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CONSTITUIÇÃO, CIDADANIA E LIBERDADE:


UMA ANÁLISE DA CONSTITUINTE E DA CONSTITUIÇÃO.
Caio Viccenzo Malheiros Silva1*
INTRODUÇÃO
Findo o período ditatorial, ocorrido entre 1964 e 1985, a população ainda carecia de
uma participação democrática no que t6ange à produção dos mecanismos legais. Desde a
constituição rechaçada, pelo partido português e por D Pedro I, em 1823; passando pela
imposta em 1824(esta sendo a primeira de “facto”), passando pelas constituições
republicanas(1891, 1834, 1837,1846 e 1967), todas elas foram impostas como que de cima
para baixo, todas eram fruto de uma dada concepção de Brasil pensada por uma elite de
bacharéis, militares, latifundiários entre outros setores da elite brasileira.
Com a iniciativa de feitura da constituição, a participação popular veio a reboque,
como uma novidade na história do país: as emendas populares, as quais partiam de setores da
sociedade civil e vinham a ser legitimadas através das assinaturas dos populares 2. O fato de
qualquer cidadão ser capaz de sugerir, de participar e de intervir, podendo até tomar a palavra
para defender a emenda proposta, no futuro de uma Carta Constitucional é algo novo, quando
comparado com o espírito das constituições anteriormente mencionadas. 3 Se algo lhe justifica
a alcunha de “Cidadã”, ademais de ter si a consolidação do Estado de Bem-Estar Social 4, é a
intensa participação popular, através das associações de moradores, dos movimentos sociais e
até de indivíduos comuns, que assim estavam a exercitar sua cidadania.5
Mas como nem sempre se pode falar das flores, vale a pena ressaltar um ponto
relevante: uma constituição densa e abrangente; que centraliza o poder no executivo; restrita
no campo econômico (o que foi resolvido em emendas constitucionais feitas posteriormente);;
eivada de dispositivos que mantém um Estado pesado e burocrático6. Peguemos, por exemplo,
a constituição americana. Possuindo artigos sete artigos e 24 emendas,7 esta constituição passa

1
Caio Viccenzo Malheiros Silva é pós-graduando em História do Brasil Contemporâneo.
2
CARVALHO, Aldair. Processo constituinte, Reforma Urbana e Soberania Popular. In:BRASIL. Câmara dos
Deputados. Constituição 20 anos: Estado, democracia e participação popular – caderno de textos. Brasília:
Edições Câmara, 2009. p. 22
3
RATTES, Anna Maria. Um olhar de 20 anos. In: BRASIL. Câmara dos Deputados. Constituição 20 anos: Estado,
democracia e participação popular – caderno de textos. Brasília: Edições Câmara, 2009.. p 27
4
Ibidem.
5
SILVA, Benedita da. Constituição 20 anos: Estado, Democracia e Participação Popular. In:BRASIL. Câmara
dos Deputados. Constituição 20 anos: Estado, democracia e participação popular – caderno de textos. Brasília: Edições
Câmara, 2009.
6
RATTES, Anna Maria. Op. Cit. p. 25; 29
7
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Constitui%C3%A7%C3%A3o_dos_Estados_Unidos
2

longe dos 250 artigos8 e 105 emendas da nossa constituição. O poder permanece com o
executivo ocasionando o que alguns chamam de Federalismo Invertido, os tributos
centralizam-se nos cofres da União e esta distribui aos estado e municípios como lhe convém,
ocasionando estados e municípios, em grande parte, perfeitamente dependentes.9

UMA BREVÍSSIMA RETROSPECTIVA

Se dissermos que a constituição é fruto, também, da abertura às iniciativas populares,


da sociedade civil é imperativo mencionar o motivo de termos uma busca tão grande pela
participação popular neste período.

