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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS


DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO E LETRAS
CURSO LETRAS PORTUGUÊS

PEDRO HENRIQUE ALMEIDA SANTOS

O LÉXICO DAS FOLIAS DE SANTOS REIS EM


JANUÁRIA/MG

Januária - MG
Agosto - 2022
PEDRO HENRIQUE ALMEIDA SANTOS

O LÉXICO DAS FOLIAS DE SANTOS REIS EM


JANUÁRIA/MG

Monografia apresentada ao curso de Letras Português


do Campus Januária, do Departamento de
Comunicação e Letras, do Centro de Ciências
Humanas da Universidade Estadual de Montes Claros
como requisito parcial para obtenção do grau de
licenciatura em Letras Português.

Área de concentração: Estudos Linguísticos


Orientadora: Profa. Dra. Ros’elles Magalhães Felício

Januária – MG
Agosto – 2022
INSERIR O PRINT DA FOLHA DE ROSTO APÓS A BANCA
À cultura popular barranqueira, às Folias de Santos
Reis, em especial ao Terno dos Temerosos que
despertou em mim o desejo pela arte do povo.
AGRADECIMENTOS

No fim deste ciclo, percebo que este trabalho se tornou meu maior desafio, atravessou-me
intimamente e fez com que eu me encontrasse sozinho em meus anseios. Reconheço, porém,
que as pessoas que estiveram comigo neste processo foram fundamentais para o meu
crescimento.
A minha mãe, que não mediu esforços para que eu tivesse uma educação efetiva;
Aos meus interlocutores, que fizeram este trabalho ser possível: ao Terno dos Figueiredos, à
Folia de Reis do Alegre e a todos os foliões que me acolheram, compartilhando experiências
que agora se encontram registradas;
A minha orientadora, profa. Dra. Ros’elles Magalhães Felício, pela cumplicidade
enriquecedora nesta caminhada, pelas prosas e pela amizade que construímos;
Aos meus professores da graduação, pelos conhecimentos partilhados;
Aos membros da banca, pela leitura e apontamentos;
Aos colegas de graduação, pelos momentos de aprendizado, sufoco e distrações;
Aos colegas do Laboratório de Pesquisa em Estudos do Poético e ao professor Dr. Danilo
Barcellos por compartilhar todo seu fascínio pela leitura poética;
Ao meu namorado, Daniel Nunes Oliveira, cúmplice da minha formação, pelo tempo dedicado
às minhas loucuras acadêmicas.
Eu vou bebê, vou bebê, vou bebê guaraná.
Cachaça me deu um tombo. Vou bebê jatobá.
(Folia de Reis do Alegre)
RESUMO

O presente trabalho apresenta um estudo do léxico das folias de Santos Reis no município de
Januária (MG), manifestação do catolicismo popular que encena, nas vias do sagrado, o
percurso dos três Reis Magos ao presépio onde nascera Jesus Cristo. São objetos de estudo
desse trabalho: o Terno de Reis dos Figueiredo, comunidade rural da Raizama; e a Folia de Reis
do Alegre, comunidade rural de São João Batista do Alegre. A problemática consiste na
decadência festiva desses grupos no período que reserva sua manifestação e, assim, propõe um
levantamento das suas lexias com o objetivo de preservar essa tradição. De caráter quantitativo
e qualitativo, esse estudo contou com os pressupostos teórico-metodológicos da
Sociolinguística laboviana para referenciar os caminhos percorridos à constituição do léxico
dentro das suas comemorações e comunidade devota. No referencial partimos dos estudos que
versam sobre cultura, sociedade e suas relações e os conceitos de Antropologia social, cultural
e linguística, além das disciplinas de estudos da linguagem: Dialetologia, Sociolinguística,
Lexicologia, Lexicografia e Etnolinguística. Os resultados obtidos através de entrevistas orais
revelaram o repertório lexical utilizados nas folias.

Palavras-chave: Folias de Reis; Cultura; Léxico; Sociolinguística.


ABSTRACT

The present work introduces a study of the lexicon of the Folias dos Santos Reis in the
municipality of Januária (MG), a manifestation of popular Catholicism that enacts, in the ways
of the sacred, the journey of the three Magi to the crib where Jesus Christ was born. The objects
of study of this work are: the Terno de Reis dos Figueiredo, rural community of Raizama; and
Folia de Reis do Alegre, a rural community in São João Batista do Alegre. The problem consists
in the festive decadence of these groups in the period that reserves their manifestation and, thus,
proposes a survey of their lexias with the objective of preserving this tradition. Of a quantitative
and qualitative character, this study relied on the theoretical-methodological presuppositions of
Labovian Sociolinguistics to refer to the paths taken in the constitution of the lexicon within its
commemorations and devout community. As a reference, we start from studies that discourse
with culture, society and their relationships and the concepts of social, cultural and linguistic
Anthropology, in addition to the disciplines of language studies: Dialectology, Sociolinguistics,
Lexicology, Lexicography and Ethnolinguistics. The results obtained through oral interviews
revealed the lexical repertoire used in the Folias.

Keywords: Folias de Reis; Culture; Lexicon; Sociolinguistics.


LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Número de lexias não dicionarizadas. ................................................................... 67


Gráfico 2 – Percentuais das lexias encontradas em cada dicionário. ...................................... 69
LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 - Amostra dos informantes das folias de Reis..................................................... 38


QUADRO 2 - Ficha social dos informantes ............................................................................ 39
LISTA DE TABELAS

TABELA 1 - Quantidade de ocorrências das lexias nas entrevistas ........................................ 69


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 14
CAPÍTULO 1 .......................................................................................................................... 16
JANUÁRIA, RELIGIÃO E MANIFESTAÇÕES POPULARES ...................................... 16
1.1 Januária: contexto histórico, geográfico, político e econômico .................................... 16
1.1.1 Januária: cenário de manifestações populares ................................................................. 17
1.2 Folias de Santos Reis ........................................................................................................ 19
1.2.1 Estrutura da folia ............................................................................................................. 21
1.3 As folias como objeto de estudo ....................................................................................... 23
1.3.1 Terno de Reis dos Figueiredo .......................................................................................... 23
1.3.2 Folia de Reis do Alegre ................................................................................................... 26
CAPÍTULO 2 .......................................................................................................................... 28
2.1 Linguagem, cultura e sociedade ...................................................................................... 28
2.1.1 Antropologia social, cultural, linguística ......................................................................... 29
2.2 Disciplinas de estudo da linguagem adotadas nesta pesquisa ...................................... 31
2.2.1 Dialetologia ..................................................................................................................... 31
2.2.2 Sociolinguística ............................................................................................................... 32
2.2.3 Lexicologia e Lexicografia .............................................................................................. 34
2.2.4 Etnolinguística ................................................................................................................. 35
CAPITULO 3 .......................................................................................................................... 37
METODOLOGIA DA PESQUISA ....................................................................................... 37
3.1 Métodos e Procedimentos ................................................................................................ 37
3.1.1 Delimitação do corpus ..................................................................................................... 37
3.1.2 Técnicas e procedimentos para a coleta de dados. .......................................................... 38
3.1.3 Transcrições ..................................................................................................................... 40
3.1.4 Fichas Lexicográficas ...................................................................................................... 42
CAPÍTULO 4 .......................................................................................................................... 43
APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DE DADOS ..................................................................... 43
4.1 As fichas lexicográficas .................................................................................................... 43
4.2 Análise dos dados .............................................................................................................. 66
4.2.1 Registro das lexias nos dicionários .................................................................................. 67
4.2.2 Percentuais de lexias registradas em cada dicionário ...................................................... 68
4.2.3 Número de ocorrências das lexias: .................................................................................. 69
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 71
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 72
APÊNDICE ............................................................................................................................. 75
APÊNDICE A – Terno de Reis dos Figueiredos (Benção da bandeira) ................................. 75
APÊNDICE B – Terno de Reis dos Figueiredos ..................................................................... 76
APÊNDICE C – Miguel Figueiredo, Imperador da folia, soltando fogos. ............................. 77
APÊNDICE D – Instrumentos artesanais do Figueiredos (Xique-xique e Reco-reco) ........... 78
APÊNDICE E – Instrumento artesanal dos Figueiredos (Caixa) ............................................ 79
APÊNDICE F – Bandeira e o Ramo (vaso com flores) da Folia de Reis do Alegre .............. 80
APÊNDICE G – Lapinha localizada no interior da capela na comunidade do Alegre
(Januária-MG) .......................................................................................................................... 81
APÊNDICE H – Foliãs da Folia de Reis do Alegre dançando o Batuque. ............................. 82
APÊNDICE I – Folia de Reis do Alegre na casa de um devoto. ............................................ 83
APÊNDICE J – Foliões saudando a Lapinha na comunidade do Alegre (Januária-MG) ...... 84
APÊNDICE L – Foliões da Folia de Reis do Alegre saindo para o giro. ............................... 85
APÊNDICE M – Devota de Santos Reis recebendo a folia em sua casa. ............................... 86
APÊNDICE N – Folia de Reis do Alegre durante o canto de Reis. ........................................ 87
APÊNDICE O – Folia de Reis do Alegre (Dança do Batuque). ............................................. 88
APÊNDICE P – Camisa da Folia de Reis do Alegre. ............................................................. 89
APÊNDICE Q – Terno de Reis dos Figueiredos .................................................................... 90
APÊNDICE R – Questionário: léxico das folias de Reis de Caixa no município de Januária
(MG) ......................................................................................................................................... 91
14

INTRODUÇÃO

Localizada à margem esquerda do Rio São Francisco, Januária é terra de encontros


e registros culturais variados. O município se formou a partir das migrações de povos que
cobiçavam seu potencial econômico. Essa descrição revela, na contemporaneidade, heranças
culturais que estão presentes no contorno urbano e rural. Do sagrado ao profano, no campo
festivo do catolicismo popular em Januária, algumas manifestações fazem tributo a fatos
históricos do município e elucidam as narrativas contadas por povos e comunidades tradicionais
habitantes da região: pescadores, vazanteiros, quilombolas, geraizeiros entre outros.
Dentre essas manifestações, a Folia de Santos Reis, idealizada no catolicismo em
devoção aos três Reis Magos e presente em muitas regiões do Brasil, instigou-nos a realizar
esta pesquisa que tem como foco o léxico dos grupos de Folia de Reis em Januária. Estudar o
léxico de uma cultura permite a compreensão da visão de mundo e o entendimento da
significação de um povo no meio em que está inserido, além de preservar sua identidade para
o conhecimento das gerações futuras.
O interesse em pesquisar essa folia nasceu da necessidade de resgatar uma
manifestação que pode se perder com o tempo, uma vez que a folia é composta principalmente
por homens e mulheres idosos e pelo fato de que não há registros do léxico dessas folias, embora
essa manifestação já tenha sido foco de pesquisas de outras naturezas.
Na impossibilidade de investigar todas as manifestações culturais relacionadas às
Folias de Reis em Januária, este estudo tem como foco dois grupos localizados na zona rural
do município: a Folia de Reis dos Figueiredos, na comunidade de Raizama; e a Folia de Reis
do Alegre, comunidade do São João Batista do Alegre. O fato de este pesquisador ter nascido
em uma região da cidade que ainda busca preservar a tradição das danças, festas e manifestações
religiosas e a participação deste nessas manifestações, foi determinante para a escolha do tema
e dos grupos ora pesquisados.
Considerando que o léxico pode revelar aspectos históricos, sociais e culturais de
uma língua, nossa hipótese nesta pesquisa é que o vocabulário apresentado pelos informantes
da pesquisa mostra a estreita relação entre língua e cultura, em especial, a cultura da Folia de
Reis, e designa fatos ou objetos que fazem parte dessa cultura.
Para investigar essa hipótese, nosso objetivo geral é realizar o levantamento e
descrição do léxico de dois grupos de Folia de Santos Reis da região de Januária/MG,
contribuindo para o registro da língua falada em manifestações da cultura popular.
A partir desse objetivo geral, definimos os seguintes objetivos específicos:
15

 Apresentar a Folia de Reis em suas características religiosas e culturais,


descrevendo os grupos de folia escolhidos para este estudo, possibilitando a valorização de
práticas pertencentes à cultura popular;
 Descrever a influência dos foliões na identidade da folia;
 Verificar se os significados das lexias levantadas no contexto das Folias de Reis
é o mesmo registrado em dicionários de língua geral;
 Identificar a presença de unidades lexicais não dicionarizadas, mas que são
representativas da identidade desses grupos de Folias de Reis;
 Apresentar as lexias levantadas considerando os temas definidos para a
realização das entrevistas.
Esta pesquisa foi estruturada em quatro capítulos. No capítulo 1, Januária e suas
manifestações populares, descrevemos o município de Januária em seus aspectos históricos,
geográficos, econômicos e sociais e apresentamos as manifestações culturais da região,
destacando as Folias de Santos Reis, objeto deste estudo.
No capítulo 2, apresentamos os Pressupostos teóricos que fundamentaram este
estudo, discorrendo principalmente sobre os estudos de língua e cultura; Dialetologia,
Sociolinguística, Lexicologia e Etnolinguística.
No capítulo 3, intitulado Procedimentos Metodológicos, descrevemos a
constituição das fichas lexicográficas, mostrando os dicionários que foram utilizados para essa
constituição.
No capítulo 4, analisamos os dados e investigamos o número de lexias presentes
em cada dicionário.
Nas Considerações finais, retomamos o percurso deste estudo e discutimos os
resultados obtidos por meio da análise.
16

CAPÍTULO 1

JANUÁRIA, RELIGIÃO E MANIFESTAÇÕES POPULARES

1.1 Januária: contexto histórico, geográfico, político e econômico

Ilustrada pelos artistas da terra como a "Princesa do Norte", Januária está localizada
no Alto Médio do São Francisco e pertence à vida migratória operada nas águas do Velho Chico.
O Rio da Integração Nacional1 constituiu no território e demais povoamentos as suas margens,
as predileções econômicas dos bandeirantes e desbravadores na metade do século XV. Para
Pereira (2013, p. 29), “as terras de índios e ancestrais” contextualizam posses políticas e
ideológicas nos períodos remotos da sua história. Assim, a dominação territorial dos
bandeirantes, justificada pelos interesses políticos dos provincianos, polarizou a região norte
mineira com interesses inflamados (PEREIRA, 2013). Como resultado dessa monopolização
imperial uma linhagem política se manteve no território buscando o direito à terra dos indígenas
que habitavam a região até a construção do povoado que mais tarde receberia o nome de Porto
do Salgado, atualmente Brejo do Amparo, antiga sede municipal, e agora distrito de Januária.
Nas palavras Correia (2013, p. 27), Januária é “uma das muitas cidades na calha do
São Francisco, dentro da seção Média do grande rio e, assim como tantas outras, pode ser lida
em sua dupla face: urbana e rural, os gerais e o rio, o campo e a cidade.” No contexto social
essa dualidade é vista nos fatores sociais e econômicos, do consumo à prestação de serviços.
Até meados do século XX, as principais atividades econômicas de Januária estiveram ligadas
ao rio e suas vazantes, esse período é marcado pelas grandes navegações no Rio São Francisco,
em que a pecuária extensiva e a agricultura familiar movimentavam o trabalho constante no
cais da cidade junto a importação de matéria-prima que abastecia o comércio local.
As políticas de desenvolvimento adotadas na região a partir de 1950 permitiram
certa prosperidade à cidade, tornando-a referência educacional e econômica da região,
prejudicada mais tarde pela interferência das governanças desleais que lideraram a cidade por
anos. A economia atual do município gira em torno da prestação de serviços, comércio local,
agricultura familiar e o desenvolvimento de atividades vinculadas ao setor turístico, que aposta
no artesanato, produção de cachaça, extrativismo de frutos do cerrado e rotas turísticas como

1
Essa denominação foi dada ao Rio São Francisco devido sua abrangência econômica e geográfica. O rio percorre
os estados de Minas Gerais, Goiás e o Distrito Federal, Bahia, Pernambuco, Sergipe e Alagoas, além de integrar
aproximadamente 507 municípios.
17

um novo poder econômico. Por esse ângulo, as atividades econômicas não se prendem mais ao
rio, agora afastado do cais da cidade em decorrência das modificações geográficas naturais.
Às margens do Rio São Francisco, o potencial turístico de Januária proporciona
belíssimos cenários de formações rochosas, ricos biomas de mata seca e transição entre a
caatinga e o cerrado. O “Circuito Velho Chico”, programa de incentivo turístico criado em 2006
pela Secretaria do Estado de Minas Gerais, em parceria com o SEBRAE (Serviço Brasileiro de
Apoio às Micro e Pequenas Empresas), propõe uma rota de visitação turística dos municípios
banhados pelo rio, fomentando a economia das populações que vivem dessas atividades,
interessando também como amostras de turismo da região. Januária oferece belíssimas praias
fluviais temporárias as margens do São Francisco, além dos balneários e demais pontos de
visitação como o Refúgio Estadual da Vida Silvestre do Rio Pandeiros e o Parque Nacional das
Cavernas do Peruaçu, unidade de preservação criada em 1999 que compreende, também, os
municípios vizinhos de Itacarambi e São João das Missões.
De acordo com o último censo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), a população de Januária é de 65.463 pessoas vivendo entre a cidade e o
campo.2 Com extensão territorial de 6.601,15 km², Januária já foi considerada uma das maiores
cidades do estado. Atualmente o município é constituído de 8 distritos: Januária, Brejo do
Amparo, Levianópolis, Pandeiros, Riacho da Cruz, São Joaquim, Tejuco e Várzea Bonita.
(IBGE, 2010). Sede microrregional das cidades vizinhas, Januária conta com órgãos do
Tribunal de Justiça, Superintendência Regional de Ensino, Gerência Regional de Saúde,
Instituto Estadual de Florestas, Polícia Militar e Civil, Corpo de Bombeiros e Previdência
Social.
No campo educacional, além das escolas de educação básica, Januária oferece
cursos de nível superior pela Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), o Instituto
Federal do Norte de Minas Gerais (IFNMG) e algumas instituições privadas, como as
Faculdades Integradas do Norte de Minas (FUNORTE).

