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História do Brasil – Rodrigo Goyena

Trilha 08 – A Era Vargas (1930-1945)

Rota 01 – O Processo Político Transicional (6 – 7.1 – 7.2 – 7.3 – 7.4 – 7.5 – 7.6)
 Três tipos de governo:
o 1930-1934: Governo Provisório.
o 1934-1937: Governo Constitucional.
o 1937-1945: Estado Novo.
Rota 02 – O Governo Provisório
o Dificuldade de governar:
 Pluralidade partidária.
o A Aliança Liberal era miríade de entidades políticas, aglutinadas contra
a candidatura de Júlio Prestes.
o Arthur Bernardes, Epitácio Pessoa, Venceslau Brás
(oligarquias)
 Juntos com: Luís Carlos Prestes, Juarez Távora,
Siqueira Campos e Eduardo Gomes.
o Posição dos tenentes:
 Estado forte e centralizado (temáticas de Oliveira Viana e de Alberto Torres).
 Nacionalização das minas, de petróleo, da siderurgia, do transporte, das
comunicações e da navegação de cabotagem.
 Constituição que atendesse à representação de classes (modelo de arranjo
social baseado em sindicatos socioprofissionais).
o Oligarquias:
 Manutenção do liberalismo.
 Federalismo.
 Como articular base aliada?
o Buscar alianças nos Estados do Norte e do Nordeste.
o Nomeação de interventores militares para os Estados (novembro de 1930).
o Criação da Delegacia Regional do Norte (sob a batuta de Juarez Távora).
 Juracy Magalhães, interventor na Bahia: erradicar miséria e ampliação
da rede de saúde.
 Lima Cavalcanti, no Pernambuco: expropriação de bens imobiliários
oligárquicos.
 Dá-se voz, portanto, ao Nordeste.
 Reações:
o Juarez Távora torna-se o Vice-Rei do Norte.
 Extinção da Delegacia Regional do Norte em
1931.
o Partido Democrático de São Paulo:
 Exige remoção de interventores.
 Sucesso parcial.
o Militarização das interventorias (nomeados pelo Presidente)
 Entre 1930 e 1935, 94 interventores diferentes! Marca a reação dos
Estados a Getúlio Vargas.
 Posição de Getúlio Vargas
o Centralização:
 1931: Código dos Interventores:
 Estados não podem contrair empréstimos externos sem aval
da União.
 Restrição da dotação bélica dos entes federativos: não mais do
que 10% do orçamento estadual para ser destinado às
despesas militares.
o Controle econômico:
 São Paulo perde a administração da política cafeeira:
 Criação do Conselho Nacional do Café, em 1931.
 1933: Departamento Nacional do
Café; diretores nacionais, e não
estaduais.
 1932: Instituto Nacional do Cacau e
Instituto Nacional do Açúcar e do
Álcool.
 1934: Conselho Federal do Comércio
Exterior. Política econômica
centralizada pela União.
 Estados, portanto, controlados.
 Como controlar a esfera municipal (coronelismo)?
o 1932: Código Eleitoral substitui a Comissão de
Verificação de Poderes.
o Justiça Eleitoral.
 Sufrágio direto, secreto e universal (voto
feminino com restrições).
 Eleitores: maiores de 21 anos e alfabetizados.
 As reformas conduzidas por Vargas não tinham caráter liberal, mas antes visavam
controlar as esferas de poder, de modo a estabelecer novas instituições alinhadas com
a consecução dos interesses da nova classe dirigente.
 Reformas sociais:
o Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio (Ministério da Revolução).
o Ministério da Educação e da Saúde Pública.
o 1931-1934: regulamentação de decretos relativos à proteção social do
trabalhador (urbano!).
 Qual era a lógica por trás das reformas sociais? Era essencial controlar o trabalhador
urbano para manter alijadas as chamadas ideologias exógenas – socialismo e
anarquismo – e assim levar a cabo o projeto de Estado idealizado por Vargas. É uma
lógica de controle e concessão como meio para obter o controle, ou seja, controle e
legitimidade (Ângela de Castro Gomes).
 Francisco Weffort: concessão de direitos era resposta às reivindicações de parte da
Aliança Liberal.
 Ângela de Castro Gomes: direitos são dádivas (no sentido de Marcel Mauss –
economia da dádiva (concessões) com vistas a manter a ordem social).
o Férias, jornada de 8 horas, barreiras ao trabalho feminino (gravidez) e infantil,
carteira de trabalho e direito à pensão e à aposentadoria.
 Getúlio ganha apoio das classes operárias, mas como as
manter controladas?
 Modelo de sindicato único por categoria.
 Somente sindicatos reconhecidos pelo Estado poderiam
beneficiar-se da legislação trabalhista.
o Sindicalização obrigatória (oficiosamente!).
o Juntas de Conciliação e de Julgamento:
 Delegados (os futuros “pelegos”) nomeados
pelo poder central regem conflitos entre
empregados e empregadores.
o Surge, portanto, o corporativismo sindical (Mihail
Manoilesco).
 Sindicato é público!
 É faca de dois gumes (José Murilo de Carvalho): assegura
direitos aos empregados, mas cerceia representação dos
interesses contrários ao projeto político do Estado.
 Afastadas lideranças operárias anarquistas e comunistas!
o Silêncio da legislação sindical:
 Classes autônomas, domésticos e trabalhadores rurais (maior
contingente populacional à época).
 Clube 3 de Outubro:
o Estado forte, intervenção na economia.
 Representação corporativa.
o Bastião dos debates militares.
 Eliminação do latifúndio mediante tributação ou simples confisco.
 Contra Vargas:
o PRP alia-se ao Partido Democrática de SP:
 Frente Única Paulista.
