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OLHARES DA TEOLOGIA SOBRE AS RAÍZES DO MAL MORAL

FERREIRA, Marcos Antonio Marques. Bacharelando em Teologia no Centro Universitário


Internacional Uninter.

CARNEIRO, Elisângela da Silva. Bacharel em Teologia, Licenciatura em Pedagogia,


Especialista em Formação Pedagógica do Professor Universitário, Mestre em Tecnologia
Emergente da Educação.
RESUMO
Este trabalho analisa as origens das raízes do mal moral. Tal problemática consiste
em esclarecer os questionamentos em torno do mal moral do homem e suas
consequências em relação a Deus e a sociedade. Essa questão se justifica, pois
através do conhecimento da origem do mal moral, pode contribuir para o
entendimento das doutrinas da Hamartiologia e da Soteriologia. O objetivo central
deste trabalho é analisar as consequências da inclinação pré-existente do mal moral
dentro do homem. Como o mal moral afeta a relação do homem com Deus e o porquê
da existência do mal e seus feitos. Para isso, foi empregado o seguinte procedimento,
o método de abordagem qualitativa, com a finalidade de analisar as teorias envolta dos
questionamentos levantados no presente trabalho. O estudo parte de uma revisão
bibliográfica composta pelos principais autores e teólogos da área. Este estudo
demonstrou que apesar da sociedade ter evoluído, as raízes do mal moral
permanecem intrínseca no ser humano, em decorrência do evento do Pecado
Original, a queda do homem no Jardim do Éden, mostram que ele não tem
possibilidade de reverter por si mesmo essa condição, dependendo da justificação e
santificação do próprio Criador. Somente dessa maneira pode-se anular o mal moral
no individuo e por tanto suas consequências no meio em que vive.

Palavras-chave: Mal moral. Livre arbítrio. Mal.

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1. Introdução

As raízes do mal moral é um dos assuntos mais debatidos na teologia, pois


suas consequências estão presentes em nossa sociedade atual. Acerca da sua origem
e natureza, dentro de uma perspectiva judaico-cristã há alguns autores que afirmam
que a natureza da escolha do bem e do mal é devido ao livro arbítrio, enquanto
outras declaram que é uma consequência da imperfeição do mundo criado por Deus.
Quanto a sua origem, o pensamento mais comum é a doutrina do Pecado
Original apresentado no Livro de Genesis, no relato do pecado de Adão e Eva, que
trouxe a desobediência e a distorção da criação. A partir disso a humanidade
começou a ter uma inclinação ao pecado que se tornou a batalha constante entre o
bem e mal no interior de cada ser humano.
Outra teoria seria que a origem do mal se deu devido a liberdade humana, que
a princípio Deus deu com o objetivo do ser humano ter escolhas por si, na intenção
que o homem escolhesse o bem. Porém esta liberdade também deu a possibilidade
de escolher o mal. E esta seria a origem da fonte do mal moral. Outros teólogos
expõem que a origem do mal na verdade seria a finitude da criação que busca a
completude, mas quando este desejo é para fins egoístas gera o mal para outros.
Esclarecendo os questionamentos em torno da origem do mal moral no homem e
suas consequências em relação a Deus e a sociedade é que podemos compreender a
inclinação pré-existente do mal moral e seus feitos.
A presente pesquisa se justifica, pois, conhecendo as raízes do mal moral podemos
contribuir para a compreensão da Hematologia e Soteriologia. Este estudo também
servirá para responder as questões da consciência da justificação e santificação. Além de
dialogar com as tendencias pós-modernas trazendo fundamentos que preencham o vazio
gerado por elas na sociedade.
Este artigo científico será dividido em A Origem; A natureza e a Consequência
do mal moral sob o olhar teológico do autor Santo Agostinho de Hipona, e artigos
científicos, que contribuíram para a pesquisa bibliográfica qualitativa realizada.

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2. Metodologia
A ideia partiu na referência de um artigo jornalístico que comentava sobre os
principais questionamentos dentro da teologia que ainda levantavam muitas dúvidas na
sociedade, dentre esses o que despertou interesse foi a origem do mal moral, então
iniciei a pesquisa na internet com as palavras-chave: pecado, livre arbítrio; mal.

