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Período Democrático 1945-1964

Autor
Helio Cannone
Introdução
Prezado(a) aluno(a),

Neste conteúdo, estudaremos o período entre a ditadura do Estado Novo e a ditadura militar. Por
se estender entre dois regimes ditatoriais, essa fase de nossa história política por vezes é
conhecida como “intervalo” ou “período democrático”. O nome é correto e tem sua razão de ser.
No entanto, escolhemos aqui chamá-lo de República de 1946 para demonstrar um esforço de o
entendermos pelos seus próprios termos e não pelo que veio depois. Afinal, não era intenção da
maioria dos atores políticos da República retornar para um modelo sem democracia.

Embora tenha sido um período de apenas 18 anos, esse momento foi profundamente intenso
para a nossa história política e econômica. Em uma democracia ainda em processo de
consolidação, golpes, conspirações, instabilidades políticas, medidas econômicas controversas e
tantas outras tensões são demasiadamente recorrentes. Como devemos compreender bem
esses conflitos, optamos por dividir as unidades por períodos da história política. Assim, na
Unidade 1, trataremos do governo de Eurico Gaspar Dutra e do retorno – agora como presidente
eleito – de Getúlio Vargas. Em seguida, na Unidade 2, estudaremos a política depois de Vargas, a
partir dos governos Café Filho e Juscelino Kubitscheck. Na Unidade 3, buscaremos entender o
início do fim da democracia com a grave crise política que se iniciou no contexto do governo
Jânio Quadros e atingiu seu ponto ápice na gestão de João Goulart. Como veremos, a história
não teve um final feliz para o regime liberal-democrático iniciado na Constituição de 1946.
Dezoito anos depois, o período foi encerrado por um golpe civil-militar do qual também
buscaremos entender as causas. Mas, na História, não importa só a política e a economia. Não
podemos afirmar que entendemos um período de fato sem estudarmos as dinâmicas sociais e
culturais dele. Por isso, na Unidade 4, fecharemos com a cultura e as mudanças na sociedade
brasileira durante o período e trataremos da história social e cultural da República de 1946 como
um todo.

Bons estudos!

Helio Cannone
1 Início da República de 1946
Após quinze anos sob o comando do mesmo líder político, Getúlio Vargas, outro período político
inicia-se no Brasil no ano de 1946, conhecido como “intervalo democrático” ou República de
1946. Precedido pelo Estado Novo (1937-1945) e sucedido pelo Regime Militar (1964-1985), os
anos de 1946 a 1964 representam uma experiência inovadora para o país. Embora a Era Vargas
tivesse terminado, Getúlio não desapareceu da cena política. Esta unidade, por exemplo, é
iniciada com a deposição do ditador e terminada com seu suicídio em 1954, após ter sido eleito
Presidente da República. Portanto, estudaremos os dois primeiros mandatos do período político
iniciado em 1946: o governo de Eurico Gaspar Dutra (1946-1951) e o governo de Getúlio
Dornelles Vargas (1951-1954).

Para compreender essa virada política após a Era Vargas, estudaremos a elaboração da
Constituição de 1946 e os marcos legais para o novo regime. Dutra já era figura atuante na
política nacional antes de ser presidente; foi durante seu governo que a Guerra Fria começou,
causando impactos diretos no posicionamento político e econômico do país. O retorno de Vargas
pelas urnas trouxe de volta parte da agenda da Era Vargas. Contudo, o Brasil e o mundo haviam
mudado. Veremos como o agora presidente eleito equilibrará o nacional-desenvolvimentismo,
que foi marca de sua gestão, com a polarização internacional e os desafios de uma experiência
democrática.

Uma característica importantíssima da República de 1946 é a ativa participação das massas,


especialmente com o retorno das eleições diretas. Esse processo de democratização pode ser
observado na ampliação do sufrágio pela Constituição de 1946, embora os analfabetos ainda
fossem excluídos, acompanhados pelos processos de urbanização e industrialização do Brasil.
Videoaula - O processo de democratização e ascensão das massas

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1.1 A Constituição de 1946

Em outubro de 1945, Getúlio Vargas foi deposto pelo Alto Comando do Exército, mas, anos antes,
as forças de oposição ganhavam espaço. O contexto da Segunda Guerra Mundial, com a vitória
dos aliados, enfraqueceu a legitimidade de uma ditadura personalista como a do Estado Novo.
Soma-se a esse ambiente desfavorável o surgimento de movimentos de oposição, como o
“Manifesto dos Mineiros”, quando a elite liberal de Minas Gerais se posicionou favorável ao fim
do Estado Novo. Em consequência da crise do regime, foi aprovada a Lei Agamenon de
Magalhães, que reintegrava os partidos políticos à vida pública.

Havia previsões de que, em 1946, ocorreria um pleito, sendo Vargas um possível concorrente. O
caminho foi interrompido por conspirações entre os militares, com destaque para os generais
Eurico Gaspar Dutra e o então Ministro da Guerra, General Góes Monteiro, que levaram à renúncia
de Vargas. O fim do Estado Novo (1937-1945) teve como um de seus estopins a nomeação de
Benjamin Vargas, de péssima reputação, para chefiar a polícia do Rio de Janeiro. O Palácio da
Guanabara foi cercado pelo exército pedindo a renúncia do presidente, ao que Getúlio respondeu:
“Preferia que os senhores me atacassem e meu sacrifício ficaria como um protesto contra esta
violência. Já que é um golpe branco, não serei elemento de perturbação. Diga-lhes que não sou
mais presidente da República e desejo retirar-me para meu Estado".

Com a deposição, José Linhares, o presidente do Supremo Tribunal Federal, assumiu


interinamente a presidência da República e foram convocadas novas eleição ainda em 1945. Em
2 de dezembro, foram realizadas as eleições para presidente e para a formação da Assembleia
Constituinte. Foram três os candidatos que disputaram o cargo: o general Dutra, apoiado pelos
dois partidos formados a partir do varguismo, o Partido Social Democrático (PSD), composto
pelos interventores do Estado Novo, e depois pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), formado
sobretudo por trabalhadores urbanos engajados em sindicatos ligados ao Ministério do Trabalho
de Vargas; o brigadeiro Eduardo Gomes, com apoio da União Democrática Nacional (UDN), de
matriz liberal e formado por uma frente ampla de oposição a Vargas; e Iedo Fiúza pelo Partido
Comunista do Brasil (PCB).

Apesar de, no início do pleito, o candidato udenista aparentar vantagem na disputa, dois eventos
prejudicaram os resultados eleitorais de Eduardo Gomes. Por um lado, a campanha negativa, que
explorou a fala do candidato que dizia não ter interesse em receber votos da “malta de
desocupados” se referindo aos apoiadores de Vargas, mobilizou o eleitor popular contra o
candidato da UDN. Também foi importante, no dia 25 de novembro, a quebra do silêncio de
Vargas, recolhido em São Borja, que se manifestou favorável à eleição do general Eurico Gaspar
Dutra dias antes do pleito.

Figura 1 – Getúlio Vargas apoiou Dutra.

Fonte: <theintercept.imgix.net [https://theintercept.imgix.net/wp-


uploads/sites/1/2018/08/tib-1945-charge-folha-da-manha-sp-27.11.45-
1535486889.jpg?auto=compress%2Cformat&q=90] >.

O eleitorado que contava com sete milhões e meio de votantes elegeu Dutra com 54,16% dos
votos. Em segundo lugar, ficou o brigadeiro Eduardo Gomes com 33,97%, seguido por Iedo Fiúza
com 9,49%. A vitória do PSD também se estendeu ao legislativo, que garantiu a maioria tanto na
Câmara como no Senado. Dentre os eleitos, estava Luiz Carlos Prestes, pelo PCB. Um marco
importante após um longo período sem eleições presidenciais, Eurico Gaspar Dutra assumiu o
cargo em 31 de janeiro de 1946, sendo instalada a nova Constituinte em 2 de fevereiro do mesmo
ano.
Como tratamos no início desta unidade, o novo período da história iniciado em 1946 possui
fortes marcas do fim da ditadura do Estado Novo e a derrota do nazifascismo na Segunda Guerra
Mundial. Sendo assim, o debate para a elaboração da constituição também seria afetado por
esse clima de combate a expressões autoritárias de poder, sendo os primeiros meses da
Constituinte dedicados a revisitar e criticar a ditadura comandada por Vargas.

Em 1945, era possível concorrer na mesma eleição para cargos diferentes. Por isso, depois de
deixar a presidência, Getúlio Vargas foi eleito senador pelo Rio Grande do Sul e São Paulo e
deputado por Rio Grande do Sul, São Paulo, Distrito Federal, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná
e Bahia, com cerca de 1.150.000 votos.

Além de listar as resoluções aprovadas na Carta de 1946, é interessante o exercício de compará-


la com as anteriores. A principal distinção para a Constituição de 1937 é o marco liberal-
democrático. Interessante que essa mudança não ocorria apenas no papel, mas também na
composição do próprio corpo de representantes na Constituinte. Havia maior heterogeneidade
política-ideológica sinalizada pela presença de deputados e senadores de nove partidos.

Entre esses representantes das diversas matizes, havia antigos adversários políticos como o ex-
presidente Artur Bernardes, do Partido Republicano (PR) e o antigo líder tenentista na década de
1920 Luís Carlos Prestes do Partido Comunista do Brasil (PCB). A diversidade também cobria
apoiadores e opositores do regime que havia acabado, como Gustavo Capanema (PSD) e Afonso
Arinos (UDN), respectivamente.

A influência liberal-democrática fica evidente na busca por maior equilíbrio entre os poderes,
com o objetivo de evitar um controle excessivo por parte do executivo. Então foram definidos os
limites de competência dos três poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário, recebendo o
Legislativo maiores poderes de fiscalização do executivo com a possibilidade de criação das
Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs). O Brasil era definido como República federativa,
onde o presidente seria eleito por voto direto e secreto com mandato de cinco anos, sem
possibilidade de reeleição.

Algumas mudanças foram apresentadas a respeito do exercício do voto: o feminino que estava
restrito às mulheres que possuíam cargo público remunerado foi ampliado e tornou-se
obrigatório. A bancada profissional prevista na Constituição de 1934 foi extinta. Os analfabetos
permaneceram excluídos da possibilidade de participar dos pleitos. Em resumo, o voto passou a
ser obrigatório para as brasileiras e os brasileiros maiores de 18 anos e alfabetizados. A
proporção de eleitos para a Câmara do Deputados passou a ser fixa – uma para cada 150 mil
habitantes até vinte deputados, após atingir esse número, uma para cada 250 mil. Essa mudança
beneficiou os estados menos populosos e, consequentemente, fortaleceu forças políticas
conservadoras majoritárias nestas regiões.

Aspecto que destoava da orientação liberal do restante da carta era sobre a organização
trabalhista. O texto sobre direito a greve era genérico e provisório, mas não recebeu outra versão,
e a logística de funcionamento dos sindicatos seguiu os padrões do Estado Novo. O imposto
sindical continuou a vigorar, fortalecendo os sindicatos vistos como órgãos de colaboração do
Estado. Em setembro daquele mesmo ano, a Constituição foi promulgada e a Assembleia
Nacional Constituinte se reorganizou como Congresso ordinário.

1.2 Governo Dutra (1946-1951)

Embora já estivesse na reserva, Eurico Gaspar Dutra assumiu a presidência da república fardado,
fato que não ocorria desde 1930. E até chegar ao Palácio do Catete, Dutra percorreu longo
caminho na carreira militar, iniciada em 1904 com 21 anos na Escola Militar da Praia Vermelha.
Antes de se tornar general e presidir o clube militar, Dutra atuou na repressão de dois
importantes movimentos: os levantes tenentistas na década de 1920 e o movimento
constitucionalista que ocorreu em 1932 no estado de São Paulo. Também chefiou a repressão na
capital federal dos levantes anti-imperialistas comandados pela Aliança Nacional Libertadora
(ANL) de 1935. E foi nesse contexto de articulação da frente comunista que Dutra tornou-se
Ministro da Guerra de Vargas, elaborando resistência e divulgação de uma suposta ameaça
comunista, o chamado Plano Cohen. Instaurado o Estado Novo, o general foi atuante em
modernizar e ampliar as capacidades do exército. Embora apresentasse resistência à
aproximação com os Estados Unidos, o general foi responsável pelo envio das tropas brasileiras
em apoio aos aliados durante a Segunda Guerra Mundial.
Figura 2 – Eurico Gaspar Dutra.

Fonte: <pt.wikipedia.org
[https://pt.wikipedia.org/wiki/Elei%C3%
A7%C3%A3o_presidencial_no_Brasil_e
m_1945#/media/Ficheiro:GASPARDUT
RA.jpg] >.

Ainda, uma das figuras centrais no golpe que depôs Getúlio Vargas em 1945, Dutra deixou o
Ministério da Guerra para concorrer às eleições. A composição inicial do novo governo seguia a
tendência da herança getulista, isto é, uma aliança entre PSD e PTB, como a coligação
estabelecida durante o pleito. O PTB assumiu o Ministério do Trabalho, com Otacílio Negrão de
Lima, e os demais ministérios foram ocupados por representantes do PSD, que havia alcançado
resultados mais expressivos nas urnas.

Contudo, essa aliança sofreu modificações ainda no primeiro ano de governo. Em maio de 1946,
Dutra aproximou-se dos setores conservadores, especialmente aqueles integrantes da UDN e
ofereceu ao partido dois ministérios. Em decorrência dessa aproximação, tanto Vargas como o
PTB foram afastados do poder e acabaram por romper a aliança com Dutra, situação que
influenciou a composição das forças políticas para as eleições de governadores, deputados
estaduais, prefeitos e vereadores em janeiro de 1947. A oposição ao governo foi composta por
PTB, PCB e PSP. Vitoriosa, a UDN elegeu governadores em sete estados.

Antes da Constituição entrar em vigor, Dutra governou por decretos, partindo da Constituição de
1937. O presidente nomeou novos interventores, que por sua vez nomearam os prefeitos. Diante
da situação de greves em virtude do congelamento dos salários desde 1943 e do fortalecimento
do movimento operário, Dutra baixou o Decreto-lei nº 9070 que na prática impossibilitava as
greves e garantia a manutenção da legislação sindical corporativista, condições corroboradas
pela frouxidão da Carta Constitucional sobre esse assunto. Em consequência, houve medidas
repressivas de intervenção comandada pelo Ministério do Trabalho em sindicatos e fechamento
de central sindical comandada por comunistas, grupo que havia alcançado bons resultados nas
urnas, seja os 10% na eleição presidencial, ou os 15 deputados federais e um senador, Luís
Carlos Prestes.

Após o fim da Segunda Guerra, o ambiente ainda era de aliança dos grupos políticos contra o
nazifascismo, fato que fortaleceu os partidos comunistas. O PCB chegou a ser a quarta força
eleitoral entre os 13 partidos em disputa. Sendo assim, o início do governo Dutra foi marcado por
um clima amistoso com os comunistas, que durante as eleições de 1947 chegaram a eleger a
maior bancada de vereadores do Distrito Federal.

No dia 5 de março de 1946, no Westminster College, em Fulton, no Missouri, Estados Unidos, o


primeiro-ministro britânico Winston Churchill fez um discurso onde citou a expressão “iron
curtain” (cortina de ferro), que se tornou símbolo do domínio da URSS durante a Guerra Fria.
Confira parte do discurso: www.youtube.com [https://www.youtube.com/watch?v=X2FM3_h33Tg]

Porém, o meio político não se manteria pacificado por muito tempo. Com o afastamento
progressivo entre Estados Unidos e União Soviética, teve início o período chamado de Guerra
Fria. Mesmo sendo conhecido como o “intervalo democrático”, o humor político internacional
impactou de forma direta o país provocando ataques à pluralidade, que colocaram de volta o
Partido Comunista do Brasil na ilegalidade em maio 1947, além de ter movimentos sindicais
comandados por comunistas perseguidos e fechados. Na sequência o Brasil, alinhado com os
Estados Unidos da América, também rompeu relações diplomáticas com a URSS e cassou os
mandatos de deputados e do senador do PCB.

Em um mundo polarizado como aquele, o rompimento com a União Soviética, que duraria até
1962, significava maior aproximação do governo estadunidense. Ainda naquele ano, o presidente
dos Estados Unidos da América veio ao Brasil para a Conferência Interamericana de Manutenção
da Paz e Segurança do Continente, realizada em Petrópolis. Com objetivo de proteger a região,
especialmente contra um possível ataque soviético, nessa reunião foi aprovado o Tratado
Interamericano de Assistência Recíproca (TIAR). O tratado resultou na criação da OEA
(Organização dos Estados Americanos) em 1948, ambos importantes para compreendermos as
relações entre Estados Unidos da América e América Latina.
Essa aproximação com Washington fortalece uma disputa interna de projetos político e
econômico, que ficaram conhecidos como “nacionalista” e “entreguista”, nome pejorativo dado
pelos opositores. O primeiro recebia influência da CEPAL (Comissão Econômica para América
Latina da ONU) e tinha fortes representantes no ISEB (Instituto Superior de Estudos Brasileiros),
que defendiam maior autonomia diante dos Estados Unidos da América com o objetivo de
desenvolver a indústria nacional e promover uma reforma social. Enquanto o segundo, de matriz
liberal na economia e influenciados pela ESG (Escola Superior de Guerra), defendiam o setor
agrário, menor intervenção do Estado na economia e o ingresso de capital estrangeiro.

Videoaula - O petróleo é nosso!

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1.2 Governo Dutra (1946-1951)

O ambiente da Guerra Fria foi central para o posicionamento de Dutra pró-Estados Unidos da
América. Para o mercado externo o governo liberalizava a economia e no interno combatia a
inflação. As estratégias de ampliação das importações de bens manufaturados não foram bem
sucedidas, ocasionando um saldo negativo. Houve rápido esgotamento das reservas cambiais
acumuladas durante a guerra, a inflação subiu, ampliando o custo de vida do cidadão, que tinha
salários congelados.

Diante da crise anunciada, Dutra recorreu às lideranças estadunidenses pedindo auxílio


econômico por meio de um memorial com objetivo de organizar as finanças e promover
desenvolvimento econômico. Em resposta, foi instalada a Comissão Técnica Mista Brasil-
Estados Unidos responsável por elaborar um projeto: o grupo ficou conhecido como Comissão
Abbink-Bulhões, porque era copresidida pelo brasileiro Otávio Gouveia de Bulhões e pelo
estadunidense John Abbink. O relatório não gerou apoio concreto, ficando no plano do
diagnóstico e das sugestões. Contudo, houve forte influência das diretrizes estadunidenses na
formulação das estratégias econômicas do governo Dutra, como estagnação dos salários,
restrição do crédito e maior inserção de capital estrangeiro em setores estratégicos, como de
energia.

