Você está na página 1de 7

GOVERNO SARNEY (1985-1990)

Introdução
José Sarney foi o primeiro presidente civil do Brasil após o longo período
de Ditadura Militar no país. Sarney foi indicado, inicialmente, para a vice-
presidência do país, enquanto Tancredo Neves foi o nome indicado para o
cargo da presidência.

Tancredo Neves, entretanto, nem chegou a assumir o cargo de presidente,


pois, por problemas de saúde, passou por um tratamento hospitalar e veio a
falecer. Sendo assim, José Sarney assumiu a presidência em 1985, e ocupou o
cargo até o ano de 1990.

Quem foi José Sarney


José Sarney nasceu no ano de 1930 na cidade de Pinheiro, no Maranhão.
Formado em direito, foi suplente de deputado federal, senador e governador do
Estado do Maranhão ainda durante o período do Regime Militar.

Em sua carreira como político, também presidiu o partido contrário ao governo


de Getúlio Vargas, a chamada UDN (União Democrática Nacional) e participou
do partido apoiador das pautas militares, o ARENA (Aliança Renovadora
Nacional), durante o Regime Ditatorial Militar no país.

Fim da ditadura militar


O Regime Militar no Brasil foi marcado por governos autoritários que tiveram
início com o Golpe Militar de 1964 e duraram até o ano de 1985. Em 1974,
quando o General Geisel assumiu o poder, as crises e pressões para o fim do
Regime levaram a uma “abertura lenta, gradual e segura” em direção à
retomada da democracia e das liberdades políticas. 

A divulgação dos crimes de tortura da ditadura começou a aumentar a rejeição


ao regime. Em 1979, com o Presidente Figueiredo, foi decretada a anistia aos
presos políticos e exilados e o fim do bipartidarismo. 

As greves de 1978 e os movimentos estudantis contribuíram muito com o


enfraquecimento do regime e levaram a manifestações de massa em 1984, que
reivindicavam a realização de eleições diretas para o Presidente da República,
as Diretas Já. 
Os protestos de artistas, políticos, setores civis, estudantes e trabalhadores
não foram efetivos, e Tancredo Neves foi eleito pelo Colégio Eleitoral.
Entretanto, Tancredo faleceu antes de assumir o cargo, levando à posse do
vice José Sarney, o primeiro presidente civil depois de 21 anos de Regime
Militar no Brasil.

Contexto: a redemocratização do Brasil


O governo de José Sarney só foi possível pela redemocratização que o Brasil
passou na década de 1980. A abertura democrática iniciou-se durante o
governo de Ernesto Geisel como uma estratégia dos militares para implantar
governos civis que estivessem inteiramente alinhados com os interesses das
Forças Armadas. Os historiadores chamam isso de “abertura controlada”.

Diretas Já

Os interesses dos militares acabaram frustrados com a demanda popular de


democratização do país. Esse processo foi reforçado com o surgimento de
novos partidos políticos, o que deu força para a oposição política. Em 1982, a
oposição conseguiu vencer as eleições para governador em dez estados – um
indicativo evidente da força dos partidos de oposição ao regime.

A partir de 1984, a luta pela redemocratização do Brasil ganhou força com a


campanha pelas eleições diretas. Nomes como Ulysses Guimarães, Lula e
Leonel Brizola apoiaram a campanha pelas eleições diretas para presidente –
algo que não acontecia desde 1960. A Campanha das Diretas Já foi resultado
de uma emenda proposta por um deputado do PMDB, a qual ficou conhecida
como Emenda Dante de Oliveira.

Milhões de brasileiros foram às ruas clamar por eleições diretas, havendo o


envolvimento de pessoas influentes da sociedade da época, como Fernando
Henrique Cardoso, Franco Montoro e Tancredo Neves. Em São Paulo, o
comício das Diretas Já mobilizou 1,5 milhão de pessoas|1|.

A Emenda Dante de Oliveira precisava obter 320 votos para que fosse
aprovada e, assim, a eleição presidencial de 1985 seria direta. A expectativa da
população era gigantesca, pois a voz da população havia sido clara e o desejo
era de que a escolha do presidente fosse feita pelo povo. Mas não foi isso que
aconteceu, e a emenda recebeu apenas 298 dos 320 votos de que precisava

Eleição de 1985

Durante a eleição de 1985, o político mineiro Tancredo Neves concorreu à


presidência do Brasil.

