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Antropologia e Sociologia da Saúde 1º ano - Enfermagem

Antropologia - ciência que estuda o homem e a humanidade, abrangendo todas as suas dimensões. Pretende conhecer o
homem enquanto elemento integrante de grupos organizados, interessando-se pelo homem como um todo: história,
crenças, usos e costumes, filosofia, linguagem

Atributos distintos:
- Estudo da humanidade como um todo
- Desenvolvimento do conceito de cultura e a importância deste conceito no pensamento antropológico
- Uso do método comparativo
- Ênfase dada ao trabalho de campo para obter os seus dados e testar as suas hipóteses

Campo de estudo e pesquisa:


Antropologia pré-histórica (arqueologia): vestígios materiais das culturas desaparecidas, tanto nas suas técnicas e
organização social quanto nas suas produções culturais e artísticas.
Antropologia linguística: estudo das linguagens humanas, linguagem como parte integrante do património cultural de
uma sociedade
Antropologia biológica ou física: variações dos carateres biológicos, estudo das relações, património genéticohumano,
meio geográfico e social, relação entre particularidades morfológicas e fisiológicas com o contexto ambiental e a
evolução das mesmas.
Antropologia social e cultural (Etnologia): sociedade e as suas instituições, estuda o ser humano enquanto ser social,
que gera relações. Relação entre cultura, sociedade e indivíduo. Estuda os sistemas de parentesco ecasamento.

HOMEM, CULTURA E SOCIEDADE

Natureza não instintiva da cultura


O conceito de cultura inclui os instintos, os reflexos inatos e as restantes formas de comportamentos
biologicamente predeterminados.
A cultura é um comportamento adquirido.
Comportamento aprendido e comportamento instintivo.

Relatividade cultural
Todas as culturas diferem nos seus postulados básicos, ou seja, têm características gerais em comum e diferem em
alguns aspetos.
Os padrões do certo e do errado (valores) e dos usos e atividades (costumes) são relativos a cada cultura.

Cultura ideal, cultura real


Cultura real – define-se por aquilo que todos os membros de uma sociedade fazem ou pensam. A realidade nunca é
conhecida na sua totalidade por ser sempre processada tendo em conta o conhecimento da pessoa.
Cultura ideal – consta dos padrões de comportamento de um povo expressos verbalmente, podendo ser ou não
traduzidos em comportamento normal.

A ANTROPOLOGIA NO QUADRO DAS CIÊNCIAS

Ciências Naturais e Ciências Sociais


Ciências naturais – estudo de factos simples, que se repetem e podem ser vistos, isolados e reproduzidos em laboratório.
O teste de uma dada teoria pode ser efetuado por 2 observadores situados em lugares distintos e até com perspetivas
opostas.
Ciências sociais – estudo de fenómenos complexos, situados em planos de causalidade e determinação complicados.
Não é fácil isolar causas e motivações exclusivas. A matéria-prima são eventos com determinações complicadas que ao
ocorrerem em ambientes diferenciados podem mudar de significado.
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Uma diferença Crucial


Nas ciências sociais trabalha-se com fenómenos que estão perto, pois pretende-se estudar eventos humanos. É a
distância que é o elemento fundamental na perceção da igualdade entre os homens, pois quando se vê um costume
diferente é quando se reconhece o próprio.

O CONCEITO DE CULTURA

Edward Tylor e a conceção de cultura (1832 – 1917)


Cultura – conjunto que compreende o conhecimento, as crenças, a arte, a moral, o direito, os costumes e outras
capacidades ou hábitos adquiridos pelo homem enquanto membro da sociedade.
Caraterísticas da definição de cultura de Tylor
1. Descritiva e objetiva
2. Universalista e não particularista
3. Dimensão coletiva
4. Adquirida, mas a sua origem caráter são inconscientes
5. Evolucionismo visível no método do exame das “sobrevivências” da cultura
6. Relatividade cultural num certo sentido

Franz Boas e a conceção de cultura


1 – É o primeiro a fazer trabalho de campo
2 – A diferença fundamental entre seres humanos mede-se pela cultura e não pela raça
3 – A cultura é adquirida e não inata
4 – Cultura e não cultura
5 – Cada cultura é uma cultura e entendê-la passa pela aprendizagem da língua e das formas de comunicação
6 – Relativismo cultural
7 – Hábitos e costumes são próprios de cada cultura

