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Apesar de ser um governo civil, o grupo que detinha o poder era o mesmo dos anos
anteriores e, por isso, não houve uma remodelação profunda e completa da
estrutura brasileira. Isso proporcionou certa segurança para os conservadores.
• Contexto
José Sarney assumiu o país em aguda crise econômica, vítima de uma péssima
distribuição de renda, no auge da dívida externa, inflação de 223% gerada pelas
medidas do governo anterior (fracassado PNAD II), enfrentando os desafios de se
ter uma economia cada vez mais globalizada e sem poder quebrar os privilégios dos grupos políticos tradicionais que
o cercavam e aos quais era ligado, destacando-se a aliança PFL (Partido da Frente Liberal) e PMDB.
O modelo econômico brasileiro de substituição de importações implantado desde a época de Vargas marcado pela
intervenção estatal e por medidas protecionistas começou a demonstrar sinais de desgaste diante da nova dinâmica
econômica internacional. A queda de produtividade do setor industrial bancado pelo Estado mostrava que era
impossível concorrer com os conglomerados internacionais, que já se modernizavam desde a década de 60. Essa nova
dinâmica produtiva exigia imensos investimentos que somente as grandes multinacionais eram capazes de bancar.
Assim, estimulava-se a ampliação dos mercados, o fim de barreiras protecionistas e as associações regionais como a
Nafta, União Europeia e Mercosul. Nascia o Neoliberalismo no Brasil, marcado pela redução da intervenção do Estado
na economia, privatização de empresas estatais e flexibilização de leis trabalhistas.
• Setor econômico
No governo Sarney, a aliança PMDB/PFL teve grande peso no novo governo. Em agosto de 1985, o ministro da Fazenda
Francisco Dornelles, que foi indicado por Tancredo Neves antes da posse e era ligado à velha equipe econômica dos
militares, se demitiu. Isso abriu caminho para a nomeação de Dílson Funaro do PMDB para ministro da Fazenda. A
equipe de economistas que o cercou criticava o modelo econômico que foi adotado nos anos anteriores.
Em 1 de março de 1986 foi implantado o Plano Cruzado, que buscava combater a inflação sem comprometer o
crescimento econômico. Acreditava-se que implantar a recessão para combater a inflação conforme foi feito
anteriormente era um equívoco por causa das desigualdades sociais e da miséria em que vivia boa parte da população.
Com o longo processo inflacionário, os preços eram remarcados para cima mesmo sem motivo econômico para isso
porque acreditava-se que logo eles aumentariam.
• Trocar a moeda em circulação para o cruzado (1000 cruzeiros = 1 cruzado): na prática serviria para diminuir a
quantidade de moeda em circulação.
• Congelamento de preços por um ano: combater esses reajustes automáticos.
• Congelamento de salários
• Gatilho salarial: toda vez que a inflação aumentasse 20%, os salários aumentariam automaticamente na
mesma medida.
• Criação do FND (Fundo Nacional do Desenvolvimento)
Inicialmente o plano foi um sucesso e os preços realmente não aumentaram. Isso fez com que a população também
aderisse ao projeto de governo, fiscalizando por conta própria os preços que estavam sendo praticados em
estabelecimentos comerciais usando as tabelas de preço da Sunab (Superintendência Nacional de Abastecimento e
Preços). Eram os chamados fiscais do Sarney, que começaram a beneficiar politicamente a figura do presidente.
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Essa situação favorável não durou muito e em pouco mais de seis meses começou a apresentar
problemas. Os preços congelados, apesar de aumentar de forma significativa o consumo,
desestimulava os produtores a continuar abastecendo o mercado, já que estavam levando
prejuízo. Com isso, o desabastecimento foi tomando conta do país.
Essa situação fez surgir o ágio, que nada mais era um acréscimo do valor dos produtos que os
consumidores aceitavam pagar para não ficarem desabastecidos, mas era uma prática ilegal e
que representou, na prática, o retorno da inflação.
Ao invés de flexibilizar as medidas de congelamento, o governo optou por mantê-lo por causa dos benefícios políticos
em forma de apoio popular e da proximidade das eleições para a Constituinte em novembro de 1986. A autorização
de importações para suprir as faltas do mercado interno provocaram o desequilíbrio da balança comercial e o
esgotamento das reservas financeiras. Além disso, foram previstas privatizações de empresas estatais e a suspensão
do pagamento da dívida externa (moratória) para reduzir os gastos do governo
Em novembro de 1986 aconteceram as eleições para a Assembleia Constituinte nas quais o PMDB foi o grande
vencedor e logo após implantou-se o Plano Cruzado II, que basicamente seria o descongelamento progressivo dos
preços para estimular o abastecimento. Previa:
• Liberação parcial do congelamento: causou o descontrole total da inflação, chegando a bater 365% anuais em
1987.