Ainda durante o Estado Novo, foi admitido pelo presidente do Conselho Nacional do Petróleo
(CNP), coronel João Carlos Barreto, a participação de capitais estrangeiros e privados na
indústria do petróleo, decisão que virou base durante a elaboração da Constituição de 1946. Com
o crescimento do consumo, Dutra convocou uma comissão para redigir o Estatuto do Petróleo
afim de solucionar o impasse. Enquanto o projeto era criado, iniciou-se uma mobilização
nacionalista sob o slogan “O Petróleo é nosso”. A campanha do petróleo contou com debates e
palestras com representantes de ambos os lados da disputa, como Juarez Távora, apoiador do
governo e Júlio Horta Barbosa, ex-presidente do CNP, contrário. Por fim, o documento
desagradou aos dois lados, já que não possibilitou nem o monopólio estatal total, nem a
exploração do capital internacional como acontecia na Venezuela, e acabou sendo arquivado.

Essa apatia dos Estados Unidos da América em relação à situação econômica brasileira
contribuiu para a dificuldade de tramitação da principal estratégia do governo Dutra: o Plano
SALTE. O nome SALTE é a união das primeiras letras de saúde, alimentação, transporte e energia,
setores estratégicos para a economia. Diferente do Estatuto do Petróleo, o plano seria aprovado
pelo congresso em virtude do Acordo Interpartidário, mas já nos últimos momentos do governo
Dutra sendo cumprido entre os anos de 1949 e 1953.

Estavam entre os objetivos do Plano SALTE, na área da saúde, aumentar o nível sanitário da
população, especialmente a que vivia em áreas rurais. Sobre os transportes pretendia-se
executar planos ferroviários e rodoviários já existentes, além do investimento no transporte
fluvial, seja nos portos ou nas condições de navegação. Com mais propostas, o investimento em
exploração de energia elétrica prevista no plano era financiado, sobretudo, pelo capital privado
estrangeiro.

Embora sempre aquém das metas previstas, o governo Dutra desenvolveu importante campanha
de erradicação da malária e construiu o Hospital dos Servidores do Estado. No transporte
ferroviário, concluiu-se a eletrificação da Estrada de Ferro Central do Brasil até Barra do Piraí,
além de estender a ligação ferroviária do extremo sul até Recife. Apesar de outras estradas terem
sido construídas, a de maior relevo foi a que liga Rio de Janeiro e São Paulo, que em homenagem
recebeu o nome de rodovia Presidente Dutra. No campo da energia foi iniciada a construção da
usina hidrelétrica de Paulo Afonso, que só começaria a operar em 1954.

Figura 3 – Ele Voltará.

Fonte: <www.novocpdoc.fgv.br
[http://www.novocpdoc.fgv.br/accessus/fotos/GV/GVFOTO415.jpg] >.

Durante o último ano de governo, as eleições presidenciais foram o destaque, com a composição
de forças girando em torno dos três principais partidos. Aqueles de origem getulista romperam a
aliança e lançaram candidatos distintos, pelo PSD, com apoio do presidente Dutra, o advogado e
político Cristiano Machado de Minas Gerais. O PTB apoiou a candidatura de Getúlio Vargas, que
articulava o retorno desde o último pleito, fortalecendo sua associação às causas dos
trabalhadores. A UDN insistiu no mesmo candidato das eleições de 1945, o brigadeiro Eduardo
Gomes. O quarto candidato foi João Mangabeira pelo Partido Socialista Brasileiro.

Apesar da aliança PSD-PTB não ter acontecido no âmbito nacional, os líderes pessedistas
entendendo as probabilidades de que Vargas fosse eleito decidiram garantir a manutenção da
influência política no domínio local. Para tanto foram permitidos acordos em benefício dos
candidatos locais do PSD, mesmo que isso trouxesse prejuízo para Cristiano Machado na corrida
presidencial. Aliançado com o PSP, Vargas comandou esses arranjos e fez uma campanha
pautada no seu legado da Era Vargas – a defesa da indústria nacional e a extensão dos direitos
dos trabalhadores.
Durante a campanha eleitoral de Getúlio Vargas em 1950, Haroldo Lobo e Marino Pinto
compuseram uma marchinha que a princípio desagradou a Getúlio. Mas o jingle caiu nas graças
do povo e embalou o retorno de Vargas ao poder. Acesse a marchinha: www.youtube.com
[https://www.youtube.com/watch?v=eVgOODBrCMc]

Com 48,7%, o equivalente a quase três milhões e 850 mil votos, Getúlio Vargas foi eleito
presidente da república, pela primeira vez depois de ter governado o país por quinze anos. O
segundo colocado, Eduardo Gomes pela UDN, recebeu dois milhões e 350 mil votos (29,6%). O
candidato apoiado pelo então presidente Dutra ficou em terceiro lugar com 21,5% dos votos,
seguido por João Mangabeira do PSB. Em votações separadas, Café Filho foi eleito vice-
presidente.

Assim como antes de entrar para a presidência, Dutra permaneceu participante da vida política
do país ao fim do seu mandato, mantendo-se próximo das principais lideranças militares e civis.
Voltou a participar, mesmo que de forma amena, da tentativa de afastamento de Vargas em 1954
e de João Goulart na década seguinte. Com o advento do Regime Militar, além de ter seu nome
cogitado para conduzir o governo, participou do diretório nacional da Aliança Renovadora
Nacional (Arena), partido do regime. Faleceu em 1974 no Rio de Janeiro.

1.3 Governo Vargas (1951-1954)

“O sr. Getúlio Vargas, senador, não deve ser candidato à presidência. Candidato, não deve ser
eleito. Eleito, não deve tomar posse. Empossado, devemos recorrer à revolução para impedi-lo de
governar” (LACERDA, 1950). Esse foi o clima que Getúlio Vargas encontrou ao retornar ao poder
pelo voto popular na década de 1950. É certo que Carlos Lacerda, autor do trecho publicado no
próprio jornal – a Tribuna da Imprensa, não representava a maioria da população, mas indicava
que o mandato democrático de Vargas seria permeado por forte oposição, luta que se iniciaria
antes mesmo da posse.
Figura 4 – Carlos Lacerda.

Fonte: <pt.wikipedia.org
[https://pt.wikipedia.org/wiki/Carlos_Lacerda#/media/Ficheiro:Carlos_Frederi
co_Werneck_de_Lacerda,_governador_do_Estado_da_Guanabara,_comemora
_a_cria%C3%A7%C3%A3o_do_Estado_da_Guanabara_no_Pal%C3%A1cio_Tirad
entes,_Rio_de_Janeiro,_GB_(cropped).jpg] >.

Embora a revolução convocada pelo jornalista não tenha acontecido, a UDN mobilizou-se para
impedir que Vargas assumisse a cadeira presidencial. Alegando a ausência de maioria absoluta
para a validade eleitoral, o partido tentou impugnar a posse. Contudo o TSE acabou por
proclamar a legalidade da eleição de Getúlio Vargas e Café Filho em 18 de janeiro de 1951. Dias
depois ocorreu a cerimônia de posse, primeira diplomação realizada pelo Tribunal Superior
Eleitoral. Passados os primeiros ataques da oposição, Getúlio foi recepcionado pela população
com direito à marcha Retrato do Velho, cantada durante o carnaval daquele ano.

O retorno de Getúlio representa um resgate do legado da Era Vargas, especialmente em suas


estratégias nacional-desenvolvimentistas. Contudo, o Brasil não era mais o mesmo dos anos do
Estado Novo. Havia uma maior polarização, sobretudo entre os militares, a respeito do
posicionamento estratégico do país no tocante ao papel do Estado na economia e da
participação de capital estrangeiro. O receio ao nacionalismo varguista e a oposição da direita
eram efeitos do novo contexto internacional que estava posto. As mudanças não ocorreram
apenas devido ao processo de democratização em curso no Brasil, o mundo estava diferente
com o início da Guerra Fria.

Dutra havia se aliado aos Estados Unidos da América, por consequência encampava um
posicionamento contra o comunismo e seu principal representante, a URSS. As disputas
internacionais passaram a ganhar correspondentes na política brasileira. As forças armadas
representam essa polarização quando as bandeiras nacionalistas passaram a ser identificadas,
pelos partidos conservadores, com o comunismo. Enquanto do outro lado do espectro,
fortalecia-se a noção de segurança nacional, movimento conduzido pela ESG. Em 1950, a
eclosão da Guerra da Coreia, conflito central na esfera internacional, contribuiu para aprofundar a
divisão ideológica no Brasil.

Uma das saídas políticas diante deste contexto de polarização foi refletir na composição dos
ministérios como um esforço político de conciliação. O PSD liderou o número de ministros,
seguido pelo PSP, enquanto o PTB de Vargas passou a comandar apenas o Ministério do
Trabalho. A UDN também compôs o governo, gerenciando a Agricultura com João Cleofas, que
fez aliança com Getúlio durante a campanha e aceitou o convite mesmo recebendo pressão
contrária do partido. O participante mais polêmico da primeira composição foi o ministro da
guerra, Estillac Leal, presidente do Clube Militar e representante da ala nacionalista do exército.

A respeito dos sindicatos, foi abolido o atestado de ideologia criado no governo anterior. Essa
medida impulsionou o reingresso de participantes do PTB e comunistas aos sindicatos. O ganho
de força dos movimentos dos trabalhadores em conjunto aos altos custos de vida e
congelamento dos salários produziu manifestações de contestação ao governo. Dentre elas
destacam-se duas paralisações de grande volume, a chamada greve dos 300 mil ocorrida em
São Paulo e a dos marítimos, que reuniu cerca de 100 mil trabalhadores.

A primeira, que o nome já revela a dimensão, reunia trabalhadores de diversos setores que
reivindicavam o aumento de 60% no salário e a revogação do Decreto-lei 9.070, que criminalizava
as greves. Sob a liderança de comunistas críticos do governo, o saldo da greve não foi positivo
para Vargas. A segunda manifestação ocorreu nos portos do Rio de Janeiro, Santos e Belém em
busca de melhores salários e contra a Diretoria da Federação dos Marítimos. É neste contexto
que Getúlio faz uma importante mudança no Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio: sai
José de Segadas Viana e entra João Goulart. Antes de tratarmos dos impactos dessa mudança
ministerial ocorrida em 1953, vamos compreender melhor as estratégias econômicas do
segundo governo Vargas.

No discurso de abertura da sessão legislativa, em março de 1951, Getúlio apresentou os rumos


que pretendia para o governo que se iniciava. A estratégia era investir em desenvolvimento para
aumentar a produção de bens de consumo, ampliar o mercado interno e a renda nacional, por
meio de uma política de intervenção do Estado na economia, em especial no setor industrial. Este
percurso seria capaz de produzir mais riqueza e melhorar a condição de vida do cidadão.
Portanto, a marca desde mandato será o retorno do nacionalismo como guia estratégico tendo
em vista o monopólio estatal, sendo a principal expressão a criação da Petrobras.
Figura 5 – Criação da Petrobras.

Fonte: <www.al.sp.gov.br
[http://www.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/hist/petrobrasC.jpg] >.

Porém, como vimos, a economia brasileira passava por alta da inflação, baixa infraestrutura em
energia e transporte, balança comercial em desequilíbrio, entre outros desafios. Umas das
primeiras ações do governo para enfrentar a crise econômica foi o congelamento de preços e o
combate à especulação nos alimentos. Outro projeto do governo foi gestado no âmbito das
negociações da Comissão Mista Brasil-Estados Unidos, chamado de Plano Nacional de
Reaparelhamento Econômico, mas popularmente conhecido como Plano Lafer, porque as
negociações foram conduzidas pelo ministro da fazenda Horácio Lafer.

O Plano que também criou o Fundo de Reaparelhamento Econômico tinha por objetivo promover
desenvolvimento no Brasil a partir da importação de maquinário, crescimento das indústrias de
base, implantação de novas fontes de energia elétrica e modernização do setor agrícola com
auxílio financeiro dos Estados Unidos, mais especificamente de duas instituições financeiras:
Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD) e Banco de Exportação e
Importação (Eximbank).

Diversos obstáculos dificultaram o processo desde a negociação à execução, ao ponto de o


plano não ser aplicado completamente. Mas os trabalhos da comissão mista produziram 41
projetos com financiamentos de 22 bilhões de cruzeiros antigos. Desse montante, cerca de 1/3
era resultado de investimentos de capital estrangeiro. A maior parte desses projetos destinava-
se aos setores de transporte ferroviário e energia elétrica.

Antes da aprovação conturbada no Senado e na Câmara em novembro de 1951, precisamos


lembrar que essas negociações ocorreram no contexto da Guerra da Coreia. Os Estados Unidos
haviam solicitado ao Brasil o envio de tropas ao conflito. Aproveitando a situação de barganha,
Getúlio prolongou a decisão de participar da guerra em busca de melhores condições de
investimento financeiro por parte dos Estados Unidos no Brasil. Mas as negociações não
vingaram, o Brasil não participou da guerra e não conseguiu melhores condições de
investimento.

Em conjunto a essa resposta negativa e a chegada do governo republicano ao poder, Getúlio fez
duras críticas a respeito do envio dos lucros para o exterior pelas empresas estrangeiras e
aprovou limite em 10% para as remessas. Essas decisões provocaram reações nos líderes
estadunidenses, que embora não tenham cumprido imediatamente a ameaça de suspensão dos
investimentos, esses foram sendo reduzidos até que cessassem. Apesar desses dilemas, o Plano
Lafer contribui para criação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE), que
administrava o Fundo e financiava os projetos aprovados pela comissão mista.

Outra questão que abalou as relações com os Estados Unidos e foi central para a imagem do
segundo governo Vargas foi a criação da Petrobrás, que estatizou a exploração do petróleo
brasileiro. Com quase dois anos de tramitação, o projeto enviado por Vargas ao Congresso para a
criação da Petróleo Brasileiro Sociedade Anônima impulsionou disputa intensa a respeito no
monopólio estatal, que não estava previsto no projeto original. A polarização herdada do governo
Dutra, entre os favoráveis a intervenção estatal e os defensores do financiamento estrangeiro,
ganhou força.

Esses conflitos passaram a desgastar a imagem de Vargas, ao ponto do projeto ser chamado de
entreguista pelos nacionalistas radicais. Embora orientada por uma matriz liberal, a UDN
também encampou a defesa do monopólio estatal participando ativamente da oposição ao
projeto de Vargas. A tentativa de se aproximar do partido para suavizar o conflito piorou a
situação e os udenistas amplificaram as críticas ao presidente, que incluíam denúncias de
corrupção e pedido de intervenção militar. O governo não ficou inerte, ao mesmo tempo que
investia em propaganda positiva nos meios sindicais, reprimia as manifestações da oposição.

Por fim, Vargas aceitou o monopólio estatal e a Lei nº 2.004 foi sancionada em 3 de outubro de
1953. Estava criada a Petrobrás (Petróleo Brasileiro S.A), responsável por explorar todas as fases
da indústria de petróleo, exceto a distribuição. Também foram iniciativas visando o
desenvolvimento executadas durante o governo de Vargas: Plano do Carvão Nacional; Plano de
Valorização Econômica da Amazônia (SPVEA); Banco do Nordeste do Brasil; Comissão Nacional
de Política Agrária; Fábrica Nacional de Motores (FNM), além dos investimentos em rodovias,
como a construção de 270 km da estrada Fernão Dias e a construção de nove projetos de energia
elétrica. Destaque para o projeto que foi rejeitado pelo Congresso, a criação da Eletrobrás.
Uma ferramenta importante para garantir os planos de industrialização nacional foi a
desenvolvida na política cambial. Os controles previstos por Dutra foram mantidos, conservando
o valor do câmbio e o sistema de licenciamento de importações. Apesar da manutenção em alta
do preço do café, a balança comercial favorável deixada pelo governo anterior entrou em déficit
devido ao aumento das importações e a queda dos demais produtos de exportação. Ao longo do
tempo, essa dinâmica levou a uma crise inflacionária, já que o Estado necessitava de crédito
interno para financiar as importações e os produtos excedentes.

Além da crise na economia, as pressões e contestações vinham de setores diversos, seja das
alianças partidárias enfraquecidas, da oposição no congresso, na imprensa e nas ruas. Diante
disso Vargas decidiu implementar uma reforma ministerial, substituindo todos os ministros civis,
restando apenas João Cleofas. Osvaldo Aranha passou a comandar o Ministério da Fazenda e
Tancredo Neves o Ministério da Justiça. Foi nesta mudança que João Goulart, presidente do PTB,
assumiu o Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio. Nessa reforma, o ministério da Educação
e Saúde dividiu-se em dois, o Ministério da Educação e Cultura (MEC) e o Ministério da Saúde. A
composição do governo seguiu a aliança PSD-PTB, a ausência do PSP se explica pela oposição
por eles organizada contra Vargas na imprensa.

A chegada de Goulart ao governo pacificou aos poucos a relação de Vargas com os


trabalhadores. O novo ministro estabeleceu diálogo com os grevistas marítimos e acatou as
reivindicações de melhores condições de trabalho. Os posicionamentos do ministro em prol dos
movimentos operários causaram receio nas camadas médias e mais conservadoras.

Enquanto no Brasil Vargas voltava ao poder com uma nova roupagem democrática, na Argentina
o presidente era Juan Domingo Perón, que havia sido reeleito em 1951. O peronismo argentino
causava receio e medo nas classes médias e conservadoras do Brasil, que viam na experiência
sindicalista vizinha uma possibilidade de inspiração para o governo brasileiro.

Na tarefa de cuidar da crise econômica, Osvaldo Aranha implementou um plano de estabilização


econômica. Conhecido como Plano Aranha, a estratégia era reformar o sistema cambial a fim de
beneficiar a política econômica do governo. Os resultados da reforma foram positivos,
impulsionou a produção interna, já que a importação ficou mais custosa em moeda nacional em
virtude dos ágios cambiais. Esses, por sua vez, subsidiavam as exportações e contribuíram para
a receita do governo. Além da subida do preço do café em 1954, outra questão que prejudicou a
política de estabilização de Osvaldo Aranha foi a política salarial.