Observando o período anterior, fica evidente a causa de tal “obsessão”: os 21 anos de


regime de exceção, presidido por militares e representado, legislativamente, por uma oposição
impotente e por deputados biônicos, causaram uma “ressaca democrática” que impeliu o
povo, principalmente a classe média, para as ruas. Quando estabelecido o regime, seus
intentos incluíam, além de se livrar de João Goulart; combater a corrupção; retomar o
crescimento econômico; conter a infração e livrar-se do comunismo. A princípio, dada a
catástrofe do populismo, foi-se composto uma equipe econômica com Otávio Bulhões no
Ministério da fazenda e roberto Campos no Ministério do Planejamento10. Em conjunto, estes
liberais fizeram modificações significativas na estrutura econômica brasileira de modo a
reduzir a infração e gerar um ambiente propício para investimentos estrangeiros, os gastos
públicos foram contidos e aplicada uma política de austeridade 11
. Um dos meios que a
Ditadura tinha para se legitimar, era um bom desempenho econômico, desempenho este que
não combinava com austeridade fiscal.

Assim, o General costa e Silva buscou um nome que pudesse iniciar um ciclo de
desenvolvimento para o país, para tal, o nome buscado que aplicou tal política de crescimento,
foi o professor da cadeira de economia da USP, de nome Delfim Netto 12. A partir daí inicia-se
um ciclo de crescimento que começa em 1967 e se alonga até 1973, e esse mesmo
crescimento econômico possibilitava o governo ter a classe média ao seu lado, pois a
8
RATTES, Anna Maria. Op. Cit. p. 28
9
Idem. P29
10
HERMANN, Jenifer. Reformas, Endividamento Externo eu ”Milagre” Econômico.(19656-1973). In:
GIMBIAGI, Fábio, Et al. Economia Brasileira Contemporânea: 1945-2010. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011. p
50
11
Ver .HERMANN, Jenifer.. Op. Cit. p. 51-52
12
Idem. p. 64
3

possibilidade de consumo era uma realidade e isso garantia uma certa legitimidade e apoio
popular ao regime.13

Vindo o choque do petróleo, as contas públicas entraram em colapso, pois muito do


que se consumia de petróleo e seus derivados, eram importados A crise internacional, derivada
do choque de petróleo ocasionou uma retirada de dólares do mercado, escasseando a moeda e
acarretando em aumento dos juros. A política de crescimento deficitário, fruto do período
Delfim Netto legou suas marcas no que se refere ao crescimento da divida externa 14. De modo
que no fim do regime militar, o milagre econômico se tornara em ação demoníaca e a festa do
consumo da classe média se tornou em velório dos endividados.

Macilento, o período 1979-1985 foi a descida do regime dos generais à cova. Não
havia meio, seja político, seja econômico. Nem o Segundo PND, do segundo Delfinato, logou
estabilizar a economia, somente abriu um rombo maior nas contas públicas.15

Posto à missão, o Gal. João Figueiredo assumia acabar com o regime de exceção,
entregando o poder aos civis. As pressões políticas e econômicas impeliam a população a
reivindicar a sua volta ao cenário político, nesta baila, surgem os movimentos por direito ao
sufrágio tomam corpo, especialmente no final do ano de 1983, sob o título de “DIREJAS-
JÁ”16.

Uma imensa mobilização social, generalizada sobre o território brasileiro, que teve
apoio de uma Frente Ampla de partidos oposicionista e contou com a participação de celebres
políticos, de artistas vários, a classe média conscientizada e até com as classes mais baixas 17,
de modo que até políticos da base do governo, o PDS. O mastodonte plebeu tomava as ruas e
mostrava sua força, evidenciada nas manifestações feitas no Rio de Janeiro e em São Paulo. A
passeata do Rio de Janeiro, realizada no dia 10 de Abril, se concentrou no centro do Rio de
Janeiro, juntando um milhão de pessoas, valendo a pena ressaltar o papel que o transporte
gratuito, liberado pelo governador Lionel Brizola, desempenhou na viabilidade dessa

13
Ibidem
14
Kinzo, Maria Dalva G. A democratização brasileira. Um balanço do processo político desde a transição. São
Paulo em Perspectiva, vol. 15, nº4. 2001. p. 5
15
Idem. p. 6
16
Ibidem
17
EUGÊNIO, Marcos Francisco Napolitano. “Representações políticas no movimento Diretas-Já”. Revista
Brasileira de História: Representações, São Paulo: ANPUH/contexto, vol. 15, n.º 29, pp. 207-219, 1995. P.
209
4

manifestação, principalmente no que tange ao tamanho 18. Em São Paulo, as massas partindo
da Praça da Liberdade, do parque Dom Pedro, da Praça da República, do Largo da Moema e
da Rua Maria Antônia, concentraram-se na Praça da Sé e depois rumaram para o Vale do
Anhangabaú. Nestas manifestações enumeram-se mais um milhão de pessoas19.

