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05: Poder. PRJ827: Produção contemporânea do espaço urbano.
Three major events have, in the course of the last quarter of the twentieth
century, profoundly affected the material conditions of the production of
life in Africa. These events are as follows: (1) the increasing rigor of
monetary constraint, and its effects in revivifying long-distance imaginaries;
(2) the simultaneity of democratization and of the deregulation of the
economy and the structures of the state; and (3) the dispersion of state
power and the fragmentation of society. (Mbembe, 2005, p.)
As ideias aqui articuladas buscam explorar algumas das propriedades da terra que se mostram
pertinentes para problematizar sua incorporação na construção da lógica da inclusão
socioespacial precária1 nas cidades brasileiras. Nosso ponto de partida situa-se num
deslocamento da proposta de Mbembe (2005) sobre as condições materiais de produção da vida
na África no último quarto do século XX: busca-se pensar, em caráter de esboço, a pertinência da
dispersão do poder estatal e da fragmentação da sociedade na constituição dos limites fundiários
da sociedade colonial brasileira. Nesse sentido, acreditamos, pode-se desenhar as bases de uma
1O termo inclusão precária é uma proposição de José de Souza Martins (1997) e permite entender a participação que
as populações socialmente vulneráveis têm nos circuitos de produção e reprodução capitalista contemporânea. Trata-
se de uma contramedida ao termo exclusão na medida em que esses grupos, ainda que de forma perversa, são
incluídos nas dinâmicas econômicas, políticas e territoriais da urbanização.
plataforma política sobre a qual desenvolvem-se os modelos de organização territorial mais
complexos, tais quais as metrópoles e grandes cidades do Brasil. Assinalamos que, longe da
proposição de um modelo científico, esta resenha busca tensionar as categoriais analíticas pela
qual trata-se cientificamente a questão da terra e da propriedade nos estudos urbanos. Os
objetivos de uma rearticulação conceitual como a que se segue nestas páginas encontra amparo
na proposição sociológica de Bourdieu:
Nesse sentido, as propriedades que destacamos aqui como pertencentes à terra são: I)
a faceta de mercadoria; II) a capacidade de ser apropriada em lógicas de separabilidade;
e III) uma faceta jurídico-normativa, que historicamente lhe conferiu a condição de
propriedade. Essas propriedades, sugerimos, possuem como qualidade essencial sua
força. Possuem uma inércia, uma capacidade de se preservarem no curso da história e
de redesenharam a forma pela qual são inteligíveis aos grupos e agentes sociais2. Em
outras palavras, essas facetas operam de forma articulada, movimentando-se dentro de
uma margem de deslocamento e reposicionamento interna, obedecendo a estratégias
que são conformadas por uma urgência histórica. Após constituída e estabilizada, essa
teia de relações permanece disponível para ser operacionalizada em diferentes
circunstâncias de sociabilização. Na medida em que as formas sociais seguem seu curso
histórico, essas propriedades adquirem novas formas, são atualizadas conforme as
relações de dominação específicas de cada período e contexto socioespacial. A seguir,
buscamos explorar, ainda de forma inicial, as três vertentes aqui destacadas.
2 Conforme Santos (2020) ao refinar o trato sobre o conceito de elemento, “Os elementos disporiam então de uma
inércia, pela qual podem permanecer nos seus próprios lugares, enquanto, ao mesmo tempo, existem forças que
buscam desloca-los ou penetrar neles” (p. 16).
O potentado tenta, assim, levar o nativo, se não a renunciar às coisas e aos
desejos a que se sente apegado, então ao menos a complementá-los com
novos ídolos, a lei de novas mercadorias, o preço de novos valores, uma
nova ordem de verdade. (Mbembe, 2018, p. 204).
Sem dinheiro, o trabalhador recém liberto deveria enveredar no trabalho nas fazendas
para depois, pela compra, adquiri a terra. Esse princípio de banimento do trabalhador
ex-escravizado da terra é o mote sobre o qual se organizará a estrutura de tralho rural
e sustentará o êxodo rural e respectivo inchaço das cidades brasileiras. Afastados da
primeira rodada de comercialização de terras, ainda sob os efeitos da formação de uma
aristocracia política e econômica própria da colonização, a primeira aproximação que
pode haver entre esses corpos e a terra mercadoria não é outra, senão a psíquica e
simbólica, enquanto reserva-se a seu uso instrumental a reprodução da forma de
dominação, agora sobre a sombra do salário. Essa relação entre corpo e terra-
mercadoria é por onde buscamos fundamentar a ideia de separabilidade dos corpos.