A pauta do aumento do salário-mínimo estava presente no debate público fazia alguns anos
devido ao seu congelamento provocando perda do poder de compra, mesmo com alguns
reajustes feitos em 1952. Do ponto de vista econômico, era importante para os planos do
ministro da fazenda que o salário-mínimo se mantivesse em níveis não inflacionários. Mas a
intensa participação política de João Goulart juntamente aos sindicatos, que pressionavam por
maiores salários, favoreceu a proposta de um aumento de 100% do salário-mínimo.

Era fevereiro de 1954 e o exército, ciente dos rumores desta proposta do Ministério do Trabalho,
elaborou um documento que foi assinado por 82 coronéis e tenentes-coronéis em repúdio ao
aumento do salário naquela proporção, já que faria com que operários recebessem quantia
similar ao de um oficial do Exército. O memorial também denunciava as péssimas condições do
exército e convocava os superiores para uma campanha em prol das classes armadas. A
divulgação do manifesto causou a queda de João Goulart e do ministro da Guerra Ciro do Espírito
Santo Cardoso, embora, no discurso do dia primeiro de maio de 1954, Getúlio tenha anunciado o
aumento do salário-mínimo de acordo com o projeto de Jango.

O ambiente era de consolidação das forças de oposição ao governo de Getúlio Vargas e, no mês
de agosto, o atentado contra o jornalista Carlos Lacerda prejudicou a frágil legitimidade do
presidente. O ataque aconteceu na Rua Tonelero na madrugada do dia 5 de agosto, onde o
major-aviador Rubem Florentino Vaz foi morto e Lacerda ferido no pé. A repercussão do
assassinato promoveu rápida mobilização da oposição em responsabilizar o governo, e o próprio
Lacerda escreveu em seu jornal acusando Vargas.

O inquérito de investigação foi instaurado e os ânimos ficavam cada vez mais exaltados
especialmente após a confirmação de que Gregório Fortunato, da guarda pessoal de Vargas,
estava envolvido no atentado. No dia 9, o deputado Aliomar Baleeiro pediu o afastamento de
Vargas, que foi perdendo os aliados à medida que a renúncia se tornava cada vez mais desejada.
Após o Congresso, a ruptura se deu com o exército, por meio de um manifesto assinado por 30
generais, e depois com Café Filho.

A conjuntura era desfavorável e ainda resistindo à renúncia o presidente convocou uma reunião
ministerial na madrugada do dia 24 de agosto. Não houve consenso e, por fim, Getúlio decidiu
que aceitaria a licença caso a ordem pública fosse garantida pelos ministros militares, do
contrário estaria disposto a entregar a vida. E foi o que ele fez, na manhã daquele dia o
presidente Getúlio Vargas suicidou-se com um tiro no peito nos aposentos do Palácio do Catete,
deixando uma carta testamento, que diz:
Mais uma vez as forças e os interesses contra o povo coordenaram-se e novamente se

desencadeiam sobre mim. Não me acusam, insultam; não me combatem, caluniam, e não me dão o

direito de defesa. Precisam sufocar a minha voz e impedir a minha ação, para que eu não continue a

defender, como sempre defendi, o povo e principalmente os humildes. Sigo o destino que me é

imposto. [...] Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do povo. Tenho lutado de

peito aberto. O ódio, as infâmias, a calúnia não abateram o meu ânimo. Eu vos dei a minha vida.

Agora vos ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da

eternidade e saio da vida para entrar na História. (VARGAS, 1954)

Figura 6 – Cortejo fúnebre de Getúlio Vargas.

Traslado do corpo de Getúlio Vargas do Rio de Janeiro para o enterro em São


Borja.
Fonte: pt.wikipedia.org
[https://pt.wikipedia.org/wiki/Get%C3%BAlio_Vargas#/media/Ficheiro:Traslad
o_do_corpo_de_Get%C3%BAlio_Vargas_do_Rio_de_Janeiro_para_o_enterro_e
m_S%C3%A3o_Borja.tif] .

A revolta que não aconteceu para sua deposição tomou conta do país após sua morte. A
divulgação da carta produziu comícios, manifestações em apoio a Vargas pelas ruas, ataques às
sedes dos jornais O Globo, Tribuna da Imprensa, Diários de Notícias e O Estado do Rio Grande do
Sul. Na embaixada dos Estados Unidos houve troca de tiros e feridos. Greves foram deflagradas.
Ainda naquela manhã turbulenta, Café Filho assumiu a presidência da república no palácio das
Laranjeiras. Gaúcho, Getúlio Vargas foi sepultado em São Borja no Rio Grande do Sul. No
caminho do Palácio do Catete até o aeroporto Santos Dumont, onde foi velado, uma multidão na
capital despedia-se do presidente.

Videoaula - CPI da Última Hora: a disputa política nos jornais

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[https://player.vimeo.com/video/504906145] .

Videoaula - O Plano Aranha, uma tentativa de estabilizar a


economia

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[https://player.vimeo.com/video/504908391] .
Recapitulando a Unidade 1
A ditadura havia acabado e o povo foi às urnas eleger o presidente da República. Dutra não
representava uma ruptura com a Era Vargas, mas o contexto internacional seria crucial para o
posicionamento político e econômico do primeiro mandato da democracia. O presidente que
havia hesitado enviar as tropas brasileiras à Segunda Guerra Mundial, quando ministro de
Vargas, aproximou-se dos Estados Unidos da América e rompeu relações diplomáticas com a
URSS. Foram marcos desse governo a Constituição de 1946 e o Plano SALTE, embora este tenha
causado pouco impacto na economia do país.

Nas eleições de 1950 o retrato do velho voltou para mesmo lugar. O segundo governo de Vargas
trouxe de novo a agenda nacional desenvolvimentista, mas agora com os desafios de uma
gestão democrática. O mandato foi marcado por manifestações dos trabalhadores e uma
oposição ativa, que desgastou a figura de Getúlio Vargas. O grande marco deste governo foi a
criação da Petrobrás, que também foi permeada de disputas em torno do papel do Estado na
economia. Em agosto de 1954, após o atentado da Rua Toneleros, Vargas com um tiro no peito
saiu da vida para entrar na História.
Exercícios de fixação
O vencedor das eleições de 1955 foi _______ e seu partido era o _____.

Juscelino Kubitscheck; UDN

Carlos Lacerda; UDN

Juarez Távora; PSD

Juscelino Kubitscheck; PSD

Sobre as eleições de 1950, complete as lacunas.

Após a deposição de Vargas, em 1950 ocorreram as eleições presidenciais. Foram três os


candidatos que disputaram o cargo: o general Dutra, apoiado pelos dois partidos formados a
partir do varguismo, Selecione... ; o brigadeiro Selecione... , com apoio da UDN; e
Iedo Fiúza pelo Selecione... .

Após quinze anos de Era Vargas e duas constituições, em 1946 foi promulgada a nova
Constituição do chamado intervalo democrático. Marque a questão que apresenta mudança
proposta pela carta.

Voto feminino.

Mandato de quatro anos.

Voto dos analfabetos.

Presidencialismo com reeleição.


Videoaula - Vargas e o imaginário político brasileiro

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2 Desenvolvimentismo e democracia depois de Vargas
Certamente uma das figuras políticas mais famosas do Brasil foi Getúlio Vargas. Como vimos
anteriormente, ele foi presidente não só de maneira ininterrupta por 15 anos como voltou eleito
nos anos seguintes. Findo seu governo da maneira trágica que estudamos, quem assumiu foi
seu vice, João Fernandes Campos Café Filho.

Pela primeira vez no período democrático a figura de Vargas não estava presente fisicamente. No
entanto, isso de modo algum significa que ele não fosse mobilizado simbolicamente. Dois
partidos políticos, o PSD e o PTB surgiram como braços do varguismo. Além disso, a UDN se
construiu como oposição tendo a figura de Vargas como referência. Seja para defender seu
legado ou para criticá-lo, Vargas continuaria sendo figura viva no imaginário político brasileiro.

Estudaremos agora um período que embora breve foi tumultuado. O breve governo Café Filho foi
seguido por dois interinos (Carlos Luz e Nereu). Parte dessa crise teve a ver com o clima político
das eleições presidenciais de 1955, que acabou resultando em 1956 na posse de Juscelino
Kubitscheck. A partir daí se seguia um projeto que embora também fosse de cunho nacional-
desenvolvimentista teve diferenças importantes com a política econômica de Getúlio Vargas.

Como veremos, embora esses governos contrastassem com o anterior, alguns temas
fundamentais que o varguismo lançou na política brasileira continuariam sendo os principais a
serem discutidos. Assim, os partidos políticos e as discussões sobre projeto de desenvolvimento
econômico e social estariam inseridos nos mesmos debates. Findo o governo JK o problema
estava só começando e a crise só iria se acentuar. Para entendermos como o Brasil saiu dos
“anos dourados” para a exacerbação da crise que começou no governo Jânio Quadros,
precisamos compreender os efeitos políticos e econômicos iniciados nos governos anteriores.

2.1 O governo Café Filho

De acordo com a Constituição de 1946, tendo sido o presidente eleito impossibilitado das
funções, quem seria empossado seria o vice. Assim, após o suicídio de Vargas, quem assumiu a
cadeira da presidência da República em agosto de 1954 foi João Fernandes Campos Café Filho.
Natural de Natal no Rio Grande do Norte, o político já havia sido deputado federal e membro da
Assembleia constituinte de 1946. Embora tenha sido eleito vice-presidente pelo Partido Social
Progressista (PSP) com o apoio de Vargas, os dois não eram próximos. Naquele período votava-
se em presidente e vice-presidente de forma separada. Portanto, o ex-presidente julgou que
apoiar o potiguar era mais vantajoso do que deixar o candidato da UDN Odilon Braga levar o
cargo. Café Filho acabou eleito, mas com uma diferença de 200 mil votos para o candidato da
União Democrática Nacional.

Figura 7 – Café Filho.

Fonte: <pt.wikipedia.org
[https://pt.wikipedia.org/wiki/Caf%C3%
A9_Filho#/media/Ficheiro:Caf%C3%A9
_Filho.jpg] >.

Embora tivesse discordâncias significativas com Vargas, o novo presidente assumiu em um


clima complicado. Após o suicídio do antecessor, o clima nacional ficou hostil para mudanças na
política social e econômica. Em seu primeiro pronunciamento como presidente, Café Filho
anunciou que buscaria um governo de conciliação e que não renunciaria aos compromissos
sociais já estabelecidos. Mesmo assim, as principais medidas tomadas em sua gestão foram a
aproximação com a UDN, como a adoção de políticas de estabilização financeira de cunho
liberal.

Buscando apoio no Congresso e tentando controlar a instabilidade política que caracterizou o


governo anterior, o presidente cedeu alguns ministérios à UDN. A pasta de relações exteriores
ficou a cargo de Raul Fernandes e o Gabinete Civil ficou com José Monteiro de Castro. Buscando
atenuar também o ânimo das forças armadas, Café Filho indicou o General Napoleão Alencastro
Guimarães para o Ministério do Trabalho e o General Juarez Távora para o Gabinete Militar.
Opositores de Vargas também receberam as pastas da Marinha e da Aeronáutica. A primeira
ficou com o Almirante Edmundo Vale e a segunda com o brigadeiro Eduardo Gomes, o mesmo
que havia sido candidato a presidente pela UDN nas duas eleições anteriores.

A política econômica ficou a cargo do economista liberal Eugênio Gudin que, embora não tivesse
filiação partidária, era próximo da UDN. Café Filho buscou resolver o problema inflacionário e da
balança de pagamentos deficitária com o exterior a partir de medidas ortodoxas encabeçadas
por Gudin. Nessa gestão, buscou-se atrair os investimentos externos com diminuição de
despesas públicas e cortes na concessão de crédito. Para o economista, o principal problema da
inflação era o descontrole das contas públicas, por isso ele adotou medidas radicais de controle
dos gastos.

Figura 8 – Carlos Luz.

Fonte: <pt.wikipedia.org
[https://pt.wikipedia.org/wiki/Carlos_Luz#/media/Ficheiro:Carlos_Luz_Oficial.
jpg] >.

Outra medida tomada durante o governo Café Filho foi a criação do Instituto Superior de Estudos
Brasileiros (ISEB). Esta inciativa já estava em construção durante o governo Vargas, mas se
efetivou somente na gestão seguinte. Embora existisse antes com o nome de Instituto Brasileiro
de Economia, Sociologia e Política, a partir de 1955 a instituição mudou de nome e passou a ser
órgão público sediado no Ministério da Educação e Cultura. O ISEB era uma espécie de think-
tank de ideias nacional-desenvolvimentistas e teve especial destaque neste debate a partir do
governo de Juscelino Kubitscheck. Dentre os intelectuais que nele atuaram estavam o cientista
político Hélio Jaguaribe, o sociólogo Alberto Guerreiro Ramos, o filósofo Álvaro Vieira Pinto e o
historiador Nelson Werneck Sodré. Embora seja diferente dos moldes atuais da organização
universitária, o ISEB foi um dos primeiros centros de estudos em História e Ciências Sociais.

As alianças e medidas econômicas tomadas por Café Filho pareciam indicar um futuro estável
para o país. Porém, não é isso que ocorre. A sua gestão é bem breve, pois logo em novembro de
1955 o presidente apresentou problemas de saúde que o obrigaram a se afastar do cargo. Tal
como legislava a Constituição, quem assumiu interinamente em 8 de novembro de 1955 foi o
presidente da Câmara dos deputados, Carlos Luz. Ainda no mesmo ano acabava o mandato
iniciado com Getúlio Vargas e novas eleições já estavam ocorrendo.

Videoaula - O Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB)

Escaneie a imagem ao lado com um app QR code para assistir o vídeo ou clique aqui
[https://player.vimeo.com/video/504910378] .

2.2 As eleições de 1955 e o Movimento 11 de novembro

O clima político das eleições de 1955 já se iniciou tenso, pois parte do Partido Social
Democrático (PSD) defendia que o partido deveria formar coligação com a União Democrática
Nacional (UDN), enquanto outros setores defendiam que o partido deveria manter a aliança
histórica com o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). Após negociações, o PSD optou pela
segunda via, o que deixou os udenistas receosos de serem novamente retirados do poder.
Figura 9 – Cédula eleitoral de 1955.

Fonte: <pt.wikipedia.org
[https://pt.wikipedia.org/wiki/Elei%C3%A7%C3%A3o_presidencial_no_Brasil_e
m_1955#/media/Ficheiro:C%C3%A9dula_presidencial_brasileira_de_1955.png]
>.

O principal candidato de oposição nas eleições de 1955 era o general Juarez Távora (UDN) em
coligação com o Partido Democrata Cristão (PDC), o Partido Libertador (PL) e o Partido Socialista
Brasileiro (PSB). Já o PSD se coligou com o PTB e outros partidos menores para lançar como
candidato o então governador do estado de Minas Gerias Juscelino Kubitscheck. Também eram
candidatos Ademar de Barros (PSP) e o ex-líder integralista Plínio Salgado (PRP).

Em uma eleição apertada, o resultado do pleito foi a vitória de Juscelino Kubitschek do PSD com
35,68% dos votos contra os 30,27% do udenista Juarez Távora. Em número de votos válidos, a
diferença não chegou a 500 mil votos. Embora a legislação eleitoral não previsse segundo turno
e nem exigisse que o vencedor devesse ter mais que 50% dos votos, a UDN não aceitou bem a
derrota. Políticos do partido e militares passaram a se pronunciar publicamente contra o
resultado do pleito, pois JK não teria tido a maioria dos votos totais. Para contribuir com a
frustração desse grupo político, quem foi eleito vice-presidente foi o candidato trabalhista, João
Goulart.
O canal Nerdologia do YouTube fez um vídeo interessante sobre a história do voto no Brasil.
Confira no link a seguir: www.youtube.com [https://www.youtube.com/watch?v=dC7nQEKHn8E] .

Para a UDN, esta derrota representava o fim de sua influência na base do governo, alterando o
que ocorrera no governo Café Filho. O exército seria igualmente retirado da esfera de influência.
Preocupados com isso, estes setores se organizaram para impedir que Juscelino Kubitschek
tomasse posse como presidente da República. Na imprensa, o jornalista e político da UDN Carlos
Lacerda tentava articular o golpe na opinião pública, com uma denúncia – que carecia de fontes
– de que se estaria se organizando no Brasil um golpe conjunto do PTB com a Argentina para
estabelecer no país uma ditadura similar à de Juan Domingo Perón.

Para tornar o clima ainda mais tenso, assim como Café Filho já sinalizava antes, o próprio
presidente interino Carlos Luz demonstrava-se reticente com a vitória da chapa do PSD com o
PTB. Enquanto membro do partido, o presidente interino estava entre os que defenderam a
coligação com a UDN nas eleições.

O descompromisso de Carlos Luz com a chapa eleita ficou ainda mais claro após um
acontecimento no Clube Militar, presenciado pelo ministro da guerra, o então general Henrique
Teixeira Lott. Em evento do clube em 1 de novembro em homenagem ao falecimento do
presidente da associação, o General Jurandir Mamede fez fala dura contra a chapa eleita e
convocou o exército a impedir sua posse.

O ministro da guerra procurou o ainda presidente Café Filho para que ele punisse o general de
intenções golpistas. No entanto, ele não foi atendido, pois Café Filho também era simpático à
proposta da UDN. Poucos dias depois o presidente renunciou e o interino Carlos Luz tinha
posição similar. Paralelamente, organizava-se entre os setores militares articulações para a
retirada de Lott do Ministério. Tendo isto em vista, o militar reagiu em igual proporção. Em 11 de
novembro de 1955, o general Henrique Teixeira Lott iniciou um movimento militar que cercou o
Palácio do Catete, então sede do governo federal.
Figura 10 – Movimento 11 de novembro.

Fonte: <static.ndonline.com.br [https://static.ndonline.com.br/2020/11/nereu-


ramos-800x646.jpg] >.

Para resistir ao episódio, Carlos Luz e outros aliados políticos se alojaram em um navio, o
Cruzador Tamandaré. Lott aproveitou o ensejo para solicitar ao presidente do Senado Nereu
Ramos o impeachment de Carlos Luz, pois ele teria saído de águas brasileiras sem autorização
prévia. Visto o clima tenso e os tanques na rua, o pedido é aceito e o próprio Nereu Ramos é
empossado provisoriamente como presidente da República. Carlos Luz entrou para história,
então, como o presidente a ficar menos tempo no cargo, por apenas 3 dias.