1.1.1 Januária: cenário de manifestações populares

Para Correia (2013, p.32), “Januária é um lugar privilegiado do ponto de vista


histórico e social”. Segundo esta pesquisadora, o munícipio resguardou, em seu vasto interior,

2
No último censo realizado em 2010, Januária tinha uma população de 65.463 habitantes. No entanto, a estimativa
populacional do IBGE em 2020 aponta que 67.958 pessoas residem no município.
18

modos de vida que se alteram vagarosamente na região. Em Januária, observam-se nas ruas
estreitas dos bairros antigos as singularidades dos moradores perpetuando gerações.
As narrativas históricas projetadas culturalmente através da arte popular apresentam
manifestações religiosas, musicais, artesanais, além das comidas típicas e festejos comunitários.
Tomando como exemplo, as comemorações religiosas do catolicismo celebram ao longo do ano
festejos populares em homenagem aos santos devotados, eventos grandiosos realizados num
período de novena ou em dias definidos pelos festeiros. As comemorações sacrossantas marcam
o encontro das comunidades adjacentes, celebrando o momento com muita diversidade cultural.
Dos becos às barrancas, o município é berço das tradições representativas da
devoção popular interiorana e barranqueira: Terno dos Temerosos, Reis do Boi, Lavadeiras,
Folias de Reis, Dança de São Gonçalo, Puxada de Rede, Terno das Ciganas e o Terno das
Pastorinhas. Essas manifestações apresentam ao longo do ano no município e região as
narrativas simbólicas de diferentes vertentes culturais, evidenciando fatos construídos ou
ressignificados com o tempo pelos seus integrantes dentro das comunidades devotas.
Em Januária, as manifestações populares que não rezam o catolicismo dentro das
suas comemorações, como as Folias de Santos Reis, prestigiam eventos culturais diversificados
ao longo de todo ano e conversam com a diversidade que prospera em diferentes culturas, como
o Maculelê e o Terno dos Temerosos, sempre presentes nas comemorações populares do
município. Em contrapartida, as folias de artigo puramente religioso acontecem no espaço
restrito às suas comemorações, estendendo suas apresentações a outros eventos se o motivo
informado prevalecer seu real sentido, como as Folias de Reis.
Considerando que o interesse desta pesquisa está em um manifesto que consagra o
ciclo natalino, é essencial dizer que os festejos religiosos no município de Januária não se
prendem apenas às comemorações do Nascimento e Epifania3. É comum a realização de festas
dedicadas a diversos símbolos do catolicismo em outras épocas do ano, eventos grandiosos que
reúnem comunidades devotas com o propósito de agradecer as solicitadas preces. Sobre esse
acontecimento, Chaves (2009, p.1) observa:

No “sertão” norte mineiro, nas beiras do São Francisco, nos municípios de São
Francisco e Januária (...) as Folias costumam acontecer diversas vezes no correr de
um ano para muitos santos. Em torno de São José, Santa Luzia, Bom Jesus, São
Sebastião, Nossa Senhora Aparecida, Santos Reis e outros menos difundidos, é
comum encontrarmos, nas cidades e nas roças, nos beira-rios e nas imensidões do

3
Nascimento: ciclo natalino, período que marca o nascimento do menino Jesus, no dia 25 de dezembro. Epifania:
festa em louvor aos Reis Magos, comemorada tradicionalmente no dia 6 de janeiro.
19

cerrado, pequenos e grandes grupos de cantadores e tocadores cumprindo um giro


ritual. Em honra de um santo, os foliões se reúnem e juntos passam dias e noites
visitando as casas dos devotos, pagando promessas, distribuindo bênçãos aos seus
moradores em troca de ofertas para a festa do santo.

Um interesse comum entre as folias e festividades que acontecem em Januária é


celebrar o sacro com animosidade e fé. As folias são fenômenos populares ativos, pertencem a
fé interior dos foliões e estão relacionadas ao contexto sociocultural e religioso. Para além das
Folias de Santos Reis, cujo léxico é objeto desta pesquisa, integram o ciclo natalino em Januária
o Terno dos Temerosos, grupo fardado com elegantes vestes de marinheiro que se apresentam
usando bastões de madeira numa encenação a luta travada por mouros e cristãos pela retomada
da Península Ibérica, durante o século VII; e o Reis do Boi, brincadeira popular dançada por
crianças, jovens e adultos onde a figura do boi é celebrada junto aos demais personagens do
folclore popular sertanejo pelas ruas da cidade. Do popular ao religioso, os Temerosos e os Reis
do Boi não partem do conceito sagrado, suas representações fazem tributo a fatores históricos,
sem relação com os acontecimentos religiosos. No entanto, é preciso considerar os valores e
crenças que seus integrantes construíram ao longo do tempo, propagando o sacro e
ressignificando sua estrutura.
Considerando a inter-relação entre sociedade, cultura e religião, selecionamos no
universo festivo do catolicismo popular januarense, uma das manifestações de abrangência
territorial com potencial representativo da fé que se promove nas comunidades devotas: a Folia
de Santos Reis, também denominada Reisado ou Reis de Caixa que descrevemos a seguir.

1.2 Folias de Santos Reis

Outro cenário das manifestações que ocorre em Januária revela o prestigio das
comunidades devotas entre 25 de dezembro e 06 de janeiro. Nesse período as ruas ganham as
cores e ritmos dos manifestos que peregrinam para o cumprimento de suas jornadas. Os
instrumentais desses autos populares4 anunciam às comunidades que é tempo de celebrar as
graças alcançadas.

4
[...] o auto, em Portugal é uma forma de enredo popular, com melodias cantadas, tratando de assunto religioso
ou profano, representada no ciclo das festas do Natal (dezembro-janeiro) (...) No Brasil as mais antigas menções
informam que os autos eram cantados à porta das igrejas, em louvor de Nossa Senhora do Rosário (quando
dirigidos por escravos ou libertos), no orago, ou na matriz. Depois levavam o enredo, com as danças e os cantos,
nas residências de amigos ou na praça pública, num tablado. Alguns autos reduziram-se à coreografia, sem assunto
figurado[...] (CORREIA, 2013. p. 101).
20

Marcado pela religiosidade, esse período é também festivo. Os reisados, ao se


apresentarem, expressam sua fé através da musicalidade e estruturam-se coletivamente para
cumprir seus propósitos junto à recepção calorosa das famílias devotas por onde passam.
Semelhante a esses, as Folias de Santos Reis simbolizam a trajetória dos três Reis Magos ao
encontro do recém-nascido, menino Jesus. Chaves (2009, p. 1) discorre:

Durante uma visita de folia, as casas transformam-se em espaços ritualizados onde


vão acontecer as trocas e interações entre o terno, os moradores e o santo. Relações
são atualizadas e construídas: relações de parentesco, amizade e vizinhança; relações
simbólicas, dos devotos com o santo fortificam-se quando o terno, por intermédio de
sua visita, presentifica o santo.

A peregrinação da Folia de Santos Reis interpreta o percurso feito pelos Reis


Magos: Gaspar, Melchior e Baltasar, do momento que recebem o aviso do nascimento do
Salvador, quando levam ouro, incenso e mirra, até o momento em que o encontram na
manjedoura. O cortejo dos grupos celebra o ato religioso na casa dos fiéis onde as famílias
aguardam a folia para receber a bandeira da mão do imperador, um gesto de respeito e devoção
dentro da tradição.
Ao chegar à casa de um devoto, se houver uma lapinha, postados diante do altar os
foliões rezam a oração do Pai-nosso antes da saudação propriamente dita: a ladainha. A lapinha
é uma estrutura sagrada que simboliza o encontro dos Magos na manjedoura onde nascera o
filho da Virgem Maria. As lapinhas encontradas no município são lúdicas e sugerem a
criatividade dos devotos. Observam-se nelas adereços variados postados à simbologia sagrada:
plantas, animais em miniatura, bonecos, galhos, palhas, luzes de pisca-pisca, conchas de praia,
além de outros objetos que revelam na estrutura sagrada do nascimento a sacralidade que
perpetua por gerações.
Correia (2013) estudou as ressignificações religiosas no sertão das Gerais
investigando as lapinhas. Sobre isso a autora afirma:

Analisando mais atentamente a dedicação dos foliões de reis às lapinhas, observamos


que ali o compromisso entre ambos traduz-se em uma dupla recompensa. Por um lado,
elas são reverenciadas e adoradas pelos ternos de reis enquanto uma manifestação do
sagrado. Por outro, a visita dos reis a uma lapinha é imprescindível para garantir sua
sacralidade, é preciso benzê-las. Por isso, quem se dedica a montar uma lapinha,
sempre espera que os reis venham visitá-la, para abençoar. (CORREIA, 2013, p. 209).
21

A lapinha é motivo de promessa para quem se dedica a montá-la anualmente. Após


benzer o monumento sagrado o grupo estará apto a completar sua passagem pela casa, seguindo
para uma formação circular onde os foliões responsáveis por entoar os cânticos o farão
evidenciando em seus versos os motivos de estarem ali. O último momento da encenação marca
festivamente a contemplação aos Reis Magos: batuques animados dos instrumentais convidam
foliões e demais devotos a dançarem um samba, catira, batuque ou lundu dentro do círculo.
Após a apresentação, os foliões são convidados a degustar as comidas e bebidas preparadas pela
família para essa ocasião.

1.2.1 Estrutura da folia

A formação de um reisado é singular e dinâmica. Essa característica desdobra


diferenças que abordaremos ao descrever os grupos entrevistados. No entanto, é possível dizer
que no município a estrutura das folias não se altera por motivos aleatórios no momento em que
alguém, por motivo de promessa ou experiência com outros manifestos, resolva criar um novo
modelo de folia. Isto é, existe um padrão cultural difundido entre os devotos no município, fator
que colabora com o registro identitário e que diferencia as folias daqui com as de outras regiões
do país. Um exemplo do que quero dizer estão nas Folias de Reis que integram a figura do
palhaço e bastião. Segundo Jurkevics (2005, p. 79):

O perfil delineado em Portugal e trazido para a colônia aponta que à frente do cortejo,
segundo a tradição, vem o bandeireiro, carregando o estandarte, objeto sagrado da
companhia, representando os três reis diante do presépio de Belém. Logo atrás da
Bandeira estão os palhaços (ou Bastião, como ainda são chamados em algumas folias),
com suas “fardas” floridas e máscaras grotescas (na verdade “capacetes”), dançando
em passo saltitante para animar o grupo. Atrás deles vêm dois cordões de músicos,
enfileirados, de acordo com a voz que cada um canta ou o instrumento que toca. Na
trajetória que percorrem atraem uma pequena multidão, principalmente de crianças.

No entanto, as folias que se observam aqui, não muito diferente dos reisados
espalhados pelo Brasil, compreendem uma formação hierárquica: à frente da folia está o
imperador, responsável pelo grupo, seguido pelos guias e contra guias, responsáveis pela
entoação dos cânticos; e o maestro folião, responsável pelas afinações instrumentais e
22

organização dos músicos.5 As funções de levar a bandeira, arrecadar as ofertas e organizar a


festa no dia seis de janeiro, data na qual se que comemora o dia de Santos Reis são destinadas
aos demais foliões a pedido do imperador. Após o período festivo, foliões e comunidades
festeiras concentram as energias para o próximo ano.
É possível dizer que o tempo não alterou os valores sagrados dessa tradição, mas
integrou manifestações profanas, uma realidade marcada pelo acesso de interação cultural. As
Folias de Reis transcendem características inéditas da fé e revelam novas faces das suas
tradições. Com o passar dos anos as folias integram novos foliões, cada uma com seu motivo,
alguns seguindo a folia por devoção a Santos Reis, outros por cumprimento de promessa ou
apreço às festividades. As características que revelam novos fatores nas folias partem das
relações que esses foliões têm ou já tiveram ao longo da vida, trazendo consigo experiências
como a participação em outros reisados, moradia em outras regiões e devoção a outros santos.
Jurkevics (2005, p. 74) observa que:

as festas religiosas, como fenômeno cultural têm sido redescobertas e revitalizadas


como um fértil campo de investigação histórica, transcendendo sua visibilidade e
revelando crenças e vivências demarcadas por um tempo e uma identidade coletiva.

A esse respeito, observamos nas folias a celebração da fé sagrada com elementos


da dança e da musicalidade, o que nos remete à discussão sobre sagrado e profano. Para Eliade
(1992, p. 14), as primeiras definições que se pode dar ao sagrado é que ele se opõe ao profano
e que esses termos “constituem duas modalidades de ser no mundo, duas situações existenciais
assumidas pelo homem ao longo da sua história”. Na perspectiva do que acontece nas folias,
esses termos não se distanciam, acontecem no mesmo espaço e fazem sentido estando juntos.
Ainda que essa relação pareça ser contrária à ideia do autor, as práticas profanas não interferem
nas práticas sagradas, isso porque a tradição das folias partiu do conceito religioso e com o
tempo integrou valores profanos.
A manifestação dos desejos através da arte é um fator comum que explica a relação
existente entre essas concepções. As folias são ferramentas da fé e pertencem à idealização
festiva dos seus integrantes. No espaço onde acontecem, a tradição das folias insere nas

5
Foi observado que os grupos no município seguem essa estrutura, mas nem todos os grupos usam esses termos
para caracterizar seus integrantes. Acreditamos que esse fator seja influenciado pela conduta dos imperadores e
nível de formação dos foliões.
23

gerações devotas os valores culturais, passados de geração em geração e os desejos individuais


e coletivos dos foliões.
Das definições que divergem a representação de sagrado e profano, é popularmente
difundida nos grupos de folia a noção de “brincadeira”. Vianna e Baldan (2000) comentam que
brincadeira é o nome usado por muitos brasileiros para se referir aos folguedos, folias, autos e
festas. Para os autores, a brincadeira quebra as distâncias, os limites e as fronteiras que separam
o sagrado e o profano. Por fim, definem que quase todas as brincadeiras brasileiras têm
motivações religiosas, mas não acontecem por causa do santo, pois a figura santa é apenas o
ponto de partida:

Os foliões dançam e rezam ao mesmo tempo, e ninguém parece capaz de distinguir a


dança e a reza, o momento da ladainha e o momento do batuque. Os opostos (quem
foi que disse que há alguma oposição?) se confundem, e dessa confusão nasce toda a
graça. Produzir tal confusão parece ser a razão principal para se festejar. (VIANA E
BALDAN, 2000, n,p).

Neste sentido, a manifestação profana dentro das folias, do ponto de vista cultural,
é uma prática comum e necessária para os foliões, que usam o momento não só para celebrar o
santo e agradecer as graças alcançadas, mas também confraternizar com sua comunidade.

1.3 As folias como objeto de estudo

Conforme informamos no início deste capítulo, este estudo tem como foco o léxico
utilizado por dois grupos de folia localizados no meio rural de Januária: a Folia dos Figueiredos,
na comunidade de Raizama; e a Folia do Alegre, comunidade de São João Batista do Alegre.

1.3.1 Terno de Reis dos Figueiredo

A história desse grupo começa por volta de 1888 quando a matriarca da família
Figueiredo sai do município de Cabrobó, no estado de Pernambuco, com a promessa de
encontrar uma vida mais próspera em terras januarenses, mais especificamente na comunidade
de Tejuco, cabeceira do rio Pandeiros. O quarto imperador a assumir tal posição no grupo 6,

6
No Terno dos Figueiredo, o imperador só deixa o posto após sua morte. Desde o nascimento do grupo a linhagem
de imperadores pertence aos foliões descendentes da matriarca.
24

afirma que a folia da sua bisavó aportou em Januária e cultivou raízes a partir da promessa feita
pela matriarca:

[...] ele foi fundado pela minha bisavó ( ) uma nordestina que... vendeu todos os seus
bens, no município de Cabrobó no estado de Pernambuco... e juntou toda a suas coisas
e... pegou todos os seus filhos, parentes, irmãos e... embarcou em um vapor que fazia
o transporte de Pirapora à Petrolina, no estado de Pernambuco, e... desembarcou em
Januária, conhecida como a terra da fartura é... uma cidade muito falada na região de
Pernambuco, do Ceará, daquela região da Bahia, como sendo uma terra promissora,
uma terra produtiva, uma terra em que tratava muito bem a... aos imigrantes e assim
ela desembarcou... adquiriu um pedaço de terra na cabeceira do Tejuco no distrito de
Januária, e lá começou a sua jornada é... como eles eram do município de Cabrobó
um... o maior produtor de cebola do estado do Pernambuco, ela começou a plantar
cebola e alho na cabeceira do Tejuco e vendendo a sua produção, e com isso conseguiu
criar os seus filhos e um deles o JF é... reuniu com a minha bisavó e o seu pai... e
começaram a cantar a Santos Reis, reuniam no dia trinta e um... e só paravam,
começavam trinta e um e só paravam dia seis de janeiro dia de Santos Reis e ali fazia
a ladainha, a reza e... isso foi no ano de mil oitocentos e oitenta e oito, dê lá pra cá
é... a tradição foi seguida.(E8MFRF).