 Apoio da lavoura, do comércio e da indústria paulistas.
 Apoio de Arthur Bernardes.
 Alto oficialato:
o Não enxerga com bons olhos a aliança entre os tenentes e Getúlio Vargas
(maioria dos interventores eram tenentes).
 Vargas anistiou os tenentes insurretos da década de 1920.
 E os colocou nas altas cúpulas do poder!
 É problema para hierarquia militar!
 No decurso do Governo Provisório, Vargas prometeu Assembleia Nacional
Constituinte:
o Eleições previstas não vêm à tona!
 Estudantes vs. tenentes em São Paulo:
 MMDC (Martins, Miragaia, Dráuzio e Camargo).
Rota 03 – A Revolução Constitucionalista
 1932: São Paulo insurge-se.
o Apoio de estudantes, militares, industriais e cafeicultores.
 Maior autonomia para São Paulo.
 Exige-se a Constituição prometida.
o Apoio tímido de MG e do RS.
 Foco revolucionário não vai além de SP (fracasso plano de Isidoro Dias
Lopes).
 “Ouro para o bem de SP!”.
o Movimento sufocado em menos de 4 meses.
 Mas Vargas aceita nomear interventor de SP (Armando de Salles
Oliveira) não ligado ao tenentismo.
 Redução dos débitos dos agricultores atingidos pela crise.
Rota 04 – O Governo Constitucional
 Maio de 1933: eleições para a Constituinte
o 16 de julho de 1934: nova Constituição. Desagrada profundamente a Vargas,
porque promoveria uma dispersão do poder.
 Vargas eleito Presidente indiretamente.
 1938: Haveria eleições diretas para Presidente e para Governadores.
Vargas não poderia ser candidato.
 Características da nova carta:
o Inspiração na Constituição liberal da República de Weimar.
 Limitação à autonomia financeira dos Estados.
 Mas! Manutenção da ordem federalista.
 Executivo intervém nos assuntos econômicos e sociais.
 Mas! Necessita do aval do Legislativo.
 Representação classista.
 Novidades econômicas e sociais:
o Nacionalização das minas e das quedas d’água.
 Autonomia e pluralidade sindical.
o Regulamentação do trabalho.
 Gratuidade do ensino primário.
o Faculta-se às escolas o ensino da religião católica.
 Conselho Superior de Segurança Nacional:
 Garantir integridade do país.
 
 “uma constitucionalização apressada, fora de tempo, apresentada como panaceia de
todos os males, traduziu-se numa organização política feita ao sabor de influências
pessoais e partidarismo faccioso, divorciada das realidades existentes. Repetia os erros
da Constituição de 1891 e agravava-os com dispositivos de pura invenção jurídica,
alguns retrógrados e outros acenando a ideologias exóticas. Os acontecimentos
incumbiram-se de atestar-lhe a precoce inadaptação! [...] Serei o primeiro revisor da
Constituição”  (Discurso de Vargas proferido na Assembleia em 20 de julho de 1934).
 Contexto internacional não é o da Carta Constitucional brasileira de 1934!
o Hitler, Stalin, Mussolini, Uriburu, Cárdenas.
 Respostas internas:
 Ação Integralista Brasileira (1932), sob o comando de Plínio
Salgado.
o Deus, Pátria, Família.
o Intervenção do Estado na Economia.
o Condenação ao pluripartidarismo.
o Anticomunista, antiliberal, militarista e corporativista.
o Anaué! e o Sigma.
 Aliança Nacional Libertadora (1935):
o Inspiração no Front Populaire.
o Condenação ao Estado liberal.
o Partido único e culta à personalidade.
o Antifascismo.
o Reforma agrária.
o Prestes e Lacerda!
 ANL foi posta na ilegalidade quatro meses
após sua fundação, em 1935.
 Regime autoritário vs. Regime totalitário (Arendt)
o Ambos subordinam Judiciários e Legislativo ao Executivo.
o Ambos reprimem oposição política e ideológica.
o Autoritários: torna o povo apático e obediente.
o Totalitários: mobiliza massas, coopta e cria consentimentos.
Rota 05 – A Intentona Comunista
 Cenário político pós 1934:
o Greves e protestos (antifascistas).
o 1935: Lei de Segurança Nacional (aprova-se não a Lei, mas um substituto)
 “os crimes contra a ordem política e social, incluindo-se a greve de
funcionários públicos, a provocação de animosidades nas classes
armadas, a incitação ao ódio entre classes sociais, a propaganda
subversiva, a organização de associações ou partidos com o objetivo
de subverter a ordem pública ou social, por meios não permitidos pela
lei”  (FAUSTO 2008).
 A Intentona Comunista:
o ANL não suporta a clandestinidade.
 “Todo poder à ANL”. (Todo poder aos soviets!)
o Agosto de 1935:
 Antônio Maciel Bonfim, o Miranda, pede auxílio à URSS.
 Colocar Prestes no poder!
 Novembro de 1935:
o Estoura motim em Natal.
o Movimento alcança Recife e Rio de Janeiro.
 Prestes comanda levante na Praia Vermelha.
 Operários não aderem! Isso significou,
para a historiografia do concurso, uma
vitória do trabalhismo varguista, que
cooptou o operariado mediante a
lógica da dádiva (Ângela de Castro).
o 1936: Legislativo consente em aprovar o estado de guerra.
 Comissão Nacional de Repressão ao Comunismo.
 Tribunal de Segurança Nacional.
 Olga Benário extraditada para a Alemanha (nascida em
Munique).
o Judia e comunista, Olga faleceu no campo de
extermínio de Bernburg, em 1942.
 Havia o espectro do comunismo, mas Vargas sabia que a materialidade dessa ameaça
era remota, ou seja, havia baixíssima probabilidade de o comunismo tomar o Estado.
