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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO”

FACULDADE DE CIÊNCIAS E LETRAS


CÂMPUS DE ARARAQUARA

PEDRO CAIQUE RODRIGUES ——— 1º ANO DIURNO


INTRODUÇÃO À ECONOMIA
CIÊNCIAS SOCIAIS
FICHAMENTO

E. K. HUNT & HOWARD J. SHERMAN


HISTÓRIA DO PENSAMENTO ECONÔMICO

ARARAQUARA 2013
HUNT, E. K.; SHERMAN, J. S. 'História do pensamento econômico'. 2. ed. Petrópolis: Vozes.
1977.
HISTÓRIA DO PENSAMENTO ECONÔMICO

CAPÍTULO I: A IDEOLOGIA DA EUROPA PRÉ-CAPITALISTA

Para Hunt e Sherman o homem, que vive em sociedade depende para sua sobrevivência do
uso de recursos materiais. Ele terá que trabalhar em grupo, distribuir as tarefas. Com a acumulação
de novas ferramentas e novos instrumentos foram desenvolvendo suas formas de satisfazer as
necessidades.
Para manter uma coesão e que se possa validar a própria sociedade é implementado a
ideologia, como deixam claro os autores:

“Empregamos o termo ideologia neste livro com referência às ideias e crenças que tendem a
justificar moralmente as relações sociais e econômicas que caracterizam determinada sociedade.
A maioria dos membros de uma sociedade internaliza a ideologia e passa, dessa forma, a
acreditar na validade moral da distribuição de papéis funcionais e na justeza do modo pelo qual
a sociedade reparte seu produto. Essa crença comum assegura a coesão e a viabilidade da
sociedade. Quando ela se desfaz, surgem as agitações e os conflitos, culminando em revoluções
se as divergências forem suficientemente profundas.” (p. 10)

Hunt e Serman ao falar de como se chegou ao capitalismo foram analisando a História da


Europa pré-capitalista. Na Grécia e Roma antiga, havia em escravos cerca de 80% da população.
Eram eles que executavam todo o trabalho manual e recebiam em troca comida e roupa. Os
filósofos até justificavam a escravidão, era a ideologia dominante da época. Na era medieval vale-se
dos costumes e tradições. Hierarquia, feudos, obrigações morais. O senhor feudal dependia de seus
servos:

“O senhor vivia à custa do trabalho dos servos que cultivavam seus campos e pagavam tributos
em espécie de ou em dinheiro, conforme o costume do feudo. Em contrapartida, o senhor os
protegia, supervisionava o seu trabalho e administrava a justiça, também de acordo com os
costumes do feudo. (…).” (p. 12)

Dentro do feudalismo a ideologia dominante era a ética paternalista cristã, ela justificava todo
código ético e moral:

“(…) A ideologia que proporcionou o cimento moral capaz de manter coesa a Europa feudal e
proteger seus governantes foi a versão medieval da tradição judeu-cristã, de onde se originou
um código moral denominado, por vezes, ética de corporação cristã, o que se deve ao fato de
que a sociedade era encarada como uma única entidade ou corporação. (…).” (p. 15)

Características como o egoísmo humano, sua avareza, ou qualquer motivação material na


vida do indivíduo eram malvistas e altamente condenadas.

“A ética paternalista cristã condenava com severidade a cobiça e a acumulação de riquezas. A


doutrina do justo preço servia como freio a esta atitude gananciosa e socialmente perigosa.
Como nos dias de hoje, naqueles tempos, a acumulação de riquezas materiais implicava a
acumulação de poder e facilitava a mobilidade social ascendente que teria, por fim, efeitos
profundamente destrutivos para o sistema medieval, na medida em que acabaria dissolvendo as
relações de status que formavam a espinha dorsal da sociedade feudal.” (p. 19-20)

Então para o sistema capitalista sobreviver era necessário uma mudança radical ou o fim da
ética paternalista cristã, afinal seus valores rejeitavam a acumulação de riqueza, só a partir dessa
mudança é que o sistema capitalista poderia ser, dentro do sistema moral, aceito.
CAPÍTULO II: A TRANSIÇÃO PARA O CAPITALISMO E A ELABORAÇÃO DO
PENSAMENTO MERCANTILISTA

Uma das mudanças mais importantes do surgimento do capitalismo foram o aperfeiçoamento


da tecnologia, primeiramente no campo, onde houve crescimento na produção. Com isso no século
XIII o custo de transporte de produtos agrícolas sofreu barateamento devido às novas tecnologias,
como o uso da carroça de quatro rodas. Essas mudanças causaram de primeiro momento o
crescimento populacional e, junco com esta, o crescimento dos centros urbanos. Crescendo, assim a
produção manufatureira:

“O crescimento dos centros urbanos trouxe consigo uma especialização cada vez maior entre a
cidade e o campo. Com a ampliação do contingente de trabalhadores que emigravam para as
cidades e rompiam seus vínculos com a terra, a produção de bens manufaturados cresceu
consideravelmente. O desenvolvimento da produção manufatureira, da especialização
econômica e da produtividade do trabalho contribuiu para o desenvolvimento do comércio inter-
regional e de longa distância.” (p. 25)

As mudanças geradas divido à submissão dos centros urbanos à dominação dos mercadores
capitalistas diluíram a tradição feudal, sua estrutura social e econômica. No século XI as cruzadas
impulsionaram à expansão do comércio. Daí o crescente comércio com árabes e vikings necessitou
de maior produção de mercadorias para a exportação. Grandes feiras floresceram a partir do século
XII:
“No século XV, os locais onde se reuniam as feiras começavam a se transformar em prósperas
cidades comerciais, cujos mercados funcionavam durante todo o ano. A atividade comercial
desenvolvida por essas cidades era incompatível com as restrições impostas pelos costumes e
tradições feudais. A maior parte das cidades conseguiu, após intensas lutas, libertar-se da tutela
dos senhores feudais e da Igreja. Nos centros comerciais realizavam-se operações financeiras:
de câmbio, de liquidação de dívidas e de crédito. Tornou-se corrente o uso das letras de câmbio
e de outros instrumentos financeiros modernos. (…).” (p. 27)

A produção para exportação do tipo artesanal então fora substituída pela manufatura
doméstica (putting-out-sistem). Num momento posterior o mercador-capitalista era o proprietário
dos meios de produção e do prédio onde se produzia. Paga aos trabalhadores salário e se apropriava
do produto finalizado. Agora, em oposição à manufatura doméstico, o trabalhador não vende o
produto, mas sua força de trabalho. Desde então a busca tornou-se efetivamente pelo lucro, as
tradições foram sendo esquecidas:

“O capitalismo tornou-se o sistema dominante quando as relações existentes entre os capitalistas


e os trabalhadores nas indústrias de exportação do século XVI invadiram as demais linhas de
produção. A expansão do sistema exigia a eliminação da auto-suficiência econômica do feudo
bem como a dos costumes e tradições senhoriais. Foi necessário converter a agricultura numa
empresa capitalista em que os trabalhadores fossem obrigados a vender sua força de trabalho
para os capitalistas, e esses a comprá-la, quando pudessem obter lucros do processo.” (p. 28)

Para consolidar o capitalismo foi necessário então desapropriar o feudo, que nada mais era
que a base do feudalismo. Logo os camponeses passaram a trocar o excedente por dinheiro. Em
seguida substituiu as prestações de trabalho exigidas do servo por renda em dinheiro. O que
possibilitou a se aproximarem do que seria um empresário:

