Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
SOCIAL,
ECONÔMICA E
POLÍTICA DO
BRASIL
O cenário político,
econômico e social
do Brasil: dos anos
90 à sociedade
contemporânea
Caroline Silveira Bauer
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
>> Identificar o cenário social, político e econômico do País a partir dos anos
1990.
>> Reconhecer o papel das lutas sociais no desenvolvimento e amadurecimento
do País.
>> Analisar os efeitos desse cenário na sociedade brasileira da atualidade.
Introdução
Os anos 1990 marcaram um novo momento na economia, na política e na socie-
dade brasileiras. Após a promulgação da Constituição de 1988 e a realização de
eleições diretas e livres, com a eleição do primeiro presidente civil após mais de
duas décadas de ditadura civil-militar, uma sucessão de governos implementou
preceitos econômicos, políticos e sociais do neoliberalismo, transformando o País.
Essas mudanças e suas consequências, como o agravamento das condições de
subsistência da maior parte da população brasileira, fizeram diferentes movimentos
2 O cenário político, econômico e social do Brasil: dos anos 90 à sociedade...
Seguindo a velha tradição nacional de esperar que a solução dos problemas ve-
nha de figuras messiânicas, as expectativas populares se dirigiram para um dos
candidatos à eleição presidencial de 1989 que exibia essa característica. Fernando
Collor, embora vinculado às elites políticas mais tradicionais do país, apresentou-se
como um messias salvador desvinculado dos vícios dos velhos políticos. Baseou sua
campanha no combate aos políticos tradicionais e à corrupção do governo. Repre-
sentou o papel de um campeão da moralidade e da renovação da política nacional.
eleito por voto direto após a ditadura por corrupção, além de ter cassado os
seus direitos políticos por oito anos (MACIEL, 2011).
O impedimento foi sem dúvida uma vitória cívica importante. Na história do Brasil e
da América Latina, a regra para afastar presidentes indesejados tem sido revoluções
e golpes de Estado. No sistema presidencialista que nos serviu de modelo, o dos
Estados Unidos, o método foi muitas vezes o assassinato. Com exceção do Panamá,
nenhum outro país presidencialista da América tinha levado antes até o fim um
processo de impedimento. O fato de ele ter sido completado dentro da lei foi um
avanço na prática democrática. Deu aos cidadãos a sensação inédita de que podiam
exercer algum controle sobre os governantes (CARVALHO, 2002).
A era FHC
Fernando Henrique Cardoso foi presidente da República por dois mandatos
consecutivos, eleito sempre em primeiro turno, e o período entre 1995 e 2002
ficou conhecido como era FHC. O governo de FHC foi marcado por modificações
nas políticas interna e externa do Brasil.
Na política externa, destaca-se a criação do Mercosul. O acordo entre
Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai previa a criação de uma área de livre-
