não tínhamos visto antes se é a primeira
por vezes, ela pode vir no final de um estudo gramatical profundo, quando
que não estávamos notando. Então, o sentido literal pode nos ser invisível
Sugiro que, para que se atinja o domínio da arte de ler, você observe
sempre isso foi o grande método dos antigos. Sugiro que você leia alguns
com essas atividades desses grandes gramáticos, observem como eles leem
Notem que não estou fazendo um manual, não estou sugerindo que
você deva seguir cada detalhe passo a passo. Busque esse contato, observe
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E-BOOK BP A LITERATURA INFANTOJUVENIL NA FORMAÇÃO DOS FILHOS
ou contrate grandes professores de Gramática para que essa compreensão
humano demais para que isso seja aprendido por manuais ou por dicas
amigo, conhecerá também o texto. Por que você é capaz de ler um amigo
íntimo? Porque você convive com ele, porque você criou essa cumplicidade,
essa intimidade, você gosta do seu amigo, você dá oportunidade para o seu
amigo falar, você escuta o seu amigo. Se você não tiver essa relação, se a
criança não tiver essa relação com o texto, fica difícil. Então, o movimento
de Andrade4 no seu poema “Procura da Poesia”, já nos avisa disso. Ele diz
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“convive com os teus poemas”. Ele estava falando de uma perspectiva do
uma tem mil faces sobre a face neutra”. Isso é uma descrição do que é ler
com alma: convive com os textos, tenha paciência com os textos, assim
como você tem paciência com o seu amigo quando ele está obscuro;
em que lugar essa provocação quer levá-lo. Muitas vezes um amigo nos
jovem com um texto e isso tem de ser buscado, isso é ler com alma, e esse
das classificações.
faça boas perguntas ao texto, assim como você faz para os seus amigos.
quanto mais relevante, quanto mais íntima, quanto mais profunda, quanto
manual, por exemplo, sobre como fazer perguntas aos nossos amigos? Não,
mas é justamente essa intimidade que vai fazendo com que as perguntas
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E-BOOK BP A LITERATURA INFANTOJUVENIL NA FORMAÇÃO DOS FILHOS
E esse é o convite que eu quero fazer para vocês: aproveitem todo
esse conteúdo para que vocês realizem uma melhor educação literária
para que essa formação seja utilizada em proveito próprio — esse estudo
gramatical verdadeiro.
criança também identifique qual é o seu autor favorito. O gosto por algum
autor específico, de preferência um autor que tenha uma obra mais vasta,
As Crônicas de Nárnia para ler — e lhe custará certo tempo para finalizar
5 Clive Staples Lewis (1898-1963), comumente referido como C. S. Lewis, foi um professor universitário, escritor,
romancista, poeta, crítico literário, ensaísta e teólogo irlandês. Ficou conhecido por inúmeras obras como As
Crônicas de Nárnia, Cartas de um Diabo a seu Aprendiz, e Cristianismo Puro e Simples.
6 John Ronald Reuel Tolkien (1892-1973), mais conhecido internacionalmente por J. R. R. Tolkien, foi um escritor,
professor universitário e filólogo britânico. Destacou-se por obras como O Senhor dos Anéis, O Hobbit e O Silmar-
illion.
7 Arthur Ignatius Conan Doyle (1859-1930) foi um escritor e médico britânico mundialmente conhecido por suas
histórias sobre o detetive Sherlock Holmes.
8 William Shakespeare (1564-1616) foi um poeta, dramaturgo e ator inglês tido como o maior escritor da língua
inglesa e influente dramaturgo no mundo todo.
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E-BOOK BP A LITERATURA INFANTOJUVENIL NA FORMAÇÃO DOS FILHOS
Chesterton9 — com As Aventuras do Pe. Brown.
restrições a alguns poemas de Pessoa, que para mim era o maior poeta
apesar de haver uma disputa entre os dois. Mas essa leitura de imersão foi
leitura vertical.
9 Gilbert Keith Chesterton (1874-1936), mais conhecido como G. K. Chesterton, foi um escritor, poeta, dramatur-
go, jornalista, palestrante, biógrafo e crítico de arte inglês. Além de ser conhecido pelo seu personagem de ficção,
o sacerdote-detetive Padre Brown, também é bastante conhecido por sua apologética em livros como Ortodoxia
e O Homem Eterno.