“Arrendavam terras do senhor e, com a venda do produto, pagavam a renda da terra e ainda
conservavam parte do excedente. (…) O efeito cumulativo deste processo solapou, pouco a
pouco, os vínculos tradicionais do feudo, instaurando, em seu lugar, as relações de mercado e a
busca de lucros como princípios organizadores da produção. Em meados do século XIV, em
muitas partes da Europa, as rendas em dinheiro excediam o valor das prestações de trabalho.”
(p. 30)
A nobreza feudal passou a cercar terras para a criação de ovelhas, já que necessitava de
dinheiro e pretendia atender a demanda de lã das indústrias têxteis que dominavam o capitalismo na
Inglaterra. Junto com os cercamentos crescia o contingente populacional, o que então caracterizava
um novo momento, onde muitas pessoas não possuíam meios de produção, apenas poderiam vender
sua força de trabalho.
O Renascimento contribui também para a passagem da tradição feudal para o capitalismo.
Essa movimento intelectual ocorrido no século XVI é responsável pelo progresso científico. Que
inclusive foi essencial para as grandes navegações. O descobrimento da América serviu de fonte de
riqueza como outro e prata e como colônias, assim como a África e a Índia. A retirada de ouro e
prata levou a Europa a uma grande inflação. O salário real baixou. Os capitalistas foram os grandes
favorecidos, já que puderam acumular capital.
E como Hunt e Sherman apontarão, há um início na acumulação de capital, ou seja
acumulação primitiva: “As quatro principais fontes de acumulação de capital foram: (1) o rápido
crescimento do volume do intercâmbio e do comércio de mercadorias; (2) o sistema de produção
manufatureiro; (3) o regime de enclousure dos campos, e (4) a grande inflação de preços.” (p. 34).
Quando se deu conta burguesia (classe capitalista) era a dominante. A prova disso foram a
formação dos Estados absolutos. Onde o monarca contava com o apoio da burguesia, e esta com o a
unificação do Estado para consolidar mercador e ser protegida militarmente. Essa fase de início do
capitalismo por muitos é chamada de mercantilismo. Após um tempo os Estados formados e
dominantes na era mercantilista buscavam também uma balança comercial favorável. “(…) Manter
uma balança comercial favorável significava enriquecer o tesouro do país. Ainda que neste
processo, fossem inevitáveis certos pagamentos em outro e prata, para o exterior, o ingresso de
metais preciosos fatalmente superaria a saída desses metais.” (p. 37). Os países criaram monopólio
das mercadorias, legislação que regulamentasse exportação e importação além de várias medidas
que tiveram por norte desestimular a importação. Era visível que o Estado defendia os interesses da
burguesia.
“As políticas mercantilistas aplicadas nos estágios iniciais do capitalismo ocasionaram ampla
intervenção governamental nos processos de mercado, sobretudo nos processos relacionados
com o comércio internacional. Tais políticas tinham por objetivo, de um modo geral, assegurar
elevados lucros para as grandes companhias de comércio, ampliar as fontes de renda dos
governos nacionais e, numa perspectiva mais ampla, atrais o máximo de metais preciosos para o
país.” (p. 40)
CAPÍTULO III: O CONFLITO LATENTE NO PENSAMENTO MERCANTILISTA

Indicava-se o início das políticas mercantilistas quando Eduardo I expulsou as empresas


estrangeiras estabelecidas na Inglaterra, estabeleceu comércios com outras nações e regulamentou o
comércio interno. Os reis sucessores deram continuidade. No reinado de Henrique VIII foi a cisão
do Estado inglês com a Igreja católica. O Estado, então divinizado, assumia o papel da igreja,
visando estimular o comércio do país tinham a ideia de que acabaria com o problema do
desemprego.
Devido ao grave problema do grande número de pobres e mendigos foram promulgadas tanto
em 1531 quanto em 1536, a chamada lei dos pobres. Visando dar o direito de mendigar aos pobres
inválidos e por meio da ajuda das paróquias locais cuidar dos pobres através de doação voluntária.
O que foi um fracasso.

“Do que foi analisado até aqui, conclui-se o mercantilismo inglês, à luz da ética paternalista
cristã, elevou à condição de princípio a ideia de que 'o Estado tinha a obrigação de servir a
sociedade, assumindo a responsabilidade de zelar pelo bem-estar geral da população.' As
diversas leis promulgadas nesse período 'fundamentavam-se na noção de que a de que a
pobreza, ao invés de ser encarada como um pecado pessoal, constituía uma função do sistema
econômico'. Admitia-se que as vítimas das deficiências do sistema econômico deveriam ser
socorridas pelos beneficiários desse sistema.” (p. 46)

Após a Revolução Gloriosa (1688) surge o individualismo, enterrando assim a ética


paternalista cristã. Agora “as motivações egoístas e interesseiras constituíam a razão de ser básica,
senão única, das ações realizadas pelos homens” (p. 47). Muitos pensadores sustentaram essa ideia.
Os capitalistas que se sentiam abafados pelo Estado abraçaram essa ideia. As teorias individualistas
deram base para o liberalismo clássico. Era exaltado, mesmo vivendo em sociedade, o indivíduo.
Inclusive a teologia protestante surge exacerbando esse individualismo. Os interesses e
egoísmo, que antes pecados, tornaram-se qualidades. Não mais as benfeitorias de um homem o
levam ao céu, e sim a fé. “Segundo o novo dogma, radicalmente diferente das doutrinas medievais,
a melhor forma de o indivíduo satisfazer a Deus era exercer com zelo sua missão na terra. A
diligência e a dedicação ao trabalho passaram a ser consideradas como grandes virtudes.” (p. 49).
Já em meados do século XVII basicamente a grande maioria dos pensadores mercantilistas
condenavam a interferência estatal no mercado. Como, segundo esses pensadores, o homem sempre
iria atrás de seus interesses próprios seria desnecessário um Estado interferindo no mercado, era
preciso os homens concorrendo entre si livremente.
“O princípio do lucro só seria viável em uma sociedade que protegesse os direitos de
propriedade e zelasse pelo cumprimento dos compromissos contratuais, de caráter impessoal,
estabelecidos entre indivíduos. A nova ideologia que se firmou no final do século XVII e no
século XVIII justificava as motivações e as relações estabelecidas entre os indivíduos. (…).” (p.
52)
CAPÍTULO IV: O LIBERALISMO CLÁSSICO E O TRIUNFO DO CAPITALISMO
INDUSTRIAL

No século XVIII a Inglaterra era uma potência, com o mercado superior aos outros países. O
paternalismo cristão já havia sido superado. A produção da manufatura aumentava e junto com ela
os lucros. Estava tudo caminhando para a Revolução Industrial.

“(...) O interesse em ampliar a margem de lucros combinados com o crescimento da exportação


de produtos manufaturados provocou uma verdadeira explosão de inovações, tecnológicas no
final do século XVIII e no princípio do século XIX, inovações essas que transformam
radicalmente a face da Inglaterra e, posteriormente, de grande parte do mundo.” (p. 54)

Primeiramente a indústria têxtil era o setor que estimulou, devido à grande demanda, a
mecanização da indústria. Assim a siderúrgica passou também a ser importante, para a criação de
máquinas para a indústria têxtil. Com a extração do coque do carvão mineral passou a existir uma
grande produção da siderúrgica, estimulando e difundido as máquinas fabricadas com ferro. Nos
outros setores a percepção de maiores lucros e menores gastos foi tentador. O maior símbolo dessa
era foi, sem dúvidas, a máquina a vapor. Com esta há enfim a produção numa gigante escala. Os
centros urbanos manufatureiros cresceram mais ainda.
É inclusive durante a Revolução Industrial que se firma o liberalismo clássico como
ideologia dominante. “O credo psicológico dos ideólogos do liberalismo clássico baseava-se em
quatro pressupostos sobre a natureza humana. Todo homem, diziam eles, é egoísta, frio e calculista,
essencialmente inerte e atomista.” (p. 57). Para os liberais clássicos os grupos nada mais eram do
que a soma de indivíduos.
A base da doutrina econômica do liberalismo clássico era a divisão do trabalho. Que tem
como resultado uma maior produtividade, do contrário seria desperdício. Dentro do trabalho era
bem visto a ideia de competição, para assim o trabalho do indivíduo render mais em produção. É o
interesse próprio que levará os homens a aprimoramento de seu trabalho e, portanto, do resultado
deste.
“(…) Além disso, o mercado levaria os produtores a aprimorar constantemente a qualidade de
seus produtos a organizar a produção da forma mais eficiente e menos dispendiosa possível.
Todas essas ações benéficas seriam a decorrência direta da concorrência entre homens egoístas,
cada qual agindo em seu próprio interesse.” (p. 61)

