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Teoria crítica da sociedade:

Justiça, reconhecimento e identidade


Axel Honneth: teoria crítica do reconhecimento

• Conceito de reconhecimento intersubjetivo: (categoria essa presente


na filosofia do jovem Hegel) - processo de formação da identidade
pessoal e da construção da justiça na sociedade.
• Filosofia social moderna (Hobbes e Maquiavel): ideia de vida social
- caracterizada por um processo de luta por autoconservação.
• Honneth: o conflito como base da formação intersubjetiva dos
próprios sujeitos.
• Conflito: luta moral pelo reconhecimento intersubjetivo [da
identidade].
Teoria do reconhecimento:
amor, direito e comunidade de valores ou solidariedade.

• ESFERAS DO RECONHECIMENTO
• 1ª Esfera: Amor: na relação amorosa – pessoas como seres
mutuamente carentes; experiência da dedicação amorosa: dois seres se
sabem dependentes do outro para satisfazerem as suas carências;
Honneth/Winnicott: noção de dependência absoluta: mãe e criança:
relação de completa simbiose.
• Processo de “des-adaptação graduada” – tensão entre autoabandono
simbiótico e autoafirmação individual: dependência relativa
(Winnicott) – relação satisfatória consigo mesma; autoconfiança;
participação autônoma na vida pública.
• 2ª Esfera: Direito: compreensão como portadores de direito –
perspectiva do ‘outro generalizado’ – reconhecimento dos outros como
portadores de direitos;
• Reconhecimento jurídico: ser humano como um ‘fim em si’, sem
distinção; direito igual de participação no processo de formação da
vontade política; proteção jurídica: invasão da esfera da liberdade e
garantia de um mínimo de bens materiais: autorrespeito.
• 3ª Esfera: Estima social: valores partilhados
intersubjetivamente; pressuposição de um contexto de
vida social: comunidade de valores - orientação por
concepções de objetivos comuns – “solidariedade”:
espécie de relação interativa – interesse recíproco
pelos seus distintos modos de vida; modernidade:
relações sociais de estima simétricas.
Formas de desrespeito social:
violação, privação de direitos e degradação
• Conceitos negativos: injustiças - atrapalham os sujeitos em sua
liberdade de ação ou lhes causam danos; se referem a um “aspecto de
um comportamento lesivo”: ferem as pessoas numa compreensão
positiva de si mesmas.
Primeira forma de desrespeito: violação da integridade corporal.

• Violação da integridade corporal – forma de rebaixamento pessoal:


ferem as possibilidades da livre disposição sobre o seu corpo;
representa um grau de humilhação: interfere negativamente no tipo de
autorrelação prática de um ser humano consigo mesmo e com os
outros.
• Principal característica da lesão física (tortura ou violação):
“sentimento de estar sujeito à vontade de um outro, sem proteção,
chegando à perda do senso de realidade”- perda de confiança em si e
no mundo.
Segunda forma de negação do reconhecimento: rebaixamento moral

• Forma de rebaixamento que afeta o autorrespeito moral dos sujeitos:


desrespeito pessoal de sujeitos excluídos da posse de determinados direitos
sociais – sujeitos que não gozam de “imputabilidade moral”; limitação
violenta da autonomia pessoal; sentimento de não possuir o mesmo status de
um parceiro de interação com igual valor;
• Indivíduos em situação de exclusão social: negação de “pretensões jurídicas”
socialmente vigentes: (a) lesão na expectativa intersubjetiva de ser
reconhecido como sujeito capaz de formar juízo de valor”; (b) “uma perda de
autorrespeito, ou seja, uma perda da capacidade de se referir a si mesmo como
parceiro em pé de igualdade na interação com todos os próximos”.
Terceira forma de negação do reconhecimento:
“ofensa” ou “degradação”

• Degradação de valores, formas de vida ou modos de


crença: “tira dos sujeitos atingidos toda a
possibilidade de atribuir um valor social às suas
próprias capacidades”; perda de autoestima pessoal;
não consegue mais ver-se a si mesmo como um ser
estimado pelas propriedades e capacidades que lhes
são características.
Nancy Fraser: dilemas da era pós-socialista