Recuperando-se, o governo buscou retomar a capacidade de negociação. João


Figueiredo então apressou-se em assinar um decreto para salvaguardar dez cidade da Região
Centro-Oeste fora o Distrito Federal, essas medidas incluíam: proibição de videotape, sem
exame da Polícia Federal; transmissão de estações de rádio, sem uma prévia aprovação do
órgão competente do Ministério das Comunicações; além de proibir a entrada de caravanas
que pudessem ter fins políticos na área do Planalto Central. Não afeito a tal exercício, João
Figueiredo engajou-se em um corpo-a-corpo com os deputados, tanto os da situação, quanto
os da oposição, com visos de aprovar uma emenda chamada João/Leitão, a qual previa
eleições diretas para 1988, eleições para prefeito das capitais junto com a dos governadores,
reestabelecimento da inviolabilidade do mandato parlamentar e a limitação do decreto-lei,
proibindo a matéria tributária, que passaria a ser atribuição exclusiva do legislativo 20. Assim o
povo prosseguiria sem participar ativamente do destino da nação, o Estado lhe prosseguiria
alheio até 1988, quando ocorreriam eleições(como teria sido acordado), a não ser que algo lhe
acontecesse. Este algo aconteceu e esse materializou como tinta em papel impresso. Esta era a
Constituição Federal de 1988.

A NOVA CONSTITUIÇÃO: A CIDADÃ!

Com a redemocratização, inicia-se uma nova realidade política no país, os 21 anos de


ditadura ficaram para trás e havia em amplos setores da sociedade vontade de afastar,
expurgar e impossibilitar uma nova quebra institucional. A Constituição de 1967, como aquela
que consolidou todos os Atos Institucionais, era o simbolo de um Estado autoritário,
antidemocrático, que poderia disponibilizar contra os seus cidadãos toda sorte de agruras em
nome da Segurança nacional.
Ainda na década de setenta, ou melhor, no seu início, o MBD (posteriormente PMDB),
partido onde se condensou a oposição ao regime militar, lança a bandeira de uma Assembleia

18
RODRIGUES, Alberto Tosi. Diretas já: o grito preso na garganta. São Paulo: Ed. Fundação Perseu Abramo.
p. 75-76
19
Idem. p. 80-81
20
Idem. P. 84-84, 88-89.
5

Constituinte, tal manifestação se deu formalmente na dita “Carta de Recife”. Tal período foi
o auge da Ditadura Militar, tornando, assim, a proposta impensável 21. Sete anos depois, com o
advento do Governo Geisel, o assunto volta à baila e o partido aprova a convocação de um
Assembleia Constituinte com unanimidade. Ainda no mesmo ano, houve uma manifestação da
CNBB e da OAB22. Um ato público no Rio de Janeiro, convoca a população a requerer a
Constituinte “Livre e Soberana”, não obstante, somente 200(duzentas) pessoas se fazem
presente na manifestação, Não há qualquer mudança no ritmo dos transeuntes no Centro do
Rio de Janeiro23. Como manifesto Maior, em 1980, na conferência nacional da OAB, aprovou-
se a Declaração de Manaus24, qual clamava por uma mudança no poder constituinte do Estado
para o povo, o “seu único titular legítimo” 25. Não obstante a infeliz morte de tancredo neves,
José Sarney, seu vice-presidente, envia ao Congresso Nacional a proposta de Emenda à
Constituição Nº 43, que se reuniria em Fevereiro de 1987 dotada de poderes constituintes,
sendo composta, majoritariamente por parlamentares eleitos em 198626.
De início, havia uma controvérsia a respeito dos membros que comporiam a
Constituinte. Os setores progressistas da sociedade rechaçavam uma constituinte que
acumulasse os trabalhos de Assembleia Nacional Constituinte e Assembleia Nacional,
ademais disso, a presença de “senadores biônicos”, remanescentes da parcela de senadores
indicados por Ernesto Geisel, causavam uma celeuma entre esses setores 27. À época, o
executivo havia instituído uma Comissão de Estudos Constitucionais, seu presidente era
Afonso Arinos e organizou uma comissão de 50(cinquenta) notáveis, estes se localizando em
diferentes espectros ideológicos. Tal comissão elaborou, então, um anteprojeto contendo 430
artigos e outras 32 disposições transitórias com alto teor democrático e uma estrutura de
governo Parlamentarista28.
Tal disposição parlamentarista implicou em uma denegação por parte do presidente
José Sarney, redundando em que os trabalhos da Constituinte não contariam com texto base
21
SARMENTO, Daniel. 21 anos da Constituição de 1988: a Assembleia Constituinte de 1987/1988 e a
experiência constitucional brasileira sob a Carta de 1988. Direito Público. Porto Alegre, ano 7, n.30, p.07-41,
Nov. / dez. 2009. p. 9
22
Idem. p.9
23
BARROSO, Luís Roberto. Dez anos da Constituição de 1988. Revista de Direito Administrativo, Rio de
Janeiro, v. 214, p. 1-25, out. 1998. ISSN 2238-5177. Disponível em:
<http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/rda/article/view/47263/45375>. Acesso em: 09 Jun. 2019.
doi:http://dx.doi.org/10.12660/rda.v214.1998.47263, p 1
24
SARMENTO, Daniel. Op. Cit. p. 9
25
26
SARMENTO, Daniel. Op. Cit. p. 9
27
Idem. p.10
28
Ibidem
6