Para Adam Smith, o mercado era a “mão invisível” que levaria, devido aos interesses dos
homens, a sociedade o seu bem-estar. Seu pensamento era o oposto da ética paternalista cristã. O
mercado livre garantiria “a utilização mais valiosa das energias e dos recursos produtivos” (p. 62), o
que resultaria num progresso sempre contínuo. A prosperidade econômica dependeria da capacidade
produtiva, esta da acumulação capital e divisão do trabalho. Mas qual seria a forma de acumular
capital? Seriam eles os lucros conseguidos através da produção. Se a procura se mantivesse alta, os
capitalistas continuariam produzindo para expandir seu capital. O que resultaria numa maior e mais
complexa divisão do trabalho. Esta divisão levaria a índices mais altos de produtividade, o que
renderia salários mais altos, maiores lucros, maior acumulação de capital. Um infindável progresso
social.
Dentro da doutrina liberal clássica encontramos a teoria populacional de Malthus. Segundo
este a maior parte dos homens eram movidos por desejo sexual. O que fazia a população crescer
numa progressão geométrica. Já os alimentos seriam gerados em progressão aritmética. Ora, assim
faltaria alimentos para todos. Ele irá propor que há dois métodos de controlar a população: o modo
preventivo e o positivo. Sendo o primeiro o controle da natalidade e o segundo, pela mortalidade,
onde age fome e inanição. Para Malthus as massas eram incapazes de seguir as ordens morais, o que
a sempre deixaria em situação de subsistência. E mesmo que as riquezas fossem distribuídas elas
fariam mal uso e voltariam ao estado de pobreza.
Hunt e Sherman chegam então a concluir:
“É obvio que a teoria populacional de Malthus e as teorias econômicas liberais, conduziam a
uma mesma conclusão: os governos paternalistas intervir na economia. Ainda hoje, muitos
defendem as ideias de Malthus, insistindo em que a pobreza é culpa dos pobres, que têm filhos
em quantidade excessiva, e em que nada se pode fazer para exterminá-la.”

Para os liberais clássicos, como expõem Adam Smith o Estado têm apenas três funções, sendo
elas a segurança do país em relação aos estrangeiros, proteger os cidadãos das injustiças dos outros
cidadãos, e construir e manter as instituições e obras públicas. Porém, na realidade essas funções do
Estado serviram para a manutenção da ordem, proteção das relações de propriedade privada. O bom
funcionalismo do capitalismo também dependia do bom funcionamento dos contratos. E as
instituições construídas pelo Estado na verdade serviram para fomentar a produção e operações
comerciais.

“Do que foi dito acima, conclui-se que a filosofia liberal clássica do laissez-faire condenava a
interferência governamental nos assuntos econômicos somente quando esta interferência
prejudicava os interesses dos capitalistas. Por outro lado, acolhiam com satisfação e até mesmo
reivindicavam, interferências paternalistas, nos assuntos econômicos, que estabilizassem e
ampliassem as possibilidades de lucro.” (p. 68)

Então, tem-se entre o final do século XVIII e o início do século XIX a vitória do pensamento
liberal clássico. Que deu as bases filosóficas para o capitalismo industrial. Ideologia propícia para o
desenvolvimento das fábricas. E foram essas condições que encontrou a chamada Revolução
Industrial.
CAPÍTULO V: AS DOUTRINAS SOCIALISTAS E A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL

O custo social da aquisição de bens de capital foi alto. O que evidenciou as contradições
sociais. Afinal a grande massa foi privada desses bens. No pós-Revolução Industrial Os
trabalhadores viviam em condições muito precárias, basicamente numa situação de subsistência. E
justamente no momento em que os pobres se encontram pagando os custos sociais nas piores
condições, para a classe média sobrava dinheiro que era investido em novas construções como
ferrovias ou gasto na compra de mobílias.
Entre o empregador e o trabalhador agora só restava a relação monetária. Aos trabalhadores
só restou vender a sua força de trabalho, já que se encontrava privado das forças de trabalho. Abre
espaço para a era da tirania do relógio. O ritmo do trabalho era comandado pela máquina. Agora
esta dominava o homem. Logo era comum a contratação de mulheres e crianças, recebendo, é claro,
um salário menor que o dos homens. Mas era uma questão de sobrevivência. A mulher era tida
como mais fácil para a obediência, o que explica a disseminação da ideologia que pregava que uma
boa qualidade da mulher era ser submissa.
Com o aumento da população urbana, que seguiu unida à industrialização, também piorou as
condições de vida nas cidades. “A violenta destruição do modo de vida tradicional dos
trabalhadores, a dura disciplina implantada sob o novo sistema fabril combinada às condições
deploráveis de vida nas cidades geraram muita inquietação política, econômica e social” (p. 75).
Então os operários procuraram se organizar. Assim as organizações sindicais proliferaram
rapidamente na década de 1790. O medo do poder da classe trabalhadora unida, evidenciado pela
Revolução Francesa, fez com que 1799 fosse declara ilegal qualquer tipo de associação de
trabalhadores que tivesse como propósito o aumento de salários ou a limitação da liberdade dos
empregadores.
Para os liberais outra briga era a da assistência aos pobres. Para eles os pobres deveriam
aceitar qualquer emprego que fosse oferecido. Do contrário só merecia receber auxílio para não
morrer de fome, assim essa ajuda deveria ser bem menor do que o salário, fazendo assim com que
as pessoas procurassem melhores empregos.
A ideologia paternalista cristão, porém, não tinha sido totalmente esquecida. Havia os
conservadores radicias, tóris, que pensavam que as classes superiores deveriam proteger os pobres.
Diziam eles que a classe média avarenta era a culpada pelos males do capitalismo. Que os
capitalistas deveriam agir como cavalheiros. Essas ideias foram praticadas por alguns capitalistas
humanos em seus empreendimentos industriais. Todavia, também visavam, mesmo que
inconscientemente, maximizar seus lucros.
Então ficava visível na sociedade, além da miséria social, a divisão em classes, ainda tão
antagônicas quanto as anteriores foram.

“Surgiram, então, em cena as doutrinas socialistas contestando as desigualdades e as injustiças


sociais geradas pelo capitalismo. Na opinião dos socialistas — dos precursores aos
contemporâneos — as desigualdades são resultado inevitável da instituição da propriedade
privada dos meios de produção. Consequentemente, lutar pela justiça social significa lutar pela
abolição da propriedade privada do capital.” (p. 81)

A doutrina socialista era a junção da noção liberal de igualdade e do paternalismo cristão de


ajuda mútua entre os irmãos. Então nascia uma ética utópica nova, que deu elementos para a
sociedade então existente. Nessa sociedade “homens e mulheres seriam tratadas com dignidade, e
em que os frutos da produção seriam repartidos equitativamente” (p. 89)
CAPÍTULO VI: AS DOUTRINAS SOCIALISTAS: A TEORIA ECONÔMICA DE MARX

“Karl Marx (1818-1883) foi o mais influente de todos os socialistas. Suas obras exerceram, e
exercem ainda profundo impacto não apenas sobre o pensamento socialista, como também sobre
as decisões de natureza política que regem os destinos de uma grande parcela da humanidade.
(…)Marx foi o líder intelectual na concepção da nova economia política.” (p. 91)

Aos socialistas do final do século XVIII e início do século XIX, Karl Marx os denominava,
mesmo tendo o inspirado, como “socialistas utópicos”. Para Marx eles não se constituíam como
força para acabar com o sistema capitalista, e não tinha uma fé cega na humanidade dos homens. As
contradições internas do sistema o levaria a seu fim.
Seus estudos de maneira em considerar a história na explicação dos sistemas sociais
denomina-se materialismo histórico. Afirmava que a economia era a mais forte influência sobre as
instituições sociais e as formas de pensamento. O modo de produção era composto, segundo Marx,
em forças produtivas — ferramentas, fábricas, equipamentos, habilidades e conhecimentos — e
relações de produção — relações sociais que os homens mantêm entre si, mais exatamente a relação
de propriedade e repartição do produto do trabalho. Para Marx o sistema econômico era
denominado infraestrutura. “As religiões, a ética, as leis, os costumes e as instituições sociais
compunham a superestrutura” (p. 92).
Eram as contradições de classe, que na visão de Marx, que era a força principal da história.
Embebido no evolucionismo identificou as quatro etapas da evolução da civilização europeia, sendo
elas o comunismo primitivo, o escravismo, o feudalismo e, por fim, o capitalismo.

