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3055 Lima Santos

A Nova República (1985 – dias atuais)


• José Sarney (1985-1990)
Foi um governo de transição entre a ditadura e a democracia. Sarney era
proveniente do Maranhão e possuía ligação com os redutos da política tradicional
local. Durante os anos de chumbo, participou por muitas vezes do governo por meio
da ARENA, tendo mudado de posição somente em 1984 nas eleições indiretas.

Apesar de ser um governo civil, o grupo que detinha o poder era o mesmo dos anos
anteriores e, por isso, não houve uma remodelação profunda e completa da
estrutura brasileira. Isso proporcionou certa segurança para os conservadores.

• Contexto
José Sarney assumiu o país em aguda crise econômica, vítima de uma péssima
distribuição de renda, no auge da dívida externa, inflação de 223% gerada pelas
medidas do governo anterior (fracassado PNAD II), enfrentando os desafios de se
ter uma economia cada vez mais globalizada e sem poder quebrar os privilégios dos grupos políticos tradicionais que
o cercavam e aos quais era ligado, destacando-se a aliança PFL (Partido da Frente Liberal) e PMDB.

O modelo econômico brasileiro de substituição de importações implantado desde a época de Vargas marcado pela
intervenção estatal e por medidas protecionistas começou a demonstrar sinais de desgaste diante da nova dinâmica
econômica internacional. A queda de produtividade do setor industrial bancado pelo Estado mostrava que era
impossível concorrer com os conglomerados internacionais, que já se modernizavam desde a década de 60. Essa nova
dinâmica produtiva exigia imensos investimentos que somente as grandes multinacionais eram capazes de bancar.
Assim, estimulava-se a ampliação dos mercados, o fim de barreiras protecionistas e as associações regionais como a
Nafta, União Europeia e Mercosul. Nascia o Neoliberalismo no Brasil, marcado pela redução da intervenção do Estado
na economia, privatização de empresas estatais e flexibilização de leis trabalhistas.

• Setor econômico
No governo Sarney, a aliança PMDB/PFL teve grande peso no novo governo. Em agosto de 1985, o ministro da Fazenda
Francisco Dornelles, que foi indicado por Tancredo Neves antes da posse e era ligado à velha equipe econômica dos
militares, se demitiu. Isso abriu caminho para a nomeação de Dílson Funaro do PMDB para ministro da Fazenda. A
equipe de economistas que o cercou criticava o modelo econômico que foi adotado nos anos anteriores.

Em 1 de março de 1986 foi implantado o Plano Cruzado, que buscava combater a inflação sem comprometer o
crescimento econômico. Acreditava-se que implantar a recessão para combater a inflação conforme foi feito
anteriormente era um equívoco por causa das desigualdades sociais e da miséria em que vivia boa parte da população.
Com o longo processo inflacionário, os preços eram remarcados para cima mesmo sem motivo econômico para isso
porque acreditava-se que logo eles aumentariam.

Para combater essa prática, as principais medidas foram:

• Trocar a moeda em circulação para o cruzado (1000 cruzeiros = 1 cruzado): na prática serviria para diminuir a
quantidade de moeda em circulação.
• Congelamento de preços por um ano: combater esses reajustes automáticos.
• Congelamento de salários
• Gatilho salarial: toda vez que a inflação aumentasse 20%, os salários aumentariam automaticamente na
mesma medida.
• Criação do FND (Fundo Nacional do Desenvolvimento)

Inicialmente o plano foi um sucesso e os preços realmente não aumentaram. Isso fez com que a população também
aderisse ao projeto de governo, fiscalizando por conta própria os preços que estavam sendo praticados em
estabelecimentos comerciais usando as tabelas de preço da Sunab (Superintendência Nacional de Abastecimento e
Preços). Eram os chamados fiscais do Sarney, que começaram a beneficiar politicamente a figura do presidente.
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Essa situação favorável não durou muito e em pouco mais de seis meses começou a apresentar
problemas. Os preços congelados, apesar de aumentar de forma significativa o consumo,
desestimulava os produtores a continuar abastecendo o mercado, já que estavam levando
prejuízo. Com isso, o desabastecimento foi tomando conta do país.

Essa situação fez surgir o ágio, que nada mais era um acréscimo do valor dos produtos que os
consumidores aceitavam pagar para não ficarem desabastecidos, mas era uma prática ilegal e
que representou, na prática, o retorno da inflação.