Como a eleição presidencial de 1985 seria realizada de maneira indireta, cabia


ao Colégio Eleitoral fazer essa escolha. A derrota da emenda naturalmente foi
um choque para a população, mas o PMDB precisou reorganizar-se para
enfrentar os militares na eleição. Uma mudança foi feita, e Ulysses Guimarães
foi substituído por Tancredo Neves como candidato presidencial da oposição.

Isso porque Tancredo Neves tinha mais possibilidade de vencer a disputa no


Colégio Eleitoral.

Tancredo Neves era um tradicional político mineiro, possuía uma relação


melhor com os militares e havia negociado com eles não os investigar ou puni-
los por crimes cometidos durante a ditadura se fosse eleito. Sendo assim, ele
acabou sendo escolhido pelo PMDB como candidato à presidência do Brasil.

Tancredo concorreria contra o candidato do PDS, o partido herdeiro do Arena.


Por indicação do presidente, o candidato escolhido pelo PDS foi Paulo Maluf,
mas essa escolha rachou o PDS. No interior do partido, existiam inúmeras
candidaturas e, por isso, os membros do PDS apoiavam a realização de
prévias (sondagem antes das eleições para se ter uma ideia das tendências
dos eleitores) para decidir o candidato do PDS.

A nomeação de Paulo Maluf acabou atropelando o desejo de membros do


partido e, por isso, o PDS dividiu-se. O grupo dissidente formou a Frente
Liberal (FL), e essa dissidência acabou negociando com Tancredo Neves o
apoio à sua candidatura. Um dos principais nomes do FL, José Sarney, acabou
mudando-se do PDS para o PMDB e foi escolhido como candidato a vice-
presidente de Tancredo como parte do acordo entre PMDB e FL.

Parte da oposição, representada pelo PT, negou-se a aderir à campanha


eleitoral de 1985 por não concordar com a escolha ser indireta. De toda forma,
a campanha eleitoral de Tancredo Neves foi um sucesso e ele derrotou Paulo
Maluf no Colégio Eleitoral por 480 contra 180 votos. A vitória aconteceu em 15
de janeiro de 1985, e a posse ocorreria em 15 de março de 1985.

A população brasileira ficou eufórica com a vitória do político mineiro, pois ela
marcava o fim de duas décadas de ditadura e de governos militares. Mas as
coisas acabaram não saindo do jeito que todos esperavam."

Falecimento de Tancredo Neves


Havia muita euforia com a posse de Tancredo Neves, marcada para 15 de
março de 1985. Um anticlímax tremendo aconteceu quando, às vésperas da
posse, na noite do dia 14 de março, Tancredo Neves passou mal e precisou
ser internado às pressas. Ele foi operado no Hospital de Base de Brasília, e o
motivo da operação, divulgado para o país, foi uma diverticulite, mas a causa
real era um tumor.
O tratamento que passou em Brasília foi criticado posteriormente por não estar
adequado às condições mínimas de higiene. O quadro infeccioso de Tancredo
Neves, que escondeu suas dores por meses, agravou-se no hospital em
Brasília, e, por isso, ele foi transferido para São Paulo. Lá ele passou por
outras seis cirurgias, mas faleceu, no dia 21 de abril de 1985.

Com a internação e a cirurgia, Tancredo tornou-se incapaz de tomar a posse


no 15 de março. Depois de muita negociata política, os militares e as lideranças
do PMDB decidiram que Sarney assumiria a presidência interinamente até a
recuperação de Tancredo, que nunca aconteceu. Muitos cogitaram a posse de
Ulysses Guimarães, presidente da Câmara, mas ele não aceitou.

A posse de José Sarney indignou muitos na época, porque ele foi um apoiador
da ditadura e construiu sua carreira política apoiando os militares. Sua posse
aconteceu no dia 15 de março, e ele governou os primeiros meses sob a forte
influência de Ulysses Guimarães, político muito respeitado na época.

Constituição de 1988
A Constituição de 1988, também conhecida como Constituição Cidadã, foi o
grande momento da redemocratização do Brasil. Nela foram reunidos direitos
resultados de décadas de luta no Brasil por direitos humanos, respeito às
minorias que formam o país e democratização do país.

Essa constituição resultou dos trabalhos da Assembleia Constituinte, formada


por mais de 500 congressistas que, durante um ano e meio, reuniram-se e
debateram o que seria incluído nela. No trabalho de produção, o envolvimento
popular também foi enorme e associações foram formadas para defender os
interesses da população.