Mas Vargas se aproveita do espectro para acirrar seu controle político, o que
desembocará no seu plano de um Estado autoritário e centralizado.
 Com a Intentona sufocada, partidos começam a se articular para as eleições de 1938.
o SP dividido:
 PRP apoia Vargas, pela situação:
 José Américo de Almeida (candidato oficial, nordestino).
o Obtém apoio do Nordeste, Minas Gerais e dos setores
pró-Vargas de São Paulo e do Rio Grande do Sul.
o O objetivo do PRP era ser reconduzido ao poder.
 Partido Constitucionalista e Partido Democrático lançam candidatura
de Armando Salles de Oliveira.
o Havia, ainda, a candidatura de Plínio Salgado, pelos integralistas.
o Nenhum dos candidatos tem a confiança de Vargas:
 Vargas enxerga em José Américo de Almeida uma campanha
populista, apresentado como “candidato novo”, denunciando
exploração imperialista.
 Vargas intervém no Rio de Janeiro e destitui Pedro Ernesto:
 Pedro Ernesto gozava de popularidade, acusado de ligação com a
ANL.
Rota 06 – O Plano Cohen
 Cenário é semelhante ao da Espanha em 1936!
 O Plano Cohen, 1937.
o O capitão Olímpio Mourão Filho foi surpreendido, ou deixou-se surpreender,
em setembro de 1937, datilografando no Ministério da Guerra um plano de
insurreição comunista.
 O autor do plano seria um certo Cohen.
 Plano seria fantasia a ser publicada em boletim da AIB.
 30 de setembro de 1937:
o Plano é transmitido na “Hora do Brasil”.
 Efeitos do Plano Cohen:
 Congresso aprovou o estado de guerra e a suspensão das
garantias constitucionais por 90 dias.
 Daltro Filho, comandante da III Região Militar, decretou a
federalização da Brigada Militar do Rio Grande do Sul.
 Fins de outubro: o deputado Negrão de Lima percorreu os
Estados do Norte e do Nordeste, para garantir o apoio dos
governadores ao golpe.
 Armando Salles de Oliveira lançou manifesto aos chefes
militares, apelando para que impedissem o golpe:
o O gesto apressou o golpe!
 Sob alegação de distúrbios nos quartéis,
Vargas e a cúpula militar decidiram antecipar
o golpe, marcado para o 15 de novembro de
1937.
 10 de novembro de 1937: surge o
Estado Novo.
Rota 07 – O Estado Novo
 Estado Novo vs. Estado Novo Português (Salazar até Marcelo Caetano):
o Semelhanças: regimes autoritários e corporativistas.
 Regimes voltados para dentro!
o Diferenças:
 Longevidade
 1933 a 1974.
 1937 a 1945.
 O que foi o Estado Novo varguista:
o Não foi rompimento com regime entabulado em 1930, mas a consolidação
desse projeto.
o Presidente nomeia interventores.
o Congresso e Assembleias Estaduais (assim como Câmara Municipais):
fechados.
 Plebiscito nunca ocorreu (para validar carta de 1937).
o Governo por decretos.
 Direito de aposentar civis e militares.
Rota 08 – Propaganda e Repressão
 Marcas do controle social.
o Representação classista (tônica corporativista e centralizadora).
o Conselhos e órgãos técnicos.
 1939: Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP).
 Palestras de Alexandre Marcondes Filho.
o A Hora do Brasil.
 Futebol (carioca!) e carnaval (carioca!): temas nacionais.
 Queima das bandeiras estaduais em cerimônias públicas.
o Surgimento da literatura regionalista! Jorge Amado,
Graciliano Ramos e José Lins do Rego.
 1938: Departamento Administrativo do Serviço Público (DASP):
 Instituiu carreiras públicas.
o Fechamento da AIB. Incomodava porque se levantou
contra o governo quando não incluída no novo
governo instituído.
 1938: Levante Integralista.
Rota 09 – Os Focos de Resistência
Os focos de resistência
o Círculos letrados:
 Faculdade de Direito de São Paulo e Salvador.
 UNE: Segundo Congresso Nacional de Estudantes (1938).
o Repressão!
Júlio Mesquita Filho (O Estado de São Paulo) são detidos.
Rota 10 – A Invenção do Trabalhismo
 Política trabalhista teve duas vertentes (CASTRO GOMES):
o Concessão de direitos materiais aos operários.
 Federações e Confederações sindicais.
 Imposto sindical (1943).
 CLT (1943)
 Pelego: mediador.
 1939: Criação da Justiça do Trabalho em substituição às Juntas
de Conciliação e Julgamento.
o Figura carismática de Vargas (conciliação – concessão – mediação).
 Industrialização sem abalos sociais.
 

Rota 11 – A Queda do Estado Novo


 A queda do Estado Novo fornece singular prova da incidência da política interna na
condução dos negócios internos.
o A inserção internacional do Brasil na Segunda Guerra Mundial promoveu
divergências não somente entre militares, mas também entre civis.
o Em 24 de outubro de 1943, um punhado de políticos mineiros, entre os quais
se encontravam Afonso Arinos, Arthur Bernardes e Pedro Aleixo, publicou
o Manifesto dos Mineiros.
 Condenava-se:
 Eventual retorno à Primeira República.
 Os desvios autoritários assumidos pelo Estado Novo.
o Queriam democratizar o país e recolocar o Estado nos trilhos da Revolução de
1930, que teria objetivos democráticos, e não autoritários, conforme
acreditavam esses mineiros.
