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Psicologia, preconceito e relações

raciais

Prof. Me. José Fernando Andrade Costa


• Para compreender o que é o Preconceito, convém entender primeiro o
conceito de Atitude baseado nos estudos da Psicologia Social.

• ATITUDE é um sistema relativamente estável de organização de experiências e


comportamentos relacionados com um objeto ou evento particular.

• Para cada atitude há um conceito racional e cognitivo – crenças e ideias,


valores afetivos associados de sentimentos e emoções que, por sua vez,
levam a uma série de tendências comportamentais: predisposições.
Atitude é composta por três componentes: um
cognitivo, um afetivo e comportamental
• A cognição – o termo atitude é sempre empregado com referência a um
objeto. Toma-se uma atitude em relação a que? Este objeto pode ser
uma abstração, uma pessoa, um grupo ou uma instituição social.

• O afeto – é um valor que pode gerar sentimentos positivos, que, por sua
vez, gera uma atitude positiva; ou gerar sentimentos negativos que pode
gerar atitudes negativas.

• O comportamento  – a predisposição: sentimentos positivos levam à


aproximação; e negativos, ao esquivamento ou escape
Preconceito

• Dessa forma, entende-se o PRECONCEITO como uma atitude negativa


que um indivíduo está predisposto a sentir, pensar, e conduzir-se em
relação a determinado grupo de uma forma negativa previsível.
CARACTERÍSTICAS DO PRECONCEITO

• É um fenômeno histórico e difuso;


• A sua intensidade leva a uma justificativa e legitimização de seus atos;
• Há grande sentimento de impotência ao se tentar mudar alguém com forte
preconceito.
• Vemos nos outros e raramente em nós mesmos. Por exemplo:
• EU SOU EXCÊNTRICO, VOCÊ É LOUCO!
• Eu sou brilhante; você é tagarela; ele é bêbado.
• Eu sou bonito; você tem boas feições; ela não tem boa aparência.
• Assim como as atitudes em geral, o preconceito tem três componentes:
crenças; sentimentos e tendências comportamentais. Crenças preconceituosas
são sempre estereótipos negativos.
• Segundo Allport (1954) o preconceito é o resultado das frustrações das
pessoas, que, em determinadas circunstâncias, podem se transformar
em raiva e hostilidade. As pessoas que se sentem exploradas e
oprimidas frequentemente não podem manifestar sua raiva contra um
alvo identificável ou adequado; assim, deslocam sua hostilidade para
aqueles que estão ainda mais “baixo” na escala social.

• O resultado é o preconceito e a discriminação.


• Já para Adorno (1950), a fonte do preconceito é uma personalidade
autoritária ou intolerante. Pessoas autoritárias tendem a ser rigidamente
convencionais.

• Partidárias do seguimento às normas e do respeito à tradição, elas são hostis


com aqueles que desafiam as regras sociais.
• Respeitam a autoridade e submetem-se a ela, bem como se
preocupam com o poder da resistência. Ao olhar para o mundo
através de uma lente de categorias rígidas, elas não acreditam na
diversidade humana, temendo e rejeitando todos os grupos sociais
aos quais não pertencem, assim, como suspeitam deles. O
preconceito é uma manifestação de sua desconfiança e suspeita
• Há também fontes cognitivas de preconceito. Os seres humanos são
“avarentos cognitivos” que tentam simplificar e organizar seu
pensamento social o máximo possível. A simplificação exagerada leva
a pensamentos equivocados, estereotipados, preconceito e
discriminação.
• Além disso, o preconceito e a discriminação podem ter suas origens nas tentativas
que as pessoas fazem para se conformar (conformidade social). Se nos relacionamos
com pessoas que expressam preconceitos, é mais provável que as aceitemos do que
resistamos a elas.

