1) O livro analisa como sociedades aparentemente autônomas são na verdade afetadas por eventos externos e estão interligadas no mundo global.
2) Ao contrário de outros autores, Wolf adota a perspectiva de sociedades não-ocidentais para entender essa dinâmica.
3) O livro defende que as ciências sociais emergiram divididas, mas que é importante compreender fenômenos sociais de forma abrangente e totalizante.
1) O livro analisa como sociedades aparentemente autônomas são na verdade afetadas por eventos externos e estão interligadas no mundo global.
2) Ao contrário de outros autores, Wolf adota a perspectiva de sociedades não-ocidentais para entender essa dinâmica.
3) O livro defende que as ciências sociais emergiram divididas, mas que é importante compreender fenômenos sociais de forma abrangente e totalizante.
1) O livro analisa como sociedades aparentemente autônomas são na verdade afetadas por eventos externos e estão interligadas no mundo global.
2) Ao contrário de outros autores, Wolf adota a perspectiva de sociedades não-ocidentais para entender essa dinâmica.
3) O livro defende que as ciências sociais emergiram divididas, mas que é importante compreender fenômenos sociais de forma abrangente e totalizante.
Resenha: WOLF, Eric. Europa e os povos sem história.
Europa e os povos sem história é, provavelmente, o principal livro de Eric Wolf. O
antropólogo estadunidense, com certa inclinação à tradição marxista de pensamento, desenvolveu uma obra cujo objetivo era demonstrar como a aparente autonomia relativista de sociedades é também afetada por eventos e acontecimentos externos a ela. Por isso, “o mundo do gênero humano constitui uma multiplicidade” (p. 25). Essa abordagem não é totalmente original, afinal, autores como Wallerstein ou mesmo os marxistas da “teoria da dependência” já demonstraram, anteriormente a Wolf, uma relação de causalidade entre atos aparentemente desconexos. No entanto, Eric Wolf deu a sua análise um subsídio que estava ausente a esses outros trabalhos: deslocou o olhar anteriormente pertencente ao mundo pan-europeu para à partir das próprias sociedades não ocidentais. Isso trouxe a ele uma oportunidade de lidar com uma questão sob um panorama distinto dos anteriores, e as consequências de suas elaborações, sobretudo no meio antropológico, foram dúbias. O contexto de Wolf para a elaboração de uma posição desse tipo é também oportuno: a antropologia estadunidense, que se desenvolveu principalmente através de uam crítica a uma concepção holística de pensamento e em prol de teorias culturalistas da vida social, sopesou, historicamente, a importância de compreensão de realidades locais e situadas, cujo interesse maior foi o de averiguar traços distintivos e culturais dos mais variados povos. Por isso a recepção de Europa e os povos sem história foi menos ressoante nos Estados Unidos da América do que em outros lugares. Mas frente a qualidades imanentes, era inevitável que a obra de Wolf recebesse, mais cedo ou mais tarde, seu devido reconhecimento.
[intermezzo: uma das discussões mais importantes da antropologia contemporânea é
aquela que critica ou defende o conceito de “sociedade” enquanto algo (in)válido para pensar antropologicamente. Autores como Viveiros de Castro e Strathern reconhecem, nessa Eric Wolf, um dos percursores a lidar com essa temática] Mas Eric Wolf não se interessou apenas em como essas dinâmicas sociais são interligadas, mas também, em como podemos compreendê-las. Por isso coube a ele o exercício de pensar como se desenvolveu as Ciências Sociais num contexto de expansão do capitalismo. É importante mencionar que, ao mesmo tempo em que o trabalho nas fábricas passava por uma divisão social, o modo de apreensão da realidade também sofreu suas repartições. As Ciências Sociais emergem de uma crítica a uma concepção holística de conhecimento, a Economia Política Clássica, que, a despeito das eventuais críticas que podemos empreender a esse campo, é saudável ressaltar que, ao menos, pensava-se os fenômenos sociais de modo abrangente. O irromper da modernidade, e com ela as ciências sociais, fez parecer que cada complexo social era pertencente a um campo distinto: que a ciência política lidava com o estado e as relações de poder, a sociologia com as sociedades ocidentais, a antropologia com as sociedades outras, a arqueologia com a cultura material, a minerologia com os minérios e a aquacultura com a vida submersa. No entanto, não olhamos para determinado fenômeno social e pensamos: “aqui está a antropologia e aqui está a arqueologia”. A sociabilidade vivida é essencialmente múltipla, e, portanto, é fundamental compreendermos os fenômenos sob o viés da totalidade - algo que certamente Wolf deve à tradição marxista. Como a disciplina da qual essa resenha é motivadora, o livro de Eric Wolf também não se abstêm de dar nomes àquilo que, para muitos deve ser inominável. Ele não tem puder algum em falar de “capitalismo”, afinal, é exatamente um modo de produzir, distribuir e circular mercadorias que define nosso atual tempo histórico. Na Antropologia é comum a utilização de sinônimos para falar (ou não falar) de capitalismo, e a opção de Wolf em se contrapor a tal tendência é, por si só, algo a se relevar. Por isso, ela finda sua introdução dizendo que é também atribuição de sua obra “delinear os processos gerais que atuam no desenvolvimento mercantil e capitalista e, ao mesmo tempo, acompanhar seus efeitos sobre as micropopulações estudadas pelos etno-historiadores e antropólogos” (p. 48). Esse foco no “o que pesquisar” e “como pesquisar”, como espécies indissociáveis, revela-se o fio condutor da obra de Eric Wolf.