 Oswaldo Aranha, fiel amigo de Vargas, também optou pela abertura democrática.
o Assume vice-presidência da Sociedade dos Amigos da América, que coligava a
oposição civil e militar, mas Aranha não chegou a empossar o cargo, visto que
a associação foi fechada por ordem de Vargas em agosto de 1944.
 Poucos dias depois, Oswaldo Aranha demitiu-se da chefia do
Itamaraty.
 Pouco depois da publicação do Manifesto dos Mineiros, a UNE organizou passeatas em
São Paulo e no Rio de Janeiro com o fim de pedir a democratização do país.
o A imprensa recobrou alguma liberdade de expressão.
o Luís Carlos Prestes é anistiado.
 Em fins de 1944, a oposição liberal lançou o nome de Eduardo Gomes, antigo tenente
da Revolta dos 18 do Forte, para a sucessão presidencial.
o Em fevereiro de 1945, Vargas decretou o ato adicional à Constituição de 1937,
mediante o qual se estabeleciam eleições para Presidente da República e para
uma Assembleia Constituinte.
o O novo Código Eleitoral fixou para meados de 1946 as eleições para os
governadores estaduais.
 Lei Agamenon
 A oposição articulou-se com a fundação da União Democrática Nacional (UDN), de
forte cunho liberal e notadamente contrária ao Estado Novo.
o Inicialmente, a UDN coligava liberais, socialistas, comunistas e os herdeiros dos
partidos democráticos estaduais sob o rótulo Frente de Oposição ao Estado
Novo.
 Não tardou, contudo, em assumir exclusivamente a feição liberal em
detrimento das demais composições ideológicas.
 A UDN compunha-se da classe média urbana, dos profissionais
liberais e do setor empresarial.
 Em junho de 1945, Getúlio Vargas respondeu à constituição da UDN com a criação do
Partido Social Democrático (PSD) e, pouco depois, em setembro do mesmo ano, com
fundação do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), que contava com o apoio da
burocracia sindical.
o Havia uma estratégia política bifronte, portanto.
 Para Getúlio, interessava arregimentar, por um lado, os interventores
estaduais e os proprietários rurais sob a bandeira do PSD; por outro,
ficariam sob sua égide os trabalhadores e os empresários urbanos, que
mais se identificavam o PTB.
 Rapidamente, o UDN oficializou a candidatura de Eduardo Gomes, e o PSD retrucou
lançando o general Dutra.
 O PTB ficaria sem candidato presidencial, visto que, inicialmente, não dispunha da
representatividade política da UDN e do PSD.
o O PCB apoiou a lenta transição para a democracia que Vargas parecia
promover, o que não deixou de causar surpresa ao partido de oposição.
 Conforme assinala Boris Fausto, a aproximação de Vargas com o PCB
devia-se mais a orientações vindas de Moscou do que características
próprias ao comunismo brasileiro.
 A União Soviética recomendava aos partidos comunistas nacionais o
apoio aos governos antifascistas, fossem estes autoritários ou
democráticos.
 Não por acaso, em abril de 1945, se estabeleciam relações
diplomáticas entre o Brasil e a União Soviética.
 Em agosto de 1945, são aprovadas medidas legais para desapropriar empresas
monopolistas privadas.
o Era uma resposta ao aumento da inflação.
o As greves operárias tornaram-se mais frequentes a partir desse então.
o Aproximaram-se os comunistas dos meios operários, notadamente ligados ao
PTB, para lançar campanha alternativa a de Dutra e de Eduardo Gomes.
 Queria-se a perpetuação de Getúlio no poder.
o O “queremismo”: advogava-se a instituição de uma Assembleia Constituinte
que desse margem para eleições diretas, nas quais poderia haver recondução
de Vargas no poder.
 O “queremismo” causou rápidas reações nos setores vinculados à
UDN:
 Constituinte sem Vargas e, sobretudo, sem o ranço
corporativista que caracterizou o Estado Novo.
 Vislumbravam com desconfiança o que acontecia na
Argentina, onde o general Juan Domingo Perón articulava
sindicatos, operários e a burguesia industrial para conquistar a
presidência da República.
o O apoio inconteste das massas populares a Perón não
parecia distante do que acontecia no Brasil, pelo
menos aos olhos da oposição liberal.
o Os setores castrenses, e em especial o general Góis
Monteiro, aproveitaram-se da substituição de João
Alberto por Benjamin Vargas, irmão de Getúlio, no
comando da polícia do Distrito Federal para forçar a
queda do regime.
 A mediação de Dutra foi em vão.
 Góis Monteiro mobilizou as tropas do Distrito Federal, e
Vargas não tardou em reconhecer o inevitável.
o Havia perdido o poder.
 Retirou-se para São Borja, sua cidade natal, de onde concorreria para o Senado nas
vindouras eleições.
Rota 12 – A Política Externa na Era Vargas
 1930 marca o início de um novo paradigma na formulação da política externa
brasileira. A segurança deixa de ser o foco principal (eixo central), dando lugar ao
desenvolvimento econômico. O desenvolvimento econômico interno passa a ser o
objetivo para a formulação da política externa.
Efeitos da Crise de 1929
 Problema do café era prioritário:
o 1931: diminuição de 30% das exportações sobre a safra anterior.
 1933: criação de Departamento Nacional do Café (sucessor do
Conselho Nacional do Café):
 Programa de compra e destruição do café.
 37 milhões de sacas adquiridas pelo Governo Provisório: 24
milhões foram destruídas.
o Primeiras ações externas da Era Vargas respondiam mais à concepção Estatal-
administrativa em período emergencial do que a projeto desenvolvimentista
de longo prazo.
 Preferência por tratados que incluíssem a cláusula da nação mais favorecida (CNMF):
o Assinados 31 acordos comerciais:
 A maioria denunciados, pois países parceiros não respeitam a CNMF.