O conceito de cultura
Aprimoramento teórico nos EUA
Antropologia cultural = antropologia americana

Razões do triunfo nos EUA


País multicultural – nação e de imigrantes, pluriétnica
Provoca um questionamento sobre a diversidade cultural e o seu relacionamento no mesmo espaço Identidade étnico /
nacional que exclui índios e descendentes de escravos africanos

As 3 grandes correntes do(s) culturalismos americanos


o Cultura na perspetiva histórico / cultural
o Relação entre cultura e personalidade
o Cultura como sistema de comunicação entre indivíduos

Na perspetiva histórica / cultural de Boas


Estudo da dimensão histórica dos fenómenos culturais
Estudam o processo de distribuição no espaço dos elementos culturais inspirados no difusionismo
A ideia: estudar a repartição espacial de um ou mais traços culturais em cultura próximas e analisar o processo da sua
difusão

Áreas culturais
Espaços de grande convergência de traços semelhantes
No centro da área cultural estão as caraterísticas fundamentais da cultura e na periferia há entrecruzamento dessas
caraterísticas com as das vizinhas
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O modelo cultural
Deriva desta corrente e designa o conjunto estruturado dos mecanismos através dos quais uma cultura se adapta ao seu
meio ambiente
Estudando os fenómenos de contacto cultural abre-se caminho à exploração de novas questões relacionadas com a
aculturação e as trocas culturais

Malinowski e o funcionalismo da cultura


A noção de cultura em Malinowski
Sistema autónomo e em equilíbrio que visa responder às necessidades físicas do homem.
As culturas (sistemas autónomos) são compostas por instituições que ligam o indivíduo ao coletivo
Uma cultura só existe no presente e só é passível de estudo através do método etnográfico (trabalho de campo e
observação participante)

Escola de cultura e personalidade


Desenvolve-se nos EUA e defende que os antropólogos se devem interessar por compreender o modo como os seres
humanos incorporam e vivem a sua cultura
Como afeta a cultura o comportamento humano?
Hipótese ou premissa: cada cultura determina um certo estilo de comportamento comum ao conjunto dos indivíduos
nela participantes
Edward Sapir 1884-1939
Uns autores preocupam-se mais em estudar a influencia da cultura sobre o indivíduo e outros sobre a reação dos
indivíduos à sua cultura.
Como indivíduos que nascem semelhantes, se tornam diferentes na sua personalidade através da enculturação? À
pluralidade das culturas deve corresponder uma pluralidade de tipos de personalidade.
Ruth Benedict – padrões culturais impostos
Margaret Mead – como os sistemas de educação num grupo cultural formam diferentes tipos de personalidade; existe
uma ligação entre modelo cultural (grupo), método de educação e tipo de personalidade dominante Linton e Kardiner –
o sujeito é produto e produtor da sua cultura
Críticas
- essencialismo, substancialismo e reificação do conceito de cultura
- os culturalistas também estão contra esses conceitos, defendendo que a cultura é um comportamento
- a importância da educação na diferenciação cultural – mérito da cultura e personalidade

Abordagem interacionista da cultura


A cultura depende da interação entre os indivíduos.
O contexto das interações determina a diversidade cultural (individual e grupal); uma cultura é em si heterogénea.

CULTURA E IDENTIDADE

Cultura - constrói-se em grande parte de processos inconscientes


Identidade - norma de pertença, necessariamente consciente; assenta em oposições simbólicas.
Identidade cultural
Conceito polissémico e fluido.
Anos 50: a identidade, fora do indivíduo e imutável, é a única responsável e determinante do seu comportamento.
É uma componente da identidade social. Esta remete para as pertenças do indivíduo, permitindo-o localizar- se e ser
localizado no sistema social. A identidade social caracteriza também os grupos pela inclusão e pela exclusão. A
identidade permite pensar a articulação do psicológico e do social no indivíduo.
Identidade cultural: modalidade de categorização nós / eles, assente na diferenciação cultural.
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Conceção objetivista de Identidade