Ao invés de flexibilizar as medidas de congelamento, o governo optou por mantê-lo por causa dos benefícios políticos
em forma de apoio popular e da proximidade das eleições para a Constituinte em novembro de 1986. A autorização
de importações para suprir as faltas do mercado interno provocaram o desequilíbrio da balança comercial e o
esgotamento das reservas financeiras. Além disso, foram previstas privatizações de empresas estatais e a suspensão
do pagamento da dívida externa (moratória) para reduzir os gastos do governo

Em novembro de 1986 aconteceram as eleições para a Assembleia Constituinte nas quais o PMDB foi o grande
vencedor e logo após implantou-se o Plano Cruzado II, que basicamente seria o descongelamento progressivo dos
preços para estimular o abastecimento. Previa:

• Liberação parcial do congelamento: causou o descontrole total da inflação, chegando a bater 365% anuais em
1987.
• Aumento de 80% no valor dos automóveis
• Aumento de tarifas públicas: energia, água, gás, etc.
• Aumento de impostos para cigarros e bebidas

O ministro da Fazenda Dilson Funaro acaba renunciando devido a essa péssima situação financeira e uma onda de
protestos populares começaram a acontecer (ficaram conhecidos como “Badernaço”).

Na tentativa de controlar esses problemas, o presidente ainda lançou o Plano Bresser (1987), que previa:

• congelamentos de salários e preços por 90 dias


• aumento de impostos
• fim da moratória
• fim do gatilho salarial

No fim, a inflação voltou e o governo teve uma queda de popularidade significativa.

Lançaram ainda o Plano Verão (1989), que buscava controlar a inflação realizando:

• novo congelando de preços e salários


• Criação do Cruzado Novo (1 cruzado novo = 1000 cruzados)
• Abertura ao capital estrangeiro

O fim do governo Sarney foi marcado pelo descontrole financeiro e insatisfação popular, com a inflação atingindo 933%
em 1988 e 1764% anuais em 1989. Por causa de toda essa situação a década de 80 ficou conhecida como “A década
perdida” e a inflação passou a ser o maior problema do país.
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• Constituição de 1988 – A “Constituição Cidadã”


Um dos grandes eventos do período foi a convocação da Assembleia Constituinte em fevereiro de 1987. O presidente
da assembleia era Ulysses Guimarães do PMDB, que já havia se destacado anteriormente durante o regime militar
como líder da oposição. Depois de 1 ano e meio de debates e votações acerca da nova Carta, finalmente em outubro
de 1988 promulgou-se a nova Constituição, também conhecida como “Constituição Cidadã” porque foi o marco da
redemocratização e representou o início da Nova República.

São características da constituição de 1988:

• Separação dos três poderes


• Eleições diretas e secretas em todos os níveis;
• Mandato presidencial de 4 anos (com exceção de Sarney que
teria 5 anos);
• Voto facultativo para analfabetos e menores entre 16 e 18
anos;
• Eleições para cargos executivos em dois turnos; (presidente, governadores e prefeitos);
• A volta do Habeas Corpus: direito de responder a um processo em liberdade;
• Fim da censura;
• Direito de greve;
• Férias com adicional de 1/3 do salário;
• Multa de 40% do valor do FGTS em casos de demissão sem justa causa;
• Licença maternidade (120 dias) e paternidade (4 dias);
• Seguro desemprego;
• Racismo se torna crime inafiançável: Importante ressaltar que o racismo já era considerado crime
antes.

Além dessas medidas, a constituição ainda possuía um caráter nacionalista porque previa uma série de atividades a
empresas nacionais, previa intervenção do Estado na economia e a descentralização administrativa e financeira.

Uma das críticas à Constituição era que ela era desnecessariamente extensa e muitas de suas partes poderiam ser
apenas emendas.

• A sucessão do governo
Nas eleições de 1989, iria-se decidir o candidato que ocuparia o lugar Sarney na Presidência da República. A esquerda
representada por Luís Inácio Lula da Silva do PT e Leonel Brizola do PDT possuíam reais chances de vencerem e isso
representava uma forte ameaça para os conservadores. Os candidatos da direita eram Ulysses Guimarães do PMD,
que teve a sua imagem prejudicada pelo governo Sarney, Mário Covas do recém-criado PMDB, que não possuía uma
estrutura partidária consistente, e outros 15 candidatos de campanhas políticas inexpressivas.