“(…) Contudo, o capitalismo, assegurava Marx, seria o último modo de produção baseado na
existência de antagonismos de classe. A classe capitalista (…) seria derrubada pelo proletariado,
isto é, a classe operária, que instauraria uma sociedade sem classes, na qual os meios de
produção seriam convertidos em propriedade de todos. (…).” (p. 94)

O que diferenciava o capitalismo dos meios de produção eram a segregação entre os


proprietários e os não proprietários — trabalhadores —, e o marcado infiltrado nas relações
pessoais. Segundo Marx a diferença entre um homem e um animal estava em seu trabalho, afinal os
homens criavam as suas ferramentas, com elas modificava o meio. Porém no capitalismo o trabalho
será tratado como mera mercadoria, o produto que o trabalhador vende.
Em Marx o trabalho, no modo de produção capitalista, será externo ao trabalhador, é fora de
quem ele é. É um trabalho forçado. A tal ponto que, quando não há coação, foge do trabalho. Enfim,
o resultado de seu trabalho pertence a outro, assim o trabalhador não é nem dono de si mesmo, mas
pertence a outro. É a transformação do homem em um animal, já que lhe foi tirado a única que o
diferencia deste.

“Foram essas as questões que Marx denunciou com mais veemência em sua crítica ao sistema
capitalista: a completa degradação e desumanização da classe operária, a deformação do
desenvolvimento da personalidade do homem e a transformação das atividades necessárias para
a sua sobrevivência em mercadorias submetidas às leis hostis do mercado. (…).” (p. 97)

Marx inicia sua análise do capitalismo através das relações entre capital e trabalho. Sendo
que capital e trabalham tinham uma relação de troca. Então Marx define como mercadoria os
objetos que estão em troca, oposto aos de uso pessoal. E o valor de troca foi definido de acordo com
o tempo de trabalho (teoria objetiva do valor ou teoria do valor-trabalho). É claro que o trabalho
exercido numa mercadoria sem procura não teria valor algum. O preço vendido pela mercadoria era
sempre maior que o investido. O que fazia com que os capitalistas ficasse com esse lucro, ou, a
chamada mais-valia.

“A formação da mais-valia devia-se ao fato de que os capitalistas adquiriam uma mercadoria —


a força de trabalho — e vendiam uma mercadoria diferente: aquela produzida com a força de
trabalho no decorrer do processo de produção. O valor da força de trabalho era inferior ao valor
das mercadorias produzidas com o emprego dela: tal diferença explicava a existência do lucro.
(…) Contudo, a duração média da jornada de trabalho excedia o tempo necessário para que o
trabalhador produzisse o valor equivalente ao seu salário de subsistência: o excedente, tudo o
que fosse produzido daí por diante, era apropriado pelo capitalista. Marx chamou esse processo
de a exploração dos trabalhadores pelos capitalistas.” (p. 98)

Assim se percebe que o capitalista só obtém lucros por ser proprietário do capital. Ele o
investe e assim consegue mais lucros. A acumulação primitiva desse capital seria através da
conquista, escravização, roubo, assassinato, etc, ou seja, pela violência. Daí em diante segui-se a
sede de acumular mais capital. Matriz energética do sistema capitalista de produção.
Essa acumulação do capital e sua necessidade dentro do sistema ao qual está inserido vai
criar as contradições desse sistema. Com o excesso da mão de obra os salários eram mais baixos.
Porém conforme as indústrias foram se expandindo a procura por mão de obra diminuíra o número
de trabalhadores reservas. Assim os salários tendiam a ser mais altos. Então se introduz a máquina
para poupar mão de obra.
Contudo a produção já não crescia na mesma proporção que os salários dos trabalhadores.
Assim os bens não eram todos vendidos. Um alarme para uma possível crise.

“A diminuição da produção de bens de capital obrigaria as indústrias desse setor a despedirem


trabalhadores, provocando queda do valor global dos salários, o declínio da renda nacional e a
retratação do mercado consumidor. Em consequência disso, haveria um corte nas indústrias
desse setor. Os salários e as rendas declinariam ainda mais, agravando a saturação ou o excesso
de bens de consumo no mercado. As sucessivas repercussões em ambos os setores culminaram
em um colapso econômico.” (p. 101)

Os salários diminuiriam, porém a produção diminuiria mais ainda. O que levaria a uma certa
estabilidade.
Marx analisou a concentração de riqueza e poder. Sendo que na disputa entre os capitalistas
muitos pequenos capitalistas saem perdendo. Com o aumento da produtividade e o uso das
máquinas é necessário um número maior de investimento de capital, limitando muitos capitalistas.
Gerando assim a concentração maior do capital.
Aliada à concentração de capital encontra-se a precarização das condições de vida do
proletariado. E só pioraria, segundo Marx, até o momento em que os trabalhadores se colocarem
contra essa condição que lhe foi imposta.
Para Marx o Estado era representante das classes dominantes, já que sempre age na
manutenção delas no poder, e também por elas ocuparem o poder. Prova disso é que defende o
direito de propriedade. É o árbitro das questões dos capitalistas. Assim, para que venha o socialismo
seria necessário a revolução. Então com a deterioração da classe trabalhadora a situação de vida
tornar-se-ia insuportável, é aí que os trabalhadores se levantariam para a revolução socialista.
CAPÍTULO VII: A FORMAÇÃO DO CAPITALISMO CORPORATIVO E A DEFESA DO
LAISSEZ-FAIRE

No século XIX a concorrência dentro do livre mercado tornava-se muito agressiva e


destrutiva. As empresas menores não resistiram à concorrência. “Os concorrentes mais poderosos,
em vias de se destruírem uns aos outros, frequentemente optavam por se associar, formando cartéis,
trustes ou fundindo-se para assegurar a sua sobrevivência” (p. 108). No final do século XIX essas
grandes corporações produziam basicamente para todo o mundo capitalista. Na Inglaterra devido a
filosofia liberal clássica estar mais sólida foi o país menos atingido pelas corporações monopolistas.
Já na Alemanha e nos Estados a facilidade para instalar essas corporações foi bem maior. De mãos
dadas com a concentração industrial esteve a concentração de renda.
Então por mais que parecesse que a concentração de poder econômico fosse contraditório
com a ideologia liberal clássica, esta não se extinguiu no século XIX, pelo contrário, foi restaurada
pelos chamados economistas neoclássicos.
Jevons, Menger e Walras publicaram na década de 1870 publicaram três obras famosas,
mesmo com suas divergências, tinham semelhanças em relação ao conteúdo e abordagem.

“Os três concebiam uma economia composta por grande número de pequenos produtores e
consumidores, nenhum dos quais, tomando isoladamente, tinha poder suficiente para influenciar
o mercado em escala significativa. As empresas contrataram ou adquiriram fatores de produção,
e utilizavam esses fatore no processo de produção de forma a maximizar seus lucros. Os preços
dos produtos finais e dos fatores de produção escapavam totalmente ao seu controle. As
empresas determinavam unicamente o processo produtivo e a quantidade de bens produzidos.”
(p. 114)

Para os neoclássicos “a fonte última de prazer ou de utilidade que supunham quantificável”


(p. 114) é a mercadoria. Assim segundo os cálculos que tentaram demonstrar o preço das
mercadorias era de acordo com a utilidade que se dava a ela. A linha de pensamento neoclássica via
que a distribuição de riqueza se dava ao fato de serem compradas mercadorias, o que fariam
distribuir sua renda e levando ao bem-estar de todos.
A teoria neoclássica tinha como ideia “que o comportamento da empresa era perfeitamente
simétrico ao comportamento do consumidor” (p. 115). As empresas sempre procurariam maximizar
sua produção, assim maximizando seus lucros.
Os neoclássicos vão desenvolver argumentos em cima de duas ideias de Adam Smith, sendo
elas a mão invisível do mercado e o laissez-faire. A união de produtores e consumidores os
levariam, através do mercado, a otimizarem a produção de mercadorias, para isso a interferência do
governo é desnecessária além do mínimo. Suas preocupações não estavam ligadas a problemas e
instituições reais, estavam ocupados com cálculos e modelos matemáticos.
Então alguns economistas neoclássicos perceberam que teriam que se adequar a realidade, e
economia vigente não era composta de uma “concorrência perfeita”. Havia falhas que deveriam ser
apontadas, como a que vendedores e consumidores tem poder para influenciar nos preços; o que é
para a sociedade não seria lucrativo dentro da livre concorrência — vide escolas, exércitos,
hospitais, ferrovias —; os custos de produção não são sinônimos de custos sociais, tendo muitas
mercadorias custos sociais altíssimos; e o mercado instável, passível a crises que levaria a alto
custos sociais. Para esses neoclássicos a correção para impedir o mal funcionamento do sistema
capitalista era a intervenção governamental. Entre os que acreditavam na interferência do governo
no que fosse para auxiliar a economia ficaram conhecidos como liberais, os opostos a essa
interferência, sendo ela o mais limitado possível, são os conservadores.
Havia também entre os defensores do capitalismo os darwinistas sociais