para ajudá-los, o que desfavorecia o trabalho da Assembleia. Por outro lado, o projeto
arquivado no Ministério da Justiça foi amplamente divulgado e influenciou a elaboração da
constituição de 88.29
Constituída em 559 membros, 482 Deputados Federais e 2 Senadores. A constituinte
consolidou o PMDB como o partido que lideraria a construção da nova ordem democrática,
dado que dos 559 membros da constituinte, 306 eram membros do PMDB 30. Seguindo tal
liderança, o multifacetado PMDB elegeu um homem historicamente ligado á esquerda para
conduzir a constituinte, este homem era o deputado Ulysses Guimarães 31. Articulando a
ocupação das comissões e subcomissões, outra figura ligada à esquerda histórica, Mario
Covas, distribui a presidência das comissões e subcomissões de acordo com suas inclinações
ideológicas, não obstante, o Partido da Frente Liberal se disponibilizou em ficar com as
relatorias32. Para efeito de registro, achamos que vale a pena nomear as comissões temáticas
as quais foram: Comissão de Soberania e dos Direitos e Garantias do Homem e da Mulher,
tendo por subcomissões: Subcomissão da Nacionalidade, da Soberania e das Relações
Internacionais, Subcomissão dos Direitos e Garantias Individuais e Subcomissão dos Direitos
Políticos, dos Direitos Coletivos e Garantias; Comissão da Organização do Estado, tendo por
subcomissões: Subcomissão da União, do Distrito Federal e Territórios, Subcomissão dos
estados e Subcomissão dos Municípios e regiões; Comissão da Organização dos Poderes e
Sistema de Governo, tendo por subcomissões: Subcomissão do Poder Legislativo,
Subcomissão do poder Executivo e Subcomissão do Poder Judiciário, e a do Ministério
Público; Comissão da Organização Eleitoral, partidária e garantia das Instituições, tendo por
subcomissões: Subcomissão do Sistema Eleitoral e Partidos Políticos, Subcomissão da Defesa
do Estado, da Sociedade e de Sua Segurança e a Subcomissão de Garantias da Instituição,
Reforma e Emenda; Comissão do Sistema Tributário, Orçamento e Finanças, tendo por
subcomissões: Subcomissão de Títulos, Participação e Distribuição de Receitas, Subcomissão
de Orçamento e Fiscalização Financeira e Subcomissão do Sistema Financeiro, Comissão da
Ordem Econômica, tendo por subcomissões: Subcomissão Princípios Gerais, Intervenção do
Estado, Regime de Propriedade do Subsolo e Atividade Econômica, Subcomissão da Questão
Urbana e Transporte e Subcomissão da Política Agrícola, Fundiária e Reforma Agrária;
Comissão da Ordem Social, tendo por subcomissões: Subcomissão dos Direitos dos
29
Ibidem.
30
Idem. P. 12
31
Idem. p. 16
32
Idem. P, 20
7