Nesse contexto surgiu Fernando Collor de Mello do Partido da


Reconstrução Nacional (criado exclusivamente para a sua candidatura).
Em sua campanha se mostrava como um candidato não ligado à política,
o “caçador de marajás”, prometendo acabar com a corrupção no
governo. Por ser jovem, acabou passando a imagem de alguém que não
era vinculado a velhos esquemas políticos e seria uma suposta
renovação. Diante da ausência de outros candidatos que pudessem
proteger seus interesses, os conservadores apoiaram Collor. Ele ainda
conseguiu o apoio de parte da imprensa, como foi o caso da Rede Globo.
Graças a isso, fez a sua campanha pautada no poder da imagem, slogans,
frases de efeito e discursos vazios, quase sempre sem nenhum projeto
político.

No primeiro turno Collor alcançou 25% dos votos e Lula, 14%. No segundo turno a situação se manteve e Collor recebeu
42,7% e Lula, 37,86%. Sendo assim iniciava-se a Era Collor.
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• Fernando Collor de Mello (1990-1992)


Collor foi eleito principalmente porque era visto como o candidato que traria a “modernização” da economia
brasileira. Essa modernização se traduzia na adequação do Brasil à nova realidade do neoliberalismo mundial e
medidas como defesa do livre mercado, abertura para importações, fim de subsídios do governo e privatizações.

Sua política foi voltada para o combate à inflação advinda do governo anterior. Em um projeto idealizado pela então
ministra da Economia Zélia Cardoso e sua equipe econômica, foi lançado o Plano Collor em 16 de março de 1990, um
dia após Collor assumir a presidência. Esse plano determinava:

1. Volta do cruzeiro como moeda oficial: 1 cruzado novo = 1 cruzeiro;


2. Estabelecimento de novos congelamentos de preços;
3. Livre negociação de salários;
4. Aumento de tarifas;
5. Facilidades para importação;
6. Privatizações de estatais;
7. Redução de gastos públicos: salários, projetos sociais e demissão
de funcionários do governo;
8. Confisco de contas-correntes, investimentos e poupanças que
excedessem 50 mil cruzeiros por 18 meses.

Os principais objetivos do plano eram:

1. Queda da inflação por meio da diminuição do consumo;


2. Tornar a economia brasileira mais eficiente e diminuir o papel do Estado;
3. Adequar o setor privado à concorrência estrangeira.

Em um primeiro momento os resultados foram os esperados: a inflação realmente caiu e não houve explosão de
consumo que criasse condições para que voltasse a crescer. Os problemas foram aparecer com o decorrer do tempo.
Eles foram:

1. O país entrou em profunda recessão;


2. Redução da atividade industrial em decorrência da concorrência estrangeira;
3. Aumento do desemprego e falências.

Diante do fracasso do Plano Collor, Zélia sai do Ministério da


Economia e o governo ainda tenta lançar mais um plano econômico:
o Plano Collor II em 31 de janeiro de 1991. Determinava:

1. Novos congelamentos de preços e salários;


2. Redução de taxas de importação;
3. Política de juros altos (queria estimular a poupança e
desestimular novos negócios, mantendo a atividade econômica
baixa);
4. Substituição das taxas overnight por ferramentas fiscais que
antecipavam a taxa de produção de papéis privados e federais.

Os resultados só foram positivos até maio do mesmo ano, mas logo a inflação voltou a subir. Ainda houve o Plano
Marcílio de 10 de maio de 1991, que entre outras coisas:

1. Colocava Marcílio Marques Moreira como Ministro da Economia, ocupando o lugar de Zélia;
2. Mantinha os juros altos e a política fiscal restritiva (redução de gastos do governo);
3. Liberação dos preços;
4. Empréstimo de 2 milhões de dólares no FMI para garantir as reservas internas.

O plano continuou até depois da saída do presidente, manteve os patamares de hiperinflação e foi considerado mais
gradual em relação aos seus antecessores.
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• O Impeachment
Com o decorrer do governo, Collor começou a querer se desvincular das principais bases que o apoiaram em sua
campanha, como por exemplo grupos industriais de São Paulo e imprensa, principalmente a Rede Globo. De repente
começaram a surgir denúncias de corrupção relacionadas ao governo noticiadas principalmente pela Globo.