“Os darwinistas sociais apropriaram-se da teoria de Darwin sobre a evolução das espécies,
transformando-a numa teoria da evolução social (transposição que o próprio Darwin desaprovou
energicamente, diga-se de passagem). A concorrência, segundo eles, constituía um processo
teológico em que cada geração era superior à geração precedente. Este progresso ascensional se
devia à eliminação dos menos aptos para sobreviver, daqueles que eram incapazes de se manter
e se procriar. A capacidade de sobreviver traduzia tanto uma superioridade biológica quanto
moral.” (p. 119)

Hebert Spencer foi o criador dessa teoria. Para ele o modo de vida de uma pessoa era questão
de mérito e adaptação. Ele era contrário a qualquer interferência governamental, já que essa é
contrária ao desenvolvimento do homem. As empresas monopolistas era visto como algo benéfico
da evolução humana.
Já os homens de negócio mal se preocupavam com as teorias. O que lhes afligia eram os
reformadores socialistas e os radicais, que lutavam em busca de promover igualdade social. De uma
forma geral a ideologia dos homens de negócios era a mistura dos neoclássicos com os darwinistas
sociais. Sendo a acumulação de riqueza resultado da superioridade evolutiva.
CAPÍTULO VIII: A CONSOLIDAÇÃO DO PODER MONOPOLISTA E A NOVA ÉTICA
PATERNALISTA CRISTÃ

No final do século XIX era dura a disputa entre as grandes indústrias. O que levou a grande
monopólios e cartéis. Um exemplo claro é a Standard Oil que em 1879 controlava entre 90 e 95%
da produção americana de petróleo refinado. Além do mais os empresários basicamente não tinham
essência moral alguma. “Para eliminar seus concorrentes, não hesitavam em contratar assassinos
profissionais, recorrer a sequestros e utilizar dinamite. Tampouco hesitavam em lesar o público em
milhões de dólares através de manobras e operações fraudulentas na bolsa” (p. 125). De qualquer
forma, por que seguir os preceitos morais, tinham o poder.
Após 1880, quando as empresas sobreviventes eram as grandes que detinham monopólios,
perceberam que já não podiam competir uma com a outra da mesma forma que com as pequenas
empresas. Daí tirar proveito no conluio e na cooperação. Isso levou a um descontentamento
populacional, como se evidenciou na eleição presidencial americana em 1888, onde tanto os
candidatos tiveram que defender leis que impedissem excessos cometidos por essas empresas.
Assim foi criada a Lei Antitruste Sherman, que proibia a tentativa de atrapalhar o mercado entre os
estados e outros países, também impedia a tentativa de monopolizar o mercado. Porém a lei serviu
de fato para repressão contra os sindicatos, já que estes estariam a interferir na liberdade do
mercado. Porém, quando a regulamentação veio para proteger as empresas, já que estas estavam
num embate destrutivo, aí a lei se fez presente.
Mesmo entre tantas contradições os neoclássicos continuaram a defender o livre mercado.
“A ideologia econômica neoclássica, além de ignorar o processo de concentração industrial, tinha
uma percepção distorcida do desempenho da economia” (p. 128).
Devido a essas contradições surge uma nova ideologia, parecida com ética paternalista cristã.
Os empresários e industriais diziam da superioridade de uma elite que deveria zelar pelo povo. Os
magnatas eram como heróis públicos, o modelo a ser seguido. Daí se esforçar para o sucesso, o self-
made-man nasce com força. Esses homens de elite juntos deveriam cooperar, já que a concorrência
era um sinal anti-social.
Até o Papa Leão XIII deu força a essa ideologia

“(…) O papa manifestava a esperança de que os problemas apontados pudessem ser corrigidos
com a supressão da concorrência e a revalorização das virtudes cristãs, como o amor e a
fraternidade. Cabia aos líderes das finanças e da indústria dar o exemplo, praticando o novo
paternalismo cristão, no contexto do sistema capitalista e das relações de propriedade privada.”
(p, 130)

O mais homem mais influente dessa nova ideologia era o Dr. Simon N. Patten, onde através
dessa ideologia “denunciou a miséria e a exploração econômica que via em toda parte” (p. 132).
Para ele a pobreza era resquício de uma era de escassez. Porém a era das corporações era um início
ao fim dessa escassez. E seria a concorrência a responsável pela instabilidade econômica. E o
governo deveria interferir o mínimo possível, apenas para favorecer os trustes e monopólios.
Dois alunos de Patten, Rexford Guy Tugwell e Frances Perkins, na década de 1930 foram
importantes no gabinete de Rosevelt. As ideias do professor contribuíram para a formação das
políticas da fase do New Deal. Essas ideias ajudaram nas bases da Lei de Recuperação da Indústria
Nacional de 1933. Esta visava o incentivo a corporações entre as empresas. “A lei continha seções
onde eram definidas normas que regulamentavam a justa concorrência, autorizando e mesmo
estimulando a cooperação entre as empresas para fixação de preços e partilha do mercado,
isentando-as totalmente das leis antitruste” (p. 134). O que resultou num apoio governamental ao
fortalecimento das corporações comerciais, que então tinham todo o poder. Todavia, a filosofia do
New Deal não resistiu ao tempo, já não fazia mais sentido devido ao fracasso do autogoverno
empresarial.
CAPÍTULO IX: A PROSPERIDADE ECONÔMICA E O SOCIALISMO EVOLUCIONÁRIO

Na passagem do século XIX para o século XX, as conquistas da classe operária e o


colonialismo europeu dividiu os socialistas. Enquanto uns defendiam a tomado do governo pelos
socialistas, outros pensavam na evolução gradual para o socialismo. Nisso a ala radical, fiel à Marx,
deixava clara que a solução era a revolução.
Houve após meados do século XIX crescimento real dos salários nos países capitalistas. Com
a grande produção as mercadorias ficaram mais baratas. Logo os trabalhadores passaram a consumir
mais. Gerando uma melhora substancial do modo de vida do trabalhador. Mesmo assim 40% da
classe operária de Londres e York se encontrava na miséria.
Com o direito de voto estendido a quase todos os homens, puderam se formar partidos
operários, sendo mais poderoso o Partido Social Democrata Alemão. Seus planos foram criticados
por Marx, que temia que a reforma pudesse atrapalhar a revolução. Depois de disputas internas os
reformistas ficaram no controle do partido. Com o crescimento desse partido Bismarck, o
“Chanceler de Ferro”, o reprimiu incessantemente. Mesmo assim o partido continuou crescendo, até
que as leis antissocialistas fossem revogadas.
Na Inglaterra os Socialistas Fabianos discordavam das teorias de Marx. Eles acreditavam que
o trabalhador recebia o que era de seu merecimento, assim como os capitalistas recebiam de acordo
com o seu investimento. O problema da sociedade capitalistas era a concentração das rendas
derivadas da propriedade. As propriedades deveriam ser transferidas para o governo. Para os
fabianos a democracia parlamentar seria o caminho para o socialismo, já que a maioria das pessoas
eram trabalhadores, assim o Estado se tornaria “uma instituição neutra que poderia ser utilizada
pela maioria para reformar o sistema econômico e social” (p. 140). Para eles as propriedades
deveriam também, além do governo, pertencer as pequenas unidades administrativas, sendo elas
locais ou regionais.
Logo mais os fabianos estavam influenciando no parlamento inglês

“A Sociedade Fabiana conseguiu, as poucos, adquirir influência sobre o Partido Trabalhista. Em


1918, este partido adotou um programa socialista que se inspirava nas posições defendidas pela
Sociedade Fabiana. Na década de 20, o Partido Trabalhista foi chamado a formar um governo. A
causa do socialismo pela via eleitoral parecia a muitos estar às portas do triunfo.” (p. 142)

Na Alemanha um movimento comparável com os fabianos eram os revisionistas. Estes dentro


do PSD viam que era preciso rever as ideias de Marx. Bernsteins, por exemplo, enxergava que o
capitalismo estava longe de um colapso, e mais, nunca antes fora tão viável. Com a melhoria na
qualidade de vida dos trabalhadores unida a democracia, a revolução parecia distante. Bernsteins
propôs no lugar da revolução uma “evolução pacífica”. Também desconstruiu a ideia de classes
polarizadas, afirmando haver várias classes, assim múltiplos interesses. Também vai propor que a
ideologia e a ética ficam com o tempo mais fortes que a economia. A “mais-valia”, também foi
revista, sendo que esta apenas deve ser pensada diante a sociedade como um todo. Assim o
socialismo deveria ter bases éticas, não as científicas propostas por Marx. E o Estado agora era
diferente do conhecido por Marx, afinal o sufrágio universal mudava a situação dos trabalhadores.