 Exportações de café para os EUA continuam a dominar a pauta comercial brasileira.
 Mas, ao mesmo tempo, aprofundamento do comércio compensado (por cotas com
estabelecimento de crédito em marcos alemães) com a Alemanha, o que tinha efeito
de tratado comercial excludente.
Rota 13 – As Relações com o Hemisfério Sul
 Aqui, a tônica ainda é securitária.
 As relações entre o Brasil e a Argentina sofreram duros revezes nos primeiros anos de
1930:
o Após o golpe de José Felix Uriburu contra Hipólito Yrigoyen, na Argentina,
travou-se uma guerra comercial entre o Rio de Janeiro e Buenos Aires.
 Aos cortes nas exportações de erva-mate Vargas respondeu trocando
o trigo argentino pelo estadunidense.
o Vazou em jornais alemães o plano chileno de invadir a Argentina com vistas a
tomar os poços de petróleo localizados ao Sul da província de Chubut, em
Comodoro Rivadavia.
 Nesse cenário, um desentendimento com o Brasil poderia pôr em risco
a segurança interna da Argentina.
 Em 1932, Agustín Pedro Justo passou a comandar a Casa Rosada  e
com ele, Carlos Saavedra Lamas foi empossado no Ministério das
Relações Exteriores.
 Lamas convenceu Justo da importância de neutralizar os riscos de
conflito na América do Sul.
 Elaboração de um tratado anti-bélico, assinado pelo Brasil em
1933.
o Estendido ao Chile, ao Uruguai e ao México.
 Reflexo do pacto Briand-Kellog (1928) na
América latina.
 Sistema regional argentino?
 A supremacia naval e ferroviária de Buenos Aires era facilmente
notada.
 Além do controle do rio da Prata, a Argentina assegurou o domínio dos
rios Paraná, Paraguai e Uruguai, visto que o Brasil não possuía bases
navais nesses rios.
 O Paraguai parecia mais vinculado a Buenos Aires, devido ao tratado
comercial de 1916.
 A Bolívia, por sua vez, tornou-se alvo do expansionismo argentino,
sobretudo no que diz respeito à questão do Chaco.
 Numerosas populações argentinas compravam e arrendavam
terras bolivianas, quando não deslocavam companhias
nacionais para a região do Chaco, como no caso das firmas
Casado & Cia, para a criação de gado, e da Sociedad Puerto
Peñasco e Industrias de Quebracho, para a exploração de
erva-mate.
 Conflito regional.
o Bolívia busca saída para o Atlântico.
 Conflito territorial entre Bolívia e o Paraguai na região do Chaco.
 Em 1931, o presidente boliviano Daniel Salamanca Urey instou
a penetração em território disputado pelo Paraguai, o que
causou o rompimento das relações diplomáticas entre La Paz e
Assunção.
 Pouco depois, em junho de 1932, estourou a Guerra do Chaco (1932-
1935).
 A Bolívia contestava a região do Chaco boreal com base na
jurisdição da Audiência de Charcas, de 1559.
 O Paraguai, por sua vez, alegava direitos fundados no  uti
possidetis  e no uti possidetis juris, este sedimentado pela
Tratado de Navegação e de Limites de 1852, no qual a
Confederação Argentina reconhecera a soberania paraguaia
sobre o caudal do rio Paraguai.
 A historiografia marxista aponta nas causas da Guerra do Chaco a presença da
companhia petrolífera Standard Oil na região, além da Royal Dutch Shell
(interpretação refutada).
o Em vista das dificuldades de ultrapassar o relevo ocidental da Bolívia, via a
cordilheira andina, a Standard Oil preferiu escoar sua produção pelo rio
Paraguai, intencionando alcançar o Atlântico.
 Para a Argentina e, em especial, para a empresa Yacimientos
Petrolíferos Fiscales, criada em 1922 por Hipólito Yrigoyen,
interessava sobremaneira deter as pretensões bolivianas em
relação à margem direita do rio Paraguai.
 Para o capital estadunidense da Standard Oil, a derrubada de
Yrigoyen em benefício de Uriburu e, mais tarde, de Pedro
Justo não poderia ser melhor, visto que se esvaziaram as
pretensões de nacionalizar a exploração de petróleo.
 Brasil e Argentina adotam posição de neutralidade na Guerra do Chaco (1932-1935).
o Saavedra Lamas presidiu a Conferência de Paz del Chaco, em muito secundada
(respaldada) pela Liga das Nações, na qual participaram o Brasil, o Chile, o
Peru, o Uruguai e os Estados Unidos.
 O armistício foi assinado poucos dias depois, o que valeu a Saavedra
Lamas o prêmio Nobel da Paz em 1936.
 Durante a Conferência, o Brasil mostrou-se reticente à
presidência de Lamas, porque parecia que a Argentina estava
moldando um sistema regional no qual teria a primazia.
o Pelo acordo de paz de 1938, o Paraguai ficou com ¾
do Chaco boreal, e a Bolívia com o resto.
 Moniz Bandeira é enfático, nesta questão, ao afirmar que os grandes vencedores da
Guerra do Chaco, na realidade, foram a Argentina e o Brasil.
o O Brasil apressou-se em ligar as ferrovias bolivianas até Corumbá em troca de
concessões no que concerne à exploração de petróleo na Bolívia.
o A Argentina logrou vincular a ferrovia de Santa Cruz de la Sierra até Yacuiba,
na divisa entre a província argentina de Salta e o departamento boliviano de
Tarija, também em troca de concessões petrolíferas. 
 No decurso da Guerra do Chaco, organizou-se a VII Conferência Pan-Americana, em
Montevidéu, onde se decidiu obrigar os Estados americanos a levar conflitos
diplomáticos à arbitragem internacional antes de qualquer declaração de guerra.