Em outubro de 1991, começaram a aparecer denúncias as quais diziam que Paulo César Farias (que ficou conhecido
como PC Farias), amigo pessoal e tesoureiro da campanha de Collor, estaria pressionando presidentes de estatais, no
caso a Petrobrás, a realizar negócios contrários aos interesses da empresa, mas favoráveis a grupos particulares.

A partir daí, a vida e negócios de PC Farias começaram a ser


investigados, principalmente pela imprensa. Nesse momento, em
maio de 1992, a revista Veja trouxe declarações do irmão do
presidente, Pedro Collor, que mostravam que Fernando Collor era
um dos beneficiados desse esquema (há rumores que dizem que ele
fez isso por ficar de fora do esquema). Além das denúncias, Pedro
entregou documentos que comprovavam o envolvimento do
presidente. Esse caso ficou conhecido como “Esquema PC” e em
junho de 1992 foi instaurada uma CPI para apurar o fato.

Collor, que foi eleito como o “caçador de marajás”, mostrou-se o maior deles. Com isso, a imensa população que
anteriormente tinha o apoiado nas eleições saiu às ruas para exigir o seu impeachment com roupas pretas e rostos
pintados de verde e amarelo (os caras-pintadas) no movimento que ficou conhecido como “Fora Collor” acontecido
no dia 16 de setembro de 1992, após ele convocar o povo a ir protestar usando camisas verde e amarelas para o apoiar.
Dentre esses grupos destaca-se o retorno do movimento estudantil representado pela UNE (União Nacional dos
Estudantes) e pela UBES (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas), influenciados diretamente pela imprensa que
na época transmitia minisséries sobre a resistência durante a ditadura militar.

Assim, no dia 29 de setembro de 1992 o processo de


impeachment é votado na Câmara dos Deputados e é aprovado
por 441 votos contra 38. Em seguida, no dia 1 de outubro o
processo é instaurado no Senado. No dia seguinte Collor foi
afastado da presidência e assumiu interinamente Itamar
Franco, o vice, e começa a montar a sua equipe ministerial. Em
29 de dezembro, quando o Senado se reuniu para a votação, foi
anunciada a renúncia de Fernando Collor de Mello, que não
queria permanecer 8 anos inelegível para dar continuidade à
sua carreira política. Porém, mesmo assim a votação aconteceu
e seus direitos políticos foram cassados e foi destituído. PC Farias também teve a sua prisão decretada e foi preso
após fugir para o exterior. Em 1993, após cumprir curta pena na cadeia, foram assassinados ele e a esposa no que se
acredita ter sido uma queima de arquivo.

• Itamar Franco (1992-1995)


Com o afastamento de Collor da presidência, assumiu o vice presidente Itamar
Franco em seu lugar. Vale ressaltar que a maioria das pessoas não sabiam
quem ele era dado a sua postura discreta e imagem pacata, além de sua ficha
limpa e sem envolvimento em esquemas de corrupção. Esse contraste em
relação ao antecessor fez com que conquistasse a simpatia de partidos
políticos, com destaque para o PSDB, cujos membros passaram a ter grande
influência no governo.

Sua gestão foi marcada pela continuidade das privatizações e pela inflação
que continuava fora de controle (média de 40% ao mês). A melhora foi
percebida em relação à questão da dívida externa. A tentativa de
renegociação do pagamento da dívida vinha desde o governo de Figueiredo,
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mas a partir de 1889 começou-se a sentir um alívio depois que os EUA fizeram a securitização da dívida externa de
países devedores com a emissão de títulos dessa dívida com a garantia do Tesouro Americano. Esse processo atingiu a
maturidade em 1994 durante o governo Itamar e proporcionou a volta do crescimento econômico (média de 5%: a
maior desde o ano do plano Cruzado).

• Plebiscito – (República x Monarquia – Presidencialismo x Parlamentarismo)


Em 21 de abril de 1993 ocorreu um plebiscito para decidir
a forma e o sistema de governo do país. Após a
redemocratização, uma emenda da nova Constituição
determinava a realização de uma votação para
determinar se o Brasil deveria ter uma forma de governo
monarquista ou republicana e se o sistema de governo
seria presidencialista ou parlamentarista. Inicialmente
estava prevista para ocorrer no dia 7 de setembro de
1993, mas em fevereiro Itamar regulamentou a sua
antecipação para de 21 de abril.