Com um olhar pastoral querendo responder as dúvidas em torno deste tema, foi
realizado um levantamento bibliográfico, a pesquisa foi qualitativa e teve como finalidade
a produção de conhecimento e reflexão, abrangendo leituras expositivas focalizadas no
mal moral e suas consequências na sociedade. O universo da pesquisa envolveu leituras
de artigos, livros e pesquisa na internet.

3. Revisão bibliográfica/ Estado da arte


3.1 – A Origem do mal moral
Descobrir a origem do mal que permeia a humanidade desde os primeiros séculos,
e a motivação que leva uma pessoa a escolher se faz o bem ou mal é um questionamento
que muitos teóricos tentam responder, seja na teologia ou na filosofia. Pois para o
homem é difícil compreender esse desejo interno que o faz efetuar tal escolha.
Na visão religiosa judaico-cristã a presença do mal surgiu no inicio da criação do
homem e da mulher, o relato se encontra no primeiro livro do Pentateuco, o livro de
Gênesis, que narra também a criação do mundo (natureza).

[...] 27. Criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; macho e
fêmea os criou. [..].0.9 E o Senhor Deus fez brotar da terra toda árvore
agradável à vista e boa para alimento; e a árvore da vida, no meio do jardim, e a
árvore da ciência do bem e do mal. 16. E ordenou o Senhor Deus ao homem: De
toda árvore do jardim comerás livremente, 17. Mas da árvore da ciência do bem e
do mal não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás
[...] 25. E ambos estavam nus, o homem e a sua mulher, e não se
envergonhavam. (Gn 1, 27 e Gn 2, 09,16. 17 e 25).

Deus é o criador de todas as coisas , conforme a visão dos judeus e cristãos,


podemos observar essa afirmação pelas escrituras dos livros do pentateuco, aqui já
mencionado, o livro de Genesis. Neste breve relato Deus é quem cria a arvore da ciência
do bem e do mal e á uma ordem restrita para que nem o homem ou a mulher coma desse
fruto, pois certamente morreriam. Esta morte que é mencionado em Gênesis, seria a
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morte espiritual, onde o mal prevaleceria aos olhos da humanidade. Acarretando uma
maior influência sobre as suas decisões. Na continuação da narrativa encontrada em
Gênesis, vemos que a serpente, animal astuto no jardim, ao conversar com a mulher a
influência em desobedecer a ordem expressa dada por Deus. Onde a criatura seria igual
ao criador em conhecimento.
[...] 4. Então a serpente disse à mulher: “Certamente não morrereis.”. 5. Porque
Deus sabe que no dia em que dele comerdes se abrirão os vossos olhos, e sereis
como Deus, conhecendo o bem e o mal. [...] 6. Viu a mulher que aquela árvore
era boa para dela se comer, agradável aos olhos e desejável para dar
entendimento. Ela tomou do seu fruto, comeu e deu ao seu marido, e ele comeu.
[...] (Gn 3,4,5 e 6).

Como visto foi a vontade do ser humano que determinou a escolha em obedecer
(fazer o bem) ou desobedecer (fazer o mal), ao deixar que sua imaginação fosse tomada
pelo desejo de ser igual ao seu Criador, em busca de um bem para si, acarretou diversos
males a toda a terra.
[...] 16. À mulher: disse: Multiplicarei grandemente a dor de teu parto com dor
darás à luz filhos, teu desejo será para teu marido, e ele te dominará. 17. Adão,
disse: Porque deste ouvidos à voz da tua mulher e comeste da árvore de que te
ordenei, dizendo: Não comerás delas, maldita é a terra por causa de Ti; com dor
comerás dela todos os dias da tua vida. 18 Espinhos e cardos também te
produzirá, comerás a erva do campo. 19 Do suor do teu rosto comerás teu o pão,
até que te tornes à terra, porque dela foste tomado, porque és pó e ao pó
tornarás. [...] (Gn 3; 16, 17, 18 e 19).