A identidade cultural: cultura como uma coisa ou essência, herdada e à qual nenhum indivíduo pode escapar:
- remete para o conceito de raízes culturais
- conceção “genérica” de identidade cultural
Abordagem culturalista:
- a cultura é pré-existente ao indivíduo
- a identidade cultural não é inata, mas é imposta ao indivíduo, que é obrigado a interiorizar os modelos culturais.
Invariantes culturais que permitem definir a essência do grupo
A identidade do grupo étnico é pré-existente às outras todas, e é imposta aos indivíduos, mesmo determinante das
outras.
Em resumo: trata-se de definir a identidade a partir de uma série de determinantes considerados objetivos como a língua,
a cultura, a religião, um território e um fenótipo.

Conceção subjetivista de Identidade


A identidade cultural não é mais que um sentimento de pertença ou uma identificação com uma coletividade mais ou
menos imaginada.
Caráter efémero da identidade quando elas até são relativamente estáveis.

Conceção relacional e situacional de Identidade


Contexto relacional de afirmação e de negação da identidade cultural.
A identidade é uma construção que se elabora num modo de relação que opõe um grupo aos outros, com os quais está
em contato.
Não interessa localizar os traços culturais distintos do grupo, mas sim aqueles que esse mesmo grupo utiliza para
afirmar e manter uma distinção cultural.
Diferença identitária não é uma consequência da diferença cultural.
A identidade constrói-se e reconstrói-se no quadro das trocas sociais.
Não há identidade em si, esta é sempre uma relação com o outro.
Identidade é construída na alteridade.
A identidade é auto e hétero definida.
Ambas existem nas relações de poder, a hétero definição pode conduzir à marginalização de grupos minoritários.

A Identidade e os Estados-nação modernos


Identidade como uma questão de Estado - quem a controla Identidade homogénea culturalmente: a Identidade nacional

A Identidade multidimensional
A Identidade é fluida e flutuante.
Um indivíduo pode-se identificar com múltiplos grupos em simultâneo, aparentemente contraditórios.
Identidade sincrética.

Estratégias identitárias
Pessoas e grupo afirmam ou negam a sua identidade de acordo com as circunstâncias

ENVELHECIMENTO: DESAFIOS À SOCIEDADE ATUAL

Envelhecimento individual e coletivo / envelhecimento biológico e cronológico


Envelhecimento biológico – individual (segundo a ONU + de 60 anos)
Envelhecimento demográfico – grupal

Aumento da esperança média de vida – ↓ da mortalidade


Diminuição da taxa de natalidade – ↓ da fecundidade
Emigração
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Envelhecimento individual / grupal


Individual – aumento da idade cronológica dos indivíduos.
Coletivo – idade média da população / estrutura etária.

Envelhecimento nos países desenvolvidos e em desenvolvimento


Países desenvolvidos: Revolução Industrial: ↓ taxa de natalidade e ↓ mortalidade – desenvolvimento sócio-ecómico – a
migração interna não tem grande impacto.
Envelhecimento começa na segunda metade do séc. XX.
Países em desenvolvimento: décadas de 60 a 70 – natalidade diminui drasticamente

urbanização e industrialização facilita o acesso à educação


saúde e programas de planeamento familiar
↓ mortalidade devido ao avanço da tecnologia (vacinas, antibióticos, remédios, equipamentos...)
migração dos jovens para as cidades, regiões e países mais ricos

2 Grandes grupos
Países desenvolvidos: esperança média de vida de 73 anos: grande proporção de idosos / jovens Países em
desenvolvimento: esperança média de vida de 58 anos: grande proporção jovens / idosos

2 tipos de envelhecimento
De topo (ex. pirâmide etária de Itália em 2001)
De base: diminuição da base da pirâmide

Envelhecimento em Portugal
Finais do século XX: aumento da Esperança Média de vida e Queda da fecundidade

Duplo envelhecimento

Consequências socioculturais do envelhecimento populacional


Nova realidade social, económica, cultural, política

Efeitos nas áreas da saúde, segurança social, habitação, apoio individual às pessoas idosas e respetivas famílias.