Apesar da propaganda nos veículos de comunicação e da obrigatoriedade do voto no país o comparecimento às urnas
foi de 74%. No final, a maioria dos votos foi para o regime republicano e sistema presidencialista como já vinha
ocorrendo.

• O Plano Real
(Dá uma olhada nesse vídeo: https://youtu.be/9X3eocDF8uc)

O Plano Real foi implementado em fevereiro de 1994 pelo Ministro da Fazenda e sociólogo Fernando Henrique Cardoso
juntamente com a sua equipe econômica, que era fortemente ligada ao PSDB.

Os planos econômicos anteriores pautaram-se no congelamento de preços e salários, sendo que nenhum deles deu
certo. O Plano Real tentaria seguir por um caminho diferente e isso gerou uma certa desconfiança por parte dos
políticos e população, que já estavam saturados das consequências de planos mirabolantes. Nesse sentido, foi de
grande importância a base política do governo no Congresso para aprovar as principais medidas do plano.

O plano foi implementado em etapas entre 1993 e 1994. Foram 3 etapas previstas por FHC: a primeira seria a
estabilização das contas públicas, a segunda seria o lançamento da Unidade Real de Valor (URV) e a terceira, o
lançamento efetivo do Real.

Na primeira fase, as privatizações foram estabelecidas como meta para reduzir os gastos públicos, houve uma série
de aumentos em impostos e uma reforma no orçamento da União para que alguns desses impostos pudessem ser
remanejados para outras áreas que não fossem destinações específicas. Com isso, puderam remanejar parte dos
recursos que eram destinados a áreas como saúde e educação por exemplo. Além disso, ocorreu a desindexação da
economia da inflação à inflação e indexação ao dólar, na prática isso significava que os preços deixariam de variar
junto com a inflação, que estava sem controle, e começaria a se basear na variação do preço do dólar, que era bem
estável na época. Também houve a redução de taxas de importação, visando a manutenção do abastecimento do
mercado e a modernização da indústria para que os preços não subissem novamente.

A segunda fase posta em prática em março de 1994 foi a criação da Unidade Real de Valor (URV), uma moeda virtual
que serviria como índice para a transição da conversão do cruzeiro real para o real que aconteceria de março a julho
do mesmo ano. Esses valores referenciais eram estipulados pelo próprio governo. 1 real era igual a 1 URV, que por
sua vez seria igual a 2750 cruzeiros reais.

A terceira fase foi a efetiva implantação do Real em 1 de julho de 1994. A sustentação da nova moeda foi garantida
pela sua indexação ao dólar, que conferia segurança e estabilidade. Para isso, o governo precisou aumentar as suas
reservas cambiais e atrair dólares para o país. Esse fato foi possível graças ao controle da dívida externa evitando a
saída da moeda estrangeira do país e da manutenção de altas taxas de juros, que atraíram o capital internacional.
Imediatamente o plano já mostrou ter sido um sucesso pois no final de julho a inflação fechou em 10% e no final do
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ano estava em 1%. O aumento do poder de compra proporcionou amplo apoio popular e satisfação por todo o país.
Por outro lado, empresas pequenas em dificuldades foram à falência com a alta dos juros e aumento do desemprego.

Essa situação recessiva contribuiu ainda mais para a queda da inflação, que foi divulgada pelo governo como prova do
espetacular sucesso do Plano Real. O grande diferencial desse plano para os anteriores foi o seu caráter gradual.

Fato é que o sucesso do Plano Real foi de suma importância nas eleições de sucessão de Itamar Franco no fim de
1994. FHC (filiado ao PSDB e que havia composto uma frente de partidos com destaque ao PFL que indicou o seu vice)
se tornou uma figura amplamente popular e naquele momento não deu chances ao concorrente Luís Inácio Lula da
Silva do PT, tendo vencido nas urnas com quase 55% dos votos válidos contra 27% do adversário. Em 1 de janeiro de
1995 iniciaria o seu governo.

• Fernando Henrique Cardoso – 1º mandato (1995 – 1998)


O governo de FHC representou a efetiva implantação do Neoliberalismo no Brasil.
Seu principal objetivo foi controlar a inflação e garantir que ela não voltasse a
crescer. Para isso, continuou o processo de reformas estruturais que vinham
acontecendo nos anos anteriores.