Desde então a folia encontrou o acolhimento das comunidades devotas no


município, mantendo o legado centenário que nascera com a promessa da matriarca e fundadora
do terno. Atualmente, o terno é composto por 20 foliões, todos do sexo masculino.7 A seriedade
com os valores herdados na sucessão dos imperadores motiva alianças de integridade dos
demais foliões para com sua história. A renovação dos foliões, conforme observado, é feita a
partir da convicção que o pretendente tem em integrar e permanecer no ciclo sagrado. Em
Januária o terno é um dos mais populares, esse legado situa-se também nos estados pelo qual o
grupo já realizou sua peregrinação: São Paulo, Pernambuco e Bahia. Propagador da fé, o terno
tem a benção do arcebispo diocesano de Januária, que reconhece a contribuição litúrgica e
manutenção católica do grupo.
Seus integrantes, homens com mais de 45 anos de idade, trabalham integralmente
no campo. Alguns, porém, trabalham em áreas distintas no meio urbano: servidores públicos
municipais, assistentes sociais, militares e estudantes.

7
Conforme os foliões, não há restrições sobre a participação de mulheres na folia. Uma exceção, porém, é dada as
rezadeiras que acompanham o grupo para rezar às lapinhas que a folia visita. Tradicionalmente, as mulheres que
estão associadas ao grupo são esposas e filhas dos foliões, que cuidam dos preparativos da festa de encerramento.
Um fator observado, a considerar que o autor dessa pesquisa é integrante ativo da Terno dos Temerosos há 14 anos
e envolvido com outros ritos populares, é que as manifestações ocupadas pelas mulheres no município pertencem
ao gênero mais pastoril: como o terno das Ciganas, terno das Pastorinhas, e a dança da Lavadeiras.
25

A maior parte dos instrumentos usados na folia é artesanal. Esses instrumentos são
produzidos por um artesão aqui identificado por TL, que na folia assume a posição de Maestro
Folião, responsável por coordenar os músicos e as afinações instrumentais. Além do Imperador
e Maestro, há outras funções como Folião de Guia, responsável por entoar os cantos; Mestre
Espiritual, responsável por direcionar os trabalhos relacionados à reza do terço durante os dias
de peregrinação; e os músicos que compõem a percussão. Essa formação, que necessita de no
mínimo 12 (doze) integrantes para realizar o giro8, marca toadas ritmadas que narram os
motivos de estarem ali. O encerramento da peregrinação é celebrado pelos foliões com a dança
da catira e o lundu.
Com 134 (cento e trinta e quatro) janeiros de giros ininterruptos, a folia teve sua
primeira pausa nos anos de 2021 e 2022 em decorrência do isolamento social de escala global
provocado pela pandemia da COVID-19, doença infecciosa causada pelo coronavírus, o SARS-
CoV-2. Em 25 de dezembro de 2021, porém, com a flexibilização do isolamento,
acompanhamos uma reunião do grupo na casa de um folião. Na ocasião, os foliões celebraram
o momento com um almoço, bebidas e uma saudosa encenação da Folia de Santos Reis.
Conforme M.F, o motivo principal da reunião nesse dia foi o compartilhamento dos problemas
e dificuldades dos foliões:

Nós reunimos no dia vinte e cinco de dezembro, pra fazer uma reunião, pra sabê se tá
tudo bem com o folião, pra sabê se ele tem algum problema de família, de ordem
econômica, social, pra se tiver tentarmos resolver, porque o folião que entra nesse
Terno aqui, nós temos folião aqui que tem sessenta e cinco anos que sai nesse Terno,
que é o caso desse folião, é esse primeiro aqui, ele tem oitenta e oito anos de vida, e
tem sessenta e cinco no Terno nosso, e assim vai. É... o folião ele não muda de folia a
cada ano não, ele entrou, ele faz isso normalmente até a sua saúde permitir.
(E8MFRF).

Após a reunião considerada extremamente importante, visto que é a partir dos


compartilhamentos dos foliões que as benesses são rogadas aos Santos Reis, os foliões se
organizaram para realizar um pequeno giro ritual naquele dia. No final da tarde desse mesmo
dia, após saírem para cantar em três casas pré-definidas pelo imperador na comunidade rural da
Nova Odessa, os foliões retornaram à casa do folião onde estiveram reunidos e decidiram em
consenso geral não realizar o giro que terminaria no dia 6 de janeiro em respeito à saúde dos
foliões e devotos, em função das medidas de isolamento social.

8
Percurso da folia do primeiro até o último dia; itinerário; peregrinação.
26

1.3.2 Folia de Reis do Alegre

Localizado no distrito de São João Batista do Alegre, comunidade rural e


quilombola de Januária, esse grupo tem a liderança de uma mulher (Z.S), que assumiu a tradição
após a morte da sua mãe, que por sua vez assumiu a folia de outra senhora que é descrita como
a dona dessa folia. De acordo com a coordenadora, que também atua como uma líder
comunitária, esse grupo surgiu de uma promessa como prece à cura de uma doença:

Oh, a história dessa folia era o seguinte: a dona dela mesmo, dessa folia, era uma
senhora que ela chamava Teresa, né? Aí ela... ela adoeceu uma vez, aí os pai dela, né?
Fez a... fez essa promessa, que enquanto ela tivesse vida, né? Ela era... ela era pra sair,
era pra cantá, era fazê as festas todos os ano, e ela cumpriu. (E4ZSFA).

Não se sabe quando o grupo surgiu, acredita-se que sua história tenha começado há
90 anos. A líder da folia, atualmente com 58 anos, recorda que a folia, tradição que herdara dos
seus pais, é uma das suas lembranças mais remotas: Eu participo da Folia de Reis desde que...
meus pais, né? Que/ desde que eu me entendi por gente, né? Que meus pai já tava na folia,
então eu também comecei participar e hoje eu faço grande parte dela. (E4ZSFA). Foliã de
longa data é uma das foliãs com mais tempo de folia. Esta, atualmente conta com 8 (oito)
foliões, entre adultos e idosos. Nessa folia, os foliões são lavradores, com exceção de um que
trabalha como porteiro escolar em uma escola estadual na cidade de São Paulo e volta à
comunidade todos os anos para peregrinar junto à folia.
No dia 6 de janeiro de 2022, data em que se comemora o dia de Santos Reis,
acompanhamos a folia em sua única demonstração sagrada nos últimos dois anos, consequência
da pandemia. Nesse dia os foliões se concentraram na casa da Imperadora, onde a equipe de
colaboradores da comunidade preparou o almoço que foi servido após a peregrinação nas cinco
casas. Reunidos, os foliões seguiram para a igreja local, ponto de partida da peregrinação, onde
rezaram a lapinha e fizeram o ritual de benção da bandeira sobre a cabeça dos demais foliões.
No fim da tarde desse dia, após o almoço e muita música, os foliões fizeram a
entrega do ramo, um arranjo de flores que simboliza a escolha do novo imperador da folia,
àquele que irá assumir a posição de liderança no próximo ano. Diferente do Terno dos
Figueiredo, em que a posição de Imperador só muda após a morte do atual líder, ZS afirmou
27

que o Imperador na sua folia muda todos os anos com a entrega do ramo. No entanto, os
encargos e liderança da coordenadora são amplamente reconhecidos pelos demais foliões e
comunidade, que identificam o grupo pelo nome de sua coordenadora.

Muda! Muda! Muda! Sempre assim, na comparação: esse... esse ano aqui é porque
esse ano a gente não saiu, né? Então vai continuá esse aí, mas o ano que vem se a
gente sair, aí agora a gente já muda. {ah, certo!} Né? Os ramo a gente têm que mudá.
{então, toda vez que o ramo é entregue a alguém, muda o imperador da folia?} Muda
o imperadô também da folia também. {então se o ramo for entregue esse ano pra outra
pessoa, ele será o imperador?} É, será o imperadô! {e a senhora deixa de ser a
imperadora?!} Aí eu deixo de ser. {nossa, que legal!} É... é assim. (E4ZSFA).

Essa característica, por sua vez, revela a singularidade que identifica esse grupo:
não há uma hierarquia estabelecida entre os foliões. Além disso, essa alternância contribui para
sua manutenção dentro da comunidade devota, que entende a importância de assumir frente à
tradição, preservando sua essência para que outras gerações tenham o conhecimento e apreço
ao sagrado.
28

CAPÍTULO 2

Neste capítulo apresentamos as teorias linguísticas que fundamentam as escolhas


teórico-metodológicas deste estudo.

2.1 Linguagem, cultura e sociedade

Linguagem, sociedade e cultura são definições que se entrecruzam, tendo em vista


que as características sociais, culturais e linguísticas servem para identificar um grupo social e
também para diferenciar esse grupo de outros grupos.
Conforme Sapir (1969, p. 205), “a língua não existe isolada de uma cultura, isto é,
de um conjunto socialmente herdado de práticas e crenças que determinam a trama das nossas
vidas”. Nesta perspectiva, a língua é a condição para o desenvolvimento da cultura.
O termo cultura, que é bastante amplo, pode ser empregado em diversas acepções.
Do ponto de vista social, isto é, um conceito que atende a maioria, cultura é o conhecimento
sobre determinado assunto ou prática, resultante do ato de compartilhar o conhecimento ao
outro. Do ponto de vista teórico não há um conceito exato para o termo, as perspectivas
intelectuais que buscam conceituá-la entendem que o termo é versátil e depreende uma
definição pronta. Terry Eagleton, em A idéia de cultura, debate a noção do termo a partir da
sua gênese, com uma argumentação moderna sobre seu significado, trazendo a discussão para
a contemporaneidade. Para o filósofo, “Cultura” é considerada uma das palavras mais
complexas de nossa língua, seu conceito etimológico estaria ligado à natureza: “embora seja
actualmente moda encarar a natureza como um derivado da cultura, de um ponto de vista
etimológico, cultura é um conceito que deriva da natureza. Um dos seus significados originários
é «lavoura», ou ocupação com o crescimento natural.” (EAGLETON, 2005, p. 11).
Ainda para Eagleton (2005), estamos, desde os momentos mais remotos das nossas
vidas, inseridos numa complexa rede cultural, onde aprendemos e vivenciamos a cultura direta
ou indiretamente. A cultura social revela-se num processo dinâmico que perpetua às gerações
os conhecimentos adquiridos ao longo da vida, assim, é possível pensar a cultura como um
fenômeno livre e ativo. Não obstante, a cultura é, também, o ato de educar o indivíduo,
transmitindo valores, conhecimentos e modos de viver socialmente.
Para Morgado (2014), a cultura em sociedade seria parte de uma memória coletiva
impossível de se desenvolver individualmente. Em relação às manifestações aqui investigadas,
29

essa perspectiva revela-se compreensível, porém incompleta. Como já discutido, as Folias de


Reis desenvolvem-se coletivamente a partir os valores sagrados e individuais dos seus foliões.
Logo, a cultura poderia ser aqui definida parte de uma memória coletiva que se consolida a
partir das experiências individuais dos seus devotos.
Para Bosi (2006), a cultura é o conjunto das práticas, das técnicas, dos símbolos e
dos valores que se devem transmitir às novas gerações para garantir a reprodução de um estado
de coexistência social. Nessa perspectiva, a língua é um instrumento de difusão da cultura e da
ideologia de um povo, não sendo possível separar língua e cultura, tendo em vista que toda
mudança nos sistemas sociais e culturais refletem na estrutura linguística.
Seguindo esse viés antropológico, trazemos para essa fundamentação algumas
premissas antropológicas para, em seguida, apresentarmos as teorias linguísticas que
fundamentam a análise proposta neste estudo.

2.1.1 Antropologia social, cultural, linguística

A Antropologia, área de conhecimento científico dedicada a estudar a humanidade


a partir da sua origem, investiga as atividades realizadas pelo homem em seus aspectos remotos
e analisa suas projeções no espaço contemporâneo. Para François Laplantine, a antropologia
não é apenas o estudo de tudo que compõe uma sociedade. Ela é o estudo de todas as sociedades
humanas; das culturas da humanidade como um todo em suas diversidades históricas e
geográficas (LAPLANTINE, 2003). As atividades humanas manifestam na linha do tempo
social, consciências que traduzem maneiras de viver e ser no mundo. Dessa forma, os estudos
antropológicos tomam a cultura que o homem desenvolve como objeto principal de análise para
desdobrar os diversos aspectos que formam a humanidade.
Duas totalidades antropológicas cursam discussões sobre fenômenos que se
manifestam socialmente: a Antropologia Social e a Cultural. Enquanto a Antropologia Social é
a totalidade das relações de produção, exploração e dominação que grupos mantêm entre si
dentro de um mesmo conjunto (etnia, região e nação), a Cultural é o próprio social, considera
os comportamentos individuais dos membros desse grupo, bem como suas produções
artesanais, artísticas e religiosas (LAPLANTINE, 2003). A aproximação dessas duas linhas de
pesquisa compreende o mesmo campo de investigação. Nesta continuação, traremos nossa
abordagem para a Antropologia Sociocultural, subárea que compreende ambos estudos.
A Antropologia Sociocultural é, dentre as subáreas dos estudos antropológicos, o
mais complexo campo, ocupa-se na análise e descrição de culturas com base na observação
30

direta. Essa investigação assenta que para conhecer é preciso estar inserido. Para Aguiar (2015,
p. 9): “a proposta da antropologia é entender as sociedades a partir de um olhar interior.” Não
obstante, entende que a observação externa não compreenderia as significações de que vivencia
determinada prática, que é individual e conjunta. Essa perspectiva revela uma importância
metodológica em qualquer estudo: é preciso interiorizar para compreender.
Numa definição possível dessa ciência, Hattori e Yamamoto (2012, p. 102)
comentam: “O homem, dizem alguns cientistas sociais, é sua cultura, e o homem, somente o
homem, pode sê-lo, porque só ele a tem.” Essa perspectiva colabora com a Antropologia
Sociocultural, que estuda a evolução do homem e busca compreendê-lo enquanto ser cultural e
social. Outrossim, o meio social onde está inserido acaba se tornando uma projeção da sua
própria identidade. Para Vieira e Oliva (2017), esses aspectos são característicos da psicologia
humana, já que a avançada cognição, associada a capacidade peculiar de aprendizagem no
contexto social, é uma ação instintiva do ser. Podemos então afirmar que a Antropologia
Sociocultural articula estudos do homem em suas práticas e desenvolve analises que evidenciem
suas dimensões na sociedade.
A Antropologia Linguística estuda a língua enquanto objeto social e analisa suas
configurações no contexto contemporâneo. Seu objetivo está em compreender os fenômenos
que se desenvolvem através da linguagem: comunicação dos grupos, propagação das crenças,
ideologias e demais atividades culturais.
A língua é um fenômeno social ativo, fator constitutivo de cada indivíduo; A
linguagem, sistema dinâmico da língua, é um mecanismo singular e compartilhado por cada
indivíduo, revela a cultura em que esse está inserido a partir de fatores históricos e
socioculturais; A cultura social, atividade que se desenvolve através da linguagem, resulta das
relações praticadas pelos indivíduos no meio. A Antropologia Linguística considera esses
pressupostos como base do seu desenvolvimento e entende que é impossível dissocia-los uma
vez que acontecem em conjunto na formação identitária dos indivíduos.
A relação do indivíduo tem com seu meio é uma das referências de sua visão do
mundo. No caso das Folias de Reis, há nesses grupos a participação ativa de pessoas todas as
idades, em sua grande maioria, todos de uma mesma família ou comunidade, que um dia
aceitaram participar desse manifesto de representação sagrada por entenderem seu sentido ou
nela estarem inseridos. Cada reisado tem sua linguagem e maneira de se comunicar. Nesse caso,
a Antropologia Linguística entende que os integrantes de Folia de Reis podem falar outras
línguas, mas é a língua utilizada pela folia que os tornam únicos.
31

2.2 Disciplinas de estudo da linguagem adotadas nesta pesquisa

2.2.1 Dialetologia

Os estudos da língua relatam que a linguagem é um fenômeno a ser compreendido


em diferentes escalas da abordagem linguística. Segundo Castedo, a língua está em todos
aspectos comunicativos da sociedade e se reflete na linguagem:

O estudo da língua dentro de um marco social nos oferece numerosas oportunidades


para enxergar a variação linguística que se pode observar nos distintos contextos
socioculturais: componentes da língua (fonológico, léxico, sintático e semântico); as
regiões ou espaços geográficos (Madrid, Buenos Aires, Canárias, Bolívia); os grupos
sociais (classe alta, média, profissionais, obreiros); as diferenças entre os falantes
(idade, sexo, educação, etnia); os estilos de fala (formal, informal, literária, íntima);
os atos ou acontecimentos comunicativos (saudações, desculpas, piadas, debates); os
tipos de textos (orais, escritos, espontâneos, não-espontâneos); os domínios
sociolinguísticos (casa, vizinhança, escola, trabalho, religião). (CASTEDO, 2013, p.
14)