A Constituição de 1988 foi promulgada em 5 de outubro de 1988, após discurso


de Ulysses Guimarães, presidente da Constituinte. Ela possui 250 artigos e é o
documento mais democrático já produzido na história do Brasil.

Economia
Outro assunto de muita importância no governo de José Sarney foi a economia
do país. Ele assumiu a dura missão de tentar recuperar a economia brasileira,
em crise desde o final da década de 1970. O grande símbolo dela, o legado de
duas décadas de má gestão econômica dos militares, foi a inflação — em
1984, ela tinha sido de 215%.

Na passagem de 1985 para 1986, Sarney nomeou novas pessoas para


assumir a pasta da Fazenda, colocando nomes que pertenciam ao FL e
reduzindo a influência do PMDB nesse ministério. Para solucionar a crise,
Sarney e seus economistas elaboraram o Plano Cruzado, lançado no dia 28 de
fevereiro de 1986.

Esse plano trouxe soluções de choque para a economia e impôs congelamento


de preços e reajuste de salários. Além disso, uma nova moeda foi criada, e,
assim, o cruzeiro foi substituído pelo cruzado. Com o plano, 1000 cruzeiros
seriam convertidos automaticamente em 1 cruzado. Com o congelamento dos
preços, a população foi incentivada a monitorá-los e denunciar comerciantes
que os reajustassem.

O plano teve um bom resultado nas primeiras semanas e deixou a população


eufórica. A inflação caiu rapidamente, e o aumento salarial deu à população
uma melhoria significativa no seu poder de compra. A soma do congelamento
de preços com aumento no poder de compra resultou no esgotamento das
mercadorias.

Isso se deu, principalmente, porque muitas mercadorias começaram a ser


seguradas pelos distribuidores. O preço delas continuou tabelado de acordo
com o congelamento, mas os comerciantes só as disponibilizavam mediante o
pagamento de uma taxa extra conhecida como ágio.

Houve também aumento na importação de mercadorias, o que contribuiu para


esvaziar as reservas cambiais do país. O resultado começou a mostrar-se
desastroso para o país, e a pressão exercida puxou a inflação novamente para
cima. O governo sabia que o congelamento de preços não poderia ser
sustentado por muito tempo, mas Sarney decidiu segurá-lo até as eleições de
novembro de 1986.

Como a população não percebeu que o Plano Cruzado estava fracassando


lentamente, o resultado dele foi um sucesso monumental para o PMDB,
que elegeu 22 dos 23 governadores naquela eleição. Seis dias depois do
resultado das eleições e de constatado o sucesso do PMDB, o presidente
lançou o Plano Cruzado II.

Com esse plano, foi autorizado o reajuste no valor de serviços e mercadorias,


além de haver aumentos de impostos em alguns tipos de mercadoria. Assim, o
valor de várias mercadorias teve aumento de mais de 100%, e itens, como
combustíveis e energia elétrica, passaram por fortes reajustes.

A situação da economia brasileira agravou-se tanto que, no início de 1987, o


Brasil anunciou moratória, e, com isso, os credores do país foram avisados de
que não seriam pagos até o restabelecimento da economia. Durante o governo
de Sarney, a inflação chegou a 2000% e sua popularidade despencou. O
presidente também sofreu diversas denúncias por estar envolvido com
corrupção.

Com a eleição de 1989 e a vitória de Fernando Collor de Mello, a presidência


foi transmitida para esse político alagoano que teve um governo conturbado.