Envelhecimento: fenómeno biológico e social


o Marginalização
o Rejeição social
o Inatividade
o Insegurança

Sociedades envelhecidas europeias: forças e fraquezas


O aumento do número de velhos confere-lhes força de influência na sociedade:
1. Força social
2. Força cultural
3. Força económica
4. Força política
5. Força de intervenção
6. Força ética

O futuro da população portuguesa


O envelhecimento e respetiva perda de população só poderá ser revertida com intensas políticas de incentivo à
natalidade.
Facilitação dos fluxos imigratórios.
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Noção de envelhecimento saudável


Envelhecimento saudável como o processo de desenvolvimento e manutenção de capacidade funcional que permite o
bem-estar em idade avançada.
Processo que permanece relevante a cada adulto maior, uma vez que sua experiência de envelhecimento saudável pode
sempre tornar-se mais ou menos positiva.
o Capacidade intrínseca, que se refere ao composto de todas as capacidades físicas e mentais que um indivíduo
pode apoiar-se em qualquer ponto no tempo.
o Capacidade extrínseca, ambiente externo que rodeia o idoso.
Combinação de indivíduos e dos seus ambientes e a interação entre eles é a sua capacidade funcional, definida como
atributos relacionados à saúde que permitem que as pessoas sejam ou façam o que valorizam como importante para si.

Fatores promotores do envelhecimento saudável


1. Alinhar os sistemas de saúde a populações maiores que agora atendem
Desenvolvendo e garantido o acesso a serviços que proporcionam cuidados ao idoso de forma integral;
Orientando sistemas em torno de capacidades intrínsecas;
Garantindo a existência de uma força de trabalho de saúde sustentável e adequadamente treinada.
2. Desenvolver sistemas de cuidados de longo prazo
Estabelecer as bases necessárias para um sistema de cuidados de longo prazo;
Construir e manter uma força de trabalho sustentável e adequadamente treinada;
Garantir a qualidade dos cuidados de longo prazo.
3. Criar ambientes favoráveis aos adultos maiores
Combater a discriminação etária;
Permitir a autonomia;
Apoiar o Envelhecimento Saudável em todas as políticas e em todos os níveis de governo.
4. Melhorar a medição, o monitoramento e a compreensão
Quais são os padrões atuais do envelhecimento saudável? Eles estão a mudar ao longo do tempo?
Quais são os determinantes do envelhecimento saudável?
As desigualdades estão a aumentar ou a diminuir?
Quais intervenções que trabalham para promover o envelhecimento saudável e em quais subgrupos da população
trabalham?
Qual é o prazo e a sequência adequada dessas intervenções?

NOÇÃO DE FAMÍLIA E SUAS ESTRUTURAS NO SÉCULO XXI

O que é a família?
OMS – grupo de pessoas de casa com grau de parentesco por sangue, adoção ou casamento, limitado pelo chefe de
família, esposa e filhos solteiros em convivência.
O conceito de família não pode ser limitado a laços de sangue, casamento, parceria sexual ou adoção- qualquer grupo
cujas ligações sejam baseadas na confiança, suporte mútuo e um destino comum, deve ser encarado como família.
v
Primeiro agente social envolvido na promoção da saúde e no bem-estar do indivíduo

Noção antropológica de família


Grupo social, originado num casamento (entendido aí como união de duas ou mais pessoas), constituído pelas pessoas
casadas e sua prole, cujos membros são ligados entre si por laços legais, direitos e obrigações económicas e religiosas,
direitos e proibições sexuais e sentimentos psicológicos, tais como o amor, afeto e respeito.

Família no século XXI


Fazem parte da família elementos não ligados por traços biológicos, mas que são elementos significativos (amigos,
professores, vizinhos...) no contexto relacional do indivíduo, que solicita intervenção.
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Família: construção cultural


Distintos contextos geográficos e culturais ancoram diferentes normas, valores e instituições, resultantes da história de
uma região particular, dos seus costumes e tradições, deixando marcas no que a família aí possa representar e
contribuindo para a existência de uma grande diversidade de formas familiares à escala planetária, com influências
diferentes, designadamente no conceito de saúde.