• As pressões para a conformidade social ajudam a explicar porque as crianças


absorvem de maneira rápida os preconceitos e seus pais e colegas muito antes de
formar suas próprias crenças e opiniões com base na experiência. A pressão dos
colegas muitas vezes torna “legal” ou aceitável a expressão de determinadas visões
tendenciosas – em vez de mostrar tolerância aos membros de outros grupos sociais.
COMO FUNCIONA O ESTEREÓTIPO

• É um conjunto de características presumidamente partilhadas por todos os


membros de uma categoria social. É um esquema simplista, mas mantido de
maneira muito intensa e que não se baseia necessariamente em muita experiência
direta. Pode envolver praticamente qualquer aspecto distintivo de uma pessoa –
idade, raça, sexo, profissão, local de residência ou grupo ao qual é associada.

• Quando nossa primeira impressão sobre uma pessoa é orientada por um


estereótipo, tendemos a deduzir coisas sobre a pessoa de maneira seletiva ou
imprecisa, perpetuando, assim, nosso estereótipo inicial.
Definindo alguns conceitos
• Do ponto de vista biológico, não existem raças humanas.

• Raça é uma construção social, ou seja, é uma categoria que foi


inventada no século XIX por cientistas brancos europeus para tentar
explicar as diferenças entre povos a partir de traços fenotípicos. Isto
evidentemente “ocultava” a história de dominação entre diferentes
grupos étnicos.

• Etnia diz respeito às especificidades de grupos que compartilham uma


cultura (costumes, crenças, valores, história).
RACISMO

• É a crença na inferioridade nata dos membros de determinados


grupos étnicos e raciais. Os racistas acreditam que a inteligência, a
engenhosidade, a moralidade e outros traços valorizados são
determinados biologicamente e, portanto, não podem ser mudados.
O racismo leva ao pensamento “ou/ou”: ou você é um de nós ou é
um deles.
Resumindo
• Racismo é uma ideologia que sustenta e reproduz a dominação a partir
de uma suposta hierarquia entre “raças”. Obviamente, o racismo
privilegia pessoas identificadas como brancas em detrimento de pessoas
negras, sem qualquer justificação para isso.
• Preconceito refere-se a um julgamento prévio negativo a pessoas e
grupos identificados por determinados estereótipos.
• Estereótipo é uma espécie de atributo ou “marca” que reduz pessoas ou
grupos inteiros a características específicas.
• Discriminação consiste em uma ação de ofensa, violação de direitos ou
menosprezo de uma pessoa em relação a outra ou a um grupo através
de estereótipos. É a manifestação do preconceito estrutural no nível das
relações interpessoais. 
Colocando a categoria raça em questão

 Colonização e escravização dos povos indígenas e africanos;

 Século XIX: A construção “científica” da categoria raça;


• O conceito de raça não encontra nenhum fundamento biológico,
porém a noção de “raça social” pode ser descrita como uma
construção social, eficaz para construir, manter e reproduzir
diferenças e privilégios.

 Diferença entre brancura e branquitude


Quando raça é um problema?

 Hierarquização interna à categoria “branco”

 Ideia de superioridade estética, moral e intelectual

 Privilégio de não se perceber racializado


Posso estar segura de que meus filhos vão receber materiais curriculares que
testemunham a existência de sua raça;

Posso contar com a cor da minha pele para não operar contra a aparência e
confiança financeiras;

Não preciso educar meus filhos para estarem cientes do racismo sistêmico para sua
própria proteção física diária... (P. McIntosh, 1989)
Definições sobre a
branquitude
Psicologia Social
Prof. Dra. Ana M. S. Capitanio
RAÇA E ETNIA

• Do ponto de vista biológico, não existem raças humanas.

• Raça é uma construção social, ou seja, é uma categoria que foi


inventada no século XIX por cientistas brancos europeus para tentar
explicar as diferenças entre povos a partir de traços fenotípicos. Isto
evidentemente “ocultava” a história de dominação entre diferentes
grupos étnicos.

