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NARRATIVA DA REDENÇÃO – ATO 2 – A QUEDA

Na semana passada, no primeiro ato da narrativa divina nós analisamos os 2 primeiros


capítulos de gênesis e dele tiramos algumas conclusões:
1º O fato de Deus ser o criador de todas as coisas e ser soberano sobre todas elas.
2º O significado de sermos a imagem de Deus, e que está relacionado a nossa
capacidade de refletir e representar a divindade.
3º O mandato cultural, que nos mostra que Deus deu autoridade e responsabilidade
ao homem sobre toda criação.
4º E por último, mas não menos importante, o fato de Deus ter criado todas as coisas
boas e em estado perfeito.
Hoje nós vamos não iremos nos ater somente ao capítulo 3 de gênesis que é onde
está contido de fato o relato da Queda do homem, mas vamos passear pela Palavra, e
extrair dela tudo aquilo que nos remete a essa doutrina tão importante. Vamos
primeiramente orar, pedindo a Deus direcionamento.
Em primeiro lugar: o que é a doutrina da Queda?
O registro de Gênesis 3 é a única explicação possível da atual condição da raça
humana e das calamidades que assolam o mundo. Este relato explica a presença (a
presença, não a origem, guardem bem essa diferença) do mal num mundo feito por
um Criador beneficente e perfeito e fornece a única explicação adequada para a
universalidade do pecado. G.K. Chesterton, certa vez disse em uma entrevista que a
doutrina da Queda pode ser constada de forma sociológica. Basta olhar pro mundo e
pra dentro de si mesmo, e ver tem que tem algo de errado, o mal.
Vamos então ao texto de Gênesis 3.
1: A serpente era astuta; perceba que o mal já está presente, a origem do mal não é
na Queda do homem, a serpente antes mesmo da Queda do homem já era astuta e
tecia suas mentiras. Para Agostinho mal, é ausência do bem, ele não existe de forma
ontológica (ou seja, ele não existe fundamentalmente) mas é a ausência do bem,
como o frio é ausência do calor ou um buraco é algo que deveria, mas não está
preenchido.
Não comam de nenhum fruto das árvores do jardim; nós sabemos por causa do texto
de apocalipse que está serpente ali era o diabo, de alguma maneira ele estava
“encarnado” na figura deste ser, a serpente. E é por isso que Jesus lá em João 8, nos
diz que o diabo não se firmou na verdade, e que quando ele profere mentiras, fala a
sua própria língua pois é mentiroso e pai da mentira.
Disse a serpente à mulher: Certamente não morrerão. Vocês serão como Deus,
conhecedores do bem e do mal
A serpente aqui, não somente fala mentiras descaradas, mas também conta meias
verdades, o que é de fato uma mentira diabólica, meias verdades são mentiras.
Perceba, de fato, o fruto do conhecimento do bem e do mal daria ao homem a
capacidade de compreensão daquilo que é mal, pois ele havia sido criado num estado
de inocência e inocência é ignorância do mal. Porque Deus pode conhecer o Mal, sem
que isso o corrompa? Porque Ele é um ser perfeito, Ele é imutável, nele não habita
sobre de variação, Deus é luz e não habita trevas alguma (como diz João em sua
carta)
O problema é que todas as criaturas são seres mutáveis, e uma vez conhecedoras do
mal, podem passar a chamar de bom aquilo que é mal. E foi precisamente isso que
aconteceu.
6: Ao se conscientizarem de sua vergonha, Adão e Eva imediatamente se esforçaram
em esconder sua nudez e fazem aventais de folhas de figo. Este ato foi muito
significativo. Ao invés de procurar por Deus e abertamente confessar sua culpa, eles
tentaram se esconder de Deus e deles mesmos.
Assim tem sido sempre o caminho do homem natural. A última coisa que ele irá
fazer é confessar diante de Deus sua condição perdida e arruinada. Consciente
de que algo está errado, ele procura se abrigar atrás de sua justiça própria e confia
que sua boa obra vai compensar as más. Ir à igreja, práticas religiosas, atenção às
leis, filantropia e altruísmo são as folhas de figueira que muitos, hoje, estão tecendo
em aventais para cobrir sua vergonha espiritual.