Essas oportunidades investigativas da língua são possíveis porque a linguagem


varia em tempo e espaço. Para Saussure (1999, p. 16), “a cada instante, a linguagem implica ao
mesmo tempo um sistema estabelecido e uma evolução: a cada instante, ela é uma instituição
atual e um produto do passado.” No meio social essa percepção revela-se nas variações dos
grupos sociais por idade, classe, gênero e formação educacional.
A Dialetologia, ramificação da linguística que estuda os diversos dialetos de uma
língua através dos espaços geográficos, entende, conforme Macedo (2012, p. 26), que “cada
falante é, a um só tempo, usuário e agente modificador de sua língua, imprimindo, nela, marcas
geradas pelas novas situações com as quais se depara”, e que essa característica singular é a
razão pela qual a linguagem e suas representações compreendam outros sentidos a depender da
sua localização. Entendendo que os fenômenos dialetais são estudados a partir das realizações
linguísticas dos falantes em diferentes lugares, chamamos atenção para o fato de que língua,
linguagem, fala e dialeto são, na perspectiva de alguns autores, ações distintas.
Nos contrapontos entre língua e linguagem, Saussure (1999), afirma que língua não
se confunde com linguagem, pois a língua é somente uma parte determinada, essencial dela.
Outrossim, estabelece que a língua é um produto essencial da linguagem, e que essa, por sua
vez, seria multiforme e heteróclita, pertencendo ao domínio individual e social em diferentes
32

formas. Na sequência que explica essa tríade entre língua, linguagem e fala, o linguista
estabelece que a fala é um ato individual de vontade e inteligência do falante, parte da
linguagem formada por um caráter que é individual e infinito. De outro modo, essas esferas da
comunicação são percebidas como sinônimas por alguns autores, que as entendem como
ocorrências que derivam do principal objeto da linguística, a língua. O último fragmento dessa
nota explicativa é o dialeto que, segundo Bazenga (2016, p. 4), “refere-se à variedade linguística
de uma língua, que caracteriza uma região em particular, afirmando-se como uma variação da
língua no espaço.” Isto posto, entendemos que a Dialetologia se ocupa no estudo sistemático da
língua e como ela se diversifica.
Conforme Macêdo (2012), o estudo sistemático dos dialetos surge no século XIX,
quando a Dialetologia passa a ser vista como um dos ramos dos estudos da ciência da
linguagem. Essa metodologia relaciona novos interesses a partir do estudo dos dialetos, que
surgiu da vontade dos próprios linguistas em registrar e descrever essas diferentes variedades
linguísticas regionais e das manifestações da cultura local ou regional. Com o tempo, o estudo
dialetológico ganhou novos ângulos, passando a integrar demasiadas perspectivas
investigativas, algumas delas influenciadas pelo surgimento da sociolinguística:

Com o surgimento da Sociolinguística, no início da década de 1960, novos


redimensionamentos foram dados aos estudos dialetais, uma vez que se consolidou,
de modo sistemático, a relação entre o estudo da linguagem e/ou dos dialetos aos
outros fatores sociais, tais como: os diagenéricos (gênero), diageracionais (faixa
etária), diafásicos (natureza do discurso) e diastráticos (nível social), além da
possibilidade de se pesquisar com informantes não apenas das área rurais, mas das
áreas urbanas e com diversos níveis de escolaridade, e não somente com informantes
analfabetos, como outrora se fizeram no início dessas pesquisas no nosso país,
sobretudo na área rural. (MACÊDO, 2012, p. 31).

Esses redimensionamentos, tomados pela Dialetologia revelam no espaço


contemporâneo o dinamismo das suas variáveis investigativas. Dialetologia e Sociolinguística
estudam os acontecimentos linguísticos em diferentes perspectivas, no entanto, partem do
mesmo objeto: a língua.

2.2.2 Sociolinguística

Ciência recente, a Linguística constituiu-se como sistema autônomo a partir dos


estudos de Ferdinand Saussure, que tomou a língua, por oposição à fala, como principal objeto
33

de estudo. Em Curso de Linguística Geral, o linguista descreve as fases disciplina entendendo


a língua como um fato social, ademais, prioriza o estudo dos elementos linguísticos
estabelecendo discussões pautáveis da Linguística Estrutural, não havendo, pois, uma
preocupação entre linguagem e sociedade. Esses versos consideram o legado do também
filósofo para o que mais tarde viria ser um incomodo para estudiosos como William Labov 9,
que procurou analisar as variações linguísticas de uma comunidade às diferenças de fala dessa
mesma comunidade, levando em consideração o modo de vida social dos falantes, dando início
aos estudos da Sociolinguística.
O termo Sociolinguística surge em meados de 1960 em um congresso organizado
pelo professor e linguista, Willian Bright. Participaram do evento Willian Labov e demais
estudiosos cujo objetivo estava em compreender os fenômenos variáveis da linguagem e
sociedade. Na ocasião, os trabalhos apresentados consideravam que a Sociolinguística deveria
demonstrar a “covariação sistemática das variações linguísticas e social.” (LIMA; FREITAG,
2010, p. 15). Sua proposta inicial estava em “identificar um conjunto de fatores socialmente
definidos, com os quais se supõe que a diversidade linguística esteja relacionada.” (LIMA;
FREITAG, 2010, p. 15). No entanto, essa área não se limitou apenas aos estudos da variação,
o preconceito linguístico e o estigma social tornaram-se pautas da disciplina.
A Sociolinguística é o estudo que relaciona língua e sujeito, investigando os
sistemas linguísticos em seu contexto social. Conforme Mussalim e Bentes (2001), seu objeto
de estudo é a língua em situações reais de uso, e seu ponto de partida é a comunidade linguística,
caracterizada pela interação verbal de pessoas que fazem uso de redes comunicativas diversas.
Dentre os fenômenos observáveis numa comunidade linguística, evidencia-se em maior
proporção a variação linguística: variantes da fala adquiridas a partir de aspectos geográficos
ou sociais. Para Labov (2008), é comum que uma língua tenha maneiras alternativas de dizer a
mesma coisa. O linguista entende que palavras como carro e automóvel parecem ter os mesmos
referentes; assim como cantando e cantano têm duas pronuncias. As variações linguísticas são
marcas incessantes dentro de toda comunidade de fala; revelam os aspectos geográficos:
variações no espaço físico; ou social: variações nas comunidades de fala: idade, sexo,
escolaridade, classe e contexto social. Ocorrências que partem das relações sociais que os
falantes têm ou fazem socialmente.

9
Conhecido como o fundador da sociolinguística variacionista, campo dedicado a estudar as variações da língua
nas comunidades de fala, os estudos de Willian Labov introduziram bases para novas perspectivas da
sociolinguística. Seus estudos variacionais permitiram prosperidades às investigações dessa disciplina, sendo alvo
investigativo dos estudiosos que até os dias atuais buscam novos fatores.
34

A dispor desses fatos, é necessário entender a língua social como um fenômeno que
se desintegra dos parâmetros gramaticais normativos. Essa discussão decorre, pois, se tratando
de variação, há quem acredite em “certo” e “errado” quando o objetivo é falar corretamente o
português brasileiro. O Brasil é vasto, plural, pertence aos povoados que se constituíram a partir
de fatores diversos, (res) significando suas comunicações sem homogeneidade linguística com
os povos de outras regiões. Ao discutir o preconceito linguístico no Brasil, Marcos Bagno
(1999, p. 41) afirma que esse tipo de preconceito é, dentre outras coisas, “decorrência de um
preconceito social.” Num aparato ao contexto histórico brasileiro, essa afirmação é relativa à
pirâmide hierárquica da desigualdade que impera no Brasil desde o período de colonização, em
que o marginalizado social é apontado como um “inimigo” da língua.

2.2.3 Lexicologia e Lexicografia

A fim de evidenciar a formação dos sistemas linguísticos em toda comunidade


linguística, o referencial teórico buscou elaborar até aqui um raciocínio coerente dentro dos
campos de estudos relacionados ao léxico, cultura e sociedade. A partir daqui nossa discussão
adentrará às ciências do léxico: lexicologia, lexicografia e terminologia.
O léxico de uma língua é o registro dos conhecimentos que povos fazem dentro das
suas culturas. Faz parte desse processo natural da criação humana o inédito, a descoberta, e a
(dis)semelhança. Ao esclarecer a ocorrência desse fenômeno, Oliveira e Isquerdo (2001, p. 13)
discorrem:

Ao dar nome aos seres e objetos, o homem os classifica simultaneamente. Assim, a


nomeação da realidade pode ser considerada como a etapa primeira no percurso
científico do espírito humano de conhecimento do universo. Ao reunir os objetos em
grupos, identificando semelhanças e, inversamente, descriminando os traços
distintivos que individualizam esses seres e objetos em entidades diferentes, o homem
foi estruturando o mundo que o cerca rotulando essas entidades descriminadas.

É revelado que o léxico de uma língua resulta daquilo que o ser tem por experiência,
e que esse fenômeno comporta registros lexicais próprios dentro de toda comunidade de fala.
As sociedades estão cada vez mais interligadas, essa realidade se deve processo de globalização
que tem aproximado as sociedades com o surgimento das novas tecnologias, o que propicia a
35

troca de identidades e revela o surgimento de novas palavras. Nessa perspectiva, o léxico é,


também, um sistema aberto, passível de configurações constantes a partir das novas relações.
A Lexicologia é estudo que procura entender as caracterizações das palavras dentro
da sociedade, ela é a responsável por investigar e mapear o léxico geral da língua. Nas palavras
de Xavier (2011, p. 2), “a Lexicologia se caracteriza pela formulação de teorias, tendo em vista
a descrição e a análise do léxico, estando também entre suas funções analisar os processos de
renovação lexical. ” Ciências do mesmo campo de estudo, a Lexicologia prepara material para
a Lexicografia, ciência que, dentre algumas funções, organiza o léxico da língua nos
dicionários.
A discussão dessas ciências dentro da mesma seção se dá, pois, ainda que suas
metodologias sejam particulares, alguns pesquisadores as consideram como estudos
interrelacionados. Para Xavier (2011), a Lexicologia fundamenta a elaboração de obras de
referência, como os dicionários, e impõe reajustes à Lexicografia à medida que suas
investigações avançam. Ademais, a autora também afirma que a “Lexicografia favorece uma
ampla e variada gama de pesquisas no âmbito da Lexicologia, a exemplo dos neologismos,
arcaísmos, empréstimos linguísticos, regionalismos e etc.” (XAVIER, 2011, p. 2). Ao
concordar com essa afirmação, entendemos que a língua é viva, nela as palavras vivenciam a
dinâmica da criação, adequação e ressignificação. Por conseguinte, essa passagem será o ponto
para discorrermos os procedimentos que relacionam os campos de estudo.
Oliveira e Isquerdo (2001) defendem que a Lexicologia tem como objetos básicos
de estudo e análise da palavra, a categorização lexical e a estruturação do léxico. Igualmente, a
formação ou criação de novas palavras de uma língua não interessa a Lexicologia se dentro de
uma comunidade linguística seu uso não compreender códigos de entendimento entre os
falantes. Ademais, a lexicologia se preocupa com os aspectos de surgimento de novas palavras,
investigando suas raízes etimológicas e atribuições no meio. Os parâmetros investigativos dessa
ciência são distintos e estabelecem relações com outros estudos da língua, fazendo fronteira
com a Morfologia, pois estuda a formação das palavras; com a Semântica, que investiga suas
significações; e os Neologismos, dado a dedicação dos lexicólogos ao estudo da criação lexical
(OLIVEIRA; ISQUERDO, 2001). São essas as metodologias exercidas pela Lexicologia que
conferem os termos lexicais e suas frações aos estudos lexicográficos.

2.2.4 Etnolinguística
36

Finalizando as disciplinas de estudos da linguagem que consideramos importante


para este estudo, trazemos a Etnolinguística que é compreendida como a disciplina da
Linguística que se encarrega das relações estabelecidas entre língua, cultura e sociedade.
Estudos dessa natureza tiveram seu início no século XIX com o trabalho de pesquisadores norte-
americanos voltado para o estudo das línguas de grupos tribais buscando classificar essas
línguas do ponto de vista da linguística e da etnicidade.
Conforme Biderman (2001), o antropólogo americano Franz Boas, no final do
século XIX, descreveu grupos e línguas indígenas, buscando relacionar os fatos culturais aos
fatos linguísticos. À semelhança de Franz Boas, Sapir (1969), assim acreditava que não havia
como desvincular língua e cultura, uma vez que os sistemas sociais, culturais e linguísticos
caminham paralelamente e as mudanças da sociedade são refletidas em sua estrutura linguística.
Para Sapir (1969, p. 20) “a trama de padrões culturais de uma civilização está indicada na língua
em que essa civilização se expressa”. Conforme Lima (2014, p.32) “cada língua expressa uma
visão particular de mundo, que é organizada e refletida com mais propriedade no plano lexical”.
Como vimos no início deste capítulo, a língua é, ao mesmo tempo, produto da
cultura e condição para que essa seja transmitida, a língua se apresenta como um conjunto
heterogêneo de variedades linguísticas a ser estudado pela Sociolinguística - estudo da
variedade e variação da linguagem em relação com a estrutura social das comunidades falantes
-, e pela Etnolinguística: estudo da variedade e variação da linguagem em relação com a
civilização e a cultura. (COSERIU, 1979).
No próximo capítulo apresentamos os procedimentos metodológicos adotados neste
estudo.
37

CAPITULO 3

METODOLOGIA DA PESQUISA

3.1 Métodos e Procedimentos

Seguindo a metodologia da sociolinguística laboviana, inserimo-nos no campo para


observação direta das Folias de Santos Reis. A contar deste momento, partimos para a
elaboração do questionário semântico-lexical com base nas discussões de Tarallo (1986), e o
texto: A composição de um questionário sobre o léxico do gado, de Aguilera e Figueiredo
(2002). As gravações, realizadas dentro das festividades, foram transcritas seguindo as normas
gramaticais adotadas na dissertação: Estudo linguístico no litoral maranhense: léxico e cultura
dos pescadores no município de Raposa, de Raquel Pires Costa (2012).

3.1.1 Delimitação do corpus

O Terno dos Figueiredo e Folia de Reis do Alegre atuam em diferentes áreas do


município, assim, o encontro com esses grupos se deu em diferentes localidades e em tempos
distintos. Os sujeitos da pesquisa: definidos incialmente em três faixas etárias, para os sexos
masculino e feminino, atendiam os critérios pré-estabelecidos de que o entrevistado deveria ser
folião ativo e natural do município, tendo vivido nele, no mínimo, até os sete anos de idade.
A seleção dos entrevistados, em relação às faixas etárias, correspondia ao seguinte
plano: de 12 a 20 anos, de 21 a 54 anos, de 55 anos acima. Seriam selecionados dois foliões de
cada sexo para cada faixa-etária. Consideramos adequada essa divisão por acreditarmos que os
foliões enquadrados em cada faixa-etária pudessem revelar lexias correspondentes a sua
participação no grupo, sejam elas conservadoras ou inovadoras. Percebemos, porém, que a
formação dos grupos destoava do plano previamente traçado, uma vez que não há a participação
de mulheres no Terno dos Figueiredo e, de mesmo modo, na Folia de Reis do Alegre todos os
foliões tem idade superior a 40 anos e a quantidade de foliões é menor que o esperado. À vista
disso, consideramos entrevistar os foliões que aceitassem responder nosso questionário e
correspondessem, ainda que de maneira parcial, os critérios adotados para a escolha dos
informantes.
38

QUADRO 1 - Amostra dos informantes das Folias de Reis.

Idade De 12 a 20 anos De 21 a 54 anos Acima de 55 anos Total

Sexo Masc. Fem. Masc. Fem. Masc. Fem.


8
Total 1 0 3 0 3 1
Fonte: Pesquisa do autor.

3.1.2 Técnicas e procedimentos para a coleta de dados.

A elaboração de questionários estruturados para a coleta de dados é reconhecida


por seu êxito na Sociolinguística. Esse método valida categorizações metodológicas a serem
seguidas para a verificação dos dados obtidos no campo investigado. Tarallo (1986) entende
que a entrevista sociolinguística tem como propósito minimizar o efeito negativo causado pela
presença do entrevistador na naturalidade da fala coletada. Assim, considera importante atentar
a algumas posições assumidas na realização do estudo: ocupar o papel de aprendiz interessado
com seu informante, neutralizar sua presença diante do gravador e sua presença como elemento
estranho à comunidade.
O mapeamento dos grupos partiu das conversas informais com seus representantes.
Os diálogos prévios foram fundamentais para compreender as singularidades das folias dentro
das suas festividades. Inicialmente, identificamos os meios ocupados pelas folias em suas
peregrinações a fim de levantar hipóteses lexicais que serviriam de embasamento à pesquisa.
No segundo momento, optamos por conhecer os foliões e as funções que esses assumem na
folia, o que possibilitou registrar questões especificas. Posto isso, buscamos estruturar questões
que não interferissem no resultado que se esperava com o questionário.
De caráter lexical, esta pesquisa utilizou questionários estruturados a partir
necessidade de equalizar os resultados. Com isso, definir as perguntas tornou-se fundamental
para que não houvesse interpretações que comprometessem os resultados. A considerar que
pesquisamos grupos de uma mesma tradição e que esses grupos apresentam suas singularidades,
a estrutura do questionário apresentou perguntas sobre a folia, seus integrantes e as funções de
cada um; instrumentos, roupas, música e apresentação; festa, bebidas e comidas.
Procedimento necessário da pesquisa, adotamos uma ficha social identificada com
nome, naturalidade, sexo, faixa etária, escolaridade e profissão para vincular os dados dos
foliões.
39

QUADRO 2 - Ficha social dos informantes

Faixa
Nome
Naturalidade Sexo etária Escolaridade Profissão
(código)
(idade)

E1JATF Januária Masc. 53 anos Nível 1 Lavrador

Assistente
E2MBTF Januária Masc. 35 anos Nível 5
Social

Policial da
E3AFTF Januária Masc. 55 anos Nível 4
reserva

E4ZSRA Januária Femin. 58 anos Nível 1 Lavadeira

Porteiro
E5CARA Januária Masc. 42 anos Nível 3
escolar

E6DFTF Januária Masc. 13 anos Nível 2 Estudante

Operador de
E7LBTF Januária Masc. 76 anos Nível 2
máquinas

Servidor
E8MFTF Januária Masc. 63 anos Nível 4
Público
Fonte: Pesquisa do autor.