O movimento de 11 de novembro ficou conhecido na história como “contragolpe preventivo”. Isto


porque, de fato, o evento retirou de forma ilegal e com uso da violência um presidente legítimo.
No entanto, como resultado, garantiu-se a posse em janeiro do ano seguinte da chapa eleita de
Juscelino Kubitscheck (PSD) e João Goulart (PTB) respectivamente na presidência e vice-
presidência do Brasil. Segundo o historiador Jorge Ferreira (2011) algum golpe era praticamente
inevitável dado o nível de tensão política. Tendo sido dado por Lott, a movimentação teve como
consequência a manutenção da ordem democrática no ano seguinte e postergou por alguns
anos um golpe militar.
Videoaula - Vargas e JK, diferenças e semelhanças

Escaneie a imagem ao lado com um app QR code para assistir o vídeo ou clique aqui
[https://player.vimeo.com/video/504911907] .

“Anos Dourados” de JK: o nacional-desenvolvimentismo em outros


2.3 moldes
Junto com Vargas, Juscelino Kubitscheck deve ser o presidente mais vivo no imaginário
nacional. Por vezes ambos são comparados por terem adotado políticas desenvolvimentistas e
pela alta popularidade. No entanto, se existem semelhanças entre os dois, também há diferenças
importantes, tanto no perfil político quanto nas medidas adotadas em seus governos. Enquanto o
ex-ditador era um nacionalista econômico convicto e com uma política centrada nas massas
urbanas, o segundo diferiu. JK – como ficou conhecido – foi responsável por uma grande
abertura da economia para o capital internacional e também por afastar o centro político de uma
cidade populosa, o Rio de Janeiro, e transferi-lo para o centro-oeste, com a criação de Brasília.

Em 31 de janeiro de 1956 se iniciou o mandato presidencial de Juscelino Kubitscheck. Nos cinco


anos seguintes, o Brasil experimentaria um otimismo importante com o desenvolvimento
econômico e social, assim como uma maior exposição da cultura brasileira no mundo afora.
Também é nesse período – por conta da abertura do capital estrangeiro – que marcas até hoje
famosas de eletrodomésticos, carros e também de produtos de higiene e alimentação passaram
a fazer parte do cotidiano do brasileiro.
Você pode conferir filmagens da posse de Juscelino Kubitscheck como presidente. O material
audiovisual foi produzido pela Agência Nacional brasileira: www.youtube.com
[https://www.youtube.com/watch?v=1-YhiawAI9g] .

O próprio slogan do governo era “50 anos em 5”, o que demonstra a intensidade das
transformações desejadas. Como foi um período que, embora curto, foi marcado por muitos
acontecimentos e muita diversidade social e cultural, nós iremos dividi-lo em duas unidades.
Nessa, trataremos da história política e econômica do governo JK para na próxima podermos nos
dedicar à história social e cultural do período entre 1946 e 1964.

Mas, quem era Juscelino Kubitscheck? Nascido em 1902 em Diamantina, no estado de Minas
Gerais, formou-se médico em 1927 na Faculdade de Medicina de Belo Horizonte. Longe de ser
uma figura nova no cenário, ele já participava diretamente da política desde os anos 1930. Em
1933, foi chefe de Gabinete Civil do interventor federal de Vargas em Minas Gerais. Dois anos
depois, cumpria mandato como deputado federal pelo Partido Progressista de Minas Gerais. A
partir de 1940, ele foi prefeito da cidade de Belo Horizonte, onde realizou obras importantes de
reestruturação urbanística da cidade.
Figura 11 – Juscelino Kubitscheck.

Fonte: <pt.wikipedia.org
[https://pt.wikipedia.org/wiki/Juscelin
o_Kubitschek#/media/Ficheiro:Jusceli
no.jpg] >.

Findo o Estado Novo, JK se filiou ao PSD para se candidatar ao cargo de deputado constituinte,
tendo sido o segundo mais votado em Minas Gerais. Nas eleições de 1950, ele foi indicado pelo
partido para concorrer ao governo de Minas Gerais. Já durante o seu mandato de governador, ele
demonstrava intenção de concorrer à presidência da República, o que de fato ocorreu e ele
venceu em uma eleição acirrada e tumultuada.

Na política, a gestão de JK foi um governo de conciliação e de busca de estabilidade. Nesse


objetivo podemos considerá-lo bem-sucedido, visto que ele e Eurico Gaspar Dutra foram os
únicos presidentes eleitos da República de 1946 que iniciaram e terminaram o mandato no prazo
previsto. Dentre os que não foram eleitos o quadro também não foi muito diferente: Café Filho se
afastou por problemas de saúde e tanto Carlos Luz quanto João Goulart sofreram golpes
militares.

Tendo em vista essa instabilidade, JK tomou algumas medidas para apaziguar os ânimos. Para
as forças armadas ele conferiu cargos como a diretoria da Petrobrás e da Agência Nacional do
Petróleo. Ele também buscou atender interesses corporativos dos militares, como aumento de
salários e renovação de equipamentos. O general Henrique Teixeira Lott foi mantido na pasta do
Ministério da Guerra.

A pauta econômica também não apresentou grandes controvérsias. Tanto entre os setores
militares quanto no Congresso existia apoio ao desenvolvimentismo com abertura de capitais
externos que Juscelino Kubitscheck almejava. A manutenção da aliança com o PTB também foi
importante, pois garantiu o apoio de um partido forte entre as massas urbanas. No campo o
próprio partido do presidente, o PSD, tinha grande expressão. No entanto, o maior empecilho
continuou sendo a UDN, que pela associação do presidente com o legado político e econômico
de Vargas, mantinha postura de oposição. As acusações dos udenistas no Congresso e na
imprensa geralmente eram associadas ao excesso de gastos públicos, aumento da máquina
administrativa e a denúncias de corrupção na gestão. Mesmo assim, o governo conseguiu
manter a governabilidade. Embora tivessem ocorrido algumas sublevações militares e revoltas
no campo e nas cidades, todas foram controladas sem apresentar grandes ameaças para a
governabilidade.

Figura 12 – A oposição a JK na imprensa.

Fonte: <cpdoc.fgv.br
[https://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/JK/artigos/Politica/EquilibrioDelicado]
>.

Na economia, Juscelino Kubitscheck é classificado junto com Vargas como nacional-


desenvolvimentista. Mas o que isso quer dizer? Segundo o economista Pedro Fonseca (2015),
desenvolvimentismo é o tipo de política econômica que prioriza três fatores: 1) planejamento
estatal da economia para fins estratégicos, 2) industrialização como forma de produzir
desenvolvimento econômico e social e 3) concepção de um projeto nacional no qual a economia
cumpre o papel de engrandecer o país. Segundo o mesmo autor, o nacional-desenvolvimentismo
seria a subdivisão dessa linhagem de política econômica que daria mais ênfase para o terceiro
fator.

A política econômica de JK ficou sintetizada pelo Programa de Metas, ou, pelo seu nome mais
conhecido, Plano de Metas. Anunciado desde a campanha, a intenção era desenvolver os setores
de infraestrutura e ao mesmo tempo modernizar a economia brasileira. Assim, o plano de
Juscelino Kubitscheck era composto de 30 pontos que se focavam em investimentos nas áreas
de energia, indústria de base e transportes. Também pretendia-se aumentar os investimentos em
educação e de modernização do campo, mas esses não foram cumpridos com o mesmo
empenho.

O canal Se liga nessa História tem um vídeo divertido e bem instrutivo sobre as principais
políticas do governo JK: www.youtube.com [https://www.youtube.com/watch?v=E6Dabto3z8E] .

Videoaula - O que é nacional-desenvolvimentismo?

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[https://player.vimeo.com/video/504913392] .
Videoaula - A SUDENE e o desenvolvimento do Nordeste

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[https://player.vimeo.com/video/504914821] .

“Anos Dourados” de JK: o nacional-desenvolvimentismo em outros


2.3 moldes
Para a questão de desenvolvimento do Nordeste, Juscelino criou em 1959 a Superintendência
para o Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE), que ficou a cargo do economista Celso Furtado.
Uma motivação para a iniciativa foi que um ano antes houve uma forte seca na região, que
intensificou os problemas estruturais já existentes. Dentro os problemas que buscou-se resolver
estavam o problema da seca na região e a contenção do êxodo rural para as cidades, visto que
suas principais causas eram o desemprego e a falta de perspectiva do nordestino em ficar na
região. Infelizmente, a atuação do órgão encontrou forte resistência das oligarquias rurais da
região.

Como sinaliza o cientista político Carlos Pinho (2019), para efetivar o planejamento econômico
das medidas, JK criou toda uma estrutura burocrática paralela diretamente ligada ao executivo
federal. Dentre esses órgãos estava o Conselho do Desenvolvimento, que seria responsável por
planejar e executar o Plano de Metas. Dentro do Conselho estavam o presidente do Banco
Nacional do Desenvolvimento Econômico (BNDE), o presidente do Banco do Brasil e os chefes do
Gabinete Militar e do Gabinete Civil.

Dentro da política econômica, o presidente indicou em 1955 para diretor superintendente do


BNDE Roberto Campos. Um ano depois, JK o colocaria no status de ministro de segunda classe.
Economista com formação nos Estados Unidos e de inclinação política liberal, as políticas de
investimentos de Campos e dos Ministros da Fazenda – José Maria Alkmin e depois Lucas
Lopes, seguido por Sebastião Almeida – seriam marca de uma diferença importante entre Vargas
e JK. Enquanto o primeiro adotava postura de nacionalismo econômico, o segundo era bastante
favorável à abertura internacional.

Figura 13 – Política automobilística de JK.

Fonte: <epocanegocios.globo.com
[http://epocanegocios.globo.com/Revista/Common/0,,ERT113190-
16642,00.html] >.

A fim de conciliar interesses econômicos dos diversos setores do empresariado com o


planejamento econômico do Estado, a equipe de JK criou uma tripartição dos setores do capital
no qual cada fatia ficava majoritariamente com uma área de seu interesse. Então, o capital
estatal se focava na indústria de base e de bens de capital (com a produção de aço, alumínio,
energia e infraestrutura), o capital privado nacional ficava com o setor de bens de consumo não
duráveis (principalmente a agricultura, o que agradava aos latifundiários), e o capital privado
internacional era incentivado a abastecer a indústria de bens de consumo duráveis (como
eletrodomésticos e automóveis).

No fornecimento de automóveis, o governo fechou parceria com a Volkswagen, que passou a


partir daí a ter incentivos para instalar montadoras em território nacional. Foi graças à somatória
da política de incentivos ao capital internacional de JK com o investimento público em
infraestrutura que a gestão ficou conhecida por ter interligado o Brasil a partir de estradas. No
total, foram construídos 15 mil quilômetros de estradas automobilísticas.

Infelizmente, isso foi feito às custas do sucateamento do setor ferroviário. Se, de um lado isso foi
uma medida importante para modernizar e interligar o país, foi muito ruim porque o transporte de
mercadorias passou a ser feito majoritariamente por caminhões. Com o aumento do preço do
petróleo a partir do final dos anos 1970, isso teve outro efeito muito negativo, que o foi o de
inflacionar os preços de tudo que era transportado por via rodoviária, ou seja, a maioria
esmagadora dos alimentos e produtos industrializados.
Figura 14 – A Volkswagen no Brasil.

Fonte: <maxicar.com.br [https://maxicar.com.br/wp-


content/uploads/2015/03/propagandas.jpg] >.

Embora não estivesse vinculada diretamente ao Plano de Metas, a Construção da nova capital no
centro geográfico do país era uma promessa de campanha de JK. Brasília acabou por ser o
símbolo do projeto desenvolvimentista da gestão Juscelino Kubitscheck e da busca de um país
que não só fosse, mas parecesse moderno.

Desde a Constituição de 1891 se previa a criação de uma nova capital no centro geográfico do
país, no entanto, a medida nunca foi levada à frente e já era praticamente esquecida. JK levou a
frente a proposta e as medidas começaram logo no início de seu governo. Em 1956 o presidente
criou por decreto a Companhia Urbanizadora da Nova Capital, mais conhecida pela sigla
Novacap. No ano seguinte, foi lançado o edital do concurso para escolher o projeto e o urbanista
que seria responsável por idealizar a cidade.

O vencedor foi o urbanista Lúcio Costa, que planejou a cidade com o auxílio do arquiteto Oscar
Niemayer. Na concepção modernista deles, Brasília deveria ser uma cidade moderna para os
novos tempos do Brasil. Por isso, o Plano Piloto previa a adequação da lógica urbana a “um novo
tipo de homem”, das sociedades industriais avançadas. Dentro dessa lógica, Brasília foi
construída para ser percorrida de automóvel e a divisão das áreas da cidade eram feitas pelas
ocupações profissionais dos cidadãos e com áreas de saúde e lazer pré-definidas. As grandes
construções arquitetônicas foram concebidas por Oscar Niemayer, que já havia projetado o
edifício do Ministério da Cultura no Rio de Janeiro. Nesse tipo de arquitetura modernista,
priorizava-se grandes espaços livres, sustentados por pilotis.
Figura 15 – A construção de Brasília.

Fonte: <pt.wikipedia.org
[https://pt.wikipedia.org/wiki/Plano_Piloto_de_Bras%C3%ADlia#/media/Fichei
ro:0741_NOV_B_05_Esplanada_dos_Ministerios_Brasilia_DF_03_09_1959.jpg]
>.

Brasília demorou 3 anos para ser construída e tornou-se oficialmente capital em 21 de abril de
1960. No entanto, não foi sem resistência. Muitos políticos não ficaram satisfeitos com a
mudança da capital. A UDN se opôs radicalmente à medida, sobretudo na figura do político e
deputado carioca Carlos Lacerda. Políticos de outros partidos ligados aos grandes centros
urbanos do Sudeste também foram reticentes com a proposta. Para conseguir que seus pares
concordassem com a medida, Juscelino Kubitscheck garantiu uma série de benesses para a
classe política, como criação de novos auxílios e aumento de salário. Politicamente, Brasília
representou o afastamento da cúpula do poder das massas urbanas, que eram ferramentas de
pressão constante em nossa história. Além disso, dada a velocidade exigida para as obras,
Brasília foi um marco determinante das relações espúrias entre empreiteiras e Estado, que
persistiram no decorrer da história republicana. Outro efeito negativo dessa aceleração foi o
endividamento econômico do país no final do mandato de JK.

Toda essa euforia desenvolvimentista veio com o seu custo. No final de seu governo, JK era
presidente de um país com uma dívida de 300 milhões de dólares com o Fundo Monetário
Internacional (FMI), com o qual ele rompeu em 1959. Como se não fosse o suficiente, a inflação
chegou a taxas anuais de 23%, o que significava na prática corrosão dos salários dos brasileiros.
Ao mesmo tempo que a gestão de Juscelino Kubitscheck ficou conhecida como “os anos
dourados” pelo crescimento econômico do país, essas mudanças não se mostraram duradouras,
deixando no final de sua gestão um país com alta inflação e dívidas.
Prática profissional - Arquitetura e urbanismo na História

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[https://player.vimeo.com/video/504927889] .

Videoaula - Os efeitos não planejados de Brasília

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Recapitulando a Unidade 2
Vimos nesta Unidade os primeiros anos da democracia brasileira após a morte de Getúlio
Vargas. Foram anos marcados por tentativas de estabilização no meio de muitas tensões
políticas. As eleições de 1955 mantiveram o mesmo clima e por pouco o candidato eleito não foi
impedido de tomar posse. Já nos anos da gestão JK, manteve-se a política nacional-
desenvolvimentista, mas em moldes diferentes da feita por Vargas. Dessa vez, o capital
internacional teve participação ativa. Também foi nesse período que se construiu Brasília, que
até os dias atuais é capital federal.

Se no governo JK conseguiu-se manter a governabilidade sem altas crises, o mesmo não


aconteceria nos anos seguintes. O ex-presidente deixou para o futuro ocupante da cadeira
problemas econômicos graves que precisariam ser resolvidos. No plano político, as tensões
também não cessaram e ganhariam ainda mais força nos próximos anos até resultar em um
golpe militar. No entanto, esse é o tema de uma próxima unidade.
Exercícios de fixação
Embora tenha sido um governo popular, JK entregou o Brasil com alta inflação e com dívida ao
FMI.

Verdadeiro Falso

JK foi retirado do poder com um golpe militar, pois desde a eleições havia grupos políticos que
não o desejavam na cadeira presidencial.

Verdadeiro Falso
3 O início do fim da democracia brasileira
Os anos 1960 foram um período especialmente conturbado na História do Brasil. A frágil
democracia brasileira – iniciada apenas em 1946 – não conseguiria resistir ao aumento das
tensões políticas. Como se já não bastasse o fato de que Juscelino Kubitscheck entregou o país
com alta inflação e dívida externa, outros problemas surgiram. Desde 1945 a geopolítica mundial
estava dividida entre dois polos. De um lado os Estados Unidos da América e sua defesa da
economia e da sociedade capitalista, do outro, a União Soviética comunista. Dentro desse
contexto, em 1960 uma ilha chamada Cuba, a apenas 531 quilômetros de Miami – nos Estados
Unidos da América – colocou em curso um processo revolucionário que retirou do poder
Fulgêncio Batista, aliado dos norte-americanos. Um ano depois, os cubanos declararam-se
alinhados com os soviéticos.

Dentro do contexto político internacional, isso acirrou os ânimos dos próprios Estados Unidos da
América, que buscaram evitar que o acontecimento se repetisse na América Latina. Mas também
nos próprios países ao sul da potência capitalista as preocupações avançaram. No Brasil, o
clima anticomunista entre liberais e conservadoras só aumentou. Somando-se isso às tensões
internas para resolver os problemas econômicos, sociais e políticos, uma coalizão de civis e
militares fizeram um golpe que instaurou no poder uma ditadura que duraria 21 anos.

Nesta unidade, vamos estudar as tensões internas dos anos 1960 que resultaram na ruptura
democrática. Primeiro, trataremos das eleições e da gestão do polêmico Jânio Quadros, em
seguida estudaremos a “solução” parlamentarista encontrada para impedir que o seu vice-
presidente, o trabalhista João Goulart, assumisse o poder executivo. Finalmente, trataremos do
governo presidencialista de Jango e seu fim trágico por meio de um golpe.