• Aumento de 80% no valor dos automóveis
• Aumento de tarifas públicas: energia, água, gás, etc.
• Aumento de impostos para cigarros e bebidas
O ministro da Fazenda Dilson Funaro acaba renunciando devido a essa péssima situação financeira e uma onda de
protestos populares começaram a acontecer (ficaram conhecidos como “Badernaço”).
Na tentativa de controlar esses problemas, o presidente ainda lançou o Plano Bresser (1987), que previa:
Lançaram ainda o Plano Verão (1989), que buscava controlar a inflação realizando:
O fim do governo Sarney foi marcado pelo descontrole financeiro e insatisfação popular, com a inflação atingindo 933%
em 1988 e 1764% anuais em 1989. Por causa de toda essa situação a década de 80 ficou conhecida como “A década
perdida” e a inflação passou a ser o maior problema do país.
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Além dessas medidas, a constituição ainda possuía um caráter nacionalista porque previa uma série de atividades a
empresas nacionais, previa intervenção do Estado na economia e a descentralização administrativa e financeira.
Uma das críticas à Constituição era que ela era desnecessariamente extensa e muitas de suas partes poderiam ser
apenas emendas.
• A sucessão do governo
Nas eleições de 1989, iria-se decidir o candidato que ocuparia o lugar Sarney na Presidência da República. A esquerda
representada por Luís Inácio Lula da Silva do PT e Leonel Brizola do PDT possuíam reais chances de vencerem e isso
representava uma forte ameaça para os conservadores. Os candidatos da direita eram Ulysses Guimarães do PMD,
que teve a sua imagem prejudicada pelo governo Sarney, Mário Covas do recém-criado PMDB, que não possuía uma
estrutura partidária consistente, e outros 15 candidatos de campanhas políticas inexpressivas.
No primeiro turno Collor alcançou 25% dos votos e Lula, 14%. No segundo turno a situação se manteve e Collor recebeu
42,7% e Lula, 37,86%. Sendo assim iniciava-se a Era Collor.
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Sua política foi voltada para o combate à inflação advinda do governo anterior. Em um projeto idealizado pela então
ministra da Economia Zélia Cardoso e sua equipe econômica, foi lançado o Plano Collor em 16 de março de 1990, um
dia após Collor assumir a presidência. Esse plano determinava:
Em um primeiro momento os resultados foram os esperados: a inflação realmente caiu e não houve explosão de
consumo que criasse condições para que voltasse a crescer. Os problemas foram aparecer com o decorrer do tempo.
Eles foram:
Os resultados só foram positivos até maio do mesmo ano, mas logo a inflação voltou a subir. Ainda houve o Plano
Marcílio de 10 de maio de 1991, que entre outras coisas:
1. Colocava Marcílio Marques Moreira como Ministro da Economia, ocupando o lugar de Zélia;
2. Mantinha os juros altos e a política fiscal restritiva (redução de gastos do governo);
3. Liberação dos preços;
4. Empréstimo de 2 milhões de dólares no FMI para garantir as reservas internas.
O plano continuou até depois da saída do presidente, manteve os patamares de hiperinflação e foi considerado mais
gradual em relação aos seus antecessores.
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• O Impeachment
Com o decorrer do governo, Collor começou a querer se desvincular das principais bases que o apoiaram em sua
campanha, como por exemplo grupos industriais de São Paulo e imprensa, principalmente a Rede Globo. De repente
começaram a surgir denúncias de corrupção relacionadas ao governo noticiadas principalmente pela Globo.
Em outubro de 1991, começaram a aparecer denúncias as quais diziam que Paulo César Farias (que ficou conhecido
como PC Farias), amigo pessoal e tesoureiro da campanha de Collor, estaria pressionando presidentes de estatais, no
caso a Petrobrás, a realizar negócios contrários aos interesses da empresa, mas favoráveis a grupos particulares.
Collor, que foi eleito como o “caçador de marajás”, mostrou-se o maior deles. Com isso, a imensa população que
anteriormente tinha o apoiado nas eleições saiu às ruas para exigir o seu impeachment com roupas pretas e rostos
pintados de verde e amarelo (os caras-pintadas) no movimento que ficou conhecido como “Fora Collor” acontecido
no dia 16 de setembro de 1992, após ele convocar o povo a ir protestar usando camisas verde e amarelas para o apoiar.
Dentre esses grupos destaca-se o retorno do movimento estudantil representado pela UNE (União Nacional dos
Estudantes) e pela UBES (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas), influenciados diretamente pela imprensa que
na época transmitia minisséries sobre a resistência durante a ditadura militar.