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5. Discurso de ódio
a. Discurso de ódio
i. Amplo: Tribunal Europeu dos Direitos Humanos: qualquer tipo de comunicação oral,
escrita ou comportamental, que ataque ou use linguagem pejorativa ou discriminatória
com referência a uma pessoa ou grupo com base na pessoa que são, isto é, com base
em sua religião, etnia, nacionalidade, raça, cor, descendência, gênero ou outra
identidade.
ii. Restrito: decisão-quadro 2008/913/JAI do conselho de 28 de novembro de 2008
relativa à luta por via do direito penal contra certas formas e manifestações de racismo
e xenofobia. Ódio deverá ser entendido como referindo-se ao ódio baseado na raça,
cor da pele, religião, ascendência ou origem nacional ou étnica. Toda a conduta que
incite publicamente à violência ou ao ódio dirigido contra um grupo de pessoas ou um
membro de tal grupo definido por referência à raça, cor, religião, descendência ou
origem nacional ou étnica.
b. Meros conflitos interpessoais vs. Discurso de ódio –
i. Tese Professor Tariq Modood: Um insulto homofóbico, racista, machista ou
xenófobo é sempre considerado discurso de ódio, já que Porque se eu tiver a discutir
com uma pessoa gorda e disser “cala-te, gorda”, essa pessoa vai sentir-se ofendida,
mas essa ofensa não a vai fazer sentir excluída da sociedade onde se insere por essa
característica. Assim, os factores históricos e as correntes de ódio ainda existentes
sobre certos grupos de pessoas fazem com que elas ainda se encontrem em perigo.
Assim, aquela pessoa vive em constante perigo de exclusão social e, por isso, vai ser
sempre discurso de ódio. Nunca pode ser colocado no mesmo plano insultar alguém
por ter óculos, por ser gordo, por ser alto com insultar alguém por causas da raça,
etnia, religião...
ii. Tese Inês Ferreira Leite: A professora apresenta um pré critério, assim, quando
esteja em causa características protegidas, isto é, género, orientação sexual, raça ou
etnia, em princípio estaremos perante um problema de ódio. No entanto, há outros
aspetos a ter em conta, já que nem todos os insultos podem ser tidos como crime de
ódio apenas por serem dirigidas a pessoas com certas características protegidas. Até
porque o ser humano tem a tendência de utilizar essas características quando se vê
num conflito interpessoal. Deste modo, a professora utiliza algumas perguntas para
entender se estamos perante um discurso de ódio ou um mero conflito interpessoal.
Em primeiro lugar, o conflito começou por razões alheias à qualidade dos
intervenientes? Em segundo lugar, o conflito está relacionado com uma questão alheia
a características étnicas culturais, de género, entre outras? Em terceiro lugar, o
conflito manteve-se centrado na questão que o formou, tendo as características
protegidas surgido no conflito apenas de modo secundário? E, por fim, nota-se desde
o início do conflito que existe uma desproporcional violência contra a pessoas
protegida?
c. Discurso de ódio vs. Critica razoável
i. Tese Professor Tariq Modood: O professor Tariq Modood formulou alguns critérios.
Em primeiro lugar, a critica em causa vai assentar numa estereotiparão de grupo ou
na assunção rígida que todas as pessoas daquele grupo merecem a mesma? Em
segundo lugar, a crítica tem o objetivo de iniciar um diálogo com o grupo de pessoas
ou é apenas um monólogo critico, sem qualquer tipo de abertura para o dialogo? Em
terceiro lugar, existe espaço para que o grupo alvo responda criticamente e,
consequentemente, começar uma discussão saudável? Em quarto lugar, o tipo de
linguagem utilizada está dentro dos limites de um discurso razoável? Em quinto
lugar, estamos perante uma critica sincera e construtiva ou é apenas para denegrir o
grupo?,
6. Liberdade religiosa
a. Liberdade da religião - Liberdade de não ter religião, de não ser afetada por qualquer
religião, de não ser perseguido por se ser ateu, ...
7. Populismo
a. Populismo – é um conjunto de práticas políticas que se justificam num apelo ao "povo",
geralmente contrapondo este grupo a uma "elite".
O termo “populismo” começou a ser utilizado no séc. XIX por pequenos agricultores
norte americanos com muitas hipotecas bancárias.
Já a partir dos anos 60 e 70, começou a ser associado ao conservadorismo religioso e dos
costumes, sendo contra o direito ao aborto e aos direitos LGBTQ+. Nos anos 90 e
primeira parte do séc. XXI, a nova onde de corrupção volta a reerguer o populismo, que
passa a comparar o exercício de cargos políticos com a corrupção, criando movimentos
de hipercriminalização de condutas associadas à corrupção e tráfico de influências.
