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Uma das participações mais expressivas do movimento estudantil brasileiro

ocorreu durante o período da Ditadura Militar brasileira.

No período em que eclodiram os atos pela realização de eleições diretas, o


Brasil era governado pela ditadura militar. O golpe militar iniciado com o golpe de
1964 vetou a participação dos eleitores para a escolha do presidente e
governadores dos estados. A sede da UNE foi invadida e incendiada. Essa ação foi
considerada uma clara demonstração do incômodo que os militares tinham em
relação à mesma.

A abertura política foi iniciada, no governo Ernesto Geisel (1974-1979), de


forma “lenta, gradual e segura”, ou seja, controlada e negociada. Aos poucos, os
dispositivos autoritários da ditadura foram extintos, como o Ato Institucional nº 5, em
1978. João Figueiredo foi eleito presidente da república e deu continuidade ao
processo de abertura política aprovando medidas importantes para tal fim, como a
Lei da Anistia, a Lei Orgânica dos Partidos, e realizaram-se eleições diretas para
os governos dos Estados e para o Congresso Nacional

Somente em 1982, foram retomadas as eleições diretas para governador.


Nesse período da história, o Brasil contava com quatro partidos políticos na
oposição.

Os governadores eleitos em 1982 eram integrantes do partido, como


Tancredo Neves, eleito governador de Minas Gerais, Franco Montoro, eleito em
São Paulo, e Iris Rezende, eleito governador de Goiás. Ao mesmo tempo que a
abertura política avançava, a linha dura militar insistia nas suas ações violentas e
fazia atos terroristas, como aconteceu no atentado à bomba no Rio Centro, em
1981.

A vitória da oposição nas eleições estaduais de 1982 motivou o


lançamento de projetos. No entanto, as eleições para presidente da República
continuaram indiretas, pois o Congresso não aprovou a Emenda Constitucional
com a diferença de 22 votos, elaborada pelo deputado Dante de Oliveira, que previa
esse caráter para o pleito, em março de 1983. Desse modo, a eleição presidencial
permaneceu indireta, e foram indicados por esse processo Tancredo Neves, para
presidente, e José Sarney, para vice-presidente.

Em 1983, a inflação chegava a 211%, a dívida externa comprometia boa


parte das riquezas do País e a crise do petróleo afastava investidores. Em meio aos
debates para a sucessão, o general João Figueiredo se afastou do processo de
escolha em janeiro de 1984. A saída ocorreu dias depois de um comício promovido
pelo PT em Olinda e outro em Curitiba.
O movimento “Diretas Já” que começou em março de 1983 foi a tradução
da insatisfação do povo brasileiro com a perseguição política e a ineficiência
econômica do governo militar.

“Diretas Já” tomou maior dimensão no ano de 1984, com apoio das
mídias de massa. Por causa da urgência da realização das eleições diretas, foram
realizados comícios pela campanha das “Diretas Já” nas principais cidades do país.
Os comícios tinham ampla participação popular e cobertura da mídia. Uma
característica predominante dos comícios era a utilização de símbolos nacionais
como as cores da bandeira, a própria bandeira, o hino, dentre outros
elementos de cunho patriótico. Apesar da empolgação quanto à possibilidade de
se escolher no novo chefe do Poder Executivo pelo voto direto, havia o temor de
que militares da linha dura agissem de forma truculenta contra as manifestações
das Diretas. Pois durante este período, centenas de pessoas foram presas,
torturadas e executadas. A censura crescia exponencialmente. Os estudantes que
passaram a se manifestar com frequência contra o regime, foram duramente
reprimidos.

Esse movimento trouxe de volta a participação de políticos que estavam no


exílio ou que lutaram contra a ditadura por aqui. Os artistas também voltaram a se
manifestar politicamente sem temor de censura. Questões como o voto direto e a
redemocratização trouxeram de volta o debate político para o público em geral.
Além disso, jogou luz sobre a realidade brasileira ao denunciar os desmandos do
governo militar e a grave crise econômica que o país vivia. Boa parte do apoio
recebido da população ao movimento das Diretas foi pelo inconformismo com a
situação econômica brasileira, que levava desemprego, fome e miséria para os
mais pobres.

A sessão foi de intenso movimento e tensão. Ainda assim, a Câmara dos


Deputados não aprovou a emenda e as eleições daquele ano não contaram com a
participação do povo.

Com a rejeição da “Emenda Dante de Oliveira”, a sucessão do governo


Figueiredo foi realizada pelo voto indireto. Tancredo Neves, pela oposição, e Paulo
Maluf disputaram as eleições no Colégio Eleitoral. Tancredo foi um dos principais
líderes das Diretas e saiu do governo de Minas Gerais para se candidatar à
Presidência. Ele conseguiu unir em torno da sua candidatura um arco bem amplo de
alianças, que possibilitou a sua vitória nas eleições indiretas de 15 de janeiro de
1985, tornando-se o primeiro civil eleito após o golpe de 1964 marcando o fim da
ditadura militar. Tancredo não chega a assumir, morrendo antes da posse. Em seu
lugar, governa José Sarney. Mesmo não alcançado seu objetivo principal, o
movimento Diretas Já teve colaboração importante no fim da ditadura e na formação
da Nova República.
Ao fim do governo Sarney, ocorreram eleições presidenciais em 1989. O
pleito é marcado pela vitória de Fernando Collor de Mello. O governo de Collor é
marcado por uma série de denúncias de corrupção. Mais uma vez, atos públicos
ganharam as ruas em um movimento que ficou conhecido como caras pintadas
que representou um movimento estudantil brasileiro ocorrido em 1992.