A família é uma construção cultural


Família – mais do que uma necessidade biológica é uma construção cultural, daí as suas diversas formas no tempo e no
espaço

Famílias poliginicas: tribos bantas, na áfrica - o mesmo homem desposando várias mulheres, vivendo cada uma delas,
com sua respetiva prole, em uma choupana diferente, que o marido devia sustentar.

Tipos de famílias
o Poliandricas – Tibete e Nepal: vários maridos que compartilham a mesma esposa, ficando para um deles o
encargo de ser o “pai legal” das crianças por ela geradas.
o Casamento de Grupo – África: casamento entre um grupo de homens e um grupo de mulheres
o Família conjunta ou família extensa – Índia contemporânea e Europa (século XIX): mais velho ascendente vivo,
suas esposas, filhos casados com as esposas e filhos, os filhos(as) solteiros, os netos casados e solteiros e assim
por diante até ao mais novo dos descendentes.
o África: mulheres de alta estirpe desposam outras mulheres, que fazem engravidar através do serviço de amante
não reconhecidos. Os filhos daí provenientes são criados pelas duas mulheres, tendo a mulher nobre o direito de
lhes transmitir o seu nome, posição, riqueza, como se fossem seus filhos.

Família mantém a identidade legal, económica e sentimental, mesmo quando estruturada de modo totalmente diverso,
como nos casos citados acima

Família e Saúde
Família – mais importante fonte de stress ou de apoio;
Exerce uma influência poderosa sobre a saúde, enquanto fonte primária sobre mitos e comportamentos em saúde;
Fonte importante de stress e suporte social.

Famílias influenciam muito a saúde e a doença, o apoio emocional é o mais importante e influente, as relações
familiares negativas, críticas ou desfavoráveis influenciam mais a saúde que as relações positivas ou de apoio e a
educação familiar é uma intervenção importante para resolver problemas de saúde

Família: grupo social primário


É a maior unidade da nossa cultura na qual se desenvolvem relações e se proporcionam cuidados a longo prazo, estando
o conceito de cuidados longitudinais centrado na família.
É a mais importante unidade de cuidados de saúde, sendo um participante ativo no processo de tratamento do paciente e,
muitas vezes, toma mesmo as decisões terapêuticas pelo familiar doente.

A importância da família sobre o indivíduo


A família influencia comportamentos individuais como a dieta, o exercício físico, o tabagismo, a adesão à terapêutica ou
o uso dos serviços de saúde.

A família em Portugal
25 de Abril de 1974, determinou o reordenamento jurídico da família quanto à postergação do dever de obediência e à
promoção da igualdade, contestação relativa a dogmas religiosos, visibiliza e pune a violência doméstica.
1960 - 2010, a idade média no primeiro casamento aumentou, a idade média do nascimento do primeiro filho aumenta, e
a taxa de nupcialidade reduziu-se, bem como os casamentos católicos. A taxa de divórcio aumentou 25 vezes, e o
número de filhos caiu 1/3, tal como a taxa de fecundidade. Nascimentos fora do casamento aumentaram 4 vezes, o
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índice de envelhecimento quadruplicou, e a dimensão média das famílias reduziu-se de 3,8 elementos para 2,7.

Estatuto socioeconómico e classe social da família


O estatuto socioeconómico da família - grande preditor do estado de saúde dos indivíduos quanto à prevalência de
doenças crónicas, as limitações no desempenho de atividades quotidianas e na capacidade funcional geral.
Classe social da família - impacto significativo, nomeadamente na esperança de vida, nas condições de saúde e na sua
perceção, e no acesso a mais ou menos recursos que assegurem os cuidados necessários na prevenção e situação de
doença.

Novos modelos de família em Portugal


o Patriarcal
o Matriarcal
o Monoparental
o De indivíduos
o Homossexuais

Funções da família
Família - grupo social que mantém um equilíbrio estável para alcançar os objetivos psicobiológicos, socioculturais,
educativos e económicos que requer o grupo familiar. A família normofuncional é capaz de regular as relações entre os
seus membros, garantindo a homeostase e facilitando as trocas.

Funções iniciais e atuais da família


Funções iniciais - reprodução da espécie, segurança e proteção, produção de bens, transmissão cultural e socialização
dos jovens.
Funções atuais - proteção e desenvolvimento psicossocial, satisfação sexual, apoio afetivo e realização pessoal.