As perguntas, postas em folhas a parte, serviram de base para a entrevista gravada


com o suporte de um aparelho smartphone moderno. Contamos também com a impressão de
uma fotografia atual da folia para que os foliões indicassem o nome dos instrumentos em uma
ordem numérica e o nome dado aos foliões responsáveis pelos respectivos instrumentos.
Ao longo das gravações, foi necessária a adequação de algumas questões que deram
margem a dupla interpretação ou pouca abrangência interpretativa. Assim, antes constava a
seguinte questão: Como é chamado quem quebra a promessa feita para o santo? Devido à
dificuldade compreensiva dos informantes, foi posteriormente retificada para: Como é chamada
a pessoa que não cumpre a promessa para Santos Reis? Observamos que a segunda opção se
tornou mais clara e objetiva. Outras questões, porém, foram incluídas ao questionário: Antes de
sair com a folia, quando o folião passa a bandeira sobre a cabeça dos demais foliões, como
esse momento é chamado? Essa questão que não constava na primeira versão mostrou-se
40

produtiva. Em contrapartida, algumas questões foram excluídas por serem vagas ou repetitivas:
O folião deve beber algo antes de sair com a folia? Essa pergunta não se mostrou relevante.
Dessa forma, o questionário final contou com 89 questões.

3.1.3 Transcrições

Para realizar as transcrições, seguimos o modelo adotado por Costa (2012), que
segue, por sua vez, as regras utilizadas pela equipe do Projeto Filologia Bandeirante e, também
pela equipe do Projeto Pelas Trilhas de Minas: as Bandeiras e a Língua nas Gerais, modelo
adotado por Seabra (2004), Souza (2008) e Ribeiro (2010). As transcrições de ênfase lexical
seguem as seguintes normas:

Orientações gerais:
a) a transcrição não pode ser sobrecarregada de símbolos;
b) deve ser adequada aos fins;
c) deve permitir a compreensão do significado do texto;
d) deve respeitar o vocábulo mórfico como unidade gráfica;
e) deve tentar facilitar ao leitor a criação de uma imagem do texto elaborado no
plano da oralidade.

1. Nem tudo será registrado:


a) o alçamento das postônicas não será registrado:
forte =forti; grande = grandi
(A ideia é: o que não é marcado no dialeto, não precisa ser registrado);

2. Serão registrados:
a) alteamento/abaixamento das pretônicas
aduicia = adoecia
cumê = comer
premero = primeiro
deiscê - descer
b) a redução dos ditongos [ow], [ey], [ay] será grafada ortograficamente como
pronunciada:
pescadô = pescador
41

atravessadô = atravessador
boquero = boqueiro
estera = esteira
aguacera = aguaceira
c) ausência do –r:
no final dos nomes: pescadô = pescador
no final dos verbos: pescá = pescar; tecê = tecer
d) ausência do –m final, desnasalização:
visage = visagem vinhero = vieram
e) nasalização de segmentos normalmente não-nasalizados deverá ser marcada
com o til:
tãinha = tainha
f) prótese: as próteses serão marcadas, ortograficamente, como pronunciadas:
amiorá = melhorar
g) supressão de consoantes, vogais ou sílabas finais será marcada com apóstrofo.
fei´ = fez
anãozin’ = anãozinho
h) iotização, grafando com i:
fio = filha
i) aglutinação, com apóstrofo:
que’le ~ que ele
que’ru ~ que eram
j) casos de uma, alguma, nenhuma, etc. serão marcados com til:
ũa ~ uma;
k) variação fonética do ―s‖ será grafada como efetivamente realizada: mermo ~
mesmo

3. Indicações de:
Pausa: reticências...
Inaudível ou hipótese do que foi ouvido: ()
Comentários: (())
Sobreposição de fala: {}
Discurso direto: “ ”
Ênfase: maiúsculas
42

Truncamento: /

3.1.4 Fichas Lexicográficas

Para ordenar e analisar os dados coletados nas entrevistas orais e, posteriormente


transcritos com a metodologia acima estabelecida, elaboramos uma ficha para cada lexia. A
constituição dessa ficha baseou-se no modelo adotado por Costa (2012). Na primeira coluna,
apresentamos o número da ficha na primeira linha e, nas linhas seguintes a lexia analisada, o
número de ocorrências dessa lexia nas entrevistas, a abonação (contexto no qual a lexia foi
falada) seguida do código da entrevista.
Na segunda coluna trazemos os dicionários de língua geral escolhidos para a
consulta das lexias – Aurélio, Houaiss e Michaellis - e o Vocabulário Ortográfico da Língua
Portuguesa, doravante VOLP, que faz o registro oficial das palavras da Língua Portuguesa.

Ficha:
Lexia:
Número de Ocorrências:
Abonação (CODIGO DA ENTREVISTA)
Registro em dicionários:
1. Aurélio:
2. Houaiss:
3. Michaelis:
4. VOLP:

Para as lexias que não se encontram dicionarizadas, indicamos n/e (não


encontrado). E, para aquelas não registradas no VOLP, informamos N/R (não registrado).
No próximo capítulo apresentamos a análise dos dados que constituem o corpus deste
estudo.
43

CAPÍTULO 4

APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DE DADOS

Neste capítulo apresentamos a análise dos dados obtidos nas entrevistas e que
constituem o corpus desta pesquisa. Após a transcrição das 8 entrevistas orais, com duração
média de 30 minutos cada, selecionamos 55 lexias que consideramos representativas do léxico
da Folia de Reis em Januária. Essas estão organizadas em ordem alfabética.

4.1 As fichas lexicográficas

A seguir, apresentamos as 55 (cinquenta e cinco) fichas lexicográficas produzidas


para as lexias levantadas.

Ficha 01
Lexia: Adjunto
Número de ocorrências: duas
Aí é... chamava de adjunto, né? (E4ZSFA)
Registro em dicionários:
1. Aurélio: Adjunto: [Do lat. adjunctu.] S.m. 1. Ajudante, assistente, assessor; adj. 2.
Unido, próximo, contíguo, adjetivo, adjeto. 3. Bras. Na região amazônica,
movimento coletivo que reúne dezenas ou até centenas de ribeirinhos, seringueiros
ou agricultores visando a uma ação política ou social.
2. Houaiss: Adjunto: Adj. S.m. 1. Que ou o que auxilia, ajuda; auxiliar, assistente,
assessor. 1.1. Que ou aquele que substitui alguém; suplente.
2. Que ou aquele que se associa a; sócio. 2. Mutirão.
3. Michaelis: Adjunto: Adj. 1. Que está contíguo, junto ou apegado; perto, próximo,
unido; S. m. 2. Aquele que se associa a algo; associado, sócio.
4. VOLP: Adjunto: Adj. S.m. Registrado à página 19.

Ficha 02
Lexia: Alferes
Número de ocorrências: 2 (duas)
44

É chamado de alferes. (E1JARF)


Registro em dicionários:
5. Aurélio: Alferes: S.m. + S.f. 1. Hierarquia militar. 2. Militar que detém a posição
hierárquica de alferes. 3. Porta-bandeira.
6. Houaiss: Alferes: S.m. 1. Porta-bandeira. 2. Bras. Nas folias (no sentido de ‘festejos
religiosos’), o que conduz a bandeira.
7. Michaelis: Alferes: S.m. 1 Antigo posto militar abaixo do tenente que equivale à atual
parente de segundo-tenente. 2. Porta-bandeira.
8. VOLP: Alferes: S.m. Registrado à página 32.

Ficha 03
Lexia: Agasalhista
Número de ocorrências: 1 (uma)
É chamado de agasalhista. (E1JARF)
Registro em dicionários:
1. Aurélio: n/e
2. Houaiss: n/e
3. Michaelis: n/e
4. VOLP: N/R

Ficha 04
Lexia: Bagero
Número de ocorrências: 3 (três)
É, esse é o famoso bagero, que ele vai lá que sabe que onde a folia passa... (E2MBRF}
Registro em dicionários:
1. Aurélio: n/e
2. Houaiss: n/e
3. Michaelis: n/e
4. VOLP: N/R

Ficha 05
Lexia: Balainho
Número de ocorrências: 4 (quatro)
45

Balainho... (E7LBRF)
Registro em dicionários:
1. Aurélio: n/e
2. Houaiss: n/e
3. Michaelis: n/e
4. VOLP: N/R

Ficha 06
Lexia: Bandeira
Número de ocorrências: 5 (cinco)
Aqui é a bandeira, nós temos aqui como uma bandeira. (E4ZSFA)
Registro em dicionários:
1. Aurélio: Bandeira: S.f. 1. Pedaço de pano, com uma ou mais cores, às vezes com
legendas, que se hasteia num pau, e é distintivo de nação, corporação, partido, etc.;
balção, estandarte, pavilhão, pendão, lábaro. 2. Ideia, divisa ou lema que serve a
grupo, partido, etc. 3. A panícula do milho.
2. Houaiss: Bandeira: S.f 1. Peça, geralmente de pano retangular, com cores e emblema
de uma nação, estado, instituição religiosa, agremiação política, recreativa ou
desportiva. 2. Pano enfeitado ou bordado, com laços e fitas, à feição de bandeira, que
o rancho leva a frente dos pandeireiros para festejar o término da ceifa. 3.
3. Michaelis: Bandeira: S.f. 1. Pano, em geral retangular, de uma ou mais cores,
comumente com emblema e legendas, que simboliza uma nação, um estado, um
município, uma agremiação, uma instituição religiosa etc,; estandarte, insígnia,
pavilhão, pendão, signa. 2. Ideias que servem de guia a um grupo, partido etc. 3.
Caixilho envidraçado, na parte superior de portas e janelas, que servem para dar
claridade ao ambiente; lumeeira.
4. VOLP: Bandeira: S.f. Registrado à página 94.

Ficha 07
Lexia: Batedô de caixa
Número de ocorrências: 3 (três)
Batedô de caixa {batedor de caixa} é, o seu Miguel. (E7LBRF)
Registro em dicionários:
46

1. Aurélio: Batedor: S.m. 1. Aquele que bate. 2. Objeto ou instrumento que serve para
bater (sovar ou mexer, misturar). 3. Cunhador (de moeda). 4. Explorador (do campo).
2. Houaiss: Batedor: Adj. S.m. 1. Que ou aquele que vai à frente da caravana, exército
ou grupo para bater o caminho, abrindo-o ou explorando-o, com o objetivo de
conhecer suas características. 2. Que ou aquele que bate.
3. Michaelis: Batedor: Adj. S.m. 1. Que ou aquele que bate. 2. Diz-se de ou utensílio de
cozinha para bater, agitar ou mexer substâncias moles ou líquidas, como nata ou clara
de ovo; batedeira.
4. VOLP: Batedor: Adj. S.m. Registrado à página 98.

Ficha 08
Lexia: Batuque
Número de ocorrências: 2 (duas)
O batuque também é a roda bem aberta, bem grande a roda, né? (E4ZSFA)
Registro em dicionários:
1. Aurélio: Batuque: S.m. 1. Designação comum a certas danças africanas e brasileiras
acompanhadas de cantigas e de instrumentos de percussão; 2. Baile popular ao som
de instrumentos de percussão; batucada. 3. Bras. PA MAN Rel. Culto, relacionado
com o babaçuê, que incorpora ao ritual jejê-nagô elementos rituais e entidades dos
candomblés de caboclo, da pajelança, do catimbó e da umbanda.
2. Houaiss: Batuque: S.m. 1. Denominação genérica de algumas danças afro-brasileiras
acompanhadas de percussão e, por vezes, também canto. 2. No passado, dança de
roda de importação africana, com sapateado, palmas, estalar de dedos e umbigadas,
acompanhada de instrumentos de percussão, samba batido.
3. Michaelis: Batuque: S.m. 1. Ação de batucar, de bater ou martelar repetidamente, de
marcar ritmo ou fazer dessa forma. 2. Designação comum de algumas danças afro-
brasileiras acompanhadas de percussão. 3. Dança de roda de origem africana, que
consiste em forte marcação pelos quadris, sapateados, palmas, acompanhados de
estalar de dedos e instrumentos de percussão.
4. VOLP: Batuque: S.m. Registrado à página 99.

Ficha 09
Lexia: Beberrão
47

Número de ocorrências: 1 (uma)


Tem, o beberrão, aquele num serve (E7LBRF)
Registro em dicionários:
1. Aurélio: Beberrão: Adj. Que bebe muito.
2. Houaiss: Beberrão: Adj. S.m. 1. Que ou aquele que bebe muito ou freq. se alcooliza;
ébrio.
3. Michaelis: Beberrão: Adj. S.m. Que ou aquele que bebe muito, por vício; beberraz,
beberrote, bebum, pipa.
4. VOLP: Beberrão: Adj. Registrado à página 99.

Ficha 10
Lexia: Bença
Número de ocorrências: 2 (duas)
Ele é chamado de bença. (E4ZSFA)
Registro em dicionários:
1. Aurélio: Bença: Ant. Pop. S.f 1. Bênção.
2. Houaiss: Bença: S.m. 1. Benção.
3. Michaelis: Bença: S.m. 1. Benção.
4. VOLP: Bença: S.f. Registrado à página 101.

Ficha 11
Lexia: Bombo
Número de ocorrências: 2 (duas)
O bombo. (E4ZSFA)
Registro em dicionários:
1. Aurélio: Bombo: S.m. 1. Tambor de grandes dimensões e sonoridade grave, percutido
com macetas, tocado com as peles em posição vertical, e usado em bandas militares
e orquestras, bem como para marcar o ritmo na música.
2. Houaiss: Bombo: S.m. 1. Tambor cilíndrico de fuste de madeira com membrana nas
duas extremidades.
3. Michaelis: Bombo: S. m. 1. Espécie de tambor muito grande, de madeira, com
membrana nas duas extremidades, que difere do tambor propriamente dito por ser
48

tocado em posição vertical, percutido com maçanetas ou macetas; 2. Aquele que toca
bombo.
4. VOLP: Bombo: S.m. Registrado à página 112.

Ficha 12
Lexia: Caixa
Número de ocorrências: 4 (quatro)
...não é caixa feita em indústria, é uma coisa bem cultural aqui da região, com couro mesmo
de boi, às vezes até coro de... veado (E2MBRF)
Registro em dicionários:
1. Aurélio: Caixa: S.f. 1. Recipiente ou receptáculo de madeira, papelão, metal, ou outro
material, com tampa ou sem ela, com faces geralmente retangulares ou quadradas,
como uma arca, um cofre, um estojo, etc; 2. O conteúdo de uma caixa.
2. Houaiss: Caixa: S.f. 1. Qualquer receptáculo, de madeira, papelão, metal etc.,
destinado a guardar ou transportar objetos. 2. Tipo de tambor pequeno, com
membrana nas duas extremidades.
3. Michaelis: Caixa: S.f. 1. Receptáculo de formas geométricas variadas, com ou sem
tampa, de madeira, papelão, metal, etc. 2. Caixa retangular, com tampa de grandes
dimensões, para guardar pertences.
4. VOLP: Caixa: S.m.f. Registrado à página 128.

Ficha 13
Lexia: Catira
Número de ocorrências: 5 (cinco)
Aquela forma apresentada ali a gente chama de catira (E8MFRF)
Registro em dicionários:
1. Aurélio: n/e
2. Houaiss: Catira: S. 1. Mesmo que cateretê.
3. Michaelis: n/e
4. VOLP: S.m.f Registrado à página 151.

Ficha 14
Lexia: Cavalhero
49

Número de ocorrências: 1 (uma)


A pessoa que já participou mais de uma folia a gente se chama de cavalhero. (E1JARF)
Registro em dicionários:
1. Aurélio: Cavalheiro: S.m. 1. Homem de sentimentos e ações nobres. 2. Homem de
boa sociedade. 3. O homem que dança com uma mulher.
2. Houaiss: Cavalheiro: Adj. S.m. 1. Que ou aquele que possui educação esmerada;
educado, delicado, gentil. S.m. 2. Homem da nobreza; cavaleiro.
3. Michaelis: Cavalheiro: S.m. 1. Homem de boas ações e sentimentos nobres. 2.
Homem de boa sociedade e educação.
4. VOLP: Adj. S.m. Registrado à página 153.

Ficha 15
Lexia: Cesta
Número de ocorrências: 1 (uma)
A gente se chama de... cesta (E1JARF)
Registro em dicionários:
1. Aurélio: Cesta: (ê) [Do gr. kíste, pelo lat. cista.] S.m. 1. Receptáculo feito de verga,
fibra, etc., entrançada, o qual pode ser ou não provido de asas ou alças, e de tampa, e
serve para guardar ou transportar roupas, alimentos, pequenas mercadorias e objetos.
2. Houaiss: Cesta: S.f. 1. Utensílio próprio para a guarda de objetos diversos, feito de
material vário (vime, palha, et.) Entrançado, provido ou não de alças e/ou tampa,
conforme o uso; cesto.
3. Michaelis: Cesta: S.f. 1. Receptáculo de formas geométricas variadas, com ou sem
tampa, de madeira, papelão, metal, etc.
4. VOLP: Cesta: S.f. Registrado à página 159.

