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RESENHA
O
IDEÁRIO
COMUNISTA
NA
IMPRENSA
DO
ESPÍRITO
SANTO:
O
CASO
DO
JORNAL
FOLHA
CAPIXABA
Roberto
Teixeira1
RESUMO
O artigo busca, a partir de reflexões históricas conexões do jornalismo,
especialmente, o impresso, com ideário político e a propaganda ideológica
comunista no Brasil, relatar a experiência capixaba do jornal Folha Capixaba. Num
período de maior liberdade de expressão, o periódico circulou de 1945 a 1964,
sucumbindo à censura da ditadura militar. A publicação impressa acabou entrando
para a história como um veículo de comunicação voltado às demandas populares.
ABSTRACT
This article seeks, from reflections on the historical connections of journalism,
especially the print journalism with political ideology and ideological propaganda in
Brazil, to report the experience of the newspaper Folha Capixaba. In a period of
greater freedom, the newspaper circulated from 1945 to 1964, succumbing to
censorship of the military dictatorship. The print publication ended up going down in
history as a vehicle of communication geared to popular demands.
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Professor da Faculdade Estácio de Sá de Vitória. Especialista em Comunicação Social. e-mail:
teixeira.rb@gmail.com
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1 INTRODUÇÃO
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Na etapa inicial, o artigo remonta a configuração política nacional nos anos pós—
guerra, desde a chegada ao poder do general Eurico Gaspar Dutra – quando,
revestido de um aspecto democrático, tinha fortes conotações ditatoriais – até o ano
de 1964, com o golpe imposto pelos oficiais militares.
Desde aquele ano, quando foi implantada a ditadura do Estado Novo, era a primeira
vez que se discutia política no Brasil. As siglas mais fortes eram a União
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Apesar disso, o Brasil mantém os indícios de uma ditadura, quando o general Eurico
Gaspar Dutra, pilar do Estado Novo, chega ao poder em 1945, apesar de uma
fachada legal de democracia.
lei, quando lhe era conveniente. Pois, revistas dirigidas por estrangeiros, de
propriedades de estrangeiros e até impressas no estrangeiro começavam a
circular em nosso país, ferindo frontalmente o dispositivo constitucional.”
(2002, p. 398)
Posterior ao mandato do general, assume o poder Getúlio Vargas, em 1950, por vias
democráticas, adotando uma política nacionalista, por meio da campanha “Petróleo
é nosso”, que resultaria, anos mais tarde, na criação da Petrobrás.
Três anos depois, estas forças voltariam a ser reunir e aplicar o golpe militar em
1964 - quando João Goulart era o presidente da república - destruindo e aniquilando
praticamente todas as publicações de ideiais comunistas no país, como o jornal
Folha Capixaba, editado no Espírito Santo.
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1947, por meio do voto direto. Ele governou o Estado por duas vezes: de 1947 a
1950 e de 1959 a 1962. Com a posse, o chamado coronelismo e, no caso capixaba,
“monteirismo”, renascia das cinzas com toda a força.
O domínio do PSD foi destituído, neste período em duas eleições, em 1954 e 1962,
com as chamadas “oposições coligadas”, formada pelos partidos PSP, PR, PRP,
PTB, UDN e PDC. Francisco Lacerda de Aguiar, o “Chiquinho”, foi eleito nos dois
pleitos, usando como estratégia de campanha ser um “homem do povo”.
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4 A EXPERIÊNCIA CAPIXABA
O jornalista aposentado Adam Emil Czartoryski lembra que “no Estado, nós
tínhamos uma predominância muito grande de partidos e de candidatos, e havia um
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O Jornal Folha Capixaba foi um periódico de caráter popular, publicado dos anos
1945 a 1964, quando teve seu processo de edição fechado pelo regime político
imposto após o golpe da ditadura militar. O periódico serviu de instrumento para a
divulgação dos ideais do Partido Comunista Brasileiro (PCB), das forças e
movimentos de esquerda, de questionamento da ordem vigente e da visão popular
como um todo.
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A primeira fase, a partir de seu primeiro número, se deu com o PCB ainda na
legalidade, entre os anos de 1945 e 1947. A fase posterior se deu com o partido
comunista já na ilegalidade (1954 e 1958), mas com uma periodicidade diária.
E, finalmente em sua fase final, a partir do início da década de 60, até o seu
fechamento pelo regime militar em 1964. É o momento pós o 20º Congresso do
Partido Comunista realizado na União Soviética em 1959, em que os comunistas
deliberam pelo abandono da luta armada e assume a perspectiva democrática,
reformista.
O jornal Folha Capixaba era um dos principais jornais da época, concorrendo com a
Gazeta, A Tribuna e a Tribuna. Chegou a se tornar o “jornal de maior circulação do
Estado”, conforme slogan estampado durante determinado período de sua
existência em suas páginas.
Os ideais que serviram de pano de fundo para a sua concepção foi a meta
imortalizada nas páginas do Manifesto Comunista de Karl Marx e Friedrich Engels,
redigido entre novembro de 1847 e fevereiro de 1848, de formação em uma classe e
a conquista do poder político pelo proletariado, além da abolição da propriedade
privada.
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6 páginas.
“Ao saudar neste primeiro número da Folha Capixaba, o povo do Espírito Santo,
evoco a memória de Domingos José Martins, herói e mártir de 1817, padrão e guai
de Brasil democrático e progressista a que havemos de chegar. Que a Folha
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Capixaba seja digna dessa tradição e saiba defender com sinceridade e interessa os
superiores interesses do povo espíritosantense e dos Estados visinhos, é o que
almeja.” Luís Carlos Prestes (26-4-45)
Também fizeram parte colunas como “Vida Social”, com Notícias sobre casamentos,
aniversários, festas e de “Queixas e sugestões” – “Reclame, mas reclame sempre
com razão”.
Sofrendo durante anos com inúmeras dificuldades financeiras, o jornal não parecia
não exigir critérios rígidos dos anunciantes para tê-los estampados em suas
páginas, como pareceu na pesquisa realizada in loco. A maior parte dos anunciantes
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A Folha Capixaba circulou oficialmente até 1º de abril de 1964 quando sua sede foi
invadida e destruída pelos agentes da ditadura militar. Todo o registro do jornal em
papel foi perdido, uma vez que todo o acervo foi queimado ou apreendido. O pouco
que restou dos materiais e equipamentos foi vendido tempos depois como sucata.
Os responsáveis foram presos temporariamente. Clementino Damácio, por exemplo,
chegou a ser detido três vezes num mesmo dia por participar da equipe do jornal.
Depois de 15 anos em circulação, o Folha Capixaba deixa como legado um exemplo
de meio de comunicação a serviço dos ideais democráticos e participação popular.
6 CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
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