10 Luís Vaz de Camões (1524-1579 ou 1580) foi o poeta português, considerado como uma das maiores figuras da
literatura lusófona, se não for a maior, por sua obra magna Os Lusíadas.
11 Fernando António Nogueira Pessoa (1888-1935) foi um poeta, filósofo, dramaturgo, ensaísta, tradutor, public-
itário, astrólogo, inventor, empresário, correspondente comercial, crítico literário e comentarista político portu-
guês.
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E-BOOK BP A LITERATURA INFANTOJUVENIL NA FORMAÇÃO DOS FILHOS
Os Tipos de Leitura
livros: você sai de uma leitura e depois passa para outra sem refletir, ou
você apresenta um livro para uma criança, ela lê e ali se finaliza o ato. Essa
literacia, em que a criança terá muitos contatos com uma base de dados, um
Gramática.
da arte de ler, por isso leitura vertical, porque vamos adentrando, vamos
Os antigos faziam isso por qual motivo? Pela intuição? É claro, mas
também porque não havia tantos livros disponíveis, por exemplo, a grande
muitas vezes possuem bibliotecas pessoais de dois, três, cinco mil livros —,
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E-BOOK BP A LITERATURA INFANTOJUVENIL NA FORMAÇÃO DOS FILHOS
Isso significa que os antigos não tinham tanto acesso a livros como
suporte de plástico e nele ela colocava alguns livros, e assim comecei a criar
leitura vertical é o conceito dos três modos retóricos de Ezra Pound12. O que
12 Ezra Weston Loomis Pound (1885-1972) foi um poeta e crítico literário norte-americano que junto de T. S. Eliot
foram as maiores figuras do movimento modernista no início do século XX.
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Utilizando o olhar da fanopeia, observaremos quais são os cenários e as
são descritos? Eles não são descritos? Como podemos imaginá-los? Isso é
pois não é só o olhar, está tudo envolvido: o que você sente ao ler o texto? O
texto tem perfume? Ou seja, o texto tem uma característica muito peculiar?
de fato, muitos leitores relatam que, quando estão muito envolvidos com
Enarratio
prática e depois pensemos o que ela é. Peguemos, por exemplo, uma grande
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E-BOOK BP A LITERATURA INFANTOJUVENIL NA FORMAÇÃO DOS FILHOS
sobretudo, o olhar da logopeia.
Cautelosas e prudentes,
O caminho atravessando,
As formigas diligentes
E nenhuma se fatiga,
vimos que Olavo Bilac utilizou a marcha como um verbo para descrever
a ação das formigas. Percebam que isso é uma enarratio preparada para
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E-BOOK BP A LITERATURA INFANTOJUVENIL NA FORMAÇÃO DOS FILHOS
que a criança seja conduzida a um nível mais profundo de compreensão
entre o soldado e a formiga? Por que essa relação? Por que ele escolheu
— qual o sentido da palavra espiar. Por que Olavo Bilac utilizou espiar?
Não está no sentido de bisbilhotar. As formigas espiam, mas elas não estão
nesse caso. Outra pergunta que podemos fazer ao texto: como as formigas
de visão, digamos assim, mas elas espiam. Então, existe uma figura de
vocês pesquisarem.
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E-BOOK BP A LITERATURA INFANTOJUVENIL NA FORMAÇÃO DOS FILHOS
Por que as formigas estão assustadas também? Por que elas são
lições. Mas por que elas estão assustadas? O que elas temem? Elas temem
Bilac não pensou na porta estreita de Cristo? Eu acho muito provável que
ele tenha feito essa relação, e, se ele não fez, podemos questionar.
estrada”, notem que essa frase tem uma característica específica, tem uma
diferença das outras. Isso não parece uma alegoria? Não parece uma frase
carrega cada homem aquilo com que se deparada na vida. Temos, nessa
Bilac dá mais atenção no texto? Existe uma estrofe em que Bilac parece dar
que são três formigas a que ele dá atenção, e uma das formigas carrega
uma pata de inseto. Por que ela carrega uma pata de inseto? Será que
isso é aleatório? Temos de passar por cima? Não podemos fazer nenhuma
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E-BOOK BP A LITERATURA INFANTOJUVENIL NA FORMAÇÃO DOS FILHOS
inseto, muito provavelmente, porque é o que tinha para levar, porque elas
farão muito com pouco. Isso é um verso que pode dizer respeito ao que
você vai fazer diante das suas insatisfações, porque muitas situações não
serão satisfatórias. Nós queremos mais, mas a formiga guarda e leva uma
com amor será possível fazer isso, e esse tipo de atividade é a grande
O Hábito de Leitura
tenhamos desenvoltura para relacionar o que foi lido no dia anterior com
o que está sendo lido agora — essas informações têm de ser relacionadas.
se crie o hábito.