Ficha 16
Lexia: Companheiro
Número de ocorrências: 3 (três)
Que veio de outra folia, a gente se chama companheiros, que se junta ao grupo (E1JARF)
Registro em dicionários:
1. Aurélio: Companheiro: Adj. 1. Que acompanha. S.m. 2. Aquele que acompanha; 3.
Camarada, colega; 4. Homem em relação a quem se relaciona.
50

2. Houaiss: Companheiro: Adj. 1. Que ou que acompanha, faz companhia ou vai na


companhia. S.m. 2. Aquele que participa das ocupações, atividades, aventuras ou do
destino de outra pessoa.
3. Michaelis: Companheiro: Adj. 1. Que acompanha ou vai na companhia. S.m. 2.
Aquele que acompanha; 3. Aquele que participa das atividades ou do destino de outra
pessoa; Caperom.
4. VOLP: Companheiro: Adj. S.m. Registrado à página 184.

Ficha 17
Lexia: Cuia
Número de ocorrências: 4 (quatro)
...só pode tomar a cachaça na cuia do Imperador (E2MBRF)
Registro em dicionários:
1. Aurélio: Cuia: [Do tupi.] S.f. 1. Fruto da cuieira; 2. Vaso feito desse fruto maduro e
de outros, como os de certas cucurbitáceas, depois de esvaziado o miolo.
2. Houaiss: Cuia: S.f. 1. Fruto da cuieira, uma grande baga ovoide, de casca lenhosa e
impermeável quando madura. 2. Recipiente geral, ovoide feito desse fruto, depois de
seco e desprovido de polpa, usado para esvaziar canoas, beber ou transportar líquidos,
farinha, sementes etc.
3. Michaelis: Cuia: S.f. 1. Fruto bacáceo oviforme da cuieira, que, depois de maduro,
apresenta casca lenhosa e impermeável da qual são feitos diversos objetos; 2.
Qualquer vasilha feita da casca desse fruto, geralmente utilizados para tirar água de
pequenos barcos, beber ou transportar líquidos, farinha etc.
4. VOLP: Cuia: S.f Registrado à página 213.

Ficha 18
Lexia: Derruba cerca
Número de ocorrências: 1 (uma)
A gente chama de derruba cerca. (E1JARF)
Registro em dicionários:
1. Aurélio: Derruba: S.f. 1. Variação de derrubada.
2. Houaiss: Derruba: S.f. 1. No sentido de ‘abatimento de árvores.
3. Michaelis: Derruba: S.f. 1. Derrubada.
51

4. VOLP: Derruba: S.f. Registrado à página 230.

Ficha 19
Lexia: Despedida
Número de ocorrências: 2 (duas)
Chama despedida. (E8MFRF)
Registro em dicionários:
1. Aurélio: Despedida: S.f. 1. Ato de despedir(se); despedimento.
2. Houaiss: Despedida: S.f. 1. Ato ou efeito de despedir(se); partida, saída, separação,
demissão, adeus. 2.
3. Michaelis: Despedida: S.f 1. Ação ou efeito de despedir ou despedir-se; separação,
partida, adeus. 2. Ato de concluir, de finalizar algo. 3. Folc. Parte final do cerimonial
das folias de reis, do Divino, do bumba meu boi e das danças rústicas, como o
fandango.
4. VOLP: Despedida: S.f. Registrado à página 152.

Ficha 20
Lexia: Encontro Irmandade
Número de ocorrências: 1 (uma)
Se chama de encontro irmandade (E1JARF)
Registro em dicionários:
1. Aurélio: Encontro: S.m. 1. Ato de encontrar(-se). 2. Luta, briga, recontro.
2. Houaiss: Encontro: S.m. 1. Ato de encontrar(-se), de chegar um diante do outro. 2.
Ação ou efeito de descobrir, de achar.
3. Michaelis: Encontro: S.m. Ato ou efeito de encontrar(-se). 2. Choque, geralmente
violento, entre dois indivíduos ou duas coisas; embate, encontrão.
4. VOLP: Encontro: S.m. Registrado à página 291.

Ficha 21
Lexia: Festeiro
Número de ocorrências: 3 (três)
O festeiro é a pessoa que um ano anterior ele se candidatô, ele colocô o seu nome ali a
disposição do imperador para fazer ali aquela programação pro ano seguinte. (E2MBRF)
52

Registro em dicionários:
1. Aurélio: Festeiro: Adj. 1. Que frequenta festas. 2. Que faz festas ou carícias.
2. Houaiss: Festeiro: Adj. S.m. 1. Que ou quem realiza, organiza festa(s), e
frequentemente a(s) custeia. 2. Que ou aquele que é escolhido para dar crédito,
patrocínio à solenidade religiosa.
3. Michaelis: Festeiro: Adj. S.m. 1. Que ou aquele que organiza festas. 2. Que ou aquele
que é escolhido para patrocinar festas religiosas.
4. VOLP: Festeiro: Adj. S.m. Registrado à página 345.

Ficha 22
Lexia: – Folia temporona
Número de ocorrências: 2 (duas)
Se chama folia temporona, fora de época. (E1JARF)
Registro em dicionários:
1. Aurélio: Folia: S.f. 1. Folgança ruidosa; pândega. 2. Ant. Mús. Na Península Ibérica,
dança viva, ao som de pandeiro, adufe e canto. 3. Mús. Forma musical espanhola que,
por seu estilo e construção, se aproxima de chacona ou da passacale esse presta
facilmente à variação instrumental.
2. Houaiss: Folia: S.f. 1. Loucura, desatino. 2. Antiga dança portuguesa movimentada,
ao som de adufes e pandeiros, acompanhada por cantos e executada por homens
vestidos de mulher.
3. Michaelis: Folia: S.f. 1. Na Península Ibérica, danças executadas por homens vestidos
de mulher e acompanhadas por cantos, ao som de pandeiros e adufes. 2. Festejo
animado e ruidoso; baile, farra, folguedo.
4. VOLP: Folia: S.f. Registrado à página 353.

Ficha 23
Lexia: Folião de guia
Número de ocorrências: 5 (cinco)
Folião de guia, esse é o responsável (E8MFRF)
Registro em dicionários:
1. Aurélio: Folião: Adj. S.m. 1. Histrião, farsante. 2. Amigo da folia, dos folguedos.
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2. Houaiss: Folião: Adj. S.m. 1. Que ou aquele que participa de folias. 2. Que ou aquele
que é alegre, divertido, histrião.
3. Michaelis: Folião: Adj. S.m. 1. Diz-se de ou pessoa que participa de folias.
4. VOLP: Folião: S.m. Registrado à página 353.

Ficha 24
Lexia: Folião Mestre
Número de ocorrências: 1 (uma)
Normalmente é os folião mestre, né? (E3AFRF)
Registro em dicionários:
1. Aurélio: Folião: Adj. S.m. 1. Histrião, farsante. 2. Amigo da folia, dos folguedos.
2. Houaiss: Folião: Adj. S.m. 1. Que ou aquele que participa de folias. 2. Que ou aquele
que é alegre, divertido, histrião.
3. Michaelis: Folião: Adj. S.m. 1. Diz-se de ou pessoa que participa de folias.
4. VOLP: Folião: S.m. Registrado à página 353.

Ficha 25
Lexia: Giro
Número de ocorrências: 4 (quatro)
É o giro, né? (E2MBRF)
Registro em dicionários:
1. Aurélio: Giro: [Do gr. gyaeros, pelo lat. gyru.] gS.m. 1. Volta, circuito, rotação,
revolução. 2. Circunlóquio, rodeio.
2. Houaiss: Giro: S.m. 1. Movimento giratório em torno de um centro; volta, rotação. 2.
Atividade comercial; comércio. 3. Circulação de moedas ou título de créditos.
3. Michaelis: Giro: S.m. 1. Movimento circular ou giratório em redor de um centro;
rotação, torno, volta. 2. Movimento circulatório de algo; circulação. 3. Jogo de bilhar
do qual participam quatro pessoas, formando duplas.
4. VOLP: Giro: Adj. S.m.f. Registro à página 374.

Ficha 26
Lexia: Grupo em oração
Número de ocorrências: 1 (uma)
54

É chamado de grupo em oração. (E7LBRF)


Registro em dicionários:
1. Aurélio: Grupo: S.m. 1. Conjunto de objetos que se veem duma vez ou se abrangem
no mesmo lance de olhos. 2. Reunião de coisas que formam um todo. 3. Reunião de
pessoas.
2. Houaiss: Grupo: S.m. 1. Conjunto de pessoas ou coisas dispostas proximamente e
formando um todo. 2. Reunião de várias pessoas.
3. Michaelis: Grupo: S.m. 1. Conjunto de pessoas ou coisas que formam um todo. 2.
Agrupamento de diversas pessoas.
4. VOLP: Grupo: S.m. Registrado à página 383.

Ficha 27
Lexia: Guizo
Número de ocorrências: 1 (uma)
É um guizo, né? (E3AFRF)
Registro em dicionários:
1. Aurélio: Guizo: S.m. 1. Pequena esfera oca de metal, com pequenas aberturas ou
furos, que tem dentro um pedaço de metal ou bolinha(s), e que, ao ser agitada, produz
som.
2. Houaiss: Guizo: S.m. 1. Esfera oca de metal, que é percutida quando as bolinhas de
ferro colocadas em seu interior são agitadas. 2. Alegria ruidosa.
3. Michaelis: Guizo: S.m. 1. Pequena peça esfera oca de metal, com furos minúsculos,
que tem dentro pequeninas bolas que produzem barulho ao serem agitadas.
4. VOLP: Guizo: S.m. Registrado à páginan386.

Ficha 28
Lexia: Imperador
Número de ocorrências: 6 (seis)
De Imperador, toda vida eu conheço como Imperador (E8MFRF)
Registro em dicionários:
1. Aurélio: Imperador: (ô) [Do lat. imperatore.] S.m. 1. Aquele que impera, que rege
um império. 2. Designação dada aos soberanos de algumas nações.
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2. Houaiss: Imperador: S.m. 1. Título do detentor do poder supremo no Império romano


a partir de Augusto, fundador desse império (regn. 27 a.C. – 14 d.C.)
3. Michaelis: Imperador: S.m. 1. Aquele que impera ou reina. 2. Monarca ou soberano
de um império.
4. VOLP: Imperador: S.m. Registrado à página 418.

Ficha 29
Lexia: Ladainha
Número de ocorrências: 4 (quatro)
A reza, a ladainha, normalmente são rezaderas locais, né? (E3AFRF)
Registro em dicionários:
1. Aurélio: Ladainha: [Do gr. litaneîa, pelo lat. tard. litania.] S.f. 1. Oração formada por
uma série de invocações curtas e respostas repetidas. 2. Fig. Relação, narração, ou
conversa longa e fastidiosa; lenga-lenga, cantilena.
2. Houaiss: Ladainha: S.f. 1. Prece litúrgica estruturada na forma de curtas invocações
a Deus, a Jesus Cristo, à Virgem, aos santos, recitadas pelo celebrante, que se
alternam com as respostas da congregação (fiéis e/ou religiosos). 2. Prece desse tipo
que se faz privadamente, em família em em pequeno grupo de fiéis.
3. Michaelis: Ladainha: S.f. 1. Série de curtas invocações em honra de Deus; da Virgem
ou dos santos. 2. Canto entoado no ritual de abertura de uma roda de capoeira.
4. VOLP: Ladainha: S.f Registrado à página 450.

Ficha 30
Lexia: Lapinha
Número de ocorrências: 7 (sete)
Aquilo ali é um símbolo sagrado é... a lapinha (E8MFRF)
Registro em dicionários:
1. Aurélio: Lapinha: [Dim. de lapa.] S.f. 1. Certa representação popular antiga. 2. Bras.
N.E. Nicho ou presépio que se forma pelas festas de Natal e Reis.
2. Houaiss: Lapinha: S.f. 1. Pequena lapa. 2. Antiga representação popular, encenada
diante do presépio, de que se originou o pastoril; de religiosidade mais intensa do que
este, dela não constavam as danças e cantos por este introduzidos, estranhos ao tema
natalino.
56

3. Michaelis: Lapinha: S.f. 1. Representação dramática para celebrar o nascimento de


Jesus, feita diante dos presépios ou em palcos ou tablados nas praças públicas,
inspirada, provavelmente, nas festas dos pastores da Idade Média.
4. VOLP: Lapinha: S.f. Registrado à página 454.

Ficha 31
Lexia: Latada
Número de ocorrências: 1 (uma)
A latada é uma espécie d’uma barraca, d’uma tenda, né? (E2MBRF)
Registro em dicionários:
1. Aurélio: Latada: S.f. 1. Grade de varas ou de canas, para sustentar parreiras ou
qualquer planta sarmentosa. 2. Pancada com lata. 3. Bras. N.E.E. Cobertura
improvisada (em geral de folhas de coqueiro) para abrigar alguém ou alguma coisa.
2. Houaiss: Latada: S.f. 1. Bras. N.E. No sertão, alpendre de casa de pobre.
3. Michaelis: Latada: S.f. 1. Pancada com lata. 2. Reg. (N.) Abrigo ou cobertura de
capim ou coqueiro.
4. VOLP: Latada: S.f. Registrado à página 455.

Ficha 32
Lexia: Lundu
Número de ocorrências: 5 (cinco)
O lundu cê faz uma roda, né? (E4ZSFA)
Registro em dicionários:
1. Aurélio: Lundu: [De or. Afr.] S.m. Bras. 1. Dança de par solto, de origem africana,
que teve seu esplendor no Brasil em fins do séc. XVIII e começos do séc. XIX. 2.
Dos meados do séc. XIX em diante, canção solista, influenciada pelo lirismo da
modinha e frequentemente de caráter cômico.
2. Houaiss: Lundu: S.m. 1. Designação de várias canções populares inspiradas em
ritmos africanos que foram introduzidas em Portugal e no Brasil a partir do séc. XVI.
2. Dança de par separado, de origem africana, em compasso binário com primeiro
tempo sincopado.
57

3. Michaelis: Lundu: S.f. 1. Peça popular apenas cantada, de caráter brejeiro, derivada
da dança do mesmo nome, muito em voga nos salões da sociedade colonial, a partir
do século XIX, influindo em algumas formas do folclore brasileiro atual.
4. VOLP: Lundu: S.m. Registrado à página 471.

Ficha 33
Lexia: Maestro
Número de ocorrências: 4 (quatro)
É chamado de maestro. (E1JARF)
Registro em dicionários:
1. Aurélio: Maestro: S.m. 1. Compositor musical. 2. Regente de orquestra ou banda.
2. Houaiss: Maestro: S.m. 1. Aquele que dirige orquestra, coro ou banda.
3. Michaelis: Maestro: S.m. 1. Compositor de música.
4. VOLP: Maestro: S.m. Registrado à página 476.

Ficha 34
Lexia: Manto
Número de ocorrências: 2 (duas)
Isso é chamado de manto. (E1JATF)
Registro em dicionários:
1. Aurélio: Manto: S.m. 1. Vestidura larga, comprida e sem mangas, usada para abrigo
da cabeça e do tronco. 2. Capa de cauda e roda que se prende nos ombros.
2. Houaiss: Manto: S.m. 1. Veste ampla, de cauda e sem mangas, usada sobre a roupa
para proteger o corpo. 2.
3. Michaelis: Manto: S.m. 1. Hábito usado por certas religiosas.
4. VOLP: Manto: S.m. Registrado à página 484.

Ficha 35
Lexia: Mesa Santa
Número de ocorrências: 1 (uma)
Se chama de mesa santa (E1JARF)
Registro em dicionários:
58

1. Aurélio: Mesa: S.f. 1. Móvel, comumente de madeira, sobre o qual se come, escreve,
trabalha, joga, etc. 2. Conjunto do presidente secretários de uma assembleia. 3. A
alimentação, o passadio, o sustento.
2. Houaiss: Mesa: Adj. S.m.f. 1. Relativo a ou indivíduo das mesas, povo ribeirinho ds
Foz do Indo. S.f. 2. Móvel composto de um tampo horizontal, de formatos diversos,
repousando sobre um ou mais pés, e que geralmente se destina a fins utilitários:
refeições, jogos, escrita, costura, apoio etc.
3. Michaelis: Mesa: S.f. 1. Móvel formado por uma superfície horizontal, e um ou mais
pés que o sustentam, e que é usado para fazer refeições, escrever, jogar, executar ou
preparar um grande número de trabalhos mecânicos e artísticos.
4. VOLP: Mesa: S.f. Registrado à página 499.

Ficha 36
Lexia: Missão
Número de ocorrências: 2 (duas)
Ele cumpriu, né? Uma, uma missão (E3AFRF)
Registro em dicionários:
1. Aurélio: Missão: [Do lat. missione.] S.f. 1. Função ou poder que se confere a alguém
para fazer algo; encargo, incumbência. 2. O conjunto das pessoas que receberam um
encargo religioso, científico, etc.
2. Houaiss: Missão: S.f. 1. Incumbência que alguém deve executar a pedido ou por
ordem de outrem. 2. Pregação ou sermão doutrinal.
3. Michaelis: Missão: S.f. 1. Tarefa que é dever de alguém realizar, encargo,
incumbência.
4. VOLP: Missão: S.f. Registrado à página 511.

Ficha 37
Lexia: Observador
Número de ocorrências: 3 (três)
Observador, né? Das coisas... (E7LBRF)
Registro em dicionários:
1. Aurélio: Observador: [Do lat. observatore.] Adj. 1. Que observa; observante. 2.
Respeitador, cumpridor. S.m. 3. Aquele que observa; espectador, observante.
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2. Houaiss: Observador: Adj. S.m. 1. Que ou o que cumpre uma regra, um costume,
uma prática. 2. Que ou quem observa ou examina.
3. Michaelis: Observador: Adj. S.m. 1. Diz-se de ou indivíduo que faz observações com
argúcia. 2. Diz-se do ou indivíduo habituado a criticar.
4. VOLP: Observador: Adj. S.m. Registrado à página 546.