Trabalhadores e Servidores Públicos, Subcomissão de Saúde, Seguridade Social e do Meio


Ambiente e a Subcomissão dos Negros, Populações Indígenas, Pessoas Deficientes e Minorias
e, por fim, Comissão da Família, da Educação, Cultura e Esportes da Ciência da Tecnologia e
da Informação, tendo por subcomissões: Subcomissão de Educação, Cultura e Esportes,
Subcomissão da Ciência, Tecnologia e Informação e Subcomissão da Família, do Menor e do
Idoso.33
A princípio, a multiplicidade de comissões e subcomissões geram uma automática
repulsa aos espíritos amantes do liberalismo e desconfiadas da capacidade de administração
do Estado. O liberal que observa a reunião de burocratas legiferantes, logo saca do bolso um
discurso em prol da não-interferência estatal e teme viver com a Constituição como ameaça.
Contudo, como nos diz os princípios da ciência histórica, as ações dos homens são
condicionadas pelo contexto histórico em que vivem, o qual é construído pelas condições
materiais de existência.
Tando Luís Roberto Barroso, quanto Daniel Sarmento, enxergam nas Constituições
Portuguesa e Espanhola uma inspiração aos constituintes brasileiros34. A doutrina
constitucional era o constitucionalismo português, o qual ensejava um Carta “Analítica”,
típica de países que buscaram superar uma experiência autoritária recente 35. “Dirigente”, a
Carta busca incluir grandes linhas programáticas: metas, objetivos, programas e tarefas serem
percorridas; a constituição “dirigente” impulsiona os poderes a exercer suas funções,
notadamente no domínio da saúde, educação cultura e justiça social36, tudo isso com a ânsia
de modificar o Status Quo37. A necessidade objetiva de se positivar essa enormidade de
dispositivo legais, seria devido a uma predisposição por parte do governo brasileiro de não
cumprir a própria lei, o detalhamento dos objetivos a serem atingidos na constituição
impossibilitaria a reinterpretação de tais dispositivos38.
Ainda, na forma prolixa e por vezes desarrumada da constituição no seu início nos
seus dispositivos iniciais, trazem uma série de direitos fundamentais que seriam a garantia do
cidadão com relação à proteção contra abusos tanto estatais, quanto privados39.

33
Idem. p.18-19
34
BARROSO, Luís Roberto. Op. Cit. p. 6; SARMENTO, Daniel. Op. Cit. p. 28
35
BARROSO, Luís Roberto. Op. Cit. p. 6
36
BARROSO, Luís Roberto. Op. Cit. p. 7
37
SARMENTO, Daniel. Op. Cit. p. 29
38
BARROSO, Luís Roberto. Op. Cit. p. 22
39
Idem. p. 8
8

Da feitura da Carta, como ditas na introdução, evidencia-se uma ampla participação


popular e Barroso afirma que seu caráter democrático é inegável 40. Regimentalmente, os
constituintes eram obrigados a realizar de 5 a 8 audiências públicas, nestas audiências
públicas as mais variadas representações da sociedade civil foram ouvidas: lideranças
sindicais, intelectuais, associação de moradores, entidades feministas, representantes do
movimento negro, Ong’s ambientalistas, indigenistas, indígenas e até entidades que defensora
dos direitos dos homossexuais41. A possibilidade dos populares enviarem emendas se
materializou na feitura de 122 emendas populares, que movimentaram 12.277.323; dessas
todas 83 foram aceitas(mais ou menos ¾)42.
Observando, ao menos os indícios até aqui apresentados, a constituição brasileira pode
ser considerada uma constituição Poliáquica, Na própria feitura da constituição, admitiu-se o
pluralismo de ideias e o acessoa aos recursos de poder 43. Assim, a constituição logoru das
oportunidade para cidadãos dos mais variados espectros sociais participantes, dando-lhes
“oportunidade plena de:”

1. De formular suas preferências


2. De expressar suas preferências a seus concidadãos e ao governo através da
ação individuais e da coletiva
3.De ter suas preferências igualmente consideradas sem discriminação
decorrente do conteúdo dou da fonte da preferência. 44