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E-BOOK BP A LITERATURA INFANTOJUVENIL NA FORMAÇÃO DOS FILHOS
intelectual, mas não será mais visto como algo cansativo. Esse esforço
isso vai criando a noção de jogo na criança, mas que mais podemos fazer
ela diz “ah! não tenho gosto pela leitura!” Não interessa, responda: “sente
tempo inteiro.
para responder perguntas sobre o texto e não as forçar a ler um clássico que
o hábito da leitura, que ela irá desenvolver a arte de ler, que é o grande
objetivo.
leitura, você lerá esse texto, e depois eu quero conversar com você sobre esse
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E-BOOK BP A LITERATURA INFANTOJUVENIL NA FORMAÇÃO DOS FILHOS
— utilizando a linguagem de René Girard14 —, o pai e a mãe são modelos
miméticos para a criança. Então, se o pai e a mãe leem ou se eles têm uma
existem até brinquedos que têm essa proposta. Alguns dados, por exemplo,
com a brincadeira, como se fosse um jogo. Essa associação vai sendo feita
e lhe dar oportunidades para que leia por mera diversão. Isso gera uma
de Nárnia ou sobre O Senhor dos Anéis? É uma rede social bastante sadia
14 René Noël Théophile Girard (1923-2015) foi historiador, crítico literário, antropólogo, filósofo, teólogo, sociólogo
e filólogo francês. Por conta de suas inovações no estudo da antropologia, literatura, psicanálise e história das
religiões, foi apelidado de “Darwin das ciências humanas”.
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E-BOOK BP A LITERATURA INFANTOJUVENIL NA FORMAÇÃO DOS FILHOS
se assuste com palavras muito difíceis. Então, devemos ir gradualmente
essas alterações de 6 em 6 meses. Talvez não seja possível, talvez seja preciso
esperar um ano, mas depois de 6 meses tente livros mais densos, apresente
livros com palavras mais difíceis e com menos ilustrações para as crianças.
muitos jovens que leem muita porcaria. Eles têm o hábito da leitura, mas
que diz “quem lê viaja”. Quem lê viaja? Mas viaja para onde? Viaja com que
qual um rapaz seduzia uma garota dizendo que tinha lido Fernando Pessoa.
Querem dizer, então, que a leitura serve para conquistar alguém? Isso é
alguns alunos que já me relataram que por muito tempo leram bobagens
finalidade não é ter o hábito de ler aqueles livros, mas a finalidade é ter o
resiliência por uma recompensa que ainda está por vir, e isso é um hábito
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E-BOOK BP A LITERATURA INFANTOJUVENIL NA FORMAÇÃO DOS FILHOS
cognitivo muito importante para muitas outras coisas na vida — saber
muitas vezes, a criança terá uma outra visão do livro, ela simplesmente não
atividade.
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E-BOOK BP A LITERATURA INFANTOJUVENIL NA FORMAÇÃO DOS FILHOS
AU L A 5
A SUBVERSÃO DA
LITERATURA INFANTIL
Introdução
de literacia em que o livro está imerso numa prática mais social da leitura
mais rica possível — até porque, a criança ainda não tem a possibilidade de
para escrever o que quiser — tanto é livre para retratar a realidade quanto os
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E-BOOK BP A LITERATURA INFANTOJUVENIL NA FORMAÇÃO DOS FILHOS
aspectos mais variados da realidade e apresentar isso à criança — mas isso é
do acesso à criança.