Com a crise migratória na década de 10 para a década de 20, começou-se a associar a
movimentos xenófobos, racistas e nacionalistas.
b. Pânico moral - Caracteriza-se pela exageração de um problema real, a partir do qual se
identifica um inimigo comum de uma sociedade, ocorrendo a radicalização do discurso e
pode conduzir à adoção de medidas securitárias fortemente restritivas de direitos
fundamentais. Ex: Casa Pia e pedofilia / Sócrates e corrupção / ataque à Alcochete
c. Populismo penal - movimento social e político, suportado por uma falsa perceção de
insegurança e de mau funcionamento da justiça, alimentada pela cobertura mediática
excessiva e inadequada do crime. Há uma narrativa assente na opinião do povo, do
cidadão, das pessoas, do homem comum, por oposição ao discurso do sistema que é
visto como sendo dominado por elites. Apresenta as seguintes características: passa-se
de um discurso racional assente na ciência, na estatística, em factos, para um discurso de
emocional; aproveitam-se os momentos de crise para dividir dois tipos de pessoas: o nós
(homens brancos de classe média/média baixa) e o eles (criminosos, reclusos,
minorias...); Utiliza-se o medo como instrumento de controlo através de uma
sobresrepresentação mediática do crime, nomeadamente de crimes excecionais, para
assim haver uma falsa perceção de que o crime aumentou; A vítima é utilizada como
uma figura simbólica, tentando demonstrar que os direitos dos criminosos se sobrepõem
aos da vítima; Aceitação da percepção de segurança jurídica como um bem jurídico; O
crime passa a ser entretenimento; aumento de penas;
d. Conceptualização da vítima - a vítima do populismo penal não é a vítima do crime,
mas representa uma parte maioritária da sociedade que se sente deixada para trás, que é
seduzida pela abordagem securitária do "tough on crime", embora seja tendencialmente
contra a tutela penal das minorias
e. Though on crime - aumento das penas dos crimes tradicionais
f. Perceção de segurança jurídica - não basta que se estejam a tomar as medidas
necessárias e razoavelmente possíveis para garantir a segurança jurídica, passa a ser
exigido do Estado que tome medidas tendentes a reduzir o risco de insegurança -
potencial - a 0 valores.
g. Democracia formal - exercício fútil do voto (ausência de alternativa ou mera
alternância entre escolhas semelhantes); falta de informação (controlo estatal da
informação); faIta de consciência histórica (ausência de memória histórica ou de debate
sobre o contexto histórico).
h. Justiça de tabloide: o interesse dos média por julgamentos advém mais de interesses
comerciais do que educacionais. Ora, primeiramente, deixa-se de lado o papel
educacional dos média, para que o papel de entretenimento surja. Em segundo lugar, a
quantidade de trabalho e recursos investido na cobertura de um determinado caso. E, por
fim, existe um publico desejoso por ver os procedimentos, para supostamente entender o
sistema e conseguir comentar.
Voyeurismo penal e as redes sociais: A insistência dos media - mas, principalmente, a
forma medieval como é feita a abordagem mediática do crime, os termos utilizados, a
demonização, os comentadores do crime a pedirem sangue e a apontarem o dedo - cria
uma perceção social distorcida da realidade e do fenómeno criminal.
8. Critical Legal studies
a. Critical legal studies: Os estudos críticos do Direito procuram mostrar que não é
exequível que os conflitos existentes entre os interesses individuais e os interesses
sociais sejam regulados através de normas neutras e objetivas. Isto apenas resultaria num
reforço do desequilíbrio dos poderes que já existe na sociedade e na manutenção de um
status quo de profunda desigualdade (na distribuição de recursos e rendimentos). Eles
apelam à fundamental contradiction e à relevância cultural que as perceções sociais têm
sobre a juridicidade, isto é, a legal conscientiousness. Os juizes devem sempre recorrer à
equidade e ao sentido de justiça-
b. Legal liberism: falsa conceção neutra da lei fora de um contexto de luta política,
associado à negação de uma função da lei de intervenção na sociedade ou como
instrumento de manutenção/correção de injustiças sociais. Existe a separação da lei de
qualquer outro controlo social, a norma regula-se a si própria e ao resto, a norma é neutra
e objetiva e deve haver uma previsibilidade e uniformidade da maneira como se aplica a
norma.
c. Legal conscientiousness
i. Restrita: o termo aplica-se ao conjunto de ideias, pressupostos, premissas, pré-juízos
(narrativa inconsciente) que são - inconscientemente - partilhados pelos atores
judiciais (juizes, advogados) e que constituem uma espécie de experiência
inconsciente comum dos membros desta profissão/categoria. Estas ideias são
geralmente inconscientes, embora possam ter um papel forte na rejeição ou aceitação
imediatas (incontestadas - sem questionamento crítico) de determinadas proposições
ii. Ampla: aplica-se à narrativa inconsciente sobre o Estado, Direito, e as instituições
sociais reguladas pelo direito que é partilhada pela generalidade da população. Esta
narrativa não é construída pela população, espontaneamente, ela é criada pelas elites
que dominam as profissões jurídicas e o Estado, mas acaba por ser aceite
(inconscientemente e, tantas vezes, sem reservas), pela restante população.
d. Fundamental contradictions: rejeitam, por um lado, a ideia que a lei possa assentar
numa linha harmoniosa de interesses e, por outro lado, o sentido primário das
contradições mais nucleares, tais como, “público e privado” ou “eu e ele”. Existe uma
incapacidade do modelo legalista liberar de resolver estas contradições.
e. a rejeição, por parte dos estudos críticos, da ideia de que a lei poderia assentar numa
composição harmoniosa de interesses (consciências da profundas e talvez irresolúveis
contradições de interesses na sociedade), e, ainda, o sentido primário das contradições
mais nucleares