Família funcional / disfuncional


Funcional - quando os limites entre os seus elementos são claros, havendo ligações sólidas entre os elementos de cada
subsistema, a chefia é bem aceite pelos chefiados e as responsabilidades são assumidas e partilhadas em situações
difíceis.
Disfuncional - Desrespeito e má formação das gerações vindouras. Apresentam múltiplos problemas graves que afetam
vários elementos da família, vividos em simultâneo e / ou em sequência, tendo baixas competências sociais.

REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DA SAÚDE E DA DOENÇA

Teoria das Representações Sociais


Não há separação sujeito-objeto.
A realidade é interpretada pelos olhos de quem a vê.
Toda a realidade é representada, apropriada pelo indivíduo e pelo grupo: reconstruída no seu sistema cognitivo,
integrada ao seu sistema de valores, dependente da sua história e do contexto social e ideológico no qual está inserida.

Representação social
Representação – permite ao indivíduo e ao grupo, dar um sentido às suas condutas e à compreensão da realidade através
do seu próprio sistema de referências e valores, portanto adaptar-se e posicionar-se perante o mesmo.
– forma de conhecimento, socialmente elaborada e compartilhada pelos indivíduos de um grupo, com
um alcance prático que contribui para a construção de uma realidade comum a um conjunto social.
Produto e o processo de uma atividade mental, através da qual um indivíduo ou um grupo reconstitui o real com o qual
ele é confrontado e lhe atribui um significado específico.
Depende de:
o Fatores contingentes (que têm a ver com a situação imediata) - natureza e dificuldades colocadas pela situação,
contexto imediato, finalidade da situação.
o Fatores gerais (vão para além da situação imediata) - contexto social e ideológico, lugar do indivíduo na
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organização social, história do indivíduo e do grupo, relações de poder socialmente estabelecidas.


Interpretação da realidade: sistema de interpretação da realidade que rege as relações dos indivíduos com seu ambiente
físico e social determinando, desta forma as suas práticas.
Guia para a ação, uma vez que ela orienta as ações e as relações sociais.
Sistema de pré-decodificação da realidade, porque ela determina um conjunto de antecipações e de expectativas.

Enfermagem, representação social e necessidades humanas básicas


Necessidades humanas básicas

Representação social do que são as necessidades humanas básicas (conceito mutável e culturalmente construído) para
que o enfermeiro possa compreender a partir do ponto de vista do “outro” esta noção

Necessidades de saúde
1. Necessidades biológicas (dormir e comer)
2. Necessidades de conforto físico e psicológico (bem-estar, não sentir dor, não sentir nada)
3. Necessidades psicossociais (alegria, diversão, família)
4. Necessidades espirituais (deus, tudo, ter coragem)
5. Necessidades morais e de cidadania (trabalhar e viver bem)

Necessidades comprometidas pela doença


1. Biológicas (não se alimentar)
2. Conforto físico e psicológico (dores, dor de cabeça)
3. Psicossociais (tristeza, desânimo, nervosismo, preocupação e sofrimento)
4. Espirituais (deus, sem coragem)
5. Socias (falta de dinheiro, não trabalhar)

Representações da saúde e da doença


1. Estado do corpo
2. Estado psicológico
3. Atividade / funcionalidade
4. Estado espiritual
5. Estado sociocultural
6. Atitude do quotidiano (ter força e coragem)

Conclusões
Necessário avançar de uma valorização da dimensão biológica humana para uma valorização da dimensão psico-
emocional e social (conforme observado nos elementos centrais de saúde e de doença).
Não alienar o indivíduo / sujeito do seu contexto de vida.
Conhecimento técnico e senso comum.

MEDICALIZAÇÃO DA SOCIEDADE

Conceito de medicalização
Assume especial relevância a partir dos anos 60 e 70.
Medicalização - processo no qual determinado comportamento e/ou problema não-médico é definido como uma doença,
transtorno ou problema médico, sendo delegada à profissão médica a autorização para ofertar aos indivíduos algum tipo
de tratamento.