-comércio entre os países, o que foi efetivado não sem conflitos entre os
países-membros. Posteriormente, Bolívia e Chile se tornaram membros as-
sociados. A criação do Mercosul inseria-se em uma conjuntura de formação
6 O cenário político, econômico e social do Brasil: dos anos 90 à sociedade...
Além disso, FHC deu continuidade ao Plano Real, realizando ajustes eco-
nômicos nas taxas de juros e no câmbio, a fim de estimular as exportações e
equilibrar a balança comercial. Embora o Plano tenha sido exitoso no controle
à inflação, ele não impediu a queda no consumo e as demissões em massa,
resultados da recessão econômica (MOTTA, 2018). Assim, esse foi um período
em que o Brasil recorreu inúmeras vezes a empréstimos de organizações
estrangeiras, como o Fundo Monetário Internacional (FMI). A dívida externa
brasileira cresceu exponencialmente no período, e os contratos com o FMI
exigiam contrapartidas, tais como medidas de austeridade e reajuste fiscal
(desvalorização cambial, aumento de impostos e diminuição de gastos pú-
blicos) (FILGUEIRAS; GONÇALVES, 2007). Com a diminuição dos gastos públi-
cos, áreas como educação e saúde foram bastante atingidas, bem como as
condições de trabalho. De acordo com Filgueiras e Gonçalves (2007, p. 188):
[...] junto com o desemprego e como produto de uma ampla desregulação do merca-
do de trabalho — efetivada na prática pelas empresas e por diversos instrumentos
jurídicos emanados dos sucessivos governos —, veio um processo generalizado
de precarização das condições de trabalho — formas de contratação instáveis
que contornam ou burlam a legislação trabalhista, prolongamento da jornada de
trabalho, redução de rendimentos e demais benefícios, flexibilização de direitos
trabalhistas e ampliação da informalidade — tudo isso, enfraquecendo e deslocando
mais ainda a ação sindical para um comportamento defensivo.
O cenário político, econômico e social do Brasil: dos anos 90 à sociedade... 7
polo combativo de lutas dos trabalhadores que fundou a CUT (Central Única dos
Trabalhadores), em 1983, e o MST (Movimento dos Trabalhadores sem Terra), em
1984. Por outro lado, as entidades sindicais da categoria profissional atuaram
diretamente na organização dos trabalhadores em serviço público e junto a outros
sindicatos de categorias, como médicos, enfermeiros, sociólogos, psicólogos.
Participaram ativamente de campanhas salariais e greves nesse ramo de atividade.
[...] No período da retomada das entidades sindicais de assistentes sociais, de 1977 a
1979, a categoria se reconheceu como parte da classe trabalhadora, em sua condição
de assalariamento, por sua inserção na divisão sociotécnica do trabalho; participou
da reorganização do movimento sindical classista e atuou junto aos movimentos
populares sobre o custo de vida, contra a carestia, pelo SUS (Sistema Único de Saúde),
feminista, de luta por creches, moradia, estudantil, negro unificado, além do apoio
e solidariedade às lutas dos trabalhadores sem-terra, quilombolas e indígenas.
O Brasil na atualidade
A vitória eleitoral de Luiz Inácio Lula da Silva e do PT nas eleições de 2002
representou um marco para a história brasileira. De acordo com o historiador
Rodrigo Patto Sá Motta (2018, p. 415):
Ainda assim, não é possível dizer que houve uma manutenção sem modi-
ficações das políticas neoliberais instituídas na década de 1990. A visão de
Estado mínimo e privatista dos governos anteriores foi abandonada para uma
ideia de um Estado como agente e planejador econômico (SÁ MOTTA, 2018).
Sem dúvida, um dos principais destaques das duas gestões do governo Lula
foram as políticas culturais e sociais, que permitiram um aumento da renda
para os setores mais empobrecidos da população, bem como ampliaram o
mercado para setores produtivos, criando oportunidades para investimento.
Dos programas assistenciais desenvolvidos por Lula, destacam-se o Fome
Zero, o Bolsa Família e as diferentes medidas culturais e educacionais para
manter crianças e adolescentes nas escolas e os jovens nas universidades,
cuja rede de unidades públicas foi aumentada.
Durante os governos Lula, também houve denúncias de corrupção, no-
tadamente o chamado “escândalo do mensalão”, a partir das denúncias do
deputado Roberto Jefferson, que apontou o então deputado federal José
Dirceu, do PT, como comandante de um esquema que envolvia outras lide-
ranças do partido (SÁ MOTTA, 2018). Entretanto:
[...] não houve denúncias diretas contra o presidente [Lula], apenas contra o segundo
escalão do governo. Por outro lado, as forças de oposição parecem ter escolhido
circunscrever o impacto da crise, talvez acreditando que o estrago já era suficiente
para derrotar Lula nas eleições de 2006. Além disso, a situação econômica era
positiva e tendia a melhorar, para muitos atores não fazia sentido aprofundar uma
crise que poderia estragar o bom momento. (SÁ MOTTA, 2018, p. 429).