Em 1989, os brasileiros puderam eleger o seu representante no cargo


executivo mais alto de um país após 29 anos sem eleição direta. Mais de 20
candidatos concorreram ao cargo e do primeiro turno saíram vitoriosos dois nomes:
Fernando Collor de Mello e Luis Inácio Lula da Silva. Enquanto Lula se apresentava
como candidato dos trabalhadores e excluídos do Brasil, Collor apresentava-se
como o condutor do país para a “modernidade” e líder contra o fim da corrupção e
pobreza, apresentando-se como “caçador de marajás” e “protetor dos
descamisados”. Collor sagrou-se campeão no segundo turno com 42,75% dos
votos contra 31,07% de Lula.

No decorrer do governo Collor, o então presidente adotou várias medidas de


caráter anti-inflacionário, a exemplo de: aumento de tarifas públicas, criação de
mais de um Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), mudança de moeda,
redução de incentivos, entre outros. Todas essas medidas ficaram conhecidas como
“Plano Collor”.

Entre as medidas do plano econômico estavam: substituição da moeda


“cruzado novo” pelo “cruzeiro”, congelamento de preços e salários, demissão de
funcionários públicos, liberação da taxa do dólar, extinção de institutos
governamentais e aumento de preços de serviços públicos.

Uma das medidas que mais gerou revolta na população foi o congelamento
das contas bancárias com mais de 50 mil cruzados novos por 18 meses,
bloqueando o dinheiro de pessoas e empresas. Esse ato ficou conhecido como
confisco da poupança, mesmo sem ter características reais de um confisco, pois o
dinheiro seria teoricamente devolvido.

O Plano Collor fracassou e a economia entrou em colapso. As medidas


geraram desemprego, quedas nas vendas, falências e demissões. Para piorar e
deixar a população ainda mais revoltada, surgiram escândalos de corrupção
envolvendo o presidente.

Essa atitude gerou muita repercussão e deixou a população bastante


incomodada, sendo o estopim para o movimento dos caras pintadas.

A recessão na economia gerou uma insatisfação popular que foi


potencializada a partir de uma série de escândalos de corrupção envolvendo o
governo Collor, como o “esquema Collor-PC”, revelado a partir de entrevista
concedida à imprensa pelo irmão do presidente, Pedro Collor. Foram apontadas
irregularidades financeiras, tráfico de influências, existência de contas
bancárias fantasma, ou seja: uma vasta rede de corrupção que era comandada
pelo ex-tesoureiro da campanha presidencial Paulo César Farias. Ele seria
responsável por receber altas somas de dinheiros de grandes empresários para
liberar verbas para o governo e para o pagamento de despesas pessoais do então
presidente.

Em 14 de agosto de 1992, com o crescimento contínuo da pressão popular


e, em especial, da parcela jovem da população, Mauro Benevides convocou as
lideranças do movimento do impeachment, incluindo o presidente da UNE, para
discutir o apoio às decisões da CPI do caso PC.

Nesse mesmo dia, ciente da gravidade das acusações, Collor fez no dia 13
de agosto um discurso de improviso onde pediu que o povo saísse às ruas vestindo
as cores da bandeira nacional em forma de manifestar apoio e ser contrário ao
impeachment.

Ao invés do verde e amarelo sugerido pelo presidente, alguns jornais


circularam com uma tarja preta simbolizando o luto e a indignação que sentiam
pela corrupção no governo na primeira página e milhares de pessoas foram para as
ruas demonstrar insatisfação com o presidente “Collorido”. Em várias partes do país,
surgiram manifestações populares exigindo a saída do presidente.

A ampla participação dos jovens no processo de impeachment de Collor foi


caracterizada por espontaneidade, pluralidade de pensamentos políticos e
irreverência da juventude. O tom de deboche e bom humor das manifestações podia
ser visto nos slogans usados na campanha e amplamente divulgados pela
imprensa: referências a personagens de desenhos animados, ao lado de emblemas
da ex-União Soviética, slogans críticos e irreverentes, versões de canções
populares e gritos de guerra de torcidas esportivas: “Rosane que coisa feia. Vai com
Collor pra cadeia.” “Fora Collor já.” “PC, PC vai pra cadeia e leva o Collor com
você”. “Ai, ai, ai, empurra ele que ele cai.” “É Fernandinho/vê se te orienta/já sabem
do teu furo/no imposto de renda” (alteração do refrão da música Al Capone, de Raul
Seixas).

Em 29 de dezembro de 1992, Fernando Collor renunciou ao cargo de


presidente da República para conseguir conservar os seus direitos políticos.
Mesmo com a renúncia, o Congresso Nacional deu continuidade ao julgamento sem
provocar alarde para evitar um desgaste maior, já que havia uma mobilização
consistente da sociedade.

Com isso, depois de atingir o objetivo, o movimento dos caras pintadas foi
extinto, já que eles queriam e lutaram apenas pela queda do presidente.
CURIOSIDADE:

Em Recife, cem mil pessoas foram para as ruas, fazendo uma


manifestação que, segundo declarações da polícia, foi maior do que as
organizadas pelo movimento das Diretas Já.

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