Questões sociais transformam-se em problema médicos


Medicina – repositório de verdade, campo no qual juízos eram sentenciados por especialistas que portavam uma
objetividade e uma moral supostamente neutras.
A medicalização traz a profissão médica para domínios estranhos ao campo da saúde, tais como o espiritual, o moral, o
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legal e, por fim, o criminal.


Problemas socias passam a ser medicalizados, vistos sob o prisma da medicina científica, como “doenças” a serem
tratadas (alcoolismo, aborto, “anomalias e desvios” da sexualidade, homo e transexualidades, uso de drogas ilícitas).

Medicina científica
A singularidade dos pacientes tende a não ser respeitada.
Ao procurar obter o monopólio do conhecimento e do tratamento sobre o sofrimento e a doença, a medicina é criticada
por desconsiderar os saberes leigos e propostas alternativas e/ou complementares de cuidado à saúde.

Críticas nos anos 70


Equipas de saúde (ocidentalizada e científica), tornam-se objeto de exacerbada crítica, considerados agentes ativos e
centrais da medicalização devido às posturas e práticas autoritárias com que exercem a sua profissão.

Destruição do quadro cultural e pessoal – outrora capaz de propiciar ação autónoma das pessoas para cuidar da própria
saúde, imposição da ciência sobre as crenças dos indivíduos.

Expropriação da saúde, assegurada e organizada pela medicina

“uma oficina de reparos e manutenção, destinada a conservar em funcionamento o homem usado como produto não
humano”

Desmedicalização da sociedade
Medicalização interfere e interdita a ação independente e racional dos seres humanos sobre a sua noção de saúde.
Os indivíduos deveriam afirmar e conquistar a sua autonomia, lutando contra o poder médico e de outras categorias
profissionais de saúde.
Em contraposição à perversidade daqueles que ditam a vida dos pacientes, são sugeridas ações de resistência
objetivando a desmedicalização das relações socias.

Crítica ao conceito de medicalização


Equipas multiprofissionais, processo de trabalho interdisciplinar e valorização de outras profissões da saúde são alguns
dos componentes centrais das proposições críticas à redutibilidade do conceito de medicalização. Critica-se o papel da
indústria farmacêutica e seus efeitos sobre a subjetividade e a cultura do uso dos medicamentos.

Desmedicalização
Empoderamento dos pacientes e cidadãos: estimulam os indivíduos a reconquistar o controlo sobre a sua saúde e a
assumir o papel de cidadãos e/ou consumidores ativos de bens oferecidos pelo “mercado” da saúde-doença de forma
crítica.
Pluralidade dos sentidos do termo medicalização, aconselhando que se faz cada vez mais necessário um pensamento que
consiga romper com uma dimensão monolítica do conceito “medicalização”, que vem ofuscando as vantagens teóricas
de seu uso.

Foucault
Medicina: estratégia de saber-poder que procura, através da sua prática e do conhecimento científico adquirido,
estruturar um campo de ação na sociedade que opera sobre os mecanismos de produção de subjetividade dos indivíduos.
A análise Foucaultiana destaca o aspeto produtivo da medicalização e a sua capacidade de fabricar novas verdades e
técnicas para responder às mais variadas possibilidades de ação dos sujeitos na sociedade.
A medicina moderna produziu a doença – tendo como referência o normal e o patológico – mas, acima de tudo, fabricou
um corpo-sujeito que contém as doenças.
A Medicina como invenção moderna assenta em 3 eixos:
1. Formas médicas de vida – sanitarização da existência humana, processo de produção de práticas de saneamento
que criaram “corpos que são disciplinados em relação à saúde”.
2. Significado médico – influência da medicina no campo da linguagem e na produção de sentidos pelos quais
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experimentamos o mundo (“a corrupção infetou o sistema político”, “o racismo é um cancro social”).
3. Perícia médica – que têm como objeto a enfermidade / saúde, formando um arranjo composto por equipas
multidisciplinares.