Ficha 38
Lexia: Oreia chata
Número de ocorrências: 1 (uma)
...é os oreia chata, que os oreia chata nem canta, nem dança, nem nada vai só pá
cumê.(E7LBRF)
Registro em dicionários:
1. Aurélio: Orelha: Loc. Adj. Até às orelhas, dos pés à cabeça. S.f. 2. Órgão do ouvido
situado na parte externa em cada lado da parte externa da cabeça; pavilhão ou concha
auditiva. 2. Sentido pelo qual se percebem os sons. 3. A parte fendida do martelo,
oposta à cabeça, e que serve para endireitar ou tirar pregos.
2. Houaiss: Orelha: S.f. 1. Orgão de audição, que possui três partes principais (externa,
média, interna). 2. Parte mais externa e cartilaginosa da orelha, em forma de concha.
3. Michaelis: Orelha: S.f. 1. Órgãos do sentido responsáveis pela audição, anteriormente
denominado ouvido. 2. Parte externa e cartilaginosa, situada de cada lado da cabeça,
semelhante a uma concha.
4. VOLP: Orelha: S.f. Registrado à página 556.

Ficha 39
Lexia: Ouvinte
Número de ocorrências: 2 (duas)
Ah, só mermo... é um ouvinte, né? (E4ZSRA)
Registro em dicionários:
1. Aurélio: Ouvinte: S.f + S.m. 1. Pessoa que assiste a um discurso, conferência,
preleção, aula, etc.; ouvidor. 2. Estudante que assiste às aulas, mas não presta exame
nem obtém certificado de aprovação.
2. Houaiss: Ouvinte: S.f. + S.m. 1. Que ou aquele que ouve; ouvidor.
60

3. Michaelis: Ouvinte: Adj m+f. S.m + f. 1. Estudante que assiste às aulas de um curso
ou de uma disciplina sem estar regularmente matriculado na instituição. 2. Em
linguagem oral, o destinatário a quem a mensagem é enviada.
4. VOLP: Ouvinte: Adj. Registrado à página 561.

Ficha 40
Lexia: Pretendentes
Número de ocorrências: 1 (uma)
A gente costuma chamar os mais novos de pretendentes (E3AFRF)
Registro em dicionários:
1. Aurélio: Pretendentes: [Do lat. praetendente.] Adj. 1. Que pretende; pretendedor. S.
2. Pessoa que pretende; pretendedor. S.m. 3. Aquele que aspira à mão de uma mulher.
2. Houaiss: Pretendentes: Adj. m+f. S. m+f. 1. Que ou que pretende (alguma coisa);
candidato, aspirante. 2. Que ou aquele que solicita (algo); requerente.
3. Michaelis: Pretendentes: Adj. m+f. S. m+f. 1. Que ou aquele que pretende algo;
aspirante, candidato, pretendedor.
4. VOLP: Pretendentes: Adj. Registrado à página 623.

Ficha 41
Lexia: Promessa
Número de ocorrências: 5 (cinco)
A gente tá cumprino aquela promessa (E7LBRF)
Registro em dicionários:
1. Aurélio: Promessa: [Do lat. med. promissa.] S.f. Ato ou efeito de prometer. 2. Coisa
prometida. 3. Oferta, dádiva.
2. Houaiss: Promessa: S.f. 1. Ato ou efeito de prometer. 2. Rel. Oferta de pagamento
futuro (em orações, sacrifícios, penitências, dinheiro, ex-votos, etc.) feito a Deus, à
Virgem Maria ou aos santos, para obter alguma graça ou benefício.
3. Michaelis: Promessa: S.f. 1. Ato ou efeito de prometer; prometimento, promissão.
4. VOLP: Promessa: S.f. Registrado à página 626.

Ficha 42
Lexia: Ramo
61

Número de ocorrências: 2 (duas)


Aquele arranjo ali a gente chama ele, toda vida a gente considera ele, chama ele como um
ramo. (E4ZSFA)
Registro em dicionários:
1. Aurélio: Ramo: [Do lat. ramu.] S.m. 1. Bot. Subdivisão do caule das plantas, com a
mesma constituição deste; galho. 2. Molho de flores ou folhagens.
2. Houaiss: Ramo: S.m. 1. Divisão ou subdivisão do caule ou eixo central das plantas;
galho. 2. Porção de flores ou folhagens; buquê.
3. Michaelis: Ramo: S.m. 1. Cada uma das partes formadas pela divisão ou subdivisão
do caule ou tronco central. 2. Catol. Palma benta que, no domingo de ramos, se
distribui aos fiéis.
4. VOLP: Ramo: S.m. Registrado à página 651.

Ficha 43
Lexia: Reco-reco
Número de ocorrências: 4 (quatro)
Número seis é um reco-reco. (E2MBTF)
Registro em dicionários:
1. Aurélio: Reco-reco: Angol. Bras. Santom. Mús. Instrumento de percussão que produz
um ruído rascante e intermitente, causado pelo atrito de duas partes separadas, e que
consiste num gomo de bambu, metal ou até plástico, no qual se abrem regos
transversais e que se faz soar passando por estes uma varinha, baqueta ou tala. 2.
Bras. Ruído semelhante ao que é produzido por esse instrumento. 3. Bras. Brinquedo
infantil que consiste numa haste em cuja ponta, ordinariamente revestida de breu, se
enlaça um barbante preso pela outra extremidade ao fundo de um cilindro de papelão
ou de cartolina, o qual, ao girar, emite um zumbido rascante; rói-rói, zumbidor.
2. Houaiss: Reco-reco: S.m. Mús. 1. Instrumento de percussão feito de um gomo de
bambu seco com entalhes transversais, sobre os quais se esfrega uma vareta,
produzindo som rítmico para acompanhamento em música popular; ganzá, rapa,
reque-reque, querequexé. 2.
3. Michaelis: Reco-reco: S.m. Mús. 1. Instrumento de percussão originalmente feito
com um gomo seco de bambu com entalhes transversais, nos quais se esfrega uma
62

vareta, a fim de produzir som rítmico como acompanhamento em música popular,


especialmente no samba; ganzá, querequexé, rapa, reque-reque.
4. VOLP: Reco-reco: S.m. Registrado à página 656.

Ficha 44
Lexia: Retrato
Número de ocorrências: 2 (duas)
É... a gente se chama de retrato (E1JARF)
Registro em dicionários:
1. Aurélio: Retrato: [Do it. ritratto.] S.m. 1. Representação da imagem de uma pessoa
real, pelo desenho, pintura, gravura, etc., ou pela fotografia. 2. Bras. Fotografia.
2. Houaiss: Retrato: S.m. 1. Imagem de uma pessoa (real ou imaginária), reproduzida
pela pintura, pelo desenho ou escultura.
3. Michaelis: Retrato: S.m. 1. Imagem de uma pessoa, reproduzida por pintura,
desenho, escultura, fotografia etc. 2. Cópia exata das feições de alguém.
4. VOLP: Retrato: Adj. S.m. Registrado à página 668.

Ficha 45
Lexia: Rezadeira
Número de ocorrências: 5 (cinco)
Olha, rapaiz, tanta gente... que o responsavi, () chegá numa casa onde nós teve muitas
pessoa, que tem as rezadeiras, né? (E7LBRF)
Registro em dicionários:
1. Aurélio: n/e
2. Houaiss: n/e
3. Michaelis: Rezadeira: S.f. 1. Mulher que reza muito ou faz rezas para afastar os
males, perigos, desgraças.
4. VOLP: Rezadeira: S.f. Registrado à página 669.

Ficha 46
Lexia: Samba
Número de ocorrências: 5 (cinco)
A gente faz a roda de samba. (E3AFTF)
63

Registro em dicionários:
1. Aurélio: Samba: S.m. 1. Bras. Dança cantada, de origem africana, compasso binário
e acompanhamento obrigatoriamente sincopado. 2. Bras. A música que acompanha
essa dança.
2. Houaiss: Samba: S.m. 1. Bras. Qualquer baile popular, urbano ou rural. 2. Dança de
roda semelhante ao batuque; com dançarinos solistas e eventual presença da
umbigada, difundida em todo Brasil com variantes coreográficas e de
acompanhamento instrumental.
3. Michaelis: Samba: S.m. 1. Dança popular brasileira, de origem africana, derivada do
batuque, com variedades urbana e rural, e coreografias diversas, acompanhada de
melodia em compasso binário e passo sincopado, que se tornou dança de salão
universalmente conhecida e adotada. 2.Composição musical própria para essa dança.
4. VOLP: Samba: S.m.f. Registrado à página 684:

Ficha 47
Lexia: Sanfona
Número de ocorrências: 6 (seis)
Esse é uma sanfona. (E8MFTF)
Registro em dicionários:
1. Aurélio: Sanfona: [Do gr. symphonía, pelo lat. symphonia, no lat. vulg. *sumphonia.]
S.f. 1. Viela de roda. 2. Rabeca. 3. Bras. Ponto de tricô em que se sucedem
alternadamente, pelo direito e pelo avesso, pontos de meia (v. ponto de meia), feitos
em colunas verticais, que dão elasticidade ao tecido.
2. Houaiss: Sanfona: S.f. 1. Utensílio de ferreiro; rabeca. 2. Viela.
3. Michaelis: Sanfona: S.f. Mús. 1. Acordeão. 2. Viela. 3. Objeto de ferreiro, usado para
girar a broca; rabeca.
4. VOLP: Sanfona: S.f. Registrado à página 685.

Ficha 48
Lexia: Sanfoneiro
Número de ocorrências: 4 (quatro)
É o sanfoneiro. (E8MFTF)
Registro em dicionários:
64

1. Aurélio: Sanfoneiro: S.m. 1. Tocador de sanfona ou de acordeão.


2. Houaiss: Sanfoneiro: S.m. 1. Aquele que toca sanfona.
3. Michaelis: Sanfoneiro: S.m. 1. Tocador de sanfona, sanfonina, sanfoneiro.
4. VOLP: Sanfoneiro: S.m. Registrado à página 685.

Ficha 49
Lexia: Toalha
Número de ocorrências: 6 (seis)
Essa vestimenta é uma toalha, a toalha é um símbolo sagrado da folia. (E8MFRF)
Registro em dicionários:
1. Aurélio: Toalha: S.f. 1. Peça de linho, de algodão ou de outro tecido, para enxugar
qualquer parte do corpo que se lave. 2. Tecido que se estende sobre a mesa às
refeições.
2. Houaiss: Toalha: S.f. 1. Peça de linho, algodão, plástico etc., que se estende sobre a
mesa à hora das refeições. 2. Tudo o que tem a forma ou aparência de toalha.
3. Michaelis: Toalha: S.f. 1. Peça de pano, plástico ou qualquer outro material para
forrar a mesa à hora das refeições.
4. VOLP: Toalha: S.f. Registrado à página 745.

Ficha 50
Lexia: Trianglista
Número de ocorrências: 1 (uma)
É trianglista, né? (E4ZSRA)
Registro em dicionários:
1. Aurélio: n/e
2. Houaiss: n/e
3. Michaelis: n/e
4. VOLP: N/R

Ficha 51
Lexia: Triângulo
Número de ocorrências: 2 (duas)
É... tem a pessoa que é... que toca o triângulo. (E4ZSRA)
65

Registro em dicionários:
1. Aurélio: Triângulo: [Do lat. triangulu.] S.m. 1. Geom. Polígono de três lados. 2.
Qualquer objeto em forma de triângulo. 3. Instrumento musical feito por um pedaço
de ferro torcido em forma de triângulo, tocado por uma vareta de metal, e muito usado
no forró.
2. Houaiss: Triângulo: S.m. 1. Polígono de três lados; trilátero. 2. Instrumento de
percussão feito de metal, na forma triangular, e percutido por uma vareta de metal.
3. Michaelis: Triângulo: S.m. 1. Polígono de três lados; trilátero. 2. Qualquer objeto que
tenha formato triangular. 3. Instrumento de percussão que consiste em uma vareta
metálica dobrada em formato triangular e percutido com um bastão de metal;
ferrinhos.
4. VOLP: Triângulo: S.m. Registrado à página 755.

Ficha 52
Lexia: Viola
Número de ocorrências: 6 (seis)
Essa, essa é a viola caipira, essa é a mestre, esse é o principal instrumento da folia.
(E3AFTF)
Registro em dicionários:
1. Aurélio: Viola: S.f. Mús. 1. Instrumento de cordas dedilháveis e que se assemelha ao
violão (1) na forma e na sonoridade. 2. Mús: Instrumento musical da família do
violino, porém de maior dimensão, afinado uma quinta abaixo da afinação do violino
e uma oitava acima da do violoncelo: dó, sol, ré, lá.
2. Houaiss: Viola: S.f. Mús. 1. Instrumento de arco e corda fraccionáveis cuja família
se difundiu pela Europa a partir do séc. XV. 2. Instrumento de cordas dedilháveis,
semelhante ao violão, porém menor, com cinco eu seis cordas duplas de metal, de
larga utilização na música rural brasileira e portuguesa.
3. Michaelis: Viola: S.f. Mús. 1. Instrumento musical de arco e cordas, de uma família
que se difundiu na Europa na Idade Média, atingindo seu apogeu no século XV.
4. VOLP: Viola: S.f. Registrado à página 787.

Ficha 53
Lexia: Violeiro
66

Número de ocorrências: 4 (quatro)


Violeiro. (E2MBTF)
Registro em dicionários:
1. Aurélio: Violeiro: S.f. 1. Fabricante de instrumentos de cordas. 2. Bras. Tocador de
viola.
2. Houaiss: Violeiro: Adj. + S.m. 1. Que ou aquele que fabrica instrumentos de corda.
2. Que ou quem toca viola (brasileira ou portuguesa).
3. Michaelis: Violeiro: Adj. + S.m. 1. Que ou aquele que fabrica instrumentos de corda.
2. Que ou aquele que toca viola.
4. VOLP: Violeiro: S.m. Registrado à página 787.

Ficha 54
Lexia: Xique-xique
Número de ocorrências: 2 (duas)
É chamado de Xique-xique. (E1JARF)
Registro em dicionários:
1. Aurélio: Xique-xique: S.m. Bras. Mús. MG. 1. ganzá:
2. Houaiss: Xique-xique: S.m. 1. Mesmo que ganzá (no sentido de ‘chocalho’).
3. Michaelis: Xique-xique: S.m. Bras. MG. Mús. ganzá.
4. VOLP: Xique-xique: S.m. Registrado à página 795.

Ficha 55
Lexia: Xiquito
Número de ocorrências: 1 (uma)
Xiquito. (E1JARF)
Registro em dicionários:
1. Aurélio: n/e
2. Houaiss: n/e
3. Michaelis: n/e
4. VOLP: N/R

4.2 Análise dos dados


67

Apresentamos a seguir a análise dos dados apresentados nas fichas lexicográficas.

4.2.1 Registro das lexias nos dicionários

Das lexias que constituem o corpus desta pesquisa, 50 (90,91%) estão registradas
nos dicionários consultados e, somente 5 lexias não foram registradas em nenhum dos
dicionários, o que corresponde a 9,9% do total, conforme o gráfico 1

NÚMERO DE LEXIAS NÃO DICIONARIZADAS E


DICIONARIZADAS
9,90%

90,91%

Não dicionarizadas Dicionarizadas

Gráfico 1 - Número de lexias não dicionarizadas.


Fonte: Dados da pesquisa (2022).

As lexias dicionarizadas - alferes, bandeira, batedô, batuque, beberrão, bença, bombo,


caixa, catira, cesta, cuia, despedida, encontro irmandade, festeiro, folia temporona, folião de
guia, folião mestre, giro, grupo em oração, guiso, imperador, ladainha, latada, lundu, maestro,
manto, mesa santa, missão, observador, oreia chata, ouvinte, pretendentes, promessa, ramo,
reco-reco, rezadeira, samba, sanfona, sanfoneiro, toalha, triângulo, viola, violeiro, xique-xique
– tem na Folia de Reis a mesma acepção verificada em pelo menos um dos dicionários.
As lexias abaixo descritas também estão dicionarizadas, mas os significados que essas
assumem no contexto da Folia de Reis em Januária divergem das acepções apresentadas nos
dicionários consultados:
 Adjunto: nome dado à bebida artesanal preparada com a cachaça, folha e raízes;
bebida servida aos foliões.
 Cavalhero (variante de cavalheiro): folião veterano em outras folias; que já
participou de mais de uma folia.
68

 Companheiro: folião que veio de outra folia.


 Derruba cerca: os dicionários consultados não registram a lexia complexa
“derruba cerca” - aquele que assiste a folia amontoado na cerca; aquele que
derruba a cerca; que sobe na cerca para assistir a folia tocar nas comunidades
rurais.
 Retrato: bandeira; estandarte da folia que é carregado pelo alfere.

Sobre as lexias não dicionarizadas agasalhista, bagero, balainho, e xiquito nossa


hipótese é de que se trata de neologismos (palavras surgidas na língua por meio de processos
vernáculos de formação de palavras ou atribuição de um novo significado a uma palavra já
existente). Já a lexia trianglista, registrada triangulista nos dicionários, acreditamos se tratar do
resultado de um processo fonológico denominado Síncope: “supressão de fonema no interior
de vocábulos, exs.: malu>mau, mediu>meio etc. (...).” (COUTINHO, 1967, p.147).
As lexias não dicionarizadas - agasalhista, bagero, balainho e chiquito - correspondem
as seguintes acepções no léxico das folias investigadas neste estudo:
 Agasalhista: aquele que abriga a folia durante o giro; acolhedor;
 Bagero: que não é folião, mas que acompanha a folia apenas para comer e beber;
 Balainho: instrumento de percussão; instrumento de música artesanal do Terno
dos Figueiredo;
 Trianglista: Tocador de triângulo; aquele que toca o instrumento musical
triângulo;
 Xiquito: Tocador de xique-xique; aquele que toca o instrumento musical xique-
xique.