11: Esta é uma pergunta retórica. Deus sabia que o homem havia desobedecido, mas
Ele desejava ver qual seria a reação do homem diante disto. Se ele admitiria seu erro
e se arrependeria, mas o que Ele faz é o contrário.
No lugar de uma confissão consternada do seu pecado, ele tenta arranjar desculpas –
O homem, aquele que deveria proteger a sua mulher, agora usa ela como seu escudo
para se defender de Deus e ainda joga a culpa Nele. Foi a mulher que me deste.
Satanás, luta para jogar homens contra mulheres desde o princípio, é por isso que
Satanás se ateve a tentar a mulher e não o homem, Ele inverte a ordem de
responsabilidade criada por Deus, a mulher não estava no jardim ainda quando Deus
ordenou ao homem que ele não comesse do fruto, foi o homem que ensinou isto a ela
e o homem falhou em sua missão. Ele deveria ter dito: “mulher, largue este fruto, não
coma isso, venha vamos pedir perdão ao Senhor, Ele nos ouvirá.” Mas Ele faz
exatamente o contrário, Ele joga a culpa sobre a mulher.
E a mulher respondeu: A serpente me enganou, e eu comi”. Então, é feita uma outra
tentativa de atenuar o pecado passando a responsabilidade para outros, e não vemos
uma confissão sincera. Até hoje o mundo continua o mesmo, não é? Existe um esforço
de nossa parte muitas vezes de tentar esconder nossa vergonha pelos próprios meios,
como folhas de figo; um medo de Deus e uma tentativa de se esconder de Sua
presença; e, quando deveríamos na verdade confessar nosso pecado, e não tentar
ficar arranjando desculpas.
Mas, se foi Adão quem pecou, porque durante toda a história da humanidade as
mesmas atitudes perduram? A resposta para essa pergunta é a doutrina do “Pecado
Original”. Antes de explica-la, darei um breve contexto. No século 4 depois de Cristo,
houve tentativas de compreender a presença do mal entre os homens. Um monge
chamado Pelágio, dizia que: Adão foi meramente um mal exemplo, e não o autor de
nossa natureza pecaminosa. Consequentemente, é claro, o Segundo Adão, Jesus
Cristo, foi apenas um bom exemplo. A salvação, dessa forma, consiste
simplesmente em seguir o exemplo de Jesus em vez do de Adão. O que os
homens e mulheres precisam é de uma direção moral, não de um novo nascimento;
assim sendo, Pelágio viu a salvação em termos meramente naturais: seria o progresso
do caráter humano, por seguir o exemplo de Cristo.
Entretanto, Agostinho de Hipona, ou Santo Agostinho foi quem propôs a doutrina do
pecado original. No que consiste essa doutrina? Essa doutrina nos diz que Adão nos
representava perfeitamente porque era o representante escolhido de Deus. Isto
significa que a pecaminosidade marca a cada um desde o nascimento, na forma de
um coração inclinado para o pecado, antes de quaisquer pecados de fato cometidos.
Essa pecaminosidade íntima é a raiz e a fonte desses pecados atuais. Não nascemos
com equilíbrio justo, com a possibilidade de ir por este ou aquele caminho. Nascemos
com forte inclinação unilateral para o mal, e ela nos foi transmitida por Adão,
nosso primeiro representante diante de Deus. A doutrina de pecado original nos diz
que nós não somos pecadores porque pecamos, mas pecamos porque somos
pecadores, nascidos com uma natureza escravizada ao pecado.
Muitos textos nos deixam isso muito claro na Palavra, vamos ver alguns:
Salmos 51:5 – “Eis que em iniquidade fui formado, e em pecado me concebeu
minha mãe.”
Gênesis 8:21 – “E o Senhor sentiu o suave cheiro, e o Senhor disse em seu coração:
Não tornarei mais a amaldiçoar a terra por causa do homem; porque a imaginação do
coração do homem é má desde a sua meninice.”