Sua gestão foi marcada pelas privatizações de grandes estatais, muitas vezes por
preços abaixo do esperado, como a Vale do Rio Doce, Telebrás, Embratel, CSN e
Banespa (Banco Nacional do Estado de São Paulo). O plano de estabilização
econômica com o aumento das taxas de juros e política de investimentos em
importação levaram à quebra de muitos bancos, falência de empresas nacionais e
aumento do desemprego.

Em meio a todas as medidas, o lado social foi deixado de lado e o avanço da maior
integração com o capitalismo internacional serviu para que os opositores rotulassem
o governo como “comprometido ao Consenso de Washington”.

Também foi em 1995 que removeram simbolicamente as barreiras alfandegárias entre o Brasil, Argentina, Uruguai e
Paraguai, foi o nascimento do Mercosul, um bloco econômico aos moldes dos que vinham surgindo ao redor do mundo
naquela época. Buscou-se, da mesma forma, promover a instalação de multinacionais e a entrada de capital
estrangeiro no país.

Em 1997, FHC enviou para o Congresso e conseguiu aprovar a emenda que possibilitaria a reeleição. Com isso, mais
uma vez foi candidato e teve Lula novamente como seu adversário. O Plano Real e o controle da inflação continuaram
sendo a sua propaganda política e garantiram a sua vitória.
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• 2º mandato (1998-2002)
Nessa segunda etapa do seu governo, não houve tanto investimento em privatizações como no mandato anterior e a
inflação conseguiu ser controlada, porém a distribuição de renda continuava muito desigual pelo país.

Em 1999 aconteceu uma crise globalizada na Ásia, Rússia e


México que afetou o câmbio brasileiro em decorrência da
continuidade do Neoliberalismo, desvalorizando o real e
forçando o país a aumentar os juros reais e consequentemente
aumentar a dívida externa do país.

Em 2000 foi aprovada a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF),


que limitava o endividamento de estados e municípios, bem
como gastos com o funcionalismo público. Essa lei previa
punições para os políticos que gastassem mais do que tivessem
em caixa nos seus governos.

Ficou também estabelecido o Tripé Macroeconômico que


estabelecia uma meta fiscal para ajustar os gastos do governo à
receita adquirida, uma meta de inflação para definir uma
porcentagem a ser alcançada anualmente para que a inflação
permanecesse controlada e o câmbio flutuante que iria variar de
acordo com as leis da oferta e procura, diferentemente da
política de câmbio fixo adotada anteriormente ao tripé.

Os destaques brasileiros foram o início da construção do


gasoduto Brasil-Bolívia em 1997, a elaboração de um Plano
Diretor da Reforma do Estado, que priorizaria o investimento
em carreiras estratégicas para a gestão do setor público e a
aprovação de emendas para flexibilizar o monopólio de
empresas como a Petrobrás, Telebrás, etc.

Durante o seu governo, em 1996, houve a implementação da Lei


de Diretrizes e Bases da Educação, que propunha a
universalização do ensino básico, assim, conseguiu diminuir
índices de analfabetismo e evasão escolar. Também foi nesse
período em que o Brasil se tornou referência no tratamento da
Aids e reduziu significativamente a mortalidade infantil. Também
houve a criação de programas sociais como: Bolsa Escola, Bolsa Alimentação e o Vale Gás.

Mesmo assim, no segundo mandato, FHC teve a popularidade


debilitada por causa da ampliação do desemprego. Funcionários
públicos também não tiveram reajustes significativos de salário
para reduzir gastos e controlar a inflação. Movimentos sociais
protestavam porque a política neoliberal fazia com que
trabalhadores estivessem sujeitos a baixos salários e falta de
oportunidades de trabalho. A seca nas usinas hidrelétricas afetou
a geração de energia e deixou grandes regiões do país sem
eletricidade, que ficaram conhecidos como “apagões”. O
governo foi acusado de não investir o suficiente no setor
energético e forçar a população a ter que mudar de hábitos para
economizar esse recurso.

Toda essa situação de críticas ao descaso com o setor social propiciou o ambiente político ideal para a eleição de Lula
do PT em 2002 para a sucessão da presidência, tendo vencido José Serra do PSDB por 61% dos votos válidos contra
38%.

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