A comédia de 1959 “O homem de Sputnik” retrata de maneira satírica o clima internacional da


Guerra Fria. No longa-metragem dirigido por Carlos Manga, o satélite soviético Sputinik teria
saído de órbita e ido parar nas terras brasileiras. A partir daí, Estados Unidos da América, União
Soviética e também a França vêm para o Brasil para tentar se apossar do item tecnológico. O
filme pode ser conferido na íntegra no link a seguir: www.youtube.com
[https://www.youtube.com/watch?v=QseLmPR7gdo] .
3.1 A eleição e o governo de Jânio Quadros

Com o fim do governo JK, novas eleições ocorreram em 1960. Os partidos tradicionais


ocuparam-se de construir suas alianças para lançar seus candidatos. O PSD manteve sua
aliança com o PTB, lançando o marechal Henrique Teixeira Lott, em uma coligação que também
era composta pelo Partido Social Trabalhista (PST), Partido Socialista Brasileiro (PSB) e pelo
Partido Republicano Trabalhista (PRT). Já o Partido Social Progressista (PSP), decidiu lançar o
ex-governador do estado de São Paulo Ademar de Barros como candidato.

A UDN adotou nessas eleições estratégia diversa das anteriores. Ao invés de lançar candidato
próprio, o partido decidiu apoiar a candidatura de Jânio Quadros. A escolha estava longe de ser
uma desistência de participar ativamente da disputa. O candidato do Partido Trabalhista
Nacional (PTN) já era próximo das posições da UDN desde o governo Juscelino Kubitscheck.
Nascido em Campo Grande (MT) e tendo passado a infância e juventude em Curitiba (PR), Jânio
Quadros mudou-se para São Paulo nos seus últimos anos escolares e, em 1935, ingressou na
Faculdade de Direito da cidade. Foi lá também que construiu sua carreira como político e sua
base eleitoral.

Figura 16 – Jânio Quadros.

Fotografia do ex-presidente Jânio


Quadros tirada enquanto ele tropeçava
e, por isso cada pé está para um lado. A
imagem ficou famosa por simbolizar
as contradições entre as políticas do
presidente.
Fonte: ofolhademinas.com.br
[https://ofolhademinas.com.br/img/mat
erias/editor/20190826_foto3.jpg]
Tendo sido primeiro vereador e depois deputado estadual respectivamente pela cidade e pelo
estado de São Paulo, Jânio Quadros era um opositor contundente da política da coalizão PSD-
PTB. Dentre suas principais acusações estava as de que os partidos herdeiros do varguismo
representavam a corrupção da máquina pública e os gastos excessivos com uma burocracia
ineficiente. Em 1953, ele se elegeu prefeito da cidade, tendo uma gestão marcada pela demissão
de funcionários públicos. Nas eleições para governador em 1954, Quadros também saiu
vitorioso. Neste momento, ele já era um político popular e, ao mesmo tempo, próximo da UDN.
Enquanto governador, Jânio marcou-se como grande crítico das políticas desenvolvimentistas
de JK, acusando o governo Juscelino Kubitschek de corrupto e fiscalmente irresponsável.

Dada sua popularidade no estado, articulou-se uma campanha chamada Movimento Popular
Jânio Quadros (MPJQ), que visava lançá-lo candidato à presidência da república. São Paulo já
era em 1960 a cidade mais populosa e o principal polo industrial do país, o que significava um
ponto de saída positivo em uma eleição majoritária. Além disso, a campanha de Jânio Quadros
baseava-se no combate à corrupção e a adoção de política econômica ortodoxa. Por isso, a UDN
achou que apoiando o candidato teria maiores chances de sucesso. E nisso o partido tinha
razão.

Embora fosse um político tradicional apoiado por partidos integrados ao sistema político, Jânio
Quadros construiu sua imagem política na campanha como se fosse espécie de outsider que se
opunha aos vícios da República. Na sua plataforma ele afirmava que representava o novo na
política brasileira e que iria moralizar as instituições arcaicas e corruptas. O fato de ele fazer
parte de um partido pequeno – o Partido Trabalhista Nacional (PTN) – e ter tido gestões
populares em São Paulo certamente ajudou. O símbolo de sua campanha era uma vassoura, com
a qual ele dizia que varreria a corrupção e a “bandalheira”. O símbolo também deu origem a um
jingle de campanha, composto por Fernando Azevedo de Almeida e Maugeri Neto para tocar nas
rádios. Na letra, a plataforma moralizante de Jânio Quadros ficava evidente:

“Varre, varre, varre vassourinha!


Varre, varre a bandalheira!
Que o povo já tá cansado
De sofrer dessa maneira
Jânio Quadros é a esperança desse povo abandonado!
Jânio Quadros é a certeza de um Brasil, moralizado!
Alerta, meu irmão!
Vassoura, conterrâneo!
Vamos vencer com Jânio!”
Caso você tenha curiosidade de ouvir o jingle da campanha de Jânio Quadros, pode conferi-lo no
link a seguir: www.youtube.com [https://www.youtube.com/watch?v=m0QfM_IJsBw] .

Se desde o Império já era comum o uso de imagens e canções para propagar determinada visão
sobre o governo e o Estado, na democracia esse fenômeno ganhará nova feição. A partir do
momento em que existem eleições regulares para presidente da República, os partidos e
candidatos buscam formas de comunicar sua plataforma de maneira acessível para as massas.
O jingle “varre varre vassourinha” de Jânio Quadros é um ótimo exemplo disso. Depois do fim da
ditadura militar e o estabelecimento do horário eleitoral gratuito, o marketing político se
profissionaliza ainda mais, gerando toda uma indústria de “marketeiros” e publicitários
dedicados especialmente a vender determinada imagem sobre um político.

Figura 17 – A vassoura de Jânio Quadros.

Fonte: <revistapress.com.br [http://revistapress.com.br/wp-


content/uploads/2018/11/Janio-e-a-Vassoura-e1541103110983.jpg] >.

Em outubro de 1960 saiu o resultado das eleições. Jânio Quadros venceu com 48% dos votos
válidos, em segundo lugar ficou o Marechal Henrique Teixeira Lott, com 32% e, em terceiro,
Ademar de Barros, com 20%. O total dos votos do vencedor foram de mais de 5 milhões, número
muito expressivo à época e o maior que um candidato eleito até então alcançara. O mandato se
iniciou em 1961 e estava previsto para durar até 1965.
Se na eleição para presidência a oposição ao governo JK foi bem sucedida, para vice-presidência
a UDN não teve sucesso. O partido havia lançado candidato próprio, o mineiro Milton Campos. Já
o PTB lançou novamente João Goulart, o mesmo que havia ocupado a cadeira na gestão anterior.
Dado que o trabalhista também era uma figura com popularidade, com apoio de alguns quadros
do PTB, iniciou-se uma campanha informal chamada “vota jan-jan” a fim de eleger Jânio
Quadros para presidente e Jango – apelido de João Goulart – como vice. Dada a grande chance
de vitória de um oposicionista, o partido buscou garantir presença no governo a partir do vice.
Em eleição apertada, João Goulart venceu com 36,1% dos votos, contra 33,7% de Milton Campos
e 17% de Fernando Ferrari – candidato do Partido Democrata Cristão (PDC). Estava eleita a
chapa Jan-Jan.

Videoaula - Campanha eleitoral e marketing político

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[https://player.vimeo.com/video/504917637] .
Videoaula - Câmbio, inflação e substituição de importações

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3.1 A eleição e o governo de Jânio Quadros

Na economia, o governo Jânio Quadros foi inicialmente coerente com o bloco que o elegeu. Se
desde que era político em São Paulo ele já era crítico da política econômica de JK, na presidência
ele adotou medidas contrárias à de seu antecessor. Jânio buscou controlar a inflação e diminuir
a dívida externa. A via que ele buscou para isso foi reatar com o Fundo Monetário Internacional, o
FMI. No entanto, a instituição financeira impôs condições: para garantir os empréstimos
desejados, o Brasil teria que depreciar a moeda nacional, que era julgada muito elevada. Do
ponto de vista internacional, comprar produtos brasileiros estava caro, assim como os lucros de
venda com o país estavam menores do que a expectativa.

Para agradar ao FMI, Jânio Quadros executou uma reforma cambial que depreciou o câmbio em
100% e diminuiu as linhas de crédito, para controlar os gastos. Isso agradou tanto o capital
estrangeiro quanto os setores do capital nacional que faziam comércio exterior – como os
empresários do ramo de comodities. No entanto, a medida foi impopular no que diz respeito a
economia doméstica, com o câmbio depreciado e com a diminuição do crédito o padrão de vida
do brasileiro médio diminuiu, assim como a sua cesta básica encareceu. Embora a medida tenha
agradado aos Estados Unidos da América e os credores estrangeiros, ela também dificultou
segmentos do capital nacional. Os setores que haviam contraído dívida com o regime anterior, a
viram aumentar da noite para o dia. Além disso, a importação de maquinários e equipamentos
industriais encareceu bastante, o que resultou na queda dos investimentos neste setor.
Quando falamos da relação entre a macroeconomia e padrão de vida dos cidadãos de um país,
uma das coisas que precisamos prestar atenção é a relação entre o câmbio e matriz econômica.
No caso do Brasil, somos um país que tem uma economia muito dependente de preços que não
controlamos. Por exemplo, a gasolina tem seu preço dado pelo mercado de petróleo. Por sua vez,
é a partir da logística rodoviária que circulamos mercadorias em nosso território. Outro exemplo
é o pão, que é feito de trigo que no geral não é produzido no Brasil. Além disso, nosso consumo
de tecnologia é bastante dependente do mercado externo. Por isso, quando o câmbio está
desfavorável, o preço destes produtos aumenta consideravelmente.

Ponto nesse sentido sobre a questão foi levantado pelo economista Raul Prebisch nos anos
1950. Segundo o argentino, o problema estrutural das economias na América Latina se deve a
sua baixa industrialização. Como esses países têm matriz econômica baseada na exportação de
comodities, ficam dependentes de produtos que tem baixo valor agregado e inelásticos. Ou seja,
a estrutura econômica seria baseada na venda de mercadorias com preços que variam pouco e
que não gerariam melhorias na estrutura produtiva. Ao mesmo tempo, nós compraríamos
produtos caros, de maior tecnologia e valor agregado e que, por isso, tendem a encarecer. Para o
economista, a solução seria levar à frente um processo de industrialização baseado em
substituição de importações, ou seja, fazendo com que a América Latina se tornasse menos
dependente do mercado internacional. Na economia, essa corrente ficou conhecida como
estruturalismo latino-americano e teria como representante nacional Celso Furtado.

Outro ponto muito controverso da gestão de Jânio Quadros foi como ele levou à frente sua
agenda conservadora em costumes. Embora tivesse sido eleito com essa plataforma, ele legislou
sobre práticas sociais e costumes de uma maneira que desagradou diversos setores da
sociedade. Dentre as mais caricatas – e talvez por isso as mais famosas – de suas medidas
estavam a proibição da rinha de galos e do uso de biquinis nas praias, piscinas e concursos de
beleza. Ele também se ocupou de proibir o uso de lança-perfumes nos bailes de carnaval, impôs
regulações para os jogos de cartas e limitou o funcionamento dos jockey-clubes para os fins de
semana e feriados.

Outra ação controversa do presidente foi a invenção de um traje específico para ser usado por
funcionários públicos, o slack. Segundo ele, a roupa folgada e com vários bolsos era mais
adequada ao clima tropical do que os habituais terno e gravata. A opinião pública não tardou em
reagir à proposta e logo apelidou a indumentária de “pijânio”, pela sua semelhança com o traje de
dormir. O próprio Jânio Quadros deu o exemplo e passou a adotar a vestimenta. Você pode
conferir isso em uma propaganda do uniforme na Figura 18:
Figura 18 – O slack ou “pijânio” do presidente.

Fonte: <ensinarhistoriajoelza.com.br
[https://ensinarhistoriajoelza.com.br/stj/wp-
content/uploads/2016/08/Slacks.jpg] >.

Na política, a gestão de Jânio Quadros foi igualmente controversa. No plano doméstico, o


presidente não tinha boa relação com o Congresso Nacional. Diversas políticas suas enviadas
para o Legislativo jamais foram colocadas para votação. Dentre elas, uma lei de limitação de
remessa de lucros para o exterior e uma proposta de reforma agrária. Segundo o presidente, isso
se devia ao fato de que os deputados e senadores estariam ligados a interesses escusos que não
eram comprometidos com o desenvolvimento nacional.

Jânio enfrentava naquele momento oposição articulada pelo PTB e pelos crescentes
movimentos sociais urbanos que reivindicavam melhorias nas condições de vida e reformas
estruturais no Brasil. Ao mesmo tempo, a UDN acabou por perceber que o estilo de governar de
Jânio Quadros não era compatível com as suas intenções. Tentando controlá-lo, o partido não
foi bem sucedido e foi progressivamente se afastando da base do governo. A estratégia do
presidente para manter sua gestão sem apoio foi de realizar decretos e medidas que
fortalecessem o poder executivo e enfraquecessem o legislativo, de modo a aumentar sua
autonomia.

Igualmente na política internacional Jânio Quadros foi controverso. Em um clima internacional


polarizado, ele decide propor uma política externa de neutralidade. Por isso, ao mesmo tempo
que realizou reformas econômicas a fim de agradar aos Estados Unidos da América, buscou
aproximar-se do bloco soviético. O presidente buscou retratar laços diplomáticos tanto com a
própria União Soviética quanto com outros países alinhados, como a China e Cuba. Em
conferência dos países latino-americanos realizada na cidade uruguaia de Punta del Este, o
Brasil se posicionou favoravelmente às relações com a ilha caribenha. O famoso líder
revolucionário do país e também seu Ministro da Economia Che Guevara respondeu com uma
visita diplomática ao Brasil, na qual Jânio Quadros lhe condecorou com a Ordem Nacional do
Cruzeiro do Sul, alta honraria concedida pelo presidente a grandes figuras estrangeiras. A medida
escandalizou diversos grupos anticomunistas no Brasil, como setores da Igreja Católica, das
forças armadas e do empresariado.

Embora a maneira como ela foi realizada foi um tanto desajeitada e seus efeitos tenham sido
negativos para o Brasil, a chamada Política Externa Independente de Jânio Quadros não pode ser
enquadrada como fruto de pura loucura do presidente. Essa medida foi gestada por grandes
figuras políticas do Brasil, como San Tiago Dantas e Afonso Arinos de Melo Franco. A intenção
era se inserir no contexto internacional de países do sul global – como casos na África e na Ásia
– que se declaravam neutros na polarização entre Estados Unidos da América e URSS. Do ponto
de vista comercial, pretendia-se abrir novos mercados e parcerias internacionais do Brasil com
esses países. Do ponto de vista político, era uma postura de autonomia frente a ingerências
vindas de qualquer um dos lados. Os seus formuladores entendiam que isso era um problema
alheio aos interesses nacionais.

A aproximação com os países comunistas foi a gota d’água para que muitos setores se
organizassem contra Jânio Quadros. Além disso, protestos contra a austeridade fiscal e o
aumento do custo de vida foram cada vez mais se intensificando. Como se não fosse o bastante,
em mais uma atitude contraditória, o presidente anulou as concessões de exploração privada
das jazidas de ferro no estado de Minas Gerais, o que desagradou ainda mais os setores ligados
à UDN, partido que outrora fora a base do governo.

Durante missão diplomática do vice-presidente João Goulart na China, o político da UDN e


jornalista Carlos Lacerda fez denuncia no dia 24 de agosto de 1961 na televisão e no rádio de que
Jânio Quadros estaria organizando um golpe de Estado. Pego de surpresa, Jânio Quadros
entregou no dia seguinte pedido de renúncia ao Congresso Nacional. Especula-se que o
presidente esperava que haveria comoção popular a seu favor, mas isso não ocorreu. Assim
encerrou-se a presidência de Jânio Quadros, um governo que ficou conhecido na história pelas
suas medidas pouco convencionais e pelas contradições entre as políticas adotadas.
Videoaula - A política externa independente (PEI)

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3.2 A crise da sucessão e a solução parlamentarista

Embora Jânio Quadros tivesse renunciado, a tensão estava longe de se resolver. O vice-
presidente eleito era um quadro do partido trabalhista. Naquele clima polarizado de guerra fria,
setores conservadores consideravam colocar João Goulart na presidência uma ameaça. Dado o
fato de que Jango estava em missão diplomática na China, quem assumiu a presidência
interinamente foi o presidente do Congresso, Pascoal Ranieri Mazzili. Tal como mandava a
Constituição, uma vez que o vice-presidente retornasse, ele deveria ser empossado. Porém, tanto
setores das forças armadas quanto políticos do poder legislativo não desejavam isto. Os
ministros militares das forças armadas também se declararam contrários a posse de João
Goulart, apoiados por Mazzili.

Do outro lado, o governador do Rio grande do Sul, o trabalhista Leonel Brizola, assim que soube
da renúncia de Jânio e do veto a João Goulart, engajou-se em um movimento para garantir sua
posse, conhecido como Campanha da Legalidade ou Rede da Legalidade. Leonel Brizola recebeu
o apoio do comandante do 3º exército e ameaçou tomar em armas caso Jango não fosse
empossado na presidência da República. O governador do Rio Grande do Sul passou a transmitir
discursos via rádio para incitar a população a um grande movimento pela posse do presidente
dentro dos marcos da lei.
Figura 19 – A campanha da legalidade.

Fonte: <aventurasnahistoria.uol.com.br
[https://aventurasnahistoria.uol.com.br/media/uploads/thumbbrizolafullpisto
la.jpg] >.

A partir de então, iniciou-se um clima de polarização a favor e contra a posse. Militares


chegaram a ameaçar derrubar o avião de Jango caso ele retornasse ao Brasil. A solução
encontrada foi mudar o sistema político de presidencialista para parlamentarista, via uma
emenda constitucional. Deste modo, João Goulart foi empossado como presidente da República
em 7 de setembro de 1961; um dia depois Tancredo Neves (PSD) tornou-se primeiro-ministro do
Brasil, eleito pela câmara dos deputados por 259 votos a favor e apenas 22 contrários. Depois
dele, seguiram-se no cargo de primeiro-ministro Brochado da Rocha e Hermes Lima.