O Plano Bresser e o Plano Verão


Além dos Planos já mencionados, ocorreram dois Planos de menor importância
no Governo Sarney: O Plano Bresser e o Plano Verão. Vejamos cada um
deles. Em 1987 a situação econômica do Brasil estava caótica, a hiperinflação,
a alta taxa de desemprego e a crise cambial fizeram com que Sarney optasse
pela saída de Dílson Funaro. Para seu lugar foi escolhido Luís Carlos Bresser
Pereira Bresser percebeu que o poder de consumo adquirido com o Plano
Cruzado era insustentável. A valorização real da taxa de câmbio ficou
impossibilitada devido a redução das reservas de dólar. A compressão das
taxas públicas estava levando a uma expansão monetária, o que era uma
medida inflacionária. Por fim, o aquecimento da atividade econômica estava
em tendência de baixa em uma economia com preços congelados. Dessa
forma, Bresser tentou combinar a redução dos salários reais com a queda de
inflação. Associação que fracassou. O Plano congelou os preços e salários,
dessa vez, por tempo determinado, 90 dias. Além disso, alterou a forma de
correção dos salários para quando o congelamento expirasse. Bresser também
desvalorizou a taxa de câmbio como forma de contrair as importações e
favorecer as exportações. O objetivo era reduzir a inflação na medida que os
salários reais reduzissem junto, como forma de contrair o consumo. Contudo,
a nova forma de reajuste salarial gerou um descompasso entre a inflação que
continuou em taxas altas e o poder de compra real. Dessa forma, houve forte
pressão por parte dos trabalhadores para que os ordenados fossem
reajustados. Sem muita saída e com pouca legitimidade no poder para tocar a
política econômica de forma austera, Sarney cedeu e os salários foram
corrigidos. Bresser Pereira não conseguiu bons resultados e acabou pedindo
demissão em dezembro de 1987. Com a saída de Luís Carlos Bresser Pereira
foi escolhido como novo Ministro da Fazenda Maílson da Nobrega. Maílson
assumiu uma postura chamada de “arroz com feijão” onde não buscava a
redução da inflação, mas apenas evitar que a mesma continuasse a subir.
Dois fatores, n o entanto, contribuíam para o insucesso dessa pro posta. O
aumento dos gastos públicos decorrentes das determinações estipuladas com
a entrada em vigor da nova Constituição Federal de 1988 e a postura de
Sarney, incapaz de estabelecer uma política austera.

Maílson estabeleceu a troca da moeda nacional mais uma vez. O Cruzado


(Cz$) foi substituído pelo Cruzado Novo (Czn$). A proporção da troca foi de
1000 cruzados para 1 cruzado novo. O corte de zeros era uma medida de
controle que valoriza a moeda de forma artificial. Congelou a taxa de câmbio e
os preços por tempo indeterminado. Desvalorizou a taxa de câmbio e
reajustou as tarifas públicas. Contudo, o plano foi sendo desconfiguradas ao
longo de 19 89, que era ano eleitoral. O Plano Verão foi mais um fracasso.
Sarney desiste de resolver a questão inflacionária com o insucesso das
medidas anteriores e tenta apenas conviver com elas e deixa a situação para o
novo presidente resolver. Em 1990 Sarney concluiu seu mandato e em seu
lugar assume Fernando Collor de Melo, governador de Alagoas. Collor foi o
primeiro presidente eleito por voto popular depois dos longos anos da Ditadura
Militar.
Política externa
Sarney assumiu a Presidência nos últimos anos da Guerra Fria. Em 1986,
Sarney reatou as relações entre Brasil e Cuba, o que externamente
representou a aproximação de países capitalistas com socialistas, e
internamente, o fim das características da ditadura militar — havia sido o
primeiro presidente da ditadura militar, Castelo Branco, que rompeu as
relações com Cuba. Devido as crises econômicas, era necessário de que o
governo buscasse novas parcerias. Sarney reforçou as relações com países
africanos que usavam a Língua Portuguesa.

Controvérsias
Notabilizaram-se as acusações de corrupção endêmica em todas as esferas do
governo, sendo o próprio presidente José Sarney denunciado, embora as
acusações não tenham sido levadas à frente pelo Congresso Nacional. Foi
período entre 1987 a 1989, que eclodia a crise política, aliada à crise
econômica. Foram citadas suspeitas de superfaturamento e irregularidades em
concorrências públicas, como a da licitação da Ferrovia Norte-Sul.] As
denúncias ainda afirmavam que José Sarney praticava o nepotismo, ou seja,
favorecia amigos e conhecidos com concessões em rádios e TVs. A
insatisfação numa ala do Partido do Movimento Democrático
Brasileiro (PMDB), fez com que fosse fundado o Partido da Social Democracia
Brasileira (PSDB). O auge da crise ocorreu durante a Assembleia Nacional
Constituinte, onde os membros do partido votaram pelos quatro anos de
mandato para Sarney, apesar de a tese dos cinco anos ter prevalecido,
capitaneada pela maioria da bancada do PMDB e de políticos conservadores.
[14]

CONCLUSÃO
A chegada de Sarney ao poder representava a última etapa da transição “lenta,
gradual e segura” planejada por Ernesto Geisel e Golbery do Couto e Silva.
Sarney era um homem do regime e político conservador que poderia fazer a
transição para a democracia sem grandes rupturas. Contudo, assumiu um país
com uma situação econômica delicada e com uma série de resquícios do
regime anterior. Dessa forma, seus maiores desafios seriam a solução da
questão econômica e a remoção do “entulho ditatorial”. Vejamos a seguir como
foi seu governo

Você também pode gostar