• Demandas por reconhecimento: dado relativamente recente no âmbito


de nossas sociedades contemporâneas; de um processo de evolução da
sociedade capitalista - “Era pós-socialista”.
• “Era pós-socialista”: nova configuração da ordem mundial globalizada
e multicultural; transformação das lutas sociais travadas no próprio
seio das democracias liberais: lutas sociais: redistribuição econômica;
reconhecimento intersubjetivo/identitário/cultural.
• Categoria do reconhecimento: dilemas por redistribuição: crescimento
estratosférico das desigualdades sociais na maioria dos países do
mundo.
• Desconexão entre a dimensão econômica e a dimensão cultural –
demandas por reconhecimento de identidades culturais – não-
tematização das desigualdades econômicas - ordem social globalizada
marcada por injustiças econômicas.
• Fraser: falsa separação entre a dimensão econômica e a cultural:
necessidade de se conceitualizar reconhecimento cultural e igualdade
social.
• Papel da filosofia política e da teoria social contemporânea:
investigar os modos pelos quais as desvantagens econômicas e o
desrespeito cultural estão entrelaçados e apoiados um no outro.
• Demandas por redistribuição e reconhecimento: categorias de raça e
de gênero.
• Reivindicações por redistribuição: injustiças socioeconômicas
encontram-se enraizadas na própria estrutura político-econômica de
nossas sociedades. Ex: exploração do trabalho; marginalização
econômica (limitado a trabalho indesejável ou de baixa
remuneração); privação (ter negado um padrão material de
vida adequado) etc.
• Lutas por reconhecimento: superação das injustiças
culturais: busca de soluções/remédios – superação de
padrões sociais de comportamento e de interpretação
preconceituosos;
• EX: não-reconhecimento de práticas representacionais,
comunicativas e interpretativas de uma cultura; o
desrespeito por meio de estereótipos de representações
públicas nas práticas cotidianas; a criação de mitos de
igualdade de participação e expressão etc.
Remédios
• Injustiça econômica: mudança na estrutura político-econômica:
redistribuição de renda, reorganização do trabalho, na sujeição de
investimentos à tomada de decisões democráticas etc.
• Injustiça cultural: profunda mudança cultural: reavaliação positiva de
identidades discriminadas e estereotipadas; revalorização de produtos
culturais de grupos marginalizados; valorização da diversidade
cultural; desconstrução e transformação dos padrões societais de
representação, interpretação e comunicação (possibilidade de
autointerpretação para os membros da comunidade política).
• Questões de gênero e raça: necessidade de afirmação do princípio da
igualdade e do princípio da diferença.
• Injustiças de gênero: movimento feminista – desconstrução das
injustiças econômicas: denúncia de que o gênero estrutura a divisão
fundamental entre (a) trabalho produtivo e assalariado e (b) trabalho
reprodutivo, doméstico e não-assalariado, típico de mulher; gênero:
estrutura a divisão de trabalho entre ocupações profissionais e bem
pagas (dominadas por homens) e o trabalho doméstico e mal pago
(dominado por mulheres) - a transformação da economia-política
deveria eliminar a exploração, a marginalização e a privação específica
do gênero,
• Injustiça de gênero: diferenciação baseada em padrões culturais:
especificidade em ser mulher: não deve ser subsumida a um padrão
cultural que privilegia as práticas, as formas de comunicação e
interpretação masculinas;
• Formas de combater a injustiça cultural: desconstrução do
androcentrismo (dos padrões culturais que privilegiam as
características da masculinidade); sexismo cultural (desvalorização e
a depreciação de coisas vistas como "femininas", concebidas como
emotivas e irracionais);
• Solução: afirmação das diferenças de gênero e na valorização das
práticas ligadas ao feminino.
• Movimento negro: luta contra a divisão do trabalho assalariado;
entre ocupações mal pagas, domésticas e corporais ocupadas pelas
pessoas de cor; e as ocupações técnicas, administrativas e bem
pagas, na maioria das vezes ocupadas pelas pessoas brancas; deve
lutar contra o eurocentrismo e enfatizar a especificidade e a
originalidade da cultura negra;
• Superação dos dilemas entre redistribuição e reconhecimento:
medidas afirmativas ou transformativas; medidas afirmativas:
correção de resultados indesejados sem uma transformação profunda
na estrutura que os forma; medidas transformativas: correção dos
resultados indesejados pela reestruturação da estrutura que
os produz.
• Remédios afirmativos e transformativos: saídas para os problemas
do gênero: dimensões econômica e cultural estão intrinsecamente
ligadas e acabam por se reforçar mutuamente: desvantagens sexistas
e androcêntricas estão institucionalizadas na economia;
desvantagens econômicas impedem a participação igual na esfera da
cultura, tanto no cotidiano como nas esferas públicas de deliberação
e de tomada de decisão.
• Categoria do reconhecimento: melhor explicado dentro do escopo de
um padrão universal de justiça, aceito por todos, a partir do
pressuposto do igual valor do ser humano - não-reconhecimento:
análise de práticas discriminatórias institucionalizadas.
• Padrão de justiça: participação paritária (ou paridade de
participação) na vida cotidiana e na esfera pública: todos possuem
direitos iguais a ter estima social como uma condição de
oportunidades iguais.

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