Pela segunda vez em sua história o Brasil seria uma país parlamentarista. Assim como no
Império (1822-1889), o primeiro-ministro deveria ser o chefe de governo eleito por voto indireto.
Embora a experiência na República tenha sido breve, o tema sempre retorna de alguma maneira
ao debate público. Em 1993 foi realizado novamente um plebiscito para escolher o sistema de
governo. Daquela vez, a escolha era não só entre presidencialismo e parlamentarismo, mas
também poder-se-ia votar pela volta da monarquia. Mais uma vez, quem saiu vitorioso foi o
presidencialismo, o sistema em que o presidente da República é ao mesmo tempo chefe de
Estado e de governo. Nos dias atuais, os dois sistemas são adotados pelo mundo afora:
enquanto a França e a Inglaterra e maioria dos países europeus são exemplos de países
parlamentaristas ou semipresidencialista, os Estados Unidos e os países latino-americanos
adotam sistema presidencialista no qual presidente da república é chefe de Estado e de governo.
Depois da tentativa parlamentarista para gerar estabilidade política, muitos setores ligados a
João Goulart não aceitaram bem a proposta. O próprio presidente era um articulador para a
restauração do presidencialismo. Segundo o seu juízo e de seus apoiadores, o parlamentarismo
era insuficiente para levar à frente reformas estruturais que o Brasil precisaria passar, tais como
reforma da educação, reforma agrária e reformas de cunho fiscal e administrativo. Eram as
famosas “reformas de base”.

Estava previsto desde a ementa constitucional que estabeleceu o parlamentarismo um referendo


popular para decidir qual seria a forma de governo. Em clima de forte pressão popular dos
sindicatos e de militares e funcionários públicos apoiadores de Jango, após uma primeira
rejeição pelo Congresso da emenda que previa o plebiscito para 7 de outubro de 1962, as
manifestações pró-presidencialismo se intensificaram ainda mais. Finalmente a consulta
popular ocorreu em 6 de janeiro de 1963, dando vitória ao presidencialismo e devolvendo os
poderes de chefe de governo para o presidente da República.

Videoaula - Parlamentarismo e presidencialismo

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[https://player.vimeo.com/video/504921449] .

3.3 Do governo presidencialista de João Goulart e o golpe de 1964

Quando se iniciou o período presidencialista de seu governo, João Goulart já era um político
experiente. Nascido na cidade de São Borja no Rio Grande do Sul, desde a democratização ele já
estava envolvido com um importante conterrâneo seu: Getúlio Vargas. Jango – como era
conhecido – foi deputado estadual no Rio Grande do Sul pelo PTB. Em 1952, o apadrinhado do
ex-presidente já era deputado federal pelo partido e, no ano seguinte, foi indicado para Ministro
do Trabalho de Vargas. Foi nesse período que ele tomou a polêmica medida de dobra o salário-
mínimo, que resultou em sua saída do cargo.

À altura das eleições de 1955, João Goulart já era presidente do PTB, por isso, foi indicado como
candidato à vice-presidente, em troca do apoio de seu partido a Juscelino Kubitscheck. Jango
venceu essa eleição e a seguinte, tendo sido vice por duas vezes antes de assumir a cadeira do
presidente da República. No entanto, a situação era complicada: ele assumiu contra a vontade de
amplos setores das forças armadas e com forte oposição parlamentar articulada pela UDN. Além
disso, tinha ideias de reformas sociais e econômicas que naquele contexto de radicalização e de
guerra fria eram vistas pelos seus oposicionistas como próximas do comunismo.

Figura 20 – João Goulart.

Fonte: <pt.wikipedia.org
[https://pt.wikipedia.org/wiki/Jo%C3%A
3o_Goulart#/media/Ficheiro:Jo%C3%A3
o_Goulart_1964.jpg] >.

Na economia, o país enfrentava uma crescente inflação e queda no crescimento. Como resultado,
uma série de movimentos sociais no campo e nas cidades estava articulado para exigir reformas.
No primeiro caso, ficou famosa a organização das Ligas Camponesas, movimento iniciado em
Pernambuco e liderado pelo político Francisco Julião, do Partido Socialista Brasileiro (PSB).
Dentre as reivindicações do movimento e das demais associações e sindicatos de lavradores,
estava que fosse pautado um projeto de reforma agrária que resolvesse o problema estrutural
brasileiro de latifúndios improdutivos. A principal medida de João Goulart nesse sentido foi a
extensão dos direitos trabalhistas para o campo, em 1963, a partir do Estatuto do Trabalhador
Rural.
Já nas cidades, o movimento sindical era muito forte e articulado, sobretudo pelo próprio PTB.
No entanto, é equivocado pensar que os trabalhadores urbanos tinham adesão automática ao
governo de Goulart. Ele enfrentou uma série de greves que reivindicavam melhoria nos salários e
mudanças na política econômica. Mesmo assim, a categoria também esteve ao lado do
presidente em momentos chave, como o próprio apoio do Comando Geral dos Trabalhadores
(CGT) à realização do plebiscito que resultou no retorno do presidencialismo.

Embora o latifundiário de origem social abastada João Goulart estivesse muito longe de ser um
comunista em suas pretensões ideológicas, ele de fato recebeu apoio de quadros do partido.
Mesmo na ilegalidade, o PCB continuava funcionando de maneira clandestina. No entanto, a
partir de um documento do partido conhecido como “Carta de 1958”, os seus quadros passaram
a defender explicitamente o desenvolvimento capitalista. Isso ocorria porque na mentalidade
etapista do marxismo hegemônico à época, o Brasil não teria chegado ainda em um momento do
capitalismo que permitisse uma revolução mais ampla. Intelectuais comunistas como Nelson
Werneck Sodré chegavam a afirmar que vivíamos em um modo de produção feudal. Por isso, era
preciso fazer antes uma “revolução burguesa” que transformasse o país em uma economia
industrial antes de qualquer medida mais radical. Assim, a adesão do PCB às reformas de base
de Goulart não se devia a uma radicalização do presidente, mas a uma moderação dos próprios
comunistas.

Para resolver o problema econômico, Goulart havia elaborado junto com o Ministro do
Planejamento – o economista Celso Furtado – o “Plano trienal”. A proposta era basicamente a de
tomar medidas econômicas ortodoxas, mas sem grandes sacrifícios para a sociedade e para o
desenvolvimento econômico. No pacote de políticas econômicas, previa-se a não-concessão de
grandes aumentos ao salário-mínimo, o financiamento externo dos investimentos públicos e o
crescimento baseado no aumento das exportações. O motivo disso era impedir o aumento do
déficit público. Ponto mais polêmico é que o plano previa aumentar a carga tributária para as
maiores faixas de renda do país e cortar subsídios ao capital nacional.

O ministro da economia San Tiago Dantas colocou o plano em curso em janeiro de 1963. Porém,
ele desagradava diversos setores e, por isso, sofria pressões contrárias tanto dos trabalhadores
quanto do empresariado. Dois meses depois, Goulart já havia praticamente abandonado o plano
econômico, concedendo aumentos salarias para diversas categorias e para o funcionalismo
público, além de aumentar o salário-mínimo em 56,25%.

Para apaziguar os ânimos dos oposicionistas, Goulart substituiu San Tiago Dantas por Carlos
Alberto Carvalho Pinto no Ministério da Fazenda. Sua gestão tentou fazer reformas econômicas
de controle do déficit e da inflação a partir da diminuição de emissão monetária. Isso desagradou
tanto os trabalhadores quanto os bancos, que perdiam liquidez. Sofrendo grandes pressões,
Carvalho Pinto saiu do ministério, sendo substituído por Nei Galvão (PSD).

Embora mantivesse esforços de conciliação na concessão de cargos e ministérios, João Goulart


fazia discursos e declarações públicas inflamadas nos quais defendia que as elites brasileiras
eram contrárias ao desenvolvimento nacional. Buscando manter sua base entre trabalhadores
urbanos, rurais e estudantes, o presidente passou a defender cada vez mais explicitamente a
necessidade de reformas de base. Seus pilares eram reforma urbana, reformas no setor fiscal e
bancário, reforma universitária e, principalmente, a reforma agrária, que visava distribuir as terras
do campo para os trabalhadores rurais.

O principal discurso do presidente João Goulart em defesa das reformas de base foi o Comício da
Central do Brasil. Você pode conferir trechos dele no link a seguir: www.youtube.com
[https://www.youtube.com/watch?v=wpUs9PAZnuo] .

Segundo o filósofo e historiador Caio Navarro de Toledo (2004), o que Goulart defendia era um
modelo de capitalismo de tipo keynesiano, no qual o Estado interfere na economia e que a
demanda é tão importante quanto a oferta. Por isso, sem aumentar o salário, Goulart temia que o
país continuasse sem crescer, porque as pessoas simplesmente não teriam como consumir. Do
mesmo modo, sua defesa da reforma agrária se baseava no entendimento desenvolvimentista de
que é mais vantajoso para um país ter sua matriz econômica baseada em industrialização. Era
nesse contexto que estava inserida sua defesa das “reformas de base”. Elas eram de base
porque eram as questões julgadas necessárias para o Brasil ter um modelo de capitalismo
saudável e duradouro.

O problema é que, em um clima muito polarizado internacionalmente e com profunda


radicalização interna, era difícil impor essas políticas como moderadas. Portanto, elas foram
recebidas como se fossem comunistas por amplos setores das elites políticas e da sociedade
civil. Fora do Brasil, os Estados Unidos também não viam com bons olhos o governo de João
Goulart. Tal como demonstra o historiador Carlos Fico (2008), no contexto de Guerra Fria os
Estados Unidos da América monitoravam os países latino-americanos e recebiam informações
do seu embaixador no Brasil Abraham Lincoln Gordon de que João Goulart representava uma
ameaça para os interesses da potência do norte no país.
Você sabia que os Estados Unidos da América deram apoio diplomático e logístico-militar para o
golpe de 1964? A “operação Brother Sam” era o comprometimento do governo americano de, caso
houvesse resistência, apoiar os militares. A potência do norte chegou a enviar para o Brasil um
porta-aviões de sua Marinha com uma frota que auxiliaria a tomada do poder por parte do
exército brasileiro.

Caso queira saber mais sobre, veja o documentário “O dia que durou 21 anos”, no link:
www.youtube.com [https://www.youtube.com/watch?v=RVnf3Ap7guQ] .

Videoaula - O PCB reformista e a ideia de revolução burguesa

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[https://player.vimeo.com/video/504923032] .

3.3 Do governo presidencialista de João Goulart e o golpe de 1964

Igualmente entre os militares, Goulart era considerado um subversivo que, no limite, seria uma
ameaça à segurança nacional. A partir deste entendimento, começou a se organizar dentro das
forças armadas conspirações para depor o presidente. A questão militar piorou quando João
Goulart decidiu manter-se neutro em uma rebelião ocorrida em Brasília em 12 de setembro de
1963. Conhecida como “rebelião dos sargentos”, a revolta foi uma manifestação de militares de
baixa patente contrários a decisão do STF de não reconhecer a elegibilidade dos sargentos nas
eleições legislativas daquele ano.
Na sociedade civil, não só parte do empresariado, mas também alguns grupos da Igreja Católica,
viam em Jango um oposto aos seus valores. A principal manifestação nesse sentido foi a
“Marcha da família com Deus pela liberdade”. Ela se iniciou após um Comício realizado pelo
presidente em 13 de março de 1964 na Central do Brasil, no Rio de Janeiro. O “comício das
reformas” reuniu 150 mil pessoas, entre sindicalistas, estudantes, servidores públicos, políticos e
militares pró-Jango. A intenção do presidente era mobilizar seus apoiadores para ajudá-lo a
encaminhar o seu projeto de reformas. Em sua fala ficou clara a decisão de desistir da aposta na
conciliação. Além de acusar diversos setores da sociedade de serem “antipovo”, ele prometera
levar à frente uma reforma urbana que desapropriaria imóveis ociosos e uma reforma
universitária que atenderia aos interesses da União Nacional dos Estudantes (UNE). Sobre a
reforma agrária, Jango se comprometeu a distribuir terras, mesmo contra os interesses dos
latifundiários.

Associando o discurso presidencial a uma ameaça comunista, setores do clero e associações


religiosas da classe média organizaram manifestações pelos principais centros urbanos do
Brasil. A principal delas ocorreu na cidade de São Paulo em 19 de março de 1964, contando com
cerca de 300 mil pessoas. Dentre os seus apoiadores estavam o próprio governador do estado,
Ademar de Barros, o presidente do senado Auro de Moura Andrade e o udenista Carlos Lacerda.
Esse último manteve-se como crítico feroz do governo na imprensa e no Congresso, tal como
fizera nos governos anteriores.

Figura 21 – A marcha da família com Deus pela liberdade.

Fonte: <lemad.fflch.usp.br [http://lemad.fflch.usp.br/node/5365] >.

Em um terreno já preparado, a conspiração para depor João Goulart deixou de ser uma ideia para
ser levada a cabo após momentos chave do aumento do conflito com os militares. O primeiro
evento foi a “revolta dos marinheiros”, que ocorreu por conta da comemoração do aniversário da
associação dos marinheiros e fuzileiros navais na sede do Sindicato dos Metalúrgicos. A
associação era composta por um grupo de militares apoiadores de João Goulart, que realizaram
a confraternização mesmo após proibição do Ministro da Marinha, Silvio Mota. Eles eram
liderados por José Anselmo dos Santos, o Cabo Anselmo, que convidou inclusive sindicalistas e
o governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola. Na reunião, os marinheiros se manifestaram a
favor das reformas de base e reivindicaram melhoria nas condições de trabalho para a categoria.

Como resultado, o ministro Silvio Mota ordenou que um grupo de fuzileiros fossem repreender a
confraternização. Chegando lá, eles acabaram por aderir a pauta dos revoltosos. Já o presidente
João Goulart não aplicou nenhuma punição ao baixo oficialato que havia se rebelado. Isso
resultou no pedido de demissão de Silvio Mota. Já no dia 30 de março, Jango foi convidado de
honra em evento da Associação de Sargentos e Suboficiais da Polícia Militar, no Automóvel Clube
do Rio de Janeiro. Em seu discurso, Jango manteve o tom radical e se comprometeu novamente
com as reformas. Isso não agradou o oficialato lá presente.

A movimentação militar para depor o presidente se iniciou no dia seguinte. Em 31 de março de


1964 o general Olímpio Mourão Filho iniciou um deslocamento de tropas de Juiz de Fora em
direção ao Rio de Janeiro. Tomando ciência disto, João Goulart foi primeiro para Brasília e em
seguida para Porto Alegre, onde Leonel Brizola pretendia organizar a resistência. Enquanto isso,
a faceta parlamentar do golpe estava em curso. Afinal, não só os militares, mas também os civis
no parlamento e na sociedade foram atores decisivos para depor Goulart. No Congresso, a UDN e
boa parte do PSD eram a favor da saída do presidente. Políticos como Carlos Lacerda e Juscelino
Kubitscheck viam nisso uma chance de, nas eleições previstas para o ano seguinte, concorrerem
ao cargo.

Em 1 de abril de 1964 o presidente do Senado Auro de Moura Andrade presidia a sessão que
depôs o presidente. Embora João Goulart estivesse no Rio Grande do Sul, ele declarou que o
presidente havia deixado o território brasileiro sem autorização, o que permitiria sua deposição.
Assim Auro de Moura Andrade declarou vaga a presidência da República e transferiu-a para o
presidente da Câmara dos Deputados, Ranieri Mazilli. Em seguida, o poder foi transferido para
uma Junta Militar, o que já era uma demonstração de qual era o lado mais forte da coalizão. No
dia 11 de abril, o General Humberto Castelo Branco foi eleito presidente da República por voto
indireto do Congresso Nacional. Estava assim concretizado o golpe civil-militar que resultaria na
permanência dos militares na presidência da República pelos próximos 21 anos.
Você pode conferir o áudio da sessão em que Auro de Moura Andrade declarou vaga a presidência
da República no link a seguir: www.youtube.com [https://www.youtube.com/watch?v=B-
3Ng_eaG2I] .

João Goulart optou por não resistir e fugiu para o Uruguai, na condição de exilado político. Já os
seus aliados foram duramente perseguidos. Durante a tomada de poder, os militares colocaram
tanques nas ruas. No Rio de Janeiro, a sede da União Nacional dos Estudantes foi invadida e
incendiada. O Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB), que reunia intelectuais alinhados
com Jango foi igualmente invadido e fechado. O mesmo ocorreu em universidades e sedes de
sindicatos. Políticos, militares e trabalhadores que apoiavam o presidente foram presos e alguns
até mesmo torturados, como o caso da liderança comunista Gregório Bezerra. Ele foi arrastado
por corda amarrada em seu pescoço nas ruas de Recife (PE).

Os acontecimentos entre março e abril de 1964 ainda são vivos na memória dos brasileiros. Isso
porque esses eventos são constantemente lembrados e mobilizados no debate político, tanto à
esquerda quanto à direita. Uma das discussões sobre a questão é se foi ou não golpe. Do ponto
de vista jurídico e da ciência política, podemos considerar qualquer mudança de regime ou grupo
no poder por uma maneira não prevista em lei ou pelo procedimentos institucionais devidos
como um golpe. Portanto, a Proclamação da República em 1889, a revolução de 1930, o início do
Estado Novo, seu fim, o levante militar liderado pelo general Henrique Teixeira Lott em 1955 e
também a chegada dos militares ao poder em 1964 foram todos golpes. Isto não
necessariamente implica que temos um juízo positivo ou negativo sobre esses eventos. Cabe
aos historiadores e cientistas sociais analisar os eventos tentando desprender-se de suas
inclinações ideológicas. Se o golpe de 1964 foi um evento bom ou ruim é uma questão do debate
político, do qual, como estudiosos de história, podemos, no máximo, fornecer subsídios para
torná-lo mais qualificado.
Videoaula - 1964 foi golpe?

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[https://player.vimeo.com/video/504923645] .
Recapitulando a Unidade 3
Com o fim do governo João Goulart, encerrou-se a breve experiência democrática que durou
entre os anos de 1946 e 1964. Seus últimos anos foram especialmente intensos. Desde as
eleições de Jânio Quadros e sua gestão atabalhoada, o problema econômico, político e social só
ia se intensificando. Na conjuntura internacional, certamente a Guerra Fria não ajudou: ela deu o
tom de radicalização e polarização propício para rupturas democráticas. Portanto, assumindo
João Goulart, suas reformas de base foram consideradas excessivas por setores da sociedade
civil, das elites políticas e do exército.
Exercícios de fixação
O governo Jânio Quadros foi instável porque a eleição foi apertada e por isso ele não tinha base
para governar.

Verdadeiro Falso

A solução encontrada para a sucessão presidencial foi garantir a posse ao vice-presidente, mas
mudar o sistema para parlamentarista.