Em resumo
Medicalização – pode ser analisada, não como uma tentativa de impor uma forma de recodificação das dores e angústias
humanas, mas como uma produção humana que ao longo dos últimos séculos foi capaz de construir uma variedade de
respostas e distintas tecnologias que visam atender a variadas necessidades humanas.
Foucault (2008) – configura um novo regime de gestão da vida, que desloca a medicina do lugar de agente do cuidado
para o de prescritora de técnicas e orientações diversificadas a serem eleitas pelos experts e executadas pelos indivíduos
consumidores em relação ao manejo dos seus próprios corpos, na incessante busca por “saúde”.

ENFERMAGEM E GÉNERO

Conceito de género
Conjunto de espécies com características comuns (espécie, ordem e classe). Espécie ou conjunto de espécies que
apresentam um número de caraterísticas idênticas convencionalmente estabelecidas.
Gramaticalmente - divisão dos nomes baseada em critérios, tais como sexo e associações psicológicas.
Fisiologicamente - conceito em cuja extensão se acha incluído um outro, enquanto a este se dá o nome de espécie.

Conceito ocidental de género


Noção que postula que o sexo social é o produto de uma construção social permanente que regula, dentro das sociedades
humanas, a organização das relações sociais entre homens e mulheres

Esta noção surge da necessidade de insistir no caráter social das diferenças fundadas no sexo. O género é o elemento
constitutivo dessas relações sociais assentadas nas diferenças percetíveis entre os sexos e é um primeiro modo para dar
significado às relações de poder.

Construção histórica e social do conceito de género


Conceito de género – cultura social de papéis sexuais estabelecidos pela sociedade e define como devem ocorrer as
relações homem-mulher, homem-homem e mulher-mulher.
A construção dos papéis sexuais condiciona a escolha profissional, estabelecendo-se que a mulher escolhe uma carreira
de acordo com a sua condição feminina (professora, secretária, enfermeira...).

Noção atual de género


Género enquanto construção cultural – uma construção social como sujeito masculino e feminino, que evoluem tendo
em conta as transformações histórico-sociais e culturais.
Esta ideia pode ser revista e modificada, tendo em conta a modificação das relações sociais.

Género: dimensão social e biológica


Evitar a polarização natural/social, compreendendo que o gênero também possui uma dimensão e expressão biológica.
Embora a construção dos géneros seja, fundamentalmente, um processo social e histórico, temos de admitir que este
envolve os corpos dos sujeitos.

Género e identidade aprendida


O género não só se relaciona com a identidade aprendida, os papéis e os estatutos sociais como é constituído e instituído
pelas múltiplas instâncias e relações socias, pelas instituições, símbolos, formas de organização social, discursos e
doutrinas.

Devemos entender que estas instâncias sociais são instituídas pelos géneros que também os instituem (são
generificadas). Esta perspetiva revela-se útil na nossa compreensão e intervenção do campo de trabalho, da justiça, da
ciência, da arte, da saúde.
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O género, relações de poder e estereótipos


Os estereótipos sexistas ocorrem desde a infância e estendem-se ao longo da vida, com uma série de comportamentos
predefinidos que obrigam, tanto a mulher quanto o homem, a uma luta constante pela libertação.

Os meios de comunicação veiculam constantemente esses estereótipos sexistas, colocando a mulher como a dona de
casa, em posições subalternas ou objeto de prazer, enquanto o homem aparece ocupando papéis importantes no trabalho
e no corpo social.

Género e enfermagem
A enfermagem e a figura da cuidadora: desde a Idade Moderna.
Na enfermagem: exemplos de estereótipos que retratam o que se espera de uma enfermeira:
- Deve ser bondosa, dedicada, carinhosa, altruísta, obediente... atributos que eram almejados pelos pais, maridos, patrões
ou qualquer outra pessoa que convivesse com a mulher.
A hipótese de que a mulher atual faz a escolha profissional reflete a sua socialização para exercer os papéis femininos,
como no caso do exercício da enfermagem. Estes papéis apresentam-se como estereótipos comportamentais de ser
mulher e de ser enfermeira.
Estereótipos sexistas interiorizados desde a infância determinam tanto a escolha profissional feminina como a sua
subordinação aos colegas do sexo masculino, principalmente em posições de chefia.
O agir das enfermeiras reflete a socialização destas para exercer os papéis tradicionais femininos em simbiose com o
exercício profissional.

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