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Após o pecado original, no entanto, entrou uma desordem “Amas o ouro no lugar do homem, amas o anel no lugar
nesse amor-próprio. Notável é que também os filósofos do esposo: se estes são os teus sentimentos a ponto de
pagãos a tenham notado. Aristóteles escreve que, já em amar um anel no lugar do teu esposo e a teu esposo não
seu tempo, “'amante de si mesmo' é uma expressão queres nem mesmo ver; então quer dizer que ele te deu
desonrosa". E, ao exemplificar como o homem mau se este penhor, não para te comprometer, mas para te perder.
ama desordenadamente, ele faz referência ao “gozo É para isto que um esposo oferece um penhor, para que no
medíocre", ao “dinheiro" e, depois, “às honras e aos penhor ele mesmo seja amado. Para isto Deus te ofereceu
cargos" [5] – curiosamente, as mesmas três libidines de as coisas [criadas]: ama aquele que as fez. Ele quer te
que se falou na última aula. Impressiona como o homem oferecer muito mais, ou seja, quer dar a si mesmo. Mas se
iluminado pela razão consegue chegar às mesmas amares as coisas, mesmo que tenham sido feitas por ele,
se esquecesses o Criador para amares o mundo, o teu 7. Padre Paulo Ricardo. Um Olhar que Cura.
amor não deveria ser julgado como amor adulterino?" [8] São Paulo: Editora Canção Nova, 2008. p.
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Amar as coisas ao invés de Deus é destruidor porque
significa cortar o próprio galho no qual se está sentado. 8. Santo Agostinho, In epistolam Iohannis ad
Identifica-se, aqui, o conflito entre dois amores – o amor Parthos, II, 11: PL 35, 1995
Deie o amor sui. É a essa luta que se refere São João,
quando diz que “tudo o que há no mundo (...) não vem do 9. 1 Jo 2, 16.17
Pai, mas do mundo" e que “o mundo passa, e também a 10. Santo Agostinho, De Civitate Dei, XIV, 28
sua concupiscência; mas aquele que faz a vontade de
Deus permanece para sempre" [9]. É também sobre o que 11. Lc 9, 23
Santo Agostinho fala em sua obra De Civitate Dei: “Dois
amores fundaram, pois, duas cidades, a saber: o amor- 12. Mt 16, 25
próprio, levado ao desprezo a Deus, a terrena; o amor a
Deus, levado ao desprezo de si próprio, a celestial" [10].
Referências