Verdadeiro Falso

Marque a alternativa que apresente setores que participaram do golpe de 1964 ativamente.

Os comunistas e os trabalhistas.

Parlamentares da UDN, militares e grupos da sociedade civil.

Igrejas protestantes e militares.

Militares, URSS e EUA.


4 Quando o moderno e o popular se encontram
“Ah, se ela soubesse que quando ela passa...”  (JOBIM e MORAES, 1962). Só de cantarolar o início
da estrofe podemos imaginar todo o cenário que esse clássico brasileiro propõe. Essa sensação
é resultado da importância deste novo estilo musical, que embalou os anos dourados na capital
federal. No final da década de 1950 nascia a bossa nova, mistura que a princípio causou
suspeita, mas ganhou o mundo e até os dias de hoje é representativo de nossa cultura, fato que
pudemos assistir na abertura das Olímpiadas de 2016 no Rio de Janeiro.

Não foi apenas no mundo da música que as mudanças aconteceram. Pelo contrário, a atmosfera
de busca por um Brasil moderno, que ganhou força com as estratégias políticas de JK que
prometia um avanço de cinquenta anos em cinco, contagiaram todas as esferas da sociedade.
Nesse período fomos marcadamente influenciados pelo estilo americano e o consumo ficou em
alta. Os lares brasileiros foram afetados, não apenas pelas novas tecnologias como a televisão,
mas também pelo fortalecimento de uma concepção dominante a respeito do conceito de
família.

Essa atmosfera nacionalista e desenvolvimentista causaria marcantes impactos nas expressões


artísticas. Do conteúdo à forma, as décadas de 1950 e 1960 apresentariam uma nova maneira de
representar o Brasil, como é o caso do cinema novo. Porém, a grande estrela dos meios de
comunicação do período será a televisão, que chega em 1950 e aos poucos vai se tornando o
centro do entretenimento. Como você pode perceber, a expectativa pelo futuro melhor, produzido
pela modernização, espalhou-se por toda a sociedade. É sobre esse espírito dos “anos dourados”
que estudaremos nesta unidade.

4.1 O impacto social

No âmbito cultural, o período que estamos estudando é fortemente marcado pelo investimento
em produção de uma identidade nacional durante a Era Vargas. A busca concomitante por
modernização da sociedade e integração da cultura construiu interpretações e expressões a
respeito do que é o Brasil e, portanto, do ser brasileiro. Não podemos nos esquecer que essa
experiência foi conduzida de maneira autoritária, principalmente durante o Estado Novo. Tendo
como objetivo unificar a noção de nacionalidade, o Estado tornou-se ator principal da produção
cultural.

Vargas deposto e realizadas novas eleições presidenciais, a engrenagem da lógica cultural


nacionalista continuaria a girar. O objetivo de organizar o Brasil, no sentido de garantir maiores
níveis de urbanização, industrialização, civilização permaneciam no horizonte, mas agora sob um
regime democrático. Durante a república de 1946, acontecem transformações importantes no
mundo: o pós-guerra e o advento da Guerra fria; e no Brasil, a ascensão de uma democracia de
massas juntamente da ampliação do consumo de bens não duráveis. Tanto a sociedade como a
cultura vão refletir essas profundas mudanças.

Uma perspectiva interessante para observar esse movimento é a chamada transição


demográfica. Trata-se de um período em que as sociedades crescem numericamente devido à
redução da taxa de mortalidade em conjunto com a conservação dos índices de natalidade,
proporções que representam melhora na qualidade de vida. Entre os anos de 1930-1960 o Brasil
passou por essa experiência, aliada às políticas públicas. Central para este processo foi a
criação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o IBGE no final da década de 1930.

Apesar de ter passado por algumas crises durante os anos 1950 e 1960, o IBGE foi de suma
importância para o mapeamento da população brasileira, principalmente pela realização dos
censos, iniciados em 1940 no Instituto. A repetição desses estudos, com aperfeiçoamento da
metodologia, proporcionava a possibilidade de uma ampla análise a respeito, por exemplo, do
crescimento populacional. Como podemos observar na Figura 22, o Brasil saltou de 30.635.605
habitantes na década de 1920 para 70.992.343 em 1960, um crescimento percentual superior
aos períodos de transição demográfica de países europeus.

Figura 22 – Evolução da população residente no país.

Fonte: IBGE, 1960.

Apesar de úteis, esses dados agregados escondem as desigualdades regionais existentes devido
à extensão continental do território brasileiro. Portanto, é preciso reforçar que os impactos
incontornáveis dos processos de urbanização e industrialização atingiram de maneira e
intensidade distintas as diferentes regiões do país, assim como os diversos grupos sociais nelas
residentes. Por exemplo, segundo dados do IBGE, enquanto na década de 1940 a expectativa de
vida no Sudeste era de quase 50 anos, no Nordeste era apenas de 38; ou o fato de a expectativa
de vida entre a população negra ser em média 7,7 anos menor do que dos outros grupos.

Diferente da aposta feita nos imigrantes estrangeiros no final do século XIX e início do XX, a
partir da década de 1930 o Estado passou a investir no trabalhador nacional, seja pelo contexto
das guerras ou pela nova legislação. Nesse período ocorreu forte imigração interna, tanto para
São Paulo como para a Amazônia, na campanha dos “soldados da borracha”, e posteriormente
para Brasília. O fluxo de trabalhadores para o Sudeste após o fim do Estado Novo e durante a
década de 1950 alcançou mais de 1,5 milhão de trabalhadores em um fluxo que só recrudesceria
por volta de 1980, quando a população já era majoritariamente urbana.

A chegada desses novos trabalhadores, em sua maioria mineiros e nordestinos, era dirigida pelo
próprio governo, que os oferecia abrigo e emprego. Eram os anos da industrialização nacional e
da expansão urbana, portanto havia ampla oferta de empregos no setor industrial e na
construção civil. A chegada desses trabalhadores vai impactar a composição social dessas
cidades, principalmente São Paulo, avolumando as demandas e os movimentos trabalhistas,
como a greve dos 300 mil.

Figura 23 – JK inaugura fábrica da Ford.

Fonte: <fotos.estadao.com.br [https://fotos.estadao.com.br/fotos/acervo,jk-


inaugura-fabrica-da-ford,571435] >.

No período estudado, houve o grande crescimento econômico durante o governo de Juscelino


Kubitschek, o clima de progresso que era representado pelo slogan “avançar cinquenta anos em
cinco”. Um símbolo desse período é a abertura da economia para o capital estrangeiro, sobretudo
no setor industrial, com a chegada de empresas como a Volkswagen, Johnson & Johnson e
General Motors. Uma região que recebeu indústrias automobilísticas e que representa o impacto
dessas mudanças não apenas no aspecto econômico, mas também no social e político é o ABC
paulista, que seria palco de forte organização sindical nas décadas seguintes.

Além das lutas políticas das classes organizadas, o contexto pós-guerra somado aos processos
de industrialização e urbanização causou transformações no cotidiano dos cidadãos, com a
ascensão da classe média. A população viu tudo a sua volta se transformar, ampliando as
oportunidades de melhoria na qualidade de vida. A arquitetura das moradias perdeu
suntuosidade representando um movimento de maior praticidade, assim como nos
eletrodomésticos, que passaram a ser fabricados com matérias como plástico, facilitando o
manuseio e o acesso. Assim, passaram a fazer parte do cotidiano aparelhos que facilitavam a
rotina, como liquidificador, fogão a gás, além da mudança na alimentação, que passou a contar
com produtos industrializados.

As transformações do processo de industrialização vieram com a promessa de dar mais


praticidade para a vida e de fato isso aconteceu. Mas quais são os custos dessa mudança?
Pensando na substituição de bens duráveis e produtos reutilizáveis pelos de plástico, você sabia
que existe uma estimativa de que em 2050 haverá mais plástico do que peixes nos oceanos? Ou
que as microfibras de plástico estão presentes em 83% das amostras de nossas águas
encanadas? Precisamos repensar nossos padrões de consumo.

Você pode encontrar alternativas aqui: umavidasemlixo.com/ [https://umavidasemlixo.com/] .


Videoaula - Os novos destinos do êxodo rural

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Videoaula - Gabriela e as mulheres que romperam os padrões

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4.1 O impacto social

As inovações não alcançaram as estruturas de gênero, mantendo a distinção e hierarquia


patriarcal entre homens e mulheres. Antes de analisarmos a imagem feminina construída
durante os chamados anos dourados, importante para compreensão da influência midiática nos
padrões de vida daquela época, precisamos fazer um pequeno recuo no tempo. Em nossa
história, a figura da mulher que se dedica exclusivamente ao lar e à família não é representativa,
primeiro pelo fato das mulheres negras terem sido subjugadas a trabalhos forçados durante
séculos e também pela presença significativa de mulheres empobrecidas, especialmente na
virada do século XX, nas fábricas e em outros campos de trabalho.

Foi depois da Primeira Guerra Mundial que ganhou força a ideia de que a mulher não deveria
trabalhar, mas empenhar-se no cuidado da casa e da família. Contribuíram para isso as
péssimas condições de trabalho e as perspectivas religiosas, jurídicas e até higienistas. O
trabalho feminino só era tolerado antes do casamento ou pela fatalidade da ausência de
condições de subsistência, e as mulheres que rompiam com esse estigma eram vistas de
maneira pejorativa.

Com isso, as mulheres acabaram migrando para serviços burocráticos, especialmente com o
surgimento da máquina de escrever, que exigiam menor qualificação, já que o ambiente
universitário nesse período era dominado pelos homens. Esses empregos davam preferência
para moças solteiras, além das diversas justificativas como terem maior disponibilidade e serem
“dóceis”, por muito tempo as mulheres dependiam da aprovação de seus maridos para trabalhar.
Foi apenas em 1943 que esse direito foi adquirido e em 1962, com o Estatuto da Mulher Casada,
que foi retirado do Código Civil o direito de o marido impedir a esposa de trabalhar fora.

Portanto, nesse período as mulheres estavam, no imaginário social, limitadas ao ambiente


doméstico. Além dos obstáculos para a construção de uma carreira de sucesso, havia fortes
incentivos para a dedicação exclusiva à domesticidade. As revistas femininas eram
representantes da construção e difusão do papel da mulher na sociedade durante as décadas de
1950 e 1960. Entre as principais revistas estavam: Jornal das Moças, Querida, Vida Doméstica,
Você, Claudia, algumas também apresentavam seções dedicadas às mulheres, como para mulher
da revista O Cruzeiro. Uma das líderes de venda era o Jornal das Moças (1945) que apresentava
ensinamentos como: “A desordem no banheiro desperta no marido a vontade de ir tomar banho
na rua.” Foi nessa época que se popularizaram os testes como esse a seguir:
TESTE DE BOM-SENSO

Suponhamos que você venha a saber que seu marido a engana, mas tudo passa de uma aventura

banal, como há tantas na vida dos homens. Que faria você?


1. Uma violenta cena de ciúmes?
2. Fingiria ignorar tudo e esmerar-se-ia no cuidado pessoal para atraí-lo?
3. Deixaria a casa imediatamente?

Resposta
1. A primeira resposta revela um temperamento incontrolado e com isso se arrisca a perder o
marido, que, após uma dessas pequenas infidelidades, volta mais carinhoso e com um certo
remorso.
2. A segunda resposta é a mais acertada. Com isso atrairia novamente seu marido e tudo se
solucionaria inteligentemente.
3. A terceira é a mais insensata. Qual mulher inteligente que deixa o marido só porque sabe de uma
infidelidade? O temperamento poligâmico do homem é uma verdade; portanto, é inútil combatê-
lo. Trata-se de um fato biológico que para ele não tem importância.

(JORNAL DAS MOÇAS, 1952)

Analisar as publicações destas revistas, mais presentes no cotidiano das brasileiras do que a
televisão, nos permite perceber a construções dos padrões de família, comportamento e
consumo daquele período. Nas imagens, testes e conselhos, os editores das revistas, muitas
delas comandadas por homens, estabeleciam regras e cultivavam valores. Além de difundirem
um padrão de comportamento, as revistas também tiveram impacto ao distanciar a mulher de
outros universos, como fica evidente no editorial de lançamento da revista Claudia:

Por que Claudia? O Brasil está mudando rapidamente. A explosiva evolução da classe média torna

necessária uma revista para orientar, informar e apoiar o crescente número de donas de casa que

querem (e devem) adaptar-se ao ritmo da vida moderna. Claudia será dirigida a essas mulheres e

dedicada a encontrar soluções para seus novos problemas. Claudia não esquecerá, porém, que a

mulher tem mais interesse em polidores do que em política, mais em cozinha do que em

contrabando, mais em seu próprio mundo do que em outros planetas... Claudia, enfim, entenderá que

o eixo do universo da mulher é o seu lar. (apud DE LUCA, 2013, p. 454)

Assim como as revistas foram importantes para a consolidação de uma visão a respeito do que
era ser mulher nessas décadas, os demais meios de comunicação também foram centrais para
construir novos padrões naquela sociedade. O processo de modernização fomentado pela
propaganda recepcionou uma busca pelo american way of life aqui no Brasil. Veja na Figura 24 a
junção entre propaganda da Colgate e construção do conceito de família. Uma mulher com medo
de “ficar para a titia” por ter mau hálito é incentivada a usar a pasta de dente, segundo a
propaganda “Colgate não é boato – faz casamento de fato!”:

Figura 24 – Propaganda da Colgate.

Fonte: Pinsky, Carla Bassanezi. Mulheres dos anos dourados. São Paulo:
Contexto, 2017.
Videoaula - O surgimento do cinema novo

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4.2 Rádio, Cinema, Teatro e Televisão

Em conjunto com a expansão da chamada sociedade urbano-industrial, também foram


transformados os meios de comunicação, aprofundando o papel informativo que já estava
consolidado e ampliando a função no campo do entretenimento. A busca pela modernidade, que
já citamos, impulsionou a comunicação para expressões inovadoras. Esse movimento cultural
produziu adesão na classe média que estavam em ascensão, principalmente aqueles inseridos
no mundo da universidade e ligados ao sentimento nacionalista.

Instrumento do governo durante os anos do Estado Novo, principalmente com o programa a Hora
do Brasil, a rádio cresceu durante a república de 1946. A década de 1950 foi tão importante para
esse meio de comunicação que é conhecida como os anos de auge do rádio. Dentre os
programas de maior audiência estavam: Calouros em desfile, na Rádio Tupi; Melhoral dos Cracks
de Alencar, na Rádio Nacional e Hora da Saudade, na Rádio Tamoio.

É importante observar que aquele aumento do consumo em busca do american way of life no
Brasil também gerou reflexos no rádio. A popularidade das radionovelas tornou-se uma
oportunidade de negócio para as empresas a partir da publicidade de diversos produtos. Mas foi
com a chegada da televisão que o ramo da propaganda seria completamente transformado no
país.
Antes da “telinha” ocupar seu espaço nos lares brasileiros, os programas de rádio eram a
principal forma de entretenimento familiar, além de ser mais acessível do que frequentar
espetáculos no teatro ou ir ao cinema. Mas, à medida em que a TV se popularizou, o rádio foi
perdendo espaço. Alguns chegaram a decretar seu fim, principalmente porque a programação do
novo meio era baseada no que se fazia na rádio, mas com a vantagem de ter imagens. Porém, o
rádio reinventou-se alterando a grade de programas e ampliando o tempo dedicado à música. Foi
em 1955 que surgiram as primeiras emissoras de frequência modulada, as famosas FMs, dessa
época já havia mais de 477 emissoras no Brasil.

Marcado pela valorização da cultura popular do Brasil, o cinema também expressou as


transformações do período. Criada ainda nos anos 1940, a companhia Atlântida seria
responsável por produzir um fenômeno artístico nos anos 1950 e 1960: as chanchadas, que eram
comédias musicais. As paródias dos filmes estadunidenses, muito assistidos pelos brasileiros,
fizeram sucesso e contavam com atores consagrados como Dercy Gonçalves. Foi nessa época
que o filme Matar ou correr de 1954 consagrou a dupla humorística Oscarito e Grande Otelo.

Figura 25 – Oscarito e Grande Otelo.

Fonte: <folha.uol.com.br
[https://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq0501200811.htm] >.

Apesar do cinema já estar em alta fazia alguns anos no Brasil, a concepção de desenvolvimento
presente na sociedade contribuiu para o surgimento de uma nova expressão cinematográfica, o
chamado cinema novo. Esse movimento alterou a estética do cinema nacional, de baixo
orçamento. A proposta era apresentar a realidade por meio de longa sequências, influenciada
pelo neorrealismo italiano que surge com o pós guerra. Dois grandes nomes do cinema novo são
Nelson Pereira dos Santos e Glauber Rocha.

O teatro não ficou de fora de toda essa transformação, foram impactados desde os assuntos até
a encenação. Os cenários sofisticados deram lugar a uma maior interação entre os atores e a
plateia, seguindo a mesma tendência realista do cinema novo. Criado em 1953 e símbolo dessa
influência, o Teatro de Arena de São Paulo era disposto em círculo, com o palco no centro do
público. A realidade alcançou o conteúdo das peças ao serem introduzidas temáticas de cunho
social e político referentes à população brasileira.

Embora toda essa metamorfose impressione, não há dúvidas de que a grande novidade dos anos
dourados foi a chegada da televisão ao Brasil. Inaugurada em São Paulo pela TV Tupi, a primeira
emissora da América Latina, a televisão revolucionou a comunicação no país. Apesar da
inovação a programação era inspirada naquela produzida no rádio, muito pelo fato de as
primeiras equipes de direção e o corpo de atores serem compostos por profissionais com ampla
experiência no rádio.

Figura 26– Televisão em 1946.

Fonte: <pt.wikipedia.org
[https://pt.wikipedia.org/wiki/Televisor#/media/Ficheiro:RCA_630-
TS_Television.jpg] >.

Durante os primeiros anos, a televisão ainda perdia em audiência para o rádio e o cinema. Dentre
os principais motivos, estava o alto custo para adquirir o aparelho, já que era necessário importar
no início. Em 1951, as modernas TV-radio vitrola da GE poderiam custar 1.282 dólares, valores
que aumentavam caso a escolha fosse pelo modelo da Philco de 17 polegadas. Com a
diminuição dos preços ao longo dos anos – em número de salários-mínimos a queda foi de
cerca de dois terços – a TV foi ganhando seu espaço.