“Tal como os fabianos, Bernstein rejeitava a noção de que o caráter de classe fosse inerente aos
governos das sociedades capitalistas. A democracia capitalista igualava trabalhadores e
capitalistas, conferindo-lhes os mesmos direitos e convertendo-os em parceiros. Nessas
condições, poderiam ser induzidos, por apelos morais, a promover por meios pacíficos os
interesses gerais de toda a comunidade.” (p. 145)

Quando se chega na década de 1950 os partidos trabalhistas abandonam a luta que frisava
“pela propriedade social dos meios de produção, distribuição e troca” (p. 146). Agora estavam
satisfeitos com leis liberais e a melhoria da vida dos trabalhadores. Se contentaram com essas ideias
para que se tivesse um sistema justo e bom para todos.
CAPÍTULO X: IMPERIALISMO E SOCIALISMO REVOLUCIONÁRIO

Um outro desentendimento entre os socialistas foi a questão do imperialismo. A Índia foi um


dos primeiros países a cair nas garras do imperialismo europeu. Com a conquista de Bengala
estabeleceu-se 150 anos de exploração. “A política adotada pele Companhia das Índias Orientais
nas últimas décadas do século XIX e na primeira metade do século XX de funcionários gananciosos
que para lá se deslocavam com a intenção de fazer fortuna do dia para a noite” (p. 150). A ideia erra
que a Índia passasse a ser um país fonte de matéria-prima que abasteceria a indústria britânica,
principalmente a manufatura têxtil. O que causou a destruição do desenvolvimento industrial
indiano além de uma vida miserável para esse povo.
Após 1875 houve grande incorporação de colônias por parte da Grã-Bretanha, França,
Alemanha, Bélgica, Rússia, Itália e Estados Unidos. Basicamente um quarto da população mundial
estava submetida ao colonialismo europeu e norte-americano.
No século a colonização da África deixou de se limitar ao litoral, agora ocupava cerca de
93% do continente. “Esse estupro de proporções gigantescas foi cometido para satisfazer a cobiça
das potências europeias que disputavam os abundantes recursos minerais e agrícolas do Continente
Negro” (p. 151).
A Inglaterra tomou posso das regiões com mais recursos minerais e maior contigentes
populacionais do continente. Sendo que como herança os ingleses junto aos holandeses deixaram a
descriminação para com os negros, sendo estes a maioria da população.
Na Ásia os indianos sofreram consequências desastrosas, a maioria da população estava em
estado de subnutrição. As manufaturas foram ou tomadas ou arruinadas. O que produziam em
grande parte foi apropriado e passou a fazer parte dos lucros britânicos. Em 1878 os britânicos
uniram o Afeganistão à Índia, em 1907 dividiram a Pérsia com a Rússia. Em 1858 a França tomou
uma parte da China, que atualmente pertence ao Vietnã, e em 1875 tinha como colônia todo o
território da Indochina. Além de Cingapura e dos Estados Malaios, os britânicos colonizaram parte
da ilha de Bornéu e da Nova Guiné. A Alemanha ficou a parte norte da ilha da Nova Guiné. E as
outras ilhas ficou a cargo da Holanda.
Os norte-americanos, no século XIX, se preocuparam com a conquista interna do continente,
assim exterminando a população indígena. Sendo a sua primeira conquista ultramarina as Ilhas
Samoa. Em 1889 os americanos dividiram as ilhas Pago-Pago com os alemães. Depois foi o Havaí.
Depois de colonizado em 1898 o Havaí foi anexado como o 50º estado americano. Nesse mesmo
ano os Estados Unidos entraram em guerra com a Espanha, vitoriosos anexaram Porto Rico, Guam
e as Filipinas. Cuba independente na teoria, na prática tornou-se então uma colônia americana.

“(…) A independência de Cuba foi condicionada a uma cláusula que assegurava aos Estados
Unidos o direito de intervirem nos assuntos internos do país sempre que julgasse necessário, a
pretexto de “proteger a vida, a propriedade e a liberdade individual”, fórmula que tem sido
usada com frequência para justificar o expansionismo imperialista. As tropas norte-americanas
invadiram Cuba em 1906, 1911 e em 1917, antes que o seu domínio fosse definitivamente
consolidado.” (p. 154)

Após a recusa da Colômbia de vender uma faixa de terra aos Estados Unidos para ser
construído um canal (o canal do Panamá) em 1901, os americanos incentivaram uma rebelião.
Então em 1903 foi instalada uma nova nação. Agora a Zona do Canal foi obtida com facilidade e
mais vantajosamente do que anteriormente proposto. Em seguida tomaram conta da Nicarágua,
Haiti e Republica Dominicana.
Voltando aos socialistas, muitos deles foram influenciados por ideias como as de J. A.
Hobson

“Hobson definiu o imperialismo como a luta pela dominação política e econômica de regiões
povoadas por “raças inferiores”. Seu “alicerce econômico” consistia na necessidade que tinham
os países capitalistas avançados de encontrar mercados para os bens e os capitais produzidos
internamente, devido à insuficiência da demanda interna. Evocando tradições militaristas e
nacionalistas, o imperialismo “reaviva a cobiça de riquezas materiais e a ânsia de dominação
que sobrevive em estado latente numa nação desde os tempos imemoriais da luta animal pela
sobrevivência”.” (p. 156)

O que resolveria o problema dos países capitalistas seria a distribuição de renda, já que assim
o consumo interno pudesse ser maior.
Na Sociedade Fabiana a maioria dos membros, mesmo que com grande oposição interna, se
colocaram a favor do imperialismo ou de ignorá-lo. O que causou a renúncia de alguns membros.
Na Alemanha também, os revisionistas em sua maior parte apoiou o imperialismo. Em
compensação os marxistas ortodoxos se manifestaram unanimemente contra o imperialismo, sendo
este um sinal de desespero dos capitalistas.

 O Imperialismo Segundo Rosa Luxemburg


Um dos nomes mais importantes do marxismo ortodoxo é Rosa Luxemburg. Tendo iniciado
seus estudos na revisão do processo de produção capitalista de Marx, “processo este em que o
capitalista começava com uma determinada quantia de dinheiro, adquiria uma mercadoria — a força
de trabalho — e, no final, vendia uma mercadoria diferente — a mercadoria produzida pelo
trabalhador no decorrer do processo de produção” (p. 158). Daí decorria a tão comentada mais-
valia.
A compra das mercadorias seria feita pelos trabalhadores e outros capitalistas. Rosa
Luxemburg percebeu que os gastos dos capitalistas no consumo era uma parte muito pequena
dentro da mais-valia. Assim os gastos dos trabalhadores e dos capitalistas não eram suficientes para
o ciclo da mais-valia.
Então de onde vinha o capital da expansão do capitalismo? Luxemburg notou que era da
exploração de novas áreas ainda não integradas ao capitalismo. Para ela “o imperialismo é a
expressão política da acumulação de capital, de sua luta para apoderar-se das áreas não capitalistas
ainda disponíveis” (p. 159). Em cima disso Luxemburg demonstrará que o capitalismo traz consigo
o nacionalismo exacerbado, assim como o militarismo e o racismo. As despesas com o militarismo
além de proteger os países imperialistas proporcionava estimulava maior demanda desse consumo
no plano doméstico. Porém Hunt e Sherman indicaram que Rosa Luxemburg cometeu um erro ao
focalizar o problema no subconsumo. Porém Lenin apontará corretamente para o problema. “A
verdadeira força motriz do imperialismo era a busca de zonas que proporcionassem possibilidades
de investimentos lucrativos e para as quais os países capitalistas avançados pudessem exportar
capital” (p. 160).