Assim, não é estranho que Luís Roberto Barroso afirma que o texto é comparativamente, sem
domínio ideológico absoluto. O texto tenta contemplar em si equilibrar os interesses do
Capital aos interesses dos trabalhadores. No mesmo texto, contempla-se interesses de
categorias econômicas, de trabalhadores, de corporações e até contemplam ambições pessoais
45
. Na mesma linha, Daniel Sarmento afirma que a mesma constituição que valoriza a livre
iniciativa, o direito à propriedade e à livre concorrência, preocupa-se com a justiça social, a
valorização do trabalho e a dignidade humana. O modelo de capitalismo é o modelo que

40
Idem. p.8
41
SARMENTO, Daniel. Op. Cit. p. 29
42
Idem. p.22
43
LIMONGI, Fernando. Introdução In: DAHL, Robert. Poliarquia. Participação e oposição. São Paulo:
Edusp, 1997. p. 19
44
DAHL, Robert. Poliarquia. Participação e oposição. São Paulo: Edusp, 1997.. 22
45
BARROSO, Luís Roberto. Op. Cit. p. 6
9

protege a a propriedade e a livre Iniciativa, porém é o que promove a igualdade material e


justiça social e prevê a responsabilidade social da iniciativa privada46.

Findo os trabalhos das comissões e aprovado o texto em dois turnos, a constituição


seria votada em 22 de setembro de 1988. Os acordos e as negociações de Ulysses Guimarães
ocasionaram a aprovação da constituição por uma margem ampla , 474 votos a favor contra
15 e 6 abstenções47.

DOS PROBLEMAS E DOS VÍCIOS

Em um artigo sobre a referida constituição, Fernando Limongi observa que, não


obstante a preferência do parlamentarismo, a Constituição de1988 possuía um executivo
muito mais forte que sua constituição democrática anterior, a de 1946 48. Dos autores
consultados todos observam que o executivo da Constituição de 1988 sai fortalecido,
seguindo a tradição centrípeta brasileira, concentrando o executivo as competências
normativas49. O executivo mantém sua capacidade legislativa, ainda que por medidas
provisórias.

Sem dúvidas as articulações lideradas pelo presidente José Sarney conseguiram


derrotar os assanhamentos parlamentaristas e, acordando com Ulisses Guimarães, conseguiu
aprovar uma emenda que lhe dava um mandato de cinco(5) anos50.

Por outro lado, o executivo acaba sendo limitado porque é impossível governar sem
uma maioria parlamentar, ocasionando que quando o presidente não tem apoio parlamentar,
gera-se uma uma grande crise política.51 O executivo ainda controla a agenda parlamentar,
principalmente através das medidas provisórias52.

Na área da economia, Barroso observa que a constituição é nacionalista e estatizante


em diversos de seus pontos, de forma a restringir a entrada de capitais estrangeiros em
domínios como a mineração, telecomunicações, petróleo e gás. Nestas disposições, o autor
46
SARMENTO, Daniel. Op. Cit. p. 34
47
Idem. p. 27
48
Ver: LIMONGI, Fernando. (2008). O Poder Executivo na Constituição de 1988. Disponível
em:https://www.academia.edu/14157387/O_Poder_Executivo_na_constitui%C3%A7%C3%A3o_de_1988.
Sâo Paulo, 2008. p.
49
SARMENTO, Daniel. Op. Cit. p. 32
50
LIMONGI, Fernando. Op. Cit. p.19
51
SARMENTO, Daniel. Op. Cit. p. 33
52
Idem
10

enxerga indícios de uma geração comprometida com ideais socialistas, de modo, que estes
não souberam reconhecer a sua derrota53. Já em 1999, o atual ministro do STF enxerga na
previdência social uma “estrutura inviável e incapaz de conter a sangriade recursos imposta
pelas fraudes de pela corrupção.54

Ademais desses problemas, a atuação dos Lobbies por ocasião da constituinte deixou
uma marca profunda no texto da Carta Magna 55. Os parlamentares que representavam os
grupos de interesse não se contentavam com mero reconhecimento principiológico, eivando a
constituição de normas de diversas de duvidosa estrutura constitucional, de modo que
magistrados; membros do Ministério Publico; advogados públicos e privados; policiais
federais, rodoviários, civis e militares; corpo de bombeiros; cartórios de notas e registros
inseriram no texto constitucional de regras específicas do seu interesse56.