notamos que faz parte da natureza do gênero essa tensão, sempre houve
criança; e, do outro lado, há aqueles que defendem que não é qualquer coisa
que pode ser oferecida à criança. Vamos agora nos atentar à essa primeira
imaginário da criança, o que quer dizer que ela tem de ter acesso a um
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E-BOOK BP A LITERATURA INFANTOJUVENIL NA FORMAÇÃO DOS FILHOS
clássica, sem restrições, ou seja, existem coisas que são inadequadas
para certa idade porque existem conteúdos que são prejudiciais. Isso não
Isso é bastante evidente, mas, se isso é tão evidente, por que tanta
Esse pano de fundo de verdade presente nesse discurso será inflado a tal
ponto que começa uma polêmica: de um lado, nós devemos ter acesso
irrestrito aos livros; por um outro lado, os pais preocupados dizem que seus
clássica e que estão preocupados com o acesso irrestrito, não querem bancar
quer fazer esse papel, mas dentro de casa a coisa é diferente, qualquer pai
Quem quer bancar o democrático e dizer que trabalha com todo o tipo
absorvidos por essa ideologia do acesso irrestrito. Não é por esse caminho,
no século XIX, e, nos países em guerra, por exemplo, não existe, porque
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E-BOOK BP A LITERATURA INFANTOJUVENIL NA FORMAÇÃO DOS FILHOS
liberar textos de qualquer forma pode fazer um país perder a guerra. Então,
outro lado, nós sabemos que a liberdade de imprensa é um valor que não
pode ser descartado, mas entendamos que, até o século XIX, todo o mundo
cultural.
surgiu a imprensa, não fazia mais sentido aquele texto, por isso ele foi deixado
apegar a fetiches, ainda que seja um fetiche belo e agradável aos olhos
do mundo.
mais imaginária.
1 O Index Librorum Prohibitorum, em tradução livre o Índice dos Livros Proibidos, era uma lista de publicações
proibidas consideradas como heresia, anticlericais ou lascivas pela Igreja Católica.
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E-BOOK BP A LITERATURA INFANTOJUVENIL NA FORMAÇÃO DOS FILHOS
Muitos dos escritores que são ideológicos — e eles sabem que são
que a sua literatura ideológica também chegue nas crianças, nas famílias e
nas escolas, na verdade, existe um lobby enorme para que isso aconteça.
e preocupações dos pais, então, não se pode chamar isso de uma síndrome
da criança, muitas vezes, não são rastreáveis — não há como saber como a
contudo, esse mesmo argumento pode ser utilizado para ambos os lados.
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E-BOOK BP A LITERATURA INFANTOJUVENIL NA FORMAÇÃO DOS FILHOS
Por exemplo, a leitura que batizou meu imaginário, digamos assim,
com muita empolgação. Mas, passado algum tempo, refleti: adorei o livro
naquele período, mas não sei se o excesso de histórias sobre viagens para
isso tem um aspecto muito positivo, mas perdi a noção, até certo ponto, de
lugar, devemos lutar por aquela população daquele lugar, esse é um valor
Hazard3 é dito claramente que uma das chaves para que a modernidade
até recomendei para vocês —, mas é explicado que naquele período essas
2 As Viagens de Marco Polo, também conhecido como Livro das Maravilhas do Mundo, é um livro escrito por
Rusticiano de Pisa baseado nas histórias que este ouviu de Marco Polo que empreendeu viagens para a Ásia
entre 1271 e 1295.
3 Paul Gustave Marie Camille Hazard (1878-1944) foi um historiador e ensaísta francês.
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E-BOOK BP A LITERATURA INFANTOJUVENIL NA FORMAÇÃO DOS FILHOS
e a pós-modernidade para questionar continuamente os valores da
civilização ocidental. Vejam o quão sutil isso é, uma literatura que é positiva,
pode, eventualmente, trazer problemas. Não quero, com isso criar nenhum
Então, não fará tanta diferença hoje em dia e pode ser uma experiência
literária agradável. Só dei esse exemplo para que todos percebam que isso
não era rastreável da minha parte — são coisas muito sutis que podem de
fato prejudicar.
não são previsíveis, é uma presa fácil dessa comunicação indireta e os grandes
Por outro lado, nós temos também o mito do escritor infantil. Existe
uma visão muito comum de que o escritor infantil é uma boa pessoa
4 Clive Staples Lewis (1898-1963), comummente referido como C. S. Lewis, foi um professor universitário, escritor,
romancista, poeta, crítico literário, ensaísta e teólogo irlandês. Ficou conhecido por inúmeras obras como As
Crônicas de Nárnia, Cartas de um Diabo a seu Aprendiz, e Cristianismo Puro e Simples.