• Etnia diz respeito às especificidades de grupos que compartilham


uma cultura (costumes, crenças, valores, história).
Estudos

• Os Estados Unidos, principalmente nos anos 1990,


com os critical whiteness studies tornaram-se o
principal centro de pesquisas sobre branquitude.
• Todavia, existem produções acadêmicas sobre
essa temática na Inglaterra, África do Sul, Austrália
e Brasil
Oprimido e Opressor

Na galeria dos pioneiros em problematizar a identidade


racial branca não podemos deixar de considerar Frantz
Fanon. Em 1952, esse pensador caribenho e africano com
sua publicação Peau noire, masques blancs defendeu o
argumento de abolição da raça. Esse autor estava
preocupado em libertar o branco de sua branquitude e o
negro de sua negritude, porque a identidade racial seria
um encarceramento que obstaculizava a pessoa de chegar
e gozar sua condição humana.
• O ativista Steve Biko também pode ser incluído entre os
precursores em analisar a identidade racial branca. O
ilustre ativista versou sobre o branco sul-africano dos
anos 1960 e 1970. Ele refletiu a respeito da branquitude
sulafricana no momento em que lutava contra o racismo
estrutural da sociedade sul-africana, perdeu a própria
vida nessa causa.
Oprimido e opressor

A teoria antirracista, de maneira geral, tem restringido em


pesquisar o oprimido, deixando de lado o opressor.

Desta forma, é sugerido que a opressão é somente um “problema


do oprimido” em que o opressor não se encontra relacionado
Abordagem Unilateral

Guerreiro Ramos sustentou que teorias sobre relações


raciais no Brasil são na verdade uma “sociologia do
negro brasileiro”
Não se trata, portanto, de teoria sobre relações raciais,
trata-se de uma abordagem unilateral, feita muitas vezes
por prestigiados pesquisadores brancos preocupados em
analisar o “problema do negro”.
Retratando o opressor

• Procurando preencher uma lacuna nas teorias das


relações raciais Albert Memmi considerou
necessário retratar o opressor e o oprimido. Seu
pensamento é significativo para teorias sobre
branquitude, porque Memmi foi o pensador
pioneiro em apontar a importância de se
problematizar também o opressor.
Branquitude

• Nos estudos sobre a branquitude, no Brasil e em outros


países, existe o consenso de que a identidade racial branca é
diversa. No entanto, na busca por uma definição genérica,
podemos entender a branquitude da seguinte forma: a
branquitude refere-se à identidade racial branca, a
branquitude se constrói
A branquitude

• A branquitude como um lugar estrutural de onde o


sujeito branco vê os outros, e a si mesmo, uma posição
de poder, um lugar confortável do qual se pode atribuir
ao outro aquilo que não se atribui a si mesmo”.
(Frankenberg, 1999b, pp. 70-101, Piza, 2002, pp. 59-90).
Branqueamento
• No Brasil o branco foi por muito tempo
considerado ser humano ideal, onde foi lhe
conferido certos privilégios válidos na sociedade
até nos dias atuais.
• Branqueamento no Brasil, considerado como um
problema com os negros descontentes com a
posição de negros tentam identificar-se como
brancos, ou seja, querem diluir suas
características raciais
Branqueamento

• O branco tomado como um modelo universal a seguir


e que esse processo ainda perpetua ao longo da
história, legitimando assim uma supremacia política,
econômica e social além de promover aos negros
características negativas
A discriminação racial

• Mantém a conquista de privilégios de um grupo sobre outro,


independentemente do fato de ser intencional ou apoiada em
preconceito.
• NoBrasil, acredita-se em convívio racial harmonioso e que não
existe distinção entre raças por ser um país mestiço, mas na
verdade, não exatamente assim. Em nossos dia a dia notamos
que, além disso, a maioria dos pobres serem negros. O
preconceito no Brasil vem de um processo histórico, onde a
abolição pouco modificou a situação dos negros naquela
época.
Medo

• No Brasil é ressaltado por vários estudiosos das relações


raciais o medo. Esta forma de construção do Outro a
partir de si mesmo, é uma forma de paranoia que traz
em sua gênese o medo. O medo do diferente e, em
alguma medida, o medo do semelhante a si próprio nas
profundezas do consciente, ou seja, o ideal do
branqueamento nasce do medo
Indicações de materiais para estudo

Além dos cadernos produzidos pelo Conselho e das pesquisas e artigos produzidos
pelas autoras e autores mencionados, vale a pena conferir as produções
disponíveis em:

• www.ammapsique.org.br - Instituto AMMA, Psiqué e Negritude

• www.geledes.org.br - Geledés, Instituto da Mulher Negra

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