 Ao fim e ao cabo, no entanto, a Argentina saiu em melhor posição, porque sua
influência predominava no Paraguai e na Bolívia, ela era dividida com o Brasil.
Questão de Letícia
 Disputa entre Colômbia e Peru pelo território de Letícia, que desde o Tratado
Salomón-Lozano, de 1922, ficara incorporado à Colômbia.
o Garantia acesso colombiano ao Amazonas.
 Preocupação do governo brasileiro com possíveis reivindicações
colombianas de outras áreas, além da linha Apapóris-Tabatinga.
 Preocupação também em relação ao Peru: territórios já reconhecidos não poderiam
ser incluídos nos ajustes entre Peru e Colômbia.
o Ata de Washington, de 1925, equacionou a questão entre o Brasil e a
Colômbia.
o No entanto, pouco depois, estourou uma rebelião peruana em Loreto.
 Após algumas hesitações, o governo peruano endossou o pleito dos
rebeldes.
o A escalada de tensões culminou com a designação
pela Liga das Nações, em 1933, de um Comitê
Consultivo composto pelo Brasil, pela Espanha e pelos
EUA.
 O Brasil não duvidou em oferecer a livre
navegação em seus rios à Colômbia e ao Peru,
como forma de resguardar os direitos
concernentes à linha Apapóris-Tabatinga.
 Em 1934, Colômbia e Peru reconheceram a validade do Tratado Salomón-Lozano.

Rota 14 – As Relações Com o Hemisfério Norte


1. Cenário relativo à Segunda Guerra Mundial
 A ascensão de Hitler ao poder propiciou um incremento da influência alemã na
América latina.
o Em 1943, a Alemanha tornou-se o principal importador de algodão brasileiro e
o segundo comprador de café, ficando atrás apenas dos Estados Unidos.
o O posicionamento agressivo da Alemanha nas transações correntes brasileiras
tornou-se flagrante a partir de 1938.
 Conforme recorda Boris Fausto, se em 1929 a Alemanha representava
12,7% das importações brasileiras, ao passo que os Estados Unidos
respondiam por 30,1%; em 1938, o equilíbrio reverteu-se. A Alemanha
atendia por 25% das importações brasileiras, e os Estados Unidos por
24,2%.
 Pelo lado das exportações brasileiras, no mesmo ano de 1938, os
Estados Unidos representavam 34,3%, enquanto a Alemanha 19,1%.
 Criava-se um novo vínculo comercial na Europa em detrimento
dos Estados Unidos, que desde a época do Barão do Rio
Branco assumiram posição de destaque na pauta comercial
brasileira.
 Mais grave aos olhos dos Estados Unidos, os grupos
importadores brasileiros pareciam mais atraídos pelo
comércio com a Alemanha, visto que forneciam material
ferroviário e os tão necessários à industrialização bens de
capital.
 A influência comercial alemã no Brasil parecia deveras
agressiva, visto que se entabulou, desde o começo da década
de 1930, um comércio de compensações.
o As trocas faziam-se em moeda não conversível, o que
deixava a impressão de serem verdadeiros acordos
bilaterais excludentes.
o Quantos mais marcos oriundos do comércio de
compensação o Brasil tivesse, maior seria a margem
alemã de incidência nas transações correntes
brasileiras.
 Resposta dos Estados Unidos:
o Nas palavras de Gerson Moura, a política externa estadunidense para o Brasil
pautou-se pela influência e pela prudência.
 A influência, marcada pela pressão externa, concernia às casas financeiras, que
enxergavam com maus olhos a moratória brasileira de 1931 e o posterior “esquema
Aranha”.
 A prudência veio de parte de Franklin D. Roosevelt.
o Pressionar em excesso o Brasil seria empurrá-lo para o lado da Alemanha.
 O prognóstico do Presidente dos Estados Unidos não se mostrou equivocado, visto que
não havia homogeneidade na cúpula de governo do Estado Novo quanto à aliança
contra o Eixo.
o Ao passo que Oswaldo Aranha, embaixador em Washington entre 1934 e
1937, preconizava a aproximação incondicional com os Estados Unidos e as
democracias europeias, certos grupos da cúpula militar, especialmente
aqueles ligados aos generais Dutra e Góis Monteiro, tendiam a recomendar o
alinhamento com o Eixo.
 O equilíbrio pragmático da política externa de Getúlio Vargas veio em 1938.
o Na esteira das comemorações na Alemanha e na Itália do golpe de 1937,
Berlim concedeu contrato, por intermédio da empresa Krupp, de fornecimento
de material bélico para o Brasil.
o A modo de equilíbrio, Vargas nomeou Oswaldo Aranha ministro das Relações
Exteriores.
o No mesmo ano de 1938, as relações entre o Brasil e a Alemanha sofreram um
percalço que não tardou em se resolver.
  Após o levante integralista, Vargas decidiu adensar a repressão à AIB.
 Ainda nesse sentido, opôs-se veementemente à formação de
partidos de cunho nazista no Rio Grande do Sul, onde havia,
preteritamente, atracado grande parte da imigração alemã.
 Getúlio alegava haver proibição constitucional para entidades
partidárias internacionais, o que tolhia qualquer tentativa de
leniência com essas associações.
 Chegou-se a prender um agente nazista no Estado gaúcho,
onde foi acusado de promover motins fascistas.
o O embaixador da Alemanha no Rio de Janeiro, Ritter,
protestou impetuosamente, o que lhe valeu a
declaração de persona non grata.
o Retirou-se do país, portanto, mas o abalo entre o
Brasil e Alemanha não se desdobrou em um
rompimento de relações diplomáticas.