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E-BOOK BP A LITERATURA INFANTOJUVENIL NA FORMAÇÃO DOS FILHOS
santidade, como se escrever histórias infantis fosse uma espécie de talismã
mágico que, de repente, purifica e unifica todos e traz a paz mundial, mas
A Ideologia da Biblioterapia
“quem lê, viaja” ou “quem lê, viaja, então vamos ler e vamos viajar”. Viajar
em emissoras de TV.
muitas pessoas que possuem o hábito de leitura, mas elas só leem livros de
A Ideologia Política
Grande parte da ideologia nos livros está oculta e, na verdade, não só oculta,
como muitas vezes mascarada do seu oposto. O escritor tenta dar uma
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E-BOOK BP A LITERATURA INFANTOJUVENIL NA FORMAÇÃO DOS FILHOS
são nutridas e crescem numa sociedade não pode se dar ao luxo de
A Ideologia da Subjetividade
pessoal com o livro. Notem quanto isso é verdadeiro, mas foi transformado
conseguimos saber o tipo de reação que a criança terá com a leitura, existe
A Idelogia do Pseudorrealismo
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E-BOOK BP A LITERATURA INFANTOJUVENIL NA FORMAÇÃO DOS FILHOS
Peguemos, por exemplo, as histórias sacras. Elas mostram só o
isso está presente. No final das contas, muitas vezes, isso se torna apenas
sobre outro.
A Ideologia do Historicismo
Essa não é uma ideia marxista, ela é muito mais antiga, Marx apenas
5 Karl Marx (1818-1883) filósofo alemão e principal autor comunista. Escreveu as principais teorias do pensa-
mento comunista e deu origem ao pensamento marxista, que conta com milhares de adeptos e intelectuais
influentes. Seu pensamento, ao longo das décadas, sofreu várias reformulações e acréscimos, o que permitiu
sua ramificação em vários segmentos. Autor de O capital, 3 vols. (1867-1895); A crítica da filosofia do direito de
Hegel (1843); Manifesto do Partido Comunista (1848), entre vários outros. Dentre a sua produção, destacam-se O
Manifesto Comunista e O Capital, que tiveram grande influência no desenvolvimento do movimento comunista
e seus desdobramentos posteriores como a Revolução Russa (1917) e a Revolução Comunista Chinesa (1949).
6 Renascimento foi um período histórico e movimento cultural, intelectual e artístico surgido na Itália, entre os
séculos XIV e XVII. Atingiu seu ápice no século XVI. Surgido na Itália, representou um grande desenvolvimento
das artes, literatura e ciências por meio da retomada de temas, ideais e técnicas utilizadas durante a Antiguidade
greco-romana.
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E-BOOK BP A LITERATURA INFANTOJUVENIL NA FORMAÇÃO DOS FILHOS
A Ideologia de Gênero
Trago para vocês o livro Aparelho Sexual e CIA.7 que, de certa forma, foi
Os Problemas de Espiritualidade
literatura infantojuvenil.
a Pomba?”, mas alguns contos não são assim, por exemplo, aquele que se
Tia Yentl gostava de falar sobre espíritos, demônios e duendes, então ela lhe
respondeu:
Sim, existe um espírito chamado assim, hoje as pessoas não acreditam mais
nessas coisas, mas no tempo, no meu tempo, sabiam que nem tudo pode
é um diabrete, mas não tem nenhuma malícia, não causa nenhum dano, ao
7 Aparelho Sexual e CIA.: Um Guia Inusitado para Crianças Descoladas é um livro produzido por Zep, Hélène
Bruller e Eduardo Brandão.
8 Isaac Bashevis Singer (1902-1991) foi um escritor judeu-americano que recebeu o prêmio Nobel de Literatura
em 1978.
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E-BOOK BP A LITERATURA INFANTOJUVENIL NA FORMAÇÃO DOS FILHOS
contrário, tenta ajudar ao máximo os membros de uma casa, ele faz parte
Temos de estar atentos a essa linguagem dos grilos ou dos pássaros. Essas
É claro que existe uma concepção religiosa específica que está sendo
Contos de Fadas
fadas — ou contos de fantasia que seria o nome mais justo — que estavam em
9 No canal do Instagram, o professor escreveu um texto mais completo sobre os mitos dos contos de fadas que
está um pouco mais detalhado que esta aula.