4.2.2 Percentuais de lexias registradas em cada dicionário

A pesquisa feita no VOLP apontou que das 55 lexias que constituem o corpus desta
pesquisa, 50 lexias (90,91%) estão registradas. As 50 lexias encontram-se dicionarizadas em
pelo menos um dos três dicionários, conforme Gráfico 2, a seguir.
69

PERCENTUAIS DAS LEXIAS ENCONTRADAS EM CADA


DICIONÁRIO

98% 96%

98%

1º Aurélio 2º Houaiss 3º Michaellis

Gráfico 2 – Percentuais das lexias encontradas em cada dicionário.


Fonte: Dados da pesquisa (2022).

As amostras do gráfico acima exibem os percentuais das lexias dicionarizadas em


cada dicionário: 48 lexias no dicionário Aurélio, o que corresponde a 96% do total de lexias
dicionarizadas; 49 lexias no Houaiss, o que corresponde a 98%; e 49 lexias dicionarizadas no
Michaelis, o que corresponde a 98% do total de lexias. Cabe ressaltar que a quantidade e o
percentual dos dicionários Houaiss e Michaelis não equivalem ao registro das mesmas lexias.

4.2.3 Número de ocorrências das lexias:

Nesta seção, apresentamos os números de ocorrências das lexias registradas nas 8


entrevistas desta pesquisa. Na primeira coluna descrevemos as lexias; na segunda mostramos o
número de vezes em que essas lexias aparecem nas entrevistas.

TABELA 1 - Quantidade de ocorrências das lexias nas entrevistas

Lexias Quantidade de ocorrências


agasalhista, beberrão, cavalhero, cesta, derruba cerca,
encontro irmandade, folião mestre, grupo em oração,
1
guiso, latada, mesa santa, orelha chata, pretendentes,
trianglista, chiquito.
70

adjunto, alfere, bença, batuque, bombo, despedida,


folia temporona, manto, missão, ouvinte, ramo, 2
retrato, triângulo, xique-xique.
bagero, batedô de caixa, companheiro, festeiro,
3
observador.
balainho, caixa, cuia, giro, ladainha, maestro, reco-
4
reco, sanfoneiro, violeiro.
bandeira, catira, folião de guia, lundu, promessa,
5
rezadeira, samba.
imperador, sanfona, toalha, viola. 6
lapinha 7
Fonte: Pesquisa do autor.

Observamos, em números consideráveis, que o uso de lexias na Folia de Reis está


compreendido, em grande maioria, no repertório lexical individual dos foliões.
Concluída esta análise, apresentamos a seguir nossas considerações finais.
71

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste estudo, fizemos um levantamento do léxico das Folias de Reis de Januária


(MG). Consideramos apontar a existência de uma estreita relação entre léxico, cultura e
sociedade. Biderman (2001) comenta que “o conhecimento humano se forma a partir da
percepção do meio ambiente em que estamos inseridos e com o qual estamos interagindo.”
Nesse sentido, entendemos que o léxico se constitui como um recurso natural que surge do
contato íntimo e coletivo com o meio.
Os dados apresentados na seção 4.2.3 nos chamam atenção para uma das
problemáticas iniciais desse estudo: As folias estão se perdendo, a que motivo se deve essa
fragmentação? Pois bem, observamos no contato informal com os foliões que as informações
gerais desse manifesto estão concentradas em seus imperadores. Sabemos, com base no ultimo
gráfico, que uma parcela maior do repertório lexical dessa tradição não é de uso coletivo ou até
mesmo de conhecimento dos demais foliões. Esse fator nos chama atenção para outra
problemática: Como essa característica tem influenciado à fragmentação das folias? Esse e
outros questionamentos que surgiram ao longo desse trabalho poderão ser respondidos em outro
segmento dessa pesquisa.
Por ora, fiquemos com este trabalho que, embora incipiente, pode significar o início
do resgate de informações perdidas ou fragmentadas através da baixa transição entre as
gerações pertencentes à Folia de Reis.
72

REFERÊNCIAS

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Portuguesa / Acadêmia Brasileira de Letras – 3 ed. Corbã Editora Artes Gráficas LTDA. Rio
de Janeiro. 1999.

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p. 9.

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BAZENGA, Aline. Dialetologia. 2016. Disponível em:


https://www.researchgate.net/publication/303518840_Dialetologia. Acesso em: 13 jan. 2022.

BERNARDO, Jozimar Luciovânio; MENDES, Estevane de Paula Pontes. Manifestações


culturais do léxico: crendices e religiosidade em contextos rurais do município de Catalão
(GO). 2012. p. 8. Disponível em:
http://www.lagea.ig.ufu.br/xx1enga/anais_enga_2012/eixos/1133_1.pdf. Acesso em: 19 jan.
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Unesp, 2003. (Apostila do curso de História da Música Brasileira). Disponível em:
<https://disciplinas.stoa.usp.br/pluginfile.php/1010561/modresource/content/0/PREENCHID
O Template para trabalhos escritos XXII Congresso Anppom.pdf>. Acesso em: 22 out. 2021.
p. 11-12.

CASTEDO, Tatiana Maranhão. Um estudo sociolinguístico sobre o pronome vos em Santa


Cruz de Lá Sierra. 2013. 186 f. Tese (Doutorado em Linguística e Ensino) – Universidade
Federal da Paraíba, João Pessoa, 2013. p. 14.

CHAVES, Wagner Neves Diniz. A bandeira é o santo e o santo não é a bandeira: práticas e
presentificação nas folias de reis de São José, Tese (Doutorado em Antropologia Social). Rio
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CORREIA, Iara Toscano. (Res)significações religiosas no sertão das gerais: as folias e os


reis em Januária (MG) – 1961/2013. 2013. Tese (Doutorado em Ciências Humanas) –
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COSERIU, Eugênio. Sincronia, diacronia e história. Rio de janeiro: Presença, 1979.

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pescadores do município de Raposa. Dissertação (Mestrado em Linguística) – Faculdade de
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ELIADE, Mircea. O sagrado e o profano. São Paulo: Martins Fontes, 1992. p. 14-15.
73

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FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa.


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<https://play.google.com/store/apps/details?id=br.com.editorapositivo.aurelio>.
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HATTORI, Wallisen Tadashi; YAMAMOTO, Maria Emília. Evolução do comportamento


humano: Psicologia evolucionista. Estudo de Biologia, v. 34, n. 83, p.101-112. Jul. 2012. p.
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ReVEL., v. 9, n. 17, p. 443-452. 2011. p. 443.

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LAPLANTINE, François. Aprender Antropologia. São Paulo: Editora Brasiliense, 2003. p.


12.

LIMA, Fernanda Barboza de. Comunidade quilombola Caiana dos Crioulos: um estudo
sociovariacionista. Universidade Federal da Paraíba. Programa de Pós Graduação em Letras.
(Tese Doutorado) 2014.

MACEDO, Marcia Verônica Ramos de. A constituição de subáreas dialetais no falar da


Bahia. 2012. 391 p. Tese (Doutorado em Letras e Linguística) Programa de pós-graduação em
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MICHAELIS, O. Michaelis On-line. Disponível em: <https://michaelis.uol.com.br>. Acesso


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Ciência da Informação, v. 4, n.1, mar. 2014. p. 3.

MUSSALIM, Fernanda; BENTES, Anna Christina (orgs). Introdução à Linguística:


domínios e fronteiras. São Paulo: Cortez, 2001. p. 31.

OLIVEIRA, Ana Maria Pinto Pires de; ISQUERDO, Aparecida Negri (orgs). As ciências do
léxico: lexicologia, lexicografia, terminologia. Campo Grande: Ed. UFMS, 2021.
74

PEREIRA, Antônio Emílio. Memorial Januária: Terras Rios e Gente. 2. Ed. Belo Horizonte.
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SAPIR, Edward. A linguagem. Tradução de Joaquim Mattoso Câmara Júnior. (Série Estudos).
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SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de Lingüística Geral. 28. ed. São Paulo: Editora Cultrix,
1999. p. 16.

TARALLO, Fernando. A pesquisa sociolingüística. São Paulo: Ática, 1986.

VIANNA, Hermano; BALDAN, Ernesto. Música do Brasil. São Paulo: Editora Abril, 2000.
n.p.

XAVIER, Vanessa Regina Duarte. Lexicologia, Lexicografia e Filologia: interseções e


especificidades epistemológicas. SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE LETRAS E
LINGUÍSTICA, Uberlândia, v. 2, n. 2 p. 1-7, 2011. p. 2.
75

APÊNDICE

APÊNDICE A – Terno de Reis dos Figueiredos (Benção da bandeira)

Fonte: Fotos do autor (2021)


76

APÊNDICE B – Terno de Reis dos Figueiredos

Fonte: Fotos do autor (2021)


77

APÊNDICE C – Miguel Figueiredo, Imperador da folia, soltando fogos.

Fonte: Fotos do autor (2021)


78

APÊNDICE D – Instrumentos artesanais do Figueiredos (Xique-xique e Reco-reco)

Fonte: Fotos do autor (2021)


79

APÊNDICE E – Instrumento artesanal dos Figueiredos (Caixa)

Fonte: Fotos do autor (2021)


80

APÊNDICE F – Bandeira e o Ramo (vaso com flores) da Folia de Reis do Alegre

Fonte: Fotos do autor (2021)


81

APÊNDICE G – Lapinha localizada no interior da capela na comunidade do Alegre


(Januária-MG)

Fonte: Fotos do autor (2021)


82

APÊNDICE H – Foliãs da Folia de Reis do Alegre dançando o Batuque.

Fonte: Fotos do autor (2021)


83

APÊNDICE I – Folia de Reis do Alegre na casa de um devoto.

Fonte: Fotos do autor (2021)


84

APÊNDICE J – Foliões saudando a Lapinha na comunidade do Alegre (Januária-MG)

Fonte: Fotos do autor (2021)


85

APÊNDICE L – Foliões da Folia de Reis do Alegre saindo para o giro.

Fonte: Fotos do autor (2021)


86

APÊNDICE M – Devota de Santos Reis recebendo a folia em sua casa.

Fonte: Fotos do autor (2021)


87

APÊNDICE N – Folia de Reis do Alegre durante o canto de Reis.

Fonte: Fotos do autor (2021)


88

APÊNDICE O – Folia de Reis do Alegre (Dança do Batuque).

Fonte: Fotos do autor (2021)


89

APÊNDICE P – Camisa da Folia de Reis do Alegre.

Fonte: Fotos do autor (2021)


90

APÊNDICE Q – Terno de Reis dos Figueiredos

Fonte: Acervo pessoal do Terno de Reis dos Figueiredos


91

APÊNDICE R – Questionário: léxico das folias de Reis de Caixa no município de Januária


(MG)

FICHA SOCIAL

NOME:

NATURALIDADE:
Obs: Se o entrevistado não for natural de Januária, passar para a próxima questão.

Com quantos anos mudou-se para Januária?

SEXO: ( ) MASCULINO ( ) FEMININO

FAIXA ETÁRIA: ( ) 12 A 20 ANOS ( ) 21 A 54 ANOS ( ) 55 ANOS ACIMA

ESCOLARIDADE:
( )Não alfabetizado ( )01 a 04 anos ( )05 a 08 anos ( )09 a 11 anos

PROFISSÃO:____________________________HÁ QUANTOS ANOS?_______________________

Perguntas livres
1. Como você conheceu a folia?
2. Há quanto tempo participa desse grupo? Apenas dele?
3. Já participou de outro grupo de reis?
4. Você conhece alguma história interessante na folia?
Folia
5. Como esse grupo se chama?
6. Como esse grupo surgiu?
7. Antes de sair com a folia, quando o folião passa a bandeira sob a cabeça dos foliões, o
que ele faz? Como esse momento é chamado?
8. Qual o santo de devoção desse grupo?
9. Como é chamado quem participa desse grupo?
10. Quando o folião cumpre uma jornada todos os anos para santos Reis, o que ele fez?
11. Como é chamada a pessoa que não cumpre a promessa feita para santos Reis?
12. O que é usado para anunciar à comunidade que a folia está saindo?
13. Em qual época do ano a folia se apresenta?
14. Conhece alguma folia de Reis que costuma apresentar fora de época? Como você chama
esse grupo?
15. Como se chama todo o percurso feito pela folia no dia, da primeira à última casa?
92

16. Como é chamada a pessoa que já participou de mais de uma folia? Tem outro nome?
17. Como é chamada a pessoa que veio de outra folia?
18. Como é chamado quem acompanha o percurso da folia apenas para assistir?
19. Como é chamada a pessoa que acompanha a folia apenas para comer e beber?
20. Como é chamado quem oferece abrigo para a folia descansar?
21. Como se chama o momento quando duas folias se encontram numa mesma casa?
Integrantes/Funções
22. Como é chamado o cordenador pela folia? Tem outro nome?
23. Como é chamado os antigos coordenadores da folia?
24. Como é chamada a pessoa que um dia irá coordenar a folia?
25. Como é chamado o responsável por cantar os reis? Tem outro nome?
26. Como é chamado o responsável pela reza dos reis? Tem outro nome?
27. Como é chamado o responsável pelo terço e evangelização na folia?
28. Como é chamado o responsável pelos instrumentos musicais?
29. Como é chamado o responsável por recolher as ofertas nas casas?
30. Como são chamados os mais velhos na folia?
31. Como são chamados os mais jovens na folia?
32. Como é chamado o responsável por distribuir a bebida?
33. Como é chamado um músico de fora do grupo, contratado para tocar nos dias de folia?
34. Como é chamado o folião que perde ou passa seu instrumento a outra pessoa?
35. Como é chamado o folião que bebe além do limite e foge as regras do imperador?
36. Como é chamado o folião responsável por observar os comportamentos dos foliões?
37. Como é chamado o folião responsável por verificar a qualidade da vestimenta dos
foliões?
Instrumentos (observar foto utilizada para identificação no Apêndice Q)
38. Qual é o nome desse instrumento que é usado na folia? N° 1
39. Como é chamado quem toca esse instrumento?
40. Qual é o nome desse instrumento que é usado na folia? N° 2
41. Como é chamado quem toca esse instrumento?
42. Qual é o nome desse instrumento que é usado na folia? N° 3
43. Como é chamado quem toca esse instrumento?
44. Qual é o nome desse instrumento que é usado na folia? N° 4
45. Como é chamado quem toca esse instrumento?
46. Qual é o nome desse instrumento que é usado na folia? N° 5
93

47. Como é chamado quem toca esse instrumento?


48. Qual é o nome desse instrumento que é usado na folia? N° 6
49. Como é chamado quem toca esse instrumento?
50. Qual é o nome desse instrumento que é usado na folia? N° 7
51. Como é chamado quem toca esse instrumento?
52. Qual é o nome desse instrumento que é usado na folia? N° 8
53. Como é chamado quem toca esse instrumento?
54. Qual é o nome desse instrumento que é usado na folia? N° 9
55. Como é chamado quem toca esse instrumento?
56. Qual é o nome desse instrumento que é usado na folia? N° 10
57. Como é chamado quem toca esse instrumento?
58. Qual é o nome desse instrumento que é usado na folia? N° 11
59. Como é chamado quem toca esse instrumento?
60. Qual é o nome desse instrumento que é usado na folia? N° 12
61. Como é chamado quem toca esse instrumento?
62. Qual é o nome desse instrumento que é usado na folia? N° 13
63. Como é chamado quem toca esse instrumento?
64. Qual é o nome desse instrumento que é usado na folia? N° 14
65. Como é chamado quem toca esse instrumento?
66. Qual é o nome desse instrumento que é usado na folia? N° 15
67. Como é chamado quem toca esse instrumento?
Roupas
68. Como se chama aquilo que todo folião usa envolta do pescoço? Tem outro nome?
69. Como se chama essa vestimenta na folia? (Apontar na foto)
Música e Apresentação
70. No primeiro dia, antes de sair da casa do imperador, o que a folia reza?
71. Qual o nome da estrutura montada com enfeites, figuras religiosas e animais de
brinquedo em volta do recém-nascido menino Jesus? Tem outro nome?
72. O que a folia reza ao pé do presépio?
73. O que a folia canta ao pé do presépio?
74. O que a folia canta ao chegar na casa de uma família?
75. O que a folia reza quando chega à casa de uma família?
76. Existe alguma dança quando a folia termina de cantar a parte sagrada?
94

77. Como se chama aquela dança em que os foliões ficam enfileirados batendo palmas e os
pés no chão?
Bebidas e comidas
78. O que os foliões mais velhos bebem?
79. O que os foliões mais novos podem beber?
80. Tem alguma bebida preparada só para os foliões?
81. Como se chama a bebida preparada com raízes é ervas que os foliões bebem na folia?
82. Qual objeto os foliões usam para beber a cachaça? Existe outro?
83. Existe alguma comida que é tradição dentro da folia? Como é preparada?
Festa
84. Como é chamado o último dia de folia?
85. Quem organiza a festa da folia?
86. Como é chamado o casal ou família escolhida para organizar a folia no próximo ano?
87. Tem algum objeto que é usado para escolher os próximos festeiros da folia?
88. Como é chamado aquilo que é usado na festa para proteger o som da chuva?
89. Como é chamado o momento onde todos os foliões agradecem as graças alcançadas?

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