Romanos 5:12 – “Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no
mundo, e pelo pecado veio a morte, assim também a morte passou a toda a
humanidade, por isso todos pecaram.”
O pelagianismo, portanto é considerado uma heresia. O homem natural se econtra em
estado de morte espiritual, e está separado de Deus, o que o impede de ir até Ele e de
fazer Sua vontade. O homem só pode ir até Deus, se Deus o fizer vivo primeiro, é o
que declara o Apóstolo Paulo na carta aos Efésios, e o próprio Cristo, quando diz:
Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o trouxer. No Éden o homem
perdeu o que nós chamamos de livre arbítrio. O termo livre arbítrio, segundo o Google,
significa:
“Possibilidade de decidir, escolher em função da própria vontade, isenta de qualquer
condicionamento, motivo ou causa determinante.”
Como nós já vimos, o homem natural não está isento de condicionamentos, pelo
contrário, Ele é inclinado a todo tipo de mal. O homem, portanto, não é uma tábula
rasa, uma folha em branco, como propôs Locke, nem é o bom selvagem, como propôs
Rousseau, onde ele nasce bom, mas o meio o corrompe. A antropologia bíblica nos
diz que o homem nasce mal, e é escravo do pecado, submisso ao poder de satanás.
Entretanto isso não significa dizer que todos os homens são tão maus quanto
poderiam ser. Se as pessoas persistem dura e repetidamente em seguir o pecado
durante o curso de sua vida, Deus finalmente as entregará ao maior de todos os
pecados (Romanos 1:24-28), mas no caso da maioria dos seres humanos eles não
caem nas profundezas às quais seus pecados normalmente os levariam, porque Deus
intervém e coloca freio na sua conduta. Um refreamento muito eficaz é a força da
consciência, ou as leis humanas que punem determinados tipos de pecados
hediondos. O fato é que se Deus em sua graça, não restringisse o mal de todos os
homens, todos nós seríamos como demônios. Hitler me toda a sua maldade ainda
assim era restringido por Deus, para que não fosse tão mal quanto ele poderia de fato
ser.
O ponto é que todos os homens são depravados em cada parte completamente. A
vontade, o coração, e o restante não estão apenas parcialmente depravados. Cada
parte do homem é totalmente depravada, e não há nenhum bem em parte alguma. Até
as suas boas obras são como trapos de imundícia diante de Deus, como diz Isaías no
capítulo 64 de seu livro.
“O Senhor viu que a perversidade do homem tinha aumentado na terra e que toda a
inclinação dos pensamentos do seu coração era sempre e somente para o mal.”
Gênesis 6:5
Voltando agora ao capítulo 3 de gênesis, mais precisamente no verso 15, nós temos
aquilo que os teólogos chamam de “protoevangelho”. É a promessa da semente da
mulher que redimiria todas as coisas. Desde o início existia uma expectativa
messiânica, lá em Gn 5.29, por exemplo o pai de Noé ao escolher seu nome diz: “Ele
nos aliviará do nosso trabalho e do sofrimento de nossas mãos, causados pela terra
que o SENHOR amaldiçoou". Noé em hebraico significa, descanso, alívio, conforto.
Toda criança que nascia durante os séculos era mais uma esperança de ser o
salvador prometido. Na cruz, Cristo feriu a cabeça da serpente, e seu calcanhar foi
ferido, em sua morte.
Algo interessante, é que o Pai de Noé relembrasse de algo do capítulo 3, Deus
amaldiçoou a terra por causa do homem, já que ele era o responsável por ela. Daí
entendemos o que Paulo diz em Romanos 8:19-22. Quando os filhos de Deus forem
revelados, na volta de Cristo a terra também obterá redenção, pois cristo redimirá
todas as coisas, não só nosso corpo mortal, mas toda a criação, por meio Dele.
Ler Gênesis 4 e explicar a graça comum de Deus que se manifesta na criatividade e
demais coisas.

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