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Doutor em História das Sociedades Ibero-Americanas pela PUCRS.
Revista Latino-Americana de História
Vol. 3, nº. 10 – Agosto de 2014
© by PPGH-UNISINOS
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Doravante, como forma de dar fluência a este texto para referir a Revista Seleções do Reader’s Digest,
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usaremos, de maneira alternada, as expressões Revista Seleções, ou, tão-somente, Seleções. Quando for o
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caso citação a versão em inglês, o The Reader’s Digest se usará a expressão Digest, em ambos os casos as
expressões apareceram em itálico.
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2O campo de análise que prioriza as trocas simbólicas foi estudado por várias áreas do conhecimento.
Tais como: a Antropologia, Ciência Política, Sociologia, e outras. Além disso, tal campo de análise possui
uma ampla bibliografia, dentre as quais se destacam: BOURDIEU, Pierre (1992; 1992 a); GEERTZ,
Clifford (1989). Entretanto, segundo Thompson, inobstante a importância das inúmeras análises que
referem à cultura, nenhuma delas dedicou a devida atenção aos meios de comunicação de massa como
mediadores das trocas simbólicas (1995, p.174-180).
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Cumpre destacar que, o conceito de “midiação da cultura moderna” parte da crítica que Thompson, faz
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Para evidenciar o distanciamento espaço/temporal mencionado, convêm destacar que, entre fevereiro de
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1942 e fevereiro de 1945, os exemplares da Revista Seleções eram, totalmente, editados e impressos na
cidade de Nova York/Estados Unidos, e, posteriormente eram remetidos ao Brasil para distribuição. Tais
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informações foram obtidas, respectivamente, nas contracapas dos exemplares de fevereiro de 1942, e,
fevereiro de 1945.
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Essa variação na aplicação do conceito de ideologia pode ser observada, ainda que de forma mais
limitada, em: Chaui, Marilena de Souza. O que é Ideologia. São Paulo: Brasiliense, 1986. Para uma
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análise das possíveis dimensões psicossociais da ideologia, ver: Ramos, Gerardo Pastor. Ideologías: Su
medición psicosocial. Barcelona: Editorial Herder, 1968.
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sobre outra envolve, especialmente, a noção de que existem, sempre, “trocas” quando
se trata de culturas.
A partir de tais considerações convém ressaltar que a “americanização” da
cultura brasileira não foi imposição, mas se fez, sobretudo através do reconhecimento e
da valoração do sentido incorporado as mais variadas mensagens que foram midiadas
dos Estados Unidos para o Brasil, quer através da imprensa escrita, Seleções e outros
periódicos, ou do cinema, Hollywood. O contexto da época era favorável às idéias e
influências vindas dos Estados Unidos, país que era admirado por muitos, e visto com
reservas por outros. Como bem nos ensina Mary Anne Junqueira:
quando Seleções entrou no Brasil em 1942, havia um território fértil
para recebê-la: a inter-relação entre a sociedade e os meios de
comunicação havia construído uma atmosfera cultural, na qual
modelos culturais norte-americanos haviam penetrado no ambiente e
estavam relacionados à modernidade. (2000, p.43)
E prosseguiam destacando:
sabíamos que só à base de baixo preço Seleções poderia atingir grande
expansão. Dois fatos possibilitaram a publicação da revista em
português nessa base, tornando-a acessível a qualquer: (1) o trabalho e
o custo da seleção de materiais correm por conta da revista mãe
[Digest, americano]; (2) a edição em português, ao invés do
Reader’sDigest, aceita um número limitado de anúncios.Assim, todos
os arranjos relativos a papel e impressão da edição em português
foram feitos tendo-se em vista as possibilidades de uma grande
circulação. 8
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A História do Reader’sDigest e Seleções. In: Revista Seleções do Reader’s Digest, junho de 1942, p.21.
É preciso registrar que, ao longo deste trabalho, para se manter uma maior fidelidade a fonte de pesquisa
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Esse número refere somente ao ano de 1942, pois, a partir de 1944, a Revista era remetida para 21
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estados brasileiros
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Conforme consta nas contra-capas dos exemplares de Fevereiro de 1942, e, Março de 1945 – 1950.
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A referida agência do governo norte-americana é citação obrigatória nos trabalhos que tomam as
relações entre os Estados Unidos e a América Latina no decurso da II.a Guerra. Para a „história oficial‟
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daquele órgão ver: Rowland, Donald W. History of the Office of the Coordinator of Inter-American
Affairs – Historical Report on War Administration. Washington, D.C.: U.S. Government Printing Office,
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1947, exemplar mimeo. Se deve registrar que, ao longo deste trabalho alternaremos a utilização da sigla
OCIAA com a palavra Office, grifada em itálico para referir a supracitada agência. Outros trabalhos que
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E prosseguem:
consideram estudos em relação ao OCIAA são: Moura, Gérson (1991); Totta, Antonio Pedro (2000);
Mesquita, Silvana Queiroz Nery (2002).
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A extensão do sistema organizacional do OCIAA era complexa e uma análise pormenorizada não
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caberia em nossa discussão e também não é o nosso objetivo. Para maiores informações sobre o Office
ver, especialmente: Rowland, DonaldW(1947).
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contrário, pensamos que nosso trabalho pode, sim, servir para exemplificar de que
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Considerações Finais
massa não midiaram para o Brasil, e para América Latina, imagens e percepções acerca
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dos Estados Unidos que não tivessem sentido ou desprovidas de, isso porque, conforme
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buscamos salientar, o ambiente cultural era propício para tanto. Entretanto, vale ser
repetitivo, e re-afirmar que o que se costuma chamar de “americanização” da cultura
brasileira não foi um processo que se encerrou, pelo contrário, é um fenômeno que se
mantém porque é parte de um processo constante de trocas culturais e simbólicas onde
os meios de comunicação de massa possuem papel significativo.
Por último, mas não sem menos importância, é necessário destacar que a
Revista Seleções, ainda que não tenha sido o único meio de comunicação que esteve
envolvido no processo que vimos referindo até aqui, foi, sim, responsável pela midiação
de uma vasta gama de mensagens que visavam cooptar tanto em termos políticos quanto
culturais e ideológicos a sociedade brasileira do início dos anos de 1940. A
“americanização” do Brasil não foi imitação, mas sim re-criação de sentidos a partir de
críticas em relação àquilo que se midiava na época, os leitores não eram, nem nuca
serão, uma massa de incapazes que somente aceitam o que lhes sugere os meios de
comunicação, tal qual inexiste um caráter malévolo nas atitudes da imprensa. È
necessário, assim, aceitar, em nosso entendimento, que os meios de comunicação de
massa são características de nossas sociedades modernas e que por tanto se constituem
em partícipes no processo de constituição dos imaginários sociais, e o seu estudo a
partir da adoção de um referencial teórico-metodológico, como vimos, pode ser
revelador do imaginário social de sociedades de épocas passadas e, especialmente,
como forma de compreensão do nosso presente.
Referências.
AGUILAR, Alonso. Pan-Americanismo. From Monroe to the Present: a view from the
other side by Alonso Aguilar. New YorK: MONTLY REVIEW PRESS, 1968.
BACZO, Bronislaw. Imaginação Social. IN: Enciclopédia Einaudi. Lisboa: Imprensa
Nacional – Casa da Moeda, 1985.
BOURDIEU, Pierre. A economia das trocas simbólicas. São Paulo: Perspectiva, 1992.
_________________ O poder simbólico. Lisboa: DIFEL, 1992 [a].
BRANCATO, Sandra Lubisco. A política de Boa Vizinhança em tempo de guerra: a
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