 O Imperialismo Segundo Lenin


Para Lenin a principal característica do imperialismo era o domínio dos monopólios. “Ao
falar em monopólios, Lenin referia-se às indústrias dominadas por trustes, cartéis, combinações ou
umas poucas grandes empresas” (p. 160). Os bancos eram parte importante nesse processo, já que
controlavam grande parte dos principais cartéis industriais. Lenin dirá que o imperialismo terá como
motor a necessidade de exportação do capital. As colônias eram abundantes em mão de obra barata,
e os investimentos seriam altamente lucrativos.
Os governos estavam em busca de mercados exclusivos para seus respectivos cartéis. O
Estado protegia através do imperialismo o monopólio. E nessa disputa era inerente que logo mais
explodissem guerras entre as grandes potências e rebeliões dentro das colônias. Enquanto isso
aumentavam as zonas de influência de mercado.

“Se, por um lado, o imperialismo expandia a esfera de influência do capitalismo, prolongando,


desse modo, a sua existência, por outro lado, engendrava tensões e contradições, afirmava
Lenin, muito mais sérias e explosivas que as tensões e contradições do capitalismo de livre
concorrência sobre as quais Marx havia escrito. O capitalismo continuava fadado à destruição.
O futuro pertencia ainda ao socialismo.” (p. 162)
CAPÍTULO XI: A TEORIA ECONÔMICA KEYNESIANA E A GRANDE DEPRESSÃO

Uma era de grande crescimento econômico dos Estados Unidos foi brecada pela crise de
1929. Onde, os índices da bolsa de valores caíram e interferiu na confiança com os negócios

“(…) Os empresários, atemorizados e descrentes, efetuaram cortes drásticos na produção e nos


investimentos. A consequência disso foi o declínio da renda nacional e o desemprego em massa,
o que, por sua vez, minou ainda mais a confiança na economia. Enquanto perdurou esse círculo
vicioso, milhares de corporações faliram, e milhões de trabalhadores foram à rua. Uma das
piores catástrofes econômicas na história do país estava em curso.” (p. 164-165)

Faliram dezena de milhares de empresas, milhares de bancos suspenderam operação, o valor


na Bolsa de Nova York despencou de 87 bilhões para 19 bilhões de dólares. Cerca de 12 milhões de
pessoas foram desempregadas, 25% da população não tinha nem condições de subsistência. Agora
milhões de pessoas se encontravam na miséria.
Mas o que mantinha esse estado não eram as condições que o país oferecia, já que havia
recursos para se produzir tanto quanto antes. Com a reabertura de fábricas haveria abertura de
empregos. Mas não era lucrativo para os empresários, então essa ideia foi deixada de lado. Afinal,
no capitalismo o que importa são os lucros, as relações entre as pessoas são apenas econômicas,
então ninguém pensaria nas necessidades dos outros.
Nesse momento a economia soviética crescia de forma acelerada. O socialismo ganhava
muitos adeptos. O capitalismo parecia prestes a ruir. Então surgem tentativas de reverter a situação.
Entrando em ação um dos maiores economistas do século XX, John Maynard Keynes, procurando
soluções para salvar o capitalismo.
Keynes então analisará o processo de produção no sistema capitalista.

“(…) Num determinado período de produção, uma empresa produz certo volume de dólares sob
a forma de bens. Com o que apura na venda desses bens, a empresa paga seus custos de
produção, que incluem salários, remunerações, rendas, suprimentos e matérias-primas, bem
como os juros dos empréstimos contraídos. A quantia restante converte-se em lucro.” (p. 167)

Sendo o valor da produção é a soma do custo da produção mais os lucros, o valor de


produção é igual as rendas. Assim “o valor de tudo aquilo que é produzido durante determinado
período equivale ao total de rendas recebidas nesse mesmo período” (p. 167). Para que se possa
vender toda a produção será necessários que os trabalhadores gastem todas as suas rendas. Assim o
que for gasto em bens e serviços reintegrará o valor da produção. É o chamado por Keynes de fluxo
circular:

“ (…) o dinheiro flui das empresas para o público sob a forma de salários, remunerações,
rendas, juros e lucros; em seguida, esse dinheiro retorna para as empresas quando o público
adquire os bens e serviços oferecidos por elas. O processo perdura, enquanto as empresas
puderem vender tudo o que produzirem e obter lucros satisfatórios.” (p. 167)

Porém nem todo o dinheiro volta para as empresas. Boa parte é poupada em bancos. Então os
empréstimos suprirão esse vazio deixado. Contudo, nos momentos mais prósperos a poupança
supera os empréstimos, tendo um “vazamento real no fluxo circular renda-despesas” (p.167). Há
outras formas de vazamento: compra de bens e serviços estrangeiros e os impostos. Para resolver os
vazamentos seria necessário que fosse exportado tanto quanto importado; que o governo
financiasse, através dos impostos, aquisição de bens e serviços; e que os empresários no desejo em
ampliar o capital fizesse empréstimos do banco. Assim tudo que for produzido poderá ser vendido.
Mantendo o país próspero.
Porém é improvável, segundo Keynes, que assim se suceda. Porque, além do mais, é
necessário que a produção e a renda cresçam no próximo período. Sendo necessário novos
investimentos, estes não aconteceram de forma automática. Afinal, “à medida que se eleva o nível
de rendas, uma percentagem maior dessas rendas é transformada em poupança” (p. 168). Exigindo
que um crescimento mais rápido dos investimentos. Mas acontece que, como identificou Keynes,
há um limite de investimento nos países capitalistas já maduros. O que complica a produção, pois
ocorre

“(…) uma violenta retração da produção, com aumento do número de desempregados e declínio
da renda. Em consequência do declínio da renda, os gastos em bens e serviços serão ainda
menores. Os empresários descobrem que, mesmo a níveis inferiores de produção, não
conseguem vender o que produzem. Novamente restringem a produção, e o círculo vicioso
reproduz-se.” (p. 169)

A renda passa a declinar até que, numa certa altura, a poupança já não mais excede o nível
dos investimentos.
Para Keynes, assim como para Hobson e Marx, o motivo da depressão econômica era “a
inabilidade dos capitalistas para encontrar suficientes oportunidades de investimento, tornando-se,
portanto, impossível contrabalançar os níveis crescentes de poupança gerados pelo crescimento
econômico” (p. 169). Keynes acrescentou que a relação de poupança e renda dependia de uma
estabilidade econômica, onde estava na balança renda e desemprego.
Mas, como então resolver o problema? Keynes, como apontam Hunt e Sherman, dirá que
num momento onde “a poupança excedesse os investimentos, o governo deveria entrar em cena,
recolhendo o excesso de poupança mediante empréstimos e investindo o dinheiro em projetos de
utilidade social” (p. 170). O que poderia também estabelecer o pleno emprego. Porém com a II
Guerra Mundial há um grande estímulo devido as despesas governamentais na indústria bélica.
Agora o problema era escassez de mão de obra.
Aí muitos economistas proclamaram que o capitalismo poderia ser salvo, desde que o
governo soubesse como lidar com a situação. Agora o capitalismo parecia “um sistema econômico
social e viável” (p.172).
Com o fim da Segunda Guerra Mundial o congresso e os economistas colocaram em prática
as ideias keynesianas. “A Lei do Emprego, aprovada em 1946, transformou em obrigação legal do
governo usar o poder de cobrar impostos, contrair empréstimos e despender dinheiro com a
finalidade de manter o pleno emprego” (p. 173). Era a primeira vez na história do governo dos
Estados Unidos em que ele se ocupou em manter o emprego. Mesmo com o grande crescimento
americano no pós-guerra, colocou-se em dúvida se era mesmo a prática dos preceitos keynesianos
que salvaram o capitalismo. Para alguns, como Robert Heilbroner, tal crescimento econômico
estaria “mais ligado a uma demanda econômica de caráter militar do que puramente civil” (p. 174).
A Segunda Guerra Mundial, onde houve altos gastos, 40% do PNB americano em 1943,
houve em troca altíssimos lucros. Mesmo no pós-guerra os gastos militares americanos continuaram
altos, assim também continuou a ter lucros como retorno.