Com as consequências dos atos da Mulher e do Homem em Gênesis, em


desobedecer a ordem divina de não comerem o fruto, demonstra que o maior erro
começou quando o desejo de serem conhecedores do bem e do mal como o próprio
Criador, foi posto como medida única, pondo acima do bem maior, que era a vida. A
condição de quem comeria o fruto certamente era a morte. Santo Agostinho em seu livro
De libero Arbitrio e Confessiones, fundamenta em sua escrita como o ser humano, em sua
liberdade, opta em cometer o mal e deixa de fazer o bem, por almejar um bem maior para
si. E nessa paixão egoísta de olhar somente para si, utiliza essa liberdade, que segundo
Agostinho seria algo metafisico, que ele denomina como Libero Arbitrio. Ele é causa sui,
autodeterminante, que tende a cometer uma boa ou má ação.
Parte-se da premissa que Deus é perfeito e bom, e tudo que ele cria também é
agraciado por sua bondade e benevolência. É contradizer estas condições, ao mencionar
que Deus que criou o mal ou o cometeu, sendo assim quem seria o autor da origem do
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mal? Agostinho afirma em “O Livre Arbítrio” (São Paulo: Paulus editora, 2019. p. 26 – 27)
que “o mal não poderia ser cometido sem ter um autor, mas se me perguntassem quem
seria este autor, não saberia lhe dizer, pois não existe um só ou único autor. Pois cada ser
que ao cometê-lo é o autor de sua má ação.” Ou seja , cada ser humano age conforme a
sua vontade, seja ela boa ou má, e é responsável pelo seus atos e deve assumir as
consequências e ser punido por elas, seja na lei temporal ou eterna.

3.2. A Natureza do mal moral


Com o intuito de tratar da natureza de algo, devemos primeiro constatar sua
existência, para isto precisamos levantar alguns questionamentos: Qual é a definição do
mal? O mal existe? Ele foi criado? Se sim, qual é o seu autor?
Segundo Agostinho, em seu livro “O Livre Arbítrio”, o mal pode ser classificado em
três vertentes: O mal Ontológico, O mal Moral e o Mal físico.
O mal Ontológico, na visão de Agostinho, não é uma coisa, mas a falta de algo (o
bem), por isso o mal não existe por si mesmo, mas apenas como deficiência, como a
privação de algo. O mal não foi criado por ninguém, logo não existe.
O mal não existe nem para Vós nem para as vossas criaturas, pois nenhuma
coisa há fora de Vós que se revolte ou que desmanche a ordem que lhe
estabelecestes. Mas porque, em algumas das suas partes, certos elementos
não se harmonizam com outros, são considerados maus. Mas estes
coadunam-se com outros, e por isso são bons e bons em si mesmo
(AGOSTINHO, 1996, p. 188)

Já o Mal Moral tem a sua essência e origem nas paixões humanas que corrompem
a sua razão, levando a decisões que o privará do bem.
Quando a razão, a mente ou o espírito governa os movimentos irracionais da
alma, é que está a dominar na verdade no homem aquilo que preciosamente
deve dominar, em virtude daquela lei que reconhecemos como sendo lei eterna
(AGOSTINHO, 1995, p. 47).

O Mal Moral é a transgressão do homem a ordem de Deus, por cobiça de querer


conhecer ou obter além do que Deus lhe concedeu.
Não penses que se possa dizer nada de mais verdadeiro que esta máxima:
“A raiz de todos os males é a cobiça” (1Tm 6:10), isto é a disposição de querer
além daquilo que é suficiente e que cada natureza exige conforme a sua própria
condição a fim de se conservar (O Livre Arbitrio III. 25:74)

E o Mal físico é a consequência da ausência do bem, causada pela finitude da


natureza e pelo efeito da existência do mal moral. Percebido em primeiro nível a

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consequência no corpo físico, pois o homem finito, fica sujeito a doenças e a morte como
refletiu Agostinho em seu diálogo com Evódio, em Livre-Arbitrio:
Desde o instante em que começamos a existir neste corpo mortal, jamais
deixamos de tender para a morte. Tal é a obra da mortalidade durante todo
tempo: tender para a morte. Antes de chegar à morte, não é moribundo, mas
vivente, chegada à morte, já será morto, não moribundo. Do mau emprego do
livre arbítrio originou-se uma série de desventuras, que deste princípio viciado,
como se corrompido na raiz o gênero humano, arrastaria todos, em
concatenação de misérias, ao abismo da morte. O corpo, procedente da terra, a
ela não retornaria senão pela morte, que lhe sobrevivem quando se vê privado
de sua vida, ou seja, da alma (AGOSTINHO, 1991, p. 104).