Com a deflagração da Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos adensaram sua política de
influência no Brasil e, mais amplamente, na América latina.
 Em julho de 1941, criou-se o Office of the Coordinator of Inter-American Affairs, que
tinha o objetivo, precipuamente, de estreitar vínculos culturais entre os Estados
Unidos e a América latina.
o Orson Welles foi convidado para gravar, no Ceará, filme intitulado It’s all  true,
no qual a glorificação do governo Vargas estaria retratada nos jangadeiros
saídos de Fortaleza para o Rio de Janeiro com a intenção de reivindicar a
legislação trabalhista outorgada por Getúlio.
o Não por acaso, os personagens principais do filme The Three Caballeros,  de
Norman Ferguson, traduzido em português como Você já foi à Bahia?, eram o
Pato Donald, Panchito e Zé Carioca.
 Antes mesmo da Anschluss, que dera origem à anexação da Áustria pela Alemanha e
aos primeiros passos em direção à guerra, Roosevelt vaticinara sobre os rumos
mundiais que o conflito poderia tomar.
o Ampliar a segurança dos Estados Unidos, no entender do State
Department,  dizia respeito à proteção da América do Sul e, em especial, do
Nordeste brasileiro, possível base alemã em caso de invasão ao hemisfério
ocidental.
o As Conferências Pan-Americanas, a partir de então, teriam de ser articuladas
com vistas a promover a segurança do continente americano.
 Na esteira desses acontecimentos, Getúlio Vargas adotou o que Gerson Moura
denominou política de equidistância pragmática.
o Diplomacia do interesse nacional (Maria Celina D’Araújo) ou política de
barganhas?
 Provas de simpatia com o Eixo:
 11 de junho de 1940: Discurso a bordo do encouraçado Minas
Gerais.
 Era simpatia para o Eixo ou busca de aproximação com os
Estados Unidos?
 Tema central: CSN.
 Roosevelt atende ao pedido de Vargas.
o Macedo Soares viaja aos Estados Unidos para solicitar
financiamento ao Eximbank:
 20 milhões de dólares.
o Resultado:
 1941: CSN.
 1942: Vale.
 1941: Pearl Harbour:
 Lend & Lease Acts em troca de presença de tropas americanas
no Nordeste brasileiro (últimos meses de 1941).
 Janeiro de 1942: Vargas rompe com o Eixo.
 Argentina e Chile neutros durante a III Conferência de
Chanceleres (no Rio de Janeiro).
 Agosto de 1942:
o Cinco navios mercantes brasileiros sofrem ataque de submarinos alemães.
 Declaração de guerra!
 Cessão de bases militares em Natal, Recife, Belém e Fernando de
Noronha.
 Janeiro de 1943:
 FEB.
 Julho de 1944: a cobra fumou!
o 20 mil homens embarcam rumo à Itália sob liderança
do general Mascarenhas de Morais.
 Desviar a atenção dos rumos autoritários do
Estado novo!
 Garantir presença no Conselho de Segurança
(1941: Conferência do Atlântico).
 Seria o sexto membro permanente!
 1945: Ata de Chapultepec – defesa
hemisférica recíproca em caso de
ataque estrangeiro.
 Vargas redige sua primeira carta-testamento!
 Caso pracinhas decidissem derrubar o Estado Novo!

Rota 16 – Debatendo a Historiografia


Café, Estado e industrialização.
  Complementares ou excludentes?
o Wilson Cano e Wilson Suzigan:
 Capital industrial originou-se na década de 1880, na esteira de um
rápido processo de acumulação ocorrido no setor exportador de café.
 Relação, no entanto, é contraditória, já que a indústria estava
subordinada ao café (este, a seu turno, ao capital internacional).
 Desenvolvimento do capitalismo baseado no comércio de
café.
o Estimulou o desenvolvimento industrial, mas impôs
limites que o caracterizam como tardio e específico.
 Café estimulou, ao mesmo tempo,
concentração bancária e fundiária.
 São Paulo, polo irradiador:
o Wilson Cano:
 Elemento fundamental de diferenciação entre São Paulo e as demais
regiões consistiria no fato de que apenas em São Paulo constituiu-se
plenamente o complexo cafeeiro.
 Instituindo desde cedo o trabalho livre, São Paulo teria
eliminado um freio à expansão do café.
o E, ainda, assim criou um amplo mercado para
produtos alimentícios e industriais.
 Rio de Janeiro, por outro lado, teria a escravidão como freio à
industrialização.
 São Paulo instituiu desde cedo o trabalho livre?
 A Revolução de 1930:
 Maria Antonieta Leopoldi:
 1930 marcou o primeiro milagre econômico do século.
o Como se deu?
 Recessão internacional.
 ISI (industrialização por substituição de
importações)
 Políticas públicas setoriais.
 Petróleo, siderurgia, energia elétrica.
 Apoio ao empresariado nacional ligado às
indústrias.
 Revolução surge como:
 1. Movimento militar de força que substituiu antigas
oligarquias, mas não as apagou, porque feito via oligarquias
também.
 2. Sentido de transformações estruturais (pelo alto!).
o Causas explicativas:
 A desordem: ensaio de interpretação do momento (1932), Virgínio de
Santa Rosa.
 Exército como representante das diversas camadas e regiões
do país.
 Motins militares: desordem como positiva, porque rompe com
uma ordem excludente.
o Réplica: A gênese da desordem, Alcindo Sodré.
 Desejava a manutenção da ordem, afetada pela presença militar desde
a proclamação da república, em 1930 se manifestando com conotação
socialista.
o Tréplica: O sentido do tenentismo, Virgínio Santa Rosa.