Com o passar do tempo o aparelho foi chegando em mais casas e ampliando o raio de alcance
de transmissão. A princípio a programação, que era totalmente ao vivo, durava cerca de 3 a 4
horas diárias, que eram ampliadas com a transmissão do futebol aos domingos. Essa foi outra
importante contribuição da chegada da televisão, a possibilidade de assistir a uma partida de
futebol sem estar no estádio.
Nos primeiros anos de transmissão televisionada, todos os programas eram ao vivo, não havia
tecnologia para a gravação. Somente dez anos depois, em 1960, que os recursos de videoteipe
foram utilizados no Brasil. O primeiro programa a ser transmitido com essa tecnologia foi o Chico
Anísio Show da TV Rio.

O ano era 1950, o maracanã havia acabado de ser inaugurado e o Brasil era sede da quarta
edição da copa do mundo. A final entre a seleção brasileira e a uruguaia entraria para a história.
Além da derrota por 2 a 1 em casa, que ficou conhecida como “maracanazo”, a partida ficou
marcada por ter o maior público das copas. Foram 173.850 pagantes, sem contar jornalistas,
convidados, autoridades e as pessoas que invadiram o estádio após derrubarem os portões.

Apesar da audiência recorde, apenas os brasileiros que estavam no maracanã puderam assistir
àquela amarga derrota, os demais só puderam ouvir. Apesar da televisão ter chegado ao país
meses depois da copa de 1950, os dois primeiros títulos mundiais do Brasil, 1958 e 1962, foram
acompanhados pelo rádio. Isso porque a competição só seria televisionada no campeonato de
1970, quando o Brasil também foi campeão, durante o regime militar.

A primeira vitória em copa do mundo do Brasil coroou os planos do então presidente Juscelino
Kubitschek de transformar o Brasil em uma potência respeitada mundialmente. O futebol
colocou os holofotes do mundo sobre o Brasil, além de fortalecer os laços de nacionalismo. No
dia seguinte à conquista, o Palácio da Alvorada foi inaugurado, na futura capital federal que só
seria fundada em 1960.
Figura 27 – Bellini.

Fonte: <pt.wikipedia.org
[https://pt.wikipedia.org/wiki/Bellini_(futebolista)#/media/Ficheiro:Gilmar,_V
icente_Feola_e_Belini_com_a_ta%C3%A7a_da_Copa_do_Mundo_(1958).tif] >.

Nos últimos anos da década de 1950 já havia cerca de 200 mil televisões no Brasil. O
crescimento contínuo do alcance da rede ampliava cada vez mais o poder e a centralidade do
meio de comunicação para os rumos da política nacional. foi o caso da crise militar causada
pelas declarações do general Juarez Távora à TV Tupi, descumprindo a proibição de que
membros das forças armadas dessem declarações políticas. Também são sinal do poderio desse
novo canal de difusão as propagandas políticas durante as eleições, como foi o caso do apoio
dado por Carlos Lacerda a Jânio Quadros na programação da TV Rio.

Observadas as diferentes expressões artísticas do período, fica evidente a mistura entre cultura e
política. Com o propósito da valorização da cultura popular e da revolução na forma, em 1962 foi
criado o Centro Popular de Cultura (CPC), em parceria com a União Nacional dos Estudantes
(UNE). O movimento foi ganhando proporções, contudo seria atravancado pelo recrudescimento
da democracia.
Videoaula - TV: novo campo da luta política

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Prática profissional - Produção cinematográfica como fonte


histórica

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4.3 Bossa nova

Nos anos anteriores, foi apresentada ao Brasil ampla diversidade de expressões culturais a partir
da música. Variados ritmos, com destaque para o samba e suas variações, embalaram a
ascensão de políticas públicas em busca de uma cultura nacionalista durante o Estado Novo.
Figura central nesse processo foi Villa-Lobos, responsável por desenvolver projetos de fomento
para uma “boa música” brasileira, como foi o caso do canto orfeônico. Uma das inciativas, por
exemplo, foi a criação da Comissão Nacional do Folclore em 1947, com o propósito de garantir a
proteção e contínua divulgação das tradições populares.

O advento da república de 1946 foi fortemente influenciado pela construção cultural anterior.
Sendo assim, o ambiente nacionalista seguiu sendo o status quo da cultura e, portanto, da
música. Mas foi na viradaa para a década de 1960 que um novo movimento musical ganharia
notoriedade, a bossa nova. O novo ritmo nasceu intrigante pelas pontes que estabeleceu, seja
com o jazz ou com o “samba do morro”. O surgimento foi marcado pelo disco Canção do Amor
Demais em 1958, de Elizeth Cardoso, com composições de Antônio Carlos Jobim e Vinícius de
Morais.

Nessa obra também contribuiu o violinista e cantor João Gilberto, que naquele mesmo ano
(1958) gravou a música Desafinado, composta por Newton Mendonça e Tom Jobim em resposta
à crítica da época, que dizia ser a bossa nova “música para cantores desafinados”. Essa música
seria lançada no primeiro disco do cantor, Chega de Saudade, que contribuiu para a consolidação
do novo estilo. Observe como o eu-lírico da canção apresenta-se ironicamente como desafinado
e vale-se desse recurso para defender a bossa nova:

Se você insiste em classificar

Meu comportamento de anti-musical

Eu mesmo mentindo devo argumentar

Que isto é Bossa Nova, que isto é muito natural

O que você não sabe, nem sequer pressente

É que os desafinados também têm um coração

(GILBERTO, 1958)
Figura 28 – João Gilberto.

Fonte: <pt.wikipedia.org
[https://pt.wikipedia.org/wiki/Jo%C3%A3o_Gilberto#/media/Ficheiro:Jo%C3%A
3o_Gilberto_e_Stan_Getz_em_Nova_York_(1972).tif] >.

Esse canto quase falado que surpreendeu os ouvidos cariocas nasceu na zona sul do Rio de
Janeiro, embora João Gilberto fosse baiano de Juazeiro. A inovação também passava pela batida
por ele feita no violão, desconstruindo o formato existente no samba-canção. Esse híbrido entre
o canto contínuo e o violão ritmado respondia a busca de uma expressão mais moderna da
musicalidade nacional, marca daquele tempo. O sucesso da bossa nova atravessou nossas
fronteiras e, em 1962, João Gilberto participou do Festival de Bossa Nova no Carnegie Hall de
Nova York. Apenas dois anos depois, ganharia seu primeiro Grammy de “Álbum do Ano” com
Getz/ Gilberto, disco feito em parceria com Stan Getz, cantor estadunidense.

Parceiros, Tom Jobim também participou do Festival em 1962 e contribuiu para o processo de
internacionalização da bossa nova. Contudo, o ápice da representação desse novo estilo musical
surgiria no ano seguinte. A dupla Tom e Vinícius compuseram uma das faixas mais famosas de
Getz/ Gilbert, The Girl from Ipanema – para os íntimos, apenas Garota de Ipanema. Até hoje a
canção é um fenômeno, sendo a segunda mais executada da História, atrás apenas de Yesterday,
dos Beatles.
Lançada em 2019, a série original da Netflix “Coisa mais linda” apresenta o ambiente cultural que
estamos estudando. O enredo gira em torno de uma mulher que se muda para o Rio de Janeiro
dos anos 1950 e abre um clube de bossa nova.
Recapitulando a Unidade 4

Os “anos dourados” são a consolidação da busca por uma cultura representativa da


nacionalidade brasileira. A simbiose entre o moderno e a cultura popular produziram inovações
nos diversos campos da cultura, seja o cinema novo, o teatro arena ou a bossa nova. Os artistas
estavam comprometidos com as marcas do seu tempo: um nacionalismo que não prescinde da
modernidade típica do contexto de industrialização e urbanização da sociedade.

Cultura e política caminhavam juntas e movimentavam a partir de uma ideologia mais afeita ao
movimento de esquerda. Esse cenário será fortemente afetado após o golpe militar de 1964 que
pôs fim ao intervalo democrático representado pela república de 1946. Nesse ambiente, o
movimento cultural se reinventou não apenas como produção artística, como como resistência
política.
Exercícios de fixação
A produção cinematográfica passou por mudanças na década de 1950, este movimento ficou
conhecido como Cinema Novo. Marque a alternativa que apresenta um diretor desse estilo.

Glauber Rocha.

Nelson Pereira da Silva.

Carlos dos Santos Cruz.

Jackson dos Santos.

A respeito da música durante os anos dourados complete as lacunas:

A Selecione... nasceu intrigante pelas pontes que estabeleceu, seja com o Selecione...
ou com o “samba do morro”. O surgimento foi marcado pelo disco Canção do Amor Demais em
1958, de Selecione... , com composições de Selecione... , Vinícius de
Morais e participação do violinista e cantor Selecione... .
Considerações finais
Chegamos ao fim de nossa jornada pela experiência democrática de 1946. Vimos como se deu a
saída de Getúlio Vargas do poder e como a ascensão de Eurico Gaspar Dutra na presidência
tentou se desvencilhar da herança do varguismo. Vargas acabou voltando e eleito. Porém, dada
as crises econômicas e as pressões nacionais e internacionais, o desfecho do seu governo foi
por um suicídio. Assumindo seu vice, Café Filho, a UDN retornou à base de governo, para sair
logo em seguida no governo Juscelino Kubitscheck. O partido voltou para a base novamente com
Jânio Quadros, mas logo tratou de sair. Com a ascensão de João Goulart, a UDN estava entre
aqueles que colaboraram para o golpe que o retirou do poder. Infelizmente para o partido, a
ditadura militar proibiu as agremiações políticas, o que encerrou as atividades tanto da UDN
quanto dos outros partidos existentes.

Na economia e na política externa, variamos entre esforço de alinhamento e de afastamento com


os Estados Unidos da América. Do ponto de vista do crescimento, tivemos nossos “anos
dourados” com o governo JK, o que ficou simbolizado também pela construção da nova capital,
Brasília. No entanto, a conta veio no governo seguinte e voltamos para a alta inflação e a dívida
externa. Sem solução com Jânio Quadros e sem espaço político para a retomada do
desenvolvimentismo como queria João Goulart, a estabilização será cena para os próximos
capítulos da história do Brasil.

Já o mundo cultural e social foi especialmente rico, com padrões de vida e de consumo que até
os dias atuais se assemelham aos nossos hábitos. Movimentos artísticos e musicais como o
cinema novo e a bossa nova se constituíram como espécie de marca de nossa nacionalidade e
patrimônio cultural do país.

Embora tenha durado menos de 20 anos, o intervalo democrático é uma demonstração de como
tempo é relativo. Poucos períodos da história nacional foram tão marcados por mudanças de
governos e de políticos, conflitos e tentativas de construir estabilidade e mudanças na sociedade
e na política brasileira. Certamente, o clima de radicalização da Guerra Fria não ajudou nesses
esforços. Encerrada por um golpe, a república de 1946 é um exemplo de como a democracia é
sempre algo que depende de seus atores para ser mantida.
Exercícios de fixação - respostas
O vencedor das eleições de 1955 foi _______ e seu partido era o _____.

Juscelino Kubitscheck; UDN

Carlos Lacerda; UDN

Juarez Távora; PSD

Juscelino Kubitscheck; PSD

Sobre as eleições de 1950, complete as lacunas.

Após a deposição de Vargas, em 1950 ocorreram as eleições presidenciais. Foram três os


candidatos que disputaram o cargo: o general Dutra, apoiado pelos dois partidos formados a
partir do varguismo, PSD e PTB ; o brigadeiro Eduardo Gomes , com apoio da UDN; e
Iedo Fiúza pelo PCB .

Após quinze anos de Era Vargas e duas constituições, em 1946 foi promulgada a nova
Constituição do chamado intervalo democrático. Marque a questão que apresenta mudança
proposta pela carta.

Voto feminino.

Mandato de quatro anos.

Voto dos analfabetos.

Presidencialismo com reeleição.

Embora tenha sido um governo popular, JK entregou o Brasil com alta inflação e com dívida ao
FMI.
Verdadeiro Falso

JK foi retirado do poder com um golpe militar, pois desde a eleições havia grupos políticos que
não o desejavam na cadeira presidencial.

Verdadeiro Falso

O governo Jânio Quadros foi instável porque a eleição foi apertada e por isso ele não tinha base
para governar.

Verdadeiro Falso

A solução encontrada para a sucessão presidencial foi garantir a posse ao vice-presidente, mas
mudar o sistema para parlamentarista.

Verdadeiro Falso

Marque a alternativa que apresente setores que participaram do golpe de 1964 ativamente.

Os comunistas e os trabalhistas.

Parlamentares da UDN, militares e grupos da sociedade civil.

Igrejas protestantes e militares.


Militares, URSS e EUA.

A produção cinematográfica passou por mudanças na década de 1950, este movimento ficou
conhecido como Cinema Novo. Marque a alternativa que apresenta um diretor desse estilo.

Glauber Rocha.

Nelson Pereira da Silva.

Carlos dos Santos Cruz.

Jackson dos Santos.

A respeito da música durante os anos dourados complete as lacunas:

A Bossa Nova nasceu intrigante pelas pontes que estabeleceu, seja com o Jazz
ou com o “samba do morro”. O surgimento foi marcado pelo disco Canção do Amor Demais em
1958, de Elizeth Cardoso , com composições de Antônio Carlos Jobim , Vinícius de
Morais e participação do violinista e cantor João Gilberto .
Autoria
Helio Cannone
Autor
Formação e Minicurrículo: Bacharel e Licenciado em História pela Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), Mestre e doutorando em Ciência Política pelo Instituto de
Estudos Sociais e Políticos da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (IESP-UERJ).
Glossário

iAmerican way of lifei


Simboliza a maneira como os estadunidenses vivem, e abrange as concepções de valores
morais, políticos, econômicos, sociais e estéticos. Fonte: www.educamaisbrasil.com.br
[https://www.educamaisbrasil.com.br/enem/historia/american-way-of-life] .

Balança de pagamentos
Método de contabilidade que busca mostrar a relação comercial entre o país com as nações
estrangeiras. Fonte: www.dicionariofinanceiro.com
[https://www.dicionariofinanceiro.com/balanco-de-pagamentos/] .

Coligação
Em eleições, é a união de diferentes siglas partidárias em uma candidatura comum. Fonte:
camara.leg.br [https://www2.camara.leg.br/a-camara/estruturaadm/gestao-na-camara-dos-
deputados/responsabilidade-social-e-ambiental/acessibilidade/dicionario-de-
libras/c/coligacao-eleitoral] . Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=dC7nQEKHn8E
[https://www.youtube.com/watch?v=dC7nQEKHn8E] .

Câmbio depreciado
Diminuição do valor de uma moeda em relação à outra que lhe serve de referência, por exemplo, a
desvalorização do real frente ao dólar.

Fonte: www.dicionariofinanceiro.com
[https://www.dicionariofinanceiro.com/politicacambial/#:~:text=O%20que%20%C3%A9%20uma
%20Deprecia%C3%A7%C3%A3o,para%20R%24%203%2C30] .

Frequência modulada
É um dos modos de como são modulados os sinais de radiofrequência. Fonte:
www.dicionarioinformal.com.br [https://www.dicionarioinformal.com.br/significado/fm/11593/] .

Guerra da Coreia
A Coreia do Norte ultrapassou o Paralelo 38, que delimitava a fronteira com a Coreia do Sul. O
Conselho de Segurança da ONU aprovou o envio de tropas em defesa da Coreia do Sul. Após três
anos de combate, foi assinado um armistício em 27 de julho de 1953, mantendo a divisão entre
as Coreias. Fonte: cpdoc.fgv.br
[https://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/AEraVargas2/glossario/guerra_da_coreia#:~:text=Guerra
%20da%20Cor%C3%A9ia%20%7C%20CPDOC&text=Em%2025%20de%20junho%20de,general%20
norte%2Damericano%20Douglas%20MacArthur] .

Ortodoxia
Em economia, são políticas de cunho fiscal e monetário associadas ao liberalismo. Alguns
exemplos são: câmbio flutuante, livre comércio, austeridade fiscal, corte de gastos públicos e
diminuição de investimentos estatais. Fonte: terracoeconomico.com.br
[https://terracoeconomico.com.br/ortodoxia-e-heterodoxia-qual-o-seu-programa-de-pesquisa-
preferido/] .

iOutsideri
Termo geralmente usado para se referir a uma pessoa que não pertence a determinado grupo.
Em política, refere-se aquele que vem de fora do sistema. Fonte: www.dicio.com.br
[https://www.dicio.com.br/outsider/] .

Potiguar
Pessoa natural do Estado do Rio grande do Norte. Fonte: www.
[https://www.dicionariopopular.com/potiguar/]

Think-tank [https://www.dicionariopopular.com/potiguar/]
Instituição que pretende difundir ideias e pautar debates sobre temas específicos, a fim de
defender sua perspectiva sobre esses assuntos. [https://www.dicionariopopular.com/potiguar/]

[https://www.dicionariopopular.com/potiguar/]
Fonte: [https://www.dicionariopopular.com/potiguar/] www.projetodraft.com
[https://www.projetodraft.com/verbete-draft-o-que-e-think-
tank/#:~:text=O%20termo%20surgiu%20para%20designar%20grupos%20de%20especialistas%2
0em%20estrat%C3%A9gia%20e%20defesa.&text=O%20que%20realmente%20%C3%A9%3A%20Th
ink,temas%20pol%C3%ADticos%2C%20econ%C3%B4micos%20ou%20cient%C3%ADficos] .

Tratado Interamericano de Assistência Recíproca (TIAR)


Assinado pelas repúblicas americanas na Conferência do Rio de Janeiro (1947), esse tratado de
defesa hemisférica estabelecia basicamente que “um ataque armado por qualquer Estado contra
um Estado americano será considerado como um ataque contra todos os Estados americanos”.
Fonte: www.fgv.br [http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-tematico/tratado-
interamericano-de-assistencia-reciproca-tiar] .
Bibliografia
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BIELCHOWSKY, Ricardo (org) et al. Cinquenta anos de pensamento da CEPAL. Rio de Janeiro:
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desenvolvimentismo. 5. ed. Rio de Janeiro: Contraponto, 2004.

BRASIL. Decreto nº 9070, de 15 de março de 1946. Dispõe sobre a suspensão ou abandono


coletivo do trabalho e dá outras providências. Disponível em: www.planalto.gov.br
[http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del9070.htm]

BRASIL. Lei 2.004, de 3 de outubro de 1953. Dispõe sobre a Política Nacional do Petróleo e define
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