O segundo nível do mal físico é na condição da deformação do caráter do homem,


que colocando seus desejos em primeiro lugar se torna refém de seus próprios vícios.
Dominado por pavor e desgosto é forçado a enxergar seus pecados e sua
impiedade.

3.3. As Consequências do Mal Moral na Sociedade


O Pecado Original, mencionado no livro de Genesis, relata a queda do homem que
trouxe o início de todos os males para a terra. O mal moral gera os males físicos dentre
eles os homicídios, guerras, injustiças, doenças, pobreza e iniquidades que afetam a
sociedade desde os primórdios.
Ao contrario do que se imagina a evolução da sociedade e as leis modernas que
trariam instrução e civilidade ao ser humano não traduz a realidade atual, porque a
tecnologia e os novos meios de comunicação, aumentam e aceleram a capacidade
destruidora do pecado.
Em seu livro “A sociedade liquida”, o sociólogo polonês, Zygmunt Bauman, criou o
termo modernidade liquida para explicar o período que se iniciou depois da Segunda
Guerra Mundial, onde as instituições sociais como família e o estado deixaram de
desfrutar da estabilidade da percepção da segurança na sociedade. Com a ideia de que
esses valores sendo diluídos como blocos com o passar do tempo. Em consequência a
lógica do consumo entrou na lógica da moral, onde é mais valorizado o que compra do
que se é. O ser passou a ser insignificante dando lugar ao ter.
Desta forma ressalta-se a cobiça que é pré-existente dentro do ser humano de
querer além do essencial para a sua existência, como ocorreu no Pecado Original.

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Em consequência gera a instabilidade emocional, a perda da identidade e a
objetificação do individuo em troca de afeto, realizações pessoais e possuir coisas.
Resultando em um vazio existencial pois os objetos e coisas não podem suprir a
falta de identidade. Podemos incluir estes males da atualidade, como a depressão, a
ansiedade e a crise de identidade resultantes do egoísmo e do afastamento da criatura
com o Criador, devido as consequências das escolhas para mal moral.
Nas Escrituras temos a revelação da justificação, onde o criador traz a redenção ao
homem, apesar de suas escolhas.

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4. Considerações finais

Este estudo demonstrou que apesar da sociedade ter evoluído, as raízes do


mal moral permanecem intrínseca no ser humano, em decorrência do evento do
Pecado Original, a queda do homem no Jardim do Éden, mostram que ele não tem
possibilidade de reverter por si mesmo essa condição, dependendo da justificação e
santificação do próprio Criador. Somente dessa maneira pode-se anular o mal moral
no indivíduo e por tanto suas consequências no meio em que vive.

Referências
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BÍBLIA. Português. Bíblia de estudo DAKE. Traduzido em português por João Ferreira de
Almeida. São Paulo: Editora Atos, 2014. 3ª Edição. 1ª Tiragem.

CORSI, Uellinton Valentim. Origem do mal segundo Santo Agostinho: uma perspectiva
judaico-cristã. Núcleo do conhecimento, 2020. Disponível em: <
https://www.nucleodoconhecimento.com.br/filosofia/origem-do-mal#_ftn1>. Acesso em:
20 de dezembro de 2022.

GODOY, Edevilson. O pecado original na teologia por André Torres Queiruga. Último
Andar, 2016.Disponível em:
<https://revistas.pucsp.br/index.php/ultimoandar/article/view/29729>. Acesso em: 26 de
dezembro de 2022.

SOUSA, Lucas da Conceição. O problema do mal em o livre-arbítrio de Agostinho Hipona.


Revista Pandora Brasil, São Paulo, Edição 92, p. 103 á 117, março, 2018.

AGOSTINHO. Livre Arbítrio. São Paulo: Paulus, 1995.

BAUMAN, Zygmunt. 44 Cartas do Mundo Líquido Moderno. Editora Zahar, Tradução Vera
Pereira, Rio de Janeiro, 2011.

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