O segundo mandato foi a fase áurea de Lula, quando ele atuou com mais segurança
e desenvoltura e obteve notável reconhecimento. A liderança e o carisma do ex-
-operário metalúrgico se firmaram em várias dimensões, alcançando fama mundial.
Para isso contribuíram os bons resultados econômicos e sociais, a estabilidade
política interna, a maneira como o governo enfrentou a crise econômica mundial
em 2008 e a ousada política externa. Os resultados das políticas sociais distribu-
tivistas apareceram com mais destaque nessa fase, em que ocorreram também os
mais importantes investimentos educacionais. Igualmente, foi na segunda gestão
de Lula que se consolidou o seu modelo desenvolvimentista, com destaque para
ações no campo da infraestrutura e da energia.
12 O cenário político, econômico e social do Brasil: dos anos 90 à sociedade...
[...] no primeiro momento, seu objetivo principal foi segurar a inflação e melhorar
as contas públicas, já que o crescimento não parecia um problema, dado o ritmo
expansionista no último ano de Lula. Por isso, Dilma concordou em reduzir o
crédito e aumentar as taxas de juros, esperando provocar uma queda suave da
atividade econômica. No entanto, a situação internacional se agravou, com novas
baixas nos preços das commodities e queda nas exportações brasileiras. Além
disso, o aumento da insegurança entre os empresários levou a que reduzissem
investimentos na atividade produtiva. (SÁ MOTTA, 2018, p. 434–435).
Referências
ABRAMIDES, M. B. C. 80 anos de Serviço Social no Brasil: organização política e direção
social da profissão no processo de ruptura com o conservadorismo. Serviço Social &
Sociedade, São Paulo, n. 127, p. 456-475, 2016.
ABRAMIDES, M. B. C. Lutas sociais e desafios da classe trabalhadora: reafirmar o pro-
jeto profissional do serviço social brasileiro. Serviço Social & Sociedade, São Paulo,
n. 129, p. 366-386, 2017.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Presidência
da República, 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/
constituicao.htm. Acesso em: 23 nov. 2020.
CARVALHO, J. M. Cidadania no Brasil: o longo caminho. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 2002.
COSTA, S. F. O Serviço Social e o terceiro setor. Serviço Social em Revista, Londrina, v.
7, n. 2, 2005. Disponível em: http://www.uel.br/revistas/ssrevista/c_v7n2_selma.htm.
Acesso em: 23 nov. 2020.
DURIGUETTO, M. L.; SOUZA, A. R.; SILVA, K. N. Sociedade civil e movimentos sociais: debate
teórico e ação prático-política. Revista Katálysis, Florianópolis, v. 12, n. 1, p. 13-21, 2009.
FILGUEIRAS, L.; GONÇALVES, R. A economia política do governo Lula. São Paulo: Con-
traponto, 2007.
14 O cenário político, econômico e social do Brasil: dos anos 90 à sociedade...
Leituras recomendadas
ABRAMIDES, M. B. C. O projeto ético-político do Serviço Social brasileiro. 2006. 426 f.
Tese (Doutorado em Serviço Social) —Pontifícia Universidade Católica de São Paulo,
São Paulo, 2006.
ALVES, G. O novo (e precário) mundo do trabalho. São Paulo: Boitempo, 2005.
FERREIRA, J. O presidente acidental: José Sarney e a transição democrática. In: FERREIRA,
J.; DELGADO, L. A. N. (Orgs.). O tempo da Nova República: da transição democrática à
crise política de 2016: Quinta República (1985-2016). Rio de Janeiro: Civilização Brasi-
leira, 2018. p. 27-71.
MONTAÑO, C. Terceiro setor e a questão social: crítica ao padrão emergente de inter-
venção social. São Paulo: Cortez, 2002.
PAULO NETTO, J. Ditadura e Serviço Social: uma análise do Serviço Social pós-64. São
Paulo: Cortez, 1991.