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FICHAMENTO 02:
TEXTO 04 – ECONOMIA POLÍTICA E DESENVOLVIMENTO
Belém-PA
2023
1. REFERÊNCIA DO TEXTO
2. SÍNTESE DO TEXTO
O texto consiste em uma digressão estabelecida por Ana Clara Torres Ribeiro a
respeito do cenário atual do capitalismo – na ótica da “globalização, especialmente - e as
pressões exercidas por ele e por seus instrumentos sobre as sociedades atuais. A autora inicia
apontando alguns dos recursos mais frequentemente usados pelo capital para sustentar as
lógicas do lucro, da acumulação, e da “sacralização do poder” (que para ela ocorre de maneira
transitória para alguns poderosos, somente), de modo a enfraquecer identidades e
individualidades políticas e culturais. Tem lugar aí o que a autora caracteriza como a
“superficialização das relações sociais”, onde visões específicas sobre a realidade vivida em
contextos espaciais distintos parecem ser homogeneizadas de tal forma que grupos com
interesses e valores distintos são reunidos em torno de discursos e visões comuns, onde pesa a
individualidade de maneira genérica, ao invés da concepção de sujeitos e grupos pertencentes
a conjunturas ou territórios específicos que somam forças em torno de um ideal comunitário,
expressam ações de solidariedade etc – a dicotomia “nós-eu”. A economia ganha status de
protagonismo dentro do que se pretende uma “globalidade” e em prol dela são eliminados ou
flexibilizados: fronteiras, regulamentações laborais, direitos sociais etc. Na contramão dessa
tendência, que intensifica os fluxos de informações, tecnologias e atividades, emergem
movimentos sociais territorializados que visam resistir a essas dinâmicas e, também, fazerem
resistir seus valores, suas crenças, suas práticas culturais, saberes, conhecimentos etc.,
atributos daquele que a autora usa a conceituação de Milton Santos (1994) para caracterizar o
“homem lento”.
A autora prossegue elencando três conceitos: a alienação do território, a alienação
territorial e o território alienado. O primeiro conceito diz respeito à “destruição” de fronteiras
proposta pela globalização, ao mesmo passo que novos recortes territoriais são produzidos de
acordo com os interesses econômicos dominantes, de modo que essa influência se estende à
política interna-externa, à produção, ao uso do espaço, à gestão dos recursos naturais – todos
estes elementos curvam-se às lógicas de acumulação e produção capitalista global, de modo
que o local deixa de ser um fator preponderante. A alienação territorial diz respeito ao modo
com o qual as classes economicamente e politicamente dominantes em determinados
contextos defendem a sua presença neles como hegemônica e produzem a segregação do
espaço – tornada politicamente legal, diversas vezes. Nesse sentido, são produzidos os
territórios alienados, onde é suprimida a presença de sujeitos e grupos não pertencentes às
classes dominantes de um determinado local, que se apropriam deste espaço. As lutas sociais
se articulam em torno da gravidade percebida nessas manifestações contemporâneas, como
resistências.
As lutas territorializadas partem da compreensão de que a legitimidade do Estado é
enfraquecida em prol dos interesses contidos no modelo moderno de sociedade, onde a
afirmação da soberania estatal por meio do planejamento é substituída por projetos voltados a
atender os interesses do capital internacional. A ação dos movimentos de resistência a esse
processo é dedicada a sanar as ausências do Estado, e voltada especialmente à preservação de
caracteres que historicamente garantiram suas existências. Alguns destes elementos que vão
de identidades culturais a recursos naturais, cruciais à reprodução social destes grupos. Essa
resistência conduz a autora ao conceito de “espaço herdado” de Milton Santos (1996), onde as
construções materiais e imateriais do passado não apenas coexistem com as do presente, como
o conformam. Estas proposições produzem o que a autora chama de território “não-alienado”,
que fundamentam o “nós-eu” – as subjetividades individuais e coletivas que produzem o
território, onde a autora elenca a distinção entre espaço e território proposta por Félix Guattari
(1985). a autora destaca a busca por novas leituras do espaço, que não esteja restrita à
paisagem, mas que contemple as práticas sociais nele inscritas e, portanto, Ribeiro faz
referência à falta de participação dos “outros” no planejamento. Além disso, pontua a respeito
das preocupações mais recentes no campo das ciências sociais, no que refere às teorias do
espaço, ressaltando a importância de incorporar as experiências de sujeitos marginalizados no
seu escopo, o que já encontra certa substância no que diz respeito à América Latina. É
proposta, portanto, uma transformação dos parâmetros de observação da realidade social, a
constituição de “novos mapas”, distintos daqueles propostos pela modernidade capitalista,
onde o mundo é ao mesmo tempo unidade – na égide da globalização – e fractal –
dimensionado de acordo com interesses econômicos.
3. CITAÇÕES INTERESSANTES
1. “A hegemonia do capital financeiro apoia-se na crença de que a rapidez, o consumo
personalizado, o acesso a objetos sofisticados, o usufruto de corpos hiper produzidos e o
conforto das grandes redes hoteleiras constituem metas potencialmente compartilhadas por
todos os povos e culturas. Afinal, na atual fase do capitalismo, foram abandonados intuitos
civilizatórios mais largos, em decorrência da falta de instituições e mecanismos de
convencimento que garantam legitimidade ao exercício do poder.” (p. 263);
6. “Se, antes, os apelos à defesa do território muitas vezes corresponderam a projetos das
classes dominantes (Raffestin, 1993), esta mesma defesa, frente aos compromissos destas
classes com a produção do território alienado, assume, atualmente, um teor progressista e
inovador, permitindo que se afirmem, na cena política, sujeitos sociais antes
desconsiderados e, até mesmo, submetidos a todo tipo de estereótipo e preconceito.” (p.
268);
7. “Os sujeitos sociais e a ação política apresentam, agora, maior complexidade, confrontando
paradigmas que orientaram, até há pouco tempo, os projetos de transformação social. Estes
sujeitos propõem novos híbridos institucionais, atuam em várias escalas, exigem a releitura
do Estado, defendem diferentes sentidos de nação, rejuvenescem tradições e impedem a
sua completa absorção em instituições da modernidade.” (p. 268);
8. “É neste contexto que pode ser compreendido, em plenitude, o conceito de espaço herdado
proposto por Milton Santos (1996). O espaço não é formado, somente, pela superfície
construída pela últimas trocas intergeracionais e, muito menos, pela última modernização.
Ao contrário, o espaço herdado é formado por um contínuo intercâmbio entre mortos e
vivos, em que as normas e as regras inscrevem-se na materialidade, orientando a cultura
imaterial. Os objetos contém a ação (possível e necessária), da mesma maneira que a ação
refaz os usos dos objetos, atribuindo-lhes sistematicidade e atualizando-os.” (p. 269);
10. “Resistindo à reificação, o “outro”, para esta razão ainda incipiente, não é somente o
diferente, aquele que é reconhecido como, quando e da forma que convém. Ao contrário,
para esta razão, o “outro” é parte intrínseca do “nós-eu”. É esta a aliança que constrói
novas territorialidades e que conduz a ação solidária espontânea, resistindo aos comandos
da globalização.” (p. 271).
4. REFERÊNCIAS INTERESSANTES
SANTOS, M. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. São Paulo: HUCITEC,
1996.
SANTOS, M. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. Rio
de Janeiro/São Paulo: Record, 2000.