 Tenentismo como vanguardas das classes médias, no seio de um
movimento ascensional da pequena burguesia em todos os países
europeus, aliás.
 Em 1930, confrontavam-se duas correntes:
o Uma queria somente reformas políticas, e outra
queria mudanças radicais para atender aos reclamos
da pequena burguesia; seu programa seria de um
capitalismo moderado pequeno-burguês, uma
socialdemocracia.
 Essa pequena burguesia, para ele, inclui
proletariado e massas rurais, além das classes
médias urbanas.
 Portanto, visão de luta de classes nada
ortodoxa: oposição desses grupos à real
burguesia – que seria industrial e agrária.
 Recomenda implantação de uma ditadura forte e enérgica,
apta a transformar a sociedade brasileira com a decretação de
reformas profundas e radicais.
o Primeira versão de Raízes do Brasil (1936) não estaria
muito longe disso.
o Visão de Santa Rosa é evolutiva e determinista, apoiada em Alberto Torres,
Oliveira Vianna e Tristão de Athayde.
 Problema essencial: não há consciência de classe na pequena
burguesia, que inclui classes médias urbanas, massas rurais e
operariado.
 Vargas teria acolhido esses anseios, ao promover o Código
Eleitoral.
 Barbosa Lima Sobrinho, 1933, A verdade sobre a Revolução de Outubro:
o Movimento foi guerra de Estados.
 Cisão entre oligarquias estaduais originada no sentimento regionalista,
com uma feição pequeno-burguesa e grande apoio popular.
o Mas há causas profundas: contra o regime de propriedade rural (concentração
de propriedades, capital econômico e capital político, sobretudo em São
Paulo).
o Assegura o autor, no entanto, que não é total regeneração.
 Francisco Campos, Os problemas do Brasil e as grandes soluções do Novo
Regime (1938)
o 1937 é ponto de chegada da Revolução de 1930.
 O que há no meio desse período é transição inevitável e natural.
 
Ruptura e Processo
 1930 é ruptura ou continuidade?
o Continuidade.
 José Maria Bello, História da República:
 Mesmas tônicas dominaram a vida política brasileira.              
o Sociedade hierarquizada de senhores.
o Repúblicas conservadoras.
o Massas fizeram pressão de pouco peso.
 Incipiente consciência de classe do operariado
o Ruptura:
 Caio Prado Jr.
 1930 é reajustamento político ao desenvolvimento material.
 Celso Furtado:
 Oposição entre capitalismo e modelo tradicional, velho e o
moderno.
 Estado de compromisso:
o Francisco Weffort:            
 Estado de compromisso (entre grupos oligárquicos em choque, para
comportar forças políticas contraditórias)
 Nenhum dos grupos participantes pode oferecer ao Estado as
bases de sua legitimidade.
 Vargas teria estabelecido o poder do Estado como instituição,
e este começa a ser uma categoria decisiva na sociedade
brasileira (Estado como elemento moderador).
 Hegemonia vinculado ao poder econômico, portanto, só um
compromisso entre grupos resolveria a questão.
o Thomas Skidmore, De Getúlio a Castelo:
 1930 é revolução pelo alto.
 Sem reais mudanças na estrutura social.
 Endossa visão do Estado de compromisso.
o Maria do Carmo Campello de Souza, em série de artigos chamada Brasil em
perspectiva:
 Põe em xeque ideia de que 1930 foi embate entre latifúndio e
indústria.
 Revolução de 1930 seria resultado de aliança temporária entre
burguesia não vinculada ao café, classes médias e tenentismo.
o Boris Fausto (interpretação majoritária da banca) endossa visão de Weffort
sobre Estado de compromisso.
 Estado não seria voz de qualquer setor da sociedade, e o governo
assumiria o papel de árbitro das lutas políticas.
 1930 foi acomodação, com manipulação da classe operária.
o Nega a existência de classes nacionais, cujos conflitos
polares nos anos de 1920 poderiam explicar a
revolução de 1930.
 O que foi o tenentismo?
 Movimento político e ideologicamente
difuso, de características
predominantemente militares, onde
as tendências reformistas autoritárias
aparecem em embrião.
 Movimentos tenentistas iniciaram-se
independentemente dos setores civis.
 Tenentes identificaram-se como
responsáveis pela salvação nacional,
guardiões da pureza das instituições
republicanas, em nome do povo
inerme.
 Tratou-se de movimento substitutivo,
e não organizador do “povo”.
 Não era propriamente democrático;
pelo contrário, preconizava reformas
pela via autoritária.
 Tampouco era a expressão das classes
médias urbanas, malgrado a adesão
dessas classes médias ao tenentismo.
 É ruptura: conflito intra-elites (entre as elites regionais) e de
configuração regional.
 Fim da hegemonia da burguesia cafeeira e início de grandes
mudanças na ação do Estado: centralização, intervenção,
industrialização, urbanização, mudança nas relações entre
poder estatal e operariado.
o Crise de hegemonia (paulista) explica vazio de poder,
que gera Estado de compromisso.
o Para Fausto, a revolução de 30 serve ao capital
industrial, mas isso não significa que esse grupo
industrial paulista tenha estado na origem da
revolução.
o Ângela de Castro Gomes:
 “Há uma imagem da História do Brasil como a de uma série de fases descontínuas, em
que acontecimentos revolucionários assinalariam um novo tempo, que não só teriam o
efeito de amenizar as linhas de continuidade de nossa história, como principalmente
possibilitariam o obscurecimento de permanência da dominação, que o êxito das elites
políticas só viria confirmar e reforçar.” Na macroescala, portanto, as linhas de
continuidade se mantêm, porque os rearranjos não introduzem forças políticas novas,
mas geram compromissos apenas. Uma visão de base marxista.

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