10 Andrew Lang (1844-1912) foi um escritor escocês e ficou conhecido principalmente pelos seus trabalhos sobre
folclore, mitologia e religião.
11 Juliana Horatia Ewing (1841-1885) foi uma escritora de histórias infantis inglesa.
12 Mary Louisa Molesworth (1839-1921) foi uma escritora infantil inglesa.
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E-BOOK BP A LITERATURA INFANTOJUVENIL NA FORMAÇÃO DOS FILHOS
contos de fadas e dar uma atenção maior a essas histórias que estavam
caindo em desuso. O próprio Tolkien13 fala no seu livro Árvore e Folha que
não são as crianças que decidem e que as crianças não gostam mais dos
comentei e até sugeri alguns contos de fadas nos módulos anteriores, tão
somente estou comentando isso para que nós não entremos em visões
nefelibatas.
Azul de Andrew Lang — recomendo, inclusive, que você tenha essa coleção.
essas histórias e ele impõe sobre elas o seu estilo. O que está descrito
naquelas histórias não são só o que pertencia à tradição oral, mas também
academia francesa.
13 John Ronald Reuel Tolkien (1892-1973), mais conhecido internacionalmente por J. R. R. Tolkien, foi um escritor,
professor universitário e filólogo britânico. Destacou-se por obras como O Senhor dos Anéis, O Hobbit e O Silmar-
illion.
14 Charles Perrault (1628-1703) foi um escritor e poeta francês que estabeleceu as bases para um novo gênero
literário conhecido até hoje como contos de fadas.
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E-BOOK BP A LITERATURA INFANTOJUVENIL NA FORMAÇÃO DOS FILHOS
herança dentre três irmãos, apenas um gato. Achando que seria uma
herança muito mixuruca, que não valeria nada, o gato lhe diz que mostrará
que a herança não foi tão ruim, pede-lhe uma bolsa e um par de botas para
segue.
Um dos trechos da história diz que o par de botas é para que seja
mundo jurídico. É uma pena que existe esse tipo de comentário, mas é
ele queria ter um status necessário para as malandragens que iria realizar
Há um outro trecho da história que diz que as botas que lhe eram
inúteis para caminhar sobre as telhas, então essas botas têm relação com
o chão, com a imanência, com esse mundo material, esse mundo pesado
e não têm nada a ver com o mundo celestial — a bota representa isso
também.
ele tira várias ideias e a utiliza como armadilha, para tudo ele utilizará essa
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E-BOOK BP A LITERATURA INFANTOJUVENIL NA FORMAÇÃO DOS FILHOS
Ele faz armadilhas astutas para capturar os camundongos, finge-se
Outro trecho diz que ele esperou alguns coelhinhos que ainda não estavam
escolhe para capturar. O gato esperou que esses coelhinhos viessem revirar
a sua bolsa em busca do que havia e ele os matava sem piedade. Então
era justamente o garoto pobre, para impressionar o rei. E assim ele foi
presenteando o monarca com esses coelhos, o rei começou a gostar do gato
de botas a tal ponto que começou a pensar que esse Marquês de Carabás
O gato, então, combina com o garoto para que este finja estar se
afogando quando o rei estivesse passando próximo ao rio. E assim ele faz,
entra no rio sem roupas, começa a gritar fingindo que está se afogando
e o gato grita por socorro — naquele momento ele sabia que o rei estava
passando —, o rei parou, viu que o seu querido Marquês de Carabás, que
Muito bem vestido, ele impressiona a filha do rei — ele era muito
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E-BOOK BP A LITERATURA INFANTOJUVENIL NA FORMAÇÃO DOS FILHOS
em pedacinhos caso não dissessem que trabalhavam para o Marquês de
vai saudar o gigante antes de a carruagem chegar e diz ao gigante que está
gigante. Assim ele impressiona o rei e este o casa com sua filha.
ver história por história. Esse tipo de generalização é perigoso, pois existem
por Charles Perrault que não está presente nos livros coloridos. Leremos
aqui então a moral da história, a lição que Charles Perrault diz que a criança
deve retirar dessa história do gato de botas: “por mais que seja a abastança
usufruída como uma herança que de pai a filho nos vem, de ordinário na
mocidade, esforço, tino e habilidade, têm mais valor que qualquer bem”.