“As despesas militares mantêm a indústria de bens de capital operando próximo à sua plena
capacidade, sem elevar a capacidade produtiva de economia tão rapidamente como seria o caso
se ela estivesse produzindo bens de capital exclusivamente para as indústrias. A demanda já não
tende a cair abaixo da oferta com tanta persistência como antes. As despesas militares elevam a
demanda, mas não alteram a produtividade.” (p. 176)

Mas os investimentos do governo de forma maciça não fora inaugurado pelos americanos,
“Hitler já havia colocado em prática essa política na Alemanha durante a década de 30” (p. 176).
CAPÍTULO XII: O CAPITALISMO AMERICANO CONTEMPORÂNEO E SEUS
DEFENSORES

Durante o tempo do pós-guerra o crescimento americano sendo considerado satisfatório,


mesmo com cinco pequenas recessões. Nesse tempo houve grande progressos tecnológicos por
parte dos americanos, isso graças aos investimentos à pesquisa e ao desenvolvimento. Resultando
numa concentração maior do poder econômico. Hunt e Sherman farão, em plena década de 1970,
uma crítica a esse crescimento norte-americano:

“Se julgarmos o desempenho do capitalismo norte-americano nestas três últimas décadas,


tomando como base exclusivamente o crescimento econômico e a elevação da produtividade
(embora o desemprego e a inflação tenham sido persistentes), pode-se dizer que os resultados
foram bastante animadores. Contudo, persistem, agravadas, as desigualdades flagrantes na
distribuição da riqueza e da renda. Não surpreende, portanto, que nesse período tenham sido
travadas intensas polêmicas entre os defensores do capitalismo e seus críticos radicais e
socialistas.” (p. 182)

Na passagem do final do século XIX para o início do século XX, têm-se então a formação da
ideologia liberal-clássica. Usando de cálculos complexos e ainda com uma base com caráter
metafísico. Por esses cálculos complexos, o liberalismo clássico perdeu sua popularidade. Assim
agora há a tentativa de disseminar uma versão simplificada de tal ideologia.

“A versão popular da ideologia clássica preocupa-se, acima de tudo, em demonstrar os


benefícios do mercado livre, a ação da oferta e da procura produz sempre resultados melhores
do que poderia realizar a ação do Estado ou de um organismo central de planejamento. A NAM,
por exemplo, afirma que a função primordial de um governo é fortalecer e “tornar mais eficaz o
jogo da competição”.” (p. 184)

Então surgiram modos de conciliar o mercado livre e a concentração de poder. Segundo John
Kenneth Galbraith, há grandes blocos que tomam conta do poder, porém há outro poder que
compensa tal. “Desse modo, nas relações capital-trabalho, os sindicatos poderosos neutralizam o
poder das grandes corporações, assim como as poderosas associações de consumidores neutralizam
as forças monopolistas e oligopolistas dos grandes comerciantes” (p. 185). Já para Massimo
Salvadori, o melhor do capitalismo americano contemporâneo seria a difusão a qual a propriedade
atingiu. Portanto, seguindo sua lógica, aumentou o número de “capitalistas”, até então ninguém ter
poder para explorar ninguém. Logo mais os Estados Unidos seriam um país que teria por maioria da
população formada por capitalistas.
Independente das teorias criadas, adentro do século XX a ideologia liberal-clássica não
conseguia explicar a concentração de poder e as contradições sociais, abriu-se espaço para a Ética
Corporativa Contemporânea.

“(…) Alguns ideólogos do capitalismo contemporâneo afirmam, porém, que o capitalismo


sofreu mudanças tão drásticas que os capitalistas perderam sua importância no sistema, sendo
substituídos por uma nova classe de empresários profissionais. Essas teorias pretendem
apresentar o “novo homem” — o empresário profissional — como um servidor paternalista do
bem público.” (p. 187)

O que não teria no poder, exatamente, os capitalistas. O empresário seria aquele motivado
para o bem público. E esses escolheriam os gerentes, que fariam a ligação dos interesses dos
consumidores com o interior da empresa e com a venda e lucro. Dentro dessa ideologia cabia ao
governo por em prática as políticas keynesianas, para que assim se garantisse o pleno emprego. E
também a manutenção da ordem para ajudar com as grandes corporações, para que estas pudessem
executa, paternalisticamente, a função de promover o bem-estar social. É aceito o que pede os
sindicatos, porém estes tem que entrar em harmonia com os interesses da empresa.
A partir da década de 1930 as críticas à ideologia neoclássica tornaram-se mais fortes.
Entram nessa crítica Oscar Lange e Fred M. Tylor. Eles consideravam válida a economia de
concorrência pura, contudo poderia seria numa sociedade socialista com os meios de produção
sendo propriedade coletiva. O que “suprimiria as desigualdades na distribuição da renda existentes
nos sistemas capitalistas” (p. 191). Outra crítica se dá em cima de como era pregado o livre
mercado e a sua desconexão com a realidade. Além da poluição do meio ambiente.
A ideologia gerencial também recebeu duras críticas. Primeiramente que a grandeza das
empresas em nada se relacionavam com o bem-estar da população. Afinal para os críticos, as
grandes corporações só buscam o lucro. Além do mais teriam os administradores os mesmos
interesses que os capitalistas.
CAPÍTULO XIII: O CAPITALISMO AMERICANO CONTEMPORÂNEO E SEUS CRÍTICOS
RADICAIS

Na luta por direitos civis, foram se percebendo a importância econômica. Iniciou-se na


década de 1950 a luta contra o racismo nos Estados Unidos. Até que se concedeu o direito ao voto
aos negros, contudo não foi suficiente

“(…) Começaram a perceber que as concessões políticas pouco alteravam as enormes


desigualdades econômicas que pesavam sobre os negros. De que valia o direito ao voto, se o
homem ou a mulher negra não conseguiam emprego, e quando conseguiam o salário não os
tirava das condições miseráveis e degradantes em que viviam com suas famílias?” (p. 199)

A Guerra do Vietnã também foi importante dentro das críticas ao capitalismo americano.
Guerra que teve como desculpa a proteção do mundo livre do perigo do comunismo, quando a
suspeita era que se tratava do imperialismo capitalista. A guerra parecia tão absurda que até mesmo
a população americana, depois de certo tempo, voltou-se contra a ela. Os críticos então passaram “a
procurar as razões econômicas da guerra e a repensar seriamente as teorias radicais tradicionais
sobre o imperialismo capitalista” (p. 203).
Quando surgiu o movimento de libertação das mulheres possuía diversas reivindicações, que
inclui legislação sobre pobreza, divórcio e trabalho. Porém depois o movimento fixou-se no voto. O
movimento só ressurge quando as mulheres se engajam em questões relacionadas à guerra. Mesmo
assim as mulheres foram induzidas a deixarem de trabalhar e se focarem na vida doméstica.
Contrariando a ideologia dominante, 40% dos trabalhadores americanos em 1970 eram mulheres.
Nos anos 1960 as mulheres passam a lutar por melhores salários, depois a favor de leis as
protegendo da discriminação no trabalho.

 Críticas Contemporâneas ao Capitalismo Americano


Os críticos do capitalismo americano tem como principal crítica a maneira de como o país
mantêm a estabilidade econômica, no caso, o militarismo.

“(…) Os críticos radicais creem, no entanto, que a desigualdade e o militarismo são inerentes a
uma economia capitalista, a qual envolve necessariamente também (1) a exploração imperialista
dos países subdesenvolvidos visando a manter elevado o crescimento da economia e dos lucros
nos Estados Unidos, (2) a descriminação endêmica contra os grupos minoritários e as mulheres,
(3) a impossibilidade de controlar a poluição e o esgotamento dos recursos naturais, e (4) um
consumismo degradante e a alienação social. (…)” (p. 206)

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