No texto também vê-se marcado o vício patrimonialista, onde a administração da coisa


pública se faz em “obediência a propósitos privados e estamentais”. Assim, a constituição
provê inúmeras garantias aos grupos de interesse e de poder. E segundo barroso, esse é um
outro motivo para a constituição ter sido inflada57. Antiteticamente, a constituição comporta
em si uma antídoto às tentativas de um uso indevido da máquina pública, servindo-se de
dezenas de dispositivos que buscam impedir o uso da máquina do estado para proveito
pessoal, entre os dispositivos podemos citar a exigência de concursos públicos para
provimento de cargos, a licitação para contratação pela administração e o estabelecimento de
tetos salariais e outras regras remuneratórias58.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após o período de exceção, a Constituição de 1988 veio a consolidar a mudança do


país no caminho da Democracia. O executivo apesar de continuar forte, o executivo teve seus
poderes divididos com o legislativo e se desvinculou do judiciário. A Carta traria agora as
garantias sociais que os cidadãos ansiavam, o impeachment de Fernando Collor foi a prova de
fogo da nova constituição, todo o processo foi feito dentro da legalidade democrática, de

53
BARROSO, Luís Roberto. Op. Cit. p. 7
54
Idem. p.8
55
SARMENTO, Daniel. Op. Cit. p. 29
56
BARROSO, Luís Roberto. Op. Cit. p. 7
57
Idem 22-23
58
Ibidem.
11

modo que o país que sempre se viu assombrado por tentativas golpistas noas momentos de
crise, viu-se estável59.

Como Assinalado em todos o texto, a constituição transmite no seu corpo o espírito da


época no qual foi escrito, seu caráter estatizante e nacionalista se fazem presentes, de modo
que somente, nas reformas iniciadas timidamente por Collor de Mello e ampliadas por
Fernando Henrique Cardoso, houve uma modernização econômica e, diga-se de passagem,
graças a elas. Tendo-se em mente que após dez(10) anos de escrita a Carta Constitucional, já
foi necessária uma Reforma da Previdência60.

O cartorialismo, o patrimonialismo, o intervencionismo do Estado na economia, não


obstante tais reformas, ainda fazer seu peso na vida econômica do país ocasionando um
entrave à geração de empreendimentos novos e favorecendo as grandes corporações, as quais
têm condições de pagar os encargos trabalhistas. Para o pequeno empreendedor, gerar
empregos é uma impossibilidade.

Na carta, vê-se a tentativa de contemplar uma grande massa social que abrange dos
deficientes ás grávidas. Toda a carta se pões como um meio de lograr uma sociedade maus
junta; não se vê na Carta omissão de menções à política que garanta o bem-estar social.
Direitos como Saúde, Educação, Transporte, Segurança, Acessibilidade estão garantidos
constitucionalmente. Importa saber que a implementação dessas políticas é obrigatória por
parte do Estado, gerando o que se chama de verba carimbada, não se pode cortar, mudar de
prioridade, são Despesas obrigatórias.

Bem, esta é nossa Constituição, nossa garantia institucional contra o Estado e suas
possíveis ingerência, ao mesmo tempo, constituição essa que direciona o Estado como que
para fora de si, quando impões um uso necessário para o que se é arrecadado. Este estado, que
se move para fora de si, deve garantir ao cidadão condições mínimas de existência, seja seus
próprios recurso, seja delegando às pessoas física e jurídicas, não obstante, provendo estes
mesmos corpos de meios para fazê-lo, A Constituição Cidadã não só concedeu cidadania,
como gerou uma nova forma de ser cidadão implicando em uma modificação na forma como
a exercemos e como a desejamos, mas estas consequências requerem uma maior pesquisa
sociológio lógica.

59
Idem. p. 10
60
SARMENTO, Daniel. Op. Cit. p. 39
12

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.

BARROSO, Luís Roberto. Dez anos da Constituição de 1988. Revista de Direito


Administrativo, Rio de Janeiro, v. 214, p. 1-25, out. 1998. ISSN 2238-5177. Disponível em:
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