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E-BOOK BP A LITERATURA INFANTOJUVENIL NA FORMAÇÃO DOS FILHOS
é ameaçador. Pela própria história, percebemos isso, mas ainda há uma
uma apologia à malandragem eu não sei mais o que é, e notem que é uma
que escreveu muito sobre censura literária, tem um grande livro chamado
Isso não é exatamente o tipo de moral que nós queremos ensinar para os
nossos filhos.
Azul”, que é uma história que, na verdade, é uma história de terror, e por isso
mesmo não é indicada para crianças. Mas é um conto muito curioso, muito
inteligente e muito bem escrito por Charles Perrault — mas não vou contar
a história, vocês podem verificar depois. O fato é que uma jovem moça se
casa com um psicopata que matava as suas esposas e ele, o Barba Azul,
entregava uma chave para a sua nova esposa e dizia que essa era a chave do
aposento lá de baixo que é proibido. É claro que o Barba Azul está tentando
dela estimulando para que ela cometa esse desvio, essa desobediência. No
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E-BOOK BP A LITERATURA INFANTOJUVENIL NA FORMAÇÃO DOS FILHOS
aposento de baixo estavam os corpos das antigas esposas do Barba Azul.
marido”. É muito curioso, por que ele não sugeriu na sua moral da história
“não seja um psicopata, não mate as suas ex-esposas como o Barba Azul” —
profundas do Barba Azul, o que estou fazendo é uma colocação muito breve.
Ele criticava a literatura dos antigos e achava que trazia uma nova
técnica literária que era superior à literatura dos antigos. Então Perrault já
Perrault, pois ela tem uma ênfase moral muito mais bem consolidada.
17 Platão, (428 / 427 - Atenas, 348 / 347 a.C.) foi um filósofo e matemático do período clássico da Grécia Antiga,
autor de diversos diálogos filosóficos e fundador da Academia em Atenas, a primeira instituição de educação
superior do mundo ocidental. Considerado a figura central na história do grego antigo e da filosofia ocidental,
juntamente com seu mentor, Sócrates, e seu pupilo, Aristóteles. Ajudou a construir os alicerces da filosofia natu-
ral, da ciência e da filosofia ocidental e também tem sido frequentemente citado como um dos fundadores da
religião ocidental, da ciência e da espiritualidade. Platão ficou muito conhecido por ter lançado a teoria idealista
e, principalmente, por ter deixado a maioria dos textos conhecidos de Sócrates por escrito.
18 Jean de la Fontaine (1621-1695) foi um poeta e fabulista francês.
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E-BOOK BP A LITERATURA INFANTOJUVENIL NA FORMAÇÃO DOS FILHOS
reforma do mundo, de reformar o homem com base, muitas vezes, na ciência
técnica literária que você não consegue observar as nuances do que está
sendo escrito. É uma técnica muito avançada, muito superior aos antigos.
argumento da memória afetiva que acontece quando uma pessoa diz que
gostou de um livro apesar de ter sido advertida de que aquela obra era ruim.
história de Robin Hood que me marcou muito; mas também percebi, muito
tardiamente, que Robin Hood também me fez ter uma visão distorcida da
realidade, pois comecei acreditar que roubar para dar aos pobres não era
— foi uma reação imprevisível, então isso tem de ser comentado. Não se
e aduladora com os contos de fada, que é o caso em que isso está mais
19 Eric Voegelin (1901-1985), nascido Erich Hermann Wilhelm Vögelin, foi um professor de filosofia política ger-
mano-americano.
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E-BOOK BP A LITERATURA INFANTOJUVENIL NA FORMAÇÃO DOS FILHOS
Quando nós, excessivamente, interferimos de modo racional nesse
mundo fluído da vivência das crianças com as histórias, isso também não é
ao bom senso.
Considerações Finais
desejo, é claro que vocês, pais e mães, tenham o melhor acesso às melhores
gramática do Trivium.
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E-BOOK BP A LITERATURA INFANTOJUVENIL NA FORMAÇÃO DOS FILHOS